You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>TEATRO</strong> <strong>OFICINA</strong> <strong>–</strong> <strong>UZYNA</strong> <strong>UZONA</strong><br />
[Grupo Teatral - São Paulo <strong>–</strong> SP <strong>–</strong> Brasil]<br />
“Os Sertões” na Alemanha (2005)<br />
[Disponível em: http://brasil.indymedia.org/images/2003/08/262043.jpg]<br />
Grupo que tem como figura central o diretor José Celso Martinez Corrêa desde a<br />
fundação nos anos de 1960, O Teatro Oficina <strong>–</strong> Uzyna Uzona passou por diversas<br />
formações, trabalhando com espetáculos de elencos bastante numerosos.<br />
Zé Celso <strong>–</strong> como é normalmente chamado <strong>–</strong> uma marcante figura do teatro brasileiro, é<br />
tido pelos críticos e teóricos teatrais como um dos mais importantes encenadores do<br />
nosso país. Viveu as experiências da contracultura nos anos 60 e foi um dos artistas da<br />
gênese do movimento da “Tropicália”. O Teatro Oficina, que posteriormente passa a ser<br />
chamado também de Uzyna Uzona produziu montagens antológicas nos anos 60 como<br />
“Pequenos Burgueses” (1963), “Rei da Vela” (1967) e “Na Selva das Cidades” (1969),<br />
este último uma referência de violência cênica de grande expressividade.
Primeira montagem de “O Rei da Vela” (1963) [Disponível em:<br />
http://mtroi.blog.uol.com.br/images/reivela.jpg]<br />
Sempre influenciado pelos rituais, Zé Celso explora desde elementos carnavalescos até<br />
os processos que tem base em orgias entre o elenco, e é frequentemente contestado em<br />
seu trabalho pelo uso de fortes cenas de sexo e de temas polêmicos. Nos anos de 1960,<br />
tal elemento servia como crítica contra a repressão sexual, e nos dias de hoje o sexo é<br />
ainda presente em seus espetáculos, talvez com objetivos bastante semelhantes. É<br />
comum também o uso de cenas de luta, as temáticas políticas, assim como a exposição<br />
do corpo nu, elemento usado em quase todas as suas montagens mais recentes.<br />
Numa [...] tendência mais vanguardista ou mais corretamente da vanguarda <strong>–</strong><br />
desenvolvida a partir de experimentalismos estéticos, fundamentados na ruptura, no<br />
choque, na iconoclastia, na busca de ‘novas’ e ritualísticas relações com o público e na<br />
reapresentação de assuntos ditos proibidos, malditos ou mesmo pouco afeitos ao teatro <strong>–</strong><br />
encontra-se a inquietante figura de José Celso Martinez Correa, um dos criadores do<br />
Teatro Oficina (fundado em 1958). Responsáveis pelas mais belas, polêmicas e<br />
significativas encenações do teatro brasileiro de todos os tempos <strong>–</strong> na tendência aludida<br />
<strong>–</strong> (e contando com os parceiros permanentes da chamada tríade do Oficina, até 1971,<br />
Fernando Peixoto e Renato Borghi), Zé Celso fincou raízes, confundiu críticos e<br />
público, desestruturou convicções, comportamentos e mentalidades e caracterizou-se em<br />
personagem totêmica e modelar do teatro universal do Ocidente (MATTE: 2003, p. da<br />
internet).<br />
Uma das obras mais controversas no sentido do chamariz sexual foi a montagem de<br />
1994 “As Bacantes”, baseada na tragédia de Eurípedes, obra que sugere uma abordagem
antropofágica a este encenador muito afeito aos rituais, e que faz desta montagem uma<br />
“celebração orgiástica dos conflitos do Brasil contemporâneo” (COMODO;<br />
CORREA: 1993, p. da internet). Na obra original de Eurípedes, Penteu, o rei de Tebas,<br />
tenta reprimir as bacanais e desordens ligadas ao culto de Dionísio, o deus da fartura, do<br />
prazer e também do teatro. A obra é definida por Zé Celso como uma ópera de carnaval<br />
e alia elementos como vinho, nudez, cenas picantes e crítica ao governo (Idem: 1993).<br />
A orgia não está apenas presente como recurso cênico nos trabalhos do Oficina mas<br />
também que elemento dos processos, como comenta Zé Celso:<br />
“Mistérios gozozos, a peça anterior, nasceu de uma orgia-laboratório, realizada na<br />
escola de teatro da USP, escondida, assistida pelos vigias e por alguns alunos da noite.<br />
Eu só topei fazer esta oficina desde que todos se tocassem nos órgãos genitais. Mas não<br />
foi uma bacanal. Eram apenas toques. O espetáculo nascia leve, leve como quando você<br />
termina uma relação sexual com quem está apaixonado. De tempos em tempos a<br />
sociedade tem que fazer uma orgia senão ela não se renova. Não existe só o papai e<br />
mamãe. Existe o respeito de dar para todo mundo e de receber de todo mundo. Faz parte<br />
da vida, do conhecimento da vida (Idem: 1993).<br />
Um motivo de grande polêmica nesta obra do Oficina foi a cena em que as sacerdotisas<br />
de Dionísio despiam uma pessoa do público. Em uma das exibições as atrizes despiram<br />
o cantor e compositor Caetano Veloso, o que aumentou ainda mais a polêmica em torno<br />
da peça. A nudez e o sexo na cena foram elementos de grande importância já que a<br />
fábula de Eurípedes explora as “bacanais”, rituais em que as bacantes despiam e<br />
devoravam homens. Conforme comenta Ivan Cláudio em um artigo para a revista Isto É<br />
<strong>–</strong> Cultura, parte do público paulista evitou a montagem depois do escândalo que<br />
envolvia esta e outras cenas. O diretor Zé Celso Martinez responde aos alardes: "Os<br />
jornais ficaram contabilizando quantas vezes um homem beijava o outro ou passava a<br />
mão na bunda, mas escandalosa mesmo é a cultura que nos é imposta, este eterno<br />
papai-e-mamãe” (CLAUDIO: 1994, p. da internet).<br />
“Mistérios Gozozos”, montagem de 1994 baseada na obra de Oswald de Andrade, foi<br />
musicada por José Miguel Wisnik e apresentada em praças e ruas de São Paulo,<br />
realizando também uma temporada no Teatro Oficina em 1994 e 1995. Contestando a<br />
imagem de Jesus Cristo, a obra adotava linguagem agressiva na encenação de Zé Celso<br />
buscando por meio da celebração uma interseção entre religião, sexo e arte. “Mistérios
Gozosos” contava a história de um vendedor de santos dividido entre a sua família que<br />
mora no morro e uma jovem prostituta do Mangue. Mário Vitor Santos, comenta na<br />
Folha de São Paulo de 19/3/95 sobre a abordagem do sexo na cena nesta montagem:<br />
Sendo a história sobre as prostitutas da extinta região do Mangue, há muitas cenas de<br />
sexo. (...) Não é sexo puro porque é teatro, mas não é apenas teatro, é mais. Corrêa<br />
parece buscar um novo fazer teatral, que ultrapasse os limites da linguagem da arte,<br />
como se procurasse aproximá-la de um seu núcleo energético (<strong>TEATRO</strong> <strong>OFICINA</strong>:<br />
2008, p. da internet).<br />
Imagens de “Mistérios Gozosos” [Disponíveis em: http://www.teatroficina.com.br/plays/6]<br />
Alberto Guzik comenta num artigo publicado em 17/2/94 no Jornal da Tarde, sobre a<br />
montagem de “Mistérios Gozosos”. Segundo ele, “a encenação impressiona pela<br />
vitalidade e energia. Foi um pequeno milagre dionisíaco. A orgia em praça pública,
com livre exibição de nus indignou conservadores” (Idem: 2008). No Jornal O Estado<br />
de São Paulo, em 17/2/94, Enor Paiano comenta sobre a mesma montagem que: “Sexo<br />
explícito, como prometido não teve, em compensação, muito espectador saiu sentindo-<br />
se íntimo das atrizes Cristiane Tricerri e Alleyona Cavalli, que bateram recordes de<br />
nudez em praça pública.” (Idem: 2008).<br />
Um dos projetos mais recentes do Oficina, a montagem em cinco espetáculos das três<br />
partes de “Os Sertões” de Euclides da Cunha, expõe um vasto panorama da formação do<br />
povo brasileiro numa criação que parte das inquietações do grupo pela sobrevivência de<br />
seu edifício teatral, uma antiga luta contra o empresário Silvio Santos, interessado em<br />
construir um shopping center que compreenderia o Teatro Oficina em seu interior como<br />
sala convencional de espetáculos. A busca da terra na obra de Euclides da Cunha é a<br />
metáfora central deste trabalho.<br />
Fonte central de seus Os Sertões é a obra homônima publicada por Euclides da Cunha<br />
em 1902. Sob o pretexto de examinar a Guerra de Canudos (Bahia, 1896-1897), ela<br />
traça um perfil sem precedentes <strong>–</strong> ainda que ideologicamente tingido pelo positivismo e<br />
o darwinismo <strong>–</strong> do povo brasileiro. É considerada a "bíblia da brasilidade". O ciclo de<br />
Zé Celso tem três partes prontas, até agora: A Terra, O Homem 1 e O Homem 2, num<br />
total de cerca de 16 horas (VALENTE: 2004, p. da internet)<br />
As cenas de sexo são um elemento impactante em “Os Sertões” como podemos<br />
perceber no depoimento de Dellano Rios no Diário do Nordeste em 19/11/2007:<br />
O sexo e as heresias, sem dúvida, incomodaram. Boa parte das críticas que se ouviam<br />
pela cidade atacavam esses pontos. Os ânimos alterados não intimidaram a companhia,<br />
que a cada dia trazia novidades provocantes. Depois do oráculo vaginal, de ´O Homem<br />
I´, viu-se o próprio público entrar em cena, tirar a roupa e participar de uma quase-orgia<br />
na peça seguinte. Polêmica à parte, o sexo rendeu algumas das melhores cenas em ´Os<br />
Sertões´, exatamente quando assumia um lugar central <strong>–</strong> na miscigenação das raças<br />
encenada em seu segundo dia de espetáculo (RIOS: 2007, p. da internet).
Imagens de “Os Sertões” na Alemanha (2005) [Disponível em:<br />
http://www2.uol.com.br/teatroficina/novosite/sertoes/berlim/berlim04.htm]
Mais imagens de “Os Sertões” na Alemanha (2005) [Disponível em:<br />
http://www2.uol.com.br/teatroficina/novosite/sertoes/berlim/berlim04.htm]<br />
Cenas de “Os Sertões - A Luta 1” [Disponíveis em: http://www.dwworld.de/popups/popup_lupe/0,,1206708,00.html/]<br />
A carnavalização no trabalho do Oficina se evidencia numa busca constante por atingir<br />
um teatro dionisíaco, um teatro orgiástico, que se defronta com uma sociedade<br />
conservadora que, para o diretor Zé Celso, está em rumo a uma purificação.<br />
Dioniso — Zé Celso ensina —, além do teatro, criou a antropologia, oferecendo uma síntese do<br />
humano, produto da violência e do erotismo. Zé Celso desenvolve ao máximo essa idéia,<br />
associando repressão sexual e opressão política e econômica. A centralidade da nudez se<br />
esclarece: o corpo deve renascer no palco, vivenciando a travessia do sertão e as vicissitudes da
Referências:<br />
luta. A nudez é uma página em branco, na qual se pode inscrever uma nova história (ROCHA:<br />
2005, p. da internet).<br />
CLAUDIO, Ivan. Choque estético. In: Isto É <strong>–</strong> Cultura, 1994. Visitado em 16/01/2009.<br />
Disponível em: http://www.terra.com.br/istoe/cultura/142709.htm.<br />
COELHO, Sérgio Salvia. Grupo Oficina ritualiza a miscigenação do Brasil. Folha de<br />
S.Paulo, São Paulo, Ilustrada, 23 ago. 2003. p. 9.<br />
COMODO, Robeeto. CORREA, Zé Celso Martinez. Orgia no palco. In: Isto É <strong>–</strong><br />
Cultura, 1993. Visitado em 16/01/2008Disponível em:<br />
http://terra.com.br/istoe/vermelha/139601.htm.<br />
LIMA, Mariangela Alves de. Luta lúdica, política e sagrada. O Estado de S. Paulo,<br />
São Paulo, Caderno 2, 23 jun. 2006.<br />
MATTE, Alexandre. Movimentos do teatro paulista. In: Jornal “O Sarrafo”. Março<br />
2003. Número 1. Visistado em 22/10/2007.<br />
http://www.jornalsarrafo.com.br/sarrafo/edicao01/mat05.htm ;<br />
PONCIANO, Helio. Canudos transformada. Revista “Bravo!”, São Paulo, n. 63,<br />
dez. 2002. p. 90.<br />
RANGEL, Vinícius. Personas de Teatro: José Celso Martinez Corrêa & Grupo<br />
Oficina Visitado em 22/10/2007. Disponível em:<br />
http://www.estacio.br/rededeletras/numero5/persona/josecelso.asp.<br />
RIOS, Dellano. Fluxos e refluxos d’Os Sertões. In: Diário do Nordeste. Visitado em<br />
26/08/2008. http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=488537. 2007.<br />
ROCHA, José Cezar de Castro. Sertões pornográficos de Zé Celso em Berlim. In:<br />
Uol Notícias. 2005. Visitado em 22/03/2008. Disponível em:<br />
http://www2.uol.com.br/teatroficina/novosite/sertoes/berlim/berlim02.htm.<br />
UZIEL, Marcos. CORREA, Zé Celso Martinez. Entrevista com Zé Celso Martinez.<br />
In: Teatro Oficina on line. Visitado em 22/03/2008. Disponível em:<br />
http://teatroficina.com.br/agora.php?strArea=agora&idAutor=1&intMes=10&dataIni=2<br />
2&dataFin=28.<br />
VALENTE, Augusto. Teatro Oficina apresenta "Sertões" inédito. ". In: Deutsh<br />
Welle On Line, 20/05/2004. Visitado em 22/11/2007.. Dinsponível em: http://www.dwworld.de/dw/article/0,2144,1213296,00.html<br />
.<br />
SOLIZ, Neusa. Mina alemã serve de palco a Zé Celso e "Os Sertões". In: Deutsh<br />
Welle On Line, 20/05/2004. Visitado em 22/11/2007. Disponível em: http://www.dwworld.de/dw/article/0,,1206708,00.html<br />
.
<strong>TEATRO</strong> <strong>OFICINA</strong>. Website do Teatro Oficina Uzyna Uzona. Visitado em 2008.<br />
Disponível em In: http://www.teatroficina.com.br/menus/45/posts/8.<br />
Vídeos:<br />
“As Bacantes” despem Caetano Veloso:<br />
http://www.youtube.com/watch?v=JrgPSlFzgbQ&feature=related<br />
Imagens de “Os Sertões”<br />
http://www.youtube.com/watch?v=B-7epBGskFc<br />
http://www.youtube.com/watch?v=jqYig2mDVVU<br />
Websites:<br />
http://www.itaucultural.org.br/<br />
http://www2.uol.com.br/teatroficina/velhosite/oficina/oficina.htm