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~~ fI4, atfd;:u ~? Mesmo que não falhes um treino, naturalmente a tua actividade física nunca será tão intensa como a dos atletas profissionais que vivem para <strong>treinar</strong>. Todos temos os nossos objectivos no trabalho. No caso dos atletas de elite estes têm que trabalhar para marcas, além de que a vida competitiva termina cedo, o que não facilita a pressão diária com que vivem. Mas os que vão longe, como <strong>Naide</strong> <strong>Gomes</strong>, têm uma característica comum: adoram aquilo que fazem e treinam muito duro todos os dias para se superarem ... O treino da vice campeã europeia de salto em comprimento depende da época, que tem início em Outubro, já que as competições terminam no início de Setembro. Depois das férias, um período que marca a paragem da desgastante preparação anual, a atleta recomeça gradualmente a <strong>treinar</strong>. Abreu Matos, treinador de <strong>Naide</strong> <strong>Gomes</strong>, explica que «no início da época, o trabalho centra-se na melhoria da condição física geral, sem nenhuma componente de ordem técnica ou específica do salto em comprimento. Pelo contrário, o género de trabalho é mais voltado para o treino generalista com saltos, multi-saltos (uma sucessão de saltos de uma perna para a outra), ou corridas em rampa com pouco tempo de intervalo. Todo o treino é progressivo, a época não inicia logo com um volume muito grande». Durante cerca de mês e meio a dois meses, o trabalho de ginásio realizado no 'período inicial do pós-férias é muito geral, com muito volume de treino centrado na resistência muscular. «Depois começa-se a intercalar treinos na pista e treinos na mata, com treinos mais específicos sobre barreiras, saltos na areia, trabalho multi-saltos já no sintético sem calçar ainda os sapatos de bicos», explica o treinador. De qualquer modo, e tal como acontece com alguns atletas de alta competição, existem muitas as lesões resultantes de um treino tão intensivo e, no caso da <strong>Naide</strong>, os joelhos, particularmente o esquerdo (a sua perna de impulsão), são a sua maior preocupação. Isto implica um duplo trabalho de ganhar força e resistência muscular sem debilitar o joelho. Claro que todos os atletas, inclusivamente nas disciplinas técnicas do atletismo, trabalham obrigatoriamente a flexibilidade geral, que no caso da <strong>Naide</strong> é aliada à componente específica de alongamentos mais orientados para o salto em comprimento. Depois da fase inicial, o treino intensifica, havendo dois picos no período competitivo de Inverno - em Fevereiro - e no período competitivo de Verão - em Junho. <strong>Naide</strong> treina 7 vezes por semana nestas alturas, e nos períodos anteriores de preparação a atleta faz treinos bi-diários de segunda a sexta, um treino ao sábado e descansa ao domingo, um horário que pode ter alguma adaptação de acordo com a própria agenda social e de estudo da <strong>Naide</strong>. A ~(J. H6 a1ttJ.~ Abreu Matos afirma que «é um conjunto alargado de factores que permite que o atleta de alta competição se mantenha motivado, desde a própria personalidade até a não acomodação ao sucesso desportivo». A <strong>Naide</strong>, segundo o treinador, gosta de lutar por objectivos e tem um feitio vincado de conquista, sendo muito forte a esse nível. Significa que tanto uma vitória como um fracasso são encarados da mesma forma em termos futuros: se a primeira significa a busca de outra vitória, um fracasso traduz-se em motivação para alcançar o êxito, uma situação que agrada muito a <strong>Naide</strong> <strong>Gomes</strong>: «Uma das coisas que mais me motiva é a subida ao pódio cuja sensação é impossível de descrever», explica a atleta. E todo o treino durante o ano é encarado como de uma importância extrema, não servindo apenas «para cumprir calendário». «Tanto eu como a <strong>Naide</strong> (e eu já sou treinador há 34 anos sem interrupção) vamos para os treinos com muita concentração, não havendo praticamente conversas paralelas. Não é como hoje, com a confusão de imprensa, entrevista, fotos, filmes», esclarece Abreu Matos. O treinador de <strong>Naide</strong> tem a seu cargo 6 a 8 atletas, um grupo relativamente pequeno que.lhe permite planear cuidadosamente o treino, havendo também alguma flexibilidade para ter vida social, .. «O desporto de competição é uma opção de vida, cujos treinos durante o dia são, por exemplo, incompatíveis com saídas nocturnas frequentes. É por isso importante fazer escolhas conscientes», refere o treinador. SPORT LlFE 53