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Edição princeps dos “POEMAS LUSITANOS” - Universidade do Minho

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<strong>Universidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Minho</strong><br />

Estu<strong><strong>do</strong>s</strong> Portugueses e Lusófonos<br />

Literatura Portuguesa II<br />

<strong>Edição</strong> <strong>princeps</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong><br />

<strong>“POEMAS</strong> <strong>LUSITANOS”</strong><br />

de António Ferreira<br />

Daniel Tavares n.º 47845<br />

João Carvalho n.º 47841


Índice<br />

<strong>Edição</strong> <strong>princeps</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>“POEMAS</strong> <strong>LUSITANOS”</strong> de António Ferreira<br />

Apontamentos intrdutórios……………………………………………………………....2<br />

Introdução………………………………………………………………...……...3<br />

Meto<strong>do</strong>logia…………………………………………………………………...…4<br />

Síntese biográfica <strong>do</strong> autor………………………………...…………...………..4<br />

Organização da obra…………………………………………………………...………...7<br />

Elementos paratextuais………………………………………………………..………..10<br />

Frontispício……………………………………………………………….…….11<br />

Licenças……………………………………………………...………………....11<br />

Prólogo/dedicatória……………………………………………………………..12<br />

Alvará régio……………………………………………………...………….….12<br />

Composições em louvor <strong>do</strong> autor………………………………………………13<br />

“Aos bons engenhos”…………………………………………………………...14<br />

Errata…………………………………………………………………………....14<br />

Tabuada…………………………………………………………..........……......15<br />

Comentário a um soneto <strong>do</strong> autor…………………………………………...…………16<br />

Conclusão………………………………………………………………………………20<br />

Referências bibliográficas…………………………………………………...…………21<br />

2


<strong>Edição</strong> <strong>princeps</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>“POEMAS</strong> <strong>LUSITANOS”</strong> de António Ferreira<br />

APONTAMENTOS INTRODUTÓRIOS<br />

3


INTRODUÇÃO<br />

<strong>Edição</strong> <strong>princeps</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>“POEMAS</strong> <strong>LUSITANOS”</strong> de António Ferreira<br />

O presente trabalho insere-se num projecto de divulgação <strong>do</strong> acervo<br />

bibliográfico da Biblioteca Pública de Braga, unidade cultural da <strong>Universidade</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Minho</strong>. O projecto tem vin<strong>do</strong> a ser desenvolvi<strong>do</strong> no âmbito da unidade curricular de<br />

Literatura Portuguesa 2, cujo programa incide sobre as obras de Francisco de Sá de<br />

Miranda, António Ferreira e Luís de Camões. Neste contexto, tomámos como objecto<br />

de análise a edição <strong>princeps</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> Poemas Lusitanos de António Ferreira, da qual existe<br />

um exemplar em bom esta<strong>do</strong> de conservação, feito in-8º, que pode ser consulta<strong>do</strong> sob a<br />

cota Res. 546 A.<br />

Os Poemas Lusitanos contêm to<strong><strong>do</strong>s</strong> os textos líricos de António Ferreira, bem<br />

como a tragédia Castro. António Ferreira deixou a obra organizada e pronta para<br />

edição, no entanto, foi Miguel Leite Ferreira, filho <strong>do</strong> poeta, que em 1598, já depois da<br />

morte <strong>do</strong> pai, dedicou a sua obra a D. Filipe I. Os Poemas Lusitanos foram edita<strong><strong>do</strong>s</strong> por<br />

Pedro Crasbeeck na oficina <strong>do</strong> livreiro Estevão Lopez.<br />

António Ferreira organizou os seus textos líricos à maneira <strong>do</strong> «canzioniere» de<br />

Petrarca, ou seja, deu-lhes uma ordem de forma a que cada texto funcione como peça<br />

integrante <strong>do</strong> macrotexto constituí<strong>do</strong> pela totalidade <strong><strong>do</strong>s</strong> poemas. Tal organização é<br />

mais evidente no que diz respeito aos sonetos, dispostos à maneira de um cancioneiro-<br />

romance, já que os <strong>do</strong>is livros de sonetos relatam episódios da vida amorosa <strong>do</strong> poeta,<br />

constituin<strong>do</strong>, assim, uma autobiografia poética. Porém, a obra tem também marca de<br />

cancioneiro serial já que está organizada por agrupamentos de formas poéticas (sonetos,<br />

cartas, odes, elegias…)<br />

António Ferreira contribuiu decisivamente para a construção e posterior<br />

afirmação da língua portuguesa na literatura, já que foi o primeiro autor a produzir a sua<br />

obra exclusivamente em português.<br />

4


METODOLOGIA<br />

<strong>Edição</strong> <strong>princeps</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>“POEMAS</strong> <strong>LUSITANOS”</strong> de António Ferreira<br />

O presente estu<strong>do</strong> pretende debruçar-se sobre a organização estrutural da obra,<br />

focan<strong>do</strong> essencialmente os elementos paratextuais que, não fazen<strong>do</strong> parte <strong>do</strong> texto, o<br />

explicam e enriquecem.<br />

Para a realização deste estu<strong>do</strong> foi utiliza<strong>do</strong> um exemplar da edição <strong>princeps</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong><br />

Poemas Lusitanos de António Ferreira, existente na Biblioteca Pública de Braga. Dada<br />

a impossibilidade de fotocopiar a obra, a mesma foi fotografada, recorren<strong>do</strong> a uma<br />

máquina fotográfica digital, sen<strong>do</strong> as fotografias abaixo apresentadas.<br />

SÍNTESE BIOGRÁFICA DO AUTOR<br />

Nasci<strong>do</strong> em Lisboa, em 1528, <strong>do</strong>utor na faculdade de direito civil em Coimbra,<br />

desembarga<strong>do</strong>r na Casa da Suplicação e fidalgo da Casa Real. Filho de Martim Ferreira<br />

que fora Cavaleiro da Ordem de São Tiago e Escrivão da Fazenda de D. Jorge, Duque<br />

de Coimbra e de Mecia Froes Varella.<br />

Enquanto estudava Jurisprudência notava-se já uma natural inclinação para a<br />

poesia, inclinação esta que transmitia aos seus condiscípulos. A sua arte era de tal forma<br />

admirada pelos seus alunos que estes lhe entregavam as suas composições de forma a<br />

ele as aperfeiçoar, como se verifica nas palavras que Diogo Bernardes lhe dirigiu na<br />

Epístola 12:<br />

« Conƒe∫∫o dever tu<strong>do</strong> àquella rara<br />

Doutrina tua, que me quiz ∫er guia<br />

Ao celebra<strong>do</strong> monte, à ƒonte clara.<br />

E por te dever mais, ∫e à luz <strong>do</strong> dia<br />

Te parece, que fayiaõ meus e∫critos<br />

Na tua penna e∫ta ∫ua valia.»<br />

Apesar <strong>do</strong> seu ofício de desembarga<strong>do</strong>r, nunca interrompeu a criação poética,<br />

seja reformulan<strong>do</strong> as suas obras de juventude, seja produzin<strong>do</strong> novas, até à data da sua<br />

5


<strong>Edição</strong> <strong>princeps</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>“POEMAS</strong> <strong>LUSITANOS”</strong> de António Ferreira<br />

morte, em 1569, em Lisboa onde a peste que assolou a cidade também lhe foi fatal.<br />

Encontra-se sepulta<strong>do</strong> no Cruzeiro <strong>do</strong> Convento <strong>do</strong> Carmo.<br />

O seu amigo Diogo Bernardes chega mesmo a comparar a sua arte à de Homero<br />

e Vergílio no fim de uma elegia a Pedro Andrade Caminha:<br />

«Ah bom cultor da Mu∫a Portugueza<br />

Qual foy Virgílio a Roma, a Grécia Homero,<br />

Tal ƒo∫te tu à tua natureza.»<br />

A sua obra mais emblemática, Poemas Lusitanos, foi editada e dedicada pelo seu<br />

filho, Miguel Leite Ferreira, ao Príncipe D. Filipe em 1598, 29 anos após a morte de seu<br />

pai.<br />

Talvez pelo facto <strong><strong>do</strong>s</strong> poemas terem si<strong>do</strong> publica<strong><strong>do</strong>s</strong> após a morte <strong>do</strong> seu autor,<br />

alguns versos saíram altera<strong><strong>do</strong>s</strong> por infidelidade das cópias «risco a que estão sujeitos<br />

todas as obras cujas impressões não assistem os próprios autores.» (SILVA, 1972: p.<br />

138). A mesma fonte acrescenta ainda: «parece que o exemplar que serviu de original<br />

para esta edição phostuma deixa alguma desconfiança de que n´elle se introduziriam<br />

algumas composições alheias, taes como os sonetos XXXIV e XXXV <strong>do</strong> livro 2º,<br />

postoque o editor diga que seu pae os fizera na linguagem que em Portugal se usava no<br />

tempo d´elrei D. Diniz, e que se divulgaram em nome <strong>do</strong> infante D. Affonso, filho<br />

primogenito d´aquele rei – Mas Faria de Sousa, que devemos supor bem informa<strong>do</strong>, e<br />

que nenhum interesse tinha em occultar a verdade, quer na sua Fonte de Aganippe,<br />

Parte I, Discurso de los Sonetos, que elles fossem verdadeiramente compostos pelo<br />

infante D. Pedro, filho <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> rei D. Diniz.»<br />

Incluída em Poemas Lusitanos encontra-se a tragédia Castro. As comédias<br />

Bristo e Cioso, da sua autoria, foram editadas pela primeira vez juntamente com<br />

Vilhalpan<strong><strong>do</strong>s</strong> e Estrangeiros de Francisco Sá de Miranda, sob o título de Comédias<br />

famosas Portuguezas <strong><strong>do</strong>s</strong> Doutores Francisco Sá de Miranda e António Ferreira por<br />

António Alvares em 1622.<br />

Em 1771 surge uma segunda edição <strong><strong>do</strong>s</strong> Poemas com o seguinte título: Poemas<br />

Lusitanos <strong>do</strong> Doutor António Ferreira: Segunda impressão emendada e acrescentada<br />

com a vida e comédias <strong>do</strong> mesmo poeta, em <strong>do</strong>is tomos, editada pelos livreiros Dubeux<br />

e dirigida por Pedro José da Fonseca, autor da Vida <strong>do</strong> poeta, incluída no início <strong>do</strong><br />

primeiro tomo.<br />

6


<strong>Edição</strong> <strong>princeps</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>“POEMAS</strong> <strong>LUSITANOS”</strong> de António Ferreira<br />

A tragédia Castro havia já si<strong>do</strong> publicada em 1587 sob o título de: Tragédia muy<br />

sentida e elegante de Dona Ignez de Castro, a qual foi apresentada na cidade de<br />

Coimbra. Agora novamente acrescentada. Impressa com a licença de Manuel de Lyra<br />

1587. «A edição mais antiga que d´esta tragédia se conhece, feita onze annos antes da<br />

publicação das outras obras de Ferreira, é a de que o Doutor António Ribeiro <strong><strong>do</strong>s</strong><br />

Sanctos possuía um exemplar na sua selecta bibliotheca, e que por morte d´elle passou<br />

para a livraria de Monsenhor Gor<strong>do</strong>, onde a viu o erudito bibliophilo José da Silva<br />

Costa: e conforme ao testemunho d´este.» (SILVA, 1872: p. 140). Surgiu, também, em<br />

1598 uma outra edição intitulada: Tragédia de D. Ignêz de Castro, pelo Doutor António<br />

Ferreira, sem referência ao impressor, mas suja data se revelou, posteriormente,<br />

falsificada, pois tu<strong>do</strong> indica ser mais recente, talvez de mea<strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>do</strong> século XVII. Em<br />

relação a esta edição, Inocêncio Francisco da Silva, no seu Dicionário Bibliográfico<br />

Português, considera tratar-se apenas de uma reprodução da que havia si<strong>do</strong> impressa<br />

nos Poemas em 1598.<br />

A autoria desta tragédia foi no entanto alvo de controvérsia após o surgimento de<br />

duas tragédias em língua castelhana, atribuídas a Frei Jerónimo Bermudes, que salvo<br />

insignificantes omissões e aumento de versos, eram em tu<strong>do</strong> idênticas à obra de<br />

Ferreira. No entanto, Martinez de La Rosa, após atura<strong>do</strong> estu<strong>do</strong>, considera que a obra <strong>do</strong><br />

português era a verdadeira original. Outras controvérsias se seguiram relativas à sua<br />

autoria, mas sem nunca se revelarem suficientemente sólidas.<br />

A Castro foi internacionalmente acolhida, como o demonstram as traduções<br />

efectuadas tanto em francês (imprimida em Paris) como a sua versão inglesa traduzida<br />

por Musgrave (já tradutor <strong><strong>do</strong>s</strong> Lusíadas) publicada em Londres em 1823.<br />

7


<strong>Edição</strong> <strong>princeps</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>“POEMAS</strong> <strong>LUSITANOS”</strong> de António Ferreira<br />

ORGANIZAÇÃO DA OBRA<br />

8


POEMAS LUSITANOS<br />

Primeira parte<br />

Sonetos<br />

<strong>Edição</strong> <strong>princeps</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>“POEMAS</strong> <strong>LUSITANOS”</strong> de António Ferreira<br />

(Forma estrófica fixa composta por <strong>do</strong>is quartetos e <strong>do</strong>is tercetos. Escrito<br />

geralmente em decassílabos, a rima mais comum é abba abba cdc cdc).<br />

- Livro I -Composições de tema amoroso, dedicadas a duas figuras<br />

femininas. Abordam temas relaciona<strong><strong>do</strong>s</strong> com peripécias ocorridas “in vita”<br />

da(s) amada(s).<br />

juventude em Coimbra.<br />

Sonetos I e II: sonetos-prólogo.<br />

Sonetos III a XXXII: inspira<strong><strong>do</strong>s</strong> por Jerónima Serra, amor de<br />

Sonetos XXXIII a LVIII: inspira<strong><strong>do</strong>s</strong> sobretu<strong>do</strong> pelo amor<br />

nutri<strong>do</strong> por Maria Pimentel, sua primeira esposa, embora ocorram<br />

referências a um “novo amor”, provavelmente a sua segunda mulher, Maria<br />

Leite.<br />

- Livro II –Série de poemas dedica<strong><strong>do</strong>s</strong> a uma mulher já falecida e<br />

composições de circunstância. Abordam temas relaciona<strong><strong>do</strong>s</strong> com<br />

acontecimentos “in mortem” da amada.<br />

Sonetos I a XII: dedica<strong><strong>do</strong>s</strong> à morte de Maria Pimentel.<br />

Sonetos XIII a XXXVII: circunstanciais ou elegíacos<br />

(dedica<strong><strong>do</strong>s</strong> a personalidades da época, amigos, eventos).<br />

9


Epigramas<br />

Odes<br />

Éclogas<br />

<strong>Edição</strong> <strong>princeps</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>“POEMAS</strong> <strong>LUSITANOS”</strong> de António Ferreira<br />

Sonetos XXXVIII a XLIV: religiosos (dedica<strong><strong>do</strong>s</strong> à Virgem, a<br />

Cristo ou a figuras de santos).<br />

(Composições literárias em verso, de carácter festivo ou satírico).<br />

(Composições líricas de tema solene e linguagem elevada, é considerada<br />

a mais reflexiva e a menos sentimental das formas líricas).<br />

- Livro I<br />

- Livro II<br />

Epitalâmios<br />

(Composições bucólicas em que costumam aparecer diálogos entre<br />

pastores acerca <strong><strong>do</strong>s</strong> seus amores ou sobre a vida campestre. Em Portugal,<br />

o subgénero foi introduzi<strong>do</strong> por Sá de Miranda e cultiva<strong>do</strong> por António<br />

Ferreira).<br />

(Composições líricas para celebração de um casamento. Originalmente<br />

acompanhavam a celebração da boda).<br />

História de Santa Comba <strong><strong>do</strong>s</strong> Vales<br />

Segunda parte<br />

Cartas<br />

- Livro I<br />

- Livro II<br />

Epitáfios<br />

Tragédia Castro<br />

(Composições de carácter fúnebre).<br />

Elegia de Diogo Bernardes a Pêro Andrade na morte de António Ferreira<br />

(A elegia é uma composição poética, caracterizada por um tom e um<br />

argumento triste e melancólico. A temática desenvolve-se, geralmente,<br />

em torno de assuntos relaciona<strong><strong>do</strong>s</strong> com a morte, o cativeiro ou o<br />

desengano amoroso).<br />

Resposta de Pêro Andrade<br />

10


<strong>Edição</strong> <strong>princeps</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>“POEMAS</strong> <strong>LUSITANOS”</strong> de António Ferreira<br />

ELEMENTOS PARATEXTUAIS<br />

11


FRONTISPÍCIO<br />

Autor<br />

Editor<br />

Impressor<br />

<strong>Edição</strong> <strong>princeps</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>“POEMAS</strong> <strong>LUSITANOS”</strong> de António Ferreira<br />

TRAHIT SVA QVEMQVE VOLUPTAS<br />

(Cada um é arrasta<strong>do</strong> pelo seu próprio prazer)<br />

Virgílio, Bucólicas, 2.65<br />

Na ilustração presente no frontispício da edição <strong>princeps</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> Poemas Lusitanos<br />

encontra-se representada uma imagem de um girassol inclinan<strong>do</strong>-se para o sol,<br />

funcionan<strong>do</strong> como metáfora <strong>do</strong> poeta e da poesia.<br />

LICENÇAS<br />

LICENÇA DO SANTO OFÍCIO<br />

Com a Inquisição é instituí<strong>do</strong> o tribunal censório,<br />

que decidia se a obra estava conforme a moral e os<br />

bons costumes e dava ou não autorização para a<br />

sua publicação.<br />

LICENÇA DO PAÇO<br />

Título da obra<br />

Dedicatória<br />

Ilustração<br />

Local de edição<br />

Ano de edição<br />

Licença concedida pela autoridade régia, na época,<br />

D. Filipe I (1527-1598), cujo reina<strong>do</strong> se estendeu<br />

desde 1580 até à data da sua morte, em 1598,<br />

evidenciada no Alvará Régio abaixo figura<strong>do</strong>.<br />

12


PRÓLOGO/DEDICATÓRIA<br />

<strong>Edição</strong> <strong>princeps</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>“POEMAS</strong> <strong>LUSITANOS”</strong> de António Ferreira<br />

O prólogo, escrito por Miguel Leite<br />

Ferreira, é dedica<strong>do</strong> a D. Filipe I.<br />

O filho de António Ferreira critica o facto<br />

de, ao contrário <strong>do</strong> pai, os autores portugueses da<br />

época não escreverem as suas obras em língua<br />

portuguesa.<br />

Encomia D. João III (tio de D. Filipe I),<br />

pelo seu serviço em prol da língua portuguesa,<br />

“espertan<strong>do</strong> os estu<strong><strong>do</strong>s</strong> das letras e a universidade<br />

de Coimbra”.<br />

Elogia Sá de Miranda pelo seu papel de inova<strong>do</strong>r da literatura portuguesa, poeta<br />

cujo exemplo foi segui<strong>do</strong> por seu pai. Refere ainda as dificuldades de edição da obra<br />

(esteve 40 anos pronta para publicação).<br />

Miguel Leite Ferreira busca obter o favor régio, recorren<strong>do</strong> ao artifício retórico<br />

da captatio benevolentiae.<br />

ALVARÁ RÉGIO<br />

Autorização de exclusividade de impressão,<br />

concedida pela autoridade régia – D. Filipe I.<br />

Define o privilégio da obra, isto é, determina o<br />

perío<strong>do</strong> durante o qual o editor tem exclusividade<br />

de editar ou comercializar a obra (neste caso, 10<br />

anos).<br />

Faz também referência à pena passível de<br />

ser cumprida por quem desrespeitar a<br />

exclusividade editorial.<br />

13


<strong>Edição</strong> <strong>princeps</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>“POEMAS</strong> <strong>LUSITANOS”</strong> de António Ferreira<br />

COMPOSIÇÕES EM LOUVOR DO AUTOR<br />

De Francisco de Moura. A António Ferreira, em<br />

vida.<br />

Francisco Rolim de Moura (1572-1640). Escritor,<br />

nasci<strong>do</strong> e faleci<strong>do</strong> em Lisboa. Entrou ao serviço <strong>do</strong><br />

paço após concluir os estu<strong><strong>do</strong>s</strong> de letras e<br />

matemática. Foi presidente da Junta das Lezírias e<br />

senhor das vilas de Azambuja e Montargil. Das<br />

suas composições poéticas, apenas resta o poema<br />

Dos Novíssimos <strong>do</strong> Homem, de 1623. Em prosa<br />

redigiu, entre outras obras, Arte de Tourear, Aforismos e Apologia <strong>do</strong> Poema <strong><strong>do</strong>s</strong><br />

Novíssimos <strong>do</strong> Homem.<br />

De Jerónimo Corte Real.<br />

Jerónimo Corte Real (1530-1590). Escritor, nasci<strong>do</strong> nos Açores e faleci<strong>do</strong> em Évora. De<br />

família de célebres navega<strong>do</strong>res e fidalgo, foi poeta, pintor e provavelmente também<br />

músico. Gozou de grande prestígio em vida, mas esse prestígio não corresponde ao<br />

valor literário <strong><strong>do</strong>s</strong> seus poemas épicos: Sucessos <strong>do</strong> Segun<strong>do</strong> Cerco de Diu, 1574 e<br />

Naufrágio de Sepúlveda, 1594. Publicou também o Auto <strong><strong>do</strong>s</strong> Novíssimos <strong>do</strong> Homem,<br />

1568 e o poema Austríada.<br />

De Francisco de Sá de Meneses, na morte de António Ferreira.<br />

Francisco de Sá de Meneses (1600?-1664). Escritor, natural <strong>do</strong> Porto, era primo <strong>do</strong> seu<br />

homónimo conde de Matosinhos. Enviuvan<strong>do</strong>, em 1642 fez-se <strong>do</strong>minicano com o nome<br />

de frei Francisco de Jesus. Compôs sátiras, a tragédia D. Maria Teles e Malaca<br />

Conquistada, poema épico em que é patente a influência de Camões. Publica<strong>do</strong> em<br />

1634, reeditou-o em 1658 com acrescentamentos e modificações.<br />

14


“AOS BONS ENGENHOS”<br />

<strong>Edição</strong> <strong>princeps</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>“POEMAS</strong> <strong>LUSITANOS”</strong> de António Ferreira<br />

A obra é dirigida por António Ferreira a um<br />

grupo de pessoas, os “espritos dignos de ouvir as<br />

inspirações de Febo, deus da poesia” (FERREIRA,<br />

2000a: XVII)<br />

António Ferreira pretende, com “aos bons<br />

engenhos”, dedicar a obra a todas as pessoas que se<br />

dedicam ao estu<strong>do</strong> da poesia em língua portuguesa.<br />

“Nesta poesia liminar Ferreira anuncia muito da<br />

temática de Poemas Lusitanos: o amor, o<br />

patriotismo, o culto da poesia ou das Musas, e o desejo de comunicar só com um grupo<br />

de amigos cultos.” (FERREIRA, 2000b: 479)<br />

ERRATA<br />

As emendas apresentadas na errata não se<br />

encontram na maior parte <strong><strong>do</strong>s</strong> volumes impressos<br />

(caso <strong>do</strong> volume analisa<strong>do</strong>), já que Miguel Leite<br />

Ferreira os corrigiu no decurso da impressão.<br />

15


TABUADA<br />

<strong>Edição</strong> <strong>princeps</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>“POEMAS</strong> <strong>LUSITANOS”</strong> de António Ferreira<br />

Equivale ao índice, que neste caso aparece<br />

no final da obra, com a particularidade de estar<br />

organizada alfabeticamente na parte referente aos<br />

sonetos. Esta organização subverte o conceito de<br />

“canzioniere” petrarquista, na medida em que<br />

altera a ordem sequencial <strong><strong>do</strong>s</strong> poemas presentes na<br />

obra.<br />

16


<strong>Edição</strong> <strong>princeps</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>“POEMAS</strong> <strong>LUSITANOS”</strong> de António Ferreira<br />

COMENTÁRIO A UM SONETO DO AUTOR<br />

17


Soneto XXXIII, Livro I<br />

<strong>Edição</strong> <strong>princeps</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>“POEMAS</strong> <strong>LUSITANOS”</strong> de António Ferreira<br />

Ev vi em vo∫∫os olhos nouo lume,<br />

Qu’apartan<strong>do</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> meus a neuoa e∫cura,<br />

Viram outra e∫condida fermo∫ura,<br />

Fora da forte, & <strong>do</strong> geral co∫tume.<br />

Em vão ∫eu arco Amor armar prefume:<br />

Que e∫∫e alto ∫prito, e∫∫a con∫tancia dura<br />

A outro mais alto Amor guarda a fé pura,<br />

Em mais diuino fogo ∫e con∫ume.<br />

Ne∫ta de∫confiança inda s’acende,<br />

Em mim hum vão de∫ejo de aprazeruos,<br />

E pêra i∫∫o ∫o bu∫co ingenho, & arte.<br />

Senhora que al fará quem chega a veruos<br />

(Ia qu’o de∫ejo a mais ∫enão e∫tende)<br />

Que daruos de ∫u’alma toda parte?<br />

(Ferreira, 2000a: s. p.)<br />

Eu vi em vossos olhos novo lume,<br />

qu’apartan<strong>do</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> meus a névoa escura,<br />

viram outra escondida fermosura,<br />

fora da sorte, e <strong>do</strong> geral costume.<br />

Em vão seu arco Amor armar presume,<br />

que esse alto esprito, essa constância dura,<br />

a outro mais alto Amor guarda a fé pura,<br />

em mais divino fogo se consume.<br />

Nesta desconfiança inda s’acende<br />

em mim um vão desejo de aprazer-vos,<br />

e pera isso só busco ingenho, e arte.<br />

Senhora, que al fará quem chega a ver-vos,<br />

(já que o desejo a mais se não estende)<br />

que dar-vos de su’alma toda parte?<br />

Actualização ortográfica por T. F. Earle (Ferreira, 2000b: 65)<br />

18


Comentário<br />

<strong>Edição</strong> <strong>princeps</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>“POEMAS</strong> <strong>LUSITANOS”</strong> de António Ferreira<br />

A escolha para o comentário incide sobre o soneto que tem por incipit “Eu vi em<br />

vossos olhos novo lume,” por considerarmos que congrega em si uma série de<br />

elementos que apontam para o surgimento de um novo actante feminino na obra poética<br />

de António Ferreira, como escreve Earle no seu comentário a este soneto: “ Soneto<br />

importante, porque marca o início da série das poesias <strong>do</strong> amor novo que só acaba, após<br />

algumas peripécias, com a reunião triunfante <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>do</strong>is amantes no final <strong>do</strong> Livro I.”<br />

(FERREIRA, 2000b: 488).<br />

Este soneto revela, <strong>do</strong> ponto de vista formal, a particularidade de apresentar, nos<br />

tercetos, um esquema rimático (cde/dce) distinto <strong><strong>do</strong>s</strong> tradicionais cdc/dcd e cdc/cdc.<br />

Formalmente, observa-se ainda a influência petrarquista na métrica a<strong>do</strong>ptada: o verso<br />

decassilábico.<br />

O poema retoma uma temática já abordada na Vita Nuova de Dante e nos<br />

sonetos de Boscán, como refere Rita Marnoto. Assim, o autor aspira a um amor mais<br />

eleva<strong>do</strong>: “a outro mais alto Amor guarda a fé pura,” (v 7). Apesar de existir a ideia de<br />

mudança, o poeta mantém o uso <strong><strong>do</strong>s</strong> artifícios petrarquistas, como se nota na<br />

manifestação encomiástica, quer fisicamente, “viram outra escondida fermosura,” (v 3),<br />

quer psicologicamente, “que esse alto esprito, essa constância dura,”. O desejo de<br />

mudança manifesta-se na constante comparação estabelecida entre o antigo e o “outro<br />

mais alto amor” (v 7). Supõe-se que, o novo amor a que se refere António Ferreira seja<br />

Maria Pimentel, que viria a ser a sua segunda mulher, após o falecimento da sua<br />

primeira esposa, Jerónima Serra.<br />

Esta composição funciona como uma quase ressurreição <strong>do</strong> sujeito lírico, criada<br />

pelo “novo lume” <strong><strong>do</strong>s</strong> olhos da amada que afastou a “névoa escura” onde havia<br />

mergulha<strong>do</strong>.<br />

No final da segunda quadra é fortemente vincada o ideal neoplatónico da<br />

subjugação <strong>do</strong> sujeito poético em relação à mulher amada, colocada numa posição<br />

elevada, mais próxima <strong><strong>do</strong>s</strong> deuses que <strong><strong>do</strong>s</strong> mortais: “a outro mais alto Amor guarda a fé<br />

pura, / em mais divino fogo se consume.”. Para justificar a diferente condição da mulher<br />

amada, o poeta procura, através da captatio benevolentiae, explicar as dificuldades<br />

sentidas na criação poética, referin<strong>do</strong> a necessidade de conciliar a arte e o engenho,<br />

conceito inspira<strong>do</strong> na arte poética horaciana, que defende a reunião da ars e <strong>do</strong><br />

ingenium para que o poeta, e a sua obra, se tornem “imortais”.<br />

19


<strong>Edição</strong> <strong>princeps</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>“POEMAS</strong> <strong>LUSITANOS”</strong> de António Ferreira<br />

O segun<strong>do</strong> terceto revela um outro preceito neoplatónico, a estética da<br />

contemplação, já que a admiração visual <strong>do</strong> objecto ama<strong>do</strong> por parte <strong>do</strong> sujeito lírico é<br />

condição suficiente e satisfatória para a sua plena realização amorosa.<br />

António Ferreira fecha a sua composição, declaran<strong>do</strong> a sua total dedicação à sua<br />

amada, entregan<strong>do</strong>-lhe a sua alma:<br />

Senhora, que al fará quem chega a ver-vos,<br />

(já que o desejo a mais se não estende)<br />

que dar-vos de su’alma toda parte?<br />

20


Conclusão<br />

<strong>Edição</strong> <strong>princeps</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>“POEMAS</strong> <strong>LUSITANOS”</strong> de António Ferreira<br />

A realização deste trabalho possibilitou-nos o contacto com obras seculares,<br />

dan<strong>do</strong>-nos a conhecer o seu mo<strong>do</strong> de construção (formato, paginação, encadernação,<br />

tipo de papel…).<br />

No caso <strong><strong>do</strong>s</strong> Poemas Lusitanos, o manuseio da obra permitiu-nos verificar que o<br />

esta<strong>do</strong> de conservação da edição <strong>princeps</strong>, apesar <strong><strong>do</strong>s</strong> quatro séculos que separam a data<br />

da edição <strong><strong>do</strong>s</strong> nossos dias, é excelente.<br />

Foi muito útil a observação/análise <strong><strong>do</strong>s</strong> elementos paratextuais, na medida em<br />

que nos proporcionou um ponto de vista mais abrangente da literatura renascentista<br />

portuguesa.<br />

A obra encontra-se na Biblioteca Pública de Braga, que não possui ainda<br />

ficheiros informatiza<strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>do</strong> seu acervo bibliográfico. Assim, a pesquisa teve,<br />

necessariamente de ser manual. Este factor, se por um la<strong>do</strong> torna qualquer pesquisa<br />

mais demorada, por outro, permite a manipulação <strong><strong>do</strong>s</strong> ficheiros de forma mais pessoal.<br />

Os conhecimentos adquiri<strong><strong>do</strong>s</strong> mostrar-se-ão com certeza úteis para a realização<br />

de futuros trabalhos.<br />

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Referências Bibliográficas:<br />

<strong>Edição</strong> <strong>princeps</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>“POEMAS</strong> <strong>LUSITANOS”</strong> de António Ferreira<br />

FERREIRA, António (1598), Poemas Lusitanos, Lisboa: Pedro Crasbeeck.<br />

FERREIRA, António (2000a), Poemas Lusitanos. <strong>Edição</strong> “Fac-similada” da edição de<br />

1598, (estu<strong><strong>do</strong>s</strong> introdutórios de Vítor Aguiar e Silva, T. F. Earle e Aníbal Pinto de<br />

Castro), Braga: <strong>Universidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Minho</strong>.<br />

FERREIRA, António (2000b), Poemas Lusitanos, (edição crítica, introdução e<br />

comentário de T. F. Earle), Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.<br />

MACHADO, Diogo Barbosa (1965), Bibliotheca Lusitana, (Reprodução da edição<br />

<strong>princeps</strong> de 1741). Coimbra: Atlântida Editora, 4 Volumes.<br />

SILVA, Inocêncio Francisco da (1972). Dicionário Bibliográfico Português,<br />

(Reprodução fac-similada da edição de 1927). Lisboa, Impressa Nacional, volume II,<br />

pp. 138-141.<br />

(1984), Lexicoteca – Moderna Enciclopédia Universal, Lisboa: Círculo de Leitores.<br />

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