Eduardo Hilário Sá - clicRBS
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5 de maio de 2011 diáRio CaTaRinenSe 25 anoS<br />
8<br />
NasCi em 5 de maio de 1986 – juNto Com o DC<br />
Como se fosse uma<br />
colônia de férias<br />
FLáViO NEVES<br />
O Brasil aguardou ansioso<br />
pela divulgação do resultado<br />
do Oscar de 1999. O filme<br />
brasileiro Central do Brasil,<br />
do cineasta Walter Salles,<br />
tinha duas indicações:<br />
Melhor Filme Estrangeiro e<br />
Melhor Atriz, com Fernanda<br />
Montenegro. A Vida É Bela,<br />
drama escrito, dirigido<br />
e estrelado pelo italiano<br />
Roberto Benigni levou a<br />
estatueta de Melhor Filme.<br />
Em 2000, Nicéa Pitta,<br />
ex-mulher do então<br />
prefeito de São<br />
Paulo Celso Pitta, faz<br />
declaração pública<br />
sobre o esquema de<br />
corrupção na Câmara<br />
de Vereadores e acusa o<br />
ex-marido de conivência.<br />
Celso Pitta é cassado<br />
e Marta Suplicy é eleita<br />
prefeita da cidade, com<br />
58,51% dos votos.<br />
No dia 11 de março de<br />
1999, um blecaute atinge<br />
nove estados brasileiros,<br />
o Distrito Federal e parte<br />
do Paraguai. Em São<br />
Paulo, além do corte de<br />
energia, houve também<br />
congestionamentos e<br />
paralisação do metrô. O<br />
governo apontou como<br />
causa um raio que atingiu<br />
uma torre de distribuição<br />
em Bauru, interior de SP.<br />
FLáViO NEVES<br />
FabiaNo moraes<br />
fabiano.moraes@diario.com.br<br />
Nascido em Criciúma<br />
e morando em<br />
Garopaba, o dentista<br />
eduardo<br />
<strong>Hilário</strong> sá vive<br />
o sonho que lutou para<br />
realizar quando passou<br />
no vestibular: morar<br />
na praia e trabalhar<br />
no que gosta<br />
7 de outubro de 2002.<br />
As eleições para presidente<br />
do Brasil e para governador<br />
de Santa Catarina terão<br />
a disputa em segundo<br />
turno. Para a Presidência,<br />
o petista Lula ficou com<br />
46,5% dos votos, contra<br />
23,7% do tucano José Serra.<br />
Na corrida pelo governo do<br />
Estado, Esperidião Amin<br />
ficou com 39,8% frente a<br />
30,1% de Luiz Henrique.<br />
o baNHista pedia soCorro.<br />
A expressão era de pânico. Enquanto o homem aparentando<br />
40 anos se debatia no mar entre uma ondulação e<br />
outra, <strong>Eduardo</strong> remava com sua prancha de surfe na direção<br />
dele. Já era fim de tarde e a Praia do Rincão, no Sul do<br />
Estado, estava vazia e sem salva-vidas. Àquela altura, os<br />
dois, sozinhos, tinham apenas um ao outro como solução.<br />
O banhista viu no surfista que se aproximava sua única<br />
chance. Prudentemente, <strong>Eduardo</strong> não se aproximou dele,<br />
apenas jogou a prancha na sua direção. O homem, completamente<br />
aterrorizado, estava a salvo. O garoto conseguiu<br />
enxergar um grupo de surfistas na água, um pouco<br />
mais afastado, e resolveu conversar com o homem.<br />
– Você está vendo aquele grupo lá? Espere aí que vou<br />
chamar mais gente pra te ajudar – pediu.<br />
– Não! Agora eu não solto mais! – gritou o homem,<br />
agarrado à prancha e ainda em pânico.<br />
Era o primeiro sábado do mês de abril de 2000 <br />
e o Diário Catarinense notiava o escândalo envolvendo Nicéa<br />
Pitta, ex-mulher do prefeito de São Paulo Celso Pitta, que fez<br />
declaração pública sobre o esquema de corrupção na Câmara<br />
e acusou o ex-marido de conivência.<br />
<strong>Eduardo</strong> mal conseguia disfarçar a ansiedade ao entrar<br />
no ônibus que levava ao Rincão. Surfista aprendiz, era a<br />
primeira vez que saía de casa para viajar sozinho. Quando<br />
encontrou o homem se afogando, estava no mar com<br />
um primo que resolveu sair mais cedo da sessão de surfe.<br />
<strong>Eduardo</strong> pediu para ficar mais um pouco. Sabia que tinha<br />
violado uma das regras impostas pelos pais: a de nunca<br />
ficar sozinho na água. Mas, naquele momento, precisava<br />
decidir. Deixar o homem se afogar? Buscar ajuda a nado e<br />
correr o risco de ele próprio se afogar? Arrastar o banhista<br />
até a praia usando a prancha de surfe?<br />
Aos 14 anos, tinha uma importante decisão sob sua<br />
responsabilidade. Certo ou errado, ele precisava escolher.<br />
Começou a nadar e a "rebocar" o homem utilizando<br />
a cordinha que prende o surfista à prancha. E, assim, os<br />
dois foram. <strong>Eduardo</strong> pegava uma onda com o corpo, o<br />
chamado jacaré, tomava umas ondas na cabeça e voltava.<br />
As mulheres e os filhos do banhista estavam na areia, apavorados.<br />
Ele chegou com o homem bem próximo da areia<br />
e viu que um dos filhos dele estava com uma prancha de<br />
bodyboard. Pediu que a criança jogasse o equipamento<br />
na direção deles. Quando a pranchinha chegou, deu-a ao<br />
homem e conseguiu tirá-lo da água com mais facilidade.<br />
<strong>Eduardo</strong> não conseguia acreditar no que tinha acontecido.<br />
Tomou a decisão certa e foi considerado um herói<br />
pela família do homem. A esposa tirou fotos, abraçou. Ele<br />
não respondeu nem agradeceu. Estava em choque. Queria<br />
sair dali o mais rápido possível. Estava furioso e até queria<br />
brigar com o homem. Mas, depois de comparar o seu<br />
tamanho com o do possível oponente recém-salvo, desistiu<br />
da ideia. Continuou pensando em como uma pessoa<br />
pode ser tão irresponsável com a própria vida e com a<br />
vida daqueles que deveria amar e proteger. Quando chegou<br />
em casa, <strong>Eduardo</strong> não conseguiu entrar. Sentou no<br />
O governo Lula cancela<br />
temporariamente o visto do<br />
jornalista Larry Rohter, do<br />
jornal The New York Times,<br />
impedindo-o de permanecer<br />
no país. Ele não foi expulso<br />
porque, naquele momento,<br />
estava fora do Brasil e<br />
só retornou depois que o<br />
governo recuou da decisão, o<br />
que ocorreu logo após Rohter<br />
enviar uma carta dizendo que<br />
não queria ofender.<br />
muro e chorou. Ficou assim por uma semana, meio aéreo.<br />
Não dormia direito, acordava no meio da noite. A cena do<br />
homem se afogando era recorrente e atormentou seus sonhos<br />
por quase 10 dias. O episódio serviu para reforçar a<br />
noção de proteção que todo chefe de família precisa ter.<br />
<strong>Eduardo</strong> <strong>Hilário</strong> <strong>Sá</strong> é dentista, tem 25 anos, nasceu<br />
em Criciúma e morou na cidade até os 19. A infância e a<br />
adolescência foram no Centro, com a família. A vida era<br />
simples e cheia de amigos. Alguns até hoje lembram dos<br />
verões no Rincão, quando a garotada ficava por dois meses<br />
direto na praia. Toda a família na mesma rua. <strong>Eduardo</strong><br />
lembra e define o período como "um sonho". Lá, jogava<br />
futebol, vôlei, brincava com os primos. Vem desse tempo<br />
a paixão pelo esporte que o faria passar pelo evento mais<br />
inesperado de sua vida até aquele momento – o resgate do<br />
banhista foi marcante, mas não seria o mais importante.<br />
março de 1999 . Enquanto o cineasta e ator<br />
italiano Roberto Benigni comemorava a conquista do Oscar<br />
de Melhor Filme Estrangeiro por A Vida É Bela, o Diário<br />
Catarinense noticiava a frustração dos fãs de Central<br />
do Brasil, de Walter Salles, com a perda da estatueta dourada.<br />
Além da indicação para melhor filme estrangeiro, a<br />
atriz Fernanda Montenegro concorria como melhor atriz.<br />
Também não levou. No dia 11 de março de 1999,<br />
um blecaute atinge nove estados brasileiros, o Distrito<br />
Federal e também parte do Paraguai. O governo apontou<br />
como causa um raio que atingiu uma torre de distribuição<br />
em Bauru (SP). Ainda neste mesmo mês, os pais de<br />
<strong>Eduardo</strong> se separaram. No dia 1º de março daquele ano,<br />
o pai saiu de casa definitivamente. A separação oficial do<br />
casal ocorreu quatro meses depois, no dia 13 de julho:<br />
– O processo de separação foi doloroso. Na época, foi<br />
bem complicado pra mim.<br />
Mais do que salvar um homem no mar, a separação<br />
dos pais forjou a personalidade do então garoto Edu. Ele<br />
não só gostaria que o núcleo familiar continuasse inteiro<br />
e unido, como desejava também uma situação financeira<br />
mais estável. Não reclamava, pois sempre teve tudo, mas<br />
acompanhou de perto o esforço dos pais. Filho do meio<br />
– tem uma irmã de 27 anos e um irmão três anos mais<br />
novo –, ele lembra do período em que a irmã precisou<br />
trabalhar no colégio para ajudar a pagar a mensalidade.<br />
– Ouvia as conversas dos meus pais. Somos três filhos,<br />
todos estudavam em escola particular. Muitas vezes, eu os<br />
vi tendo que cortar na própria carne para me manter estudando<br />
lá. Aprendi a valorizar a escola.<br />
Após a separação, a dedicação ao esporte e aos estudos<br />
veio forte e, com isso, a escolha pela profissão. Com 10, 11<br />
anos, queria ser engenheiro mecânico. Depois, de tanto<br />
acompanhar a mãe no trabalho como síndica de uma clínica<br />
médica, familiarizou-se com o ambiente e com a rotina<br />
dos profissionais da área da saúde. Começou também<br />
a passar por algumas cirurgias odontológicas de correção<br />
e aquele universo o encantou. Mesmo sem ter certeza sobre<br />
qual carreira seguir, sabia que queria tratar pessoas. A<br />
opção por Odontologia, diz ele, foi um caminho natural.<br />
Jean Charles de Menezes,<br />
27 anos, é morto na estação<br />
de Stockwell, no metrô<br />
de Londres, no dia 22 de<br />
julho de 2005. O eletricista<br />
levou sete tiros na cabeça,<br />
disparados pela Scotland<br />
Yard. Apesar de reconhecer<br />
a "fatalidade", a polícia<br />
defendeu seus subordinados<br />
e atribuiu os erros da<br />
operação a "equívocos"<br />
cometidos pelo brasileiro.<br />
5 de maio de 2011 diáRio CaTaRinenSe 25 anoS<br />
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5 de maio de 2011 diáRio CaTaRinenSe 25 anoS<br />
10<br />
NasCi em 5 de maio de 1986 – juNto Com o DC<br />
O primeiro vestibular foi em 2002. Não passou. Nesta<br />
mesma época, o Diário Catarinense noticiava o resultado do<br />
primeiro turno das eleições para presidente e também para<br />
governador do Estado. Lula e Serra permaneciam na disputa,<br />
enquanto Amin e Luiz Henrique se enfrentariam na urnas pelo<br />
governo de Santa Catarina.<br />
<strong>Eduardo</strong> tentou o vestibular novamente em 2004 e foi<br />
aprovado na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) no<br />
curso de Odontologia. Neste mesmo ano, no mês de maio, o jornalista<br />
norte-americano Larry Rohter, na época correspondente<br />
do The New York Times, teve seu visto de trabalho no Brasil cancelado<br />
por falar que o presidente Lula consumia bebidas alcoólicas.<br />
Uma carta com explicações de Rohter ecerrou o episódio.<br />
Com a aprovação no vestibular, <strong>Eduardo</strong> vislumbrava novas<br />
perspectivas, novas amizades e uma nova vida em um ano que<br />
ficou marcado pelo Furacão Catarina. O DC fez uma ampla e<br />
premiada cobertura jornalística e levou aos catarinenses todos<br />
os detalhes do fenômeno natural que surpreendeu o país e virou<br />
notícia mundial pelo poder de devastação e número de vítimas.<br />
As aulas na faculdade começaram em agosto de 2005 <br />
e <strong>Eduardo</strong> mudou-se para Florianópolis. Um mês antes, outro jovem<br />
brasileiro, o eletricista mineiro Jean Charles de Menezes, foi<br />
assassinado pela polícia britânica em uma estação de metrô de<br />
Londres. Jean foi confundido com um terrorista e executado com<br />
um tiro à queima-roupa durante o trajeto para o trabalho. O caso<br />
virou filme estrelado pelo ator Selton Melo, Jean Charles, e foi noticiado<br />
pelo DC. <strong>Eduardo</strong> tinha outras preocupações. Descobria<br />
como é viver na Capital do Estado. No primeiro semestre, dividiu<br />
apartamento com um colega de curso. A partir do segundo semestre,<br />
passou a morar com a irmã. Depois, com o irmão mais<br />
novo também na cidade, os dois dividiram apartamento.<br />
Mas o início da faculdade e a vida em Floripa não foram a<br />
curtição que ele imaginava. O curso de Odontologia era caro, e<br />
<strong>Eduardo</strong> não poderia contar com a ajuda da mãe para bancar<br />
as despesas com o material de estudo. Ele, então, estipulou uma<br />
meta e decidiu se manter na cidade e na faculdade sem a ajuda<br />
dos pais. A saída era conseguir um trabalho que fosse sazonal e<br />
cujo salário cobrisse as despesas com o material do curso – que<br />
passavam dos R$ 2 mil. <strong>Eduardo</strong> descolou um emprego como<br />
recepcionista de um parque aquático localizado no Norte da<br />
ilha de Santa Catarina. Tinha um primo que trabalhava como<br />
gerente, que acionou seus contatos e o contratou. Mas o salário<br />
que recebia pelo trabalho no parque não era suficiente. Então,<br />
veio um emprego em um bar na Praia de Jurerê.<br />
O semestre terminou em 2 de dezembro de 2005.<br />
No dia 3 de dezembro do mesmo ano, lá estava <strong>Eduardo</strong> em<br />
seu primeiro dia como atendente do bar. Ele trabalhava das<br />
10h às 18h no parque. Saía de lá e rumava direto para o bar,<br />
onde ficava até as 3h. Mesmo com a rotina puxada, nunca<br />
pensou em desistir.<br />
– Claro que eu ficava chateado. Às vezes estava o maior sol, ligava<br />
para meus amigos e primos, todo mundo estava na praia<br />
e eu ali, trabalhando. Dava uma dor. Acho que é por isso que eu<br />
lembro do Rincão com tanto carinho. Lá, eu tinha dois meses de<br />
férias. Depois que entrei na faculdade, isso acabou – reflete.<br />
Tanta motivação, diz ele, vem dos tempos de instabilidade fi-<br />
Mesmo sem ter ido bem na<br />
Copa do Mundo de 2006,<br />
Ronaldinho Gaúcho continuava<br />
em alta. O meia do Barcelona e<br />
da Seleção Brasileira<br />
é eleito o melhor jogador do<br />
mundo pela segunda vez.<br />
No evento, a entidade também<br />
escolheu uma equipe ideal,<br />
que contava com quatro<br />
jogadores do Barcelona,<br />
e, além de Ronaldinho, tinha<br />
Kaká entre os titulares.<br />
Em março de 2008, em São<br />
Paulo, a menina Isabella<br />
Nardoni, seis anos, morre<br />
após ser lançada pela janela<br />
do prédio onde seu pai,<br />
Alexandre Nardoni, morava.<br />
O júri popular considerou<br />
Alexandre e Anna Carolina<br />
Jatobá, madrasta da menina,<br />
culpados pela morte. Ele foi<br />
condenado a 31 anos, um<br />
mês e dez dias de prisão e<br />
Anna a 26 anos e oito meses.<br />
<strong>Eduardo</strong> com o jaleco:<br />
“Estou dando o meu retorno<br />
para a sociedade em forma<br />
de muito trabalho”<br />
nanceira da família. <strong>Eduardo</strong> simplesmente definiu que, com ele,<br />
não seria assim. O convite para o trabalho no bar veio por intermédio<br />
de uma ex-namorada. O namorado da mãe da garota era<br />
o dono do estabelecimento, que andava movimentado no verão<br />
e precisava de um reforço adicional. De preferência, alguém que<br />
falasse inglês, já que muitos estrangeiros estavam por lá:<br />
– O dono do bar me perguntou: "Você quer trabalhar? Está<br />
precisando?" Eu não pensei duas vezes. Ou trabalhava ou não<br />
teria como manter o curso. A lista de material já estava na minha<br />
mão. Eu teria que ter esse dinheiro até o começo do próximo<br />
semestre. Disse "topo" na hora.<br />
<strong>Eduardo</strong> morava na casa do dono do bar, que era bem perto<br />
dali. A hospedagem durava toda a temporada de verão. Foi assim<br />
durante cinco anos. Três dias antes de começarem as aulas,<br />
terminava o trabalho. Ele não conseguiu tirar férias. Quando sobrava<br />
algum tempo, ia surfar:<br />
– Minha mãe dizia: "Não vai aproveitar um pouco?" Mas eu<br />
queria me garantir, não correr o risco de ter que voltar para casa<br />
e trancar o curso. Preferi seguir neste ritmo mesmo. Deixei meu<br />
couro lá em Jurerê, mas garanti meu diploma.<br />
<strong>Eduardo</strong> seguia firme na sua convicção de trabalhar para<br />
bancar o curso. O trabalho no parque aquático durou uma temporada.<br />
Ele saiu após o verão de 2006 , ano em que o jogador<br />
Ronaldinho Gaúcho foi eleito o melhor do mundo pela<br />
segunda vez. O então camisa 10 do Barcelona ainda jogou mais<br />
um semestre em alto nível, antes de mergulhar em má fase física<br />
e técnica nos anos seguintes.<br />
Barack Obama é eleito<br />
o 44º presidente dos<br />
Estados Unidos. Aos 47<br />
anos, tornou-se o primeiro<br />
negro a governar o país, ao<br />
derrotar o rival republicano<br />
John McCain. Longe de<br />
ser o "azarão" da disputa,<br />
Obama teve o endosso de<br />
uma campanha milionária<br />
– a mais rica da história das<br />
eleições do país – e sabe<br />
usar muito bem a internet.<br />
FLáViO NEVES ARQUiVO PESSOAL<br />
Dois anos depois e <strong>Eduardo</strong> dava provas de que aguentaria<br />
a rotina pesada. Mas tanto trabalho rendeu uma grande decepção<br />
à família. No dia 25 de dezembro de 2008, preferiu não<br />
passar o Natal em Criciúma, como fazia todos os anos:<br />
– Minha mãe ficou magoada. Sei que exagerei. Ela ficou tão<br />
chateada que não falou nada.<br />
O ano de 2008 foi marcado negativamente com o caso<br />
isabella Nardoni. A menina de cinco anos foi jogada pela janela<br />
do apartamento onde seu pai morava, em São Paulo. O DC<br />
acompanhou os desdobramento do crime que chocou o país.<br />
O ano também teve a eleição do primeiro presidente<br />
negro nos Estados Unidos. Barack Obama, do partido<br />
Democrata, assumiu a Casa Branca.<br />
Em 2009 , um ano que ficou marcado pela morte do<br />
cantor Michael Jackson, o Rei do Pop, <strong>Eduardo</strong> conheceu Taise.<br />
O mês era abril e os dois se aproximaram na faculdade. Ela era<br />
monitora em uma das disciplinas. Depois que Taise se formou,<br />
começaram a namorar. Trabalha em Palhoça e mora em Florianópolis,<br />
também tem 25 anos, mas é seis meses mais velha.<br />
Ter a mesma profissão da namorada ajuda e atrapalha:<br />
– Quando quero desabafar algo, algum caso, sei que ela vai<br />
entender. Mas quando um não entra em sintonia com o outro,<br />
quando as opiniões são muito divergentes, a briga é mais séria.<br />
Hoje, procuramos não discutir sobre trabalho.<br />
Tanta seriedade é transmitida também no momento em<br />
que é perguntado sobre os planos de casamento, família, filhos.<br />
<strong>Eduardo</strong> mantém os pés no chão:<br />
Michael Jackson morreu<br />
no dia 25 de junho de 2009.<br />
O cantor, que se preparava<br />
para um retorno aos palcos<br />
com a turnê This is It, foi<br />
vítima de uma injeção fatal<br />
de anestésico – crime pelo<br />
qual seu médico particular,<br />
Conrad Murray, responde na<br />
justiça. Michael sofreu uma<br />
parada cardíaca depois da<br />
injeção. O resultado do laudo<br />
foi baseado na autópsia.<br />
Mesmo tendo uma infância<br />
protegida e feliz, <strong>Eduardo</strong><br />
hoje tem dúvida sobre ter ou<br />
não filhos, mas é convicto<br />
da necessidade de ter<br />
“garantias financeiras”<br />
A nevasca que atingiu os<br />
municípios catarinenses foi a<br />
mais forte registrada desde o<br />
ano 2000. Localidades como<br />
o Morro da Igreja, em Urubici,<br />
registraram um espetáculo<br />
gelado que atraiu turistas<br />
de todo o Brasil. Também<br />
teve “show” em Urupema<br />
e em São Joaquim. A neve<br />
acumulada ficou entre 20 e<br />
25 centímetros nos locais<br />
onde foi mais intensa.<br />
– Se for pra passar o que eu passei, não quero ter filhos. Não<br />
quero ter um filho e me separar depois. isso pra mim é inadmissível.<br />
Eu não tive garantias, tudo sempre foi uma incerteza.<br />
Se achar que não poderei dar conforto para ele, acho que não<br />
irei casar nem terei filhos. Ou talvez case e não tenha filhos.<br />
A afirmação nada tem a ver com falta de amor durante a infância.<br />
É puro instinto de proteção. Talvez consequência do processo<br />
de separação dos pais, talvez por simples formação de caráter.<br />
Aos 25 anos, a personalidade de <strong>Eduardo</strong> vai se moldando<br />
a partir das experiências de hoje e de ontem. A vida em Criciúma,<br />
a mudança para Florianópolis e, por último, a realização<br />
do sonho de trabalhar na profissão que escolheu. Ano passado,<br />
no dia 9 de julho de 2010, pouco antes da formatura, marcada<br />
para o dia 13 daquele mês, recebeu um e-mail da prefeitura de<br />
Garopaba. A mensagem eletrônica comunicava sua aprovação<br />
em um contrato de urgência de três anos. O problema: o e-mail<br />
chegou na sexta-feira e a apresentação estava marcada para a<br />
segunda-feira seguinte. Como <strong>Eduardo</strong> ainda não estava formado,<br />
tecnicamente não estava habilitado a assumir a vaga.<br />
– Fiz a prova só para ver. Mas você só pode começar se estiver<br />
formado. Do contrário, perde a vaga. Tive que me formar em gabinete,<br />
mas tudo conspirou a favor. Corri pra caramba, fui atrás<br />
dos professores para liberarem a nota... Acabei me formando<br />
junto com o pessoal do curso de Farmácia – lembra.<br />
ainda em 2010 , o frio chegou forte ao Estado. Na<br />
capa do DC, o registro da impressionante nevasca que cobriu<br />
municípios catarinenses de neve. Junto com o frio e a neve, veio<br />
a gripe a . O DC acompanhou a evolução dos casos dia a dia.<br />
O trabalho de <strong>Eduardo</strong> em um posto de atendimento odontológico<br />
em Garopaba garantiu a realização de mais um desejo:<br />
morar na praia. Garopaba é conhecida por abrigar algumas das<br />
melhores praias do litoral catarinense. Silveira e Ferrugem, só<br />
para citar dois lugares ideais para o surfe. Morar na praia e trabalhar<br />
no que gosta. Só falta definir um dia perfeito na vida dele<br />
e de Rafael Prudêncio, 25 anos, e Rafael Nascimento, 26, amigos<br />
com quem divide a casa em Garopaba:<br />
– Se as ondas estão boas, acordo às 5h20min. Começo a bater<br />
na porta dos dois. Chegamos na praia às 6h e surfamos até as<br />
7h30min. Voltamos pra casa, tomamos banho e vamos trabalhar.<br />
Às 17h, encerramos. Se o mar estiver bom, vamos surfar.<br />
A satisfação com o surfe é a mesma encontrada no trabalho.<br />
Na função que exerce hoje, ele pode retornar à comunidade um<br />
pouco do que recebeu ao cursar uma universidade pública:<br />
– Se não fosse a UFSC, não teria me formado. Tenho consciência<br />
de que fui "patrocinado". Estou dando o meu retorno em<br />
forma de trabalho. Trabalhar não é um peso. Minha namorada<br />
diz que estou em uma colônia de férias – diz o dentista que<br />
atende até 20 pessoas por dia, entre consultas e urgências.<br />
Será que vem daí o instinto de salvar vidas, como no afogamento<br />
no Rincão? <strong>Eduardo</strong> abre um sorriso, pensa e responde:<br />
– Nunca tinha pensando nisso. Acho que pode ser, sim.<br />
Como personagem da sua própria história e, agora, compartilhando<br />
seu passado com os leitores do DC, <strong>Eduardo</strong> projeta o<br />
futuro para os próximos 25 anos. Quer continuar aprendendo e<br />
se divertindo. Sem um projeto de definitivo, mas com radar instintivo<br />
de proteção ligado e pronto para socorrer quem precisar.<br />
5 de abril de 2010: começa<br />
a vacinação contra a<br />
gripe A para pessoas com<br />
idades entre 20 e 29 anos.<br />
O cronograma inclui doses<br />
para idosos com doenças<br />
crônicas e, em seguida,<br />
brasileiros entre 30 e 39<br />
anos. Com a medida, o<br />
Ministério da Saúde pretende<br />
vacinar 91 milhões de<br />
pessoas. O H1N1 provocou<br />
2.051 mortes em 2009.<br />
5 de maio de 2011 diáRio CaTaRinenSe 25 anoS<br />
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