1 PROVA DE PORTUGUÊS 1ª PARTE - REDAÇÃO FOLHA DE ...
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TEMA<br />
<strong>PROVA</strong> <strong>DE</strong> <strong>PORTUGUÊS</strong><br />
<strong>1ª</strong> <strong>PARTE</strong> - <strong>REDAÇÃO</strong><br />
<strong>FOLHA</strong> <strong>DE</strong> BORRÃO<br />
1
TEXTO 1 para as questões de 01 a 03.<br />
5<br />
10<br />
15<br />
20<br />
25<br />
01. Noções de Teoria Literária.<br />
2ª <strong>PARTE</strong> – INTERPRETAÇÃO <strong>DE</strong> TEXTO, GRAMÁTICA E LITERATURA<br />
“... Se Ana Rosa fazia em casa qualquer diabrura, que desagradasse a mãe-preta,<br />
esta a repreendia imediatamente, com autoridade; desde, porém, que a acusação ou a<br />
reprimenda partissem de outro, fosse embora do pai ou da avó, punia logo pela menina e<br />
voltava-se contra os mais.<br />
Havia seis anos que era forra. Manuel dera-lhe a carta a pedido da filha, o que muita<br />
gente desaprovou, “terás o pago!...” diziam-lhe. Mas a boa preta deixou-se ficar em casa<br />
dos seus senhores e continuou a desvelar-se pela Iaiá melhor que até então, mais cativa<br />
do que nunca.<br />
Ana Rosa, mal ficou sozinha, no aconchego confidencial iluminado da sua rede, na<br />
íntima tranqüilidade do seu quarto, frouxamente iluminado à luz mortiça do candeeiro de<br />
azeite, principiou a passar em revista todos os acontecimentos desse dia. Raimundo<br />
avultava dentre a multidão dos fatos como uma letra maiúscula no meio de um período de<br />
Lucena; aquele rosto quente, de olhos sombrios, olhos feitos do azul do mar em dias de<br />
tempestade, aqueles lábios vermelhos e fortes, aqueles dentes mais brancos que as<br />
presas de uma fera, impressionavam-na profundamente. “Que espécie de homem estaria<br />
ali!...”<br />
Procurava com insistência recordar-se dele em algum dos episódios da sua infância<br />
nada! Diziam-lhe, entretanto, que brincara com ela em pequenino, e que foram amigos,<br />
companheiros de berço, criados juntos, que nem irmãos. E todas estas coisas lhe<br />
produziam no espírito um efeito muito estranho e singular. As meias sombras, as reservas,<br />
e as reticências, com que a medo lhe falavam dele, ainda mais interessante o tornavam<br />
aos olhos dela. “Mas, afinal, quem seria ao certo aquele belo moço?...” Nunca lho<br />
explicaram; paravam em certos pontos, saltavam sobre outros como por cima de brasas; e<br />
tudo isto, todos estes claros, que deixavam abertos a respeito do passado de Raimundo,<br />
todos esses véus em que o envolviam como a uma estátua que se não pode ver,<br />
emprestavam-lhe atrações magnéticas, um encanto irresistível e perigoso de mistério, uma<br />
fascinação romântica de abismo.<br />
AZEVEDO, Aluísio. O mulato. 3. ed. São Paulo: Ática, 1992.<br />
p.77. (Série Bom Livro)<br />
I. A personagem Ana Rosa faz uma descrição psicológica da personagem Raimundo conforme se observa<br />
em “...olhos feitos do azul do mar em dias de tempestade...” (linhas 13-14)<br />
II. Pelo que se percebe no Texto 1, o narrador é uma personagem que faz parte da estória contada, à<br />
semelhança do que ocorre em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis.<br />
III. No romance “O mulato”, Raimundo se destaca como protagonista da história, ou seja, ocupa o lugar de<br />
maior destaque no desenrolar dos acontecimentos.<br />
IV. Num romance, porém, há sempre um “antagonista”, aquele que se opõe ao protagonista e o contesta; o<br />
antagonista pode ser alguém ou mesmo quaisquer forças antagônicas (internas e externas) ao indivíduo.<br />
Pode-se dizer, então, que o “preconceito de cor” em “O mulato” é o grande antagonista.<br />
V. No Texto 1, percebe-se que o que levou Ana Rosa a uma reflexão foram os acontecimentos que ficaram<br />
para trás (“...principiou a passar em revista todos os acontecimentos desse dia...”(linha 11), ou seja, por ela<br />
estar pensando nos fatos ocorridos, há uma ligação entre esse momento e o momento anterior, provando<br />
que, no romance “O mulato”, conforme sua estruturação, o enredo é orgânico.<br />
A afirmação é verdadeira<br />
A) nos itens I, II e V.<br />
B) nos itens II, III e IV. D) nos itens III, IV e V.<br />
C) apenas nos itens II e III. E) somente no item V.<br />
2
02. Literatura brasileira: “O mulato” e o contexto histórico.<br />
I. Pode-se dizer, corretamente, que o estilo de época a que se prende o romance “O mulato” tem a ver com a<br />
Revolução Francesa que buscou uma sociedade mais harmoniosa e cuja expectativa foi finalmente traduzida<br />
na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Nessa “declaração”, seu artigo primeiro diz: “Os<br />
homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos: as diferenças sociais só podem se fundamentar no bem<br />
comum.”<br />
II. Nesse contexto, observa-se a entrada de mão-de-obra assalariada (a do imigrante), que vinha para substituir<br />
o escravo, e a conseqüente marginalização do negro menos qualificado que o imigrante.<br />
III. Ainda nesse mesmo sentido, verifica-se o deslocamento do eixo econômico para a região Sul, em função do<br />
florescimento da lavoura e também do comércio do café, sendo o próprio pai de Ana Rosa um dos grandes<br />
nomes do comércio cafeeiro do Maranhão.<br />
IV. A extinção do tráfico de escravos relacionada a capitais vultosos que saíam do país para o pagamento da<br />
importação de escravos permite que se compreenda o reinvestimento de capitais disponíveis em atividades<br />
urbanas.<br />
Considerando-se o contexto em que foi produzido o romance O mulato, pode-se dizer que a afirmação é verdadeira<br />
A) apenas nos itens I e II.<br />
B) nos itens II e IV. D) apenas nos itens III e IV.<br />
C) apenas nos itens II e III. E) somente no item IV.<br />
03. Observe os fragmentos a seguir.<br />
I. “Havia seis anos que era forra. Manuel dera-lhe a carta a pedido da filha, o que muita gente desaprovou, “terás o<br />
pago!...” diziam-lhe. Mas a boa preta deixou-se ficar em casa dos seus senhores e continuou a desvelar-se pela Iaiá<br />
melhor que até então, mais cativa do que nunca.” (linhas 5-8)<br />
II. “Nunca lho explicaram; paravam em certos pontos, saltavam sobre outros como por cima de brasas; e tudo isto,<br />
todos estes claros, que deixavam abertos a respeito do passado de Raimundo, todos esses véus em que o<br />
envolviam como a uma estátua que se não pode ver, emprestavam-lhe atrações magnéticas, um encanto irresistível<br />
e perigoso de mistério, uma fascinação romântica de abismo.” (linhas 22-27)<br />
Os termos grifados, no item I, funcionam como núcleos (termos determinados).<br />
Considerando-se a seleção vocabular e a sua mobilidade no texto, pode-se dizer que o item II apresenta uma<br />
variedade de linguagem do mesmo nível encontrado no item I.<br />
Os termos negritados, no item I, não podem ser determinantes por se posicionarem antes de substantivos.<br />
Os termos “seis”, “a” e “boa”, no item I, são modificadores (termos determinantes).<br />
As variações da linguagem se evidenciam no vocabulário e, algumas vezes, na estrutura sintática, mas nunca<br />
com relação ao significado, porque este tem que ser o mesmo para todos os usuários de uma língua.<br />
Analise e conclua.<br />
A) Existem três afirmações infundadas do ponto de vista da função textual dos vocábulos.<br />
B) Existe apenas uma afirmação falsa quanto à função textual dos vocábulos.<br />
C) Quanto à função textual dos vocábulos e quanto à variação da linguagem, duas afirmações são verdadeiras.<br />
D) Não há qualquer afirmação razoável sobre o assunto “função textual dos vocábulos”.<br />
E) As cinco afirmações são procedentes do ponto de vista da função textual dos vocábulos.<br />
3
TEXTO 2 para as questões de 04 a 07.<br />
5<br />
10<br />
15<br />
20<br />
25<br />
30<br />
35<br />
04. Observe, analise e conclua.<br />
Agora que se achava ali no cabo, em terra de João Paes e que Filipa não via nem<br />
encontrava mais homens do que ele, Bento, o vigário e o velho João Paes, e isso<br />
mesmo quando iam em visita, agora que Filipa vivia só para suas poucas alunas, para<br />
ele e seus dois filhos, naquela casinha branca de portas e janelas azuis no alto de uma<br />
colina, agora somente é que se dava conta de quanto lhe aprazia ter escapado à<br />
ameaça dos outros homens, de seus olhares codiciosos sobre Filipa, e à língua viperina<br />
das pessoas todas de Olinda e Igarassu.<br />
.............................................................................................................................................<br />
Um assassino.<br />
Um uxoricida.<br />
Matara aquela que a ele confiara seu destino, alguns anos atrás, quando era pouco<br />
mais que uma menina. Mas já naquela menina se encontrava, plantada em algum<br />
recanto escondido do ser, a semente do mal. O joio em meio ao trigo, o belo trigo que<br />
igualmente nela florescia e amadurecia dourado, em campos que brilhavam ao sol.<br />
Pena que a retirada daquele joio tivera de causar a morte ao trigo: matando Filipa, ele<br />
aniquilava o espírito do mal que nela vivia. Mas fazia igualmente desaparecer do mundo<br />
uma certa beleza, um ente humano que aderia à vida como um pássaro, como uma flor,<br />
tirando dos elementos que a rodeavam o alimento que a sustentava e a inseria na<br />
fraternidade das coisas.<br />
Filipa não existia mais.<br />
E se fora com ela uma parte de sua vida, a vida dele, Bento Teixeira Pinto, sua<br />
adolescência e sua juventude agora definitivamente sepultadas. O que haviam vivido<br />
juntos, o que haviam dito um ao outro, certas dúvidas, hesitações, desdouros, covardias,<br />
pequenas fraquezas das quais os estranhos nem desconfiavam e eles dois sabiam que<br />
existiam, tudo aquilo se fora para não mais voltar a ser.<br />
Muitos dos seus segredos Filipa os levara consigo.<br />
Como levara consigo os serões em que liam juntos Ovídio e Salomão, o teatro de Gil<br />
Vicente ou a lírica amorosa de Camões.<br />
Alma minha gentil que te partiste<br />
Tão cedo desta vida descontente.<br />
Repousa lá no céu eternamente<br />
E viva eu cá na terra sempre triste.<br />
Recitava baixo e buscava em si algum sentimento de remorso ou culpa. Não os<br />
encontrou. Nem mesmo aquela tristeza de que falava o poeta, nem mesmo aquilo achou<br />
em seus longes. O próprio desaparecimento físico de Filipa, o fato de que não mais<br />
veria aquela beleza que o circundava e da qual ela sempre fora, sempre, uma irmã, e<br />
que aquele dia começava inutilmente para ela, também lhe era indiferente.<br />
FERREIRA, Luzilá Gonçalves. Os rios turvos. Rio de Janeiro: Rocco, 1993. p. 159-174.<br />
I. O personagem Bento, segundo a perspectiva do narrador, considerava que Filipa, antes, encontrava-se com outros<br />
homens e só tinha tempo para suas muitas alunas, destruindo o que ele e ela haviam vivido juntos.<br />
II. Por causa de Filipa, o personagem Bento sentia-se ameaçado por outros homens dos quais havia escapado para<br />
viver, mesmo saudoso, longe de Olinda e Igarassu.<br />
III. Bento, segundo o narrador, sentia-se bem por haver ficado fora do alcance de olhares maliciosos e de línguas<br />
ferinas que o julgavam mal.<br />
A afirmação é verdadeira<br />
A) apenas no item I.<br />
B) apenas no item III. D) nos itens I, II e III.<br />
C) apenas no item II. E) em nenhum dos três itens.<br />
4
05. Um dos conhecimentos da língua materna que o(a) aluno(a) deve dominar tem a ver com a mobilidade que alguns<br />
vocábulos apresentam na frase. Nesse sentido, analise os itens abaixo<br />
I. “Muitos dos seus segredos Filipa os levara consigo.” (linha 25)<br />
II. “Como levara consigo os serões em que liam juntos Ovídio e Salomão, o teatro de Gil Vicente ou a lírica amorosa de<br />
Camões.” (linhas 26-27)<br />
III. “E se fora com ela uma parte de sua vida, a vida dele, Bento Teixeira Pinto, sua adolescência e sua juventude agora<br />
e conclua.<br />
definitivamente sepultadas.” (linhas 20-21)<br />
A) No item I, tem-se apenas uma oração, por esse motivo não há possibilidade de inadequação quanto à mobilidade dos<br />
vocábulos: os segredos referidos são de fato os segredos de Filipa.<br />
B) No item II, encontram-se duas orações. Porque iniciam novo período, quando deveriam pertencer ao período anterior, não<br />
esclarecem a ambigüidade inicialmente provocada na primeira oração.<br />
C) No item III, não se pode saber, ao certo, se “sua” é uma referência a “ela” ou a “ele”. Ora “a vida dele” é “sua” (em relação<br />
a ele mesmo) ou “sua” é a vida dele (em relação a ela)? Tudo indica que quer significar as duas coisas.<br />
D) Se o Texto 2 terminasse na linha 25, da forma como foi empregado o pronome “sua”, ele poderia se referir tanto a ela<br />
[Filipa] quanto a ele [Bento], gerando um problema de ambigüidade.<br />
E) A frase do item I seria ambígua, apenas, se tivesse sido escrita assim: Muitos dos segredos seus Filipa levara-os consigo.<br />
06. Observe, analise e conclua.<br />
I. “...a lírica amorosa de Camões.” (linha 27)<br />
O vocábulo sublinhado é um termo determinado, tanto que é núcleo de um sintagma nominal, segundo o critério<br />
funcional.<br />
II. “Muitos dos seus segredos Filipa os levara consigo.” (linha 25)<br />
O vocábulo sublinhado é formado por um radical mais dois morfemas gramaticais (vogal temática + desinência de<br />
número) segundo o critério mórfico.<br />
III. Nos itens I e II, os vocábulos sublinhados (lírica e segredos) se referem a seres, a algo que existe, o que quer<br />
dizer que se relacionam ao mundo extralingüístico, segundo o critério semântico.<br />
IV. De acordo com o critério mórfico, os vocábulos “amorosa” e “segredos” devem ser classificados como<br />
substantivos primitivos.<br />
A afirmação é verdadeira<br />
A) nos itens I e IV.<br />
B) apenas nos itens II e III.<br />
C) nos itens I, II e III.<br />
D) apenas nos itens II e IV.<br />
E) nos itens II, III e IV.<br />
5
07. Observe e analise o que segue.<br />
I.<br />
III.<br />
PISSARRO, Camille. Camponesa de chapéu de palha,<br />
1881. In: BECKETT, Wendy. História da Pintura. São<br />
Paulo, Ática, 1997. p. 300.<br />
Segundo PISSARRO, a “camponesa de chapéu<br />
guarda uma bela simplicidade, uma plenitude de<br />
formas que, ao invés de ser contestada pela<br />
indefinição do fundo, ganha significância por causa<br />
justamente dessa indefinição. A moça é<br />
absolutamente despretensiosa; indiferente a si<br />
mesma, todo o seu ser iluminado pela luz diurna, forte<br />
e brilhante”. “Mutatis mutandis”, observa-se em Filipa<br />
a mesma singeleza e um comportamento de esposa<br />
tão exemplar que perturbava o espírito de Bento<br />
Teixeira, como era de se esperar de um homem do<br />
seu tempo.<br />
PICASSO, Pablo. Os amantes, 1923. In: BECKETT,<br />
Wendy. História da Pintura. São Paulo, Ática, 1997. p.<br />
348.<br />
Tem-se, aqui, a visão perfeita de dois jovens<br />
apaixonados. Ao que parece, o autor do quadro quis<br />
realçar, em primeiro plano, a amante, como a<br />
romancista o fez, em relação a sua obra: ela pretende<br />
que apreciemos a personagem feminina em<br />
detrimento da masculina, que esta era joio e não trigo<br />
conforme o diz o narrador. Esse é o destaque da<br />
trama amorosa que envolveu Bento Teixeira e Filipa.<br />
II.<br />
IV.<br />
ROSSETI, Dante Gabriel: O devaneio, 1880. In: BECKETT,<br />
Wendy. História da Pintura. São Paulo, Ática, 1997. p.<br />
278.<br />
A arte ganha maior complexidade (ROSSETTI era<br />
pintor e poeta ao mesmo tempo e sua obra “constituía<br />
uma mescla de invenção artística e representação<br />
pictórica de fontes literárias”, segundo BECCKETT) e<br />
demonstra certo refinamento no trato com a beleza, o<br />
que não impede de se pensar que isso ocorre para se<br />
evitar a visão sensitiva e melancólica que se fazia da<br />
mulher: aquela que sonha com o amado e morre nos<br />
seus braços, assassinada ou traída. Não se negue,<br />
porém, nessa tela, a sensualidade vista, apenas, no<br />
tempo em que viveu Bento Teixeira.<br />
CHAGALL, Marc. O violinista, 1912. In: BECKETT, Wendy.<br />
História da Pintura. São Paulo, Ática, 1997. p. 345.<br />
Os traços de CHAGALL combinam suas fantasias às<br />
cores sensuais e às técnicas da arte avançada, mas o<br />
seu espírito não foge à eterna busca da felicidade,<br />
esse “desejo que é comum aos seres humanos”<br />
(BECKETT). Diferente desse pintor que entusiasma<br />
pelo que realiza de belo, em Bento Teixeira nada<br />
parece ter dado certo. Teria sido um bom noivo,<br />
amante, marido, filho, pai, mestre, poeta?... A que fora<br />
chamado? Talvez pudesse dizer com o poeta: “Do<br />
amor não vi senão breves enganos”..., aliás “breve<br />
engano”, porquanto só tivera um único amor: Filipa.<br />
6
V.<br />
BONNARD, Pierre. A carta, 1906.<br />
In: BECKETT, Wendy. História da<br />
Pintura. São Paulo, Ática, 1997.<br />
p. 326.<br />
Conclusão.<br />
A) Os itens I e II são absolutamente verdadeiros.<br />
B) Os itens II, III e IV são verdadeiros.<br />
C) Os itens III e V são absolutamente verdadeiros.<br />
D) Apenas o item III é verdadeiro.<br />
E) Os itens IV e V são verdadeiros.<br />
A figura ao lado mostra uma mulher escrevendo uma carta, fato cotidiano.<br />
Imagine-se, todavia, que as palavras da mulher têm características que a<br />
identificam, comparáveis às de um homem. Conclusão?! Observa-se que<br />
durante anos, a mulher, se fazendo eco, repetiu as palavras que ouvia do<br />
mundo dos machos que, narcisicamente, somente se contemplavam a si<br />
mesmos, negando oportunidade à mulher, mesmo à de sua vida. Pode-se<br />
dizer, então, que dentre as formas de negar as particularidades do universo<br />
feminino, apresentam-se a palavra e o silêncio “protegidos” [pelo homem],<br />
forma de negar acesso à socialização do ser, desse outro ser, o ser-mulher,<br />
como o fez BONNARD. No caso do Texto 2, o silêncio se deu, também e<br />
principalmente, pelo gesto tresloucado de Bento, que produziu o silêncio<br />
definitivo daquela que, além de ser a mãe de seus filhos, fora igualmente a<br />
razão de sua vida.<br />
08. Considera-se uma das condições, para a existência de um texto, a intertextualidade, justamente por ela ser o elo<br />
entre um texto real e determinada memória textual coletiva ou individual, como ocorre no Texto 2. Nesse sentido,<br />
assinale a alternativa em que o fragmento de texto não constitui, rigorosamente, uma intertextualidade.<br />
A) “Voltara para casa, armara a rede entre dois coqueiros do jardim, tentara reler Homero, aos últimos raios do sol, a cabeça<br />
em chamas. Penélope desencorajando seus pretendentes, Penélope tecendo e destecendo os fios. Por que não seria<br />
Filipa uma Penélope, fiel, vivendo de uma lembrança?” (Os rios turvos, p. 138.)<br />
B) “Não te reconheci imediatamente. E nem havias mudado tanto naqueles meses em que nos havíamos perdido. Talvez se<br />
houvesse acentuado um pouco, como em mim, o vinco da testa. Talvez, como eu, houvesses ganho alguns cabelos<br />
brancos.” (Muito além do corpo, p. 78.)<br />
C) “Ela era Sara. A mãe, no entanto, teve que fugir dois dias até casar. Tivera que dormir no povoado de Urimamãs, na<br />
primeira noite. E para não despertar suspeita, foi o pai quem sugeriu: “Diga que é minha irmã. Se alguém perguntar,<br />
responda sempre, sem inverter as palavras: sou irmã dele.”Foi assim.” (Sombra severa, p. 12.)<br />
D) “Peto não sentava à mesa da família, mas enquanto servia escutava Dr. Nobre a falar da serrana bela pretendida por<br />
Jacó, que só a teve depois de sete anos, embora tenha ganho de sobra a irmã dela, de modo que decorrido o tempo da<br />
espera ficara com duas esposas, o que, afinal, não fora mau negócio, achava Peto.” (A lenda dos cem, p. 198.)<br />
E) “Como Penélope, sou várias e uma. E quarenta anos foram precisos para chegar a isto, e toneladas de alimento e amor e<br />
tanta literatura, olha estas velhas árvores mais belas do que as árvores novas mais amigas, o menino sem dentes<br />
recitava pelo nariz e a beleza dos versos resistia, como a ave que volta ao ninho antigo, eu lia e antecipava o momento<br />
em que o lar paterno não existiria senão na memória, fisicamente demolido por separações, partidas, casamentos,<br />
mortes.” (Muito além do corpo, p. 30.)<br />
7
TEXTOS 3 e 4 para a questão 09.<br />
TEXTO 3<br />
(...)<br />
Amor é vida; é ter constantemente<br />
Alma, sentidos, coração – abertos<br />
Ao grande, ao belo; é ser capaz d'extremos,<br />
D'altas virtudes, té capaz de crimes!<br />
Compr'ender o infinito, a imensidade,<br />
E a natureza e Deus; gostar dos campos,<br />
D'aves, flores, murmúrios solitários;<br />
Buscar tristeza, a soledade, o ermo,<br />
E ter o coração em riso e festa;<br />
E à branda festa, ao riso da nossa alma<br />
Fontes de pranto intercalar sem custo;<br />
Conhecer o prazer e a desventura<br />
No mesmo tempo, e ser no mesmo ponto<br />
O ditoso, o misérrimo dos entes;<br />
Isso é amor, e desse amor se morre!<br />
09. Observe, analise e conclua.<br />
TEXTO 4<br />
O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:<br />
Antônia, ainda não me acostumei com o seu<br />
A moça olhou de lado e esperou.<br />
[corpo,com a sua cara<br />
Você não sabe quando a gente é criança e de<br />
A moça se lembrava:<br />
A gente fica olhando...<br />
[repente vê uma lagarta listada?<br />
A meninice brincou de novo nos olhos dela.<br />
O rapaz prosseguiu com muita doçura:<br />
Antônia, você parece uma lagarta listada.<br />
A moça arregalou os olhos, fez exclamações.<br />
O rapaz concluiu:<br />
Antônia, você é engraçada! Você parece louca.<br />
I. A temática dos dois poemas é a mesma: o amor. No Texto 4, a liberdade poética parece indicar maior liberdade<br />
amorosa, o que se confirma no último verso; No Texto 3, a poesia prende-se à realidade fatídica da vida e revela a<br />
bestialidade humana em versos de profundo lirismo.<br />
II. Ambos os autores são nacionalistas por pertencerem a escolas literárias que defendiam uma língua nacional além<br />
de uma nova poesia ligada ao cotidiano das pessoas. No caso do Texto 3, o eu-lírico fala de amor “capaz de<br />
crimes” (as páginas dos jornais estão cheias de casos dessa natureza) e no do Texto 4, o eu-lírico compara a<br />
mulher amada a uma lagarta (as falas dos jovens entre si, as letras das canções, o comportamento amoroso das<br />
pessoas hoje em dia demonstram essa verdade: os amantes fazem-se comparações absurdas, e tudo isso é belo e<br />
verdadeiro).<br />
III. O Texto 3 pertence ao Romantismo, o que pode ser explicado por algumas características: sentimentalismo e<br />
idealização do amor e a própria consciência da solidão, que o amor produz; o Texto 4 pertence ao Modernismo, pois<br />
nele se constata uma nova abordagem que o poeta faz do amor, sem sentimentos piegas, mas a partir da<br />
insinuação de que as coisas boas e belas são naturalmente simples como lembrar um lance da infância ver uma<br />
lagarta listada e, de feliz, comparar essa lagarta à mulher amada, motivo natural de sua felicidade ali, diante de<br />
si.<br />
A afirmação é pertinente<br />
A) apenas no item I.<br />
B) apenas no item III.<br />
C) apenas no item II.<br />
D) nos itens I, II e III.<br />
E) nos itens II e III.<br />
8
TEXTO 5 para as questões de 10 a 12.<br />
5<br />
10<br />
15<br />
Origem, nascimento e batizado<br />
Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo algibebe em Lisboa, sua pátria;<br />
aborrecera-se porém do negócio, e viera ao Brasil. Aqui chegando, não se sabe por proteção de<br />
quem, alcançou o emprego de que o vemos empossado, e que exercia, como dissemos, desde<br />
tempos remotos. Mas viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria Hortaliça,<br />
quitandeira das praças de Lisboa, saloia rechonchuda e bonitona. O Leonardo, fazendo-se-lhe<br />
justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal-apessoado, e sobretudo era maganão. Ao sair do<br />
Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto<br />
dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já<br />
esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce<br />
um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os<br />
usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de<br />
pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte<br />
estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos. Quando<br />
saltaram em terra começou a Maria a sentir certos enojos; foram os dois morar juntos; e daí a um<br />
mês manifestaram-se claramente os efeitos da pisadela e do beliscão; sete meses depois teve a<br />
Maria um filho, formidável menino de quase três palmos de comprido, gordo e vermelho, cabeludo,<br />
esperneador e chorão...<br />
ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um sargento de milícias.São Paulo: Martin Claret, 2001.<br />
p. 12-13.<br />
10. Considerando a originalidade do trabalho de Manuel Antônio de Almeida, observe a seguir as informações sobre<br />
Memórias de um sargento de milícias e, particularmente, sobre o Texto 5.<br />
I. A personagem principal não é exatamente um herói nem igualmente um vilão. Na verdade, trata-se de um anti-<br />
herói, um tremendo malandro, cômico ou picaresco.<br />
II. Percebe-se no romance a ausência de moralismo, uma certa recusa quanto à idéia de que as ações humanas ou<br />
são boas ou são más necessariamente.<br />
III. Fica evidenciado que, no romance, o autor preferiu o sentimentalismo ao humorismo e usou um estilo rebuscado e<br />
poético para narrar a história de Leonardo Pataca.<br />
IV. Na expressão “...uma certa Maria Hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia rechonchuda[1] e<br />
bonitona[2].” [linhas 4-5], os adjetivos [1] e [2], atribuem, respectivamente, propriedades relativas à forma e ao<br />
caráter da mulher amada.<br />
V. Em “Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir certos enojos...” [linhas 13-14], o narrador já<br />
antecipa o resultado de um namoro que passara dos limites e o confirma, ironicamente, dizendo “...e daí a um<br />
mês manifestaram-se claramente os efeitos da pisadela e do beliscão...” [linhas 14-15]<br />
A afirmação é verdadeira<br />
A) nos itens II, III e IV.<br />
B) nos itens I, II e III. D) apenas nos itens III e V.<br />
C) nos itens III, IV e V. E) nos itens I, II e V.<br />
9
11. Observe, analise e conclua.<br />
I. “...o Leonardo fingiu que passava distraído...”<br />
II. “Aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos empossado...”<br />
III. “Fora Leonardo algibebe em Lisboa...”<br />
IV. “...e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito...”<br />
V. “...sete meses depois teve a Maria um filho ...”<br />
Do ponto de vista semântico-funcional, com relação aos vocábulos sublinhados, pode-se afirmar o seguinte:<br />
No item I, o substantivo é agente.<br />
No item II, o substantivo é paciente.<br />
No item III, o substantivo é informativo.<br />
No item IV, o substantivo é instrumento.<br />
No item V, o substantivo é destinatário.<br />
Conclusão.<br />
A) Apenas uma afirmação é verdadeira.<br />
B) Apenas duas afirmações são verdadeiras.<br />
C) Três afirmações são verdadeiras.<br />
D) Quatro afirmações são verdadeiras.<br />
E) As cinco afirmações são absolutamente verdadeiras.<br />
12. Em “...o Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela<br />
no pé direito.” [Texto 5 – linhas 7-8], o verbo grifado está no pretérito imperfeito do modo indicativo.<br />
Como verdadeiro atualizador gramatical, sob o ponto de vista aspectual,<br />
I. pode-se dizer que o imperfeito faz referência ao evento como alguma coisa que está em curso, continuando.<br />
II. é correto assegurar que o imperfeito está neutralizando o valor de passado que ele carrega e exprime, aí, a mera<br />
opinião do narrador.<br />
III. pode-se dizer que o imperfeito referencia algo como um estado que resulta de um processo anterior.<br />
IV. na frase acima, o imperfeito parece estar exprimindo uma continuidade que se converteu em “habitualidade”, razão<br />
por que se transforma, aí, em presente do passado, valor que se pode constatar em inúmeras outras frases da<br />
língua portuguesa.<br />
A afirmação é verdadeira<br />
A) nos itens I e III.<br />
B) nos itens I e II.<br />
C) nos itens II e III.<br />
D) nos itens III e IV.<br />
E) nos itens II e IV.<br />
10
Nas questões de 13 a 20, assinale, na coluna I, as afirmativas verdadeiras e, na coluna II, as falsas.<br />
TEXTO 6 para a questão 13.<br />
5<br />
O ÚLTIMO POEMA<br />
Assim eu quereria o meu último poema<br />
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais<br />
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas<br />
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume<br />
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos<br />
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.<br />
13. Funções da linguagem / pontuação / fonética-fonologia.<br />
I II<br />
BAN<strong>DE</strong>IRA, Manuel. Namorados. In: Libertinagem & Estrela da manhã.<br />
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. p. 70.<br />
0 0 A função da linguagem que predomina no Texto 6 é a fática: o eu-lírico quer apenas estabelecer um<br />
contato com a sua audiência.<br />
1 1 “Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas.” [linha 3]<br />
Quanto à intensidade, a vogal /i/, da palavra grifada acima, é inacentuada e postônica, podendo ser<br />
também entendida como subtônica por causa da extensão fonética da palavra onde se encontra,<br />
sendo, quanto ao timbre, fechada.<br />
2 2 A função da linguagem predominante no Texto 6 é a metalingüística, pois o poeta, concentrado no<br />
próprio código, expressa qual é o seu desejo nesse que é o último poema da obra “Libertinagem”.<br />
3 3 Ao final do primeiro verso do poema do Texto 6, dever-se-ia colocar dois-pontos para anunciar as<br />
orações apositivas a seguir, o que não foi feito pelo poeta, que desconsiderou, propositadamente, a<br />
norma culta da língua portuguesa.<br />
4 4 Pode-se dizer que, secundariamente, uma outra função da linguagem no Texto 6 é a poética, pelo<br />
fato de o eu-lírico construir o belo-expressivo que provoca a emoção poética.<br />
11
TEXTO 7 para a questão 14.<br />
5<br />
10<br />
15<br />
20<br />
Também não sei em que espelho ficou perdida minha outra face, Cecília. Um dia desses me<br />
olhei: passei diante do espelho, vi-me de relance. E me interessaram: aqueles olhos me olhando, a<br />
mulher me encarando hostil, com uma frieza de que não me julgara capaz. Talvez seja apenas o<br />
astigmatismo, eu me disse, essa dureza, esse jeito de encarar. Como poderia ser minha inimiga?<br />
Quem é essa que assim me fita?<br />
Uma das que em mim vibram e existem, agachada em que escondidos lugares, que não<br />
atinjo, que só pressinto às vezes, de que não desconfio, no mais freqüente: uma frase, um cheiro,<br />
um passante na rua, uma situação inusitada, e lá vem uma delas, e me ocupa e fala por mim. E me<br />
surpreendo a querer coisas que não quero, a falar palavras que não são minhas ou o são, de uma<br />
outra, de uma mim que em mim vive, uma das tantas. Hoje pensei nisso: que a gente deveria<br />
possuir vários nomes, e me espantei que ninguém tenha imaginado assumir essas alteridades antes<br />
de Pessoa.<br />
Eu sou trezentos, dizia Mário.<br />
Quantas serei?<br />
Levei tempo para entender que sou tantas, coabitando neste invólucro que me deram, corpo<br />
que carrego há mais de quarenta anos, com uma alegria sempre crescente. E ninguém me pergunte<br />
o porquê deste adjetivo, se os anos começam a se fazer presentes nas rugas do rosto, na pele do<br />
corpo, num certo cansaço que eu não conhecia ao subir uma escada às pressas, como sempre fiz.<br />
Alegria. Alguém que me olhe se perguntará:<br />
De onde lhe vem esse sentimento de estar tão em paz com um corpo que nada tem de<br />
particularmente atraente.<br />
14. Estudo do Texto / Teoria Literária.<br />
I II<br />
FERREIRA, Luzilá Gonçalves. Muito além do corpo. 4. ed. São Paulo: Scipione, 1998. p. 26-27.<br />
0 0 Além do subjetivismo que é significativo no romance “Muito além do corpo” (como se percebe no<br />
Texto 7), há a intertextualidade que lhe dá, no caso, a poeticidade não muito comum aos textos em<br />
prosa e na dosagem com que foi construído um discurso profundamente feminino.<br />
1 1 Romance recente do último quartel do séc. XX, o narrador, em terceira pessoa, constrói um discurso<br />
feminino sobre o amor e resgata as intenções e valores femininos às vezes maltratados pela rispidez<br />
de algum discurso masculino. Questão de gênero, como acontece, por exemplo, com o discurso do<br />
personagem-narrador Paulo Honório, de São Bernardo, de Graciliano, para quem, pragmatista como<br />
ele, o amor é um simples negócio.<br />
2 2 O estilo do romance “Muito além do corpo” é lírico, o que se percebe em suas características, como,<br />
por exemplo: a recordação, o sentir, linguagem na fase de expressão sensorial, fluidez (até mesmo<br />
pouca necessidade de conexões lógicas), liberdade em relação à sua historicidade: se não apresenta<br />
as causas também não trabalha as conseqüências daquilo mesmo que constitui o objeto da história: o<br />
amor sob a ótica feminina.<br />
3 3 O grande antagonista nesse romance é o Tu, personagem que destrói todas as ilusões da<br />
personagem Eu e limita-lhe a existência ao ponto de esta desejar traí-lo, e com o personagem Ele, e<br />
reconstruir a vida que, afinal, parece haver perdido.<br />
4 4 Segundo o Texto 7, Cecília é a grande confidente da personagem central desse romance. É com ela<br />
que a personagem Eu faz confidências e derrama sua alma, demonstrando, inclusive, a sua<br />
alteridade, embora diferentemente de Fernando Pessoa parece ter-se dado conta de quem era só<br />
muito tardiamente. (ver linhas 1-2)<br />
12
TEXTO 8 para as questões 15 e 16.<br />
5<br />
10<br />
15<br />
Não torno a pôr os pés aqui. Primeiro porque não quero prejudicá-la, segundo porque é<br />
ridículo. Naturalmente a senhora já refletiu.<br />
Madalena soltou o bordado.<br />
Parece que nos entendemos. Sempre desejei viver no campo, acordar cedo, cuidar de<br />
um jardim. Há lá um jardim, não? Mas por que não espera mais um pouco? Para ser franca, não<br />
sinto amor.<br />
Ora essa! Se a senhora dissesse que sentia isso, eu não acreditava. E não gosto de<br />
gente que se apaixona e toma resoluções às cegas. Especialmente uma resolução como esta.<br />
Vamos marcar o dia.<br />
Não há pressa. Talvez daqui a um ano... Eu preciso preparar-me.<br />
Um ano? Negócio com prazo de ano não presta. Que é que falta? Um vestido branco faz-<br />
se em vinte e quatro horas.<br />
Ouvimos passos no corredor, baixei a voz:<br />
Podemos avisar sua tia, não?<br />
Madalena sorriu, irresoluta.<br />
(...)<br />
Está bem.<br />
D. Glória, comunico-lhe que eu e sua sobrinha dentro de uma semana estaremos<br />
embirados. Para usar linguagem mais correta, vamos casar. A senhora, está claro, acompanha a<br />
gente...<br />
15. Estudo do Texto e Literatura Brasileira.<br />
I II<br />
RAMOS, Graciliano. São Bernardo. 74. ed. Rio de Janeiro: Record, 2002. p. 92-93.<br />
0 0 Do ponto de vista do enredo de São Bernardo, a vida de Paulo Honório modificou-se com a chegada<br />
de Padilha à casa grande, pois Madalena passou a lhe dar mais atenção do que ao próprio marido.<br />
1 1 A produção da obra São Bernardo ocorre em 1934, momento que coincide com o surgimento da<br />
primeira fase do Modernismo brasileiro, período em que, politicamente, tinha-se a presença<br />
marcante do presidente Getúlio Vargas, que, em 1937, promove um golpe militar e fica no poder até<br />
1945. Por isso São Bernardo possui uma linguagem seca, enxuta, frases um tanto curtas e às vezes<br />
duras, influência, sem dúvida, do contexto histórico em que se insere.<br />
2 2 Graciliano Ramos aderiu à crítica social muito ao feitio do Modernismo brasileiro do seu tempo sem,<br />
contudo, abandonar tentativas de desvendamento dos mecanismos da alma humana.<br />
3 3 O estilo de sua obra é seco, conciso, desprovido das marcas sentimentalistas das personagens que<br />
povoam seus outros romances e romances do Romantismo.<br />
4 4 Nem mesmo a brutalidade de Paulo Honório que se coloca como fruto da opressão do meio<br />
ambiente faz de São Bernardo um trabalho menos belo, e até menos poético. Sua ignorância leva-o<br />
à destruição de tudo e, na solidão, busca recompor a história de sua vida, escrevendo-a.<br />
13
16. Gramática: análise sintática, crase, concordância e topologia pronominal.<br />
I II<br />
0 0 “ Parece que nos entendemos. Sempre desejei viver no campo, acordar cedo, cuidar de um<br />
jardim.” [linhas 4-5]<br />
______________________________________<br />
No trecho acima, tem-se no primeiro período uma subordinação em que a oração subordinada<br />
realiza a função de sujeito; e no segundo, uma coordenação.<br />
1 1 “ Ora essa! Se a senhora dissesse que sentia isso, eu não acreditava. E não gosto de gente que<br />
se apaixona e toma resoluções às cegas. Especialmente uma resolução como esta. Vamos marcar o<br />
dia.” [linhas 7-9]<br />
______________________________________<br />
A oração grifada como subordinada que continua o conteúdo da subordinante [eu não<br />
acreditava], assume o valor semântico de “condição”.<br />
2 2 “ Ora essa! Se a senhora dissesse que sentia isso, eu não acreditava. E n ão gosto de gente que<br />
se apaixona e toma resoluções às cegas. Especialmente uma resolução como esta. Vamos marcar o<br />
dia.” [linhas 7-9]<br />
______________________________________<br />
No termo acima grifado, o uso do sinal indicativo de crase é idêntico ao que ocorre na frase<br />
“Não me refiro às vezes que ele mencionou a expressão, mas ao modo violento como a repetiu,<br />
procurando provocar medo nas pessoas.”, em termos de sua justificação gramatical.<br />
3 3 “ D. Glória, comunico-lhe que eu e sua sobrinha[1] dentro de uma semana estaremos[2]<br />
embirados. Para usar linguagem mais correta, vamos casar. A senhora, está claro, acompanha a<br />
gente...” [linhas 17-18]<br />
______________________________________<br />
Antepondo-se o termo [2] ao termo [1], não haveria outra forma de flexioná-lo.<br />
4 4 “ Ora essa! Se a senhora dissesse que sentia isso, eu não acreditava. E não gosto de gente que<br />
se apaixona e toma resoluções às cegas. Especialmente uma resolução como esta. Vamos marcar<br />
o dia.” [linhas 7-9]<br />
TEXTO 9 para as questões 17 e 18.<br />
5<br />
10<br />
15<br />
______________________________________<br />
Na oração grifada, substituindo-se o termo negritado pelo pronome oblíquo átono<br />
correspondente, seria indiferente o uso da próclise ou da ênclise.<br />
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria<br />
em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo<br />
nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou<br />
propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a<br />
segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua<br />
morte, não a pôs no intróito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco.<br />
Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na<br />
minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro,<br />
possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos!<br />
Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia penetrava uma chuvinha<br />
miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a<br />
intercalar esta engenhosa idéia do discurso que proferiu à beira de minha cova: “Vós, que o<br />
conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda<br />
irreparável de um dos mais belos caracteres que têm honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas<br />
gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul com um crepe funéreo, tudo isso é a dor<br />
crua e má que lhe rói à Natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso<br />
ilustre finado. “<br />
Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe deixei. E foi assim que<br />
cheguei à cláusula dos meus dias...<br />
14
20<br />
25<br />
30<br />
35<br />
.................................................................................................................................................................<br />
Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma idéia<br />
no trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as<br />
mais arrojadas cabriolas de volatim que é possível crer. Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito,<br />
deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma de um X: decifra-me ou<br />
devoro-te.<br />
Essa idéia era nada menos que a invenção de um medicamento sublime, um emplasto<br />
anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade. Na petição de privilégio<br />
que então redigi, chamei a atenção do governo para esse resultado, verdadeiramente cristão.<br />
Todavia, não neguei aos amigos as vantagens pecuniárias que deviam resultar da distribuição de<br />
um produto de tamanhos e tão profundos efeitos. Agora, porém, que sou cá do outro lado da vida,<br />
posso confessar tudo: o que me influiu principalmente foi o gosto de ver impressas nos jornais,<br />
mostradores, folhetos, esquinas e enfim nas caixinhas do remédio, estas três palavras: Emplasto<br />
Brás Cubas. Para que negá-lo? Eu tinha a paixão do arruído, do cartaz, do foguete de lágrimas.<br />
Talvez os modestos me arguam esse defeito: fio, porém, que esse talento me hão de reconhecer os<br />
hábeis. Assim, a minha idéia trazia duas faces, como as medalhas, uma virada para o público, outra<br />
para mim. De um lado, filantropia e lucro; do outro lado sede de nomeada. Digamos: amor da<br />
glória.<br />
MACHADO <strong>DE</strong> ASSIS, Joaquim Maria. Memórias póstumas de Brás Cubas. 18. ed. São Paulo: Ática, 1992. p. 17-19.<br />
17. Estudo do Texto, Teoria Literária, Literatura e Gramática.<br />
I II<br />
0 0 Não se pode deixar de considerar que o narrador Brás Cubas possui uma visão própria do mundo que<br />
o cerca e que ele deforma a sua própria história pelos exageros que comete como já se observa no<br />
Texto 9.<br />
1 1<br />
<strong>DE</strong>GAS. Moça a secarse,<br />
1885. In: BECKETT,<br />
Wendy. História da<br />
Pintura. São Paulo,<br />
Ática, 1997. p. 326.<br />
À época de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, a pintura era inquietante<br />
e pouco espiritualizada, podendo tanto representar a morte como o amor, o nu<br />
sem idealização, mas enfatizava sempre novos e sugestivos métodos de<br />
composição. Os pintores, à semelhança dos escritores realistas, usaram<br />
técnicas, tais como figuras desproporcionais e desenhos intencionalmente<br />
assimétricos, captando mais a idéia de espaço e movimento que a de formas<br />
individuais, o que também acontece no discurso machadiano cuja invenção<br />
principal consiste no arranjo da seqüência que convida o leitor a organizar o<br />
sentido do texto. Então, a pintura ao lado é realista dada a sua proximidade<br />
com o mundo real. Seu jogo de luz e contraluz remete o leitor de Memórias<br />
Póstumas de Brás Cubas ao mesmo jogo que o narrador faz, não permitindo<br />
com clareza que se deduza o que quer dizer e permitindo, outras vezes, que<br />
fique muito clara a sua intenção: por exemplo, pode-se desvendar suas ironias,<br />
e isso faz com que se veja nele um ser imperfeito e contraditório.<br />
2 2 O foco narrativo de Memórias Póstumas de Brás Cubas centra-se no personagem-narrador,<br />
constituindo, pois, uma narração em primeira pessoa; no caso, trata-se de um personagem que<br />
simboliza a ironia machadiana relativamente ao ideal burguês de “triunfar”, alcançar o sucesso,<br />
sobretudo através da teoria do humanitismo, filosofia criada por seu amigo Quincas Borba.<br />
3 3 “Assim, a minha idéia trazia duas faces, como as medalhas, uma virada para o público, outra para<br />
mim. De um lado, filantropia e lucro; do outro lado sede de nomeada. Digamos: amor da glória.”<br />
[linhas 34-36]<br />
Se se desse nova redação ao fragmento acima Posto que a minha idéia trazia duas faces, mal<br />
se recebiam as medalhas, uma virava-se para o público, outra para mim. De um lado, filantropia e<br />
lucro; do outro lado sede de nomeada. Digamos: amor da glória. , do ponto de vista das<br />
relações lógico-semânticas, haveria dois relacionamentos temporais, sendo que o segundo<br />
deles implica num tipo de tempo simultâneo.<br />
4 4 “Dito isto[1], expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869...” [linha 7]<br />
e “Acresce que chovia penetrava uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste,<br />
que levou um daqueles[2] fiéis da última hora a intercalar esta[3] engenhosa idéia do discurso que<br />
proferiu à beira de minha cova...” [linhas 10-12]<br />
______________________________________<br />
Os termos [1], [2] e [3] são pronomes demonstrativos, ou seja, apresentam o que é deduzível do<br />
contexto no sentido do que antes foi mencionado, ou que ainda vai ser mencionado da<br />
situação a que se referem. No exemplo acima, [1], [2] e [3] exercem, também, função localizadora,<br />
isto é, fornecem instruções sobre a localização dos respectivos referentes textuais.<br />
15
18. Gramática: verbos, plural dos substantivos, conjunções e análise sintática.<br />
I II<br />
0 0 “Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma idéia no<br />
trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais<br />
arrojadas cabriolas de volatim que é possível crer. Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu<br />
um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-<br />
te.” [linhas 20-24]<br />
______________________________________<br />
O primeiro verbo grifado é transitivo direto, e seu objeto é “uma idéia no trapézio”; o segundo é<br />
transitivo direto, sendo que o pronome “me” é seu objeto direto e sujeito do verbo estar.<br />
1 1 “Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma de um X: decifra-<br />
me ou devoro-te. ” [linhas 23-24]<br />
______________________________________<br />
Os verbos acima grifados estão respectivamente na forma imperativa (2.ª pessoa do singular) e<br />
presente do indicativo (1.ª pessoa do singular). Passando-se, porém, o primeiro verbo da frase<br />
para a forma negativa (2.ª pessoa do plural) e estabelecendo-se a devida correspondência de<br />
tratamento e tempos verbais, o correto seria dizer: Súbito, deu um grande salto, estendeu os<br />
braços e as pernas, até tomar a forma de um X: não me decifreis ou devoro-te.<br />
2 2 “...vós podeis dizer comigo que a natureza parece [1] estar chorando a perda irreparável de um dos<br />
mais belos caracteres[2] que têm honrado a humanidade[3].” [linhas 13-14]<br />
______________________________________<br />
Fazendo-se a análise sintática das orações grifadas acima, pode-se dizer que [1] é<br />
subordinada substantiva objetiva direta; [2] é subordinada substantiva predicativa e [3],<br />
subordinada adjetiva.<br />
3 3 “Na petição de privilégio que então redigi, chamei a atenção do governo para esse resultado,<br />
verdadeiramente cristão.” [linhas 26-27]<br />
______________________________________<br />
Quando da formação do plural de alguns substantivos, ocorre um fenômeno designado por<br />
metafonia (alteração do /o/ fechado do singular para /o/ aberto no plural), o que já se percebe que<br />
não ocorre com o substantivo grifado acima. Entretanto se se dissesse “Cachorro[1] gosta de<br />
osso [2]”, no plural, ocorreria o fenômeno da metafonia apenas no substantivo [1].<br />
4 4 “Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha<br />
bela chácara de Catumbi quando[1] tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos; era solteiro,<br />
possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Quando[2],<br />
porém, tiveres chegado a essa idade, podes pensar como eu.” (fragmento do Texto 9 adaptado<br />
para esta questão)<br />
______________________________________<br />
Nas orações grifadas acima, a conjunção “quando” apresenta-se duas vezes, exprimindo,<br />
todavia, relações semânticas diferentes.<br />
16
TEXTOS 10 e 11 para a questão 19.<br />
TEXTO 10 TEXTO 11<br />
Por outro lado, não quero lhe prejudicar, Peto.<br />
Tomara a liberdade de arranjar para Peto colocação<br />
num escritório de contabilidade pertencente a um<br />
amigo da família. Peto ganharia o suficiente para<br />
manter-se, teria oportunidade de prosseguir nos<br />
estudos, formar-se:<br />
Você pode terminar o clássico aqui no Nobre ou no<br />
Pernambucano, que é grátis também. Não que eu<br />
queira me livrar de você, mas acho que no<br />
Pernambucano ficaria mais em conta, você não teria<br />
de pagar condução, já que fica no centro, onde<br />
naturalmente vai morar. Há pensões baratas no<br />
centro.<br />
E ela cruzou as mãos, dedos amarrados, e fitou-o,<br />
terna, e disse vamos almoçar, e Peto viu que o sol<br />
trazia de volta seus raios sempre luminosos e os<br />
postava firmes e ofuscantes na vidraça, no postigo,<br />
no peitoril da janela, enquanto no pátio a paz se<br />
restabelecia e o homem do sorvete empurrava a<br />
carrocinha, afastando-se, empós o rasto cantante e<br />
fracionado da sineta.<br />
Peto deixou-a passar, tomar a frente, pesadona,<br />
equilibrando os quadris redondos em cada lado do<br />
corpo, pernas grossas e alvas, as batatas roliças<br />
como rosto de moça, assim coradas e glabras e<br />
duma familiaridade comovente. As salas vazias, os<br />
corredores vazios, o pátio vazio e um vazio no<br />
estômago dele Peto, que fingia tossezinhas e não<br />
sabia o que dizer ou pensar ou... Oh! Lurdinha, me<br />
ama!<br />
LEMOS, Gilvan. A lenda dos cem. Rio de Janeiro:<br />
Civilização Brasileira, 1995. p. 207-208.<br />
19. Estudo de Texto, Literatura e Gramática.<br />
I II<br />
Amor I love you<br />
(Carlinhos Brown/Marisa Monte)<br />
Deixa eu dizer que te amo<br />
Deixa eu gostar de você<br />
Isso me acalma<br />
me acolhe a alma<br />
Isso me ajuda a viver<br />
Deixa eu dizer que te amo<br />
Deixa eu pensar em você<br />
Isso me acalma<br />
me acolhe a alma<br />
Isso me ajuda a viver<br />
Hoje contei pras paredes<br />
Coisas do meu coração<br />
Passeei no tempo<br />
Caminhei nas horas<br />
Mais do que passo a paixão<br />
É um espelho sem razão<br />
Quer amor fique aqui<br />
Meu peito agora dispara<br />
Vivo em constante alegria<br />
É o amor quem está aqui<br />
Amor I love you<br />
Amor I love you<br />
Amor I love you<br />
Amor I love you<br />
(...) Tinha suspirado, tinha<br />
beijado o papel devotamente!<br />
Era a primeira vez que lhe<br />
escreviam aquelas<br />
sentimentalidades, e o seu<br />
orgulho dilatava-se ao calor<br />
amoroso que saía delas,<br />
como um corpo ressequido<br />
que se estira num banho<br />
tépido; sentia um acréscimo<br />
de estima por si mesma, e<br />
parecia-lhe que entrava enfim<br />
numa existência<br />
superiormente interessante,<br />
onde cada hora tinha o seu<br />
encanto diferente, cada passo<br />
conduzia a um êxtase, e a<br />
alma se cobria de um luxo<br />
radioso de sensações!<br />
Primo Basílio - Eça de Queiroz<br />
(1878)<br />
0 0 Peto, na verdade, tinha por nome Pedro Correia, mas quase ninguém o chamava pelo nome. No<br />
início da história, o narrador chama-o de menino; depois ele é apresentado por Brás, sujeito alto e<br />
forte, como Pedro, seu apadrinhado. E Peto supunha que “padrinho” era diminutivo de pai. E assim<br />
ficou Peto.<br />
1 1 Segundo a Lenda dos Cem, Peto amava Lurdinha, mas esta tinha idade de ser sua mãe e não o<br />
quis, mesmo quando lhe pediu para casar-se com ela. No final, ele se reencontra consigo mesmo<br />
com a ajuda de Geni.<br />
2 2 [1] “ Por outro lado, não quero lhe prejudicar, Peto.” [Texto 10, primeiro parágrafo]<br />
[2] “Peto deixou-a passar, tomar a frente, pesadona...” [Texto 10, último parágrafo]<br />
[3] “Deixa eu dizer que te amo” [Texto 11, primeira estrofe]<br />
___________________<br />
O exemplo [1] poderia ter vindo sob a forma “...não quero prejudicá-lo...”, em obediência à<br />
norma padrão conservadora (caso de regência verbal); os exemplos [2] e [3] constituem casos<br />
em que há sujeito-objeto (o que se dá com verbos como mandar, fazer, sentir, ouvir, ver,<br />
deixar + pronome + verbo no infinitivo), sendo que o [3] é muito freqüente na fala brasileira.<br />
3 3 O texto 10 pode e deve ser considerado “ficção contemporânea” (do último quartel do século XX)<br />
em que se visualiza o interesse pela ordem social, além da preocupação com o tempo presente, e<br />
uma mistura entre realidade e fantasia bastante próxima da condição humana reveladora da<br />
influência do Romantismo sobre o autor de “A lenda dos cem”.<br />
4 4 Em “Vivo em constante alegria” (última estrofe do Texto 11), o apagamento da preposição “em” não<br />
constituiria um erro gramatical nem produziria mudança na regência do verbo (que continuaria<br />
intransitivo); e o sentido da nova frase (Vivo constante alegria) seria idêntico ao da original.<br />
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TEXTO 12 para a questão 20.<br />
Santa Teresa descreveu o momento de sua vida em que<br />
um anjo lhe apareceu em sonho e atravessou-a com uma<br />
flecha. A santa afirmou que, nesse momento, sentiu um<br />
profundo gozo, acompanhado de uma dor tão forte que a<br />
fez desmaiar. O escultor Bernini materializou o fato<br />
narrado, criando uma obra em que se misturam o erótico<br />
e o religioso. A escultura, reproduzida ao lado, é um dos<br />
exemplos máximos do Barroco nas artes plásticas.<br />
Observe a ruptura do equilíbrio clássico, agora<br />
substituído por gestos contorcidos e pela expressão<br />
mista de êxtase e sofrimento no rosto da personagem.<br />
FARACO & MOURA. Língua e Literatura.17. ed. Ática: São<br />
Paulo, 1997. p. 304. v. 1.<br />
20. Relação entre os fragmentos de texto dos itens abaixo com um dos temas sublinhados no Texto 12.<br />
I II<br />
0 0 “De dentro da sombra que antecede a luz, sentado no canto esquecido da sala, os olhos sofreram:<br />
quem estava saindo do banheiro, os cabelos molhados caindo sobre os ombros, a toalha na mão,<br />
era Dina. Saía nua, o corpo alto e esguio, coxas grossas, os seios pequenos que se sacudiam,<br />
ventre macio. Atravessou a sala, o perfume que se entranha no corpo. Não olhou para ele.”<br />
(Raimundo Carrero)<br />
1 1 “Aí tem o leitor, em poucas linhas, o retrato físico e moral da pessoa que devia influir mais tarde na<br />
minha vida; era aquilo com dezesseis anos. Tu que me lês, se ainda fores viva, quando estas<br />
páginas vierem à luz, – tu que me lês, Virgília amada, não reparas na diferença entre a linguagem de<br />
hoje e a que primeiro empreguei quando te vi? Crê que era tão sincero então como agora; a morte<br />
não me tornou rabugento, nem injusto.”<br />
[Virgília in Memórias Póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis]<br />
2 2 “Pequei, Senhor: mas não porque hei pecado,<br />
da vossa Alta Piedade me despido:<br />
Antes, quanto mais tenho delinqüido,<br />
vos tenho a perdoar mais empenhado.<br />
Se basta a vos irar tanto pecado,<br />
a abrandar-vos sobeja um só gemido:<br />
que a mesma culpa, que vos há ofendido,<br />
vos tem para o perdão lisonjeado.”<br />
[A Jesus Cristo Nosso Senhor – Gregório de Matos]<br />
3 3 “Voltara para casa, armara a rede entre dois coqueiros do jardim, tentara reler Homero, aos últimos<br />
raios do sol, a cabeça em chamas. Penélope desencorajando seus pretendentes, Penélope tecendo<br />
e destecendo os fios. Por que não seria Filipa uma Penélope, fiel, vivendo de uma lembrança?”<br />
[Os rios turvos – Luzilá Gonçalves Ferreira]<br />
4 4 “O seio virginal, que a mão recata,<br />
Embalde o prende a mão... cresce, flutua...<br />
Sonha a moça ao relento... Além na rua<br />
Preludia um violão na serenata!...”<br />
[Primeira sombra: Marieta – Castro Alves]<br />
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