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As Gravadoras Independentes e o Futuro da Indústria Fonográfica ...

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Andréa Thompson Mello Guimarães<br />

(Matrícula: 0124179-8)<br />

<strong>As</strong> <strong>Gravadoras</strong><br />

<strong>Independentes</strong> e o <strong>Futuro</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>Indústria</strong> <strong>Fonográfica</strong> no Brasil<br />

Dissertação apresenta<strong>da</strong> ao Departamento de<br />

Comunicação Social <strong>da</strong> Pontifícia Universi<strong>da</strong>de<br />

Católica do Rio de Janeiro como parte dos<br />

requisitos para a obtenção do grau de Bacharel em<br />

Comunicação Social com habilitação em Jornalismo<br />

Orientador: Prof. Cesar Romero Jacob<br />

Rio de Janeiro,<br />

1 o de dezembro de 2005


Este trabalho está licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso Não-<br />

Comercial-Não a obras deriva<strong>da</strong>s 2.5 Brazil. Para ver uma cópia desta licença, visite<br />

http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.5/br/ ou envie uma carta para Creative<br />

Commons, 559 Nathan Abbott Way, Stanford, California 94305, USA.<br />

2


A voz<br />

Meu berço ao pé <strong>da</strong> biblioteca se estendia,<br />

Babel onde a ficção e ciência, tudo, o espólio<br />

Da cinza negra ao pó do Lácio se fundia.<br />

Eu tinha ali a mesma altura de um in-fólio.<br />

Duas vozes ouvi. Uma, insidiosa, a mim<br />

Dizia: "A Terra é um bolo apetitoso à goela;<br />

Eu posso (e teu prazer seria então sem fim!)<br />

Dar-te uma gula tão imensa quanto a dela."<br />

A outra: "Vem! Vem viajar nos sonhos que semeias,<br />

Além <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de e do que além é infindo!"<br />

E essa cantava como o vento nas areias,<br />

Fantasma não se sabe ao certo de onde vindo,<br />

Que o ouvido ao mesmo tempo atemoriza e afaga.<br />

Eu te respondi: "Sim, doce voz!" É de então<br />

Que <strong>da</strong>ta o que afinal se diz ser minha chaga,<br />

Minha fatali<strong>da</strong>de. E por trás de telão<br />

Dessa existência imensa, e no mais negro abismo,<br />

Distintamente eu vejo os mundos singulares,<br />

E, vítima do lúcido êxtase em que cismo,<br />

Arrasto répteis a morder-me os calcanhares.<br />

E assim como um profeta é que, desde esse dia,<br />

Amo o deserto e a solidão do mar largo;<br />

Que sorrio no luto e choro na alegria,<br />

E apraz-me como suave o vinho mais amargo;<br />

Que os fatos mais sombrios tomo por risonhos,<br />

E que, de olhos no céu, tropeço e avanço aos poucos.<br />

Mas a voz consola e diz: "Guar<strong>da</strong> teus sonhos:<br />

Os sábios não os têm tão belos quanto os loucos!"<br />

[Charles Baudelaire]<br />

3


Muito obriga<strong>da</strong>: meus pais, Mario e O<strong>da</strong>léa; meu irmão Marcelo; Gê; Alan Dove (UK); Antonio<br />

Adolfo; Arthur Dapieve; Cássia Chaffin; Cesar Romero Jacob; Edna Calheiros (ABPD); Eduardo<br />

Andrade (Unicamp); Gustavo Vasconcellos (FMI); Jerome Vonk, Ana, David e Leandro (ABMI);<br />

João Augusto, Kelita Myra e Roberta Guimarães (Deckdisc); Karina Kuschnir; Larissa Vieira; Liô<br />

Mariz (Som <strong>da</strong> Rua); Malu Cooper; Olívia Hime, Joana Hime e Ester Lima (Biscoito Fino); Ricardo<br />

Cravo Albin; Romana D´Angelis; Ronaldo Lemos; Steve Altit; Madeleine Peyroux; Jamie Cullum;<br />

Missy Higgins; Vinícius de Moraes e Alanis Morissette.<br />

4


Sumário<br />

Introdução ....................................................................................................... 07<br />

1 Breve História <strong>da</strong> <strong>Indústria</strong> <strong>Fonográfica</strong> no Brasil ……………………….. 15<br />

Do fonógrafo ao LP ........................................................................................ 15<br />

A consoli<strong>da</strong>ção do mercado e a crise dos anos 1980 ………………………… 18<br />

O CD, a recuperação e a que<strong>da</strong> do império fonográfico ……………………... 20<br />

2 Eu quero é ser indie ................................................................................... 24<br />

A barafun<strong>da</strong> em torno <strong>da</strong> nomenclatura ......................................................... 24<br />

O início de selos, gravadoras e artistas autônomos ...................................... 26<br />

A simpatia pela novi<strong>da</strong>de antiga .................................................................... 28<br />

<strong>As</strong> razões do sucesso repentino .................................................................... 30<br />

3 Jetsons é aqui: A imprevisibili<strong>da</strong>de do futuro ........................................ 38<br />

Conclusão: ...................................................................................................... 42<br />

Quando a vivência supera a vidência ........................................................... 42<br />

Bibliografia: .................................................................................................... 44<br />

5


“Quando o universo está desenfreado,<br />

o microcosmo organizado reflete<br />

a ordem de um macrocosmo<br />

que está por vir”<br />

[Pierre Lévy]<br />

6


Introdução<br />

O alarmismo em torno <strong>da</strong> indústria fonográfica brasileira é uníssono. A oferta de<br />

produtos piratas já responde por mais <strong>da</strong> metade do mercado, que observou, entre janeiro<br />

e dezembro de 2004, a apreensão de cerca de 17,5 milhões de uni<strong>da</strong>des de CDs pelo<br />

governo federal. Como conseqüência <strong>da</strong> crise, aproxima<strong>da</strong>mente dois mil e quinhentos<br />

pontos de ven<strong>da</strong> de discos foram fechados. A estimativa de prejuízo de arreca<strong>da</strong>ção de<br />

impostos é de R$500 milhões ao ano. O lançamento de produtos nacionais sofreu<br />

decréscimo de 44%. Cerca de 60 mil empregos foram perdidos no setor. E apesar <strong>da</strong> leve<br />

recuperação de 17% em ven<strong>da</strong>s totais com relação ao ano de 2003 (R$706 milhões<br />

contra R$601 milhões), os números registrados em 2004 não conseguiram acalmar os<br />

ânimos. A marca de 59 milhões de discos vendidos e R$526 milhões faturados ano<br />

passado permaneceu bem atrás dos 93 milhões e R$878 milhões respectivamente<br />

obtidos pela indústria em 2000, época em que o glamour <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1990 começa a<br />

demonstrar o frear de suas engrenagens, a pirataria, a explodir e o modelo baseado em<br />

cifras milionárias e riscos estratosféricos, a se esgotar 1 .<br />

<strong>As</strong> estatísticas acima são levanta<strong>da</strong>s pela <strong>As</strong>sociação Brasileira dos Produtores de<br />

Disco (ABPD) em seu anuário e refletem a crise arrebatadora que se configurou no<br />

mercado fonográfico nos últimos cinco anos. No entanto, forma<strong>da</strong> majoritariamente pelo<br />

conglomerado de gravadoras multinacionais que domina essa indústria - as majors EMI;<br />

Universal; Sony/BMG 2 e Warner -, a enti<strong>da</strong>de não computa a expressivi<strong>da</strong>de que vêm<br />

1<br />

To<strong>da</strong>s as estatísticas foram extraí<strong>da</strong>s do anuário publicado pela ABPD em 2005, também disponível para<br />

download em http://www.abpd.org.br.<br />

2<br />

Resultado <strong>da</strong> fusão entre as gravadoras Sony e BMG em março desse ano em regime de joint venture,<br />

como mostra a matéria veicula<strong>da</strong> por Thiago Ney na Folha de São Paulo, em 25 mar. 2005, disponível em:<br />

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustra<strong>da</strong>/ult90u50022.shtml.<br />

7


alcançando cerca de 400 gravadoras nacionais - as chama<strong>da</strong>s independentes ou minors 3 ;<br />

nomenclaturas mais adiante in<strong>da</strong>ga<strong>da</strong>s por esse estudo.<br />

Como, frente a esse cenário aparentemente desestimulante, empresas como<br />

Biscoito Fino, Deckdisc, Kuarup Discos e tantas outras vêm conseguindo não apenas se<br />

manter, mas alcançar expressivi<strong>da</strong>de? Qual a estratégia adota<strong>da</strong> para que, hoje, elas<br />

abocanhem cerca de 25% do mercado fonográfico brasileiro e ven<strong>da</strong>m, em média, 14<br />

milhões de discos por ano - estatísticas ain<strong>da</strong> em crescimento, como divulga a<br />

<strong>As</strong>sociação Brasileira de Música Independente (ABMI) 4 ?<br />

Será que por terem menor porte essas gravadoras estão conseguindo manobrar<br />

mais eficientemente mu<strong>da</strong>nças em sua estrutura para li<strong>da</strong>r com a evolução do mercado?<br />

Teriam elas alguma fórmula mágica para li<strong>da</strong>r com a pirataria, o comércio informal, o<br />

advento <strong>da</strong> tecnologia digital e as mu<strong>da</strong>nças nos hábitos de consumo? Ou será que é<br />

justamente diante dessas mu<strong>da</strong>nças que elas se fortalecem, indo por algum caminho<br />

distinto do <strong>da</strong>s multinacionais, por terem uma escala menor de investimento e, portanto,<br />

menor risco de per<strong>da</strong> de capital? Há algum nicho específico no mercado que as<br />

chama<strong>da</strong>s indies busquem contemplar? Estaria aí o seu sucesso? Uma estratégia menor,<br />

para ingressar melhor no mercado? Por outro lado, até que ponto pode ser interessante<br />

para as multinacionais a concorrência de grupos menores, que possam englobar em seu<br />

casting artistas dispensados pelas majors por falta de espaço ou capital? Cabe às<br />

gravadoras independentes atuar como propulsoras de novos nomes no mercado para<br />

que, então, as grandes corporações atentem para o artista e lhe façam proposta mais<br />

vantajosa, sugando-o para o seu elenco?<br />

3 O termo minors surgiu na entrevista realiza<strong>da</strong> pela autora com o jornalista Arthur Dapieve, em 17 nov. 2005.<br />

Ao se procurar nomenclatura distinta de “independentes” e “alternativas” para designar as gravadoras em<br />

questão, a palavra minors foi proposta pelo entrevistado e passou, então, a ser adota<strong>da</strong> pela autora.<br />

4 A enti<strong>da</strong>de surgiu em 2002 especialmente para representar a classe independente, a exemplo <strong>da</strong> ABPD, que<br />

desde 1958 é o órgão representante <strong>da</strong>s gravadoras multinacionais. Mais informações em<br />

http://www.abmi.com.br e http://www.abpd.org.br.<br />

8


Essas são algumas <strong>da</strong>s perguntas que serviram de estopim para esse estudo.<br />

Pretendia-se, no início, contar um pouco <strong>da</strong> história <strong>da</strong> indústria do disco no Brasil e as<br />

particulari<strong>da</strong>des referentes a essas “pequenas notáveis”. No entanto, o olhar sistêmico<br />

sobre esse cenário revelou que as gravadoras independentes não são uma manifestação<br />

otimista isola<strong>da</strong> em si na atual conjuntura. A reali<strong>da</strong>de digital e suas múltiplas<br />

possibili<strong>da</strong>des também podem descortinar um futuro menos caótico e deveriam, portanto,<br />

ser abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s. A troca, compra e ven<strong>da</strong> de arquivos musicais pela Internet, o<br />

desencadear <strong>da</strong> música via telefone celular, as técnicas de se mensurar o que pode vir ou<br />

não a ser um hit musical e o músico como empreendedor autônomo do seu negócio não<br />

poderiam estar alijados desse estudo, o que acabou resultando em uma pretensa, porém<br />

singela, previsão do futuro, com base no redesenho <strong>da</strong> indústria fonográfica brasileira<br />

atual, a exemplo do que vem ocorrendo no mercado global.<br />

i. Justificativa<br />

“O futuro <strong>da</strong> música é, inevitavelmente, independente”. A afirmação é do produtor<br />

André Mi<strong>da</strong>ni, que vê na arrogância dos executivos e na falta de agili<strong>da</strong>de os principais<br />

fatores <strong>da</strong> crise na indústria fonográfica na última déca<strong>da</strong>. O produtor acredita que o<br />

momento é adequado para artistas e selos 5 independentes e que o consumidor, artistas e<br />

empresas têm pela frente uma transformação radical:<br />

A mu<strong>da</strong>nça levará, por exemplo, a uma alteração na relação do artista<br />

com a gravadora. ‘A tendência futura na constituição de uma nova<br />

indústria musical é que as companhias não sejam tão grandes como são<br />

agora’, prevê. ‘Vai haver companhias menores, independentes, que vão<br />

cui<strong>da</strong>r de to<strong>da</strong>s as facetas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> do artista: do disco, <strong>da</strong> edição, do<br />

merchandising, dos concertos etc´. 6<br />

5 Segundo o Guia do Músico (http://www.guiadomusico.com.br/info.html), “a expressão ‘selo musical’ deriva<br />

do inglês record label, que define as divisões internas <strong>da</strong>s grandes gravadoras. Os selos, portanto, atuam<br />

em parceria com essas gravadoras, que, muitas vezes, agem como distribuidoras desse produto. Vale<br />

ressaltar que, diante <strong>da</strong>s incertezas <strong>da</strong> atuali<strong>da</strong>de, muitos artistas optaram por abrir seus próprios selos.<br />

6 VALE, Israel do. O mercado <strong>da</strong> música brasileira no contexto internacional. In: BOULAY, 2005: p.73.<br />

9


O que diz Mi<strong>da</strong>ni confirma os números introduzidos nesse projeto, que apontam<br />

para o crescimento <strong>da</strong>s gravadoras independentes no Brasil. A incorporação de artistas<br />

consagrados no elenco <strong>da</strong>s independentes, como Maria Bethânia, Chico Buarque, Gal<br />

Costa, além de artistas que possuem, hoje, seus próprios selos e são donos de seus<br />

fonogramas, como Djavan, são retratos <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças que a indústria fonográfica vem<br />

sofrendo e <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de que os artistas vêm conquistando em trabalhos autônomos. Além<br />

do conforto, como ressalta Gal Costa 7 em entrevista ao Jornal do Brasil:<br />

Com a crise no mercado de discos, as grandes gravadoras ficaram mais<br />

interessa<strong>da</strong>s no lucro imediato. Isso já vinha acontecendo na déca<strong>da</strong> de<br />

80 e agora se agravou. <strong>As</strong> pequenas, ao contrário, sempre dão um<br />

tratamento diferenciado aos seus artistas, o que é muito bom.<br />

O que acontece no Brasil é um retrato do novo perfil <strong>da</strong> indústria fonográfica<br />

mundial. O modelo “Colonel Parker”, referente à postura grandiloqüente <strong>da</strong> indústria<br />

bilionária do disco, que tem em seu expoente empresários au<strong>da</strong>ciosos como Colonel<br />

Parker, de Elvis Presley, não tem mais como se sustentar 8 . De acordo com Kusek e<br />

Leonhard, autores de “The Future of Music”, o mercado <strong>da</strong> música atravessa uma<br />

profun<strong>da</strong> transformação e o modelo até então em vigor, de altíssimo investimento e riscos<br />

estratosféricos, se defronta com a tecnologia, capaz de colocá-lo “fora de mo<strong>da</strong>”. Nesse<br />

ínterim, marcas de artistas vão dirigir o mercado, os riscos econômicos serão mais<br />

toleráveis e o retorno financeiro mais previsível 9 .<br />

No Brasil não parece ser diferente. E até o governo tem atentado para as<br />

mu<strong>da</strong>nças, apoiando a exportação <strong>da</strong> música brasileira, em especial <strong>da</strong>s gravadoras<br />

independentes, em eventos internacionais como o Midem, a principal feira de música do<br />

mundo, que há 30 anos vem sendo realiza<strong>da</strong> em Cannes, na França. Além disso, o<br />

7 ARAGÃO, CALDEIRA, 26 dez. 2003.<br />

8 KUSEK, LEONHARD, 2005: p.7.<br />

9 KUSEK, 2005: “New Century Music Business Model”.<br />

10


Programa de Apoio à Exportação de Bens Culturais, segundo a Radiobrás 10 , prevê, a<br />

partir de 2005, a atuação do governo e <strong>da</strong> iniciativa priva<strong>da</strong> em parceria com gravadoras<br />

independentes na promoção <strong>da</strong> música brasileira no exterior, conforme ressaltou o<br />

secretário especial do ministério <strong>da</strong> Cultura, Sérgio Sá: “Hoje, a música independente<br />

brasileira já engloba não só os iniciantes, mas uma boa parte dos grandes artistas, como<br />

Maria Bethânia, Djavan e Ivan Lins”. O investimento destinado ao projeto, que inclui<br />

também a TV e o cinema, é de R$ 30 milhões, de acordo com a Radiobrás.<br />

Endossa a alavanca<strong>da</strong> independente, também, o ministro <strong>da</strong> cultura, Gilberto Gil,<br />

que, in<strong>da</strong>gado 11 se a migração de artistas consagrados para gravadoras independentes é<br />

o caminho natural hoje, respondeu:<br />

É muito positivo que artistas com potencial econômico reforcem o setor<br />

independente, abrindo espaço para a consoli<strong>da</strong>ção e a<br />

profissionalização de selos pequenos. Isso permite, inclusive, que esses<br />

selos possam ampliar seus quadros, absorvendo artistas que se<br />

encontram à margem do mercado.<br />

ii. Metodologia, objetivos e boa leitura.<br />

O anseio de estu<strong>da</strong>r os avanços nessa indústria, bem como os rumos que ela vem<br />

tomando, surgiu com a metodologia utiliza<strong>da</strong>, ancora<strong>da</strong> em uma extensa bibliografia,<br />

textos coletados na internet, jornais e revistas – “termômetros” <strong>da</strong> atuali<strong>da</strong>de e<br />

indicadores, dia-a-dia, tanto <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças que o meio vem sofrendo quanto <strong>da</strong> revolução<br />

acarreta<strong>da</strong> por elas em nosso pensamento. Foi o conhecimento adquirido o que serviu de<br />

embasamento teórico para as entrevistas que foram realiza<strong>da</strong>s ao longo de quatro meses.<br />

Entre o leque bibliográfico consultado figuram não apenas publicações referentes<br />

às enti<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s gravadoras, como as estatísticas alumia<strong>da</strong>s pelos já citados anuário <strong>da</strong><br />

10 BASTOS, 2005: p. 1.<br />

11 VALE, Israel do. O mercado <strong>da</strong> música e a política cultural tropicalista. In: BOULAY, 2005: p. 17.<br />

11


ABPD e o “Guia do Mercado Brasileiro <strong>da</strong> Música 2005”, com <strong>da</strong>dos, textos e entrevistas<br />

com André Mi<strong>da</strong>ni e Gilberto Gil publicado pela ABMI; como o livro “Os donos <strong>da</strong> voz:<br />

indústria fonográfica brasileira e mundialização <strong>da</strong> cultura”, <strong>da</strong> socióloga e pesquisadora<br />

Márcia Tosta Dias, que faz um apanhado do contexto em que essa indústria solidificou<br />

suas raízes, ao que também se propõem as teses e monografias consulta<strong>da</strong>s indicativas<br />

<strong>da</strong> indústria fonográfica no Brasil e dos avanços <strong>da</strong> pirataria e dos formatos digitais de<br />

música.<br />

Somam-se à compreensão do passado e à articulação do presente, a previsão<br />

profética do futuro, incumbência dos músico-futuristas norte-americanos David Kusek e<br />

Gerd Leonhard, autores de “The Future of Music”. Publicado pela Berklee College of<br />

Music, uma <strong>da</strong>s mais prestigia<strong>da</strong>s escolas de música do mundo, o livro é capaz de<br />

chacoalhar as atuais fun<strong>da</strong>ções <strong>da</strong> indústria fonográfica ao decretar o fim <strong>da</strong> indústria tal<br />

qual está hoje arregimenta<strong>da</strong>; a iminente decadência <strong>da</strong>s grandes gravadoras e ascensão<br />

de músicos autoprodutores ca<strong>da</strong> vez mais donos do seu negócio; e o modelo music like<br />

water (música como água), mais à frente delineado por essa pesquisa. Completa a lista<br />

“Cibercultura”, de Pierre Levý, acerca, dentre outros assuntos, <strong>da</strong> introdução <strong>da</strong><br />

tecnologia como fomentadora e divulgadora de cultura do mundo.<br />

Para aperfeiçoar esse estudo, foram utiliza<strong>da</strong>s entrevistas com alguns dos<br />

principais nomes do cenário musical brasileiro, englobando tanto os que contribuíram<br />

historicamente para o desenvolvimento <strong>da</strong> indústria fonográfica brasileira, quanto aqueles<br />

que ain<strong>da</strong> se fazem presentes e atuantes, antenados com as mu<strong>da</strong>nças que o meio tem<br />

sofrido frente ao avanço <strong>da</strong> mídia digital e <strong>da</strong> pirataria e a aparente que<strong>da</strong> na<br />

expressivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s multinacionais até então líderes de ven<strong>da</strong>s no mercado musical<br />

brasileiro.<br />

No primeiro grupo figuram nomes como o do jornalista e crítico musical Arthur<br />

Dapieve (O Globo), atuante há mais de dez anos na área e autor do livro “BRock: o rock<br />

12


asileiro dos anos 80”; do maestro Antonio Adolfo, cujo disco “Feito em Casa”, de 1977<br />

(relançado em 2002 pela Kuarup Discos), é apontado por estudiosos <strong>da</strong> MPB como o<br />

primeiro lançamento independente na história <strong>da</strong> moderna indústria fonográfica<br />

nacional 12 ; do professor <strong>da</strong> Unicamp Eduardo Andrade; além do ex-diretor artístico <strong>da</strong> EMI<br />

João Augusto, diretor e idealizador <strong>da</strong> independente Deckdisc, responsável, em apenas<br />

três anos, pela expressiva fatia de mais de 3,5% do mercado fonográfico 13 e do diretor<br />

executivo <strong>da</strong> ABMI, Jerome Vonk, também professor <strong>da</strong> disciplina Music Business na<br />

Escola Superior de Propagan<strong>da</strong> e Marketing. Completa a lista Joana Hime, produtora<br />

executiva <strong>da</strong> gravadora Biscoito Fino, que com apenas cinco anos de história já tem mais<br />

de 150 títulos saídos de seu forno e é hoje casa de gente como Maria Bethânia, Francis<br />

Hime e, mais recentemente, Chico Buarque.<br />

O segundo grupo abriga personali<strong>da</strong>des que têm inovado nesse cenário, como os<br />

agitadores e produtores culturais Gustavo Vasconcellos, responsável pela Feira <strong>da</strong><br />

Música Independente de Brasília 14 , e Bruno Levinson, diretor do selo Cardume, distribuído<br />

pela EMI, e coordenador do festival Humaitá Pra Peixe, que há dez anos catapulta novos<br />

nomes ao cenário musical e ganhou sua primeira edição on-line esse ano através do<br />

concurso de novos talentos “Oi Tem Peixe na Rede” 15 . Não poderia ficar de fora a nova<br />

geração de músicos, muitos deles militantes por anos no cenário alternativo carioca, como<br />

Liô Mariz, líder <strong>da</strong> ban<strong>da</strong> carioca Som <strong>da</strong> Rua, recém-lança<strong>da</strong> pela Deckdisc.<br />

O que será que eles pensam a respeito do espaço que as indies vêm<br />

conquistando? Seria esse um caminho para a crise na indústria fonográfica nacional?<br />

Portanto, foi diante <strong>da</strong> dúvi<strong>da</strong> que a idéia para essa pesquisa nasceu. Sua<br />

importância está justamente em evidenciar como se aplica o crescimento <strong>da</strong>s gravadoras<br />

12 CliqueMusic (http://cliquemusic.uol.com.br/br/Cybernotas/Cybernotas.asp?Nu_materia=3721)<br />

13 AUGUSTO, João. Em entrevista concedi<strong>da</strong> à autora em 20 nov. 2005.<br />

14 A FMI é considera<strong>da</strong> a primeira feira internacional de música independente do Brasil. Mais informações:<br />

http://www.fmi2006.com.br.<br />

15 http://www.oitempeixenarede.com.br.<br />

13


independentes e, assim, contribuir para os estudos <strong>da</strong> indústria fonográfica brasileira. O<br />

tema demonstra sua relevância e capaci<strong>da</strong>de de abrir novos horizontes nos estudos<br />

dessa trama, bem como alinhavar o pensamento brasileiro ao internacional, aplicando,<br />

aqui, exemplos trazidos do exterior. Ao longo <strong>da</strong>s próximas páginas, o leitor encontrará<br />

uma complexi<strong>da</strong>de de assuntos que, se isolados entre si, poderiam ca<strong>da</strong> qual ser objeto<br />

de teses diferencia<strong>da</strong>s.<br />

Ao primeiro capítulo caberá introduzi-lo nessa imensi<strong>da</strong>de que é o mercado<br />

fonográfico brasileiro, com <strong>da</strong>dos históricos e uma breve (íssima) cronologia, que vai<br />

desde o surgimento do fonógrafo até a astronômica crise e esgotamento de um modelo<br />

jurássico que capenga até hoje. O capítulo dois começa na polêmica que rodeia o termo<br />

independente, bem como o seu início, e abor<strong>da</strong> a migração de artistas consagrados para<br />

o rol <strong>da</strong> autonomia. Quais as razões que os levam a integrar o time <strong>da</strong>s gravadoras<br />

nacionais e o que elas trazem de novo para atingir estatísticas em crescimento diante de<br />

um mercado aparentemente saturado? O terceiro capítulo, mais ousado, introduzirá o que<br />

pensam os entrevistados acerca de um futuro incerto, ancorado em novas tecnologias, na<br />

mu<strong>da</strong>nça nos hábitos do consumidor e nas diversas possibili<strong>da</strong>des de se consumir música<br />

e cultura nessa nova era.<br />

Dessa forma, com a troca de idéias, estudos e modelos, através <strong>da</strong> aproximação<br />

<strong>da</strong>s entrevistas cita<strong>da</strong>s, textos e outros estudos acadêmicos a serem consultados, está<br />

cria<strong>da</strong> uma rede de informação musical. Com a proposta de amainar as dores provoca<strong>da</strong>s<br />

por uma era de mu<strong>da</strong>nças, crise e tecnologia e, quem sabe, trazer uma luz no fim do<br />

estúdio para a crise fonográfica. Ain<strong>da</strong> que uma faísca pequena de otimismo frente à<br />

luminosi<strong>da</strong>de desse universo.<br />

Boa leitura!<br />

14


1 Breve História <strong>da</strong> <strong>Indústria</strong> <strong>Fonográfica</strong> no Brasil<br />

[ Do fonógrafo ao LP ]<br />

Olhos e ouvidos ficavam atentos ao som que saía do aparelhinho, uma<br />

caixa de madeira que, na parte superior, sustentava uma corneta. O som<br />

era um tanto fanhoso. A agulha deslizava vagarosamente por entre os<br />

sulcos desenhados no acetato. Ao redor do aparelhinho, homens e<br />

mulheres apreciavam uma canção <strong>da</strong> época: Casinha Pequenina,<br />

canta<strong>da</strong> por Mário Pinheiro para a Casa Edison, Rio de Janeiro, para a<br />

qual o artista trabalhava por um salário de 40 mil réis 16 .<br />

A cena romântica retrata<strong>da</strong> remonta aos primórdios <strong>da</strong> indústria do disco, quando<br />

fazia parte do cotidiano <strong>da</strong>s famílias se reunir ao redor do gramofone para ouvir canções.<br />

O tal aparelhinho, na mo<strong>da</strong> no início do século XX e hoje praticamente relíquia de museu,<br />

foi inventado pelo alemão Emile Berliner (1851-1929) em 1888 e é tido até hoje como o<br />

marco zero <strong>da</strong> industrialização <strong>da</strong> música 17 .<br />

No entanto, foi o fonógrafo arquitetado pelo cientista Thomas Edison (1847-1931)<br />

em seu laboratório em Nova Jersey, no fim de 1877, o primeiro sistema capaz de gravar e<br />

reproduzir o som. O phonograph ou fonógrafo “consistia em um cone em cujo vértice era<br />

coloca<strong>da</strong> uma membrana ou diafragma com uma agulha no centro e um cilindro metálico<br />

revestido de estanho ligado a uma manivela que, aciona<strong>da</strong> manualmente, fazia o cilindro<br />

girar” 18 . Era assim que se gravava ou reproduzia o som: a partir <strong>da</strong>s microperfurações<br />

feitas nesse cilindro de cera. A eficácia <strong>da</strong> invenção de Edison foi comprova<strong>da</strong> por<br />

ninguém menos que o próprio, que, segundo consta, cantou alguns versos <strong>da</strong> canção<br />

infantil americana “Mary had a little lamb” em um cilindro envolvido por papel estanho 19 .<br />

16<br />

FRANCESCHI, Humberto M. A Casa Edison e seu tempo. Rio de Janeiro: Sarapuí, 2002. In: FAVA, 2003: p.1.<br />

17<br />

FAVA, 2003: p.1.<br />

18<br />

FAVA, 2003: p.1. A explicação é <strong>da</strong><strong>da</strong> pelo professor <strong>da</strong> Unicamp Eduardo Anderson Andrade.<br />

19<br />

CABRAL, Sérgio. A mpb na era do rádio. São Paulo: Moderna, 1996, p.6. In: ASSEMANY, 2001.<br />

15


<strong>As</strong> primeiras uni<strong>da</strong>des do fonógrafo começaram a aparecer no Rio de Janeiro no<br />

ano seguinte, importados por James Mitchel, e no início de 1898 já atingiam quanti<strong>da</strong>de<br />

razoável para a comercialização. No entanto, antes que isso acontecesse, a exemplo do<br />

que passaria a ser usual nesse mercado, a tecnologia se encarregou de tornar obsoleta a<br />

invenção de Edison. É a partir de 1888, com o surgimento do gramofone¸ que a história <strong>da</strong><br />

fonografia passa a ser computa<strong>da</strong>, o que pode ser comprovado pelo seu galope rumo à<br />

industrialização e ao consumo de massa, como relata a pesquisadora Márcia Tosta Dias:<br />

<strong>As</strong> dificul<strong>da</strong>de de reprodução em série dos cilindros limitaram a<br />

expansão do fonógrafo. <strong>As</strong>sim, ganhou destaque o disco de Berliner (78<br />

rotações), que permitia a reprodução de grandes quanti<strong>da</strong>des, a partir de<br />

matrizes grava<strong>da</strong>s, reproduzi<strong>da</strong>s pelo gramofone, possibilitando que em<br />

1900 a Berliner Gramophone Company oferecesse um catálogo de cinco<br />

mil títulos e em 1903 declarasse lucros de US$ 1 milhão 20 .<br />

É nesse contexto que tem início de fato a indústria fonográfica no Brasil, país<br />

reconhecido como o primeiro a gravar um disco fora do circuito Estados Unidos-Europa 21<br />

e primeiro do mundo responsável pela produção de um disco com gravações de ambos<br />

os lados 22 . A canção “Isto é bom”, de Xisto Bahia, grava<strong>da</strong> na voz de Bahiano e lança<strong>da</strong><br />

em 1902 pela Casa Edison, é ti<strong>da</strong> como a primeira gravação no país e, portanto, como o<br />

despontar <strong>da</strong> história do registro <strong>da</strong> música brasileira. Posteriormente, em 1917, caberia<br />

novamente a Bahiano outro marco: a primeira gravação de um samba no país, a canção<br />

“Pelo Telefone”, de Donga, também para a Casa Edison do Rio de Janeiro 23 .<br />

Dez anos depois, o princípio acústico de gravação é novamente vítima <strong>da</strong><br />

defasagem, dessa vez proporciona<strong>da</strong> pelo advento do sistema elétrico, instalado no Rio<br />

de Janeiro pela mesma Casa Edison. De acordo com o pesquisador Sérgio Cabral, essa<br />

foi uma solução salvacionista para a crise que já se enfrentava nos Estados Unidos com o<br />

20 DIAS, 2000: ps. 34 e 35.<br />

21 BOULAY, 2005: p.70.<br />

22 FAVA, 2003: p.1<br />

23 D´ANGELIS, 2004: p. 36.<br />

16


surgimento do rádio, que permitia que o consumidor ouvisse sua música preferi<strong>da</strong> sem<br />

necessariamente ter de pagar por ela 24 . Entretanto, o que se verificou com o sistema<br />

elétrico foi o surgimento de uma base tecnológica que serviria para todos os grandes<br />

desenvolvimentos posteriores 25 e que conviveria harmonicamente com a popularização<br />

que o rádio adquiriria, em especial na déca<strong>da</strong> áurea de 1930. Portanto, o gosto popular<br />

pelos programas de auditório e pelo advento de um novo meio de comunicação não<br />

impediria o enorme crescimento do mercado fonográfico, que assistia ao aperfeiçoamento<br />

de seus processos de gravação 26 e ao surgimento de grandes gravadoras multinacionais,<br />

originárias de fusões entre grupos de entretenimento, e que passariam a vigorar nesse<br />

mercado: EMI, RCA-Victor, CBS, Polydor e Phonogram 27 .<br />

Um novo horizonte começava a ser delineado. A indústria fonográfica <strong>da</strong>va início<br />

aos moldes capitalistas em vigor até hoje, transição propicia<strong>da</strong> principalmente pelo<br />

advento dos discos de 33 rotações. Em formato menor que as bolachas anteriores, de 78<br />

rpm, e com quali<strong>da</strong>de sonora bastante superior, os long-plays (LP) foram introduzidos no<br />

país em 1948, simultaneamente ao seu surgimento nos Estados Unidos. Um certo clima<br />

de otimismo tomava conta do mercado, que<br />

24 ASSEMANY, 2001: p.13.<br />

25 DIAS, 2000: p.35.<br />

26 ASSEMANY, 2001: p.14.<br />

27 DIAS, 2000: p.41.<br />

28 FURUNO, mai. 2005: p.58.<br />

intensificou o ritmo de trabalho, motivado pela aceitação que o disco<br />

teve nos anos 40. Era necessário agora consoli<strong>da</strong>r o produto (o LP),<br />

bem como o consumo. Por aqui, o disco de 78 rotações ain<strong>da</strong> era o<br />

formato principal. ‘Até 1956, 1957, a ven<strong>da</strong> de discos de 78 rotações<br />

chegou a representar 48% do mercado’ 28 .<br />

17


[ A consoli<strong>da</strong>ção do mercado e a crise dos anos 1980 ]<br />

É, portanto, na déca<strong>da</strong> de 1950 que a padronização <strong>da</strong> produção na indústria<br />

fonográfica mundial finca território, impulsiona<strong>da</strong> pela intensificação de novas tecnologias<br />

como a televisão e o LP e pela força que o movimento capitalista foi tomando<br />

globalmente 29 . Data desta época a adoção <strong>da</strong> visão empresarial nas gravadoras, que<br />

passam a ser regi<strong>da</strong>s pela lógica capitalista do consumo e a se estruturar de acordo com<br />

os novos padrões, até hoje em vigor:<br />

Para que o consumo fosse efetivamente incrementado no país, as<br />

gravadoras ampliaram suas estruturas, criando em definitivo os<br />

departamentos de divulgação e de promoção, com um gerente<br />

responsável por todo o território. ‘A partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 50, ca<strong>da</strong><br />

gravadora passa a ter promotores em to<strong>da</strong>s as capitais e divulgadores<br />

itinerantes que visitavam as principais ci<strong>da</strong>des’ (...) Ao lado do fator<br />

emoção, elas também embutiram uma visão empresarial à ativi<strong>da</strong>de que<br />

desenvolviam. ‘O aprimoramento técnico em gravação, industrialização e<br />

distribuição do disco exigiu que os executivos convocassem seus staffs<br />

para reuniões, determinando metas de ven<strong>da</strong>s, apuro na área artística,<br />

controle eficaz de estoque, dentre outros itens’ 30 .<br />

É essa postura grandiloqüente que passa a arregimentar as gravadoras<br />

multinacionais que aqui se instalavam, a exemplo de uma internacionalização do mercado<br />

propicia<strong>da</strong> pela rentabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> música no mundo, e a favorecer o desencadeamento<br />

sem igual dos movimentos que sacudiram o período entre 1960 e 1970. Após a explosão<br />

do gênero rock´n´roll desencadea<strong>da</strong> por Elvis Presley nos anos 1950 31 , nas duas déca<strong>da</strong>s<br />

posteriores era a vez de manifestações genuinamente nacionais despontarem no cenário<br />

musical: Bossa Nova, Jovem Guar<strong>da</strong> e Tropicalismo, como relata a historiadora e<br />

socióloga Daniela Ghezzi:<br />

29 DIAS, 2000: p.42<br />

30 FURUNO, mai. 2005: p.58.<br />

31 Op. Cit.<br />

18


Movimentos musicais como a Bossa Nova e o Tropicalismo chegaram à<br />

mídia fonográfica por meio dos grandes festivais. O público via o artista<br />

e esperava ansiosamente para comprar o disco. <strong>As</strong> gravadoras se<br />

apropriaram desta exposição e elaboraram esquemas de distribuição<br />

nacional. Era um momento em que se consumia muita música e o Brasil<br />

chegou ao quinto lugar no mercado mundial 32 .<br />

O apelo comercial gerado proporcionou a explosão na ven<strong>da</strong> de discos, que entre<br />

1967 e 1980 cresceu 385%, acompanhados pelos extraordinários 813% de alta na ven<strong>da</strong><br />

de seus toca-discos, como ressalta o veterano executivo dessa indústria Alfredo Corletto:<br />

Os anos 70 foram de dezenas de milhares de cópias vendi<strong>da</strong>s. Dezenas<br />

de artistas receberam prêmios pelos seus trabalhos, assim como tantos<br />

outros foram premiados com os Discos de Ouro e de Platina pelas<br />

ven<strong>da</strong>gens de suas gravações. To<strong>da</strong>s essas metas atingi<strong>da</strong>s pela<br />

indústria fonográfica tornaram o Brasil um dos principais mercados 33 .<br />

Consoli<strong>da</strong>va-se, portanto, o mercado fonográfico brasileiro, a exemplo do mundial.<br />

O LP cravava seu reinado, não se deixando abalar pela introdução de um novo formato, a<br />

fita cassete (K7), que, apesar <strong>da</strong> rápi<strong>da</strong> popularização, logo revelou ser um convite à<br />

escala<strong>da</strong> <strong>da</strong> pirataria, já responsável por cerca de 10% do mercado 34 - hoje um número<br />

inexpressivo frente à proporção que esse comércio tomou.<br />

No entanto, o sucesso verificado em 1970 enfrenta uma retração na déca<strong>da</strong><br />

seguinte, ocasiona<strong>da</strong> pela incerteza <strong>da</strong> economia no país, conturbado pela sucessão de<br />

planos econômicos (Cruzado – Bresser – Verão) e pelo crescimento <strong>da</strong> inflação, que<br />

atinge sua taxa recorde de 1.764% em 1989 35 . A Crise do Petróleo também incide sobre<br />

esse mercado, comprometendo o fornecimento <strong>da</strong> matéria-prima utiliza<strong>da</strong> na fabricação<br />

do vinil 36 . De acordo com Dias, “desde 1979, quando o país chegou a ocupar a quinta<br />

32 SUGIMOTO, 2003.<br />

33 FURUNO, jul. 2005: p.54.<br />

34 FURUNO, jul.2005: p.55.<br />

35 DIAS, 2000: p.77.<br />

36 FURUNO, ago. 2005: p.60.<br />

19


posição no mercado mundial, os números passam a ser decrescentes, até 1986, quando<br />

se recupera, mesmo de maneira inconstante” 37 .<br />

[ O CD, a recuperação e a que<strong>da</strong> do império fonográfico ]<br />

O quadro nebuloso de uma nova crise começa a se dissolver quando a indústria é<br />

chacoalha<strong>da</strong> pela introdução do CD como novo formato de produção em 1983 38 . A<br />

novi<strong>da</strong>de é responsável por uma nova alavanca<strong>da</strong> do setor, senti<strong>da</strong> em seu ápice<br />

principalmente nos anos 1990. Mais uma vez a tecnologia age como engrenagem na<br />

motivação do consumo: a troca do LP para o CD se dá mais rápido do que o esperado e a<br />

indústria fonográfica, beneficia<strong>da</strong> por um novo redesenho de suas estruturas, passa a<br />

experimentar ven<strong>da</strong>gens ca<strong>da</strong> vez mais estratosféricas 39 .<br />

Paralelamente, o gênero BRock é desenvolvido no Brasil e um mercado<br />

consumidor jovem começa a ser desenhado 40 . A recuperação também é propicia<strong>da</strong>, ao<br />

longo <strong>da</strong> déca<strong>da</strong>, pelas “ven<strong>da</strong>s concentra<strong>da</strong>s em poucos artistas com grande penetração<br />

internacional e nas ven<strong>da</strong>s de artistas domésticos nos países onde estavam implanta<strong>da</strong>s<br />

subsidiárias <strong>da</strong>s majors 41 ”, as grandes corporações multinacionais a essa altura já<br />

regentes do mercado.<br />

Apesar dos anos 1970 terem sido tomados pela convivência entre grupos<br />

internacionais (Phonogram, Odeon, CBS e RCA) e nacionais (Continental, Sigla e<br />

Copacabana), dos anos 1980 em diante esse quadro mu<strong>da</strong>. Salvo gravadoras e selos de<br />

pequeno e médio porte que conseguiam se manter apesar <strong>da</strong>s adversi<strong>da</strong>des, o que será<br />

37 DIAS, 2000: p.77.<br />

38 BOULAY, 2005: p.70.<br />

39 FURUNO, ago. 2005: p.61.<br />

40 DIAS, 2000: p. 82.<br />

41 VICENTE, 2005: p.04.<br />

20


assinalado mais adiante nessa pesquisa, “a única nacional a resistir bravamente foi a<br />

Continental, sustenta<strong>da</strong>, já nessa época, pelo segmento sertanejo” 42 , como ressalta Dias.<br />

Dominado pelo oligopólio alcunhado big five, que englobaria, já nos anos 1990, as cinco<br />

gravadoras Universal, Warner, EMI, Sony e BMG (as duas últimas hoje unifica<strong>da</strong>s), o<br />

mercado já demonstrava estar incorporado à lógica que regia a nova ordem musical<br />

internacional, como revela o pesquisador <strong>da</strong> USP Eduardo Vicente:<br />

A nova configuração <strong>da</strong>s gravadoras em conglomerados de<br />

entretenimento a partir dos anos 80 tem sido acompanha<strong>da</strong>, como no<br />

cinema, por uma crescente lógica dos blockbusters. Em lugar de aspirar<br />

a múltiplos álbuns que ven<strong>da</strong>m bem, ou seja, recuperem seus<br />

investimentos e produzam um ganho regular, as majors preferem acertar<br />

com alguns poucos hits que ven<strong>da</strong>m mais de US$100 milhões, como<br />

‘Jagged Little Pill’, de Alanis Morissette 43 .<br />

É essa lógica do consumismo desenfreado que passará a vigorar na era milionária<br />

instaura<strong>da</strong> nos anos 1990, como revela o vice-presidente <strong>da</strong> Universal Music, Max Pierre:<br />

A déca<strong>da</strong> de 90 foi, com certeza, a melhor <strong>da</strong>s déca<strong>da</strong>s para a indústria<br />

<strong>da</strong> música no Brasil. A troca de mídia, alia<strong>da</strong> a uma situação econômica<br />

invejável e à explosão de ven<strong>da</strong>s dos ‘ao vivo’, quase todos recordes de<br />

ven<strong>da</strong>s, fizeram essa bolha (de consumo) acontecer 44 .<br />

À frente <strong>da</strong> Dabliú Discos e advogado especializado em direito autoral, José<br />

Carlos Costa Netto expõe que essa nova visão emprega<strong>da</strong> no fim dos anos 1980 e início<br />

<strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1990 foi responsável, também, por uma intensa que<strong>da</strong> na quali<strong>da</strong>de<br />

musical, hoje tema polêmico quando o assunto é os investimentos <strong>da</strong>s majors:<br />

42 DIAS, 2000: p.75.<br />

43 VICENTE, 2005: p.04.<br />

44 FURUNO, set. 2005: p.70.<br />

Na<strong>da</strong> se comparava a um artista, vamos dizer, <strong>da</strong> mo<strong>da</strong>, para o qual<br />

você gasta pouco no disco e planeja um aparato comercial, fazendo com<br />

que ele estoure. Em dois ou três meses se conseguia, às vezes, um<br />

milhão de cópias vendi<strong>da</strong>s. Foi quando começaram esses fenômenos<br />

comerciais. Nesse momento, as gravadoras que ain<strong>da</strong> não faziam a<br />

21


coisa de forma tão violenta começaram realmente a baixar o nível <strong>da</strong><br />

música brasileira, para que eles tivessem maior apelo comercial e<br />

resultados imediatos com relação à grana 45 .<br />

No entanto, para que essa guina<strong>da</strong> pudesse ter efeito, foi necessário um<br />

enxugamento na estrutura <strong>da</strong>s gravadoras, como revela Marcos Maynard, presidente <strong>da</strong><br />

EMI, em entrevista à “Folha de São Paulo” 46 :<br />

<strong>As</strong> multinacionais ganhavam tanto dinheiro lá fora que podiam perder<br />

dinheiro aqui. Aí acabou a era bonita, fecharam a torneira. Dos anos 70<br />

para os 80 disseram: ‘Agora vocês têm que ganhar dinheiro, parem de<br />

perder dinheiro’. A crise foi mundial, tudo foi aumentando. Vai fazer o<br />

quê? Lança menos artistas, menos marketing, menos tudo, para <strong>da</strong>r<br />

conta do óbvio.<br />

<strong>As</strong> majors, então, passam a adotar uma nova estratégia na manutenção de seu<br />

império fonográfico. Após 1990, as tecnologias digitais abriram espaço para a criação de<br />

novos estúdios, “para a produção doméstica com quali<strong>da</strong>de e para uma ampla<br />

pulverização e redução dos custos de gravação e impressão de CDs: fatores que<br />

permitirão o ingresso no mercado de uma ampla gama de novos artistas, ban<strong>da</strong>s e selos<br />

independentes” 47 . “De demissões a tentativas de contenção de gastos, algumas empresas<br />

acabaram por realizar uma ver<strong>da</strong>deira reengenharia “ 48 , <strong>da</strong> qual faz parte a fragmentação<br />

<strong>da</strong> produção fonográfica, observa<strong>da</strong> na terceirização <strong>da</strong> linha de produção. Os produtores<br />

deixam de integrar o staff <strong>da</strong>s gravadoras, passando a atuar como profissionais<br />

autônomos, por vezes criando seus próprios selos; a quanti<strong>da</strong>de de artistas que<br />

integravam o chamado casting dessas empresas passa a ser ca<strong>da</strong> vez menor, a exemplo<br />

do que já vinha acontecendo nos anos 1980; e as tecnologias digitais de produção<br />

45 FOGAÇA, 2001.<br />

46 SANCHES, 2001.<br />

47 VICENTE, 2005.<br />

48 DIAS, 2000: p.109.<br />

22


permitem a redução do quadro de funcionários e a contratação de serviços como,<br />

inclusive, o aluguel de estúdios de gravação, de acordo com Vicente:<br />

A Warner Music, que chegara ao país no final dos anos 70, não chegou<br />

nem a ter o próprio estúdio. A EMI brasileira já teve três estúdios de<br />

primeira quali<strong>da</strong>de, mas optou pela terceirização. A BMG-Ariola<br />

encontrou uma solução diferente para seus três estúdios: eles foram<br />

repassados aos técnicos, que fazem prestação de serviços para a BMG<br />

quando necessário. Restaram apenas os grandes estúdios <strong>da</strong>s<br />

gravadoras em Londres, Los Angeles e Nova York, que dividem o<br />

mercado com diversos estúdios particulares e caseiros 49 .<br />

Portanto, observa-se um realinhamento <strong>da</strong> produção para a entra<strong>da</strong> em um novo<br />

século: Uma era repleta de incertezas e que claramente aponta para o esgotamento de<br />

um modelo saturado de negócio diante <strong>da</strong> multiplici<strong>da</strong>de de possibili<strong>da</strong>des que se<br />

descortinou.<br />

<strong>As</strong>soberba<strong>da</strong> com a permanência de seu prestígio e com a reestruturação de seu<br />

business, e ain<strong>da</strong> presa à dissolução dos efeitos <strong>da</strong> crise que assolou o mercado nas<br />

déca<strong>da</strong>s anteriores, a grande indústria não conseguiu se preparar suficientemente para as<br />

transformações que viriam a seguir, agora em ritmo ain<strong>da</strong> mais intenso e acelerado. Têm<br />

sucesso aqueles que conseguem se a<strong>da</strong>ptar mais rapi<strong>da</strong>mente às regras do jogo, e os<br />

independentes, ain<strong>da</strong> que abocanhem uma fatia bem menor do mercado 50 com relação às<br />

multinacionais, têm demonstrado desenvoltura para li<strong>da</strong>r com as adversi<strong>da</strong>des de um<br />

futuro imprevisível, conforme revelam as páginas a seguir, que contam, também, como<br />

surgiu a nomenclatura que os designa e a polêmica que há em torno de sua aceitação.<br />

49 VICENTE, 2005: p.06. Vale lembrar que o pesquisador se baseia em <strong>da</strong>dos de 1995, quando a gravadora<br />

BMG ain<strong>da</strong> mantinha vínculos com o grupo Ariola.<br />

50 Conforme foi alinhavado na introdução desse estudo, os independentes hoje respondem por cerca de 25%<br />

do mercado fonográfico, de acordo com os <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> <strong>As</strong>sociação Brasileira de Música Independente.<br />

23


2 Eu quero é ser indie<br />

[ A barafun<strong>da</strong> em torno <strong>da</strong> nomenclatura ]<br />

É a pior palavra possível. Independente é a rainha <strong>da</strong> Inglaterra, que não<br />

depende de ninguém 51 .<br />

A constatação do diretor executivo <strong>da</strong> <strong>As</strong>sociação Brasileira <strong>da</strong> Música<br />

Independente (ABMI), Jerome Vonk, revela uma dúvi<strong>da</strong> comum tanto a quem faz parte <strong>da</strong><br />

indústria fonográfica quanto aos leigos e/ou curiosos. O quê de fato designa o termo<br />

“independente”?<br />

<strong>Independentes</strong> são aquelas que não fazem parte do oligopólio, <strong>da</strong>quelas<br />

quatro empresas históricas que detém 72% do mercado mundial. Pela<br />

leitura IFPI (International Federation of the Phonographic Industry 52 ),<br />

72% estaria na mão <strong>da</strong>s multis e 28% na mão <strong>da</strong>s independentes 53 .<br />

Convencionou-se, portanto, distinguir os grupos em dois. De um lado estariam as<br />

poderosas majors, fruto de um conglomerado internacional que desde os primórdios <strong>da</strong><br />

indústria fonográfica foi abocanhando o mercado mundo a fora - conforme abor<strong>da</strong>do no<br />

tópico anterior. Do outro, os independentes, historicamente mais fracos do ponto de vista<br />

econômico.<br />

O primeiro estaria representado pela ABPD, filia<strong>da</strong> à Internacional Federation of<br />

the Phonographic Industry, desde 1958. O segundo, pela ABMI, articula<strong>da</strong> desde 1992 em<br />

reuniões na Secretaria de Cultura de São Paulo e, posteriormente, no Itaú Cultural,<br />

também em São Paulo. O grupo era formado por dirigentes de gravadoras e selos de<br />

51 VONK, Jerome. Em entrevista concedi<strong>da</strong> à autora em 22 nov. 2005.<br />

52 O órgão representa as gravadoras internacionalmente. É a ele que está vinculado a ABPD (<strong>As</strong>sociação<br />

Brasileira de Produtores de Discos), enti<strong>da</strong>de que representa as grandes gravadoras no Brasil.<br />

53 Op. Cit.<br />

24


pequeno e médio porte. A idéia era fomentar uma rede de troca de informações, o que<br />

acabou propiciando o surgimento de uma enti<strong>da</strong>de de classe, a ABMI, em 2002 54 .<br />

No entanto, apesar de hoje os independentes contarem com um órgão próprio e<br />

<strong>da</strong> populari<strong>da</strong>de que o termo foi adquirindo – atualmente também utilizado para designar<br />

músicos (indies) que se apresentam no cenário alternativo, alijados <strong>da</strong> grande mídia e do<br />

chamado mainstream 55 -, para alguns a alcunha “independente” acabou perdendo sua<br />

representativi<strong>da</strong>de original, como revela Antonio Adolfo:<br />

Acho que independente está virando um termo totalmente desgastado e<br />

deturpado. No início, a palavra era utiliza<strong>da</strong> por aqueles selos<br />

pequenininhos e por quem se autoproduzia, como eu fiz e como vários<br />

outros fazem até hoje. Hoje em dia passou-se a utilizá-lo o termo<br />

independente para qualquer gravadora que não faça parte desse<br />

conglomerado internacional. (...) Usam o termo porque dá prestígio.<br />

Acho que o músico autoprodutor, que é aquele que produz seu disco e<br />

paga do seu próprio bolso, é outro departamento. Ele não pode ser<br />

chamado de independente. Ou as gravadoras devem de mu<strong>da</strong>r de<br />

nome 56 .<br />

O maestro é tido como um dos primeiros artistas a lançar um disco independente.<br />

Editado em 1977, com uma tiragem inicial de 500 cópias, distribuição e divulgação a<br />

encargo do próprio, o álbum “Feito em Casa” é uma unanimi<strong>da</strong>de entre os estudiosos <strong>da</strong><br />

MPB como a primeira iniciativa do gênero na história <strong>da</strong> indústria fonográfica brasileira 57 .<br />

Contudo, o professor Eduardo Andrade, <strong>da</strong> Unicamp, revela que o termo vem desde o<br />

início desse mercado, quando uma infini<strong>da</strong>de de patentes registrava ca<strong>da</strong> avanço<br />

tecnológico no nome de seus autores (como o disco de cera versus o disco de estanho) e<br />

impedia que as gravadoras menores concorressem de igual para igual com as maiores<br />

empresas <strong>da</strong> ocasião:<br />

54 A informação foi retira<strong>da</strong> de uma palestra proferi<strong>da</strong> por Pena Schmidt, um de seus fun<strong>da</strong>dores, no IV<br />

Encontro ABMI, ocorrido em novembro de 2005 no Itaú Cultural, São Paulo, ao qual a autora teve acesso.<br />

55 Adjetivo em inglês que designa “de tendência predominante, de comportamento predominante”, de acordo<br />

com o dicionário on-line Babylon (http://www.babylon.com).<br />

56 ADOLFO, Antonio. Em entrevista concedi<strong>da</strong> à autora em 17 nov. 2005.<br />

57 BARBOSA, 2005: p. 1.<br />

25


O termo independente sempre existiu. Por razões de patente, só existia<br />

a Berliner, a Columbia e a Victor Company, que foi a mais importante<br />

indústria de discos na época. Havia mais de cento e tantas patentes. A<br />

partir de 1918, quando venceu o prazo de patentes <strong>da</strong> Victor Company e<br />

<strong>da</strong> Berliner, surgiram vários independentes. Então, o termo vem desde a<br />

origem fonográfica. Todos os que não eram os principais, eram os<br />

independentes, ain<strong>da</strong> que muitas iniciativas tenham sido ilegais 58 .<br />

[ O início de selos, gravadoras e artistas autônomos ]<br />

A dificul<strong>da</strong>de em torno de <strong>da</strong>dos históricos que de fato concretizem o início dessa<br />

ativi<strong>da</strong>de no país é destaca<strong>da</strong> pela pesquisadora Márcia Tosta Dias, que revela sofrerem<br />

de critérios tanto a avaliação <strong>da</strong> contribuição desse mercado para a produção fonográfica,<br />

quanto o conceito que o engloba. A autora enumera inúmeros exemplos que figuram no<br />

rol dos possíveis pioneiros na independência do disco. Dentre eles, cita a cantora Carmen<br />

Miran<strong>da</strong>, que “antes de gravar seu primeiro grande sucesso Pra você gostar de mim em<br />

1930, pela RCA-Victor (35 mil cópias), já tinha estreado no mundo do disco em 1929, em<br />

um pequeno selo, o Brunswick” 59 . Adiante, levanta que a iniciativa pode ter partido do<br />

imigrante italiano Severio Leonetti, em parceria com o brasileiro João Gonzaga, filho <strong>da</strong><br />

maestrina Chiquinha, antes <strong>da</strong> Primeira Guerra Mundial. Por fim, enumera:<br />

Já se disse por aí que o precursor dos independentes foi o Zé Ramalho,<br />

que em 1972 fez um disco em Recife, o Peabiru. (...) Há quem se pergunte<br />

se o Marcus Pereira, com seu ambicioso projeto, não foi independente. O<br />

Pasquim, com sua experiência do ‘disco de bolso’, também de 72,<br />

idealiza<strong>da</strong> por Sérgio Ricardo. (...) Parece haver uma unanimi<strong>da</strong>de quanto<br />

à experiência de Antonio Adolfo, considera<strong>da</strong> a primeira bem-sucedi<strong>da</strong> (...).<br />

O Boca Livre chegou a provocar uma espécie de ‘boom’, já que parece ter<br />

sido o que mais vendeu discos independentes 60 . Criou-se até a<br />

58 ANDRADE, 26 nov. 2005.<br />

59 DIAS, 2000: p. 131.<br />

60 De acordo com Eduardo Andrade, que trabalhou na gravadora Eldorado, o grupo Boca Livre chegou a<br />

vender 80 mil cópias em apenas três semanas, em uma época em que cinco mil discos por mês era um<br />

marco, segundo o professor.<br />

26


Distribuidora Independente a partir de seu sucesso de ven<strong>da</strong>s. Mas aí vem<br />

alguém e lembra que na déca<strong>da</strong> de 40 também se tentou a produção<br />

independente (...). Há ain<strong>da</strong> quem relacione a própria Bossa Nova e o Selo<br />

Elenco, fun<strong>da</strong>do em 1963 por Aluysio de Oliveira. (...) Como se vê, a<br />

questão se tornou um imbróglio 61 .<br />

Jerome Vonk lembra, ain<strong>da</strong>, que o primeiro disco gravado pelo músico Elvis<br />

Presley foi uma gravação independente para a mãe, e recor<strong>da</strong> iniciativas pioneiras nos<br />

Estados Unidos como a do selo Motown, de Barry Gordon, que se aproveitou do gosto<br />

popular pelo gênero black music e criou seu selo autoral, posteriormente uma gravadora<br />

de sucesso: “Barry alugou uma casinha, colocou um estúdio de som e criou uma pequena<br />

fábrica de hits de música. Ele foi apenas um dos inúmeros independentes <strong>da</strong>quela déca<strong>da</strong><br />

de 1970” 62 .<br />

O diretor <strong>da</strong> ABMI ain<strong>da</strong> apimenta o debate ao lembrar que muitas <strong>da</strong>s majors hoje<br />

dominantes surgiram exatamente de selos menores, também autônomos:<br />

Se você olhar a indústria do disco, no começo eram todos independentes e<br />

aí você tem algumas corporações que se formam. Sobretudo nos anos 80<br />

e 90, há uma grande consoli<strong>da</strong>ção do mercado nos grupos fortes que<br />

começam a comprar um monte de selos. Se você pega uma Universal <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>, 90% dos selos eram independentes. Pega a Warner, Electric e<br />

Atlantic (WEA, hoje apenas Warner), eram selos independentes que depois<br />

viraram grandes selos. Eram todos independentes. Mas tem uma hora que<br />

não sei porque alguém criou essa coisa de major e independente 63 .<br />

João Augusto, diretor executivo <strong>da</strong> Deckdisc, encerra a discussão:<br />

Não há majors, minors ou independentes, mas sim os que têm mais<br />

sucesso e os que têm menos. Não é só uma questão de mercado, mas<br />

também de conceito sobre como administrar hoje uma empresa<br />

fonográfica, uma vez que as formas de se vender música estão em grande<br />

movimento de mu<strong>da</strong>nça 64 .<br />

61<br />

DIAS, 2000: p.132. In: COSTA, I.C. Quatro notas sobre a produção independente de música. Arte em<br />

Revista. <strong>Independentes</strong>. Ano 6, n o 8. SP: CEAC, 1984 a , p.11.<br />

62<br />

VONK, 22 nov. 2005.<br />

63<br />

Op. Cit.<br />

64<br />

AUGUSTO, João. Em entrevista concedi<strong>da</strong> à autora em 20 nov. 2005.<br />

27


[ A simpatia pela novi<strong>da</strong>de antiga ]<br />

Entre os nove entrevistados para essa pesquisa, uma dúvi<strong>da</strong> se revelou unânime:<br />

Como aferir o crescimento de gravadoras e selos nacionais? Apesar <strong>da</strong> sensação comum<br />

de que o mercado está mu<strong>da</strong>ndo e de que as minors estão crescendo, quantificar em<br />

estatísticas a real dimensão dessa indústria tornou-se um ver<strong>da</strong>deiro encalço, confirma o<br />

diretor executivo <strong>da</strong> <strong>As</strong>sociação Brasileira <strong>da</strong> Música Independente (ABMI) Jerome Vonk:<br />

Não tem como mensurar. Na reali<strong>da</strong>de, você tem estimativas, mas para<br />

dizer honestamente qual o tamanho dessa indústria a gente não tem.<br />

Temos o cheiro <strong>da</strong> lingüiça, mas seria muita levian<strong>da</strong>de precisar algum<br />

tipo de número. O que se percebe é que existe um espaço que está<br />

sendo pouco a pouco ocupado pelas independentes, porque<br />

simplesmente as majors não conseguem mais replicar o sucesso com a<br />

quali<strong>da</strong>de que faziam anteriormente. O custo para isso é muito alto e, na<br />

reali<strong>da</strong>de, elas estão apostando mais fichas em menos artistas, menos<br />

ban<strong>da</strong>s, e isso deixa uma brecha para os independentes. Esse modelo<br />

que se tinha antigamente de que tocou na rádio, tocou na televisão, é o<br />

disco do milhão tende a desaparecer 65 .<br />

De acordo com Wilson Souto Jr., ex-diretor artístico <strong>da</strong>s gravadoras Continental e<br />

Warner e há nove anos à frente <strong>da</strong> autônoma e expressiva Atração <strong>Fonográfica</strong> 66 , “pela<br />

primeira vez na história recente, desde 1940, estamos vivendo uma transformação muito<br />

grande. Nos próximos cinco anos, teremos entre as maiores gravadoras do país duas ou<br />

três nacionais” 67 .<br />

Apesar <strong>da</strong> dificul<strong>da</strong>de em se levantar números, algumas constatações<br />

consideráveis podem ser feitas. Hoje, estima-se que haja cerca de 400 gravadoras e<br />

selos nacionais no Brasil, 90% de micro e pequeno porte, conforme revelam <strong>da</strong>dos<br />

65<br />

VONK, 22 nov. 2005.<br />

66<br />

A gravadora é considera<strong>da</strong> de médio porte pela ABMI e já computa mais de 900 títulos lançados. BOULAY,<br />

2005.<br />

67<br />

O depoimento foi extraído <strong>da</strong> matéria De olho no exterior..., veicula<strong>da</strong> pela revista Shopping & DVD e<br />

extraí<strong>da</strong> em 06 out. 2005 do site oficial <strong>da</strong> ABMI: http://www.abmi.com.br.<br />

28


veiculados na revista “Pequenas Empresas & Grandes Negócios” em 2003 68 . Embora a<br />

ABMI ain<strong>da</strong> não afira uma estatística totalizante a exemplo do que faz a <strong>As</strong>sociação<br />

Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD) com a grande indústria – quadro cuja<br />

mu<strong>da</strong>nça já está em articulação, segundo Vonk –, é possível contabilizar de acordo com o<br />

balanço de seus aproxima<strong>da</strong>mente 100 associados cerca de 15 milhões de discos<br />

independentes vendidos por ano, o que abocanha uma fatia expressiva de 25% <strong>da</strong><br />

indústria fonográfica 69 .<br />

Além disso, concursos como o Prêmio Tim, antes com participação majoritária <strong>da</strong><br />

grande indústria, hoje têm agraciado, também, gravadoras nacionais. Em 2004, a maioria<br />

dos indicados à estatueta era oriun<strong>da</strong> do ramo, como Biscoito Fino, Atração <strong>Fonográfica</strong>,<br />

Trama e Indie Records, para citar os com maior número de indicações 70 . Na publicação<br />

estatística anual <strong>da</strong> ABPD também se pôde verificar esse avanço dos independentes. Em<br />

2003, nenhum artista do gênero figurava na lista dos 20 CDs mais vendidos 71 . Já em<br />

2004, a dupla Teodoro & Sampaio e a cantora Alcione, ambos <strong>da</strong> Indie Records,<br />

aparecem em 9 o e 17 o lugar respectivamente 72 .<br />

Diretor do selo Cardume, distribuído pela EMI, o produtor cultural Bruno Levinson<br />

atua há mais de dez anos organizando eventos, como o festival “Humaitá Pra Peixe”, que<br />

há uma déca<strong>da</strong> revela novos talentos todo mês de janeiro em uma casa carioca, além do<br />

concurso virtual “Oi Tem Peixe na Rede”, iniciado esse ano e já com mais de 520 mil<br />

acessos ao seu sítio. Apesar de colecionador de números significativos, Levinson afirma<br />

que o atual crescimento dos independentes não deve ser mensurado em quanti<strong>da</strong>de:<br />

68 MAIA, Viviane. Música no caixa. Pequenas Empresas & Grandes Negócios, 2002. Disponível em:<br />

http://empresas.globo.com/Empresasenegocios/0,19125,ERA547238-2481,00.html. Acesso em 15 set.<br />

2005.<br />

69 VONK, 22 nov. 2005.<br />

70 http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustra<strong>da</strong>/ult90u45082.shtml<br />

71 ABPD, 2004: p. 24.<br />

72 ABPD, 2005: p. 21.<br />

29


Não colocaria números como o primeiro item a ser considerado quando<br />

a gente diz que o mercado independente está crescendo. Pra mim, falar<br />

de música é diferente do que falar de desodorante. Música é um bem<br />

emotivo, não dá para quantificar como o critério mais importante. Ele (o<br />

mercado) está crescendo na medi<strong>da</strong> em que se vê mais gravadoras<br />

independentes organiza<strong>da</strong>s, pessoas abrindo novas ou cogitando a<br />

possibili<strong>da</strong>de, e ca<strong>da</strong> vez mais artistas grandes mu<strong>da</strong>ndo para<br />

independentes 73 .<br />

A migração de artistas consagrados para gravadoras autônomas, bem como a<br />

redução do tamanho dos contratos e a criação de selos autorais, têm sido uma tendência<br />

desde 2001, quando Maria Bethânia, até então a pioneira do movimento, deixou a BMG e<br />

criou o selo Quitan<strong>da</strong> na Biscoito Fino 74 . Em 2003, a independência foi solidifica<strong>da</strong> pela<br />

adesão de Paulinho <strong>da</strong> Viola, que fez a mesma troca que a cantora, e Gal Costa, desde<br />

então selando novo contrato a ca<strong>da</strong> disco 75 , primeiro na Indie Records e, atualmente, na<br />

Trama. Mais novo escalado do time de Bethânia e Viola, Chico Buarque também firmou<br />

contrato com a Biscoito Fino em agosto desse ano 76 .<br />

Mas o quê de fato tem possibilitado às gravadoras nacionais uma posição tão<br />

prestigia<strong>da</strong> perante a indústria? Qual a fórmula do sucesso no tumultuado mundo atual?<br />

[ <strong>As</strong> razões do sucesso repentino ]<br />

<strong>As</strong>sim como são poucas as estatísticas volta<strong>da</strong>s exclusivamente à comprovação<br />

do real crescimento <strong>da</strong>s gravadoras de capital nacional, também não há uma linha única<br />

capaz de elencar as razões para esse crescimento. No entanto, muitos dos entrevistados<br />

para essa pesquisa enumeraram explicações análogas na justificativa desse<br />

desenvolvimento minor.<br />

73 LEVINSON, Bruno. Em entrevista concedi<strong>da</strong> à autora em 21 nov. 2005.<br />

74 ARAGÃO, CALDEIRA, 26 dez. 2003.<br />

75 Op. Cit.<br />

76 CALDEIRA, 12 ago. 2005.<br />

30


Segundo o jornalista Arthur Dapieve, colunista e crítico musical do jornal O Globo<br />

e autor do livro “BRock: O rock brasileiro dos anos 80”, a razão desse sucesso estaria no<br />

enfoque refinado <strong>da</strong> seleção de repertório, na menor sujeição à pirataria e “na liber<strong>da</strong>de<br />

dos caminhos viciados <strong>da</strong> indústria fonográfica”:<br />

Existem três explicações que, soma<strong>da</strong>s a outras, me vêm à cabeça.<br />

Uma é o foco muito mais bem escolhido do repertório. O pessoal que faz<br />

A&R (artista e repertório) nesses lugares tem bom gosto musical, não<br />

são só marketeiros e, então, sabem do que estão tratando. É o caso do<br />

João Augusto (Deckdisc), <strong>da</strong> Olívia Hime (Biscoito Fino), que são<br />

pessoas que têm mais sensibili<strong>da</strong>de para isso e tornam os elencos mais<br />

coesos e, até mesmo, mais autorais. Você olha o disco <strong>da</strong> Biscoito Fino<br />

e no ato de pegar você já sabe que é Biscoito Fino. Há uma identi<strong>da</strong>de<br />

visual e artística muito grande. Você não tem muito isso nas grandes,<br />

porque elas atuam em to<strong>da</strong>s as direções. E essa identi<strong>da</strong>de é tão forte,<br />

que mesmo a Deckdisc e a Indie também atuam em várias direções e<br />

você não percebe, porque os elencos são menores e, por falta de melhor<br />

palavra, são tratados com mais carinho, individualmente trabalhados. A<br />

partir dos anos 90, ficando mais grave agora, a indústria passou para as<br />

mãos de gente que vê isso como négócio, que pensam na indústria<br />

fonográfica e não na indústria <strong>da</strong> música, que é a que está saudável.<br />

Nesse horizonte, as coisas se perdem muito, e as gravadoras menores<br />

se insinuam por aí. A segun<strong>da</strong> coisa que me parece clara é que o<br />

repertório dessas gravadoras está menos sujeito à pirataria e até mesmo<br />

à troca de arquivos pela internet. O público do Francis Hime não faria<br />

isso, seja por ter grana para comprar o disco oficial, seja pelas questões<br />

éticas. O pessoal <strong>da</strong> Britney Spears, Exaltasamba não tem esse tipo de<br />

preocupação. A terceira consideração diz respeito a um monstro que a<br />

indústria fonográfica criou e não consegue acabar, o jabá, que tem um<br />

custo. Não significa que as menores não façam isso, mas as grandes<br />

pagavam jabás grandes e isso é um vazadouro de dinheiro. Acho<br />

curioso que isso tira receita dos artistas, mas todo o aparato de<br />

promoção em torno deles, também, e durante muito tempo as<br />

gravadoras não se preocuparam com isso, porque elas também faziam<br />

caixa dois de lançamentos. Se diziam que vendiam 100 mil exemplares<br />

do É o Tchan, você pode imaginar razoavelmente que vendiam 200 mil<br />

exemplares e o resto ia para uma contabili<strong>da</strong>de paralela 77 .<br />

O que diz Dapieve acerca do menor índice de pirataria e <strong>da</strong> preocupação artística<br />

de gravadoras como Biscoito Fino, Kuarup, Trama, Deck e Indie – lista<strong>da</strong>s nessa ordem<br />

de quali<strong>da</strong>de pelo jornalista 78 – é confirmado pela produtora executiva e gerente de<br />

77 DAPIEVE, 17 nov. 2005.<br />

78 Na entrevista para essa pesquisa, o jornalista enumera as gravadoras que mais se destacam em duas<br />

categorias: <strong>As</strong> que vendem mais e as que, a seu ver, têm mais quali<strong>da</strong>de. No primeiro grupo estariam as<br />

31


produto <strong>da</strong> Biscoito Fino, Joana Hime 79 . De acordo com ela, a preocupação com a<br />

excelência do repertório e a estrutura totalmente autônoma fizeram com que a gravadora<br />

cria<strong>da</strong> pela cantora Olívia Hime em parceria com a empresária Kati Almei<strong>da</strong> Braga<br />

chegasse, em apenas cinco anos de existência, ao número de mais de 150 títulos<br />

lançados. Hoje, a empresa conta com estúdio e distribuição próprias, mas optou por<br />

conter o crescimento e o número de artistas, já que uma estrutura grandiosa demais<br />

encareceria os custos de produção 80 .<br />

De acordo com Jerome Vonk, é justamente o menor porte, aliado à proativi<strong>da</strong>de e<br />

à criativi<strong>da</strong>de, o que confere maleabili<strong>da</strong>de às gravadoras nacionais diante de oscilações<br />

do mercado. Como Dapieve e Joana Hime, o diretor <strong>da</strong> ABMI e professor de Music<br />

Business <strong>da</strong> Escola Superior de Propagan<strong>da</strong> e Marketing cita a preocupação artística em<br />

sua análise, mas lembra que nem sempre a presidência de uma multinacional no Brasil<br />

tem liber<strong>da</strong>de para agir como gostaria, por ter de prestar contas à sua matriz:<br />

O que na reali<strong>da</strong>de cria um certo imobilismo dessas grandes empresas é<br />

o fato delas terem sido, em algum momento, extremamente bem<br />

sucedi<strong>da</strong>s, terem encontrado a fórmula de sucesso. Isso normalmente<br />

acontece quando se trabalha com um segmento popular. Já os<br />

independentes têm sempre uma vocação artística, não vão somente<br />

para o popular. Ao mesmo tempo, os números deles nunca são<br />

grandiosos. Isso faz com que eles sejam antenados, tenham uma<br />

postura diferente e trabalhem de formas diferentes. Não é simplesmente<br />

comprar mídia e colocar o seu produto lá. Com tudo isso, os<br />

independentes têm uma desenvoltura, um jogo de cintura, uma<br />

percepção <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de do mercado, mais viva do que o pessoal que<br />

trabalha nas majors. E, ao mesmo tempo, podem se virar rapidinho,<br />

praticamente resolvem tudo e fazem. O tamanho de uma grande<br />

empresa não permite que ela se transforme rapi<strong>da</strong>mente. A gente vê<br />

isso corporativamente em todos os segmentos. <strong>As</strong> pequenas empresas<br />

que são mais criativas, mais ágeis, com menos pessoas, estão<br />

antena<strong>da</strong>s mais rapi<strong>da</strong>mente 81 .<br />

gravadoras Indie, Deckdisc, Trama, Biscoito Fino e Kuarup. No segundo, Biscoito Fino, Kuarup, Trama,<br />

Deckdisc e Indie. Vale ressaltar que o ranking foi feito livremente, de acordo com o que o jornalista tem<br />

aferido do mercado, sem, portanto, nenhuma rigidez estatística.<br />

79 HIME, Joana. Em entrevista à autora em 23 nov. 2005.<br />

80 FOGAÇA, nov. 2002.<br />

81 VONK, 22 nov. 2005.<br />

32


Em determina<strong>da</strong>s ocasiões, não é necessária uma capaci<strong>da</strong>de <strong>da</strong>rwinista de se<br />

a<strong>da</strong>ptar às mu<strong>da</strong>nças. Às vezes, é nascer nesse novo cenário que se desenha o que<br />

proporciona o sucesso <strong>da</strong>s minors. Essa é a opinião do músico Liô Mariz, vocalista <strong>da</strong><br />

ban<strong>da</strong> Som <strong>da</strong> Rua, recém-lança<strong>da</strong> pela gravadora Deckdisc:<br />

O que fez com que esses selos crescessem foi justamente o fato deles<br />

já terem nascido nessa nova ordem. Eles já começaram dentro <strong>da</strong>s<br />

novas normas de investimento. A grande diferença é que tendo um<br />

quadro menor de artistas e, ao mesmo tempo, tendo a mesma<br />

penetração de uma gravadora grande, as possibili<strong>da</strong>des de lucros são<br />

maiores, até pela facili<strong>da</strong>de de se trabalhar com calma a estratégia de<br />

ca<strong>da</strong> artista. Na Deck, por exemplo, que conheço melhor, consegue-se<br />

fazer o mesmo barulho que uma multinacional, tendo um terço ou até<br />

menos de funcionários. Mas acho que aos poucos as coisas vão se<br />

equilibrando e as grandes vão se adequando à reali<strong>da</strong>de. O poder delas<br />

ain<strong>da</strong> é muito maior 82 .<br />

Diretor artístico e idealizador <strong>da</strong> Deckdisc, com passagem pela EMI, João Augusto<br />

partilha <strong>da</strong> opinião de seu artista contratado de que o poder <strong>da</strong>s majors ain<strong>da</strong> é maior.<br />

Apesar <strong>da</strong> Deck atualmente ter a participação de 3,53% na indústria fonográfica, apenas<br />

três anos após ter iniciado sua operação 100% independente, como ele mesmo revela,<br />

João Augusto não acredita nesse redesenho <strong>da</strong>s minors no mercado:<br />

Há uma vontade generaliza<strong>da</strong> entre profissionais, seja pela frustração de<br />

alguns que não conseguiram chegar ao mercadão, ao mainstream, seja<br />

pela própria índole de se torcer pelo fracasso dos outros, de que as<br />

majors se estrepem. Isso é ruim: é menos mercado de trabalho, é menos<br />

informação de fora, é menos aprendizado de marketing, é menos<br />

música. Podemos até admitir que algumas dessas empresas, talvez por<br />

falta de visão dos próprios chefes do exterior, deixaram de criar coisas<br />

novas, perderam o contato com novos artistas, mas elas são empresas<br />

fortes, vivendo uma era de profun<strong>da</strong> transformação na forma de se<br />

vender música. Quem estiver mais ligado irá certamente se destacar.<br />

(...) Interessa a jornalistas, é poético, é lúdico adotar a idéia de que as<br />

multinacionais decaem e as independentes sobem. É fácil dizer que as<br />

independentes são growth companies (empresas em crescimento)<br />

quando compara<strong>da</strong>s às chama<strong>da</strong>s majors, as filhas do capeta, a origem<br />

de todo o mal! Antes de mais na<strong>da</strong>: a quem chamaremos independente<br />

de ver<strong>da</strong>de? Não se pode chamar de independente uma empresa<br />

completamente subsidia<strong>da</strong> por grupos econômicos. Não se pode chamar<br />

82 MARIZ, Liô. Em entrevista concedi<strong>da</strong> à autora em 08 nov. 2005.<br />

33


de independente uma empresa que não depen<strong>da</strong> de seus próprios<br />

revenues (receita) para sobreviver e reinvestir em seus projetos. (...)<br />

Sobre a tendência futura de que as companhias diminuirão o seu<br />

tamanho, isso se chama sobrevivência. Está definitivamente enterra<strong>da</strong> a<br />

era do glamour, dos contratos milionários, <strong>da</strong>s mordomias galáticas 83 .<br />

A crítica incisiva do empresário diz respeito a empreendimentos que, a exemplo<br />

<strong>da</strong>s gravadoras Biscoito Fino e Trama, possuem um grande grupo econômico por trás de<br />

seus negócios – o que poderia justificar o seu crescimento dentro do mercado. No caso<br />

<strong>da</strong> primeira, o banco Icatú, de Kati Almei<strong>da</strong> Braga 84 . Já a Trama, com mais de 980 CDs<br />

lançados em apenas sete anos de existência 85 , o Grupo VR. Diretor artístico e um dos<br />

donos <strong>da</strong> gravadora Trama, João Marcello Bôscoli esclarece a polêmica em entrevista à<br />

“Página <strong>da</strong> Música” em 2002 86 :<br />

Jerome Vonk endossa:<br />

O Grupo VR é uma holding, a Trama é outra holding e essas duas<br />

holdings fazem parte <strong>da</strong> Szajman Company, que é do Abram Szajman,<br />

Cláudio Szajman e André Szajman (os dois últimos, sócios de Bôscoli na<br />

Trama). A Szajman Company é uma socie<strong>da</strong>de, um grupo de capital<br />

fechado, onde os acionistas são, basicamente, os meus dois sócios.<br />

Eles não têm sócio em nenhum lugar. O único lugar onde há um sócio –<br />

que sou eu – é dentro <strong>da</strong> holding Trama, que tem a gravadora, a editora<br />

etc. Então, a Trama é uma socie<strong>da</strong>de entre uma pessoa física, que sou<br />

eu, e uma pessoa jurídica, que é a Szajman Company. A Szajman<br />

Company é dona <strong>da</strong> VR. Isso foi determinante para a gente porque não<br />

adianta eu ter um know-how empresarial e de infra-estrutura. (...) É<br />

importante entender que eu tive muita sorte porque, embora sejam<br />

empresários, pessoas extremamente metódicas, tradicionais, a VR<br />

fatura R$3,1 bi; a indústria fonográfica inteira fatura R$600 milhões;<br />

apenas o Grupo VR é cinco vezes maior que to<strong>da</strong> a indústria fonográfica<br />

brasileira. E <strong>da</strong>í? E <strong>da</strong>í que a gente tem uma saúde financeira grande,<br />

um know-how administrativo grande(...). Se fosse um banqueiro com<br />

cabeça de banqueiro, nunca ia <strong>da</strong>r certo a Trama. A pessoa precisa ter a<br />

real compreensão de que os vetores que regem o nosso negócio são<br />

artísticos e que a parte de negócio tem que vir em função do artístico;<br />

não o contrário.<br />

83 AUGUSTO, 20 nov. 2005.<br />

84 http://www.biscoitofino.com.br/bf/not_bfnamedia_ca<strong>da</strong>.php?id=218<br />

85 BOULAY, 2005: p. 127.<br />

86 SYDOW, set. 2002: p. 3.<br />

34


Independente tem que ser pobre? Claro que é válido o capital que está<br />

por trás. Parece que para a música ser boa e o esforço ser ver<strong>da</strong>deiro o<br />

cara tem que ser pé rapado, an<strong>da</strong>r de chinelo e pedir esmola. Se não for<br />

isso a música não é boa. O sujeito não pode ter dinheiro? Como isso é<br />

louco! O fulano ganhou o dinheiro de uma forma ou de outra, foi<br />

competente, aí pega o dinheiro e investe em música e alguém vem e diz<br />

que não é legítimo. Independente, então, é desdentado, feio, pobre e<br />

maconheiro 87 ?<br />

A ausência de um forte grupo econômico por trás de seus negócios, pode ser, por<br />

um lado, motivo de árduo empenho de gravadoras nacionais, por outro, de prestígio ain<strong>da</strong><br />

mais reconhecido. Esse é o caso <strong>da</strong> Kuarup, cria<strong>da</strong> em 1977 por Mario de Aratanha,<br />

ain<strong>da</strong> à frente <strong>da</strong> empresa, e o falecido fagotista Airton Barbosa. Volta<strong>da</strong> para um público<br />

refinado e exigente, a Kuarup arremata apreciadores de música clássica e instrumental,<br />

como Arthur Dapieve 88 . A gravadora não integra a lista de novas indies que estão<br />

abocanhando o mercado, mas de grupos fonográficos que perduram ao longo dos anos e<br />

vêem a segmentação como a marca de seu sucesso, como é o caso, também, no<br />

extremo oposto musical, <strong>da</strong> adolescente Midsummer Madness, desde 1989 volta<strong>da</strong> ao<br />

público jovem e expressiva apesar de poucos alardes 89 .<br />

Atuar em nichos específicos, portanto, pode ser mais uma razão para a força <strong>da</strong>s<br />

minors, ímãs de músicos que prezam por realizar o trabalho com liber<strong>da</strong>de, de acordo<br />

com seu gosto pessoal, como o maestro Antonio Adolfo, cujo selo Artezanal é distribuído<br />

pela Kuarup:<br />

A Kuarup faz um esforço <strong>da</strong>nado para manter a quali<strong>da</strong>de de seu<br />

catálogo, já que não tem uma empresa grande por trás como a Trama,<br />

que tem o ticket refeição, e a Biscoito Fino, que tem o Banco Icatú. Ela<br />

paga o preço por ser volta<strong>da</strong> para um nicho específico, não pode ter<br />

muito lucro. São discos que não tocam na rádio. (...) Mas é a vantagem<br />

de se ter o que se deseja. O sucesso hoje é muito subjetivo. Pode ser<br />

sua realização pessoal, seu prazer <strong>da</strong> fazer a música que você quer ou<br />

fazer um produto vendável, industrial 90 .<br />

87 VONK, 22 nov. 2005.<br />

88 DAPIEVE, 17 nov. 2005, e http://kuarup.3tons.com.br/br/kuarup.php.<br />

89 LEVINSON, 21 nov. 2005, e http://www.mmrecords.com.br/.<br />

90 ADOLFO, 21 nov. 2005.<br />

35


Além do desejo artístico, ter controle <strong>da</strong> carreira e se autoproduzir como faz o<br />

maestro Antonio Adolfo passou, também, a ser uma opção comercial. E justificativa do<br />

porquê do prestígio <strong>da</strong>s gravadoras nacionais estar crescendo, inclusive frente aos<br />

artistas consagrados – dúvi<strong>da</strong> que abre esse tópico. De acordo com Dapieve 91 , a<br />

estrutura de uma multinacional não permite manter em seu casting artistas que ven<strong>da</strong>m<br />

menos de cerca de 150 mil cópias e, apesar de aparentemente intrigante, Chico Buarque,<br />

Paulinho <strong>da</strong> Viola, Gal Costa, Maria Bethânia e artistas <strong>da</strong> MPB, em geral, nunca foram<br />

grandes vendedores de disco, atingindo, em média, a marca de 20 mil exemplares.<br />

No entanto, artistas desse porte agregam valor, credibili<strong>da</strong>de e prestígio às<br />

marcas, o que é ain<strong>da</strong> mais interessante para gravadoras segmenta<strong>da</strong>s, que não têm<br />

como foco principal o grande público. Por outro lado, também é conveniente para esses<br />

artistas fazer parte do elenco de empresas igualmente conceitua<strong>da</strong>s pela sua quali<strong>da</strong>de e<br />

apuro, que lhes permitam a liber<strong>da</strong>de artística que anseiam.<br />

Há, portanto, uma troca, que Genildo Fonseca, empresário do compositor<br />

Toquinho, avalia como um crescimento empresarial para o artista:<br />

O artista perdeu a aparente rede de proteção <strong>da</strong>s gravadoras. (...) A<br />

alteração de modelo tirou o conforto do artista e lhe deu<br />

responsabili<strong>da</strong>de sobre sua carreira, liber<strong>da</strong>de para definir o repertório,<br />

buscar parcerias, encontrar meios para o lançamento do seu produto.<br />

(...) Apesar <strong>da</strong> insegurança, é melhor ao artista a liber<strong>da</strong>de de criação.<br />

E, certamente, levará vantagem aquele que for mais talentoso e<br />

competente em sua área 92 .<br />

Para Dodi Sirena, empresário do cantor Roberto Carlos, independente no selo<br />

Amigos Records, “os artistas nacionais seguiram uma tendência mundial criando os<br />

próprios selos e negociando com as gravadoras uma forma de distribuição e promoção” 93 .<br />

A dupla David Kusek e Gerd Leonhard, professores <strong>da</strong> Berklee College of Music, em<br />

91<br />

DAPIEVE, 17 nov. 2005.<br />

92<br />

Op. Cit.<br />

93<br />

FURUNO, out. 2005: p. 71.<br />

36


Boston, e autores do livro “The Future of Music”, chancelado pela universi<strong>da</strong>de, parecem<br />

compartilhar de opinião semelhante à de Sirena. Para eles, o músico de sucesso de hoje<br />

deve ser empreendedor por natureza e ca<strong>da</strong> vez mais operar seu trabalho como<br />

business 94 . Kusek e Leonhard fazem uma série de previsões para o futuro <strong>da</strong> música,<br />

dentre elas a de que “os artistas são as marcas e o entretenimento, a atração principal” 95 :<br />

O artista e a gravadora são duas coisas completamente diferentes. (...)<br />

O artista talvez não precise mais dos poderosos cheques <strong>da</strong>s<br />

gravadoras atrás dele. <strong>As</strong> facili<strong>da</strong>des musicais de produção estão<br />

crescendo ca<strong>da</strong> vez mais, pequenas e médias empresas de marketing<br />

oferecem seus serviços diretamente aos artistas, as opções de<br />

distribuição cresceram exponencialmente e empresários e agentes têm<br />

tido papéis proativos. (...) <strong>As</strong> estruturas antigas não fazem mais sentido<br />

aos artistas – se é que em algum momento fizeram. (...) Eles estão, se<br />

quiserem, sendo elevados ao poderoso cargo de trabalhar com as<br />

gravadoras e selos, e não para as gravadoras e selos 96 .<br />

É o que já vem fazendo artistas como Daniela Mercury, que em entrevista ao<br />

jornal O Globo afirmou: “Não sou mais contrata<strong>da</strong> de nenhuma gravadora, seja no Brasil<br />

ou fora. Hoje sou dona de todo o meu catálogo no mundo” 97 .<br />

É à postura proativa dos músicos, às novas formas de disseminação musical e ao<br />

novo modelo que se apresenta nessa fase de transição que o próximo capítulo será<br />

dedicado.<br />

94<br />

KUSEK, LEONHARD, 2005: p. 21.<br />

95<br />

Op. Cit.<br />

96<br />

Op. Cit., ps. 22 e 23.<br />

97<br />

MIGUEL, 07 nov. 2005.<br />

37


3 Jetsons é aqui: A imprevisibili<strong>da</strong>de do futuro<br />

De acordo com o produtor cultural Gustavo Vasconcellos, hoje o caminho<br />

empresarial não passa mais pela necessi<strong>da</strong>de de um domínio de mercado, mas está<br />

centrado na multiplici<strong>da</strong>de de opções e na “inversão <strong>da</strong> lógica equivoca<strong>da</strong> de que<br />

enquanto proprietários <strong>da</strong> matéria-prima os músicos ocupem as últimas posições dentro<br />

do negócio <strong>da</strong> música” 98 .<br />

Organizador do primeiro evento internacional no Brasil destinado a fomentar<br />

cultura e debater os rumos <strong>da</strong> indústria fonográfica, a Feira <strong>da</strong> Música Independente<br />

(FMI), realiza<strong>da</strong> anualmente em Brasília, Vasconcellos credita à postura proativa dos<br />

músicos o ponto em que se espera chegar com o passar dos anos. A idéia é que ca<strong>da</strong><br />

vez mais os artistas se tornem donos de sua obra, a exemplo <strong>da</strong> cantora Daniela Mercury.<br />

O que Vasconcellos sustenta vai de encontro às idéias dissemina<strong>da</strong>s pela dupla<br />

de Berklee, Kusek e Leonhard, que vê no esfarelar do sistema jurássico fonográfico o<br />

advento de um novo modelo empresarial para essa indústria:<br />

A gente acredita que as empresas musicais do futuro vão ser ativas em<br />

uma varie<strong>da</strong>de de funções, incluindo o empresariamento artístico,<br />

editoração, agenciamento de shows, promoção e gravação. <strong>As</strong> marcas<br />

dos artistas vão dirigir o mercado, e as relações entre artistas, empresas<br />

e fãs tornarão os riscos mais toleráveis e o retorno dos investimentos<br />

mais previsíveis. (...) A empresa assina com o artista um acordo em que<br />

o músico retenha a posse do fonograma e apenas o licencie para a<br />

companhia por um tempo limitado. Os artistas criam suas próprias<br />

gravações e a empresa leva a música ao mercado em formatos digitais e<br />

analógicos, elabora todo o merchandising para vender o produto e<br />

fornece o empresariamento e a logística para a performance ao vivo 99 .<br />

Em “The Future of Music” os autores delineiam o sistema “music like water” ou<br />

“música como água”, que apresenta um futuro onde a música será flui<strong>da</strong> e onipresente<br />

98 VASCONCELLOS, Gustavo. Em entrevista concedi<strong>da</strong> à autora em 20 nov. 2005.<br />

99 KUSEK, LEONHARD, 2005: ps. 136 e 137.<br />

38


como os recursos hídricos 100 , a partir de uma assinatura mensal de aproxima<strong>da</strong>mente<br />

US$3 dólares, uma espécie de feels-like-free pass 101 , como explica Leonhard:<br />

No dia em que a gente puder ter uma conta de música, como temos a<br />

conta d´água, o mercado musical irá explodir e entraremos em um<br />

ecossistema que fará com que o modelo musical anterior pareça os táxis<br />

de Nova Iorque vistos do 30 o an<strong>da</strong>r do prédio <strong>da</strong> BMG: (..) as gravadoras<br />

e selos musicais serão empresas atuando em 360 o ; a rádio será down-<br />

(load)-cast 102 ; os serviços serão do tipo plug-and-play 103 , e, sim, a<br />

combinação de telefone celular com música vai matar o Ipod 104 .<br />

Para essa previsão, Kusek e Leonhard partem do princípio de que a reali<strong>da</strong>de<br />

digital tomará conta <strong>da</strong> indústria fonográfica, onde já se pode sentir os efeitos dos<br />

downloads de arquivos MP3 105 . Se por um lado o advento do Napster, polêmico programa<br />

desenvolvido pelo adolescente americano Shawn Fanning, em 1999, permitiu a livre troca<br />

de arquivos na rede, impulsionando a pirataria digital 106 , por outro a indústria fonográfica<br />

aponta para a possibili<strong>da</strong>de de legalização dessa nova forma de consumo.<br />

Lançado em abril de 2003 pela empresa Apple, o Itunes Music Store, serviço de<br />

ven<strong>da</strong>s de músicas avulsas pela Internet, hoje já comercializou cerca de 500 milhões de<br />

faixas, que englobam tanto artistas <strong>da</strong>s majors quanto de aproxima<strong>da</strong>mente 60 selos<br />

independentes ao redor do mundo 107 . No Brasil, apesar <strong>da</strong> febre ain<strong>da</strong> não estar<br />

dissemina<strong>da</strong>, o site iMusica, do diretor artístico <strong>da</strong> gravadora independente Nikita, Felipe<br />

Llerena, já contabiliza uma média de 20 mil downloads por mês, número que no início <strong>da</strong><br />

100 KUSEK, LEONHARD: 2005, p. 3.<br />

101 A expressão pode ser traduzi<strong>da</strong> por: “acesso livre como se fosse de graça”.<br />

102 Down-(load)-cast é um jogo de palavras que combina a expresão download, referente ao ato de baixar<br />

arquivos <strong>da</strong> Internet, em especial músicas, e podcast, espécie de rádio virtual que surgiu com o advento<br />

dos Ipods, aparelhos digitais portáteis capazes de reproduzir arquivos musicais downlodeados <strong>da</strong> Internet.<br />

<strong>As</strong> expressões são explica<strong>da</strong>s detalha<strong>da</strong>mente, bem como a polêmica acerca do direito autoral que lhes é<br />

implícita, em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7460.<br />

103 A expressão designa algo como “plugou, tocou”, mas perde a força do plug-and-play <strong>da</strong> língua inglesa,<br />

hoje já em domínio popular no Brasil.<br />

104 LEONHARD, 14 dez. 2004.<br />

105 Formato de compressão de áudio que permite a digitalização de músicas em arquivos muito menores do<br />

que o tradicional.<br />

106 Observatório <strong>da</strong> Imprensa, 2001: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/eno210220015.htm<br />

107 JOHN, jul. 2005.<br />

39


empresa, em 2003, não passava <strong>da</strong> faixa de três mil 108 . No ramo <strong>da</strong> telefonia celular, onde<br />

baixar ringtones e truetones 109 já é uma reali<strong>da</strong>de musical volta<strong>da</strong> aos adolescentes, não<br />

parece ser diferente. Parcerias entre gravadoras e companhias de telefonia móvel têm<br />

proporcionado o lançamento de faixas de novos álbuns de artistas como Gal Costa e<br />

Maria Rita antes que cheguem às lojas e selado uma curva de crescimento de conteúdo<br />

digital que chega mais do que a dobrar de um mês para o outro, segundo o diretor de<br />

negócios digitais <strong>da</strong> gravadora Trama, Felipe Savone 110 .<br />

De acordo com Eduardo Vicente, professor <strong>da</strong> USP, os meios digitais de produção<br />

estão provocando uma certa desorganização <strong>da</strong> indústria e levando a decisões<br />

estratégicas cujas conseqüências ain<strong>da</strong> não são totalmente claras 111 . Diante de<br />

mu<strong>da</strong>nças avassaladoras e em veloci<strong>da</strong>de atômica, estaria a indústria fonográfica<br />

passando por mais uma era de transição de formato e o CD teria chegado ao seu fim?<br />

Segundo Jerome Vonk, a inversão <strong>da</strong> valorização <strong>da</strong> música hoje justifica a troca<br />

desenfrea<strong>da</strong> de arquivos musicais e o pouco valor atribuído ao CD, o que vem<br />

acontecendo diante <strong>da</strong> distribuição generaliza<strong>da</strong> de brindes promocionais, como era usual<br />

em postos de gasolina. Vonk compara a prática ao meio editorial, onde raramente se vê<br />

livros sendo distribuídos gratuitamente, e afirma que o afã de se fechar números de<br />

marketing e a rapidez tecnológica não permitiram que a indústria parasse para se<br />

reestruturar diante <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças do mercado e dos hábitos do consumidor:<br />

Estamos passando por uma busca de caminhos e a tecnologia, nesse<br />

sentido, é um monstro que nós criamos, porque, na reali<strong>da</strong>de, ela vai<br />

muito mais rápido do que a nossa capaci<strong>da</strong>de de digestão. <strong>As</strong><br />

tecnologias estão popping up e não temos tempo de digeri-las. (...) <strong>As</strong><br />

reali<strong>da</strong>des convivem juntas em mercados culturais. Se você parar para<br />

ver, nunca houve uma mídia que substituísse a outra. O LP não sumiu,<br />

108 JOHN, jul. 2005.<br />

109 Ringtones e truetones são tipos de arquivos musicais reproduzidos pelos telefones celulares quando<br />

alguma ligação é recebi<strong>da</strong>.<br />

110 SILVA, 07 out. 2005.<br />

111 VICENTE, 2005.<br />

40


teve um upgrade tecnológico. Eu acho que o CD fica. Não creio na<br />

substituição <strong>da</strong>s mídias ou nessa convergência total <strong>da</strong>s mídias. (...) A<br />

indústria fonográfica está mu<strong>da</strong>ndo e não percebeu que quem, na<br />

reali<strong>da</strong>de, mudou foi o consumidor. Durante cinco anos, ele não foi<br />

brin<strong>da</strong>do com formas legítimas na Internet. E se há dez anos havia três<br />

opções de entretenimento, hoje há mais de vinte tentando pegar um<br />

pe<strong>da</strong>cinho do seu dinheiro 112 .<br />

Diante desse cenário, o produtor cultural Bruno Levinson completa:<br />

Quem trabalha com promoção de música deveria se preocupar agora. A<br />

tecnologia já barateou muito a produção e está na hora de sabermos<br />

utilizar essas novas ferramentas. (...) Acho que a música vai acabar<br />

funcionando muito mais como uma promoção do que o disco, o que para<br />

o consumidor é muito melhor. <strong>As</strong> gravadoras atrasaram muito o mercado<br />

por não terem percebido a força <strong>da</strong> Internet. Mas o hábito está mu<strong>da</strong>ndo,<br />

as pessoas não terão mais problema em pagar se souberem que a<br />

música é oficial, sem risco de conter vírus e se ganharem crédito para<br />

comprar outra. A gravadora terá de agregar valores, o que para o<br />

consumidor é muito bom. Não vejo na<strong>da</strong> de ruim no mercado do jeito<br />

que ele está indo. Só vejo aspectos muito positivos 113 .<br />

Portanto, se a pulverização e a multiplici<strong>da</strong>de de opções musicais por um lado<br />

tornam a previsão dos rumos <strong>da</strong> indústria fonográfica uma ciência opinativa, por outro<br />

descortina um horizonte de novas possibili<strong>da</strong>des musicais. Sobressairão aqueles que<br />

estiverem preparados para as mu<strong>da</strong>nças. Terá resposta quem fizer a pergunta certa.<br />

112 VONK, 22 nov. 2005.<br />

113 LEVINSON, 21 nov. 2005.<br />

41


Conclusão<br />

[ Quando a vivência supera a vidência ]<br />

A indústria <strong>da</strong> música não está em colapso. O talento, tampouco, está em crise no<br />

Brasil. <strong>As</strong> possibili<strong>da</strong>des de se consumir e produzir música estão longe de se esgotar. A<br />

falência atual é simplesmente de uma mentali<strong>da</strong>de retrógra<strong>da</strong>, inerte a mu<strong>da</strong>nças e<br />

sonolenta diante <strong>da</strong>s adversi<strong>da</strong>des.<br />

Conforme se pode perceber – e essa pesquisa espera ter contribuído para isso –,<br />

a centenária indústria musical precisa ser renova<strong>da</strong>, deixar para trás a bengala do<br />

ostracismo que a sustenta e seguir o fluxo <strong>da</strong>s novi<strong>da</strong>des que se descortinam. Não ser<br />

reativa, mas proativa. Não ser insensível às mu<strong>da</strong>nças, mas fazer delas sócias de seu<br />

negócio. A<strong>da</strong>ptar-se rapi<strong>da</strong>mente para não ser forçosamente desa<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>.<br />

O futuro que agora germina é para os férteis em criativi<strong>da</strong>de. E não<br />

necessariamente precisa excluir uma forma ou outra de produção. Não há substituição,<br />

mas soma, convergência, pulverização. De idéias e de iniciativas. Não importa se de<br />

minors, majors ou indies. Tampouco se através de fonógrafo, gramofone, cassete, LP,<br />

CD, MP3, toques celulares ou de qualquer nova tecnologia que se aproxime.<br />

O urgente é abraçar o novo. E transformá-lo em uma cadeia de conhecimento, à<br />

qual essa pesquisa espera ter contribuído.<br />

42


“The future is already here.<br />

It´s just unevenly distributed.”<br />

“O futuro é agora. Só não está<br />

completamente disseminado.”<br />

[William Gibson]<br />

43


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ECA/USP. Disponível em: http://intercom.org.br/papers/xxiii-ci/gt22/gt22a3.pdf.<br />

Acesso em 20 set. 2005.<br />

VONK, Jerome. Diretor executivo <strong>da</strong> <strong>As</strong>sociação Brasileira <strong>da</strong> Música<br />

Independente (ABMI). Entrevista concedi<strong>da</strong> à autora em 22 nov. 2005.<br />

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