labre.ce boletim informativo qtc nº 09/2012 - Labre-ce.org.br

EDITORIAL<br />
SAUDOSAS SERENATAS<br />
A<br />
migo Radioamador, passado a folia momina, vou falar da minha infância,<br />
que é como entrar na máquina do tempo em uma viagem buscando<br />
resgatar o passado.<br />
É buscar lembranças que muitas vezes nos fazem chorar.<br />
É como abrir um velho livro e sair a procura de um texto que mais marcou nossa<br />
vida.<br />
E ai... passamos a reler... a reviver...<br />
E nesse velho livro de minha vida, escolhi o texto que fala de SERENATA.<br />
Madrugada sempre de um sábado, o silencio era cortado pelos acordes de uma<br />
bonita canção: “Meus cabelos cor-de-prata são beijos de serenata que a lua<br />
mandou pra mim. Os meus cabelos grisalhos são pingos brancos de orvalho num<br />
tinteiro de nanquim. Estes meus cabelos brancos que hoje são da cor dos bancos<br />
solitários de um jardim, já sentiram muitos dedos e ouviram muitos segredos que<br />
elas contavam pra mim. Se hoje, estão desbotados é porque foram beijados com<br />
muito amor e emoção E os beijos foram tão puros que os meus cabelos escuros<br />
estão da cor do algodão. Eu fiz tanta serenata que a lua, desfeita em prata, mandou<br />
mil beijos pra mim. E os beijos foram tão puros que os meus cabelos escuros<br />
ficaram brancos... assim!"<br />
Os sons eram tão harmoniosamente juntos, que mais pareciam vir de um único<br />
instrumento.<br />
Mas não, lá estavam um saxofone, uma clarineta, um cavaquinho, um violão, e<br />
um pandeiro.<br />
Juntos davam o recado que haviam recebido pelo comando dos dedos e sopros<br />
habilidosos de quem os tocavam e assim, o que era silencio, deixava de existir.<br />
Isso acontecia nas janelas da casa de minha avó, na Avenida Imperador, ao lado<br />
da minha casa, pertinho da Radio Dragão do Mar, onde um amigo comum sempre<br />
aparecia com um mestre do violão, quase sempre o Vilamar Damasceno ou o<br />
Aliardo Freitas e aos poucos a rua toda ia despertando... E sempre iniciava<br />
cantando a canção que papai e mamãe me diziam ser :"A nossa música... “ E na<br />
caricia de um beijo que ficou no desejo, boa noite meu grande amor”.<br />
Abraçados junto a mim, ao meu irmão Roberto, e as minhas irmãs Ida e Maria<br />
Inês, eles deixavam que as lembranças de seus momentos, viessem á tona<br />
naquele instante mágico e de encantamento.<br />
Cabeça já emoldurada de prata, corpo esbelto, mais já curvando pelo tempo,<br />
mas o amor que meu pai tinha por mamãe, os uniam, continuava tão vivo e<br />
presente, quanto aquele momento.<br />
E ele cantarolava para ela, enquanto lágrimas marcavam seu rosto da mais pura<br />
emoção.<br />
Lembro perfeitamente dos mínimos detalhes desses momentos que o tempo<br />
não apagou de minha memória.<br />
Revivo-os agora com a mesma emoção ou então com maior emoção porque<br />
misturam-se a ausência e a saudade da minha infância, as serenatas e as minhas<br />
lembranças de meu pai.<br />
Nosso Radio Abraço, Daniel PY7VD.<br />
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