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Marítimo<br />
Fabio Rocha<br />
1
Copyright © 2010 por Fabio Rocha<br />
Registro EDA – Biblioteca Nacional:<br />
Nome(s) do(s)<br />
Autor(es):<br />
Título <strong>da</strong> Obra:<br />
No. Registro <strong>da</strong> Obra:<br />
FÁBIO JOSÉ ALFRE<strong>DO</strong> SANTOS DA ROCHA<br />
Marítimo<br />
493.865<br />
Livro: 933<br />
Folha: 450<br />
Data de Registro: 6 de maio de 2010<br />
Gênero <strong>da</strong> Obra:<br />
Obra Publica<strong>da</strong>:<br />
POESIA<br />
Não<br />
Título original: Marítimo<br />
Editoração eletrônica: Fabio Rocha<br />
Endereço eletrônico:<br />
http://www.fabiorocha.com.br<br />
(O autor repudia e ignora as novas normas gramaticais propositalmente.)<br />
2
Prefácio – Ígor Andrade – www.fugadointelecto.blogspot.com<br />
Quando penso que comecei a amar e entender mais a poesia depois que conheci Fabio Rocha, vejo<br />
que estou no caminho certo: que é não pensar no caminho, e sim seguir em frente. Este caminho que<br />
sigo sozinho é cheio de descobertas, que noto em ca<strong>da</strong> poema diário seu. Em ca<strong>da</strong> novo verso, me<br />
vejo em tantos reencontros que mal posso esperar pelo próximo velho poema que ele escreve e<br />
consigo ler.<br />
Prepare-se para uma longa jorna<strong>da</strong>, na praia que todos nós tentamos evitar. Ca<strong>da</strong> oceano de hoje<br />
será profun<strong>da</strong>mente explorado no olhar do escritor inquieto que não se conforma em apenas<br />
mergulhar num mar diferente, todos os dias. Faça chuva ou faça sol, no grito ou no silêncio, você e<br />
mais ninguém, irá embarcar nos passos cheios de dor de um poeta contemporâneo que considero um<br />
grande herói.<br />
Neste livro encontrei o ver<strong>da</strong>deiro Fabio Rocha, que conheci há algum tempo no bendito mundo<br />
virtual. Aqui a batalha de muitos é entendi<strong>da</strong> por poucos. A dor que segue em descoberta e a busca<br />
por um novo amor, que alimenta a alma do poeta, altera as cores de ca<strong>da</strong> manhã desta caminha<strong>da</strong><br />
poética e marítima. Aqui pude ler e compartilhar do que é descobrir e esconder uma vi<strong>da</strong> to<strong>da</strong> que<br />
não tive, mas que desejo nascer.<br />
LEIO MARÍTIMO<br />
Leio marítimo<br />
leio legítimo<br />
leio sem ar.<br />
Sou o edítimo<br />
de to<strong>da</strong> essa prosa<br />
feita em frente ao mar.<br />
(Venço o pânico<br />
com poesia na praia<br />
li<strong>da</strong> no quarto.)<br />
Quando penso<br />
que um poema passou<br />
vem outro poema<br />
com outra dor<br />
(uma nova)<br />
e me põe no espaço.<br />
O mar <strong>da</strong>qui<br />
ficou tão mais imenso<br />
ca<strong>da</strong> amanhecer é intenso<br />
e eu esqueço o cansaço.<br />
Este livro é um passarinho<br />
que passa sozinho<br />
com as asas mais fortes<br />
e mais leve que o aço.<br />
O céu é o caminho<br />
3
o sol meu vizinho<br />
e no chão me desfaço.<br />
4
Um poema<br />
pra iniciar o voo<br />
(dilema sem trema)<br />
enquanto a terra treme trágica<br />
trabalhadores uni-vos em salto<br />
que o solo passado e pesado<br />
deve ser deixado<br />
para baixo.<br />
O que eu busco<br />
é o mistério<br />
a surpresa<br />
o encantamento<br />
a empolgação<br />
a superação<br />
a vontade<br />
o desejo...<br />
(Mas o que tenho mesmo é o mesmo,<br />
e o medo de sair do mesmo<br />
me mantém mesmo<br />
no mesmo.)<br />
No caminho<br />
sonhei apenas comunhões<br />
onde havia distâncias<br />
e afastei muitos próximos<br />
muito próximos<br />
nos intervalos comerciais...<br />
Percorri vulcões ortodoxos cheios de gentes<br />
gargarejando na<strong>da</strong><br />
e cuspindo metas<br />
a ditar caminhos...<br />
Senti o grande martelo<br />
quebrar algum sentido<br />
e uns e outros mundos...<br />
Sacolejei em vícios lúdicos<br />
rastejei por ouro e futuro<br />
sofri pelo passado deitado...<br />
E hoje me vejo parado<br />
e hoje me vejo sozinho<br />
e hoje vejo<br />
Janeiro de 2009<br />
2009<br />
MÍSTICA<br />
5
que talvez nunca<br />
tenha conseguido ver<br />
algo que não seja eu...<br />
Afora isso,<br />
sigo parado e sozinho,<br />
com a quase certeza,<br />
mesmo parado e sozinho,<br />
de na<strong>da</strong> estar além do agora,<br />
de tudo o que preciso<br />
morar no instante,<br />
no entanto,<br />
intocável de tão perto.<br />
Um poema-auto-resposta<br />
um dilema repassa<br />
automóvel:<br />
Podem inventar budismos<br />
epicurismos<br />
ou qualquer outra bela e convincente forma<br />
de conservaformismo...<br />
Quando este mundo e este momento<br />
bastarem<br />
bastarem legitima e totalmente<br />
a todos os de dentro e de fora <strong>da</strong> multidão<br />
não haverá arte.<br />
Num giro rodopio<br />
lançar ao chão lágrimas <strong>da</strong>s mãos<br />
brilhantes pedrinhas de estra<strong>da</strong>s inadivinháveis<br />
sementes.<br />
Escrevo quente<br />
que a noite é fria...<br />
Escrevo nu<br />
pra me cobrir com poesia...<br />
Para Lohany<br />
Por estar levemente distraído<br />
matar a assassina mascara<strong>da</strong><br />
escondi<strong>da</strong> atrás de um dragão azul e uma besta poderosa<br />
com o prazer máximo <strong>da</strong> lâmina dupla na carne perto<br />
trouxe-me a surpresa simples <strong>da</strong> felici<strong>da</strong>de contemporânea.<br />
PARA DANIEL JOHNSTON<br />
IMAGÉTICO<br />
BOA NOITE<br />
RPG<br />
6
Para Mario Quintana<br />
Também sou homem fechado.<br />
O mundo me tornou egoísta e antisocial...<br />
E a minha poesia é um vício louco,<br />
desesperado, solitário e louco<br />
que faço tudo por espalhar...<br />
Uma tela aberta<br />
uma janela fecha<strong>da</strong><br />
lá bem fora, madruga<strong>da</strong><br />
sono leve<br />
o dia besta<br />
fin<strong>da</strong>...<br />
Palavras<br />
querendo<br />
mais...<br />
Pescadores<br />
procuram peixes e caranguejos raros<br />
pelos mares bravios e enormes...<br />
Enquanto aqui<br />
no escuro<br />
a ca<strong>da</strong> linha<br />
busco<br />
num esforço vão<br />
a ca<strong>da</strong> linha<br />
sozinho<br />
sem barco<br />
a ca<strong>da</strong> linha<br />
na rede<br />
palavras.<br />
Me atravessam tempestades de raios<br />
no espaço de estrelas escondi<strong>da</strong>s<br />
calor, cansaço<br />
missão cumpri<strong>da</strong>.<br />
No deserto estéril<br />
cercado de moe<strong>da</strong><br />
por todos os ralos<br />
me arrasto entre futuros<br />
de pessoas feias mas confortáveis<br />
e um impulso injusto e inafiançável<br />
dentro desses dentes trincados cansados<br />
CANÇÃO <strong>DO</strong> AMOR INALCANÇÁVEL<br />
VERÃO<br />
SOBREVIVÊNCIA<br />
SENSAÇÃO<br />
VALE TU<strong>DO</strong>?<br />
7
quer seguir o belo<br />
o bom<br />
o justo<br />
sem ter que escrever o que querem ler<br />
apenas pra passar.<br />
Enquanto o mar por trás dos prédios rosna<br />
e a brisa de sempre, sempre diferente, venta<br />
gaivotas passam num céu rosado em câmera lenta<br />
e frases complexas sem muito significado morrem.<br />
Numa noite de sincronia<br />
na tempestade que se forma<br />
e se expande, e se afirma, e se espalha<br />
em raios<br />
ouço a música do ser.<br />
Cantam o mesmo, em harmonia<br />
Heráclito, Drummond, Nietzsche, Ravel, Whitman, Jung:<br />
o mundo, a vi<strong>da</strong>, a vontade, o universo, você...<br />
tudo<br />
é<br />
um.<br />
No canto escuro <strong>da</strong> noite<br />
o silêncio do mar em on<strong>da</strong>s<br />
de plenitude.<br />
Há formação em áreas distintas no meu Curriculum Vitae<br />
e informação distorci<strong>da</strong> nos jornais de sempre.<br />
No entanto<br />
o que me forma<br />
em todos os sentidos<br />
é a poesia.<br />
A missão é grande<br />
complexa<br />
longa<br />
difícil...<br />
E a maior dificul<strong>da</strong>de <strong>da</strong> missão<br />
realmente<br />
é não cumpri-la<br />
e vencer o peso <strong>da</strong> culpa<br />
com a leveza dos cisnes.<br />
TEMPO PARA SI<br />
ALEGRO<br />
AO LONGE<br />
CONSTÂNCIA<br />
PARA LEONARD COHEN<br />
8
Todo o tempo<br />
temos.<br />
Temos.<br />
Todo o tempo<br />
que temos<br />
perdemos<br />
porque temos<br />
que<br />
Dança de letras e significados<br />
sob a regência do machado<br />
e um céu azul redondo<br />
mais um dia começando<br />
a se fazer sentir<br />
e se fazer sentido<br />
na ausência de relógios.<br />
Sem obrigação de na<strong>da</strong><br />
o tempo<br />
passa macio<br />
na madruga<strong>da</strong><br />
Ruas vazias do Rio de Janeiro<br />
por onde passo, num sol <strong>da</strong>nado<br />
e me escondo sombrio<br />
de qualquer folia<br />
sem máscaras.<br />
Escrevo pelo mesmo movimento<br />
do falo<br />
vontade<br />
semeando branco<br />
em macias páginas rubras.<br />
Quase nas bor<strong>da</strong>s do impossível<br />
(branco)<br />
seu suave nome:<br />
delícia.<br />
Em que posse<br />
pesa escondido<br />
o escombro<br />
do teu sonho?<br />
TEMEMOS<br />
MUSICAL<br />
E VELOZ<br />
PASSOS<br />
CARNAVALESCO<br />
RIMA<br />
TOSSE<br />
9
Dois amigos<br />
caminham<br />
por praias distantes.<br />
Caminham calados<br />
enquanto cai<br />
(constante e irreversivelmente)<br />
por entre os dedos do tempo<br />
qualquer palavra.<br />
Desenho com as duas mãos<br />
de vez em quando minto<br />
árvores me trazem breve paz<br />
e leveza de borboletas.<br />
Suo demasiado luas e letras no verão<br />
<strong>da</strong>nço com ventanias e temporais<br />
esquento os cômodos com a respiração<br />
sempre que corto as unhas<br />
sinto raiva, paixão e profundos questionamentos existenciais.<br />
Atrás <strong>da</strong> porta <strong>da</strong> raiva<br />
se esconde algum LoBo<br />
que adio<br />
e jogo videogame.<br />
Em todos os poemas há lobos, exceto em um. O mais lindo de todos. - Jim Morrison<br />
Na mais alta amendoeira<br />
<strong>da</strong> rua escura<br />
grita vazio<br />
o velho de branco.<br />
Cavalos não passam<br />
e serpentes <strong>da</strong>nçam.<br />
Sozinho no alto<br />
morto de asfalto<br />
lua vermelha.<br />
No silêncio <strong>da</strong> casa<br />
me caso.<br />
O vaso de planta<br />
<strong>da</strong> infância.<br />
AREIA<br />
AUTO-RETRATO<br />
REVISITAN<strong>DO</strong> LOBOS<br />
PARA JIM MORRISON<br />
RETORNO<br />
10
O raso <strong>da</strong> água<br />
escorrendo.<br />
A ascensão do vôo<br />
e a paz <strong>da</strong>s frentes frias:<br />
todos os rostos em maravilha.<br />
E foi num domingo santo<br />
que revi todos os sonhos...<br />
- Plim!<br />
O inimigo está<br />
mais escondido<br />
do que sempre.<br />
- Plim!<br />
Cabeças<br />
concor<strong>da</strong>m<br />
na vertical.<br />
- Plim!<br />
Convulsões<br />
inanima<strong>da</strong>s<br />
vicia<strong>da</strong>s<br />
constantes.<br />
- Plim!<br />
Elevadores<br />
elevam dores<br />
agora com telas<br />
e propagan<strong>da</strong>s singelas:<br />
todo tempo<br />
para cima<br />
em todo canto<br />
para baixo<br />
escolha seu número<br />
para cima<br />
exponha seu úmero<br />
para baixo<br />
no orkut.<br />
Todo espaço<br />
todo tempo<br />
deve ser<br />
ocupado.<br />
PARA O ALTO<br />
JANELA ABERTA<br />
EMAGREÇA <strong>DO</strong>RMIN<strong>DO</strong>: MORRA<br />
11
Ocupado.<br />
- Plim!<br />
(Divagar:<br />
Esca<br />
<strong>da</strong>ban<br />
dor... na<strong>da</strong>.)<br />
Leio Walt Whitman<br />
no rosto do velho barbado<br />
há 90 anos no Ceará<br />
com ca<strong>da</strong> osso torto<br />
e calor<br />
e sofrer<br />
e silêncio contemplativo.<br />
Meu avô.<br />
Seus olhos vêem o mesmo todo.<br />
Vou viver.<br />
Os cheiros <strong>da</strong> infância feliz<br />
encontraram algum secreto caminho<br />
pro apartamento de hoje.<br />
To<strong>da</strong> a água brava, revolta, agita<strong>da</strong><br />
que me amedrontava<br />
agora está<br />
sobre mim<br />
e prazerosamente me mata<br />
e refresca.<br />
Dos infinitos rios<br />
lambendo pedras e limos<br />
descendo montes<br />
cavando terras e sonhos<br />
cismando pastos distantes...<br />
Dos vales de silêncio<br />
e manhãs de sol<br />
bois ensimesmados desconhecidos<br />
ventos do passado...<br />
Dos carinhos<br />
calores<br />
e odores<br />
<strong>da</strong> casa <strong>da</strong> vó<br />
TEMPO<br />
CURVAS<br />
12
onde criei rios<br />
no quintal...<br />
De tantas cores e dores<br />
trajetos, curvas, linhas separa<strong>da</strong>s<br />
o encontro:<br />
amor<br />
azul<br />
o mar.<br />
Da janela seca<br />
um telhado aberto<br />
o verde desperto<br />
na paredes velhas.<br />
Pinto a tela em branco<br />
com palavras vermelhas<br />
fogo de guitarras<br />
peles desliza<strong>da</strong>s suave<br />
sol se pondo.<br />
Enquanto o ácido <strong>da</strong> boca<br />
digere na<strong>da</strong><br />
a pele quente<br />
a cabeça tonta<br />
o coração sente<br />
música ruim<br />
no vento pouco.<br />
De mim ao céu<br />
uma trilha de insetos estagnados<br />
sem visíveis teias<br />
caminho de veias<br />
e sedes venosas<br />
lilás<br />
sobre o azul<br />
Quando a noite chegar<br />
e a imobili<strong>da</strong>de vencer suas palavras<br />
o silêncio terá valor<br />
(e<br />
talvez<br />
eu)<br />
.<br />
VISTA<br />
PINTURA<br />
NOITE SEM AR CONDICIONA<strong>DO</strong> COM RAIVA<br />
SALTO<br />
ALMOÇO<br />
13
Não sei se durmo<br />
se vale<br />
se corro<br />
se como<br />
se murro<br />
se mato<br />
se morro...<br />
No salto<br />
do susto<br />
um céu<br />
sobressai<br />
(e subo).<br />
Minha liber<strong>da</strong>de leve<br />
precisa se alimentar<br />
<strong>da</strong> pesa<strong>da</strong> raiva.<br />
Eu posto<br />
a pressa<br />
e como o pasto<br />
besta<br />
sei que passo.<br />
Para Stella<br />
Eis agora que te vejo<br />
em minha mão direita<br />
e desde já desejo<br />
a sua mão <strong>da</strong><strong>da</strong>.<br />
Eu moro na casa de vento<br />
onde amigos não tem tempo<br />
e tempo lento tonto tento<br />
onde janela é desalento<br />
eu moro na casa de vento<br />
onde família é sofrimento<br />
e olho a janela de ontem.<br />
E de novo tudo<br />
um quase tempo<br />
o mesmo verso<br />
indo e vindo<br />
novo e distinto<br />
antiga guerra<br />
agora paz.<br />
RELEITURA - ALMOÇO<br />
LEVEZA<br />
FORÇA<br />
TONTO<br />
VAMOS<br />
ONDE SAIR É MAIS E MAIS DIFÍCIL<br />
COLDPLAY<br />
14
Essa voz<br />
de dentro <strong>da</strong> boca que finge falar poemas<br />
(mas só os pensa)<br />
está cansa<strong>da</strong>.<br />
Sem um projeto coletivo e utópico onde caibam meus sonhos<br />
sem um dia-a-dia individualmente minimamente simplesmente suportável<br />
sem grandes avanços na psicanálise além de querer parecer curado...<br />
Eu mesmo<br />
a mim mesmo<br />
só comigo mesmo<br />
constantemente me prendo.<br />
Só.<br />
O resto são detalhes<br />
variações sobre a mesma lenga-lenga<br />
e versos sem rima.<br />
Vejo:<br />
Janelas?<br />
E as quatro paredes<br />
maiores que elas?<br />
Vem e me salva, palavra<br />
que a palavra colo<br />
hoje está tão solta...<br />
(Hoje está tão longe,<br />
tão pequenininha...)<br />
E por to<strong>da</strong> boca<br />
e por to<strong>da</strong> parte<br />
meia-noite arde<br />
sem chapéu de fogo.<br />
Antes verde<br />
hoje tarde<br />
amanhã<br />
arte?<br />
(Arte<br />
salva<br />
de palmas...)<br />
REVEN<strong>DO</strong> JANELAS (SEM RIVOTRIL AINDA)<br />
COLO<br />
15
Procura-se pastor<br />
que cante pior e mais alto, alto, alto<br />
do que aquele<br />
na igreja-garagem<br />
lá de baixo, baixo, baixo<br />
<strong>da</strong> rua Borges Monteiro<br />
em Higienópolis<br />
antigo estado <strong>da</strong> Guanabara.<br />
Remunera-se bem<br />
(no pós-vi<strong>da</strong>).<br />
Cui<strong>da</strong>do<br />
com o vão<br />
entre o trem<br />
e o sonho.<br />
Um dia lindo<br />
um céu tão grande<br />
um mundo vasto...<br />
(Eu tão pequeno...)<br />
Tardes calmas, sem pressa...<br />
Manhãs tranqüilas, sem medo...<br />
Noites lisas, sem busca...<br />
A partir do dia<br />
em que me bastar<br />
minha poesia.<br />
O não-tempo<br />
é tempo de não ser.<br />
Sair pouco<br />
comer pouco<br />
falar pouco.<br />
Tempo de tristeza aberta<br />
em dias ensolarados<br />
e tristeza mansa<br />
em dias fechados...<br />
Um disfarce<br />
do existir<br />
não existindo.<br />
ANÚNCIO<br />
METRÔ<br />
SOL<br />
FUTURO<br />
NÃO-TEMPO<br />
16
Por onde a última<br />
esperança<br />
já cansou...<br />
E o poema<br />
desistiu.<br />
Me arrasto no chão<br />
<strong>da</strong> guerra que não há<br />
entre escombros de mim.<br />
Tudo<br />
ca<strong>da</strong> vez<br />
mais difícil...<br />
As coisas quebram<br />
quando eu me quebro<br />
e nos cacos de pe<strong>da</strong>ços<br />
sem um eu concreto<br />
não se acha<br />
a cor <strong>da</strong> poesia.<br />
"Já cheguei"<br />
é a construção semi-frasal quotidiana<br />
mais importante.<br />
A palavra palavra<br />
atrai a palavra certa<br />
com a força<br />
de rimas inescutáveis.<br />
Ante tanta tarde<br />
parte de mim não party<br />
presa no solo do mesmo<br />
triste na tristeza<br />
feliz na imobili<strong>da</strong>de.<br />
Entre o trem e o sonho<br />
a lonjura e a proximi<strong>da</strong>de<br />
a paz e a solidão<br />
o vazio e a sacie<strong>da</strong>de<br />
devagar<br />
divago...<br />
Interrompido apenas<br />
pelo de sempre:<br />
intermináveis coisas<br />
DESPERTAR<br />
ACORDA<br />
REVIRAVOLTA SEM REVOLTA<br />
CONSTRUCTO<br />
SOLO<br />
SOCIEDADE<br />
17
por fazer<br />
sem vontade.<br />
No caminho onde não chego<br />
volto logo<br />
mas volto para onde<br />
pra que casa<br />
quero voltar<br />
logo<br />
se não há casa?<br />
Itabira já não há<br />
além do retrato...<br />
E a casa<br />
muito engraça<strong>da</strong><br />
que perdido busco<br />
não existe.<br />
Ansioso<br />
lembro de todos os sonhos.<br />
Volto a dormir.<br />
O vento vem<br />
e bate a persiana<br />
suja.<br />
Balança<br />
mas não cede.<br />
O peito aperta.<br />
Volto a dormir.<br />
Almoço.<br />
Volto a dormir.<br />
Tarde.<br />
O peito bate.<br />
Dentre quatro paredes<br />
eu sou a quinta...<br />
Não ouço o som<br />
<strong>da</strong> minha voz.<br />
O peito pede mais.<br />
Na<strong>da</strong> tem uma cor<br />
ACASO<br />
SÓ<br />
18
diferente<br />
do desprazer.<br />
Noite.<br />
Como demais:<br />
mais vazio.<br />
Só um poema.<br />
Só<br />
um<br />
poema...<br />
Só um poema<br />
pode me salvar.<br />
Na entrelinha<br />
do cansaço (morte em vi<strong>da</strong>)<br />
renasço.<br />
Na<strong>da</strong> que temer<br />
eu passo<br />
entre palavras escritas<br />
e a prática <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />
diminuindo distâncias.<br />
Semear o vento<br />
que balança a tela<br />
abrir mais janelas<br />
ler menos besteiras...<br />
No entrespaço<br />
de entretantos tantos<br />
tento.<br />
Como a chuva<br />
precipitamo-nos<br />
em explicar, contar, planejar e fixar<br />
quando na ver<strong>da</strong>de<br />
o mais importante pinga:<br />
a percepção que logo escorre<br />
o oceano para a gota<br />
o sentido íntimo e único<br />
para ca<strong>da</strong> ser que é.<br />
Rio de Janeiro<br />
terra minha<br />
PENSAR É SER<br />
MÉTO<strong>DO</strong> <strong>DO</strong> DISCURSO<br />
TETO<br />
SOLÚVEL EM TAO<br />
DA OBSERVAÇÃO<br />
19
onde Augusto dos Anjos<br />
já vendeu seguro de vi<strong>da</strong><br />
e o mar<br />
o mesmo mar de hoje<br />
o mesmo mar de sempre<br />
repete alheio<br />
palavras não ditas.<br />
Antes de tudo<br />
a tecla<br />
a teta<br />
a falta<br />
Sobretudo<br />
a seta<br />
sobre<br />
tudo<br />
O tempo<br />
o todo<br />
o teto branco.<br />
Manhã de cedo<br />
onde não cabe o sono<br />
Cimentos brancos<br />
nos telhados rasos<br />
Pó de pedra nos olhos<br />
olhares líquidos<br />
em liqui<strong>da</strong>ção<br />
Atacou sem coragem<br />
ouvindo rock and roll<br />
uma espa<strong>da</strong> em ca<strong>da</strong> mão<br />
diamante não brilhou.<br />
Um morro alto<br />
no alto do corro<br />
um coro de anjos<br />
um vôo de morro<br />
Meu amor é conforto<br />
recanto<br />
o canto bom de ser<br />
o quando o tempo pára.<br />
3 DIAS SEM COMPUTA<strong>DO</strong>R<br />
BOM DIA, TWITTER<br />
DIA CINZENTO<br />
ASAS<br />
PARA STELLA<br />
20
Um poema sem palavras<br />
vi na mata, no riacho<br />
ouvi no improviso do piano<br />
uma rua enfumaça<strong>da</strong><br />
eu an<strong>da</strong>ndo<br />
o sol sumindo<br />
fora do anoitecer.<br />
Um dia estranho<br />
uma falta<br />
um poema sem palavras.<br />
Todo<br />
tempo<br />
poesia<br />
Na pressa <strong>da</strong> passagem<br />
de ônibus<br />
apressa<br />
de estar<br />
lá longe<br />
a tarde<br />
é tarde<br />
e já não há<br />
promessa.<br />
Por trás de rostos sorrindo<br />
vejo nuvens negras<br />
enquanto a tarde tar<strong>da</strong>.<br />
Oceano profundo<br />
longo largo imenso<br />
e um canto triste<br />
sozinho<br />
entre tanto<br />
azul<br />
Almoço é parte<br />
<strong>da</strong> parti<strong>da</strong> breve<br />
que de to<strong>da</strong> parte<br />
o tempo todo<br />
de todos os lugares<br />
parte e quebra<br />
esvai<br />
e vai<br />
escorrendo<br />
SIMBOLISTA<br />
NOVO DIA<br />
CONFESSA<br />
TERÇO<br />
DA BALEIA JUBARTE<br />
PRESSA<br />
21
pelas mãos<br />
fecha<strong>da</strong>s.<br />
Teus<br />
te proteja<br />
que o cachorro late<br />
e o silêncio bate<br />
na grade gris do tempo.<br />
Quando há noite<br />
e me deito<br />
e me cubro<br />
com o pó preto<br />
oriundo dos pneus<br />
que a linha amarela lixa<br />
constantemente<br />
com seus carros passando sempre<br />
sempre em alta veloci<strong>da</strong>de<br />
decididos a chegarem sempre<br />
sem nunca chegar<br />
(tiros ao longe)<br />
meus olhos arranham aranhas<br />
mas mesmo assim no entanto no quarto<br />
durmo branco<br />
até a serra<br />
do vizinho em obras eternas.<br />
por sobre telhados de casas e cacos<br />
por sobre musgos frios verdes escuros negros<br />
o sol<br />
Antes que eu rime poesia com dia<br />
um poema fecho<br />
de manhã<br />
antes do meio-dia<br />
de manha<br />
antes que eu seja tarde.<br />
Por entre faixas inespera<strong>da</strong>s<br />
e tropeços do todo<br />
tudo se encaixa<br />
antes do fim.<br />
Sem a dor<br />
sentir prazer:<br />
sem a cor<br />
pintar.<br />
MANHÃ<br />
PERCURSO<br />
SEMPRE<br />
FECHA<strong>DO</strong><br />
DIA<br />
PERCEPÇÃO AZUL<br />
22
SALA DE ESTAR<br />
Sentamos na sala de estar. O som do silêncio é o relógio de parede que quebra, por não estar<br />
quebrado - infelizmente. Dura três longos minutos. Fala-se, então, <strong>da</strong>s novas descobertas científicas<br />
na revista que podem nos fazer viver mais. Me pergunto para quê. E a caverna subterrânea, <strong>da</strong> beira<br />
do profundo nos observa, repleta de silêncio e coisas escuras por dizer e uma pita<strong>da</strong> de ser.<br />
Entreolhamo-nos, semiconscientes dela mas sem coragem. O relógio segue. Ninguém desce a si.<br />
O tempo<br />
transbor<strong>da</strong><br />
a taça<br />
metade cheia<br />
de pressa.<br />
No fim do canto<br />
esquerdo olho confuso<br />
ruídos de riscos bonitos<br />
rema<strong>da</strong>s de mantras com nexo.<br />
Abre-se certo o peito<br />
ao fora<br />
sem saber<br />
(tudo sendo agora)<br />
abre-se certo<br />
ao outro.<br />
Para Carmen Santos<br />
Me preparo<br />
pro funeral<br />
de minha avó<br />
sob o silêncio<br />
de dez mil canções tristes.<br />
O passado<br />
abraça suave<br />
e se despede frio.<br />
O dia se abre<br />
janela de tempo<br />
e possibili<strong>da</strong>de.<br />
Dardos solares<br />
iluminuram<br />
universos<br />
não <strong>da</strong>dos.<br />
Dentro de casas com mosquitos invertebrados<br />
janelas, portas e paredes<br />
DEPRESSA<br />
NOCTURNO<br />
JANELA RECORRENTE<br />
SAUDADE<br />
RETRATO CIDADE<br />
23
descontentes crônicos<br />
anseiam além.<br />
jurar a jubarte<br />
de morte<br />
de arte<br />
judiar a jubarte<br />
juba de jujuba<br />
inexistente<br />
júbilo em marte<br />
a jubarte<br />
que voa no vácuo<br />
vermelho de sangre<br />
planeta com rosto<br />
sorrindo de triste<br />
Belarmino<br />
tinha uma<br />
falta.<br />
Para Stella<br />
Alisar partes do parto sem partir<br />
sem parir<br />
sem Paris<br />
nem querer partir jamais<br />
mão no coração<br />
e mais<br />
e mais<br />
palavras vermelhas de língua<br />
proximi<strong>da</strong>de<br />
contornos que se tocam<br />
indefinidos braços<br />
indefinidos traços<br />
indefinindo-se mais<br />
e mais<br />
nas voltas<br />
rodopios e revoltas<br />
misturando-se.<br />
Chove o mundo<br />
e meu coração (velho navio)<br />
se move.<br />
Solos de violinos<br />
imaginários<br />
solitários...<br />
ABUTRE<br />
VERSÃO<br />
DANÇA<br />
ENORME<br />
SATURDAY<br />
24
Solos de violinos<br />
unidos, porém<br />
no silêncio<br />
<strong>da</strong> manhã.<br />
Madruga<strong>da</strong> mesma<br />
de sonhar intenso<br />
mais de muitos lenços<br />
por diversas mesas<br />
Madruga<strong>da</strong> fria<br />
de quem não sabia<br />
Madruga<strong>da</strong> morta<br />
e sem poesia<br />
E eis que tudo gira<br />
e a tela brilha<br />
mundos, sonhos, planetas, pessoas<br />
acelera<strong>da</strong>mente tentam de tudo<br />
para vencer o invencível<br />
longe.<br />
Sinestesias à parte<br />
parti<strong>da</strong>s de motores de barcos<br />
parti<strong>da</strong>s de vermelhos em si bemol<br />
e gosto de sangue<br />
e pressa.<br />
Um poema de ovo<br />
rompendo a pele <strong>da</strong> manhã<br />
voz feminina que gema<br />
um poema gostoso.<br />
Pesando o peso<br />
pesado do na<strong>da</strong><br />
agora...<br />
Busco a leveza<br />
<strong>da</strong>s borboletas que foram<br />
<strong>da</strong> música que é<br />
do vento que será.<br />
O sol<br />
irremediavelmente<br />
volta<br />
por trás dos versos negros<br />
RITMO DE FESTA<br />
INTER<strong>NADA</strong><br />
PARTO<br />
NOVO QUENTE<br />
BRISA<br />
CICLOS<br />
25
e sobe às bocas<br />
ciclicamente<br />
brilha vontade<br />
alegria<br />
amar-elo<br />
letra<br />
e música.<br />
Entre o impossível e o sonho<br />
cabe a arte<br />
essa ativi<strong>da</strong>de maior dentro<br />
menor que supérflua fora<br />
no meio de tanto jornalismo morto<br />
um lirismo perdido e vivo<br />
uma teimosia, uma resistência, um vírus, um acidente<br />
onde apatia e conformismo é norma<br />
entre tantos entretantos e seres sem tempo fazendo um mundo melhor<br />
e tentando roubar o seu dinheiro <strong>da</strong>s mais diversas formas.<br />
Um corpo todo cérebro<br />
conectado a outros<br />
tristes e ensimesmados.<br />
Um cérebro todo razão.<br />
Boa noite.<br />
Repetição e tédio.<br />
Hoje andei na chuva<br />
procurando o que procurar<br />
e o mar continuava grande.<br />
Venho por meio destra fecha<strong>da</strong><br />
através de uma boca imovente<br />
querendo mastigar seus próprios dentes<br />
e de um ver enegrecido<br />
ruminar mais um gemido<br />
que não lhe direi<br />
(nem entenderei).<br />
Através de seu silêncio primeiro<br />
odeio<br />
todos os silêncios<br />
implicitamente reprovativos<br />
os olhares fugidios de quaisquer olhos também calados<br />
onde só verei defeitos<br />
(como vingança)<br />
paciência<br />
PAIXÃO<br />
REDE<br />
QUERI<strong>DO</strong> <strong>DIÁRIO</strong><br />
LA CARTA<br />
26
e passivi<strong>da</strong>de revoltante<br />
e tão interminável<br />
quanto o seu silêncio.<br />
Nem herói nem vilão<br />
nem amigo nem inimigo<br />
nem vivo nem morto.<br />
Sem voz.<br />
E quando o seu silêncio<br />
o seu silêncio<br />
(o seu silêncio)<br />
for final<br />
ain<strong>da</strong> assim, calado eu<br />
(e mau)<br />
ao lado de seu sono real e fechado<br />
meus olhos abertos também silenciarão<br />
como tão bem<br />
aprenderam.<br />
O meu silêncio<br />
e minha raiva<br />
que espalho<br />
pro mundo<br />
pra vi<strong>da</strong><br />
pros outros.<br />
Nascemos sob o peso dos heróis<br />
que nossos pais não foram<br />
Crescemos em tamanho<br />
e tempo<br />
Reproduzimo-nos<br />
buscando no ato amargo<br />
o heroísmo que nos falta<br />
(transmitindo, assim<br />
a herança silenciosa<br />
dos heróis que não seremos)<br />
Morremos<br />
com<br />
esperança<br />
É tempo de valorizar padrões<br />
de falar o estritamente esperado<br />
de não sentir emoções<br />
de rimar por rimar<br />
amar com mar<br />
FILHO HOMEM ou TO BE THE BATMAN<br />
QUINTANURAS<br />
27
ao investir na bolsa.<br />
Mas resisto:<br />
mais alto que tudo isto<br />
é voar.<br />
No alto,<br />
realizo.<br />
No alto<br />
<strong>da</strong> palavra<br />
inatingível.<br />
Pessoas queri<strong>da</strong>s<br />
agora são papéis<br />
problemas<br />
que se acumulam<br />
em minha mesa vermelho sangue.<br />
Tristeza pela manhã.<br />
Acumulo pó também<br />
e coisas por fazer infin<strong>da</strong>s<br />
enquanto mosquitos infinitos<br />
infinitos mosquitos<br />
me quebram<br />
em noites<br />
de quase...<br />
No espaço interstício<br />
entre o desprazer e o vício<br />
reclamo.<br />
Reclamo como o cão<br />
confinado na varan<strong>da</strong><br />
do apartamento ao sol ali em frente<br />
ladrando quadrados constantes<br />
na falta de opção.<br />
Eu<br />
no entanto<br />
no teto do ser<br />
tenho várias...<br />
De qualquer grupo<br />
(nefasto?)<br />
me afasto<br />
(não mato)<br />
e reclamo<br />
VITA<br />
EM TERAPIA - LATA UM<br />
28
(não lato)<br />
<strong>da</strong> solidão.<br />
Antes que a noite<br />
engula o tempo<br />
escrevo lento<br />
antes que a foice<br />
antes que o vento...<br />
Urizen medonho<br />
Urizen com fome<br />
Urizen urgente<br />
Urizen vencido.<br />
Do fundo de meu<br />
vocabulário<br />
esconjuro a palavra mágica<br />
esqueci<strong>da</strong> no escuro<br />
pro futuro estrangeiro<br />
<strong>da</strong> folha clara:<br />
vela <strong>da</strong> barcaça ao vento<br />
lençol no varal antigo<br />
capa vermelha do que não sou<br />
sobre mar de olhos.<br />
Quantos mosquitos<br />
podem caber<br />
no vazio deste poema?<br />
Perdidos<br />
entre a transcendência<br />
e os vermes<br />
seguimos comprando.<br />
Auriverde pendão de minha pressa<br />
onde a bola de couro brilha e não cansa<br />
sigamos sábios serenos maracuginos<br />
a semear granolas transgênicas<br />
e a sonhar com vi<strong>da</strong> mansa...<br />
Antes do sino<br />
a razão ba<strong>da</strong>la<br />
antes do sinto<br />
no fundo<br />
se perde<br />
o som puro.<br />
SIBILO<br />
PARA WILLIAM BLAKE<br />
COROLÁRIO: SUBLIM(IN)AR<br />
RECREIO <strong>DO</strong>S BANDEIRANTES<br />
POÉTICA<br />
POEMA XISTE<br />
ESCURO<br />
29
Mozart:<br />
notas ouço palavras...<br />
Lanchonetes passa<strong>da</strong>s<br />
sabor do vento<br />
dia frio gostoso<br />
mar em movimento.<br />
Por detrás dos óculos<br />
antes ain<strong>da</strong> do sonho<br />
escrevo<br />
e escondo.<br />
A criança:<br />
olhos abertos<br />
na noite fecha<strong>da</strong>.<br />
No corredor<br />
um relógio<br />
de parede.<br />
A criança sozinha<br />
ouve escuro<br />
e vê seu som.<br />
O relógio imenso<br />
semeando<br />
finitudes...<br />
Para não ver<br />
entre o que não sou<br />
e o que acabei não sendo<br />
me distraio em passatempos<br />
enquanto relógios escorrem.<br />
No fundo de to<strong>da</strong> agonia<br />
o vazio<br />
que devia<br />
abraçar<br />
e não buscar além<br />
nesta poesia.<br />
Para Marfiza Reis<br />
O sonho<br />
importa mais<br />
que o ganho.<br />
SURVIVORMAN<br />
ATRÁS DA MESA<br />
TIC TAC<br />
MANO VELHO<br />
DA BUSCA REVISITADA<br />
ENFADANHO<br />
30
A noite é grande<br />
e sem perfume de bromélias<br />
maior ain<strong>da</strong>.<br />
A noite é forte<br />
e sonha dias mais claros.<br />
O mar ancestral<br />
se mistura ao céu<br />
num só fluido<br />
movente<br />
tal qual<br />
o intelectual caminha<br />
e ama to<strong>da</strong> curva<br />
mas não diz<br />
e pensando silêncios<br />
quem se pode feliz?<br />
Passam pinheiros tristes<br />
coqueiros de desenho<br />
amendoeiras antigas<br />
o mar cheio<br />
o céu vazio<br />
passam.<br />
Menos um poeta azul<br />
nesta noite cinza<br />
que é o mundo.<br />
O céu é cinza<br />
e a manhã é tarde.<br />
A barba é longa.<br />
O mar é bravo.<br />
Ando, ando.<br />
Ao longe longe<br />
(quase amanhã)<br />
vejo a geográfica ilha<br />
do tempo perdido.<br />
Ando, ando.<br />
Com todo o peso do mundo<br />
sigo caminhando<br />
sobre as águas negras...<br />
BROMÉLIAS AZUIS<br />
ENIGMA<br />
PRAIANA<br />
PARA O SEOMÁRIO<br />
PRAIANO<br />
31
Mastigando palavras<br />
e ferindo o vento<br />
com tênis preto<br />
e meias brancas.<br />
Alimento meus tigres<br />
presos<br />
em suas listras.<br />
Mar aberto<br />
rosto fechado.<br />
Mais fácil abrir<br />
o mar com um cajado.<br />
Cão que late<br />
no inferno<br />
noite alta<br />
lua morna.<br />
Cão<br />
que ladra<br />
não dorme.<br />
Para Manuel Bandeira<br />
cão que late<br />
quilate de cão sem plumas<br />
espumas dos mares que não vi<br />
navio partindo corações lentos<br />
sonolento pela insônia<br />
ocasiona<strong>da</strong> pelo som:<br />
cão<br />
cão<br />
cão<br />
cão<br />
cão<br />
cão<br />
pão?<br />
café com pão<br />
café com pão<br />
café com pão...<br />
TRISTE<br />
PRAIANIDADE<br />
VIZINHO<br />
LADRÃO<br />
UIVO DE TREM<br />
32
O infinito<br />
se condensa<br />
em palavras.<br />
Vou em direção<br />
ao sol<br />
só meu<br />
(seguindo ca<strong>da</strong> curva).<br />
As on<strong>da</strong>s<br />
do mar<br />
trazem palavras<br />
silenciosas.<br />
Palavras fortes<br />
contra to<strong>da</strong> e qualquer<br />
literali<strong>da</strong>de<br />
superficiali<strong>da</strong>de<br />
materiali<strong>da</strong>de<br />
quebram estrondosas<br />
na espuma.<br />
Urubus as cercam<br />
gaivotas as furam<br />
pombos as cortam<br />
eu as caminho.<br />
Caminhando<br />
mastigo<br />
afirmo<br />
aumento<br />
existo.<br />
(Em casa<br />
mamãe acha um problema em minhas costas<br />
e o vizinho martela alguma parede sóli<strong>da</strong>.)<br />
Perpasso<br />
sob o céu cinzento<br />
procurando<br />
não estar atento<br />
e totalmente<br />
pisando o momento.<br />
O céu é baixo<br />
de desalento<br />
as on<strong>da</strong>s fracas<br />
o passo lento.<br />
CALOR ÚMI<strong>DO</strong><br />
PRAIANÍSSIMO<br />
PRAIANEIRO<br />
33
O esforço (ou o engano)<br />
é não se esforçar<br />
para poder brotar<br />
um novo oceano.<br />
Musgos e muros<br />
a brisa abraça<br />
a música fria<br />
céu azul sossegado<br />
pousa leve a poesia.<br />
O vento<br />
volta<br />
a chama<br />
chama<br />
o vento<br />
volta<br />
o vento.<br />
De certo frio<br />
o urso passa<br />
o urso pardo<br />
perto de praia<br />
passa far<strong>da</strong>do<br />
passo de urso<br />
passo a passo<br />
peso.<br />
Parentes adiam a morte<br />
vendo a novela <strong>da</strong> Globo<br />
enquanto postergo a vi<strong>da</strong><br />
jogando esse jogo<br />
de pessoas valentes na tela<br />
perdendo pouco a pouco<br />
a capaci<strong>da</strong>de<br />
de olhar fixo<br />
para um rosto<br />
fora dela.<br />
(No silêncio <strong>da</strong> noite<br />
meu silêncio se ouve<br />
ruminando<br />
algo por dizer.)<br />
Universo grito<br />
canto infinito<br />
baleia triste<br />
PARA MELISSA<br />
FORTE<br />
CHUVA FINA<br />
PC GAME MMORPG AT WAR USA GO GO GO<br />
PARA MEU AMOR<br />
34
antiarma em riste<br />
cataflam de verso.<br />
Para o frei Dino<br />
---<br />
sábado, 15 de agosto de 2009<br />
LIBERTAÇÃO<br />
"Há mais fé e há mais ver<strong>da</strong>de, / Há mais Deus com certeza / Nos cardos secos dum rochedo nu /<br />
Que nessa Bíblia antiga Ó Natureza, / A única Bíblia ver<strong>da</strong>deira és tu!..." Guerra Junqueiro<br />
"Talvez não existam psicanalistas no futuro, mas haverá padres." Jaques Lacan<br />
"Os dois grandes narcóticos europeus, o álcool e o cristianismo." Nietzsche<br />
"Ain<strong>da</strong> que Deus existisse, na<strong>da</strong> mu<strong>da</strong>ria. O homem na<strong>da</strong> mais é do que aquilo que ele faz de si<br />
mesmo." Jean Paul Sartre<br />
"Deus é um conceito pelo qual medimos nossa dor." John Lennon<br />
---<br />
Não há exceção.<br />
Por baixo dos panos pretos<br />
que cobrem os abutres<br />
padres freis frades freiras e fracos semelhantes<br />
(essas pedras intermináveis contra a vi<strong>da</strong>)<br />
há sempre um recalcado<br />
um mendicante de intelecto<br />
com uma fé titubeante<br />
desde que a Terra perdeu o centro do universo,<br />
desde que milhões morreram em suas guerras por um Deus que não responde,<br />
desde que milhares foram queimados em fogueiras sem motivo<br />
(como meu estômago vermelho de úlcera e cólera).<br />
Este recalcado, fraco e covarde ser<br />
passa boa parte de seu não-viver<br />
querendo cagar regras medonhas<br />
sobre dogmas antigos<br />
para acéfalos inúmeros.<br />
Enquanto estava distante<br />
já abominava<br />
(ruminante, mas calmamente)<br />
monografias afora,<br />
apesar dos quase abusos sexuais contra familiares.<br />
Porém, perto...<br />
35
Perto...<br />
Perto demais...<br />
Perto,<br />
quando <strong>da</strong> ocasião social formal formosa<br />
(o que os vizinhos vão pensar?)<br />
e a vi<strong>da</strong>, receosa, me apresenta<br />
este morto sem inconsciente<br />
este dinossauro sob um manto negro sem simbolismo<br />
este ser com o hálito podre de outros séculos<br />
querendo duvi<strong>da</strong>r <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de de alguém ser poeta sem um papel comprobatório autenticado,<br />
querendo man<strong>da</strong>r em como criar meus filhos como futuros acéfalos convictos,<br />
querendo que fizéssemos promessas literais de não-aborto, não-sexo, não-separação,<br />
querendo nos culpar por não irmos ouvi-lo aos sábados,<br />
querendo analisar meu contracheque,<br />
(considerando-se que isso tudo foi a sua demonstração de amizade pelos pais dela)<br />
tudo em mim que era antes sangue<br />
virou ira.<br />
Esse ser fraco que não abre o maldito olho e me encara<br />
(será que seu olho não quer ver o que ele fala?)<br />
que me ouve respirar pesado, vermelho e treme<br />
que não responde as minhas perguntas diretas<br />
que me roubou um sábado <strong>da</strong> existência feliz<br />
merece um poema.<br />
Merece um poema<br />
já que evitei o murro.<br />
Infelizmente.<br />
Este poema lhe deixo como agradecimento,<br />
meu caro frei bento,<br />
pela honra de não ter que fazer<br />
curso de noivo<br />
pro casamento...<br />
Sim, senhora psicanalista:<br />
raiva também de mim mesmo<br />
antes de tudo por cogitar em casar<br />
na Igreja Católica Apostólica Romana.<br />
Burro.<br />
Só faltava ter sido nos Estados Unidos.<br />
(Talvez haja exceção<br />
mas ela que vá pro inferno,<br />
e entregue ao meu querido Diabo<br />
um papel comprobatório<br />
por falar em nome de Deus.)<br />
36
To XD<br />
or not<br />
to :) ?<br />
Ain<strong>da</strong>.<br />
Ain<strong>da</strong><br />
an<strong>da</strong>.<br />
Ain<strong>da</strong><br />
an<strong>da</strong><br />
ain<strong>da</strong>.<br />
Ain<strong>da</strong><br />
an<strong>da</strong>.<br />
Ain<strong>da</strong><br />
on<strong>da</strong>.<br />
A on<strong>da</strong><br />
ain<strong>da</strong>.<br />
(Aión.)<br />
Eterni<strong>da</strong>de fugaz,<br />
o medo nosso de ca<strong>da</strong> dia<br />
<strong>da</strong>i-nos hoje.<br />
A chama<br />
foi acesa<br />
agora chame<br />
e receberás o fogo.<br />
A gaivota plana<br />
o mar<br />
(a)liso.<br />
Perante a competição <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de<br />
a solidão vazia <strong>da</strong> multidão<br />
também prefiro a sereni<strong>da</strong>de dos campos<br />
a pereni<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s árvores<br />
a solidão plena <strong>da</strong>s rochas.<br />
Para Alain de Botton<br />
Enquanto a praia chove<br />
INTER-ERA<br />
ESPUMA<br />
TEMENTISMO<br />
CRUZA<strong>DO</strong><br />
SEM ALÍSEOS<br />
PARA WORDSWORTH<br />
A ARTE DE VIAJAR<br />
37
e não posso an<strong>da</strong>r<br />
vivoleio de novo.<br />
a manhã é cinza:<br />
borboletas negras<br />
sob um céu impuro<br />
"Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte?<br />
- O que eu vejo é o beco." Manuel Bandeira - POEMA <strong>DO</strong> BECO<br />
Olhando<br />
o mar<br />
imenso<br />
invento<br />
prisões<br />
em torno<br />
de mim.<br />
Enquanto sou alimento de mosquito<br />
e o esquisito Michael Jackson não se enterra<br />
prevejo planos mortos<br />
nas mais tristes e tediosas terras.<br />
Enquanto sonhar distinto for ofensa ou lowcura<br />
e os dinossauros <strong>da</strong> Ver<strong>da</strong>de her<strong>da</strong>rem a Terra<br />
adiemos possíveis problemas infindos<br />
(problemas nossos, problemas benignos, problemas bemvindos)<br />
e sigamos não vivos, tementes a Deus,<br />
culpando ao destino ou a qualquer outra mer<strong>da</strong>.<br />
Para Stella<br />
Ela me amava tanto<br />
que só amava enquanto<br />
sua mãe deixava.<br />
O urso polar<br />
sobre o gelo fino<br />
mais fino a ca<strong>da</strong> ano.<br />
O vento venta.<br />
O urso polar<br />
se arrasta<br />
já não é urso<br />
já não é na<strong>da</strong><br />
e o gelo estala.<br />
AMANHÃ<br />
DIA DE SOL<br />
ADIAMENTO<br />
(D)EST(R)AVA<br />
PRODUZA, CONSUMA, POLUA<br />
38
E tudo esquenta.<br />
Abaixo do urso polar,<br />
o infinito<br />
azul<br />
escuro.<br />
O urso polar<br />
contra a inevitabili<strong>da</strong>de<br />
salta<br />
salivando orgulho<br />
de escolher por último.<br />
Para quem mostrar<br />
o que marquei<br />
nos longos livros que li<br />
para ti?<br />
Jovens libertários<br />
até que seus pais<br />
digam o contrário.<br />
Minha poesia morreu.<br />
Resta<br />
eu.<br />
(Prosa explicativo-metódica para o poema subseqüente.)<br />
SEPARAÇÃO<br />
AINDA SOMOS OS MESMOS<br />
CONSTATO, SEM TATO<br />
DIVAGAR<br />
Começo a perceber (finalmente fora <strong>da</strong>s teorias frias - e inúteis - dos livros) a importância <strong>da</strong> falta<br />
para a valorização <strong>da</strong> plenitude. Entendo melhor as viagens de Amyr Klink, a valorização <strong>da</strong> dor de<br />
Nietzsche, a motivação dos alpinistas para escalar o Everest... Tudo isso serve para que a casa, o<br />
cotidiano e tudo nele que está ao alcance, possível, acessível e constante mude <strong>da</strong> normali<strong>da</strong>de para<br />
a falta. Da certeza para o medo. Do seguro para o perigo. Do mesmo para o novo. Olhar as mesmas<br />
coisas mas com novos olhos, como Parmênides filosofou e agora sinto. Perder para ganhar. Sair<br />
para voltar e ser mais feliz com o que já se era.<br />
Na agonia de poder perder<br />
ganhar a alegria<br />
do que já se tinha.<br />
De volta à noite<br />
e seus sortilégios...<br />
E volta a noite<br />
e seus pirilampos imaginários<br />
buzinas distantes<br />
mosquitos mordendo a cara<br />
PERCEBER SEM TEORIA<br />
HÁ CALMA<br />
39
palavras digita<strong>da</strong>s<br />
hecatombes teóricas<br />
reencontro nas redes<br />
palavras e gentes<br />
milagres em tela<br />
buscando além <strong>da</strong> Matrix<br />
ausentes presentes<br />
que não me desistiram.<br />
(Raros, raros...)<br />
Através disso<br />
existo.<br />
Apesar disto<br />
a calma<br />
lá longe<br />
me afaga<br />
possível.<br />
Possível.<br />
REPASSE<br />
Não tem na<strong>da</strong> a dizer para alguém, ou não tem tempo de dizer algo a alguém, ou não tem a<br />
capaci<strong>da</strong>de de dizer algo a alguém, mas quer que esse alguém diga algo para você ou simplesmente<br />
lembre que você existe e sabe enviar e-mails? Seus problemas acabaram.<br />
Encaminhe uma mensagem para o e-mail dela. Trabalho nenhum. Já vem prontinha. Custo zero. Dê<br />
preferência a aquelas com anexos pesados em powerpoint, com música melodramática e lin<strong>da</strong>s<br />
imagens repetitivas de paisagens ou crianças ou animais ou tudo isso misturado, também pesa<strong>da</strong>s,<br />
de autoria desconheci<strong>da</strong>. O texto deve ser cheio de erros de Português e com uma cor que deixa<br />
particularmente difícil de se ler devido ao baixo contraste com as belas imagens supracita<strong>da</strong>s ao<br />
fundo. É importante também que o texto seja atribuído a alguém famoso, preferencialmente ao<br />
Jabor ou ao Mario Quintana. Também há importância na harmonia entre música e texto. Por<br />
exemplo, as melhores mensagens são aquelas que chocam pela inovação artística, como por<br />
exemplo: texto sobre o amor, imagens <strong>da</strong> Antárti<strong>da</strong> e trilha sonora do Tiririca.<br />
O ideal é enviar para pessoas que não lembrem quem você é, pois são menores as chances de<br />
reclamações ou quaisquer outras formas de represálias.<br />
Caso saiba o endereço postal <strong>da</strong> tal pessoa, isso pode ser substituído por um recado animado com<br />
carro de som e muitos foguetes. Mesmo que não seja aniversário ou nenhuma <strong>da</strong>ta especial. Que<br />
pessoa não curte uma surpresa? Dê preferência às empresas que contratem para falar ao megafone<br />
mulheres de voz extremamente fina.<br />
Sob um céu menor e cinza<br />
passos <strong>da</strong>dos com cautela.<br />
E o mar verde repetia<br />
só o nome de Stella.<br />
AEROPLANOS PARA DAQUI A 5 ANOS<br />
40
DA FALTA ou <strong>DO</strong> ME<strong>DO</strong> ou ANSIEDADE <strong>DO</strong>MINICAL CONSIDERAN<strong>DO</strong>-SE A TV ABERTA<br />
Presos como sempre<br />
entre as quatro paredes do domingo<br />
e a voz do Silvio Santos monetarizando idiotices<br />
(na infância era tão fascinante isso...)<br />
seguimos parados, sentados, cochilando<br />
ansiosos pela segun<strong>da</strong>-feira<br />
procurando algo para comer<br />
algo para dormir<br />
algo para escrever<br />
algo pelo amor de Deus<br />
algo.<br />
Ando apenas.<br />
Nenhum poema<br />
vem a pousar<br />
no meu umbigo.<br />
Nenhum amigo<br />
nenhuma trema.<br />
Ando apenas.<br />
Palavra:<br />
ave ser<br />
antítese do peso<br />
antídoto do tédio.<br />
Poema:<br />
tolice telúrica<br />
anedota amedronta<strong>da</strong><br />
querendo voar, sem saber<br />
nem an<strong>da</strong>r...<br />
Para Stella<br />
Enquanto meu estômago se acaba a denta<strong>da</strong><br />
e mantenho nele a mal conti<strong>da</strong> raiva<br />
indigiro palavras não berra<strong>da</strong>s...<br />
segun<strong>da</strong>-feira, 7 de setembro de 2009<br />
Enquanto a vi<strong>da</strong> oferece opções pasmas<br />
e antepasso antepastos emprestados<br />
assisto a nova fraude dos Caçadores de Fantasmas...<br />
Enquanto o mundo te empurra a escolha<br />
e você <strong>da</strong>nça com o ar pro outro lado<br />
SEM MÚSICA<br />
ARES<br />
UM POEMA DESCONTI<strong>DO</strong>, POR ENCANTO<br />
41
esconjuro artifícios zarolhas<br />
com um mago de um jogo inventado.<br />
Enquanto desenho a florzinha matinal<br />
e caminho na praia estupra<strong>da</strong><br />
saboreio o desprazer estomacal<br />
de não resolver absolutamente na<strong>da</strong>.<br />
Com quem dividir as sincronici<strong>da</strong>des?<br />
O que interessam as sincronici<strong>da</strong>des<br />
sem dividi-las?<br />
O que são sincronici<strong>da</strong>des?<br />
De mãos <strong>da</strong><strong>da</strong>s com a noite<br />
nenhum coração pulsante a ser cravado<br />
nenhum peito a se morder infindo<br />
nenhuma esperança vã de melhora futura com sorte talvez quem sabe<br />
nenhum pai, nenhuma mão, nenhum amor fugidio, nenhum filho ou flor<br />
de mãos <strong>da</strong><strong>da</strong>s com a noite<br />
tudo é um.<br />
Eu quero?<br />
Tudo acabado<br />
(lágrimas inclusas)<br />
resta an<strong>da</strong>r<br />
e fazer um poeminha<br />
para rimar...<br />
Se amar<br />
não diga.<br />
Escon<strong>da</strong>.<br />
Até de si mesmo.<br />
Assim<br />
serás<br />
amado.<br />
A vi<strong>da</strong> mole me fez duro<br />
intolerante<br />
intolerável.<br />
Resta buscar leveza novamente<br />
fora<br />
<strong>da</strong><br />
3<br />
EU QUERO<br />
QUER SABER COMO PERDER 6 ANOS EM 3 SEMANAS? FALE COMIGO<br />
CÍCLICO<br />
PARA JOÃO<br />
42
poesia.<br />
E aplicá-la<br />
sobre quem<br />
não merece<br />
pedras.<br />
as on<strong>da</strong>s<br />
na manhã<br />
mais redon<strong>da</strong>s<br />
são<br />
eu<br />
amanhã<br />
cedo<br />
Luzes queimam altas<br />
sobre meus passos poucos.<br />
O mar<br />
a noite<br />
é perto.<br />
Preso à percepção <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça<br />
tropeço surpreso<br />
na mu<strong>da</strong>nça de percepção<br />
onde eu an<strong>da</strong>va parado.<br />
Tudo<br />
nasce<br />
do silêncio.<br />
Olho o vazio<br />
com olhos<br />
vazios.<br />
O olho do céu aberto<br />
chora o choro<br />
que não choro.<br />
Na manhã de poucos<br />
ventos tortos<br />
caminho sobre<br />
meus sonhos mortos.<br />
A MÃE É SER<br />
PANTA REI<br />
MANHÃ DE SOL<br />
FINAL DE SEMANA<br />
CHUVA<br />
CINZA<br />
43
Quem ama<br />
traz estrelas nos olhos<br />
e vontade.<br />
Quem ama<br />
voa quando an<strong>da</strong><br />
tenta e teima e vence.<br />
Quem ama<br />
quer.<br />
Para Arnaldo Baptista<br />
E as pessoas na sala de jantar<br />
reclamam que não há mais um festival<br />
enquanto só ouvem tocar<br />
a música <strong>da</strong> novela <strong>da</strong>s oito<br />
depois do Jornal Nacional.<br />
Caminho<br />
caminho<br />
caminho<br />
sozinho<br />
caminho<br />
sozinho<br />
sozinho<br />
sozinho<br />
todos e<br />
todos e<br />
todos os dias...<br />
E mando e-mails semestrais<br />
sem palavras<br />
pros amigos<br />
que não tenho mais.<br />
Caminho<br />
sozinho<br />
todos os dias<br />
e não chego a achar<br />
um alguém, um lugar<br />
onde pendurar<br />
minha última esperança.<br />
As pessoas<br />
vivem.<br />
Eu perco.<br />
ROSA<br />
ESTRIBILHO<br />
O FIM ESTÁ PRÓXIMO<br />
POETRISTE 2<br />
44
Para Drummond<br />
Meu coração é menor que o mundo.<br />
Muito menor.<br />
O mundo é grande<br />
e cheio de desafios<br />
que não quero vencer.<br />
Meu peito<br />
é cheio<br />
de ansie<strong>da</strong>de<br />
dor<br />
e ar.<br />
O que me faz an<strong>da</strong>r...<br />
Cheio de falta.<br />
Me falta dinheiro, aliás.<br />
No peito<br />
sobra vazio.<br />
Não tenho meta<br />
mas sou poeta...<br />
Ando<br />
pela praia<br />
pela casa<br />
pela vi<strong>da</strong><br />
sozinho e manco.<br />
Para Stella<br />
À sombra do fim<br />
todo despertar<br />
se desfaz<br />
lentamente<br />
em pesadelo.<br />
(Bom dia, consciência!)<br />
Tudo é dor.<br />
Todo poema bonito<br />
música emocionante<br />
filme romântico<br />
paisagem marcante...<br />
INFINDÁVEL<br />
<strong>DIÁRIO</strong><br />
45
Tudo reflete<br />
por entre as facas do belo<br />
a violência <strong>da</strong> falta.<br />
Sigo um pouco<br />
menos louco<br />
a ca<strong>da</strong> passo<br />
a ca<strong>da</strong> linha<br />
a ca<strong>da</strong> letra.<br />
Quando a paisagem passar<br />
deixei poucos versos<br />
muitas dores<br />
e alguma vontade<br />
de amar.<br />
Para Stella<br />
Namorar o caos<br />
e casar com a certeza...<br />
Namorar o poeta<br />
e casar com o administrador de empresas...<br />
Era uma tarde fria<br />
quando o passado<br />
bateu na porta <strong>da</strong> poesia<br />
e sussurrou gelado:<br />
na<strong>da</strong> mudou.<br />
Quando é noite<br />
e tudo falta em tudo<br />
e eu me esvazio<br />
e os armários se enchem de monstros.<br />
Como chocolate.<br />
"tempo... aqui quem vos fala é um breve momento... - Raul Faria Faria"<br />
O momento que acaba<br />
que renasce outro tempo<br />
o segundo <strong>da</strong> sorte<br />
o eterno desalento<br />
de viver sem amor...<br />
(Até o próximo evento.)<br />
OS DESENHOS FICAM HORRÍVEIS, MAS<br />
MAR (A)TEMPORAL<br />
O QUE AS MULHERES QUEREM<br />
APESAR <strong>DO</strong> SOL<br />
NEXO, GAROTO<br />
TEMPORAL<br />
46
Vou errando<br />
tropeçando<br />
fingindo<br />
caindo<br />
sofrendo<br />
mas canto.<br />
Canto porque o instante ain<strong>da</strong> existe<br />
e cantando eu sou.<br />
E se a vi<strong>da</strong> se faz triste<br />
ergo o sonho em riste<br />
e cantando eu vou.<br />
Os ponderantes<br />
que me desculpem...<br />
Mas loucura<br />
é fun<strong>da</strong>mental.<br />
Escalo o muro<br />
escalo o monte<br />
de percevejos<br />
Espalho a raiva<br />
espalho o murro<br />
dos meus desejos<br />
inatingíveis<br />
Escalo a jato<br />
escalo arfante<br />
antes que eu note<br />
o que almejo<br />
(Mas quando é noite<br />
sozinho eu ouço<br />
o meu silêncio...)<br />
Pra que sofrer separados<br />
se podemos<br />
sofrer juntos?<br />
Se choro<br />
é pelo tempo<br />
onde só havia presente<br />
e nós era apenas nós<br />
presente um do outro<br />
CECILIAN<strong>DO</strong><br />
AFINAL<br />
INIMIGO MUN<strong>DO</strong> (HORÁRIO COMERCIAL)<br />
POETRISTE 3<br />
POR ESTAREM DISTRAÍ<strong>DO</strong>S<br />
47
um pro outro<br />
a sós.<br />
Analiso o ar ansioso<br />
que não entra<br />
em meus pulmões.<br />
Não importa<br />
o quanto<br />
eu queira.<br />
Encher a barriga de proteínas<br />
e carboidratos<br />
não resulta em na<strong>da</strong>.<br />
Esvazio sentimentos<br />
inutilmente<br />
no poema<br />
sem força.<br />
Após duas maracuginas<br />
dormi cedo<br />
e pela primeira vez<br />
(talvez desde sempre)<br />
vi o sol subir do mar.<br />
Gaivotas<br />
e urubus<br />
me sobrevoam<br />
sonolentos<br />
enigmáticos.<br />
Vou pra luz refleti<strong>da</strong> no azul<br />
sobre o laranja<br />
entre brumas e morros fantasmas<br />
de aquarelas não pinta<strong>da</strong>s...<br />
Porém, luz<br />
porém, caminho<br />
porém, sigo!<br />
Caminho em direção ao sol<br />
querendo encontrar de novo<br />
beleza que não seja triste<br />
silêncio que não seja dor<br />
solidão que não seja sofrimento.<br />
(A praia quase deserta.<br />
O mar trovoando<br />
para ninguém ouvir.<br />
DESESPERO<br />
RE IN VENTO<br />
48
Ninguém.<br />
Ninguém.)<br />
Passa meia hora<br />
cheia de passos decididos<br />
em direção ao sol.<br />
Canso.<br />
Volto no sentido contrário<br />
exatamente para onde tudo começou.<br />
Desistindo de exatamente tudo<br />
para onde eu ia...<br />
Carros poluem os sentidos<br />
cheios de uma pessoa em ca<strong>da</strong>.<br />
Arruma<strong>da</strong>s<br />
indo trabalhar<br />
com pressa.<br />
Deus, deus<br />
(seus, meus, zeus)<br />
por que me abandonaste?<br />
Daqui a cinco anos<br />
quero ser adulto, independente,<br />
o sonho <strong>da</strong> casa própria realizado<br />
e com alguns milhões em minha conta bancária<br />
para não ter que ter metas<br />
para os próximos cinco anos.<br />
O pontal se recupera do incêndio<br />
esverdejando novamente<br />
aos poucos<br />
lentamente.<br />
No mar de palavras<br />
nenhuma se ergue<br />
Até que a certa se mol<strong>da</strong><br />
se aproxima<br />
se espalha<br />
e se repete<br />
em ca<strong>da</strong> espuma<br />
E repete de novo<br />
e repete<br />
a ca<strong>da</strong> passo<br />
como on<strong>da</strong><br />
até molhar o papel<br />
A ca<strong>da</strong> passo<br />
passo<br />
VENCER A CHUVA<br />
49
e mastigo<br />
Mariposas mortas<br />
e um mar cinza<br />
insolúvel<br />
A ca<strong>da</strong> passo<br />
venta frio<br />
nos confins <strong>da</strong> alma<br />
Para Akira Kurosawa<br />
Estou de pé<br />
sobre a pedra eterna<br />
com um sorriso nos lábios<br />
e uma vitória no peito.<br />
Moinhos giram<br />
ventos fazem <strong>da</strong>nçar o mato<br />
águas acariciam as algas<br />
desertos contemplam o sagrado...<br />
Tudo exatamente<br />
onde deveria estar<br />
desde sempre.<br />
Nunca vi on<strong>da</strong>s<br />
tão grandes<br />
no mar.<br />
É preciso<br />
desistir<br />
para ganhar.<br />
Ca<strong>da</strong> passo<br />
diminuir<br />
para chegar.<br />
Nunca vi on<strong>da</strong>s<br />
tão grandes<br />
no mar.<br />
Minha casa não é minha<br />
minha fala não é minha<br />
minha vi<strong>da</strong> não é minha.<br />
Entre o amor e a raiva<br />
só é minha a lágrima<br />
por vir<br />
SONHOS<br />
DIRETO<br />
DESISTIR<br />
50
em algum filme triste futuro<br />
de outro dia inútil e vazio.<br />
Lágrima:<br />
única constante<br />
nessa maldita equação<br />
insolúvel<br />
em água.<br />
Quando não há mais na<strong>da</strong><br />
que altere o resultado<br />
só resta seguir o fluxo...<br />
(Deus sabe que tentei.)<br />
Como desligo isso?<br />
Tentei consertar<br />
e não dá...<br />
Tentei jogar no chão<br />
pisar<br />
cuspir...<br />
Como desligo isso?<br />
Eu e ela<br />
no arpoador<br />
sobre o mar<br />
sobre minha cama.<br />
Há tanto tempo ali<br />
que já nem via.<br />
Hoje<br />
tudo acabado<br />
a foto brilha...<br />
Eu fiz isso.<br />
Eu.<br />
Eu acabei<br />
com a última<br />
chance.<br />
Eu acabei<br />
com a última<br />
chance?<br />
AMAR<br />
DA INUTILIDADE DAS FOTOS<br />
NÃO-EU<br />
51
Eu?<br />
Eu fiz isso?<br />
Tenho um pacto<br />
com a vi<strong>da</strong>.<br />
Ela me traz dores<br />
i<strong>da</strong>de<br />
falta de sentido<br />
e uns amores perdidos.<br />
Eu dou ao mundo<br />
versos sem cores<br />
(pouco lidos)<br />
e animosi<strong>da</strong>de.<br />
Para Viviane Marques<br />
Ao desistir<br />
de tudo<br />
ganhei tudo.<br />
Vem o novo<br />
em forma de passado<br />
saltar do na<strong>da</strong><br />
pra junto, perto,<br />
logo aqui do lado...<br />
Sobre a mesma pedra<br />
(pedra outra que se quebra e se refaz)<br />
o peito em ânsia<br />
torna-se paz.<br />
O que menos importa<br />
é ela gostar ou não<br />
de mim...<br />
O que mais interessa<br />
é eu não gostar<br />
de mim.<br />
É preciso me reinventar<br />
e recontar minha vi<strong>da</strong><br />
minha aventuras<br />
meus dias<br />
para mim mesmo<br />
tomando o chá <strong>da</strong>s cinco.<br />
I WANT TO BELIEVE<br />
LEÃO<br />
VAMOS, EU E EU<br />
52
(E ter algo<br />
a dizer)<br />
Saltar <strong>da</strong> confortável poltrona<br />
h-a-b-i-t-u-a-l<br />
para uma vi<strong>da</strong> plena.<br />
Declaro oficialmente findo<br />
o pior mês de minha vi<strong>da</strong>.<br />
Declaro oficialmente findo<br />
star sofrendo.<br />
Vem outro mês.<br />
Sempre virá outro mês.<br />
E eu escolho<br />
pelo menos<br />
dores novas.<br />
Dores novas<br />
pedras altas<br />
pessoas fortes.<br />
Eu<br />
escolho.<br />
O mar hoje está<br />
ain<strong>da</strong><br />
mais forte.<br />
Novamente indo<br />
aonde o medo aumenta<br />
(longe, longe do conforto morto)<br />
conversei em Inglês<br />
com duas loiras australianas<br />
que falavam Alemão<br />
an<strong>da</strong>ndo na ciclovia.<br />
Não conheciam Nietzsche,<br />
mas o céu estava particularmente lindo...<br />
Está vendo essa felici<strong>da</strong>de<br />
aí nas suas mãos, Stella?<br />
É minha...<br />
De uma forma estranha<br />
FORÇA<br />
PHOENIX<br />
DESTROCAN<strong>DO</strong><br />
53
tudo se trocou<br />
mas faltou<br />
você devolver ela.<br />
E se o céu que brilhava<br />
bonito perfeito<br />
brilhava desse jeito<br />
por brilhar por ela?<br />
De alguma forma<br />
empurro as mais importantes mãos<br />
que me amparam...<br />
R-e-p-e-t-i-d-a-m-e-n-t-e...<br />
Para não admitir<br />
a dependência<br />
<strong>da</strong> minha vi<strong>da</strong><br />
a mãos outras.<br />
(O sol saiu,<br />
justo agora,<br />
iluminando<br />
minha metáfora...)<br />
Sou a rosa morta<br />
na encosta antiga<br />
cheia de espinhos<br />
precisando d´água.<br />
REENCONTRO<br />
INSIGHT<br />
SÍNDROME <strong>DO</strong> PÂNICO NO LAGO SEM LAGO SEM ÁGUA SEM <strong>NADA</strong><br />
Pânico de noite. Noite to<strong>da</strong>. Última vez que a vi. Último dia. 4:10 <strong>da</strong> manhã e não durmo. To<strong>da</strong>s as<br />
pendências resolvi<strong>da</strong>s exceto respirar. O pânico começou no shopping cheio, nos botecos quentes,<br />
no barulho alto. Um suar estranho e um ver as mãos tremendo leve... Achei que era fome. Não era.<br />
Cafeína do refrigerante? No carro, de novo. No carro, sozinho, um peso. Não ligo o rádio. Se tocar<br />
qualquer música, romântica ou não, sinto que seja lá o que for vai piorar. Chego no apartamento<br />
escuro lá pra meia-noite. Todos dormem. Todos dormem. Isso me agonia. Vou pro PC e mando<br />
logo o último email de seis páginas que escrevo há dias. O último. O último. Uma nova esperança<br />
no MSN me adia o sono, quando eu ain<strong>da</strong> tinha o sono... Então ela se vai (a esperança) e vou tentar<br />
dormir. Vou dormir e desisto. Desisto. Pânico em neon, vozes quase falando no silêncio. Pior... Tá<br />
piorando. Pânico parecido com o medo dos meus pais morrerem quando eu era pequeno... Com a<br />
solidâo na casa de meu avô, onde a noite era cheia de ventiladores e roncos no escuro. Medo um dia<br />
na casa de minha avó, de dormir lá (primeira percepção de um inconsciente inexplicável?). Medo <strong>da</strong><br />
solidão no apartamento de Maria <strong>da</strong> Graça, de dormir na sala ilumina<strong>da</strong> lendo e relendo títulos de<br />
livros... Todo o pior <strong>da</strong> infância brotando... No meu peito. Meu pai lendo histórias e eu esticando o<br />
pé para senti-lo ali ain<strong>da</strong>, presente. Medos infinitos passados. Hoje. Hoje. Hoje, medo de pedir para<br />
meus pais pararem um instante de ver a novela para me abraçarem e me <strong>da</strong>rem parabéns pela<br />
consquista poética... O livro chegou hoje de tarde, quando voltei <strong>da</strong> caminha<strong>da</strong>, e solucei uivando<br />
no banho até o plexo solar doer, misturando, não necessariamente nesta ordem: o nervosismo do<br />
encontro futuro (último), água, alegria pela vitória, dor por perceber não ter com quem dividi-la,<br />
54
lágrima. Ninguém para contar na<strong>da</strong>. Isso é meu pânico. Dividir na<strong>da</strong>... De novo, a infância: minha<br />
mãe estranhando eu não gostar de brincar nunca sozinho, de ver TV sozinho, de jogar videogame<br />
sozinho... Na<strong>da</strong>, sozinho. Desde a infância, meu Deus, meu pânico é estar sozinho... Escrevendo,<br />
percebo que finalmente algo adiantou para eu melhorar. 4:23 Meu problema é não ser visto. Para<br />
que qualquer coisa se ninguém vê? Meu problema é a solidão, pior à noite. Meu problema, meu<br />
maior problema, é viver. Maravilha. Percebo que entendi meu pânico. (Não é mais ansie<strong>da</strong>de,<br />
quase-pânico, sub-pânico, é PÂNICO. No peito.) E ain<strong>da</strong> o sinto. Pausa para três Maracuginas<br />
(além <strong>da</strong>s duas que tomei à tarde). 4:28 Destranco a porta do quarto para o caso de eu ter uma<br />
síncope. Meus pais não acor<strong>da</strong>m por na<strong>da</strong>. Trocaria meu maravilhoso dom de escrever por uma<br />
noite normal, uma vi<strong>da</strong> feliz, uma mulher que não me abandonasse... Não sei se... Não. Melhor não.<br />
Vontade de colocar isso no blog. Vontade de ser visto, mesmo que por qualquer um. Mosquitos. Me<br />
bato / os mato / no meio / do pânico / que começa / a passar. Rio 2016, eu vou! 4:36 Finalmente<br />
entendo porque tantas pessoas desistem de amor. 4:39 Não passou. Largo tudo, inclusive o pingo de<br />
orgulho que me resta, e vou pro quarto de meus pais pedir para falarem comigo e ser abraçado aos<br />
trinta e três (diga trinta e três). 5:25 Passou. Choro. 5:28 Meu Deus, e se o medo infantil de não ter<br />
mais os pais for o mesmo medo de hoje de, perdendo ela, não ter mais ninguém? Passou. 5:52<br />
Piorou. E se algo em mim quer ficar doente para, doente, na condição de doente, admitir mais<br />
facilmente o quanto preciso do outro? Nasce o sol.<br />
ela cala<strong>da</strong><br />
eu mudo<br />
tudo<br />
era<br />
ela<br />
perdendo ela<br />
perco tudo<br />
(perdendo tudo<br />
ganho o mundo)<br />
Por um longo tempo<br />
vestiu o escudo mais forte<br />
e a armadura mais poderosa...<br />
Por um longo tempo<br />
cegou<br />
os próprios<br />
olhos...<br />
Chega!<br />
Destruir o escudo na mão esquer<strong>da</strong><br />
com o punho <strong>da</strong> mão direita!<br />
Chega!<br />
Tirar to<strong>da</strong>s as armaduras!<br />
PODA<br />
DRAGÃO<br />
55
- Levante-se, Shiryu!<br />
Minha poesia:<br />
narcótico<br />
para não ver(mos)<br />
o tamanho<br />
do vazio<br />
nem nos perdermos<br />
na busca inútil<br />
<strong>da</strong> perfeição.<br />
caminho (vôo?)<br />
bolhas nos pés<br />
calos na alma<br />
Depois do desespero,<br />
paz.<br />
Uma paz serena e triste<br />
de que eu nem lembrava mais.<br />
E se os personagens<br />
que vivem e morrem<br />
de amar e sofrer<br />
forem nós?<br />
(Personagens<br />
enigmáticos<br />
contidos<br />
calados...)<br />
Enquanto isso a vi<strong>da</strong><br />
assiste a tudo lentamente<br />
comendo pipocas de estrelas.<br />
Chove na Sapucaí.<br />
Escolhem um rei<br />
Momo.<br />
Sono.<br />
Chove em mim:<br />
adivinho<br />
que devo passar<br />
o carnaval<br />
sozinho.<br />
DEFINO<br />
MUITO VENTO NO CREPÚSCULO<br />
<strong>NADA</strong> A PERDER<br />
LUZ E SILÊNCIO<br />
ESQUINDÔ<br />
56
Para Stella<br />
Ora, podeis amar estrelas...<br />
(De certo, perdeste o nexo... )<br />
E a estrela<br />
a mesma estrela feito<br />
uma estrela outra<br />
desce do céu ao peito<br />
transmuta<strong>da</strong> em pássaro.<br />
Pássaro negro, noite<br />
cantando outras eras<br />
sons dourados, cortes<br />
onde eu era herói...<br />
Mas o herói<br />
é a criança<br />
que propositalmente<br />
se esquece<br />
de crescer<br />
sob o prisma<br />
<strong>da</strong> pura<br />
literali<strong>da</strong>de<br />
(dura e cristalina).<br />
Sigo só.<br />
O pássaro engrandece<br />
em ausência e força.<br />
Respiro.<br />
Asas tece o peito:<br />
dor elegante<br />
que devagar me abraça<br />
e me fortalece.<br />
(O pássaro<br />
passa<br />
a pedra.)<br />
Para Lô Borges<br />
Ando na chuva<br />
e venta<br />
e gosto.<br />
Lembranças boas<br />
PASSO 1: SOLIDÃO NÃO SER DERROTA<br />
PASSO 2: ALVORADA DA ALEGRIA<br />
57
na cabeça azul<br />
fazendo bem...<br />
(Sinto o trem<br />
partindo<br />
em paz.)<br />
Amei<br />
e fui amado...<br />
Podemos mais.<br />
Esse poema é pra quem vai ao cinema sozinho.<br />
Vai no sábado, chega cedo e senta no lugar marcado<br />
esperando o que pode vir parar ao seu lado<br />
na vi<strong>da</strong>...<br />
Wall-E sem Eva,<br />
90% do espaço ao seu redor<br />
são namorados<br />
de mãos <strong>da</strong><strong>da</strong>s...<br />
Então vem a música branca<br />
a paz <strong>da</strong> luz<br />
o cavalo correndo e ganhando asas<br />
o volume aumentando<br />
e tudo melhora.<br />
Há aqueles<br />
que falam sozinho<br />
comentam o filme<br />
de si para consigo...<br />
E os que vão depois do "The End"<br />
para os jardins com chafarizes e lembranças<br />
para os carros negros estacionados com placas desconheci<strong>da</strong>s<br />
an<strong>da</strong>r na chuva fina<br />
na dor inútil<br />
e, suando, pensar:<br />
pelo menos<br />
ain<strong>da</strong> consigo.<br />
Epicuro<br />
é muito bonito<br />
num mundo distinto.<br />
POEMA-HOMENAGEM AO CINÉFILO SOLITÁRIO<br />
DURO<br />
SILENCIO<br />
"Olho a ci<strong>da</strong>de ao redor / E na<strong>da</strong> me interessa / Eu finjo ter calma / A solidão me apressa" (Ana<br />
Carolina / Vitor Ramil)<br />
58
Há um tempo<br />
onde o silêncio<br />
não diz mais na<strong>da</strong>...<br />
E o vento<br />
é o ar<br />
em movimento.<br />
Não<br />
publicar<br />
poemas.<br />
Enquanto<br />
o pensamento<br />
(falado)<br />
racional<br />
causal<br />
não contraditório<br />
lógico<br />
(o nome, o lugar, a identi<strong>da</strong>de, o cpf)<br />
vencer, dominar, controlar<br />
o corpo<br />
a sensação<br />
o sentimento<br />
o agora<br />
o todo<br />
o sonho<br />
a mu<strong>da</strong>nça<br />
o desejo<br />
cuspirei espaços...<br />
Cuspirei espaços<br />
pois é acre o gosto do padrão normal<br />
do pai, do padre, do patrão, do vizinho<br />
nos definindo<br />
nos encolhendo<br />
o corpo, a alma, a percepção.<br />
Fechados em horas eternas sem tempo<br />
entre muros, paredes e grades curriculares menores menores menores<br />
ou seguindo velhos caminhos empoeirados<br />
em vez de criar caminhos aéreos.<br />
Vou semeando sozinho<br />
silêncios<br />
de mãos <strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />
com todos.<br />
PASSO 3: REINVENÇÃO DE SI<br />
ONDE ESTAREI DAQUI A 5 ANOS<br />
59
O surfista<br />
indiferente a olhares alheios<br />
(ou à falta deles)<br />
elegante voa<br />
cortando azuis<br />
do longe até a areia<br />
percurso sinuoso<br />
molhado<br />
belo<br />
arriscado<br />
sempre incompleto<br />
e inútil.<br />
Sozinho<br />
remar de volta<br />
sorver horizontes<br />
e esperar<br />
paciente<br />
a próxima.<br />
O seu sorriso<br />
vem vagaroso<br />
do todo<br />
do na<strong>da</strong><br />
se abre<br />
flor instantânea<br />
estrela cadente<br />
plenitude<br />
cura<br />
e se esvai aos poucos<br />
deixando doce<br />
seus lábios.<br />
O desafio enorme<br />
ultrapasso<br />
venço<br />
compenso<br />
a per<strong>da</strong> de tudo<br />
enfrentando o na<strong>da</strong><br />
que me detinha.<br />
Postes amarelos<br />
alongam-me nas ruas.<br />
Piscam vermelhas luzes<br />
de antenas para celulares<br />
no alto dos prédios apagados.<br />
ONDA<br />
PARA LETÍCIA<br />
AGIR<br />
GLÁUCIO GIL, RECREIO <strong>DO</strong>S BANDEIRANTES<br />
60
Caminho<br />
exausto e feliz<br />
pelo silêncio.<br />
(Feliz<br />
por não estar<br />
mais parado.)<br />
Jacarés não aparecem...<br />
Mas uma capivara enorme<br />
e gor<strong>da</strong><br />
pára de comer<br />
quando paro de an<strong>da</strong>r.<br />
Nos olhamos<br />
tentando<br />
nos abismar.<br />
Sigo.<br />
Ela come.<br />
Uma estrela<br />
entre nuvens<br />
nos abençoa.<br />
Dia cheio<br />
de literali<strong>da</strong>de:<br />
Desejo um fantasma<br />
o curupira<br />
um disco-voador...<br />
Mas a noite<br />
a mesma noite<br />
segue<br />
seus grilos<br />
apenas.<br />
(E isso<br />
não é<br />
pouco.)<br />
Sorrio por dentro<br />
pois além <strong>da</strong> brutali<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong>s matérias do dia longo<br />
(e dos seus etéreos sonhos materiais)<br />
vence o cheiro de jasmim.<br />
Sincronici<strong>da</strong>de<br />
é o divino<br />
na coincidência<br />
sorrindo para você<br />
HOUSE MD 601/602<br />
61
no simples, no perto<br />
violoncelos sem violência<br />
altas esferas refletindo<br />
o melhor pra sua fase<br />
o mesmo que a sua face<br />
religação<br />
borboletas a vencer mariposas<br />
sem feiúra no combate.<br />
Harmonia:<br />
tudo exatamente<br />
onde deveria.<br />
Estou de pé<br />
bato a espa<strong>da</strong> no escudo<br />
venha o que vier.<br />
Entreamanhecer<br />
olhos abertos<br />
vi<strong>da</strong> quase plena.<br />
Devedores duvidosos administradores<br />
debitam duplicatas<br />
descontam participações<br />
adiantam a diretores<br />
depreciam<br />
liqui<strong>da</strong>m...<br />
Vão pagar<br />
no longo prazo.<br />
(Decorem)<br />
se o papa-moscas<br />
no meu quarto<br />
comesse mosquitos<br />
comecem gritos<br />
os grilos infindos<br />
cantassem os sapos<br />
A ciência contempla<br />
mais e mais vastidões<br />
de universo árido<br />
em todos os cantos <strong>da</strong>s galáxias.<br />
Enquanto isso<br />
nascemos<br />
crescemos<br />
reproduzimo-nos<br />
SORRIN<strong>DO</strong><br />
CE<strong>DO</strong> (AS GARRAS DA FÊNIX)<br />
DEDUÇÕES E DÁDIVAS DA CONTABILIDADE DE CUSTOS<br />
NOCTURNO<br />
TELESCÓPIO<br />
62
e morremos<br />
sem tempo<br />
pra ser o m-i-l-a-g-r-e que somos.<br />
Sem tempo<br />
pra querer<br />
o que queremos.<br />
Sofro de excessos.<br />
Na<strong>da</strong> em mim<br />
é pouco<br />
no rio rouco<br />
do risco solto.<br />
(Por isso<br />
rabisco<br />
versos...)<br />
Amo.<br />
Sofro.<br />
Sinto.<br />
Me enfureço.<br />
Demais...<br />
Ideais à parte<br />
agora escolho limites<br />
para me libertar.<br />
Quando tudo é janela<br />
o telhado<br />
é por demais pesado.<br />
An<strong>da</strong>r<br />
até a chuva<br />
desistir de molhar.<br />
Regendo as on<strong>da</strong>s<br />
na praia<br />
sem o peso<br />
do mundo<br />
com os olhos<br />
no novo.<br />
Para Stella<br />
Antiverso só<br />
um cigarro caro<br />
se apaga inexistente<br />
AFETOS<br />
PERSISTÊNCIA<br />
<strong>DO</strong> ALTO<br />
QUASE<br />
63
entretanto<br />
entre tanta<br />
gente<br />
pertolonge<br />
(pernilongos lá em casa)<br />
ante tanta<br />
antítese<br />
antepasto<br />
antipasto<br />
de vacas magras<br />
de vacas mortas<br />
rebanho<br />
eu fora<br />
vaca<br />
amarela<br />
amar ela<br />
vontade reincidente<br />
do chão<br />
a falta<br />
a volta<br />
(distimia é a palavra nova, natimorta)<br />
ao mesmo<br />
quase ao mesmo<br />
de antes<br />
quase o gosto<br />
do tempo cíclico<br />
ao mesmo tempo<br />
do tempo cínico<br />
o chão faltando aos pés.<br />
Porém<br />
quase.<br />
Apenas<br />
quase.<br />
Tudo dura<br />
até o próximo<br />
s-o-r-r-i-s-o<br />
no ponto de ônibus.<br />
Uma guitarra<br />
transmuta<strong>da</strong><br />
em pássaro.<br />
Ando do alto<br />
do alto de tudo<br />
do alto de minha altura<br />
ando<br />
FREE BIRD<br />
COLUNA ERETA (ASA ESQUERDA)<br />
64
ando tentando<br />
ando tentando não cair...<br />
Pingo<br />
pontos<br />
estalos<br />
antes<br />
penso<br />
depois<br />
existo<br />
pingo<br />
pingo<br />
pingo<br />
passo.<br />
Dados os <strong>da</strong>dos<br />
sobre <strong>da</strong>dos ordenados<br />
vagos vasos vazios<br />
vesgo<br />
vago e divago<br />
porque vagando me movo<br />
enquanto a vi<strong>da</strong> joga <strong>da</strong>dos<br />
agrupados<br />
em intervalos interquartílicos.<br />
Todo<br />
o ouro<br />
é o outro.<br />
CHUVA 2 - A REVANCHE<br />
A MEDIANA E A MÉDIA<br />
OROBOROS<br />
PARA ROBERTA<br />
"Se a gente já não sabe mais / rir um do outro, meu bem / então o que resta é chorar." (O Vento -<br />
Marcelo Camelo)<br />
Ando<br />
no alto<br />
sem sobre<br />
salto.<br />
(Se caio<br />
levanto.)<br />
As pessoas fecha<strong>da</strong>s?<br />
Eu fechado?<br />
O sinal<br />
vermelho...<br />
Uma mente presa<br />
em si mesma<br />
PARE<br />
65
criando histórias<br />
contando histórias<br />
acreditando em histórias<br />
e não dormindo...<br />
Não durmo<br />
que a noite<br />
é grande<br />
e qualquer planejamento metódico prévio<br />
jaz natimorto<br />
em meu sangue<br />
vermelho quente<br />
fervente<br />
de agora<br />
diferente<br />
do que deveria<br />
sempre.<br />
(A derrota<br />
do poema<br />
é Clara...)<br />
Todos os dias, o que eu sempre quis:<br />
passo por Drummond em si bemol<br />
e Drummond parece até feliz<br />
quando aqui dentro faz sol.<br />
ORLA (A ASA DIREITA)<br />
AMOR FATI REVISITA<strong>DO</strong> (A AVE INTEIRA DE PHOENIX)<br />
"Todos estes que aí estão / Atravancando o meu caminho, / Eles passarão. / Eu passarinho!"<br />
(Mario Quintana)<br />
1 - Amar o inesperado;<br />
2 - Não esperar não sofrer;<br />
3 - Na dúvi<strong>da</strong>, fazer;<br />
4 - Sobretudo, voar.<br />
Eu sou<br />
o que você é.<br />
Alguém que busca<br />
e quer.<br />
(O invisível...)<br />
A poesia<br />
não leva a na<strong>da</strong>.<br />
Leva a tudo.<br />
já amei<br />
sem dizer na<strong>da</strong><br />
VITÓRIA<br />
META<br />
JÁ HÁ MEIOS MELHORES?<br />
66
já amei<br />
com raiva<br />
já amei<br />
parado<br />
já amei<br />
sem raiva<br />
já amei<br />
duvi<strong>da</strong>ndo<br />
já amei<br />
fingindo<br />
já amei<br />
voando<br />
já amei<br />
atrasado<br />
já desamei<br />
sorrindo<br />
já amei<br />
de um só lado<br />
já amei<br />
caindo<br />
já amei<br />
demais:<br />
jamais<br />
amarei<br />
em cheio<br />
o Eros<br />
é maior<br />
que o erro<br />
LETICIANTE<br />
GUARDA<strong>DO</strong><br />
Quando os pais não valorizam a própria Liber<strong>da</strong>de e não incentivam a filha a dizer não — nem lhe<br />
concedem o sagrado direito de fazer escolhas — ela se tornará uma mulher submissa, sem graça e<br />
sem criativi<strong>da</strong>de. (...) - Edson Marques<br />
Para Stella<br />
Sonhei que eu contava<br />
pro melhor amigo que não tenho<br />
sobre o final patético<br />
do grande amor que também não tenho.<br />
Hoje é um <strong>da</strong>queles dias<br />
em que até o mar, sem on<strong>da</strong>s<br />
silencia.<br />
E o meu grito não <strong>da</strong>do<br />
relampeja.<br />
Quantos raios dourados<br />
bastariam<br />
67
pra que essa raiva carrega<strong>da</strong><br />
seja?<br />
Porém, vejamos nós:<br />
se o mar silencia<br />
os céus preparam sua voz...<br />
A noite se estende<br />
pro alto<br />
pra trás<br />
pra frente...<br />
A noite imensa<br />
de céus passados<br />
distantes e calmos e bons<br />
e futuros possíveis.<br />
A noite é alta<br />
na ci<strong>da</strong>de escura<br />
sem semáforos ou petições.<br />
Árvores fortes<br />
sustentam<br />
a noite.<br />
Prédios mortos<br />
temem<br />
do alto <strong>da</strong> ordem.<br />
Pessoas<br />
ratos<br />
amontoados<br />
nos pontos de ônibus<br />
preocupam-se.<br />
A música triste<br />
agora é apenas lenta.<br />
Na música lenta<br />
a beleza acende.<br />
(Nas trevas<br />
voltar a ser.)<br />
Reaprender<br />
a flertar<br />
com prazer<br />
devagar...<br />
APAGÃO<br />
RENASCIMENTO<br />
68
Para Diego e Luciana<br />
"Balance os cabelos, menina, com seu rabo de cavalo<br />
Leve-me de volta (para quando você era jovem)"<br />
Leve-me para quando o mar<br />
não éramos<br />
grande de dor<br />
e sal.<br />
E amar<br />
ia além<br />
<strong>da</strong> luminosi<strong>da</strong>de planeja<strong>da</strong><br />
pra mostrar<br />
de leve<br />
o sonho impossível.<br />
O horizonte sangra<br />
a hora alquímica<br />
sobre as águas:<br />
nem noite<br />
nem dia.<br />
A lua sorrindo<br />
desvanece<br />
junto com os luais<br />
as estrelas<br />
e os sonhos sexuais<br />
<strong>da</strong> escuridão.<br />
O dourado<br />
traceja pinturas róseas<br />
sobre o mar manso.<br />
Luzes se apagam<br />
seres noturnos se desfazem<br />
deixando cheiro de cerveja no chão.<br />
No céu<br />
dragões de nuvens<br />
bafejam<br />
o azul <strong>da</strong> manhã.<br />
E gaivotas<br />
adoram em círculos<br />
a esfera brilhante<br />
que venceu mais uma vez<br />
as profundezas.<br />
FLASHBACKS OF A FOOL<br />
NASCENTE<br />
69
Para Juliana<br />
antes<br />
tarde<br />
depois<br />
cedo<br />
noite<br />
de ris(c)os<br />
contidos<br />
Enquanto aqui dentro<br />
uma agonia<br />
silencia<br />
lá fora<br />
chove.<br />
Independentemente disso<br />
mais cabelos<br />
nascem brancos.<br />
A vi<strong>da</strong> traz<br />
momentos bons<br />
capivaras noturnas<br />
paixões controla<strong>da</strong>s impossíveis<br />
poetisas no banco ao lado do ônibus<br />
coincidências sincrônicas<br />
momentos ruins<br />
mariposas<br />
dissidências<br />
e sigo com a mesma cara.<br />
A<br />
mesma<br />
cara<br />
de capivara.<br />
Sem pressa<br />
ou drama<br />
sigo estranhamente leve<br />
e tomo vitaminas<br />
para a falta<br />
de algo indeterminado<br />
que não faz muita falta.<br />
A MANHÃ<br />
EMAGRECIMENTO, PAZ TRANSCENDENTAL OU CANSAÇO?<br />
LUTO<br />
"Mesmo que nossos lábios não se cruzem novamente, posso dizer em silêncio, tudo aquilo que ficou<br />
escondido para sempre. Haverá momentos em que nossos pensamentos se encontrarão no espaço e,<br />
assim, sentiremos falta de estar juntos novamente." - Janis Joplin<br />
70
Para Stella<br />
Luto contra<br />
o luto resoluto.<br />
Luto contra<br />
que o luto<br />
seja.<br />
Que seja luta.<br />
Veja.<br />
Luciana mútua<br />
Luciana ambas<br />
vencer a noite via palavra<br />
no barco leve<br />
<strong>da</strong> paciente L<br />
(com fome).<br />
Perfil de Luciana de perfil:<br />
Lu se ama.<br />
Chocolate pouco<br />
eu e ela - Lucians transvexos<br />
nós, analisados, nos analisando<br />
Luciana livre<br />
Luciana engraça<strong>da</strong> e indizível<br />
nozes buscamos<br />
vozes buscais<br />
sonhando pacas, cobras e buracos.<br />
Nome que salva<br />
o não (sem saliva)<br />
<strong>da</strong>s infinitas nuli<strong>da</strong>des<br />
que não dizem (nem são).<br />
Devo me fechar em mim<br />
para balanço.<br />
Não há mais na<strong>da</strong> a fazer.<br />
Exceto ser o melhor possível<br />
em to<strong>da</strong> maldita área imaginável<br />
para me convencer...<br />
LUCIANA<br />
NO MORE TEARS<br />
71
Para Stella<br />
Os covardes se olham<br />
com olhos contidos<br />
dentre grades e telas<br />
os covardes não tentam.<br />
Os covardes lamentam<br />
entre tanta mentira<br />
entre tanta cegueira<br />
os covardes não fazem.<br />
Uma tonta corri<strong>da</strong><br />
que os fazem covardes<br />
nessa pressa venci<strong>da</strong><br />
nessa vi<strong>da</strong> sem morte.<br />
E correndo pra cama<br />
quando a noite explode<br />
os covardes se amam?<br />
Os covardes se fodem?<br />
TEMA DE ABERTURA<br />
Para Stella<br />
Um ex-poeta recomendou<br />
um saco de panca<strong>da</strong><br />
para a minha raiva.<br />
Prefiro<br />
a<br />
palavra.<br />
sexta-feira, 20 de novembro de 2009 – Snikt!<br />
AUTO-POEMA-CONSELHO OU GALINHA DANGOLA<br />
Para Stella<br />
Nunca ame um fraco<br />
pelo amor e admiração<br />
que ele te dá<br />
por ser forte.<br />
Mesmo os fortes<br />
precisarão<br />
de uma força<br />
COR<br />
72
algum dia.<br />
E, nesse dia,<br />
justo nesse dia,<br />
o fraco fraquejará...<br />
(E quando chega o dia<br />
em que o forte<br />
precisa desespera<strong>da</strong>mente<br />
do fraco...<br />
Qualquer idiota pode ver<br />
que ele está ain<strong>da</strong> mais fraco<br />
do que o fraco propriamente dito.)<br />
PASSIONAL<br />
Para Stella<br />
Uma faca<br />
uma espa<strong>da</strong><br />
um peito...<br />
Uma fraca<br />
uma espa<strong>da</strong><br />
um medo...<br />
Um medo<br />
lentamente<br />
i-n-s-p-i-r-a-n-d-o<br />
Uma vontade de aço.<br />
PREPARE-SE<br />
Para Stella<br />
Não...<br />
Não!<br />
Eu não vou calar meus versos<br />
para refletir calmamente<br />
passivamente passar<br />
sem mu<strong>da</strong>r<br />
esse mundo de mer<strong>da</strong><br />
(essa visão de mundo de mer<strong>da</strong>).<br />
(Venta forte na varan<strong>da</strong>...)<br />
- Namastê o caralho!<br />
73
Não vou calar meus versos<br />
no fundo do bolso dos pragmáticos<br />
no fundo dos sonhos de mer<strong>da</strong> dos conservadores<br />
no fundo <strong>da</strong>s almas pequenas dos especialistas<br />
no fundo <strong>da</strong> falta de tempo dos que na<strong>da</strong> fazem<br />
para poupar<br />
os que adiam<br />
os que fogem<br />
os que mentem<br />
os que se escondem<br />
(até de si mesmos).<br />
- Boa noite, seu VERME!<br />
Siga lendo calado<br />
(e tremendo)<br />
o meu egoísmo sagrado...<br />
MAS, CÁ ENTRE NÓS, PUTA QUE PARIU, HEIN...<br />
Para Stella<br />
A ca<strong>da</strong> dia que passa<br />
e que você adia<br />
uma sau<strong>da</strong>de morre<br />
e um desgosto pia<br />
a ca<strong>da</strong> dia que passa<br />
e que você adia<br />
a ponta <strong>da</strong> raiva brilha<br />
qualquer chance tardia voa<br />
pensando na vi<strong>da</strong> morta<br />
em que você prosseguiria<br />
a ca<strong>da</strong> dia que passa<br />
e que você adia<br />
calmamente cavando<br />
avestruz sombria<br />
lentamente e fria<br />
se enterrando<br />
se escondendo<br />
tremendo de fraca<br />
a ca<strong>da</strong> dia que passa<br />
e que você adia.<br />
A CONSTATAÇÃO FINAL<br />
Para Stella<br />
Se eu tivesse passado<br />
os últimos anos<br />
com um coqueiro<br />
74
ele não estaria<br />
me devendo<br />
noventa real...<br />
SEM DIZER ADEUS...<br />
Para Stella<br />
Stella Desapareci<strong>da</strong><br />
Seis anos de convívio<br />
um casamento marcado<br />
duas vi<strong>da</strong>s planeja<strong>da</strong>s<br />
um apartamento arrumado<br />
e agora esse silêncio.<br />
Sua dúvi<strong>da</strong> eterna sobre o que quer<br />
e mamãe não deixa<br />
que adivinho sozinho<br />
mais ou menos<br />
assim assim<br />
meio dita mas não dita<br />
t-o-t-a-l-mente<br />
obscura<br />
fugi<strong>da</strong><br />
pela metade<br />
covarde<br />
meio de lado<br />
meia ver<strong>da</strong>de adia<strong>da</strong>...<br />
Será medo?<br />
Será tudo?<br />
Será o fim?<br />
Será já na<strong>da</strong>?<br />
Duro<br />
conjecturo<br />
e escrevo emails de seis páginas durante dias<br />
(também não lidos)<br />
infinitamente<br />
d-e-c-e-p-c-i-o-n-a-d-o<br />
pelo cúmulo-nimbo de sua fraqueza<br />
que não chove<br />
não atende<br />
não comparece<br />
não se mostra...<br />
Sem conversa<br />
sem saí<strong>da</strong>.<br />
E a raiva<br />
proporcional a essa dor<br />
75
se expande<br />
se explode<br />
enquanto um amor<br />
miserável filha-<strong>da</strong>-puta burro<br />
se esconde aqui dentro<br />
(amodiar, amodiar desde sempre amodiar)<br />
e não se acaba tão rápido<br />
quanto o seu enigma...<br />
Tentei<br />
e tento<br />
desistir<br />
sem conseguir<br />
sem entender<br />
sem você.<br />
OLHAN<strong>DO</strong> DE FORA<br />
Para Stella<br />
Preciso parar de falar disto.<br />
Preciso parar de falar disto.<br />
O plano original<br />
era você vir morar comigo...<br />
Preciso parar de falar disto.<br />
Preciso parar de falar disto.<br />
Desde então, tudo foi lentamente mu<strong>da</strong>ndo<br />
para o que SEUS PAIS queriam.<br />
Preciso parar de falar disto.<br />
Preciso parar de falar disto.<br />
O melhor movimento de minhas mãos<br />
nos últimos seis anos<br />
foi jogar a aliança no lixo.<br />
ILUMINAÇÃO<br />
Para Stella<br />
O verme procura<br />
buracos escuros<br />
para ser.<br />
Ser<br />
em<br />
paz.<br />
76
Sob as sombras seguras<br />
adiar o confronto sagrado<br />
e não mostrar aos poderosos pais (de outro século)<br />
sexo pecaminoso proibido prazeroso<br />
noites fora de casa<br />
viagens, religiões, fantasias e algo mais<br />
(em troca de unhas corta<strong>da</strong>s).<br />
Apareci<strong>da</strong> Santa<br />
bailarina de rosinha emoldura<strong>da</strong> na sala girando para<strong>da</strong> no tempo<br />
com santos em que finge acreditar no quarto,<br />
porém<br />
sau<strong>da</strong>velmente revolta<strong>da</strong> e reprimi<strong>da</strong> com os mesmos pais,<br />
ave macula<strong>da</strong> em pele,<br />
rosacruz liberta<br />
desde muito antes<br />
deste monstro imaginário que vos fala<br />
se tornar real e palpável.<br />
(O verme<br />
se esconde<br />
na sombra,<br />
no silêncio<br />
e desiste<br />
do vestido<br />
alvo como a paz<br />
que faria mamãe chorar em Cristo.)<br />
PAUSE<br />
Para Stella<br />
Quando paro<br />
quando vejo<br />
estou pensando<br />
tentando entender<br />
ruminando detalhes, quandos<br />
e progressivamente<br />
trincando dentes e punhos<br />
contra o pesadelo de que não acordo<br />
nem com to<strong>da</strong> a raiva do mundo<br />
nem espalhando a raiva pro mundo<br />
sem acordos de partes<br />
sem acordes de voz<br />
sem acordos de partos<br />
enquanto silencias<br />
silencias fraco<br />
como pais ausentes<br />
como deuses imaginários...<br />
77
- Desejo sinceramente que durante to<strong>da</strong> a sua vi<strong>da</strong> outros falem por ti.<br />
CHINELOS AZUIS PEQUENINOS<br />
Para Stella<br />
Chinelos azuis e pequenos<br />
vazios<br />
ao lado dos meus.<br />
Chinelos azuis e pequenos<br />
que apoiaram pés<br />
que apoiaram pernas<br />
que apoiaram corpo<br />
que apoiaram cabeça.<br />
(No entanto<br />
cabe dizer<br />
que desconheço<br />
esse ser.)<br />
Chinelos azuis e pequenos<br />
no apartamento fechado<br />
no apartamento vazio<br />
nas minhas mãos cansa<strong>da</strong>s<br />
nos meus olhos secos...<br />
Chinelos azuis e pequenos<br />
no lixo<br />
do apartamento trancado.<br />
ÚLTIMO POEMA PARA STELLA<br />
nunca cometo o mesmo erro<br />
duas vezes<br />
já cometo duas três<br />
quatro cinco seis<br />
até esse erro aprender<br />
que só o erro tem vez<br />
Paulo Leminski<br />
Eu também prefiro os laços firmes<br />
desde que sejam<br />
ver<strong>da</strong>deiros.<br />
Onde ambos<br />
se mostrem todos<br />
como são.<br />
78
Aqueles laços<br />
pelos quais<br />
vale ser e lutar<br />
quando aparece a primeira - a maldita primeira! - dificul<strong>da</strong>de.<br />
(A vi<strong>da</strong><br />
não tem ensaio<br />
como num filme mal feito consolador espírita<br />
do youtube).<br />
Prefiro a sensação de ter sido eu mesmo<br />
totalmente eu<br />
do início ao fim<br />
totalmente claro<br />
exposto<br />
vulnerável<br />
cego<br />
burro<br />
mas eu.<br />
Mesmo que se desfaça o laço firme (porém falso)<br />
como tudo, um dia, acaba...<br />
E um milhão de vezes se acabando<br />
um milhão de vezes eu morra<br />
sem poder chorar<br />
sem poder chorar uma maldita lágrima<br />
presa no peito quente que não explode<br />
pressionado por infernos insolúveis de silêncio e pânico...<br />
Mas quem morre<br />
sou eu<br />
EU<br />
orgulhosamente EU<br />
e não o que eu queria parecer<br />
e não a despercebi<strong>da</strong> heroína cristã que só pensa no outro<br />
(porque não tem um eu próprio).<br />
E é esse mesmo EU<br />
que pode sair pela vi<strong>da</strong><br />
a errar de novo<br />
radioso de luz e garras e dentes<br />
por EXISTIR<br />
em vez de se ESCONDER.<br />
E por isso mesmo<br />
posso dizer que a raiva<br />
a raiva no final<br />
(apesar <strong>da</strong> bela teoria de Jung)<br />
não foi de mim mesmo...<br />
79
Ana<br />
me sorri<br />
a noite.<br />
Eu chego em casa<br />
e Luna é festa<br />
coraçãozinho louco desvairado<br />
rabo-hélice...<br />
Eu fico triste<br />
e Luna lambe<br />
pula no colo<br />
adivinha...<br />
Quando eu vejo<br />
chamo Luna<br />
(de barriga pra cima)<br />
de tartaruga.<br />
Luna vai embora<br />
amanhã.<br />
Qual a cor<br />
e o sabor<br />
<strong>da</strong> sua alma?<br />
Talita:<br />
Conjunto interminável de aspectos<br />
de uma sinfonia leve que nunca ouvimos to<strong>da</strong><br />
(sentir, pensar, tocar, escrever, procurar, ser...)<br />
mas é completamente<br />
bonita.<br />
Um monge budista<br />
após anos e anos de prática meditativa<br />
consegue não pensar em na<strong>da</strong><br />
atinge o Nirvana<br />
e, para um psicólogo apressado<br />
nesse exato instante<br />
não consegue ter desejo<br />
ou imaginar um futuro:<br />
está deprimido.<br />
Eu com tendinite<br />
sem poder an<strong>da</strong>r<br />
matei oito mosquitos<br />
no segundo an<strong>da</strong>r<br />
BELO HORIZONTE<br />
LUNA (E A VIDA)<br />
STEPHANIE<br />
TALITA<br />
DA MASTURBAÇÃO MENTAL<br />
POEMA ESQUISITO<br />
80
às três <strong>da</strong> manhã<br />
quando a luz voltou<br />
quando ar ligou<br />
no meu quarto caro - agora com tela<br />
desprotegido<br />
(e casualmente eis que de tarde não vi o infinito<br />
olhando bobo a beleza do crepúsculo que na<strong>da</strong> me dizia<br />
no mesmo ônibus <strong>da</strong> alegria de sempre<br />
quando dentro aqui treva aqui dentro sem trova<br />
chovia)<br />
dito isso<br />
não durmo.<br />
Sou eu<br />
o nervo <strong>da</strong> noite de Noll<br />
sou o olhar assustado<br />
para as frestas no telhado noturno<br />
antiácido<br />
Friburgo<br />
salteabundo<br />
Através <strong>da</strong>s frestas e freiras<br />
do teto trincado e rasgado<br />
um céu sem estrelas nem segredos<br />
(nem sagrados)<br />
me leva ao mundo plano<br />
aos rebanhos<br />
já que tudo<br />
tudo<br />
são rebanhos<br />
me banho do mesmo mesmo<br />
enquanto a vaca ri<br />
silenciosa<br />
como capim ao vento<br />
com Coca-Cola.<br />
Escrever<br />
pode ser<br />
perigoso.<br />
Quantas libélulas<br />
é possível tossir?<br />
Pintassilgos silvam<br />
em silveiras e silvas e lulas sem dedo...<br />
Políticos roubam<br />
REDISCO<br />
TUTELA<br />
LIBERA<br />
81
e pessoam se reproduzem.<br />
Simples.<br />
É a ordem <strong>da</strong>s coisas em ordem...<br />
Tanta coisa a mim muitíssimo interessante...<br />
Quantas libélulas<br />
é possível tossir?<br />
Não estou bem não, não é?<br />
Será meu colesterol?<br />
Meus triglicerídeos?<br />
Onde estão os doutores de branco<br />
cheios de respostas?<br />
Esse ano não tive ain<strong>da</strong> glaucoma<br />
mas cuspi libélulas<br />
pensando em centopéias<br />
mês sim<br />
mês não.<br />
(Será a fibromialgia psicossomática? Eram os deuses astronautas?)<br />
O poeta é um psicossomatizador, Pessoa...<br />
Psicossomatiza tão completamente<br />
que chega a fingir que é cor<br />
a mor que deveras sente.<br />
Tanta cara parafernália<br />
e ain<strong>da</strong> não consigo<br />
ver dois canais ao mesmo tempo.<br />
Eu cuspo nos objetivismos triunfalistas.<br />
Eu cuspo nos objetivismos triunfalistas.<br />
Eu cuspo nos objetivismos triunfalistas.<br />
Cravar as garras na terra<br />
as falto<br />
ar falta...<br />
Despender morcegos-símbolos<br />
raios amarelos.<br />
Abrir a palma<br />
jamais<br />
novamente.<br />
LIMITE<br />
POETRÍPLICE<br />
PROMESSA<br />
POESIA CONCRETO<br />
82
O concreto do caminhão<br />
mata o mato.<br />
Plantas de to<strong>da</strong>s as regiões<br />
são ca<strong>da</strong> vez mais<br />
concreto e projeto e plano e cálculo.<br />
Árvores mol<strong>da</strong>m prédios<br />
só até o concreto secar<br />
(depois queimam as tábuas).<br />
O homem concreto<br />
carrega consigo numa mala preta e quadra<strong>da</strong><br />
pressa, não ser, não saber, não poder e um rumo esquecido.<br />
De quando em quando<br />
cresce, reproduz os pais<br />
e morre na paz de nosso senhor Jesus Cristo.<br />
A poesia verde-sonho<br />
é mais e mais<br />
cinza<br />
e fumaça.<br />
Núbia de nuvens<br />
e palavras tempestades:<br />
raios de ser.<br />
Sabemos ambos<br />
que amor rima com sangue e dor<br />
(não lantejoulas e mimimis).<br />
Gritamos ambos acre<br />
perante a força do indeterminável<br />
sem nos ajoelhar perante nenhum deus minúsculo<br />
mol<strong>da</strong>do por mãos humanas.<br />
Para I.<br />
Lambi<strong>da</strong>s lembranças eróticas<br />
<strong>da</strong> paixão ereção:<br />
vôos nus para ti<br />
vôos sorrisos<br />
<strong>da</strong>s almas se tocando dificultosas<br />
entre tanta linguagem<br />
línguas vencem<br />
flores sensíveis<br />
e castas<br />
porém úmi<strong>da</strong>s<br />
pétalas macias<br />
JOPLIN<br />
MELODIA<br />
83
sem lágrimas, sem lágrimas...<br />
Tudo pra <strong>da</strong>r errado<br />
e <strong>da</strong>r certo...<br />
Tanto imaginário<br />
e no entanto<br />
real:<br />
o início<br />
o fim<br />
e o meio.<br />
Núbia de nuvens<br />
de nuvens todos<br />
somos<br />
núcleos de nuvens imaginárias<br />
leves leves tão leves<br />
que a sombra <strong>da</strong> pena <strong>da</strong> asa<br />
do mais leve pássaro<br />
passando rente<br />
desmancharia em chuva<br />
ou em choro<br />
to<strong>da</strong> a sua branquidão.<br />
(Dilúvio).<br />
Na<strong>da</strong> é para sempre<br />
exceto o céu sem fim...<br />
Aqui embaixo<br />
nós<br />
gafanhotos<br />
acabaremos<br />
sem som<br />
no vácuo.<br />
Na batata-frita<br />
há mais poesia<br />
que no coração.<br />
É noite.<br />
Todos dormem.<br />
É tarde.<br />
Os bichos nos presépios dormem.<br />
As luzinhas brilham nas varan<strong>da</strong>s.<br />
É noite, apenas...<br />
Sem mais palavras.<br />
DE NÚBIA<br />
DUST IN THE WIND<br />
CONS TATO AÇÃO<br />
FELIZ<br />
84
A tartaruga do sonho<br />
de barriga pra cima<br />
parecia morta<br />
mas não estava.<br />
Desvirei uma<br />
duas<br />
três...<br />
Mas ela lenta<br />
e quase morta<br />
virava de volta<br />
outra vez.<br />
Há traições maiores que beijos<br />
Há traições maiores que sexo<br />
Há traições assim:<br />
A flor e a grade:<br />
Agrade a flor<br />
e cairão as grades.<br />
Com calmas novas<br />
notar a beleza do pequeno<br />
e a importância do próximo.<br />
Hoje acordei bem<br />
porque fui lembrado<br />
de que sou bom.<br />
Caminhei na água<br />
sobre círculos que ampliavam<br />
a vastidão do mundo.<br />
Fez-se um rastro profundo<br />
onde a luz tremia...<br />
Se a manhã estava fria de gente<br />
amanhã será de novo:<br />
amanhecerá de novo<br />
o mesmo, diferente.<br />
A dor é inevitável.<br />
Busquemos<br />
algum<br />
prazer...<br />
CAS(C)O<br />
ATRAÇÕES<br />
PARA I. (SO?)<br />
ACORDAR BEM<br />
OBRIGA<strong>DO</strong><br />
2010<br />
METAS DE TEMPO NOVO<br />
85
Chegou o final <strong>da</strong> guerra<br />
e o silêncio amplia os campos.<br />
Na beira do oceano<br />
sem nenhum cavalo ou dragão<br />
sinto o peso de Excalibur pela última vez.<br />
Ela<br />
quer<br />
o<br />
mar.<br />
Seu vôo de giros e brilhos<br />
parece lento e musical.<br />
As águas se abrindo para recebê-la<br />
levam também<br />
(lavam também)<br />
minha alma.<br />
Do mar<br />
de incertezas<br />
on<strong>da</strong>s de ansie<strong>da</strong>de<br />
raios de raiva<br />
eu<br />
(e somente eu)<br />
me resgato.<br />
Entre tropeços<br />
novamente vejo<br />
borboletas.<br />
Almejo<br />
a sereni<strong>da</strong>de rósea<br />
<strong>da</strong>s cerejeiras<br />
do Japão em mim.<br />
Desquero a cor<br />
errante de crepúsculos ocres<br />
cantos rasgados de dor<br />
dentes trincados<br />
quebra de vidros<br />
cacos de vi<strong>da</strong>.<br />
Chove.<br />
Não há on<strong>da</strong>s<br />
no mar.<br />
EXCALIBUR<br />
YOGA<br />
O RETORNO<br />
PERCE-VEJO<br />
3 SERENAS CONSTATAÇÕES FAZEM UM POEMA?<br />
86
Os pássaros voam<br />
sem motivo.<br />
É hora.<br />
É tempo<br />
<strong>da</strong> palavra.<br />
Da palavra<br />
certa.<br />
Mas e se a palavra<br />
a mesma palavra certa<br />
só acerta mesmo<br />
em mim?<br />
Tenho predisposição<br />
para crianças e bichos.<br />
Gaivotas parecem anjos<br />
(e acenam<br />
sempre que passo).<br />
A lua costuma<br />
me sorrir<br />
no azul <strong>da</strong>s tardes<br />
em que olho pra cima.<br />
Quem crê<br />
não<br />
cria.<br />
11:11 - A SETA NO ALVO<br />
VÔO LONGE<br />
EM DEUS<br />
CONTO DE NATAL - UMA HISTÓRIA DE AMOR<br />
Julinha amava Logan. Quando ele cuspia no chão, ela corria pra limpar e pedia desculpas. Enquanto<br />
isso, ele se perguntava constantemente o que admirava nela... Será que a amava? Mas amor não<br />
seria baseado na admiração? Ela não criava na<strong>da</strong> admirável... Logan queria amor livre nessa época.<br />
Lia Roberto Freire e Edson Marques. Houve choro e desconversa, mas continuaram juntos. Com o<br />
tempo, Logan foi se acostumando mais e mais com o amor desmedido e incondicional, o carinho, o<br />
companheirismo, a troca de confidências, a análise de sonhos dividi<strong>da</strong>, a proteção, o afeto, ele<br />
sempre com razão, ela dirigindo pra ele, lendo e relendo to<strong>da</strong> a sua obra, fazendo comi<strong>da</strong> pra ele, o<br />
sexo <strong>da</strong> forma que ele man<strong>da</strong>sse (escondido dos pais dela)... Logan amava Julinha. Em três anos,<br />
ele engordou dez quilos, entrou em depressão, parou de ler, trancou a facul<strong>da</strong>de, quase não saía<br />
mais do quarto, largou o emprego, brigou com o melhor amigo e se viciou em jogos de computador.<br />
E Logan não parou aí: quis que essa maravilha fosse pra sempre (apesar de sua admiração teórica<br />
por Heráclito) e pediu Julinha em casamento (apesar de sua admiração teórica por Nietzsche).<br />
Obviamente, ela viajou com os pais num fim de semana e nunca mais falou com Logan. Tinha<br />
medo dele. Ele tocou as barbas <strong>da</strong> morte e do na<strong>da</strong>. Mas refez-se em três meses e voltou ao que era<br />
antes (talvez melhor). Tinha nojo dela.<br />
87
Eu tenho pressa<br />
e Julia<br />
tem Pastel no nome.<br />
Que falar<br />
(todo prosa)<br />
quando a vi<strong>da</strong><br />
sai <strong>da</strong> mer<strong>da</strong><br />
direto<br />
pra rosa?<br />
Para Julia Pastore<br />
Sob a amendoeira do tempo<br />
o templo sagrado<br />
de te achar.<br />
e eis que a poesia<br />
agora alça<br />
de outra beira<br />
gumercin<strong>da</strong><br />
mostra<br />
que não é<br />
só arte<br />
muito menos<br />
só parte<br />
ca<strong>da</strong> vez mais longe<br />
de nós e paz e conformi<strong>da</strong>de<br />
rasgaremos a ilusão do real<br />
(que não lê)<br />
por um real<br />
(ou uma revolução)<br />
dá-me uma mão<br />
lição<br />
missão<br />
obrigado<br />
(pausa pra xingar mentalmente<br />
o cara serrando algum piso na obra interminável aqui do lado<br />
desde que o cachorro parou de latir e rimar)<br />
Somos o encontro<br />
o estrondo<br />
tempestades se olhando.<br />
POR MOTIVO DE FOME<br />
TIMING<br />
TEU POEMA<br />
TE ME LEN<strong>DO</strong>, JULIA<br />
88
Para Julia, que não pára<br />
Parei de ver Fringe<br />
pra ler sua obra completa<br />
e foi uma volta completa<br />
ao redor do fundo<br />
de mim mesmo<br />
parado<br />
aqui<br />
eu<br />
.<br />
Julia tem voz<br />
tem eu<br />
Julia fala alto<br />
grita<br />
Julia usa máscara branca<br />
amedrontadora<br />
aponta o dedo na cara do mesmo<br />
assalta em Pessoa e sem telas intermediárias<br />
assusta o sistema que se reproduz em ternos eternos...<br />
Mas na hora certa<br />
Julia, leve<br />
tira to<strong>da</strong>s as máscaras<br />
(to<strong>da</strong>s)<br />
e silencia.<br />
Caminho perdendo peso<br />
caminho na praia<br />
sob a proteção de palavras<br />
a colorir um céu de estrelas mortas.<br />
Meu eu real caminha<br />
ao encontro<br />
do ideal de eu<br />
do eu ideal<br />
do eu lírico.<br />
Final<br />
mente.<br />
Para Julia<br />
Noite cheia<br />
meia noite<br />
lua ausente<br />
meia lua<br />
FINGEMUN<strong>DO</strong><br />
RELEN<strong>DO</strong> JULIA PASTORE<br />
POEMINHO EGOCÊNTRICO<br />
SEM BEBER VINHO<br />
89
gente inteira<br />
longe ela<br />
perto, perto...<br />
Nunca Antígona<br />
antídoto para a nuca<br />
terra antiga nua<br />
cheiro de molha<strong>da</strong><br />
chove devagar<br />
a madruga<strong>da</strong>.<br />
Ain<strong>da</strong> cedo<br />
a noite calma<br />
amando a morte<br />
a parte to<strong>da</strong><br />
segue escrevendo<br />
escreve sendo.<br />
Trocentas fontes no longe<br />
na lama<br />
no inferno<br />
e se apenas<br />
saíssemos de baixo dos telhados<br />
a água milagro-ferruginosa viria direto do céu à boca.<br />
Ninguém compreende<br />
a agrura<br />
de ca<strong>da</strong> mínimo mísero passo meu.<br />
Nem entende<br />
o esforço por trás<br />
de ca<strong>da</strong> presente que dou (e meço).<br />
Ninguém.<br />
(Nem agüenta indolor<br />
os monstros invisíveis atrás<br />
do silêncio a dois incolor...)<br />
Quem ternamente compreende<br />
(sei, sei...)<br />
passam dois ratos<br />
vai pra outro lado<br />
passam dois ratos<br />
vai pra longe<br />
dá tchauzinho<br />
passam dois ratos<br />
foge<br />
corre<br />
some.<br />
A NULA<br />
FENDA<br />
FONTE<br />
ESTA<strong>DO</strong><br />
90
Eu não julgo.<br />
Eu não sou meu eu-lírico<br />
em paz<br />
cheio de ideais...<br />
Eu não sei quem sou.<br />
(Nem os ratos.)<br />
Num mundo imundo distrito<br />
de egoísmo e intolerância ao distinto<br />
(que me arde mas faço parte)<br />
eu parto ficando<br />
e vivo indistinto<br />
entre o calar e o ferir<br />
entre o pai e a mãe<br />
entre o céu inalcançável e o inferno deserticamente real<br />
forçando passos sem conseguir sentir o vento<br />
forçando passos pra não enlouquecer parado trancado estagnado<br />
mas odiando ca<strong>da</strong> nova feri<strong>da</strong> do caminho.<br />
E ca<strong>da</strong> pétala de rosa tênue e perfuma<strong>da</strong><br />
(brilhante, lin<strong>da</strong>, plim, plim)<br />
tem o poder de me cortar ao meio<br />
como a mais afia<strong>da</strong> espa<strong>da</strong><br />
desde sempre<br />
sem esforço<br />
desde sempre<br />
desde sempre...<br />
Parto?<br />
Mas entre viver assim<br />
e ver um filme ruim<br />
no meu maldito abençoado quarto fechado<br />
prefiro pastel<br />
odiar a mim<br />
e um vento inventado qualquer<br />
por ora.<br />
Por três meses ao menos.<br />
Nestes termos,<br />
cabeça inclina<strong>da</strong>,<br />
peço: dê ferimento.<br />
Não estou pronto.<br />
Não estarei pronto.<br />
Nunca estive pronto.<br />
COM TATO<br />
91
Exceto para subir a noite.<br />
Para o Suspiro de Carol<br />
O cão<br />
é o símbolo vivo<br />
<strong>da</strong> fideli<strong>da</strong>de<br />
que o ser humano<br />
nunca alcançará.<br />
Eu te gosto tanto<br />
que assusta<br />
além.<br />
Está muito rápi<strong>da</strong><br />
a nossa calma.<br />
Estou misturado<br />
apesar do trauma.<br />
Estalo no telhado<br />
que devagar ia.<br />
Caia tudo<br />
ou não:<br />
você mora<br />
na minha<br />
poesia...<br />
Sonhei que ia me candi<strong>da</strong>tar<br />
para tentar trabalhar<br />
onde não queria.<br />
Depois ia cantar<br />
uma música que desconhecia<br />
num restaurante lotado<br />
onde o Sidney Magal era o Leonardo.<br />
Uma noite dessas<br />
só com chocolate...<br />
Uma noite dessas<br />
ela longe<br />
escrevendo lindo<br />
e dormindo.<br />
Tonto ou não tonto<br />
uma noite dessas<br />
HOMENAGEM<br />
JULIA<br />
PERDI<strong>DO</strong><br />
HERSHEY´S CROCANTE<br />
92
só com chocolate...<br />
- Não quero na<strong>da</strong><br />
que não seja sempre!<br />
céu ain<strong>da</strong><br />
joelho hermético<br />
mar calmo<br />
azulejo azul quebrado imaginário longe cheio de tentativas e adjetivos que corta perto<br />
sacudo areia palavra<br />
mesmo sendo<br />
pouco público pagante<br />
eu pra mim<br />
recomeço<br />
Entro na gaiola de silêncio<br />
e jogo a chave fora.<br />
Eu mesmo entro<br />
e eu mesmo jogo a chave fora.<br />
Eu me repito erro<br />
e arranho frio e duro<br />
no tempo raro<br />
de leveza e acalanto<br />
inalcançável depois<br />
passado.<br />
Não bastasse isso<br />
inicio o desmonte<br />
<strong>da</strong> minha casa antiga<br />
que não era minha<br />
mas parecia.<br />
Salvo primeiro<br />
os livros<br />
de poesia.<br />
vamos<br />
vamos para dentro.<br />
a casa, como eu sabia<br />
não era lin<strong>da</strong><br />
mas posso dizer<br />
que nunca foi tão<br />
como está...<br />
SEMPRE<br />
O MESMO<br />
DA VENDA<br />
A CASA: ACHA<strong>DO</strong> E PERDI<strong>DO</strong><br />
93
ventos passam<br />
mu<strong>da</strong>m tudo de lugar<br />
de um dia pro outro.<br />
vamos<br />
os degraus<br />
juntos<br />
são menores<br />
de mãos <strong>da</strong><strong>da</strong>s.<br />
vou falar baixinho...<br />
escuta<br />
puxa um sofá<br />
calma.<br />
escuta<br />
sem atrito<br />
e grades<br />
e espa<strong>da</strong>s<br />
por pelo menos nove estrofes?<br />
o frio trago<br />
em dias ímpares apenas<br />
mas sei que aqueço quem o divide comigo<br />
pares.<br />
sei que sim<br />
mesmo que não pareça<br />
não vá ain<strong>da</strong>.<br />
o frio aqui dentro<br />
lá fora<br />
é meu.<br />
mas frio<br />
é como aprendi<br />
a amar.<br />
nem houve tempo pra<br />
o problema talvez não tenha sido mesmo<br />
eu ter vivido em apenas um dia<br />
sem saber<br />
no susto<br />
boa parte dos riscos<br />
que evitei por 33 anos monásticos...<br />
porque eu estava vivo nesse dia.<br />
(um milagre)<br />
94
mas se o amor não pode assim<br />
a casa<br />
está aberta ain<strong>da</strong><br />
para o assado<br />
para o passado.<br />
mesmo partindo você<br />
em concreto silêncio<br />
foi lin<strong>da</strong> nossa <strong>da</strong>nça<br />
pela madruga<strong>da</strong>.<br />
sigamos<br />
eu e meu tendão<br />
an<strong>da</strong>ndo<br />
pra onde?<br />
meu deus<br />
preciso<br />
de um emprego!<br />
- Suncê tem paz?<br />
- Num tein num, sinhô misimfio.<br />
- E pastels?<br />
Andorinhas no crespúsculo<br />
horizontes no dourado<br />
alegria nos telhados.<br />
Para Julia<br />
No tempo de um dia perfeito<br />
quando esse dia é o último dia<br />
porque esse dia é o último dia<br />
(que dia não é o último dia dele mesmo?)<br />
caberia<br />
to<strong>da</strong> a <strong>da</strong>nça <strong>da</strong> eterni<strong>da</strong>de.<br />
Nasceu o dia<br />
em que vivi.<br />
Sem nódoa de mágoa<br />
armas inúteis<br />
defesas desgastas<br />
fugas mentais...<br />
Amando<br />
E CANTAN<strong>DO</strong><br />
PENSEI QUE NUNCA FALARIA ISSO MAS...<br />
UH, DIÁLOGO...<br />
VER HÃO<br />
POESIA<br />
95
apenas<br />
amando<br />
sem planos futuros<br />
amando<br />
sem motivos pré<br />
amando<br />
sem passado<br />
amando<br />
o bastante<br />
pra ser apenas<br />
esse dia.<br />
Perfeito.<br />
Na<strong>da</strong> mais.<br />
A poesia é invendável:<br />
não vende<br />
não se vende<br />
não se ven<strong>da</strong>.<br />
A poesia é inventável:<br />
não deixa de ser vento<br />
jamais.<br />
A poesia é inevitável.<br />
o sol<br />
piano suave<br />
entre árvores<br />
fogo<br />
as asas<br />
do pássaro<br />
passos lentamente<br />
braços<br />
disfarça<strong>da</strong>mente<br />
abertos<br />
minhas mãos<br />
cantando<br />
sua pele<br />
o suor<br />
me seca<br />
qualquer treva<br />
domingo, 10 de janeiro de 2010<br />
TROCA<br />
ENCONTRO<br />
96
O mar é manso<br />
nos dias<br />
úteis.<br />
Há palavras<br />
mágicas<br />
que em momentos<br />
mornos<br />
destrancam vi<strong>da</strong>s<br />
gela<strong>da</strong>s.<br />
DE<strong>DO</strong>S LIVRES<br />
INÍCIO <strong>DO</strong> INÍCIO<br />
LUKE<br />
Use a força, Luke. Sim, ela me queria tanto e tudo tão rápido que me assustei muito e minha razão<br />
descontrola<strong>da</strong> usou o sabre de luz na castanhola mística que se partiu para sempre. Já era. Sempre é<br />
sempre. Incolável. Depois, ela me querendo no hoje e eu não assustado, passei a querê-la, aberto e<br />
leve e vencendo a razão. A força enorme em mim. No amanhã, ela não me querendo mais, andei<br />
fênix. A ciran<strong>da</strong> de Drummond. No depois de amanhã, olhando a maravilha <strong>da</strong> vista, a glória do<br />
horizonte, já comecei a me concentrar no beco de Bandeira. Use a força, Luke. Mestre Marques,<br />
ensangüentado de touros, não me salvou <strong>da</strong> posse. Planos. Planos racionais. Medir e controlar riscos<br />
de sofrer futuramente. Luke, Luke... A sombra no meio de tanta luz. Estou aberto como um pato e<br />
pensando na beleza do que foi, vejo o que não mais será. Grandes riscos de sofrer futuramente.<br />
Porém só esse medo talvez já seja mais sofrimento presente do que o de qualquer futuro possível.<br />
Acordo suado no sono <strong>da</strong> tarde. O medo leva ao lado negro, Luke. No entanto, cabe dizer,<br />
castanhola estilhaça<strong>da</strong>, como posso querer qualquer futuro, ela com tantas cicatrizes? Não existe<br />
castanhola de metal líquido que se autosolde novamente. Como posso querer? Como posso não<br />
querer? Mas querer o que? Um nome e um hábito e uma posse mútua e eu engor<strong>da</strong>ndo e apelidos<br />
estranhos e uma rotina até que a mer<strong>da</strong> ou a morte nos detone? Querer o que? O que, meu deus? Ela<br />
só minha? C-3PO.<br />
Ela real: fim.<br />
A força: ain<strong>da</strong> em mim.<br />
A possibili<strong>da</strong>de<br />
tende a se tornar<br />
certeza.<br />
Vivo no não-lugar.<br />
Onde ca<strong>da</strong> quase<br />
toca o nunca.<br />
E sempre<br />
é muito<br />
longe.<br />
"Um menino caminha e caminhando chega no muro" - Toquinho (Aquarela)<br />
"All in all it's just another brick in the wall" - Roger Waters (Another Brick in the Wall)<br />
CUIDA<strong>DO</strong><br />
TEMPO VELOZ<br />
POSSO<br />
97
o mar é manso<br />
caminho<br />
passos leves<br />
encosto as mãos<br />
nos muros de sempre<br />
mágico não era o amor de um dia<br />
fora de mim<br />
mas o meu amar que revivia<br />
os muros sempre duros<br />
sempre lá<br />
os muros passados<br />
muros futuros<br />
sem murros<br />
consigo novamente derrubar<br />
caminho sorrindo<br />
a música do silêncio<br />
e a poesia dorme<br />
descoberta<br />
Amor profundo<br />
que me abra:<br />
trocar<br />
com o mundo<br />
respirar.<br />
silêncio<br />
a vi<strong>da</strong> leva<br />
a vi<strong>da</strong> traz<br />
arte de esperar<br />
em paz<br />
a vi<strong>da</strong> leva<br />
a vi<strong>da</strong> traz<br />
o beijo perfeito<br />
fugaz<br />
silêncio<br />
Venta.<br />
O céu ganhou<br />
profundi<strong>da</strong>de.<br />
Sobre mim<br />
YOGA 2010<br />
MAR<br />
<strong>DO</strong> CÉU AO CHÃO (ou EXPECTRUM PATRONUM)<br />
98
andorinhas em círculos.<br />
Sobre andorinhas<br />
gaivotas planam.<br />
Sobre gaivotas<br />
nuvens <strong>da</strong>nçam.<br />
Sobre nuvens<br />
o sol brilha<br />
e apaga<br />
e brilha de novo.<br />
Silêncio sagrado<br />
um halo colorido<br />
em volta do olho amarelo<br />
prenuncia...<br />
(POF)<br />
E não mais que de repente<br />
tudo<br />
tudo<br />
tudo<br />
tudo<br />
tudo o que eu<br />
vejo<br />
é essa menina lin<strong>da</strong><br />
senta<strong>da</strong> no quiosque<br />
as pernas pra cima<br />
descalça no vento<br />
lendo Harry Potter.<br />
Para o Coldplay, pela inspiração<br />
Toco o frio<br />
e o frio esquenta.<br />
A tensão aumenta<br />
até se derramar<br />
voz.<br />
A voz amplia<br />
espreme<br />
exprime<br />
experimenta<br />
o som tranqüilo<br />
dos ápices...<br />
E,<br />
ao final,<br />
LOVERS IN JAPAN<br />
99
derrete-se<br />
em borboletas.<br />
Meus poemas<br />
são lantejoulas<br />
sobre as grades<br />
entre mim e você.<br />
crepúsculo sagrado<br />
já posso an<strong>da</strong>r<br />
sem o punho fechado<br />
“Diga sim à vi<strong>da</strong>; abandone todos os nãos possíveis.” - Osho<br />
Estilhaços de traços antigos<br />
espólios de muros ao chão<br />
rebocos<br />
retratos partidos<br />
repartos...<br />
Não!<br />
A vi<strong>da</strong><br />
a mesma vi<strong>da</strong><br />
num turbilhão de cores<br />
canta canção de amores infindos<br />
por ca<strong>da</strong> janela aberta<br />
e não olhando as portas fecha<strong>da</strong>s<br />
<strong>da</strong>nço flores<br />
sobre o teto do céu.<br />
Sim!<br />
"Tu vens, tu vens / Eu já escuto os teus sinais" - Alceu Valença (Anunciação)<br />
vens um pouco<br />
em ca<strong>da</strong> on<strong>da</strong><br />
que espuma<br />
vem sem medo<br />
que é tua a pátria<br />
no meu peito<br />
todos os meus<br />
perdidos passos<br />
são pro teu abraço<br />
muito em breve<br />
MOTIVO MOR<br />
<strong>DO</strong>MINGO PERFEITO<br />
MAIS E MAIS BORBOLETRAS<br />
PREPARAÇÃO<br />
100
será tempo<br />
de perfeição<br />
minha poesia renasceu<br />
rio<br />
eu<br />
por favor não me alimente<br />
com a sombra dos casais<br />
se os par<strong>da</strong>is em pleno vôo<br />
ain<strong>da</strong> se amam mais<br />
Nós tentamos.<br />
E foi bom<br />
enquanto foi.<br />
olho tanto<br />
vejo ninguém<br />
olhos ardem<br />
no entanto<br />
quanto<br />
céu<br />
você me mostra<br />
suas partes<br />
mais secretas<br />
proibi<strong>da</strong>s águas<br />
de segredos<br />
doces<br />
no escuro<br />
de nossa clari<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong>nçamos no imaginário<br />
e minha mão<br />
leve<br />
te toca<br />
canção<br />
um armário aberto<br />
como o dia<br />
simples e maravilhoso<br />
Se me dissesses que vinhas cá dentro<br />
minha mão em tua pega<strong>da</strong><br />
meu sono sem som perdido<br />
tão rápido, tão preciso...<br />
O PASTOR E AS OVELHAS<br />
PENA<br />
MANTA ou MANTRA<br />
MOLHO DE CHAVES<br />
DIÁLOGO<br />
BROMATO<br />
101
Se me dissesses que era sim possível<br />
que era mesmo assim fantástico<br />
eu prometo que não acreditava.<br />
todos os poemas<br />
são<br />
de amor<br />
E se for hoje<br />
o dia?<br />
O mar<br />
(a mar)<br />
silencia.<br />
O mundo<br />
não responde.<br />
Mas celebro<br />
aqui dentro<br />
em silêncio<br />
como se fosse.<br />
O Rio de Janeiro<br />
é a melhor ci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> galáxia<br />
para se dirigir enamorado<br />
num sábado de sol.<br />
Seus olhos<br />
analisam minha pele<br />
constantemente ávidos<br />
tal qual ave rasa<br />
porém sem medo...<br />
Minha pele<br />
alisa sua pele<br />
tocando e cantando<br />
<strong>da</strong>nçando e ro<strong>da</strong>ndo<br />
amores de hoje<br />
sem se perder em alíseos vindouros...<br />
Talvez dois dias e três beijos<br />
seja o prazo perfeito<br />
para o amor eterno.<br />
O sol amarelo me dá poderes.<br />
Eu sou hoje todo sorriso<br />
COM TATO 2<br />
RITMO DE FESTA<br />
DIREÇÃO<br />
PELE<br />
LIBERTAÇÃO 2<br />
102
quando penso em tua i<strong>da</strong>de<br />
não preciso de cerveja<br />
pra urinar felici<strong>da</strong>de<br />
bem na porta <strong>da</strong> igreja:<br />
culpa, medo e mal<strong>da</strong>de...<br />
Virar a noite<br />
em dia...<br />
Até sem querer<br />
até sem saber<br />
toco vossa ovelha<br />
e ela mu<strong>da</strong> em gavião<br />
porque a vontade do sim<br />
sempre foi muito maior<br />
que a vontade do não.<br />
Meu universo:<br />
eu transo em trova<br />
sinto em prosa<br />
e gozo em verso.<br />
Ando sem pressa<br />
na praia<br />
e a gaivota<br />
lin<strong>da</strong>mente flecha<br />
lin<strong>da</strong>mente rápi<strong>da</strong><br />
lin<strong>da</strong>mente mata<br />
o peixe submerso<br />
(sem vaia).<br />
Eu falo a língua <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />
e canto os ventos de maio<br />
em vez de achar a saí<strong>da</strong><br />
crio a passagem de um raio.<br />
Caminhei 6 anos de i<strong>da</strong>de<br />
e chego perfeito e não senil<br />
onde a psicanalista primeira previu:<br />
felici<strong>da</strong>de.<br />
A praia é hoje<br />
o passo no agora<br />
a coruja na árvore<br />
mais um acidente<br />
a mulher me olhando<br />
castelo de areia<br />
cansaço gostoso<br />
o som de Tim Maia<br />
num carro de funk<br />
na<strong>da</strong> impossível<br />
O VENTO SOLAR<br />
103
um cara voando<br />
por sobre o crepúsculo<br />
num treco vermelho<br />
eu gravo poemas<br />
e publico mundos<br />
eu passo o rasante<br />
e me ultrapássaro.<br />
As mulheres tantas<br />
tão distintas<br />
distintamente amando<br />
distintamente sendo ama<strong>da</strong>s<br />
tão minhas ali<br />
no apartamento pequenino.<br />
Tudo que passou<br />
será<br />
o que mais está<br />
aqui comigo<br />
(enorme).<br />
Estou em casa<br />
quando há uma espa<strong>da</strong> pendura<strong>da</strong> na parede<br />
e palavras troca<strong>da</strong>s<br />
(em ar, pele ou papel)<br />
com um amor.<br />
DESPEDIDA DA ZONA NORTE<br />
E ela goza com o rosto iluminado<br />
e dorme do meu lado a noite to<strong>da</strong><br />
e de manhã prepara um sanduíche só para mim<br />
e seus olhos me olham o tempo todo tão sorrisos<br />
que eu sou e falo e escrevo e sigo<br />
muito maior assim.<br />
ANTI-CITALOPRÁTICO VIOLENTO COM RAIOS GAMA<br />
Se há vi<strong>da</strong><br />
não há respostas prontas.<br />
(Entendeu, Mercado?<br />
Entendeu, Ciência?<br />
Entendeu, Igreja?)<br />
Úteis e dóceis<br />
deveríamos<br />
(deveríamos)<br />
não deixar nosso individualismo<br />
atirar em desconhecidos em Columbine.<br />
Deus me livre<br />
de passar a vi<strong>da</strong><br />
a passar de Bart<br />
para Homer Simpson.<br />
104
Ain<strong>da</strong> bem que eu ain<strong>da</strong> lia<br />
em minha infância fugidia<br />
como consumidor consciente<br />
gibis de Super-Heróis...<br />
Não sei onde estarei em 5 anos.<br />
(Nem quero saber...)<br />
Mas sei que não serei um débil mental amarelo no sofá<br />
e minha imaginação não estará morta cheia de tiros.<br />
Para Fagner<br />
Acreditar apenas<br />
no pulsar <strong>da</strong>s veias<br />
a-ce-le-rar<br />
na luz dos inícios<br />
re-as-cen-der!<br />
Para ela<br />
Nas entrelinhas desses versos<br />
as estrelinhas<br />
do seu sorriso.<br />
Vem<br />
traz teu fogo<br />
pro meu ar...<br />
Fin<strong>da</strong> o tempo<br />
de esperar.<br />
Te acelerar o pulso<br />
a respiração<br />
e a escrita.<br />
chove<br />
e venta<br />
no tempo<br />
menos um<br />
apartamento<br />
mais uma<br />
vontade<br />
SÓ QUEM PODE ME SEGUIR SOU EU<br />
ORTO<strong>DO</strong>NTIA<br />
VAZ<br />
MISSÃO BENDITA<br />
MATEMATECA<br />
105
Não.<br />
Não inventa.<br />
Não chora.<br />
Deixa ela ir.<br />
Deixa ela voar.<br />
É hora.<br />
Eu sou o homem que an<strong>da</strong>.<br />
Passam pessoas<br />
paixões<br />
imóveis<br />
refrigeradores vazios na garantia<br />
lugares<br />
retratos<br />
amores<br />
teorias...<br />
Eu sou o homem que an<strong>da</strong>.<br />
Querer passar as portas<br />
as janelas tortas<br />
(sombras de asas no telhado)<br />
o passado, porém, forte e duro<br />
colore os pássaros futuros<br />
de morte?<br />
outra forma de minhas mãos<br />
tocarem suas coxas<br />
é pelos versos<br />
pelo inverso de sua pele<br />
pela distância multiplica<strong>da</strong> por na<strong>da</strong><br />
proporcional a dentro<br />
dentro de tanto branco<br />
perto<br />
dentro de leve<br />
quente<br />
dentro semente<br />
dentro<br />
(deliciosamente)<br />
inicia pelo nariz<br />
um tremor<br />
contração de olhos<br />
abertos<br />
atentos<br />
DA CRIAÇÃO DE AVES (OU O TERCEIRO DIA)<br />
AN<strong>DO</strong> ESCREVEN<strong>DO</strong> DEMAIS<br />
ENCONTRO NOS ARES<br />
PRA ELA<br />
ABRE-SE<br />
106
pele que se curva<br />
em prazer<br />
e <strong>da</strong>nça<br />
lábios que se erguem<br />
sem maestros<br />
e então<br />
estrelas<br />
muitas<br />
sobre dentes<br />
brancos<br />
Fabio,<br />
aprende,<br />
Fabio.<br />
Já é hora.<br />
Amor<br />
não se escolhe<br />
não se inicia<br />
não se nomeia<br />
não se compara<br />
não se planeja:<br />
se aceita...<br />
Vem como vem<br />
dos lugares menos possíveis<br />
com os maiores problemas insolúveis<br />
mas vem.<br />
Aceita.<br />
Senta aí um pouco...<br />
Toma um gole de água.<br />
Isso.<br />
Ele nasce de uma invenção<br />
vem do na<strong>da</strong><br />
e vai, então.<br />
Aceita também.<br />
Deita nesse colchão<br />
faz um poema, liga o som<br />
e dorme bem...<br />
Hoje é noite<br />
não durmo<br />
antes de amanhã<br />
AUTO-CARTA<br />
MAS A VIDA NÃO É <strong>DO</strong>CE?<br />
107
amanhã será só quinta<br />
antes de sexta<br />
doce<br />
sexta-feira será a última sexta-feira<br />
seu pescoço<br />
antes de domingo<br />
lambo.<br />
Domingo é cachimbo<br />
onde tudo<br />
fin<strong>da</strong>.<br />
Coleciono últimos dias.<br />
Ela é lin<strong>da</strong><br />
e branca.<br />
(Dezenove anos.)<br />
Penduro<br />
no duro<br />
passados gloriosos<br />
mesmo antes<br />
de passarem...<br />
Ela é branca<br />
e fin<strong>da</strong>.<br />
Coleciono<br />
últimos<br />
dias.<br />
(Não é culpa de ninguém.)<br />
Minha avó<br />
me dá mate ain<strong>da</strong><br />
com cinco colheres cheias de açúcar<br />
além do tempo cronológico<br />
pinga.<br />
Penetro<br />
o rosa<br />
do dia<br />
nascente.<br />
Postes<br />
apagam.<br />
Ilhas<br />
sombram.<br />
CE<strong>DO</strong> ENCONTRO<br />
108
Te amando<br />
aprendo<br />
que amar<br />
não é per<strong>da</strong><br />
ou ganho...<br />
Te amando<br />
cedo<br />
sem trocar.<br />
E tocando<br />
fundo<br />
sou tocado<br />
pleno.<br />
(Música interna celebrando a vi<strong>da</strong>!)<br />
Te amando<br />
aprendo<br />
a amar<br />
e deixar<br />
ir.<br />
Cheiro de cola<br />
a favela<br />
atrito de pedras sem astros<br />
atrasos e prazos corridos<br />
grunhidos e gritos estrábicos<br />
benditas igrejas malditas<br />
lá fora<br />
lá fora<br />
no meu estômago.<br />
Um poema (me) agarro<br />
nesse dia horroroso<br />
prendo a rima com escarro<br />
mas não perco o amoroso.<br />
quero saber sua alma<br />
e sentir seu pescoço<br />
com minha respiração<br />
a pedra se move<br />
sob minhas pernas<br />
oculta por terras vermelhas<br />
a terra se move mar<br />
quando estendo minhas mãos enormes<br />
pros teus seios impossíveis<br />
AMAN<strong>DO</strong> CE<strong>DO</strong><br />
ATRAVÉS DA JANELA (PRATELEIRAS NO QUARTO)<br />
DA FORÇAÇÃO<br />
O QUE EU QUERO SABER?<br />
109
nuvens no ar entre mim e ti<br />
ares muito luares e longes<br />
meus sonhos imaginam<br />
o que você já é<br />
se<br />
eu<br />
te<br />
tocar<br />
(raios)<br />
Cair do mais alto<br />
com a cara no mais chão<br />
em sonho duro<br />
e acor<strong>da</strong>r pesado.<br />
O fantasma.<br />
O fantasma.<br />
O fantasma.<br />
O fantasma<br />
sem vi<strong>da</strong><br />
em sonho<br />
me amarra<br />
ao peso.<br />
Arrasto ain<strong>da</strong><br />
essa âncora antiga<br />
no lado escuro<br />
<strong>da</strong> mente nua?<br />
Arrasteço?<br />
Arrastão?<br />
Mas o tubarão<br />
não para de na<strong>da</strong>r<br />
mesmo perdendo sangue<br />
e caramujos.<br />
Essa cor<strong>da</strong> cheia de musgos<br />
em alguma hora silenciosa<br />
vai arrebentar.<br />
KRYPTONITA NO INCONSCIENTE<br />
110
A origem<br />
de Adão e Eva como metáfora<br />
foi Darwin.<br />
Eu ando e ando e ando<br />
e na<strong>da</strong>.<br />
Planejo fazer poemetos<br />
herméticos<br />
sobre tartarugas e nematocistos<br />
que nem na teoria saem <strong>da</strong> água...<br />
Mas quando te vejo<br />
o sorriso abrindo<br />
desejo<br />
palavras mágicas<br />
de todos os dedos pingam<br />
e mãos felizes<br />
<strong>da</strong>nçam<br />
nos teclados.<br />
É preciso seguir<br />
pianos<br />
vozes<br />
aero planos:<br />
amar.<br />
O mar traz.<br />
Por entre ilhas para<strong>da</strong>s<br />
e vi<strong>da</strong>s estagna<strong>da</strong>s<br />
dedos pesados<br />
sorrisos pensados<br />
na busca irrisória<br />
de certezas e eterni<strong>da</strong>des<br />
finca<strong>da</strong>s no fundo insólito<br />
de areia...<br />
O mar traz.<br />
E leva<br />
e traz<br />
até levar-te.<br />
segun<strong>da</strong>-feira, 1 de fevereiro de 2010<br />
A ORIGEM DAS ESPÉCIES<br />
AUTOMÁTICO<br />
PLANOS DE AR<br />
LAVARTE<br />
111
De onde<br />
essa raiva?<br />
A mesma raiva?<br />
Raiva nova?<br />
Arranhando a ausência de que?<br />
De quem?<br />
Elas chovem.<br />
E eu relampejo.<br />
Vendi um carro,<br />
alguém me ama...<br />
De manhã cedo<br />
como banana...<br />
E sigo roendo raiva<br />
no escuro?<br />
E sigo roendo essa raiva<br />
no escuro?<br />
E sigo roendo essa mesma raiva<br />
no escuro?<br />
não planejo na<strong>da</strong><br />
além de sua<br />
chega<strong>da</strong><br />
hoje<br />
agora<br />
presente<br />
sua vin<strong>da</strong><br />
sua boca rindo<br />
olhos corpo rosto lindo<br />
PRAZO<br />
MEU AMOR VEM<br />
A MORTE, O FIM, A DESPEDIDA, A TRANSITORIEDADE E O ME<strong>DO</strong> NO INCONSCIENTE <strong>DO</strong><br />
EU LÍRICO <strong>DO</strong>RMENTE (UMA PSICO-ANÁLISE VIA POESIA)<br />
A festa acabou<br />
na casa antiga<br />
e enorme.<br />
É tarde.<br />
Pessoas demais.<br />
Não quero ler mais na<strong>da</strong>.<br />
Apago as luzes acesas<br />
112
tranco as portas escancara<strong>da</strong>s<br />
que é noite ain<strong>da</strong><br />
madruga<strong>da</strong>.<br />
Noite.<br />
Vozes me acompanham<br />
e um cão em ossos negros<br />
morto<br />
an<strong>da</strong> comigo.<br />
No quarto antigo<br />
e meu<br />
uma paixão mal acaba<strong>da</strong> fala mal de mim<br />
a ama<strong>da</strong><br />
deita<strong>da</strong> nos braços de outro cara<br />
feio asqueroso filha <strong>da</strong> puta burro<br />
e deixo minha cama bem grande e minha<br />
para transarem em cima pela noite adentro<br />
sem dizer na<strong>da</strong><br />
sem dizer<br />
na<strong>da</strong>...<br />
Enquanto isso<br />
uma por vir<br />
e outra inicia<strong>da</strong>.<br />
Mu<strong>da</strong>m os nomes<br />
e <strong>da</strong>tas<br />
(às vezes, nem isso).<br />
Pessoas demais.<br />
Desço as esca<strong>da</strong>s<br />
trancando a apagando<br />
e nunca parece bastar.<br />
Pessoas demais.<br />
Amando?<br />
Amando quem, caralho?<br />
A mando de quem, amar?<br />
Quero uma só.<br />
Quero uma só?<br />
Quero uma só<br />
que não me seja faca<br />
só lâmina<br />
no final...<br />
113
Mas sem ser fraca<br />
não perca o brilho<br />
do metal.<br />
Uma<br />
só.<br />
As vozes de fora<br />
me falam de alguém me chamando<br />
perto <strong>da</strong> máquina de lavar.<br />
É minha irmã bem casa<strong>da</strong><br />
no chão, sem queixo, machuca<strong>da</strong><br />
tentando se proteger do cachorro sem plumas<br />
maldito manco morto deformado e negro.<br />
Alguém chama<br />
uma ambulância?<br />
Pessoas?<br />
Vozes de fora?<br />
Alguém?<br />
Do cão<br />
do fim<br />
eu te protejo.<br />
palavras escarpa<strong>da</strong>s<br />
dentifrício de céu<br />
falésias e falências<br />
desabando em câmera lenta<br />
bonitas<br />
bonitas musicais inteligentes criativas novas<br />
lavrar noites em silêncio e solidão acompanha<strong>da</strong><br />
colher dias de amor<br />
algodão-doce<br />
tudo claro<br />
tudo causticamente claro e infantil<br />
seguir sem se curvar ao vento<br />
alimento<br />
de lembranças<br />
o edifício<br />
o difícil fechar de to<strong>da</strong>s as janelas e portas<br />
quando alcançar<br />
o sol<br />
Na vi<strong>da</strong><br />
se esperaram<br />
AMON HÁ FICTÍCIO<br />
ARVOCÊ<br />
114
estu<strong>da</strong>ndo botânica<br />
mas passaram a largo<br />
sem trocar seivas.<br />
No leito derradeiro<br />
coincidentemente lado a lado<br />
os uniu no tempo<br />
o que mais amaram.<br />
Uma casca pétrea<br />
uma estátua viva<br />
de suas mãos <strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />
floresceu enorme.<br />
A vi<strong>da</strong> é óbvia.<br />
Enquanto a poeira <strong>da</strong> noite<br />
vem noite<br />
a pós noite<br />
com dores superficiais<br />
cobrindo dores profun<strong>da</strong>s<br />
que pouco a pouco desaparecem<br />
sob a negritude do tempo...<br />
A vi<strong>da</strong> é óbvia.<br />
E o Faustão tem muitos amigos nos domingos.<br />
QUER PERDER 15 KG E SER FELIZ? FALE COMIGO!<br />
Das amendoeiras não caem jacas, patos assados, sementes de automóveis ou ovos.<br />
E esse coração de fato<br />
bate animado novamente<br />
aéreo, móvel<br />
com a magia do novo<br />
e o aprendizado de que...<br />
A vi<strong>da</strong> é irritantemente óbvia.<br />
(Sim, talvez caiam ovos.)<br />
Por tal e qual<br />
semelhante isso<br />
cabe dizer que<br />
não posso desembainhar a espa<strong>da</strong><br />
contra amigo, inimigo,<br />
amor novo, amor antigo<br />
ou qualquer desconhecido<br />
pelo simples fato<br />
<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> ser óbvia,<br />
Dante.<br />
Enquanto meu poema não for totalmente insano e imprevisível é porque<br />
115
não queria ter<br />
acor<strong>da</strong>do<br />
hoje<br />
Preciso de um emprego de oito horas<br />
e um apartamento<br />
não de tormento.<br />
Morreu Jesus<br />
por nossos pecados<br />
na cruz.<br />
- Pequemos!<br />
berílio<br />
magnésio<br />
cálcio<br />
estrôncio<br />
bário<br />
e rádio<br />
lítio<br />
sódio<br />
potássio<br />
rubídio<br />
césio<br />
e frâncio<br />
O, S, Se, Te, Po -2<br />
F, Cl, Br, I, At -1<br />
cima cima baixo baixo esquer<strong>da</strong> direita esquer<strong>da</strong> direita Y B X A<br />
cima cima baixo baixo esquer<strong>da</strong> direita esquer<strong>da</strong> direita Y B X A<br />
Qual o nome do navegante árabe com Vasco <strong>da</strong> Gama?<br />
Ahmad Ibn Majid<br />
Ahmad Ibn Majid<br />
Não.<br />
Não me arrependo<br />
de na<strong>da</strong>.<br />
Essa<br />
é minha cruza<strong>da</strong>.<br />
Minha essência<br />
OPEN YOUR EYES, NEO<br />
A VIDA É ÓBVIA<br />
PEQUENOS (OU O MÍNIMO A FAZER)<br />
MENTE VAZIA<br />
EWIGE WIEDERKUNFT<br />
116
é jogar os pássaros pro céu.<br />
Mesmo que no calor do Rio de Janeiro<br />
eles prefiram o chão<br />
e se cubram com pele de cordeiro<br />
no verão<br />
e se amarrem à pedra sobre a qual<br />
se construiu essa igreja anti-natural<br />
com cabeças baixas e graves<br />
(palmas pra Jesus).<br />
Mesmo com chagas<br />
nas minhas mãos<br />
de tantas bica<strong>da</strong>s...<br />
Não me arrependo de na<strong>da</strong><br />
e faria tudo outra vez<br />
e-x-a-t-a-m-e-n-t-e igual.<br />
Para Aman<strong>da</strong> Vaz Teixeira<br />
a vi<strong>da</strong><br />
crepita<br />
e premia<br />
constantemente<br />
mesmo que ca<strong>da</strong> parti<strong>da</strong><br />
queime muito<br />
muito quente<br />
(velas<br />
sem barcos<br />
nem bússolas<br />
na mão<br />
<strong>da</strong> janela)<br />
nem um mísero dia<br />
se passou<br />
até tua chega<strong>da</strong> vindoura<br />
e essa suave surpresa saborosa<br />
de palavras<br />
doces<br />
presentes<br />
“Ser como o rio que deflui...<br />
Silencioso dentro <strong>da</strong> noite.<br />
Não temer as trevas <strong>da</strong> noite.<br />
Se há estrelas nos céus, refleti-las.<br />
E se os céus se pejam de nuvens,<br />
LINDA(MENTE)<br />
DIZER ADEUS SORRIN<strong>DO</strong><br />
117
Como o rio as nuvens são água,<br />
Refleti-las também sem mágoa<br />
Nas profundi<strong>da</strong>des tranqüilas.”<br />
(Manuel Bandeira)<br />
Fazer do encontro, arte.<br />
Conquista<strong>da</strong> essa parte<br />
fazer <strong>da</strong> despedi<strong>da</strong><br />
beleza<br />
um passo de <strong>da</strong>nça<br />
um acenar suave<br />
uma leveza...<br />
(Tão difícil<br />
quanto levitar uma mesa<br />
de mármore.)<br />
"Minha estrela guia desvia e me atropela." - Alice Ruiz<br />
enquanto o Nirvana não vem<br />
relampeja<br />
e me encolho<br />
trovões<br />
a tempestade<br />
próxima e alta<br />
é quase<br />
cala<strong>da</strong> noite negra<br />
o olho do vento<br />
derruba folhas<br />
e por mais<br />
que nasçam mais<br />
quando caem<br />
sou menos<br />
caminhar<br />
mais leve<br />
que nunca<br />
caminhar<br />
deliciosamente<br />
onde sempre estive<br />
nenhum véu<br />
através<br />
do rosto<br />
SEM REDE DE PROTEÇÃO<br />
SIDDHARTA<br />
118
quase sorrindo<br />
aceitar<br />
a condição íntima<br />
que me define<br />
sob esse lindo<br />
céu:<br />
eu estou na busca<br />
Finalmente<br />
consegui um carro preto<br />
para colocar<br />
no meu adesivo<br />
do Batman.<br />
Nunca o mar esteve tão azul,<br />
Marisol.<br />
o mar<br />
estado<br />
<strong>da</strong> alma<br />
aceito<br />
o mal-estar<br />
de todo e qualquer<br />
caos<br />
amar é<br />
a maré<br />
que vem<br />
e vai<br />
todos os azuis<br />
cabem no mar<br />
a mar é<br />
mergulhar e se perder<br />
no outro<br />
perder o outro<br />
e se sentir<br />
perdido<br />
mas é isso<br />
tudo isso<br />
sem males ou mares a mais<br />
amor<br />
amar é cheia<br />
DA IMPORTÂNCIA <strong>DO</strong> SIMBÓLICO<br />
MARADENTRO<br />
119
na vi<strong>da</strong> vazia<br />
a maré vazante<br />
<strong>da</strong> fonte<br />
que esvai-se do peito<br />
amar é tudo isso<br />
há mar é máscara parti<strong>da</strong><br />
mágoa ressenti<strong>da</strong><br />
mácula dos poros<br />
mágica de inícios<br />
música<br />
epifania<br />
sacrifício<br />
espa<strong>da</strong>s<br />
marulho<br />
interminável<br />
"A<strong>da</strong>pte-se, Neo." - Morpheus (Matrix)<br />
ain<strong>da</strong> sou<br />
o mesmo homem<br />
no barquinho<br />
no meio do caos<br />
raios<br />
tempestades<br />
on<strong>da</strong>s<br />
ventos...<br />
ain<strong>da</strong><br />
grito<br />
pro na<strong>da</strong><br />
"man<strong>da</strong> mais"<br />
porém<br />
hoje<br />
é menos caos<br />
e mais <strong>da</strong>nça<br />
menos grito<br />
e mais canto<br />
o problema<br />
não é o mar<br />
nem amar<br />
é a noite<br />
REVISITAN<strong>DO</strong> POEMAS MARÍTIMOS<br />
E SEU SILÊNCIO<br />
120
o vento espalha meus pe<strong>da</strong>ços<br />
o fantasma continua brincando de viver<br />
com quem acredita<br />
que há vi<strong>da</strong> nele<br />
o vento me espalha pelo chão<br />
trinco a mão<br />
e depois salto<br />
o chão acolhe meus pe<strong>da</strong>ços<br />
o vento entra nos meus olhos<br />
e minhas pernas fatiga<strong>da</strong>s<br />
se movem sozinhas<br />
através <strong>da</strong> inutili<strong>da</strong>de do crepúsculo<br />
você é forte, Fabio.<br />
puta que pariu,<br />
você é forte.<br />
ser forte<br />
não é ser insensível<br />
é sentir essas porra<strong>da</strong>s infin<strong>da</strong>s<br />
tanto e tanto<br />
tamanhas e tamanhas<br />
virar pó, vácuo, na<strong>da</strong><br />
e no entanto (tanto)<br />
seguir<br />
só podendo socar<br />
o vento<br />
que foge...<br />
seguir<br />
duro como essa areia<br />
que se espalha...<br />
você agüenta.<br />
repita com seu torcicolo:<br />
você agüenta.<br />
você agüenta o vento...<br />
você agüenta.<br />
no final<br />
foi tudo<br />
só um sonho<br />
de um deus bêbado, invisível e filha<strong>da</strong>puta<br />
que não existe<br />
elas vão por ar<br />
vão por terra<br />
MINA (UM POEMA DUPLO)<br />
121
vão por mar<br />
vão<br />
(pra puta que pariu)<br />
mas o pior de tudo<br />
é que<br />
uma a uma<br />
vão<br />
como eu posso<br />
estar de pé<br />
e caminhando<br />
pelo último<br />
pelo sempre último dia<br />
que sangra<br />
depois disso?<br />
como diabos eu consigo?<br />
(breve pausa)<br />
eu sei<br />
eu sei,<br />
no fundo...<br />
eu sei:<br />
no meio de to<strong>da</strong> essa mer<strong>da</strong><br />
minha poesia eterna<br />
floresce<br />
é terna<br />
e não me abandona.<br />
a vi<strong>da</strong> tão forte<br />
borbulhando<br />
tão viva<br />
onde eu estava?<br />
cansado de poetar<br />
a magia <strong>da</strong> paixão certinha, medi<strong>da</strong>, segura e planeja<strong>da</strong><br />
eu caio na paixão real<br />
inspiro<br />
e mordo<br />
brigo<br />
bato<br />
apanho<br />
cravo<br />
estrago<br />
FOLHAS (OU SOBRE COMO NÃO DESVIAR DAS BALAS)<br />
122
arrombo<br />
sangro<br />
corro<br />
agarro<br />
deixo<br />
beijo<br />
arrisco<br />
arrisco<br />
arrisco<br />
me fodo<br />
mas vivo.<br />
E se a estra<strong>da</strong><br />
<strong>da</strong> paixão pro amor<br />
estiver sempre interdita<strong>da</strong>?<br />
Para Ígor Andrade<br />
A noite<br />
é grande<br />
sim<br />
Mas<br />
suportável<br />
com amigos<br />
para dividi-la<br />
E<br />
muito<br />
menor<br />
no dia<br />
seguinte<br />
canso<br />
descanso<br />
e recanto<br />
Querido diário,<br />
DESVIO: AMIZADE<br />
OBRIGA<strong>DO</strong><br />
VOCÊ NÃO CANSA?<br />
QUERI<strong>DO</strong> <strong>DIÁRIO</strong><br />
Contra o meu isolamento total do mundo (arduamente aprendido desde cedo), tentei você, ler,<br />
poetar, endeusar, cinema, gibis, religiões, me especializar com o Ryu no Street Fighter, tocar violão,<br />
RPG, namorar, música clássica e new age, Simpsons, séries estadunidenses, seitas secretas com<br />
anúncios em ônibus, 3 facul<strong>da</strong>des, 1 estágio, 2 empregos, casar, animes, loucamente me arriscar na<br />
paixão, fantasiar... Tentei ufologia, esoterismo, tarô, I-Ching, simbologia, Freud, rock, Nietzsche,<br />
Heráclito, Jung, caminhar, Yoga... Tentei de tudo. Mantive o poetar apenas... E continuei ansioso. E<br />
não me sentindo na<strong>da</strong> bem sozinho. Agora, com algumas noites de pânico, inclusive.<br />
Sim, recentemente houve alguma abertura. Alguma melhora. Houve. É fato. Não basta. Outro fato.<br />
123
Por isso mesmo, cogito na hipótese de ouvir o universo (na voz de uma antiga e queri<strong>da</strong> mestra) e<br />
entrar na Somaterapia. Por mim e pela próxima mulher ao meu lado. Pelos amigos futuros... Por<br />
mim, sobretudo.<br />
Após isso, estou oficialmente encerrando as buscas. (Não os poemas.)<br />
Para todo o sempre. Eternamente. Até maio.<br />
E se<br />
em algum ponto azul<br />
do passado<br />
havia um muro<br />
que eu não deveria<br />
ter quebrado?<br />
VITÓRIA?<br />
AN<strong>DO</strong> ANDAN<strong>DO</strong><br />
"0 passado é uma selva de monstros." - Minha irmã citando o filme "Lobisomen", em cartaz nos<br />
cinemas<br />
tudo passa<br />
tudo broxa<br />
poemas a caneta<br />
se dissolvem nas coxas<br />
que se vão<br />
vou comer brócolis<br />
que evita o câncer<br />
o futuro está lá<br />
ain<strong>da</strong><br />
horizonte lindo<br />
meta mágica intocável<br />
no mesmo lugar<br />
eu<br />
não perdi<br />
o futuro<br />
e caminho para ele<br />
paixão é doença<br />
droga<br />
ilusão<br />
Vivo em minha própria casa,<br />
Jamais imitei algo de alguém<br />
E sempre ri de todo mestre<br />
Que nunca riu de si também.<br />
GEMINIANAMENTE VOS AFIRMO:<br />
PRONTOFALEI<br />
124
(Inscrição sobre a minha porta) - Friedrich Nietzsche, abertura do "A Gaia Ciência"<br />
Estou cansado<br />
dos mestres maravilhosos em teoria<br />
que vivem pior do que eu.<br />
- Quer um pe<strong>da</strong>ço de pêra, Fabio?<br />
Pera...<br />
Fábio?<br />
Quem é Fábio?<br />
Eu curo a dor<br />
com meu cor<br />
po.<br />
MANHÃ DE CARNAVAL<br />
UM PONTO FINAL<br />
EXERCÍCIO<br />
Uma hora tardia você olha para trás com a consciência de que ca<strong>da</strong> per<strong>da</strong> trouxe também uma<br />
chega<strong>da</strong>. E que nenhuma delas foi definitiva. Que dessas on<strong>da</strong>s fez-se sua vi<strong>da</strong>. E o sentido dela<br />
nasceu em ca<strong>da</strong> vin<strong>da</strong>, e morreu a ca<strong>da</strong> saí<strong>da</strong>, porque sempre foste exagerado. O momento idoso de<br />
olhar pra trás e além do tempo se aproxima a ca<strong>da</strong> carnaval, a ca<strong>da</strong> dia dos namorados. Olhe e chore<br />
a despedi<strong>da</strong>, mas abra a maldita mão para a nova ama<strong>da</strong>.<br />
Ela virá na hora futura<br />
numa solitária hora<br />
em que eu lia lindo<br />
algo que me doía fundo.<br />
Ela virá<br />
e de voz mansa<br />
me falou:<br />
- Descansa.<br />
Pensando bem<br />
meu caos é mais antigo<br />
não tem causa ou nome definido.<br />
A voz de Clarice Lispector me acalma.<br />
Esse momento<br />
no contínuo espaço-tempo<br />
não me basta.<br />
O peito aperta<br />
também por isso.<br />
Porque estou agora<br />
na Mongólia, meditando,<br />
fumando um charuto em Cuba,<br />
ALL I NEED<br />
OU TOCA OU NÃO TOCA<br />
ARERÊ<br />
125
pulando Chiclete em Salvador,<br />
com uma amante na Grécia,<br />
baixando a porra<strong>da</strong> em Gotham,<br />
cantando My Way no carnaval,<br />
vendo um filme de mãos <strong>da</strong><strong>da</strong>s,<br />
e fazendo este poema<br />
e mal.<br />
"Não importa o que fizeram de nós, mas o que fazemos com o que fizeram de nós" - Sartre<br />
Eu sou teu mistério<br />
você é meu segredo<br />
minha mão<br />
no seu medo<br />
minha visão<br />
no seu rosto<br />
sem intenção<br />
ou desgosto.<br />
MARÍTIMA<br />
RES-PI-RAR<br />
“Feliz é a inocente virgem; Esquecendo o mundo e sendo por ele esqueci<strong>da</strong>. Brilho eterno de uma<br />
mente sem lembranças; To<strong>da</strong> prece é ouvi<strong>da</strong>, to<strong>da</strong> graça se alcança.” - Alexander Pope<br />
Noite passa<strong>da</strong><br />
eu dormi<br />
sobre meu pânico<br />
e quando ele mordia<br />
eu quase dormia<br />
doía<br />
e deixava.<br />
"E que morra a puta que pariu minha tristeza." - Adélia Prado<br />
Um cachorro preto<br />
todo osso<br />
tempo demais<br />
junto<br />
eu chuto, cuspo, expulso:<br />
- Passa! Passa!<br />
Junto<br />
tempo demais<br />
junto<br />
arrumo a cama<br />
pra outros dormirem<br />
o cachorro junto<br />
de osso preto.<br />
L´AMOUR<br />
126
SIMPLES ASSIM<br />
"Recomeça... Se puderes, sem angústia e sem pressa e os passos que deres, nesse caminho duro do<br />
futuro, dá-os em liber<strong>da</strong>de, enquanto não alcances não descanses, de nenhum fruto queira só a<br />
metade..." (Miguel Torga)<br />
O vento balança<br />
o pendurado.<br />
A cor<strong>da</strong><br />
dura.<br />
O cachorro<br />
passa.<br />
Meu eu te amo<br />
mora na falésia ao lado<br />
de quem te odeia<br />
(cantou a sereia).<br />
Deixa eu me salvar<br />
te salvando<br />
do dragão...<br />
Gosto de beijar<br />
com a vontade do vulcão<br />
ou delicadeza de mulher<br />
esses lábios pequenos.<br />
A língua<br />
de parti<strong>da</strong><br />
no encontro<br />
é chega<strong>da</strong>.<br />
As mãos inventam<br />
contornos sinuosos<br />
de seu corpo branco<br />
na folha pura.<br />
Deita no meu colo<br />
nua e lua<br />
que teu respirar<br />
acelerado quer a paz<br />
dos dedos certos.<br />
Para Vanessa Souza Moraes<br />
é quando<br />
leio a coisa certa<br />
(ou a erra<strong>da</strong>)<br />
CUIDA<strong>DO</strong><br />
PRINCESA DE NEVE<br />
ESTA<strong>DO</strong> PLEXO<br />
127
e quando uma música lenta<br />
e quando uma cena corta<strong>da</strong><br />
mas acho maravilhoso<br />
a princípio<br />
(oh, glória!)<br />
e no seguinte<br />
sumo eu<br />
e qualquer resquício de precária paz<br />
e resta flutuando<br />
no meio de tudo<br />
além do espaço<br />
esse peito indefinível<br />
em chamas, em pânico, em frenesi de dor, ácido<br />
e estou fora do tempo<br />
longe do momento<br />
o passado é i-n-a-c-r-e-d-i-t-á-v-e-l<br />
e o futuro, imprevisível<br />
Querer mais<br />
que o médio<br />
o meio<br />
o tédio<br />
o morno<br />
o quase<br />
o morto.<br />
DAS COISAS QUE APRENDI<br />
SEM RAIVA?!<br />
"O correr <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> embrulha tudo. A vi<strong>da</strong> é assim: esquenta e esfria, aperta e <strong>da</strong>í afrouxa, sossega e<br />
depois desinquieta. O que ela quer <strong>da</strong> gente é coragem." - João Guimarães Rosa<br />
Na<strong>da</strong> é tão<br />
como era<br />
então.<br />
(Exceto talvez a paixão...)<br />
Se a raiva passa<br />
o medo<br />
aumenta.<br />
Ela ali inteira<br />
fora <strong>da</strong> piscina<br />
esperando<br />
pra me lavar a mão<br />
depois <strong>da</strong> artificial cachoeira<br />
128
to<strong>da</strong> de branco<br />
sem marchas, pais, religião<br />
era real?<br />
Era bom?<br />
(Fecharam a água:<br />
peixes morrendo no chão<br />
raso do sonho.)<br />
Ela ali de pé<br />
tão grande<br />
quanto minha ilusão<br />
senta<strong>da</strong><br />
na mesa redon<strong>da</strong><br />
meu medo branco.<br />
O sonho<br />
o sono<br />
o amor<br />
a ira<br />
a água<br />
acaba<br />
sem motivo<br />
ou aviso.<br />
Apanho<br />
minha mala<br />
branca de dor suportável<br />
e de medo controlável<br />
(sem raiva?!).<br />
Aceito-a.<br />
Olho a estra<strong>da</strong>.<br />
É feia.<br />
E nunca houve um estrela.<br />
Acordo e ando.<br />
De quando em vez<br />
esteja com quem estiver<br />
o som <strong>da</strong>s vozes baixa<br />
e entro num estado de solidão.<br />
Minha voz se cala<br />
não me prendo a na<strong>da</strong><br />
(que se veja, ouça ou sinta)<br />
e alguma paz não há.<br />
COMO NUM AQUÁRIO<br />
129
Essa é minha essência<br />
meu escrever de alguma forma<br />
se liga a esse templo.<br />
Não é culpa<br />
de ninguém.<br />
Nem há como<br />
fugir disso.<br />
O homem<br />
sensível<br />
não sabe<br />
o que fazer<br />
com sua dor.<br />
A mulher<br />
sente<br />
mas suporta melhor<br />
desde sempre.<br />
Leonar<strong>da</strong> é alta<br />
parece forte<br />
e não precisar de mim.<br />
Leonar<strong>da</strong> é assim<br />
como to<strong>da</strong> mulher<br />
(de início).<br />
Leonar<strong>da</strong><br />
me arde<br />
não ter...<br />
Me arranha<br />
estar lá<br />
eu aqui...<br />
Leonar<strong>da</strong><br />
tão alta e felina<br />
leopar<strong>da</strong>.<br />
Eu <strong>da</strong>nço no palco <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />
em vez de procurar<br />
metodicamente<br />
uma saí<strong>da</strong>.<br />
Minha essência<br />
é mu<strong>da</strong>r.<br />
OS SEXOS<br />
LEONARDA<br />
INCRÍVEL MAS<br />
MARÍTIMO<br />
130
Não me basta<br />
ser rio<br />
se posso<br />
ser mar.<br />
PARA CLARICE LISPECTOR<br />
"Nova era, esta minha, e ela me anuncia para já. Tenho coragem? Por enquanto estou tendo:<br />
porque venho do sofrido longe, venho do inferno de amor mas agora estou livre de ti. Venho do<br />
longe - de uma pesa<strong>da</strong> ancestrali<strong>da</strong>de. Eu que venho <strong>da</strong> dor de viver. E não a quero mais. Quero a<br />
vibração do alegre. Quero a isenção de Mozart. Mas quero também a inconseqüência. Liber<strong>da</strong>de?<br />
é o meu último refúgio, forcei-me à liber<strong>da</strong>de e agüento-a não como um dom mas com heroísmo:<br />
sou heroicamente livre. E quero o fluxo." - Clarice Lispector (Água Viva)<br />
Mergulho em Clarice Lispector por três páginas e tenho que parar para escrever e respirar. Para não<br />
me perder. A pintura sinuosa de sua palavra me brilha os olhos. Adianto fatos para não ter que<br />
percebê-los. Amores resolvidos e vi<strong>da</strong> conquista<strong>da</strong>. O eterno duelo com o definitivo que cisma de<br />
não existir. Escondo minha ansie<strong>da</strong>de debaixo do tapete. "Elas" é uma palavra forte. "Ela", pior<br />
ain<strong>da</strong>. Perdi o escudo <strong>da</strong> raiva e jogo a leveza no mar sem água. Peixes mortos. Na<strong>da</strong> a fazer. Eu<br />
lavo as minhas mãos. Ela enxuga. Embrulho palavras com papel laminado de dias. Noites não, que<br />
noites podem ser frias. Experimento a liber<strong>da</strong>de <strong>da</strong> palavra viva. Da palavra mágica que corre aqui e<br />
acolá, faz piruetas e saltos na língua imóvel, enorme, plana, estagna<strong>da</strong> a espera de algo. Sim, de<br />
certo que tenho fome, que é hora quase de almoçar. Sim, eu gosto de comer conforme o relógio.<br />
Olho de novo<br />
o mundo velho<br />
com olhos de criança.<br />
Quero experimentar tudo.<br />
Cores, sabores, amores...<br />
Em vez de encolher,<br />
expandir ao máximo<br />
para escolher<br />
o melhor.<br />
Definitivo<br />
é o instante.<br />
O meu deus então não pune<br />
não man<strong>da</strong> pro inferno eterno<br />
aumente agora o seu volume<br />
cante a glória do enfermo<br />
jogue fora sua muleta<br />
fo<strong>da</strong> tudo, menos a boceta<br />
engane mãe, pai, proveta<br />
faça tudo que não pode<br />
mas não use camisinha<br />
faça tudo que lhe agra<strong>da</strong><br />
e dê uma risadinha<br />
a tal bíblia sagra<strong>da</strong><br />
MAXIMIZE<br />
FINALMENTE<br />
EVANGELIZA<strong>DO</strong>R<br />
131
é todinha metafórica<br />
nos castigos, não nos prêmios<br />
nos castigos, não nos prêmios<br />
nos castigos, não nos prêmios.<br />
Mais uma vez, louvando até o chão:<br />
Nos castigos, não nos prêmios<br />
nos castigos, não nos prêmios<br />
nos castigos, não nos prêmios.<br />
Agora eu durmo com meus olhos e meu plexo solar<br />
voltados totalmente para o ar<br />
para o infinito<br />
para as infinitas possibili<strong>da</strong>des<br />
para a expansão cósmica...<br />
Em vez de virar meu umbigo<br />
para a terra<br />
sumir, proteger, desaparecer, esquecer, encolher...<br />
Até isso consegui mu<strong>da</strong>r.<br />
An<strong>da</strong>r na chuva<br />
sem óculos<br />
nem guar<strong>da</strong>-chuva.<br />
Nenhuma pergunta prévia<br />
adianta na<strong>da</strong>.<br />
Nenhum planejamento metódico<br />
pode prever<br />
as mer<strong>da</strong>s que virão.<br />
Nenhuma lista<br />
pode contê-los.<br />
Mais um motivo<br />
pra mergulhar<br />
na tentativa.<br />
Ressaca forte.<br />
Estouro de on<strong>da</strong>s brancas<br />
espumas pelos ares<br />
estrondos.<br />
Olho cansado e ando.<br />
Cinco quilômetros.<br />
SOBRE O SONO<br />
PRAZER (E POEMA) BOBO<br />
<strong>DO</strong>S ENCONTROS<br />
MAR EM FÚRIA<br />
132
Uma hora.<br />
E meu pulso?<br />
Coloco a mão no peito<br />
na jugular<br />
na<strong>da</strong>.<br />
Sem mais impulsos assassinos...<br />
A ira do mar<br />
não é minha.<br />
Profundi<strong>da</strong>de<br />
não rima<br />
com segurança.<br />
Para Edson Marques<br />
Sou eu e o céu novamente<br />
o mesmo céu<br />
o mesmo eu<br />
ambos diferentes.<br />
Fevereiro de 2010<br />
MERGULHE!<br />
SORRISO MÚTUO DE CUMPLICIDADE<br />
133
Caro(a) Leitor(a),<br />
A poesia, para estar viva, precisa de olhos. Não basta o papel. Obrigado pela leitura.<br />
Este é um trabalho independente e gratuito, que pode ser distribuído pela internet.<br />
Se tiver gostado, mande aos seus amigos. Caso contrário, aos inimigos... <br />
Uma <strong>da</strong>s coisas de que mais gosto é ver estes versos se espalhando como vírus pela<br />
grande rede...<br />
Um grande abraço e obrigado mais uma vez,<br />
Fabio Rocha<br />
e-mail: fabiorocha@fabiorocha.com.br<br />
site: www.fabiorocha.com.br<br />
134