estética & filosofia da arte - Carlos João Correia
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Esta pintura ilustra bem a teoria de Bell uma vez que Cézanne manipulou as<br />
relações entre as p<strong>arte</strong>s <strong>da</strong> composição a favor <strong>da</strong> forma, e teve pouca<br />
preocupação com a correcção literal. Por exemplo, <strong>da</strong> perspectiva de Cézanne, a<br />
casa de campo encontra-se na reali<strong>da</strong>de a um quilómetro e meio de distância na<br />
outra margem do lago, e teria parecido minúscula numa fotografia <strong>da</strong> paisagem. Mas<br />
na pintura impera. Do mesmo modo, as encostas <strong>da</strong> montanha que surgem no<br />
plano de fundo foram estiliza<strong>da</strong>s para criar uma relação mais simétrica <strong>da</strong>s formas<br />
do que seria visível na paisagem. Neste caso, Cézanne está conscientemente a criar<br />
«uma harmonia paralela à natureza». Não está a tentar espelhar a natureza. Está<br />
antes a criar um padrão que iguala a experiência visual do cenário e que expressa<br />
também a reacção emocional que provoca no artista. A ver<strong>da</strong>deira paisagem apenas<br />
fornece o «problema estético» para o qual a pintura é a solução. A ver<strong>da</strong>deira<br />
preocupação, contudo, é com a forma. E também esta deveria ser a preocupação<br />
do observador. Ver esta pintura pode <strong>da</strong>r origem a uma profun<strong>da</strong> emoção <strong>estética</strong><br />
e talvez mesmo transportar-nos para lá do mundo do dia-a-dia <strong>da</strong>s meras<br />
aparências em que normalmente vivemos. Bell produziu a sua teoria trabalhando a<br />
partir <strong>da</strong> sua experiência de pinturas como Lac d'Annecy. Percebeu que neste tipo<br />
de pintura era a forma, a cor e o design que o comoviam, e não o tema, e depois<br />
generalizou, a partir deste caso, para to<strong>da</strong> a <strong>arte</strong>.”<br />
Warburton 2007: 29-31; 2003: 16-18