maio de 2009 - T-Bone
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Ano 2, Nº IV - Abril-Maio <strong>de</strong> <strong>2009</strong><br />
Quintas Culturais do T-<strong>Bone</strong>:<br />
Escritores e leitores,<br />
cara a cara, na 312 Norte.<br />
Affonso Romano <strong>de</strong> Sant’Anna,<br />
Ignácio <strong>de</strong> Loyola Bransão e Cristovão Tezza<br />
dão início a programação <strong>de</strong> palestras,<br />
bate-papos e noites <strong>de</strong> autógrafos.<br />
Brasília jamais contou com uma agenda literária tão intensa, se levada<br />
em conta a regularida<strong>de</strong> com que o Açougue Cultural T-<strong>Bone</strong> tem<br />
proporcionado ao público o contato direto com autores, suas obras, <strong>de</strong>poimentos<br />
e interação com os frequentadores das Quintas Culturais.<br />
Somente neste início <strong>de</strong> ano, já <strong>de</strong>sfilaram pelo palco da 312 Norte<br />
vários escritores, sempre sucedidos <strong>de</strong> apresentações musicais gratuitas.<br />
Muita aninação com artistas locais e nacionais, entre eles, Beirão,<br />
Manassés <strong>de</strong> Souza, o violeiro Chico Lobo e o humorista Papudim.<br />
Brandão:<br />
A leitura está<br />
difícil no mundo<br />
inteiro. O que está<br />
acontecendo hoje<br />
é um fenômeno<br />
chamado mega<br />
seller, não é nem<br />
best seller<br />
(p. 3).<br />
Estou confusa!<br />
À medida que me distancio dos meus iguais,<br />
Ouço as vozes silenciosas da vegetação<br />
E o coração acelerado dos animais.<br />
Ou é o contrário:<br />
A honestida<strong>de</strong> impressa no olhar selvagem,<br />
A <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za presente em cada vegetal,<br />
Nos meus olhos, <strong>de</strong>spiram o homem <strong>de</strong> sua roupagem?<br />
Tezza: colecionando prêmios<br />
nacionais e internacionais.<br />
As tertúlias do T-<strong>Bone</strong> também têm servido<br />
<strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> para o exercício da reflexão<br />
sobre os mais diversos aspectos da vida brasileira.<br />
Afinal, o público quer sempre checar<br />
como os nossos intelectuais analisam os fatos<br />
políticos e culturais.<br />
Foi nessa atmosfera que os brasilienses pu<strong>de</strong>ram<br />
conheceram um dos <strong>maio</strong>res fenômenos<br />
literários do momento, Cristovão Tezza,<br />
autor <strong>de</strong> O filho eterno, premiadíssima obra,<br />
na qual narra a experiência <strong>de</strong> ser pai <strong>de</strong> uma<br />
criança com Síndrome <strong>de</strong> Down.<br />
Para esta edição, o Parada Cultural entrevistou<br />
Ignácio Loyola Brandão (p. 3) e também<br />
publica uma crônica Affonso Romano <strong>de</strong><br />
Sant’Anna (p. 2).<br />
Poesia EU, VEGETAL?<br />
Sandra Fayad<br />
Animalizei-me?<br />
Po<strong>de</strong> ser que nem tanto;<br />
Talvez eu tenha me vegetabilizado,<br />
Ou ambos ... por encanto.<br />
A compreensão cegou minha ignorância,<br />
Apagou o húmus-rastro do caminho,<br />
Inverteu crenças, valores, pseudo-certezas.<br />
Reformou a mim e ao meu ninho!<br />
Sandra Fayad, autora do livro Animais que plantam gente, dirige o projeto Horta Comunitária, na 713 Norte.
Estava numa reunião <strong>de</strong> “mediadores <strong>de</strong><br />
leitura” em São Paulo com escritores, contadores <strong>de</strong><br />
estória, professores, bibliotecários, representantes<br />
<strong>de</strong> ONGs, <strong>de</strong> secretarias <strong>de</strong> cultura, ministérios e até<br />
da Presidência da República, quando soube <strong>de</strong> algo<br />
importante e gratificante para quem tem <strong>de</strong>dicado<br />
a vida ao <strong>de</strong>senvol-vimento do país através da<br />
cultura.<br />
Sant’Anna conversou com leitores em noite <strong>de</strong> autógrafos no T-<strong>Bone</strong><br />
Foi dito que <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> alguns meses todos os seis mil municípios brasileiros terão uma biblioteca.<br />
Desses, os últimos 360 estão finalizando as condições para montar suas bibliotecas. Isto me dá vonta<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> escrever alguma coisa na série “meninos, eu vi!”, prolongando aquilo que um mártir da literatura<br />
- São Bartolomeu <strong>de</strong> Campos Queirós - dizia sobre as crenças e <strong>de</strong>screnças em relação à leitura.<br />
Quando assumi a direção da Fundação da Biblioteca Nacional, no final <strong>de</strong> 1990, encontrei uma situação<br />
lastimável. Cerca <strong>de</strong> três mil municípios não tinham uma biblioteca. Lançamos a campanha, “Uma biblioteca<br />
em cada município”. Criamos o Sistema Nacional <strong>de</strong> Bibliotecas e o Proler. Vinte anos se passaram. Dizia<br />
Drummond num <strong>de</strong> seus poemas: “Vinte anos: po<strong>de</strong>rei tanto esperar o preço da poesia?”.<br />
Hoje, minha geração está prestes a ver concretizada uma geriátrica aspiração. Mas não é fácil, não<br />
foi fácil e sempre será difícil. Nessa reunião <strong>de</strong> São Paulo, autorida<strong>de</strong>s do Ministério da Cultura também<br />
disseram que uma meia dúzia <strong>de</strong> prefeitos não quer bibliotecas. Por isto, não se po<strong>de</strong>rá dizer que essa<br />
questão foi zerada.<br />
Possivelmente, tais prefeitos nunca viram um livro e temem que o livro morda. Estão certos, o livro<br />
mor<strong>de</strong> mesmo. Transforma as pessoas e as comunida<strong>de</strong>s. Acho que se <strong>de</strong>veria fazer reportagens com<br />
esses espécimes raros, e mais: <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar um plebiscito nessas prefeituras. E apresentar um livro a eles,<br />
quem sabe até gostem?<br />
Essas coisas me lembram Oswald Cruz, há uns cem anos, tendo que obrigar a população do Rio a se<br />
vacinar contra a febre amarela. Leitura é uma vacina. E há quem tenha medo <strong>de</strong>la, preferindo amarelar.<br />
2<br />
A leitura é uma vacina<br />
[Trechos <strong>de</strong> crônica]<br />
Affonso Romano <strong>de</strong> Sant’Anna<br />
Crônica<br />
Fafão <strong>de</strong><br />
Azevedo...<br />
Que se auto-intitula<br />
“um cronista <strong>de</strong><br />
boteco”, é um<br />
gran<strong>de</strong> entusiasta<br />
dos projetos do<br />
T-<strong>Bone</strong><br />
Depoimento<br />
Era uma apostador nato. Um ganhador!<br />
Nunca soube seu nome, chamavam-no<br />
<strong>de</strong> Copacabana, por ser nascido e criado<br />
naquela praia ou, talvez, por freqüentar<br />
com assiduida<strong>de</strong> um boteco do mesmo<br />
nome, na rua do Pigally (CLS 304 - Brasília,<br />
é claro), on<strong>de</strong> sempre <strong>de</strong>safiava os companheiros<br />
<strong>de</strong> copo para uma porrinha, um<br />
joguinho <strong>de</strong> cartas ou pra fazer uma fezinha<br />
no time <strong>de</strong> futebol que jogava naquele<br />
domingo.<br />
Mas também era conhecido por Auau,<br />
pois sempre que ganhava - e ganhava<br />
sempre! - comemorava latindo baixinho:<br />
“auau!”.<br />
Por mais-boa praça que fosse, aquele<br />
“auau” vitorioso provocava irritação em<br />
seus contendores, que dariam tudo para<br />
vê-lo <strong>de</strong>rrotado e, quem sabe, sair miando.<br />
Certo dia Copacabana apareceu sorri-<br />
Aposta certA<br />
http://www.t-bone.org.br<br />
SCLN 312 Bl B Lj 27 Brasília-DF CEP 70.765-520<br />
Tel: +55 (61) 3274-1665 / 3347-4906<br />
<strong>de</strong>nte, pediu a cerveja costumeira e, para surpresa<br />
geral, não propôs aposta nenhuma pra<br />
ninguém. Fred Flintston aproveitou a <strong>de</strong>ixa e<br />
convidou-o a sentar-se à mesa para uma consultoria,<br />
perguntando-lhe o seguinte:<br />
- Copacabana, se você tivesse que apostar<br />
na existência da vida após a morte, você optaria<br />
pelo sim ou pelo não?<br />
- Claro que eu cravaria o não.<br />
- Porque?<br />
- É muito simples... eu gosto muito <strong>de</strong>ssa<br />
vida, por mais besta que ela seja... daí, quando<br />
meu dia chegar, e não tiver mais nada... ta<br />
tudo bem, ganhei a aposta... auau!<br />
- Ah... mas se você per<strong>de</strong>r?<br />
- Ora, se eu per<strong>de</strong>r, eu ganho outra vida pra<br />
recuperar a aposta, que eu não vou <strong>de</strong>ixar baratos<br />
assim não, auau!<br />
Copacabana era assim, ganhava até da<br />
morte.
Ignácio <strong>de</strong> Loyola Brandão: “ Não somos suicidas ”<br />
Um dos mais representativos escritores brasileiros, traduzido em numerosos países, foi um dos convidados<br />
do T-<strong>Bone</strong>, <strong>de</strong>ntro da programação do Projeto Quintas Culturais, quando foi entrevistado pelo Parada Cultural.<br />
Que Brasil o autor <strong>de</strong> Não Verás País Nenhum vê<br />
pela frente?<br />
Tenho a sensação que somos tudo, menos suicidas.<br />
Tenho a sensação que a gente mergulha, mas<br />
ainda não chegamos ao fundo. Bateremos no fundo e<br />
voltaremos. Tenho 70 anos e nunca vi tanta calamida<strong>de</strong>.<br />
Tanta corrupção e tanta falta <strong>de</strong> ética.<br />
Apesar <strong>de</strong>sse quadro, a popularida<strong>de</strong><br />
do Presi<strong>de</strong>nte só<br />
cresce.<br />
Não dá para acreditar em<br />
pesquisas. E o Lula é um político<br />
populista igual aos outros.<br />
O Brasil está bem economicamente,<br />
mas isso já vinha sendo<br />
preparado, não foi uma criação<br />
<strong>de</strong>le. A educação está no chão,<br />
a saú<strong>de</strong> está no chão. O que<br />
me impressiona é que as pes-<br />
soas estão se acomodando, es-<br />
tão apáticas. Não se têm mais<br />
indignação.<br />
E a cultura? Não é um fator <strong>de</strong> resistência?<br />
O que temos são pequenos focos, pequenas ilhas,<br />
on<strong>de</strong> as coisas vão acontecendo. Temos um país,<br />
mas não temos suficientes bibliotecas. Temos vários<br />
programas <strong>de</strong> incentivo à leitura. Temos escritores<br />
que vão falar em pequenos povoados. Estive recentemente<br />
em Pirenópolis, com vários outros escritores,<br />
num encontro que teve gran<strong>de</strong> repercussão.<br />
Temos, por exemplo, no Ceará, pessoas que vão<br />
<strong>de</strong> bicicleta levar livros até os leitores.<br />
Mas porque o governo não investe o necessário?<br />
Não organiza o potencial que esse povo tem?<br />
Está tudo sendo feito à revelia <strong>de</strong> tudo. Acabamos<br />
A ONG T-<strong>Bone</strong> tem o<br />
patrocínio da<br />
Expediente<br />
Fundador da ONG T-<strong>Bone</strong>:<br />
Luiz Amorim<br />
lv@t-bone.com.br<br />
Assessoria:<br />
Francisca Azevedo<br />
comunicacao@t-bone.com.br<br />
Jornalista Responsável:<br />
Luiz Martins<br />
MTB - 158/02/670/DF<br />
Colaboradora:<br />
Fabíola Souza<br />
Projeto Gráfico:<br />
Fábio Lima<br />
Tiragem:<br />
7.000 exemplares<br />
Patrocínio do Jornal :<br />
SINDJUS<br />
Foto : Francisca Azevedo<br />
Brandão: em noite <strong>de</strong> autógrafos no T-<strong>Bone</strong><br />
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Tel: +55 (61) 3274-1665 / 3347-4906<br />
<strong>de</strong> saber que em São Paulo o governo distribuiu milhares<br />
<strong>de</strong> livros <strong>de</strong> Geografia, todos errados, com mapas<br />
on<strong>de</strong> aparecem dois Paraguais.<br />
Um norueguês lê <strong>de</strong>z vezes mais jornais do que<br />
o brasileiro.O que eles têm que nós não temos?<br />
A leitura está difícil no mundo inteiro. O que está<br />
acontecendo hoje é o fenômeno do mega seller, não<br />
é mais best seller. Publicações<br />
como Crepúsculo, Harry Potter...<br />
Mas isso é próprio da literatura.<br />
A literatura continuará a<br />
ser praticada, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />
da população <strong>de</strong> leitores.<br />
Sempre vai haver algum leitor,<br />
sempre chega a alguém. Quando<br />
Rabelais [Escritor francês<br />
(1493-9/4/1553), autor GarGantua<br />
E PantaGruEl] escreveu, escreveu<br />
para uma França analfabeta.<br />
Em algum momento a literatura<br />
chega ao leitor.<br />
E sobre as frentes parlamentares <strong>de</strong> apoio à leitura?<br />
Não acredito em nada <strong>de</strong>ssas coisas, nem <strong>de</strong> Congresso,<br />
nem <strong>de</strong> governo.<br />
Você tem discutido seus trabalhos com leitores.<br />
Qual o papel do leitor?<br />
O mundo hoje tem bilhões <strong>de</strong> pessoas. E é claro<br />
que existe o prazer da leitura.<br />
E a internet? Ela veio favorecer ou <strong>de</strong>sfavorecer<br />
a leitura?<br />
A internet é um recurso a mais e que será usado. A<br />
informática domina tudo. Quem sabe um dia os livros<br />
serão lidos também pela internet? Mas há o fetiche<br />
dos livros. E esse eu acho que nunca vai se acabar.<br />
Nomes para uma Calçada da Fama II<br />
Neste canto, continuamos a homegear artistas, escritores e personalida<strong>de</strong>s<br />
que têm contribuído para fazer da 312 Norte um espaço <strong>de</strong> cultura: Lourenço<br />
Cazarré; José Carlos Vieira; Pedro César Batista; José Edson dos Santos; Salomão<br />
Sousa; Ariosto Teixeira; Lucília Garcez; An<strong>de</strong>rson Braga Horta; Renato Vivacqua;<br />
Danilo Gomes; Jorge Amâncio; Paulo José Cunha; Amneres; Ana Suely;<br />
Adrino Aragão; Marcos Freitas; Gustavo Dourado; Timm Martins; Edmilson Caminha;<br />
Margarida Patriota; Victor Alegria; Napoleão Valadares; Elizabeth Hazin;<br />
Ronaldo Mousinho; Leon Szklarowsky; Jeferson Assumção; Ivan Braga; Stella<br />
Rodopoulos; Francisco Kaq; Robson An<strong>de</strong>rson; Valter Silva; Cristovam Buarque;<br />
Frei Betto; Lourenço Dutra; André Reis; Wilson Pereira; Rômulo Marinho; Augusto<br />
Pinto Ribeiro; Joilson Portocalvo; Eugênio Giovenardi; Cristina Bastos; Goi<br />
Buarque; Donaldo Schüler; Sandra Fayad; Everardo <strong>de</strong> A. Lopes; Deputado Augusto<br />
Carvalho; Meiriluces Fernan<strong>de</strong>s; Jorge Mautner; Manuel <strong>de</strong> Jesus Lima;<br />
Cléa Sá; Eileen Gue<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Paiva e Mello; e, em especial, a produtora cultural do<br />
T-<strong>Bone</strong>, Francisca Azevedo.<br />
3
Foto: Arthur Monteiro<br />
4<br />
“Vale tudo: <strong>de</strong> plantar<br />
àrvores a visitar doentes; <strong>de</strong><br />
advogar a pintar pare<strong>de</strong>s;<br />
<strong>de</strong> contar histórias a<br />
consertar computadores”.<br />
Roberto Policarpo.<br />
Direitos<br />
Conhecer para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />
Quando doar não dói.<br />
Seja um voluntário<br />
<strong>de</strong>sta campanha<br />
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Tel: +55 (61) 3274-1665 / 3347-4906<br />
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<strong>de</strong> várias maneiras:<br />
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www.sindjusdf.org.br,<br />
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