19.04.2013 Views

O DIÁRIO DO NADA - A Magia da Poesia

O DIÁRIO DO NADA - A Magia da Poesia

O DIÁRIO DO NADA - A Magia da Poesia

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Marítimo<br />

Fabio Rocha<br />

1


Copyright © 2010 por Fabio Rocha<br />

Registro EDA – Biblioteca Nacional:<br />

Nome(s) do(s)<br />

Autor(es):<br />

Título <strong>da</strong> Obra:<br />

No. Registro <strong>da</strong> Obra:<br />

FÁBIO JOSÉ ALFRE<strong>DO</strong> SANTOS DA ROCHA<br />

Marítimo<br />

493.865<br />

Livro: 933<br />

Folha: 450<br />

Data de Registro: 6 de maio de 2010<br />

Gênero <strong>da</strong> Obra:<br />

Obra Publica<strong>da</strong>:<br />

POESIA<br />

Não<br />

Título original: Marítimo<br />

Editoração eletrônica: Fabio Rocha<br />

Endereço eletrônico:<br />

http://www.fabiorocha.com.br<br />

(O autor repudia e ignora as novas normas gramaticais propositalmente.)<br />

2


Prefácio – Ígor Andrade – www.fugadointelecto.blogspot.com<br />

Quando penso que comecei a amar e entender mais a poesia depois que conheci Fabio Rocha, vejo<br />

que estou no caminho certo: que é não pensar no caminho, e sim seguir em frente. Este caminho que<br />

sigo sozinho é cheio de descobertas, que noto em ca<strong>da</strong> poema diário seu. Em ca<strong>da</strong> novo verso, me<br />

vejo em tantos reencontros que mal posso esperar pelo próximo velho poema que ele escreve e<br />

consigo ler.<br />

Prepare-se para uma longa jorna<strong>da</strong>, na praia que todos nós tentamos evitar. Ca<strong>da</strong> oceano de hoje<br />

será profun<strong>da</strong>mente explorado no olhar do escritor inquieto que não se conforma em apenas<br />

mergulhar num mar diferente, todos os dias. Faça chuva ou faça sol, no grito ou no silêncio, você e<br />

mais ninguém, irá embarcar nos passos cheios de dor de um poeta contemporâneo que considero um<br />

grande herói.<br />

Neste livro encontrei o ver<strong>da</strong>deiro Fabio Rocha, que conheci há algum tempo no bendito mundo<br />

virtual. Aqui a batalha de muitos é entendi<strong>da</strong> por poucos. A dor que segue em descoberta e a busca<br />

por um novo amor, que alimenta a alma do poeta, altera as cores de ca<strong>da</strong> manhã desta caminha<strong>da</strong><br />

poética e marítima. Aqui pude ler e compartilhar do que é descobrir e esconder uma vi<strong>da</strong> to<strong>da</strong> que<br />

não tive, mas que desejo nascer.<br />

LEIO MARÍTIMO<br />

Leio marítimo<br />

leio legítimo<br />

leio sem ar.<br />

Sou o edítimo<br />

de to<strong>da</strong> essa prosa<br />

feita em frente ao mar.<br />

(Venço o pânico<br />

com poesia na praia<br />

li<strong>da</strong> no quarto.)<br />

Quando penso<br />

que um poema passou<br />

vem outro poema<br />

com outra dor<br />

(uma nova)<br />

e me põe no espaço.<br />

O mar <strong>da</strong>qui<br />

ficou tão mais imenso<br />

ca<strong>da</strong> amanhecer é intenso<br />

e eu esqueço o cansaço.<br />

Este livro é um passarinho<br />

que passa sozinho<br />

com as asas mais fortes<br />

e mais leve que o aço.<br />

O céu é o caminho<br />

3


o sol meu vizinho<br />

e no chão me desfaço.<br />

4


Um poema<br />

pra iniciar o voo<br />

(dilema sem trema)<br />

enquanto a terra treme trágica<br />

trabalhadores uni-vos em salto<br />

que o solo passado e pesado<br />

deve ser deixado<br />

para baixo.<br />

O que eu busco<br />

é o mistério<br />

a surpresa<br />

o encantamento<br />

a empolgação<br />

a superação<br />

a vontade<br />

o desejo...<br />

(Mas o que tenho mesmo é o mesmo,<br />

e o medo de sair do mesmo<br />

me mantém mesmo<br />

no mesmo.)<br />

No caminho<br />

sonhei apenas comunhões<br />

onde havia distâncias<br />

e afastei muitos próximos<br />

muito próximos<br />

nos intervalos comerciais...<br />

Percorri vulcões ortodoxos cheios de gentes<br />

gargarejando na<strong>da</strong><br />

e cuspindo metas<br />

a ditar caminhos...<br />

Senti o grande martelo<br />

quebrar algum sentido<br />

e uns e outros mundos...<br />

Sacolejei em vícios lúdicos<br />

rastejei por ouro e futuro<br />

sofri pelo passado deitado...<br />

E hoje me vejo parado<br />

e hoje me vejo sozinho<br />

e hoje vejo<br />

Janeiro de 2009<br />

2009<br />

MÍSTICA<br />

5


que talvez nunca<br />

tenha conseguido ver<br />

algo que não seja eu...<br />

Afora isso,<br />

sigo parado e sozinho,<br />

com a quase certeza,<br />

mesmo parado e sozinho,<br />

de na<strong>da</strong> estar além do agora,<br />

de tudo o que preciso<br />

morar no instante,<br />

no entanto,<br />

intocável de tão perto.<br />

Um poema-auto-resposta<br />

um dilema repassa<br />

automóvel:<br />

Podem inventar budismos<br />

epicurismos<br />

ou qualquer outra bela e convincente forma<br />

de conservaformismo...<br />

Quando este mundo e este momento<br />

bastarem<br />

bastarem legitima e totalmente<br />

a todos os de dentro e de fora <strong>da</strong> multidão<br />

não haverá arte.<br />

Num giro rodopio<br />

lançar ao chão lágrimas <strong>da</strong>s mãos<br />

brilhantes pedrinhas de estra<strong>da</strong>s inadivinháveis<br />

sementes.<br />

Escrevo quente<br />

que a noite é fria...<br />

Escrevo nu<br />

pra me cobrir com poesia...<br />

Para Lohany<br />

Por estar levemente distraído<br />

matar a assassina mascara<strong>da</strong><br />

escondi<strong>da</strong> atrás de um dragão azul e uma besta poderosa<br />

com o prazer máximo <strong>da</strong> lâmina dupla na carne perto<br />

trouxe-me a surpresa simples <strong>da</strong> felici<strong>da</strong>de contemporânea.<br />

PARA DANIEL JOHNSTON<br />

IMAGÉTICO<br />

BOA NOITE<br />

RPG<br />

6


Para Mario Quintana<br />

Também sou homem fechado.<br />

O mundo me tornou egoísta e antisocial...<br />

E a minha poesia é um vício louco,<br />

desesperado, solitário e louco<br />

que faço tudo por espalhar...<br />

Uma tela aberta<br />

uma janela fecha<strong>da</strong><br />

lá bem fora, madruga<strong>da</strong><br />

sono leve<br />

o dia besta<br />

fin<strong>da</strong>...<br />

Palavras<br />

querendo<br />

mais...<br />

Pescadores<br />

procuram peixes e caranguejos raros<br />

pelos mares bravios e enormes...<br />

Enquanto aqui<br />

no escuro<br />

a ca<strong>da</strong> linha<br />

busco<br />

num esforço vão<br />

a ca<strong>da</strong> linha<br />

sozinho<br />

sem barco<br />

a ca<strong>da</strong> linha<br />

na rede<br />

palavras.<br />

Me atravessam tempestades de raios<br />

no espaço de estrelas escondi<strong>da</strong>s<br />

calor, cansaço<br />

missão cumpri<strong>da</strong>.<br />

No deserto estéril<br />

cercado de moe<strong>da</strong><br />

por todos os ralos<br />

me arrasto entre futuros<br />

de pessoas feias mas confortáveis<br />

e um impulso injusto e inafiançável<br />

dentro desses dentes trincados cansados<br />

CANÇÃO <strong>DO</strong> AMOR INALCANÇÁVEL<br />

VERÃO<br />

SOBREVIVÊNCIA<br />

SENSAÇÃO<br />

VALE TU<strong>DO</strong>?<br />

7


quer seguir o belo<br />

o bom<br />

o justo<br />

sem ter que escrever o que querem ler<br />

apenas pra passar.<br />

Enquanto o mar por trás dos prédios rosna<br />

e a brisa de sempre, sempre diferente, venta<br />

gaivotas passam num céu rosado em câmera lenta<br />

e frases complexas sem muito significado morrem.<br />

Numa noite de sincronia<br />

na tempestade que se forma<br />

e se expande, e se afirma, e se espalha<br />

em raios<br />

ouço a música do ser.<br />

Cantam o mesmo, em harmonia<br />

Heráclito, Drummond, Nietzsche, Ravel, Whitman, Jung:<br />

o mundo, a vi<strong>da</strong>, a vontade, o universo, você...<br />

tudo<br />

é<br />

um.<br />

No canto escuro <strong>da</strong> noite<br />

o silêncio do mar em on<strong>da</strong>s<br />

de plenitude.<br />

Há formação em áreas distintas no meu Curriculum Vitae<br />

e informação distorci<strong>da</strong> nos jornais de sempre.<br />

No entanto<br />

o que me forma<br />

em todos os sentidos<br />

é a poesia.<br />

A missão é grande<br />

complexa<br />

longa<br />

difícil...<br />

E a maior dificul<strong>da</strong>de <strong>da</strong> missão<br />

realmente<br />

é não cumpri-la<br />

e vencer o peso <strong>da</strong> culpa<br />

com a leveza dos cisnes.<br />

TEMPO PARA SI<br />

ALEGRO<br />

AO LONGE<br />

CONSTÂNCIA<br />

PARA LEONARD COHEN<br />

8


Todo o tempo<br />

temos.<br />

Temos.<br />

Todo o tempo<br />

que temos<br />

perdemos<br />

porque temos<br />

que<br />

Dança de letras e significados<br />

sob a regência do machado<br />

e um céu azul redondo<br />

mais um dia começando<br />

a se fazer sentir<br />

e se fazer sentido<br />

na ausência de relógios.<br />

Sem obrigação de na<strong>da</strong><br />

o tempo<br />

passa macio<br />

na madruga<strong>da</strong><br />

Ruas vazias do Rio de Janeiro<br />

por onde passo, num sol <strong>da</strong>nado<br />

e me escondo sombrio<br />

de qualquer folia<br />

sem máscaras.<br />

Escrevo pelo mesmo movimento<br />

do falo<br />

vontade<br />

semeando branco<br />

em macias páginas rubras.<br />

Quase nas bor<strong>da</strong>s do impossível<br />

(branco)<br />

seu suave nome:<br />

delícia.<br />

Em que posse<br />

pesa escondido<br />

o escombro<br />

do teu sonho?<br />

TEMEMOS<br />

MUSICAL<br />

E VELOZ<br />

PASSOS<br />

CARNAVALESCO<br />

RIMA<br />

TOSSE<br />

9


Dois amigos<br />

caminham<br />

por praias distantes.<br />

Caminham calados<br />

enquanto cai<br />

(constante e irreversivelmente)<br />

por entre os dedos do tempo<br />

qualquer palavra.<br />

Desenho com as duas mãos<br />

de vez em quando minto<br />

árvores me trazem breve paz<br />

e leveza de borboletas.<br />

Suo demasiado luas e letras no verão<br />

<strong>da</strong>nço com ventanias e temporais<br />

esquento os cômodos com a respiração<br />

sempre que corto as unhas<br />

sinto raiva, paixão e profundos questionamentos existenciais.<br />

Atrás <strong>da</strong> porta <strong>da</strong> raiva<br />

se esconde algum LoBo<br />

que adio<br />

e jogo videogame.<br />

Em todos os poemas há lobos, exceto em um. O mais lindo de todos. - Jim Morrison<br />

Na mais alta amendoeira<br />

<strong>da</strong> rua escura<br />

grita vazio<br />

o velho de branco.<br />

Cavalos não passam<br />

e serpentes <strong>da</strong>nçam.<br />

Sozinho no alto<br />

morto de asfalto<br />

lua vermelha.<br />

No silêncio <strong>da</strong> casa<br />

me caso.<br />

O vaso de planta<br />

<strong>da</strong> infância.<br />

AREIA<br />

AUTO-RETRATO<br />

REVISITAN<strong>DO</strong> LOBOS<br />

PARA JIM MORRISON<br />

RETORNO<br />

10


O raso <strong>da</strong> água<br />

escorrendo.<br />

A ascensão do vôo<br />

e a paz <strong>da</strong>s frentes frias:<br />

todos os rostos em maravilha.<br />

E foi num domingo santo<br />

que revi todos os sonhos...<br />

- Plim!<br />

O inimigo está<br />

mais escondido<br />

do que sempre.<br />

- Plim!<br />

Cabeças<br />

concor<strong>da</strong>m<br />

na vertical.<br />

- Plim!<br />

Convulsões<br />

inanima<strong>da</strong>s<br />

vicia<strong>da</strong>s<br />

constantes.<br />

- Plim!<br />

Elevadores<br />

elevam dores<br />

agora com telas<br />

e propagan<strong>da</strong>s singelas:<br />

todo tempo<br />

para cima<br />

em todo canto<br />

para baixo<br />

escolha seu número<br />

para cima<br />

exponha seu úmero<br />

para baixo<br />

no orkut.<br />

Todo espaço<br />

todo tempo<br />

deve ser<br />

ocupado.<br />

PARA O ALTO<br />

JANELA ABERTA<br />

EMAGREÇA <strong>DO</strong>RMIN<strong>DO</strong>: MORRA<br />

11


Ocupado.<br />

- Plim!<br />

(Divagar:<br />

Esca<br />

<strong>da</strong>ban<br />

dor... na<strong>da</strong>.)<br />

Leio Walt Whitman<br />

no rosto do velho barbado<br />

há 90 anos no Ceará<br />

com ca<strong>da</strong> osso torto<br />

e calor<br />

e sofrer<br />

e silêncio contemplativo.<br />

Meu avô.<br />

Seus olhos vêem o mesmo todo.<br />

Vou viver.<br />

Os cheiros <strong>da</strong> infância feliz<br />

encontraram algum secreto caminho<br />

pro apartamento de hoje.<br />

To<strong>da</strong> a água brava, revolta, agita<strong>da</strong><br />

que me amedrontava<br />

agora está<br />

sobre mim<br />

e prazerosamente me mata<br />

e refresca.<br />

Dos infinitos rios<br />

lambendo pedras e limos<br />

descendo montes<br />

cavando terras e sonhos<br />

cismando pastos distantes...<br />

Dos vales de silêncio<br />

e manhãs de sol<br />

bois ensimesmados desconhecidos<br />

ventos do passado...<br />

Dos carinhos<br />

calores<br />

e odores<br />

<strong>da</strong> casa <strong>da</strong> vó<br />

TEMPO<br />

CURVAS<br />

12


onde criei rios<br />

no quintal...<br />

De tantas cores e dores<br />

trajetos, curvas, linhas separa<strong>da</strong>s<br />

o encontro:<br />

amor<br />

azul<br />

o mar.<br />

Da janela seca<br />

um telhado aberto<br />

o verde desperto<br />

na paredes velhas.<br />

Pinto a tela em branco<br />

com palavras vermelhas<br />

fogo de guitarras<br />

peles desliza<strong>da</strong>s suave<br />

sol se pondo.<br />

Enquanto o ácido <strong>da</strong> boca<br />

digere na<strong>da</strong><br />

a pele quente<br />

a cabeça tonta<br />

o coração sente<br />

música ruim<br />

no vento pouco.<br />

De mim ao céu<br />

uma trilha de insetos estagnados<br />

sem visíveis teias<br />

caminho de veias<br />

e sedes venosas<br />

lilás<br />

sobre o azul<br />

Quando a noite chegar<br />

e a imobili<strong>da</strong>de vencer suas palavras<br />

o silêncio terá valor<br />

(e<br />

talvez<br />

eu)<br />

.<br />

VISTA<br />

PINTURA<br />

NOITE SEM AR CONDICIONA<strong>DO</strong> COM RAIVA<br />

SALTO<br />

ALMOÇO<br />

13


Não sei se durmo<br />

se vale<br />

se corro<br />

se como<br />

se murro<br />

se mato<br />

se morro...<br />

No salto<br />

do susto<br />

um céu<br />

sobressai<br />

(e subo).<br />

Minha liber<strong>da</strong>de leve<br />

precisa se alimentar<br />

<strong>da</strong> pesa<strong>da</strong> raiva.<br />

Eu posto<br />

a pressa<br />

e como o pasto<br />

besta<br />

sei que passo.<br />

Para Stella<br />

Eis agora que te vejo<br />

em minha mão direita<br />

e desde já desejo<br />

a sua mão <strong>da</strong><strong>da</strong>.<br />

Eu moro na casa de vento<br />

onde amigos não tem tempo<br />

e tempo lento tonto tento<br />

onde janela é desalento<br />

eu moro na casa de vento<br />

onde família é sofrimento<br />

e olho a janela de ontem.<br />

E de novo tudo<br />

um quase tempo<br />

o mesmo verso<br />

indo e vindo<br />

novo e distinto<br />

antiga guerra<br />

agora paz.<br />

RELEITURA - ALMOÇO<br />

LEVEZA<br />

FORÇA<br />

TONTO<br />

VAMOS<br />

ONDE SAIR É MAIS E MAIS DIFÍCIL<br />

COLDPLAY<br />

14


Essa voz<br />

de dentro <strong>da</strong> boca que finge falar poemas<br />

(mas só os pensa)<br />

está cansa<strong>da</strong>.<br />

Sem um projeto coletivo e utópico onde caibam meus sonhos<br />

sem um dia-a-dia individualmente minimamente simplesmente suportável<br />

sem grandes avanços na psicanálise além de querer parecer curado...<br />

Eu mesmo<br />

a mim mesmo<br />

só comigo mesmo<br />

constantemente me prendo.<br />

Só.<br />

O resto são detalhes<br />

variações sobre a mesma lenga-lenga<br />

e versos sem rima.<br />

Vejo:<br />

Janelas?<br />

E as quatro paredes<br />

maiores que elas?<br />

Vem e me salva, palavra<br />

que a palavra colo<br />

hoje está tão solta...<br />

(Hoje está tão longe,<br />

tão pequenininha...)<br />

E por to<strong>da</strong> boca<br />

e por to<strong>da</strong> parte<br />

meia-noite arde<br />

sem chapéu de fogo.<br />

Antes verde<br />

hoje tarde<br />

amanhã<br />

arte?<br />

(Arte<br />

salva<br />

de palmas...)<br />

REVEN<strong>DO</strong> JANELAS (SEM RIVOTRIL AINDA)<br />

COLO<br />

15


Procura-se pastor<br />

que cante pior e mais alto, alto, alto<br />

do que aquele<br />

na igreja-garagem<br />

lá de baixo, baixo, baixo<br />

<strong>da</strong> rua Borges Monteiro<br />

em Higienópolis<br />

antigo estado <strong>da</strong> Guanabara.<br />

Remunera-se bem<br />

(no pós-vi<strong>da</strong>).<br />

Cui<strong>da</strong>do<br />

com o vão<br />

entre o trem<br />

e o sonho.<br />

Um dia lindo<br />

um céu tão grande<br />

um mundo vasto...<br />

(Eu tão pequeno...)<br />

Tardes calmas, sem pressa...<br />

Manhãs tranqüilas, sem medo...<br />

Noites lisas, sem busca...<br />

A partir do dia<br />

em que me bastar<br />

minha poesia.<br />

O não-tempo<br />

é tempo de não ser.<br />

Sair pouco<br />

comer pouco<br />

falar pouco.<br />

Tempo de tristeza aberta<br />

em dias ensolarados<br />

e tristeza mansa<br />

em dias fechados...<br />

Um disfarce<br />

do existir<br />

não existindo.<br />

ANÚNCIO<br />

METRÔ<br />

SOL<br />

FUTURO<br />

NÃO-TEMPO<br />

16


Por onde a última<br />

esperança<br />

já cansou...<br />

E o poema<br />

desistiu.<br />

Me arrasto no chão<br />

<strong>da</strong> guerra que não há<br />

entre escombros de mim.<br />

Tudo<br />

ca<strong>da</strong> vez<br />

mais difícil...<br />

As coisas quebram<br />

quando eu me quebro<br />

e nos cacos de pe<strong>da</strong>ços<br />

sem um eu concreto<br />

não se acha<br />

a cor <strong>da</strong> poesia.<br />

"Já cheguei"<br />

é a construção semi-frasal quotidiana<br />

mais importante.<br />

A palavra palavra<br />

atrai a palavra certa<br />

com a força<br />

de rimas inescutáveis.<br />

Ante tanta tarde<br />

parte de mim não party<br />

presa no solo do mesmo<br />

triste na tristeza<br />

feliz na imobili<strong>da</strong>de.<br />

Entre o trem e o sonho<br />

a lonjura e a proximi<strong>da</strong>de<br />

a paz e a solidão<br />

o vazio e a sacie<strong>da</strong>de<br />

devagar<br />

divago...<br />

Interrompido apenas<br />

pelo de sempre:<br />

intermináveis coisas<br />

DESPERTAR<br />

ACORDA<br />

REVIRAVOLTA SEM REVOLTA<br />

CONSTRUCTO<br />

SOLO<br />

SOCIEDADE<br />

17


por fazer<br />

sem vontade.<br />

No caminho onde não chego<br />

volto logo<br />

mas volto para onde<br />

pra que casa<br />

quero voltar<br />

logo<br />

se não há casa?<br />

Itabira já não há<br />

além do retrato...<br />

E a casa<br />

muito engraça<strong>da</strong><br />

que perdido busco<br />

não existe.<br />

Ansioso<br />

lembro de todos os sonhos.<br />

Volto a dormir.<br />

O vento vem<br />

e bate a persiana<br />

suja.<br />

Balança<br />

mas não cede.<br />

O peito aperta.<br />

Volto a dormir.<br />

Almoço.<br />

Volto a dormir.<br />

Tarde.<br />

O peito bate.<br />

Dentre quatro paredes<br />

eu sou a quinta...<br />

Não ouço o som<br />

<strong>da</strong> minha voz.<br />

O peito pede mais.<br />

Na<strong>da</strong> tem uma cor<br />

ACASO<br />

SÓ<br />

18


diferente<br />

do desprazer.<br />

Noite.<br />

Como demais:<br />

mais vazio.<br />

Só um poema.<br />

Só<br />

um<br />

poema...<br />

Só um poema<br />

pode me salvar.<br />

Na entrelinha<br />

do cansaço (morte em vi<strong>da</strong>)<br />

renasço.<br />

Na<strong>da</strong> que temer<br />

eu passo<br />

entre palavras escritas<br />

e a prática <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

diminuindo distâncias.<br />

Semear o vento<br />

que balança a tela<br />

abrir mais janelas<br />

ler menos besteiras...<br />

No entrespaço<br />

de entretantos tantos<br />

tento.<br />

Como a chuva<br />

precipitamo-nos<br />

em explicar, contar, planejar e fixar<br />

quando na ver<strong>da</strong>de<br />

o mais importante pinga:<br />

a percepção que logo escorre<br />

o oceano para a gota<br />

o sentido íntimo e único<br />

para ca<strong>da</strong> ser que é.<br />

Rio de Janeiro<br />

terra minha<br />

PENSAR É SER<br />

MÉTO<strong>DO</strong> <strong>DO</strong> DISCURSO<br />

TETO<br />

SOLÚVEL EM TAO<br />

DA OBSERVAÇÃO<br />

19


onde Augusto dos Anjos<br />

já vendeu seguro de vi<strong>da</strong><br />

e o mar<br />

o mesmo mar de hoje<br />

o mesmo mar de sempre<br />

repete alheio<br />

palavras não ditas.<br />

Antes de tudo<br />

a tecla<br />

a teta<br />

a falta<br />

Sobretudo<br />

a seta<br />

sobre<br />

tudo<br />

O tempo<br />

o todo<br />

o teto branco.<br />

Manhã de cedo<br />

onde não cabe o sono<br />

Cimentos brancos<br />

nos telhados rasos<br />

Pó de pedra nos olhos<br />

olhares líquidos<br />

em liqui<strong>da</strong>ção<br />

Atacou sem coragem<br />

ouvindo rock and roll<br />

uma espa<strong>da</strong> em ca<strong>da</strong> mão<br />

diamante não brilhou.<br />

Um morro alto<br />

no alto do corro<br />

um coro de anjos<br />

um vôo de morro<br />

Meu amor é conforto<br />

recanto<br />

o canto bom de ser<br />

o quando o tempo pára.<br />

3 DIAS SEM COMPUTA<strong>DO</strong>R<br />

BOM DIA, TWITTER<br />

DIA CINZENTO<br />

ASAS<br />

PARA STELLA<br />

20


Um poema sem palavras<br />

vi na mata, no riacho<br />

ouvi no improviso do piano<br />

uma rua enfumaça<strong>da</strong><br />

eu an<strong>da</strong>ndo<br />

o sol sumindo<br />

fora do anoitecer.<br />

Um dia estranho<br />

uma falta<br />

um poema sem palavras.<br />

Todo<br />

tempo<br />

poesia<br />

Na pressa <strong>da</strong> passagem<br />

de ônibus<br />

apressa<br />

de estar<br />

lá longe<br />

a tarde<br />

é tarde<br />

e já não há<br />

promessa.<br />

Por trás de rostos sorrindo<br />

vejo nuvens negras<br />

enquanto a tarde tar<strong>da</strong>.<br />

Oceano profundo<br />

longo largo imenso<br />

e um canto triste<br />

sozinho<br />

entre tanto<br />

azul<br />

Almoço é parte<br />

<strong>da</strong> parti<strong>da</strong> breve<br />

que de to<strong>da</strong> parte<br />

o tempo todo<br />

de todos os lugares<br />

parte e quebra<br />

esvai<br />

e vai<br />

escorrendo<br />

SIMBOLISTA<br />

NOVO DIA<br />

CONFESSA<br />

TERÇO<br />

DA BALEIA JUBARTE<br />

PRESSA<br />

21


pelas mãos<br />

fecha<strong>da</strong>s.<br />

Teus<br />

te proteja<br />

que o cachorro late<br />

e o silêncio bate<br />

na grade gris do tempo.<br />

Quando há noite<br />

e me deito<br />

e me cubro<br />

com o pó preto<br />

oriundo dos pneus<br />

que a linha amarela lixa<br />

constantemente<br />

com seus carros passando sempre<br />

sempre em alta veloci<strong>da</strong>de<br />

decididos a chegarem sempre<br />

sem nunca chegar<br />

(tiros ao longe)<br />

meus olhos arranham aranhas<br />

mas mesmo assim no entanto no quarto<br />

durmo branco<br />

até a serra<br />

do vizinho em obras eternas.<br />

por sobre telhados de casas e cacos<br />

por sobre musgos frios verdes escuros negros<br />

o sol<br />

Antes que eu rime poesia com dia<br />

um poema fecho<br />

de manhã<br />

antes do meio-dia<br />

de manha<br />

antes que eu seja tarde.<br />

Por entre faixas inespera<strong>da</strong>s<br />

e tropeços do todo<br />

tudo se encaixa<br />

antes do fim.<br />

Sem a dor<br />

sentir prazer:<br />

sem a cor<br />

pintar.<br />

MANHÃ<br />

PERCURSO<br />

SEMPRE<br />

FECHA<strong>DO</strong><br />

DIA<br />

PERCEPÇÃO AZUL<br />

22


SALA DE ESTAR<br />

Sentamos na sala de estar. O som do silêncio é o relógio de parede que quebra, por não estar<br />

quebrado - infelizmente. Dura três longos minutos. Fala-se, então, <strong>da</strong>s novas descobertas científicas<br />

na revista que podem nos fazer viver mais. Me pergunto para quê. E a caverna subterrânea, <strong>da</strong> beira<br />

do profundo nos observa, repleta de silêncio e coisas escuras por dizer e uma pita<strong>da</strong> de ser.<br />

Entreolhamo-nos, semiconscientes dela mas sem coragem. O relógio segue. Ninguém desce a si.<br />

O tempo<br />

transbor<strong>da</strong><br />

a taça<br />

metade cheia<br />

de pressa.<br />

No fim do canto<br />

esquerdo olho confuso<br />

ruídos de riscos bonitos<br />

rema<strong>da</strong>s de mantras com nexo.<br />

Abre-se certo o peito<br />

ao fora<br />

sem saber<br />

(tudo sendo agora)<br />

abre-se certo<br />

ao outro.<br />

Para Carmen Santos<br />

Me preparo<br />

pro funeral<br />

de minha avó<br />

sob o silêncio<br />

de dez mil canções tristes.<br />

O passado<br />

abraça suave<br />

e se despede frio.<br />

O dia se abre<br />

janela de tempo<br />

e possibili<strong>da</strong>de.<br />

Dardos solares<br />

iluminuram<br />

universos<br />

não <strong>da</strong>dos.<br />

Dentro de casas com mosquitos invertebrados<br />

janelas, portas e paredes<br />

DEPRESSA<br />

NOCTURNO<br />

JANELA RECORRENTE<br />

SAUDADE<br />

RETRATO CIDADE<br />

23


descontentes crônicos<br />

anseiam além.<br />

jurar a jubarte<br />

de morte<br />

de arte<br />

judiar a jubarte<br />

juba de jujuba<br />

inexistente<br />

júbilo em marte<br />

a jubarte<br />

que voa no vácuo<br />

vermelho de sangre<br />

planeta com rosto<br />

sorrindo de triste<br />

Belarmino<br />

tinha uma<br />

falta.<br />

Para Stella<br />

Alisar partes do parto sem partir<br />

sem parir<br />

sem Paris<br />

nem querer partir jamais<br />

mão no coração<br />

e mais<br />

e mais<br />

palavras vermelhas de língua<br />

proximi<strong>da</strong>de<br />

contornos que se tocam<br />

indefinidos braços<br />

indefinidos traços<br />

indefinindo-se mais<br />

e mais<br />

nas voltas<br />

rodopios e revoltas<br />

misturando-se.<br />

Chove o mundo<br />

e meu coração (velho navio)<br />

se move.<br />

Solos de violinos<br />

imaginários<br />

solitários...<br />

ABUTRE<br />

VERSÃO<br />

DANÇA<br />

ENORME<br />

SATURDAY<br />

24


Solos de violinos<br />

unidos, porém<br />

no silêncio<br />

<strong>da</strong> manhã.<br />

Madruga<strong>da</strong> mesma<br />

de sonhar intenso<br />

mais de muitos lenços<br />

por diversas mesas<br />

Madruga<strong>da</strong> fria<br />

de quem não sabia<br />

Madruga<strong>da</strong> morta<br />

e sem poesia<br />

E eis que tudo gira<br />

e a tela brilha<br />

mundos, sonhos, planetas, pessoas<br />

acelera<strong>da</strong>mente tentam de tudo<br />

para vencer o invencível<br />

longe.<br />

Sinestesias à parte<br />

parti<strong>da</strong>s de motores de barcos<br />

parti<strong>da</strong>s de vermelhos em si bemol<br />

e gosto de sangue<br />

e pressa.<br />

Um poema de ovo<br />

rompendo a pele <strong>da</strong> manhã<br />

voz feminina que gema<br />

um poema gostoso.<br />

Pesando o peso<br />

pesado do na<strong>da</strong><br />

agora...<br />

Busco a leveza<br />

<strong>da</strong>s borboletas que foram<br />

<strong>da</strong> música que é<br />

do vento que será.<br />

O sol<br />

irremediavelmente<br />

volta<br />

por trás dos versos negros<br />

RITMO DE FESTA<br />

INTER<strong>NADA</strong><br />

PARTO<br />

NOVO QUENTE<br />

BRISA<br />

CICLOS<br />

25


e sobe às bocas<br />

ciclicamente<br />

brilha vontade<br />

alegria<br />

amar-elo<br />

letra<br />

e música.<br />

Entre o impossível e o sonho<br />

cabe a arte<br />

essa ativi<strong>da</strong>de maior dentro<br />

menor que supérflua fora<br />

no meio de tanto jornalismo morto<br />

um lirismo perdido e vivo<br />

uma teimosia, uma resistência, um vírus, um acidente<br />

onde apatia e conformismo é norma<br />

entre tantos entretantos e seres sem tempo fazendo um mundo melhor<br />

e tentando roubar o seu dinheiro <strong>da</strong>s mais diversas formas.<br />

Um corpo todo cérebro<br />

conectado a outros<br />

tristes e ensimesmados.<br />

Um cérebro todo razão.<br />

Boa noite.<br />

Repetição e tédio.<br />

Hoje andei na chuva<br />

procurando o que procurar<br />

e o mar continuava grande.<br />

Venho por meio destra fecha<strong>da</strong><br />

através de uma boca imovente<br />

querendo mastigar seus próprios dentes<br />

e de um ver enegrecido<br />

ruminar mais um gemido<br />

que não lhe direi<br />

(nem entenderei).<br />

Através de seu silêncio primeiro<br />

odeio<br />

todos os silêncios<br />

implicitamente reprovativos<br />

os olhares fugidios de quaisquer olhos também calados<br />

onde só verei defeitos<br />

(como vingança)<br />

paciência<br />

PAIXÃO<br />

REDE<br />

QUERI<strong>DO</strong> <strong>DIÁRIO</strong><br />

LA CARTA<br />

26


e passivi<strong>da</strong>de revoltante<br />

e tão interminável<br />

quanto o seu silêncio.<br />

Nem herói nem vilão<br />

nem amigo nem inimigo<br />

nem vivo nem morto.<br />

Sem voz.<br />

E quando o seu silêncio<br />

o seu silêncio<br />

(o seu silêncio)<br />

for final<br />

ain<strong>da</strong> assim, calado eu<br />

(e mau)<br />

ao lado de seu sono real e fechado<br />

meus olhos abertos também silenciarão<br />

como tão bem<br />

aprenderam.<br />

O meu silêncio<br />

e minha raiva<br />

que espalho<br />

pro mundo<br />

pra vi<strong>da</strong><br />

pros outros.<br />

Nascemos sob o peso dos heróis<br />

que nossos pais não foram<br />

Crescemos em tamanho<br />

e tempo<br />

Reproduzimo-nos<br />

buscando no ato amargo<br />

o heroísmo que nos falta<br />

(transmitindo, assim<br />

a herança silenciosa<br />

dos heróis que não seremos)<br />

Morremos<br />

com<br />

esperança<br />

É tempo de valorizar padrões<br />

de falar o estritamente esperado<br />

de não sentir emoções<br />

de rimar por rimar<br />

amar com mar<br />

FILHO HOMEM ou TO BE THE BATMAN<br />

QUINTANURAS<br />

27


ao investir na bolsa.<br />

Mas resisto:<br />

mais alto que tudo isto<br />

é voar.<br />

No alto,<br />

realizo.<br />

No alto<br />

<strong>da</strong> palavra<br />

inatingível.<br />

Pessoas queri<strong>da</strong>s<br />

agora são papéis<br />

problemas<br />

que se acumulam<br />

em minha mesa vermelho sangue.<br />

Tristeza pela manhã.<br />

Acumulo pó também<br />

e coisas por fazer infin<strong>da</strong>s<br />

enquanto mosquitos infinitos<br />

infinitos mosquitos<br />

me quebram<br />

em noites<br />

de quase...<br />

No espaço interstício<br />

entre o desprazer e o vício<br />

reclamo.<br />

Reclamo como o cão<br />

confinado na varan<strong>da</strong><br />

do apartamento ao sol ali em frente<br />

ladrando quadrados constantes<br />

na falta de opção.<br />

Eu<br />

no entanto<br />

no teto do ser<br />

tenho várias...<br />

De qualquer grupo<br />

(nefasto?)<br />

me afasto<br />

(não mato)<br />

e reclamo<br />

VITA<br />

EM TERAPIA - LATA UM<br />

28


(não lato)<br />

<strong>da</strong> solidão.<br />

Antes que a noite<br />

engula o tempo<br />

escrevo lento<br />

antes que a foice<br />

antes que o vento...<br />

Urizen medonho<br />

Urizen com fome<br />

Urizen urgente<br />

Urizen vencido.<br />

Do fundo de meu<br />

vocabulário<br />

esconjuro a palavra mágica<br />

esqueci<strong>da</strong> no escuro<br />

pro futuro estrangeiro<br />

<strong>da</strong> folha clara:<br />

vela <strong>da</strong> barcaça ao vento<br />

lençol no varal antigo<br />

capa vermelha do que não sou<br />

sobre mar de olhos.<br />

Quantos mosquitos<br />

podem caber<br />

no vazio deste poema?<br />

Perdidos<br />

entre a transcendência<br />

e os vermes<br />

seguimos comprando.<br />

Auriverde pendão de minha pressa<br />

onde a bola de couro brilha e não cansa<br />

sigamos sábios serenos maracuginos<br />

a semear granolas transgênicas<br />

e a sonhar com vi<strong>da</strong> mansa...<br />

Antes do sino<br />

a razão ba<strong>da</strong>la<br />

antes do sinto<br />

no fundo<br />

se perde<br />

o som puro.<br />

SIBILO<br />

PARA WILLIAM BLAKE<br />

COROLÁRIO: SUBLIM(IN)AR<br />

RECREIO <strong>DO</strong>S BANDEIRANTES<br />

POÉTICA<br />

POEMA XISTE<br />

ESCURO<br />

29


Mozart:<br />

notas ouço palavras...<br />

Lanchonetes passa<strong>da</strong>s<br />

sabor do vento<br />

dia frio gostoso<br />

mar em movimento.<br />

Por detrás dos óculos<br />

antes ain<strong>da</strong> do sonho<br />

escrevo<br />

e escondo.<br />

A criança:<br />

olhos abertos<br />

na noite fecha<strong>da</strong>.<br />

No corredor<br />

um relógio<br />

de parede.<br />

A criança sozinha<br />

ouve escuro<br />

e vê seu som.<br />

O relógio imenso<br />

semeando<br />

finitudes...<br />

Para não ver<br />

entre o que não sou<br />

e o que acabei não sendo<br />

me distraio em passatempos<br />

enquanto relógios escorrem.<br />

No fundo de to<strong>da</strong> agonia<br />

o vazio<br />

que devia<br />

abraçar<br />

e não buscar além<br />

nesta poesia.<br />

Para Marfiza Reis<br />

O sonho<br />

importa mais<br />

que o ganho.<br />

SURVIVORMAN<br />

ATRÁS DA MESA<br />

TIC TAC<br />

MANO VELHO<br />

DA BUSCA REVISITADA<br />

ENFADANHO<br />

30


A noite é grande<br />

e sem perfume de bromélias<br />

maior ain<strong>da</strong>.<br />

A noite é forte<br />

e sonha dias mais claros.<br />

O mar ancestral<br />

se mistura ao céu<br />

num só fluido<br />

movente<br />

tal qual<br />

o intelectual caminha<br />

e ama to<strong>da</strong> curva<br />

mas não diz<br />

e pensando silêncios<br />

quem se pode feliz?<br />

Passam pinheiros tristes<br />

coqueiros de desenho<br />

amendoeiras antigas<br />

o mar cheio<br />

o céu vazio<br />

passam.<br />

Menos um poeta azul<br />

nesta noite cinza<br />

que é o mundo.<br />

O céu é cinza<br />

e a manhã é tarde.<br />

A barba é longa.<br />

O mar é bravo.<br />

Ando, ando.<br />

Ao longe longe<br />

(quase amanhã)<br />

vejo a geográfica ilha<br />

do tempo perdido.<br />

Ando, ando.<br />

Com todo o peso do mundo<br />

sigo caminhando<br />

sobre as águas negras...<br />

BROMÉLIAS AZUIS<br />

ENIGMA<br />

PRAIANA<br />

PARA O SEOMÁRIO<br />

PRAIANO<br />

31


Mastigando palavras<br />

e ferindo o vento<br />

com tênis preto<br />

e meias brancas.<br />

Alimento meus tigres<br />

presos<br />

em suas listras.<br />

Mar aberto<br />

rosto fechado.<br />

Mais fácil abrir<br />

o mar com um cajado.<br />

Cão que late<br />

no inferno<br />

noite alta<br />

lua morna.<br />

Cão<br />

que ladra<br />

não dorme.<br />

Para Manuel Bandeira<br />

cão que late<br />

quilate de cão sem plumas<br />

espumas dos mares que não vi<br />

navio partindo corações lentos<br />

sonolento pela insônia<br />

ocasiona<strong>da</strong> pelo som:<br />

cão<br />

cão<br />

cão<br />

cão<br />

cão<br />

cão<br />

pão?<br />

café com pão<br />

café com pão<br />

café com pão...<br />

TRISTE<br />

PRAIANIDADE<br />

VIZINHO<br />

LADRÃO<br />

UIVO DE TREM<br />

32


O infinito<br />

se condensa<br />

em palavras.<br />

Vou em direção<br />

ao sol<br />

só meu<br />

(seguindo ca<strong>da</strong> curva).<br />

As on<strong>da</strong>s<br />

do mar<br />

trazem palavras<br />

silenciosas.<br />

Palavras fortes<br />

contra to<strong>da</strong> e qualquer<br />

literali<strong>da</strong>de<br />

superficiali<strong>da</strong>de<br />

materiali<strong>da</strong>de<br />

quebram estrondosas<br />

na espuma.<br />

Urubus as cercam<br />

gaivotas as furam<br />

pombos as cortam<br />

eu as caminho.<br />

Caminhando<br />

mastigo<br />

afirmo<br />

aumento<br />

existo.<br />

(Em casa<br />

mamãe acha um problema em minhas costas<br />

e o vizinho martela alguma parede sóli<strong>da</strong>.)<br />

Perpasso<br />

sob o céu cinzento<br />

procurando<br />

não estar atento<br />

e totalmente<br />

pisando o momento.<br />

O céu é baixo<br />

de desalento<br />

as on<strong>da</strong>s fracas<br />

o passo lento.<br />

CALOR ÚMI<strong>DO</strong><br />

PRAIANÍSSIMO<br />

PRAIANEIRO<br />

33


O esforço (ou o engano)<br />

é não se esforçar<br />

para poder brotar<br />

um novo oceano.<br />

Musgos e muros<br />

a brisa abraça<br />

a música fria<br />

céu azul sossegado<br />

pousa leve a poesia.<br />

O vento<br />

volta<br />

a chama<br />

chama<br />

o vento<br />

volta<br />

o vento.<br />

De certo frio<br />

o urso passa<br />

o urso pardo<br />

perto de praia<br />

passa far<strong>da</strong>do<br />

passo de urso<br />

passo a passo<br />

peso.<br />

Parentes adiam a morte<br />

vendo a novela <strong>da</strong> Globo<br />

enquanto postergo a vi<strong>da</strong><br />

jogando esse jogo<br />

de pessoas valentes na tela<br />

perdendo pouco a pouco<br />

a capaci<strong>da</strong>de<br />

de olhar fixo<br />

para um rosto<br />

fora dela.<br />

(No silêncio <strong>da</strong> noite<br />

meu silêncio se ouve<br />

ruminando<br />

algo por dizer.)<br />

Universo grito<br />

canto infinito<br />

baleia triste<br />

PARA MELISSA<br />

FORTE<br />

CHUVA FINA<br />

PC GAME MMORPG AT WAR USA GO GO GO<br />

PARA MEU AMOR<br />

34


antiarma em riste<br />

cataflam de verso.<br />

Para o frei Dino<br />

---<br />

sábado, 15 de agosto de 2009<br />

LIBERTAÇÃO<br />

"Há mais fé e há mais ver<strong>da</strong>de, / Há mais Deus com certeza / Nos cardos secos dum rochedo nu /<br />

Que nessa Bíblia antiga Ó Natureza, / A única Bíblia ver<strong>da</strong>deira és tu!..." Guerra Junqueiro<br />

"Talvez não existam psicanalistas no futuro, mas haverá padres." Jaques Lacan<br />

"Os dois grandes narcóticos europeus, o álcool e o cristianismo." Nietzsche<br />

"Ain<strong>da</strong> que Deus existisse, na<strong>da</strong> mu<strong>da</strong>ria. O homem na<strong>da</strong> mais é do que aquilo que ele faz de si<br />

mesmo." Jean Paul Sartre<br />

"Deus é um conceito pelo qual medimos nossa dor." John Lennon<br />

---<br />

Não há exceção.<br />

Por baixo dos panos pretos<br />

que cobrem os abutres<br />

padres freis frades freiras e fracos semelhantes<br />

(essas pedras intermináveis contra a vi<strong>da</strong>)<br />

há sempre um recalcado<br />

um mendicante de intelecto<br />

com uma fé titubeante<br />

desde que a Terra perdeu o centro do universo,<br />

desde que milhões morreram em suas guerras por um Deus que não responde,<br />

desde que milhares foram queimados em fogueiras sem motivo<br />

(como meu estômago vermelho de úlcera e cólera).<br />

Este recalcado, fraco e covarde ser<br />

passa boa parte de seu não-viver<br />

querendo cagar regras medonhas<br />

sobre dogmas antigos<br />

para acéfalos inúmeros.<br />

Enquanto estava distante<br />

já abominava<br />

(ruminante, mas calmamente)<br />

monografias afora,<br />

apesar dos quase abusos sexuais contra familiares.<br />

Porém, perto...<br />

35


Perto...<br />

Perto demais...<br />

Perto,<br />

quando <strong>da</strong> ocasião social formal formosa<br />

(o que os vizinhos vão pensar?)<br />

e a vi<strong>da</strong>, receosa, me apresenta<br />

este morto sem inconsciente<br />

este dinossauro sob um manto negro sem simbolismo<br />

este ser com o hálito podre de outros séculos<br />

querendo duvi<strong>da</strong>r <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de de alguém ser poeta sem um papel comprobatório autenticado,<br />

querendo man<strong>da</strong>r em como criar meus filhos como futuros acéfalos convictos,<br />

querendo que fizéssemos promessas literais de não-aborto, não-sexo, não-separação,<br />

querendo nos culpar por não irmos ouvi-lo aos sábados,<br />

querendo analisar meu contracheque,<br />

(considerando-se que isso tudo foi a sua demonstração de amizade pelos pais dela)<br />

tudo em mim que era antes sangue<br />

virou ira.<br />

Esse ser fraco que não abre o maldito olho e me encara<br />

(será que seu olho não quer ver o que ele fala?)<br />

que me ouve respirar pesado, vermelho e treme<br />

que não responde as minhas perguntas diretas<br />

que me roubou um sábado <strong>da</strong> existência feliz<br />

merece um poema.<br />

Merece um poema<br />

já que evitei o murro.<br />

Infelizmente.<br />

Este poema lhe deixo como agradecimento,<br />

meu caro frei bento,<br />

pela honra de não ter que fazer<br />

curso de noivo<br />

pro casamento...<br />

Sim, senhora psicanalista:<br />

raiva também de mim mesmo<br />

antes de tudo por cogitar em casar<br />

na Igreja Católica Apostólica Romana.<br />

Burro.<br />

Só faltava ter sido nos Estados Unidos.<br />

(Talvez haja exceção<br />

mas ela que vá pro inferno,<br />

e entregue ao meu querido Diabo<br />

um papel comprobatório<br />

por falar em nome de Deus.)<br />

36


To XD<br />

or not<br />

to :) ?<br />

Ain<strong>da</strong>.<br />

Ain<strong>da</strong><br />

an<strong>da</strong>.<br />

Ain<strong>da</strong><br />

an<strong>da</strong><br />

ain<strong>da</strong>.<br />

Ain<strong>da</strong><br />

an<strong>da</strong>.<br />

Ain<strong>da</strong><br />

on<strong>da</strong>.<br />

A on<strong>da</strong><br />

ain<strong>da</strong>.<br />

(Aión.)<br />

Eterni<strong>da</strong>de fugaz,<br />

o medo nosso de ca<strong>da</strong> dia<br />

<strong>da</strong>i-nos hoje.<br />

A chama<br />

foi acesa<br />

agora chame<br />

e receberás o fogo.<br />

A gaivota plana<br />

o mar<br />

(a)liso.<br />

Perante a competição <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de<br />

a solidão vazia <strong>da</strong> multidão<br />

também prefiro a sereni<strong>da</strong>de dos campos<br />

a pereni<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s árvores<br />

a solidão plena <strong>da</strong>s rochas.<br />

Para Alain de Botton<br />

Enquanto a praia chove<br />

INTER-ERA<br />

ESPUMA<br />

TEMENTISMO<br />

CRUZA<strong>DO</strong><br />

SEM ALÍSEOS<br />

PARA WORDSWORTH<br />

A ARTE DE VIAJAR<br />

37


e não posso an<strong>da</strong>r<br />

vivoleio de novo.<br />

a manhã é cinza:<br />

borboletas negras<br />

sob um céu impuro<br />

"Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte?<br />

- O que eu vejo é o beco." Manuel Bandeira - POEMA <strong>DO</strong> BECO<br />

Olhando<br />

o mar<br />

imenso<br />

invento<br />

prisões<br />

em torno<br />

de mim.<br />

Enquanto sou alimento de mosquito<br />

e o esquisito Michael Jackson não se enterra<br />

prevejo planos mortos<br />

nas mais tristes e tediosas terras.<br />

Enquanto sonhar distinto for ofensa ou lowcura<br />

e os dinossauros <strong>da</strong> Ver<strong>da</strong>de her<strong>da</strong>rem a Terra<br />

adiemos possíveis problemas infindos<br />

(problemas nossos, problemas benignos, problemas bemvindos)<br />

e sigamos não vivos, tementes a Deus,<br />

culpando ao destino ou a qualquer outra mer<strong>da</strong>.<br />

Para Stella<br />

Ela me amava tanto<br />

que só amava enquanto<br />

sua mãe deixava.<br />

O urso polar<br />

sobre o gelo fino<br />

mais fino a ca<strong>da</strong> ano.<br />

O vento venta.<br />

O urso polar<br />

se arrasta<br />

já não é urso<br />

já não é na<strong>da</strong><br />

e o gelo estala.<br />

AMANHÃ<br />

DIA DE SOL<br />

ADIAMENTO<br />

(D)EST(R)AVA<br />

PRODUZA, CONSUMA, POLUA<br />

38


E tudo esquenta.<br />

Abaixo do urso polar,<br />

o infinito<br />

azul<br />

escuro.<br />

O urso polar<br />

contra a inevitabili<strong>da</strong>de<br />

salta<br />

salivando orgulho<br />

de escolher por último.<br />

Para quem mostrar<br />

o que marquei<br />

nos longos livros que li<br />

para ti?<br />

Jovens libertários<br />

até que seus pais<br />

digam o contrário.<br />

Minha poesia morreu.<br />

Resta<br />

eu.<br />

(Prosa explicativo-metódica para o poema subseqüente.)<br />

SEPARAÇÃO<br />

AINDA SOMOS OS MESMOS<br />

CONSTATO, SEM TATO<br />

DIVAGAR<br />

Começo a perceber (finalmente fora <strong>da</strong>s teorias frias - e inúteis - dos livros) a importância <strong>da</strong> falta<br />

para a valorização <strong>da</strong> plenitude. Entendo melhor as viagens de Amyr Klink, a valorização <strong>da</strong> dor de<br />

Nietzsche, a motivação dos alpinistas para escalar o Everest... Tudo isso serve para que a casa, o<br />

cotidiano e tudo nele que está ao alcance, possível, acessível e constante mude <strong>da</strong> normali<strong>da</strong>de para<br />

a falta. Da certeza para o medo. Do seguro para o perigo. Do mesmo para o novo. Olhar as mesmas<br />

coisas mas com novos olhos, como Parmênides filosofou e agora sinto. Perder para ganhar. Sair<br />

para voltar e ser mais feliz com o que já se era.<br />

Na agonia de poder perder<br />

ganhar a alegria<br />

do que já se tinha.<br />

De volta à noite<br />

e seus sortilégios...<br />

E volta a noite<br />

e seus pirilampos imaginários<br />

buzinas distantes<br />

mosquitos mordendo a cara<br />

PERCEBER SEM TEORIA<br />

HÁ CALMA<br />

39


palavras digita<strong>da</strong>s<br />

hecatombes teóricas<br />

reencontro nas redes<br />

palavras e gentes<br />

milagres em tela<br />

buscando além <strong>da</strong> Matrix<br />

ausentes presentes<br />

que não me desistiram.<br />

(Raros, raros...)<br />

Através disso<br />

existo.<br />

Apesar disto<br />

a calma<br />

lá longe<br />

me afaga<br />

possível.<br />

Possível.<br />

REPASSE<br />

Não tem na<strong>da</strong> a dizer para alguém, ou não tem tempo de dizer algo a alguém, ou não tem a<br />

capaci<strong>da</strong>de de dizer algo a alguém, mas quer que esse alguém diga algo para você ou simplesmente<br />

lembre que você existe e sabe enviar e-mails? Seus problemas acabaram.<br />

Encaminhe uma mensagem para o e-mail dela. Trabalho nenhum. Já vem prontinha. Custo zero. Dê<br />

preferência a aquelas com anexos pesados em powerpoint, com música melodramática e lin<strong>da</strong>s<br />

imagens repetitivas de paisagens ou crianças ou animais ou tudo isso misturado, também pesa<strong>da</strong>s,<br />

de autoria desconheci<strong>da</strong>. O texto deve ser cheio de erros de Português e com uma cor que deixa<br />

particularmente difícil de se ler devido ao baixo contraste com as belas imagens supracita<strong>da</strong>s ao<br />

fundo. É importante também que o texto seja atribuído a alguém famoso, preferencialmente ao<br />

Jabor ou ao Mario Quintana. Também há importância na harmonia entre música e texto. Por<br />

exemplo, as melhores mensagens são aquelas que chocam pela inovação artística, como por<br />

exemplo: texto sobre o amor, imagens <strong>da</strong> Antárti<strong>da</strong> e trilha sonora do Tiririca.<br />

O ideal é enviar para pessoas que não lembrem quem você é, pois são menores as chances de<br />

reclamações ou quaisquer outras formas de represálias.<br />

Caso saiba o endereço postal <strong>da</strong> tal pessoa, isso pode ser substituído por um recado animado com<br />

carro de som e muitos foguetes. Mesmo que não seja aniversário ou nenhuma <strong>da</strong>ta especial. Que<br />

pessoa não curte uma surpresa? Dê preferência às empresas que contratem para falar ao megafone<br />

mulheres de voz extremamente fina.<br />

Sob um céu menor e cinza<br />

passos <strong>da</strong>dos com cautela.<br />

E o mar verde repetia<br />

só o nome de Stella.<br />

AEROPLANOS PARA DAQUI A 5 ANOS<br />

40


DA FALTA ou <strong>DO</strong> ME<strong>DO</strong> ou ANSIEDADE <strong>DO</strong>MINICAL CONSIDERAN<strong>DO</strong>-SE A TV ABERTA<br />

Presos como sempre<br />

entre as quatro paredes do domingo<br />

e a voz do Silvio Santos monetarizando idiotices<br />

(na infância era tão fascinante isso...)<br />

seguimos parados, sentados, cochilando<br />

ansiosos pela segun<strong>da</strong>-feira<br />

procurando algo para comer<br />

algo para dormir<br />

algo para escrever<br />

algo pelo amor de Deus<br />

algo.<br />

Ando apenas.<br />

Nenhum poema<br />

vem a pousar<br />

no meu umbigo.<br />

Nenhum amigo<br />

nenhuma trema.<br />

Ando apenas.<br />

Palavra:<br />

ave ser<br />

antítese do peso<br />

antídoto do tédio.<br />

Poema:<br />

tolice telúrica<br />

anedota amedronta<strong>da</strong><br />

querendo voar, sem saber<br />

nem an<strong>da</strong>r...<br />

Para Stella<br />

Enquanto meu estômago se acaba a denta<strong>da</strong><br />

e mantenho nele a mal conti<strong>da</strong> raiva<br />

indigiro palavras não berra<strong>da</strong>s...<br />

segun<strong>da</strong>-feira, 7 de setembro de 2009<br />

Enquanto a vi<strong>da</strong> oferece opções pasmas<br />

e antepasso antepastos emprestados<br />

assisto a nova fraude dos Caçadores de Fantasmas...<br />

Enquanto o mundo te empurra a escolha<br />

e você <strong>da</strong>nça com o ar pro outro lado<br />

SEM MÚSICA<br />

ARES<br />

UM POEMA DESCONTI<strong>DO</strong>, POR ENCANTO<br />

41


esconjuro artifícios zarolhas<br />

com um mago de um jogo inventado.<br />

Enquanto desenho a florzinha matinal<br />

e caminho na praia estupra<strong>da</strong><br />

saboreio o desprazer estomacal<br />

de não resolver absolutamente na<strong>da</strong>.<br />

Com quem dividir as sincronici<strong>da</strong>des?<br />

O que interessam as sincronici<strong>da</strong>des<br />

sem dividi-las?<br />

O que são sincronici<strong>da</strong>des?<br />

De mãos <strong>da</strong><strong>da</strong>s com a noite<br />

nenhum coração pulsante a ser cravado<br />

nenhum peito a se morder infindo<br />

nenhuma esperança vã de melhora futura com sorte talvez quem sabe<br />

nenhum pai, nenhuma mão, nenhum amor fugidio, nenhum filho ou flor<br />

de mãos <strong>da</strong><strong>da</strong>s com a noite<br />

tudo é um.<br />

Eu quero?<br />

Tudo acabado<br />

(lágrimas inclusas)<br />

resta an<strong>da</strong>r<br />

e fazer um poeminha<br />

para rimar...<br />

Se amar<br />

não diga.<br />

Escon<strong>da</strong>.<br />

Até de si mesmo.<br />

Assim<br />

serás<br />

amado.<br />

A vi<strong>da</strong> mole me fez duro<br />

intolerante<br />

intolerável.<br />

Resta buscar leveza novamente<br />

fora<br />

<strong>da</strong><br />

3<br />

EU QUERO<br />

QUER SABER COMO PERDER 6 ANOS EM 3 SEMANAS? FALE COMIGO<br />

CÍCLICO<br />

PARA JOÃO<br />

42


poesia.<br />

E aplicá-la<br />

sobre quem<br />

não merece<br />

pedras.<br />

as on<strong>da</strong>s<br />

na manhã<br />

mais redon<strong>da</strong>s<br />

são<br />

eu<br />

amanhã<br />

cedo<br />

Luzes queimam altas<br />

sobre meus passos poucos.<br />

O mar<br />

a noite<br />

é perto.<br />

Preso à percepção <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça<br />

tropeço surpreso<br />

na mu<strong>da</strong>nça de percepção<br />

onde eu an<strong>da</strong>va parado.<br />

Tudo<br />

nasce<br />

do silêncio.<br />

Olho o vazio<br />

com olhos<br />

vazios.<br />

O olho do céu aberto<br />

chora o choro<br />

que não choro.<br />

Na manhã de poucos<br />

ventos tortos<br />

caminho sobre<br />

meus sonhos mortos.<br />

A MÃE É SER<br />

PANTA REI<br />

MANHÃ DE SOL<br />

FINAL DE SEMANA<br />

CHUVA<br />

CINZA<br />

43


Quem ama<br />

traz estrelas nos olhos<br />

e vontade.<br />

Quem ama<br />

voa quando an<strong>da</strong><br />

tenta e teima e vence.<br />

Quem ama<br />

quer.<br />

Para Arnaldo Baptista<br />

E as pessoas na sala de jantar<br />

reclamam que não há mais um festival<br />

enquanto só ouvem tocar<br />

a música <strong>da</strong> novela <strong>da</strong>s oito<br />

depois do Jornal Nacional.<br />

Caminho<br />

caminho<br />

caminho<br />

sozinho<br />

caminho<br />

sozinho<br />

sozinho<br />

sozinho<br />

todos e<br />

todos e<br />

todos os dias...<br />

E mando e-mails semestrais<br />

sem palavras<br />

pros amigos<br />

que não tenho mais.<br />

Caminho<br />

sozinho<br />

todos os dias<br />

e não chego a achar<br />

um alguém, um lugar<br />

onde pendurar<br />

minha última esperança.<br />

As pessoas<br />

vivem.<br />

Eu perco.<br />

ROSA<br />

ESTRIBILHO<br />

O FIM ESTÁ PRÓXIMO<br />

POETRISTE 2<br />

44


Para Drummond<br />

Meu coração é menor que o mundo.<br />

Muito menor.<br />

O mundo é grande<br />

e cheio de desafios<br />

que não quero vencer.<br />

Meu peito<br />

é cheio<br />

de ansie<strong>da</strong>de<br />

dor<br />

e ar.<br />

O que me faz an<strong>da</strong>r...<br />

Cheio de falta.<br />

Me falta dinheiro, aliás.<br />

No peito<br />

sobra vazio.<br />

Não tenho meta<br />

mas sou poeta...<br />

Ando<br />

pela praia<br />

pela casa<br />

pela vi<strong>da</strong><br />

sozinho e manco.<br />

Para Stella<br />

À sombra do fim<br />

todo despertar<br />

se desfaz<br />

lentamente<br />

em pesadelo.<br />

(Bom dia, consciência!)<br />

Tudo é dor.<br />

Todo poema bonito<br />

música emocionante<br />

filme romântico<br />

paisagem marcante...<br />

INFINDÁVEL<br />

<strong>DIÁRIO</strong><br />

45


Tudo reflete<br />

por entre as facas do belo<br />

a violência <strong>da</strong> falta.<br />

Sigo um pouco<br />

menos louco<br />

a ca<strong>da</strong> passo<br />

a ca<strong>da</strong> linha<br />

a ca<strong>da</strong> letra.<br />

Quando a paisagem passar<br />

deixei poucos versos<br />

muitas dores<br />

e alguma vontade<br />

de amar.<br />

Para Stella<br />

Namorar o caos<br />

e casar com a certeza...<br />

Namorar o poeta<br />

e casar com o administrador de empresas...<br />

Era uma tarde fria<br />

quando o passado<br />

bateu na porta <strong>da</strong> poesia<br />

e sussurrou gelado:<br />

na<strong>da</strong> mudou.<br />

Quando é noite<br />

e tudo falta em tudo<br />

e eu me esvazio<br />

e os armários se enchem de monstros.<br />

Como chocolate.<br />

"tempo... aqui quem vos fala é um breve momento... - Raul Faria Faria"<br />

O momento que acaba<br />

que renasce outro tempo<br />

o segundo <strong>da</strong> sorte<br />

o eterno desalento<br />

de viver sem amor...<br />

(Até o próximo evento.)<br />

OS DESENHOS FICAM HORRÍVEIS, MAS<br />

MAR (A)TEMPORAL<br />

O QUE AS MULHERES QUEREM<br />

APESAR <strong>DO</strong> SOL<br />

NEXO, GAROTO<br />

TEMPORAL<br />

46


Vou errando<br />

tropeçando<br />

fingindo<br />

caindo<br />

sofrendo<br />

mas canto.<br />

Canto porque o instante ain<strong>da</strong> existe<br />

e cantando eu sou.<br />

E se a vi<strong>da</strong> se faz triste<br />

ergo o sonho em riste<br />

e cantando eu vou.<br />

Os ponderantes<br />

que me desculpem...<br />

Mas loucura<br />

é fun<strong>da</strong>mental.<br />

Escalo o muro<br />

escalo o monte<br />

de percevejos<br />

Espalho a raiva<br />

espalho o murro<br />

dos meus desejos<br />

inatingíveis<br />

Escalo a jato<br />

escalo arfante<br />

antes que eu note<br />

o que almejo<br />

(Mas quando é noite<br />

sozinho eu ouço<br />

o meu silêncio...)<br />

Pra que sofrer separados<br />

se podemos<br />

sofrer juntos?<br />

Se choro<br />

é pelo tempo<br />

onde só havia presente<br />

e nós era apenas nós<br />

presente um do outro<br />

CECILIAN<strong>DO</strong><br />

AFINAL<br />

INIMIGO MUN<strong>DO</strong> (HORÁRIO COMERCIAL)<br />

POETRISTE 3<br />

POR ESTAREM DISTRAÍ<strong>DO</strong>S<br />

47


um pro outro<br />

a sós.<br />

Analiso o ar ansioso<br />

que não entra<br />

em meus pulmões.<br />

Não importa<br />

o quanto<br />

eu queira.<br />

Encher a barriga de proteínas<br />

e carboidratos<br />

não resulta em na<strong>da</strong>.<br />

Esvazio sentimentos<br />

inutilmente<br />

no poema<br />

sem força.<br />

Após duas maracuginas<br />

dormi cedo<br />

e pela primeira vez<br />

(talvez desde sempre)<br />

vi o sol subir do mar.<br />

Gaivotas<br />

e urubus<br />

me sobrevoam<br />

sonolentos<br />

enigmáticos.<br />

Vou pra luz refleti<strong>da</strong> no azul<br />

sobre o laranja<br />

entre brumas e morros fantasmas<br />

de aquarelas não pinta<strong>da</strong>s...<br />

Porém, luz<br />

porém, caminho<br />

porém, sigo!<br />

Caminho em direção ao sol<br />

querendo encontrar de novo<br />

beleza que não seja triste<br />

silêncio que não seja dor<br />

solidão que não seja sofrimento.<br />

(A praia quase deserta.<br />

O mar trovoando<br />

para ninguém ouvir.<br />

DESESPERO<br />

RE IN VENTO<br />

48


Ninguém.<br />

Ninguém.)<br />

Passa meia hora<br />

cheia de passos decididos<br />

em direção ao sol.<br />

Canso.<br />

Volto no sentido contrário<br />

exatamente para onde tudo começou.<br />

Desistindo de exatamente tudo<br />

para onde eu ia...<br />

Carros poluem os sentidos<br />

cheios de uma pessoa em ca<strong>da</strong>.<br />

Arruma<strong>da</strong>s<br />

indo trabalhar<br />

com pressa.<br />

Deus, deus<br />

(seus, meus, zeus)<br />

por que me abandonaste?<br />

Daqui a cinco anos<br />

quero ser adulto, independente,<br />

o sonho <strong>da</strong> casa própria realizado<br />

e com alguns milhões em minha conta bancária<br />

para não ter que ter metas<br />

para os próximos cinco anos.<br />

O pontal se recupera do incêndio<br />

esverdejando novamente<br />

aos poucos<br />

lentamente.<br />

No mar de palavras<br />

nenhuma se ergue<br />

Até que a certa se mol<strong>da</strong><br />

se aproxima<br />

se espalha<br />

e se repete<br />

em ca<strong>da</strong> espuma<br />

E repete de novo<br />

e repete<br />

a ca<strong>da</strong> passo<br />

como on<strong>da</strong><br />

até molhar o papel<br />

A ca<strong>da</strong> passo<br />

passo<br />

VENCER A CHUVA<br />

49


e mastigo<br />

Mariposas mortas<br />

e um mar cinza<br />

insolúvel<br />

A ca<strong>da</strong> passo<br />

venta frio<br />

nos confins <strong>da</strong> alma<br />

Para Akira Kurosawa<br />

Estou de pé<br />

sobre a pedra eterna<br />

com um sorriso nos lábios<br />

e uma vitória no peito.<br />

Moinhos giram<br />

ventos fazem <strong>da</strong>nçar o mato<br />

águas acariciam as algas<br />

desertos contemplam o sagrado...<br />

Tudo exatamente<br />

onde deveria estar<br />

desde sempre.<br />

Nunca vi on<strong>da</strong>s<br />

tão grandes<br />

no mar.<br />

É preciso<br />

desistir<br />

para ganhar.<br />

Ca<strong>da</strong> passo<br />

diminuir<br />

para chegar.<br />

Nunca vi on<strong>da</strong>s<br />

tão grandes<br />

no mar.<br />

Minha casa não é minha<br />

minha fala não é minha<br />

minha vi<strong>da</strong> não é minha.<br />

Entre o amor e a raiva<br />

só é minha a lágrima<br />

por vir<br />

SONHOS<br />

DIRETO<br />

DESISTIR<br />

50


em algum filme triste futuro<br />

de outro dia inútil e vazio.<br />

Lágrima:<br />

única constante<br />

nessa maldita equação<br />

insolúvel<br />

em água.<br />

Quando não há mais na<strong>da</strong><br />

que altere o resultado<br />

só resta seguir o fluxo...<br />

(Deus sabe que tentei.)<br />

Como desligo isso?<br />

Tentei consertar<br />

e não dá...<br />

Tentei jogar no chão<br />

pisar<br />

cuspir...<br />

Como desligo isso?<br />

Eu e ela<br />

no arpoador<br />

sobre o mar<br />

sobre minha cama.<br />

Há tanto tempo ali<br />

que já nem via.<br />

Hoje<br />

tudo acabado<br />

a foto brilha...<br />

Eu fiz isso.<br />

Eu.<br />

Eu acabei<br />

com a última<br />

chance.<br />

Eu acabei<br />

com a última<br />

chance?<br />

AMAR<br />

DA INUTILIDADE DAS FOTOS<br />

NÃO-EU<br />

51


Eu?<br />

Eu fiz isso?<br />

Tenho um pacto<br />

com a vi<strong>da</strong>.<br />

Ela me traz dores<br />

i<strong>da</strong>de<br />

falta de sentido<br />

e uns amores perdidos.<br />

Eu dou ao mundo<br />

versos sem cores<br />

(pouco lidos)<br />

e animosi<strong>da</strong>de.<br />

Para Viviane Marques<br />

Ao desistir<br />

de tudo<br />

ganhei tudo.<br />

Vem o novo<br />

em forma de passado<br />

saltar do na<strong>da</strong><br />

pra junto, perto,<br />

logo aqui do lado...<br />

Sobre a mesma pedra<br />

(pedra outra que se quebra e se refaz)<br />

o peito em ânsia<br />

torna-se paz.<br />

O que menos importa<br />

é ela gostar ou não<br />

de mim...<br />

O que mais interessa<br />

é eu não gostar<br />

de mim.<br />

É preciso me reinventar<br />

e recontar minha vi<strong>da</strong><br />

minha aventuras<br />

meus dias<br />

para mim mesmo<br />

tomando o chá <strong>da</strong>s cinco.<br />

I WANT TO BELIEVE<br />

LEÃO<br />

VAMOS, EU E EU<br />

52


(E ter algo<br />

a dizer)<br />

Saltar <strong>da</strong> confortável poltrona<br />

h-a-b-i-t-u-a-l<br />

para uma vi<strong>da</strong> plena.<br />

Declaro oficialmente findo<br />

o pior mês de minha vi<strong>da</strong>.<br />

Declaro oficialmente findo<br />

star sofrendo.<br />

Vem outro mês.<br />

Sempre virá outro mês.<br />

E eu escolho<br />

pelo menos<br />

dores novas.<br />

Dores novas<br />

pedras altas<br />

pessoas fortes.<br />

Eu<br />

escolho.<br />

O mar hoje está<br />

ain<strong>da</strong><br />

mais forte.<br />

Novamente indo<br />

aonde o medo aumenta<br />

(longe, longe do conforto morto)<br />

conversei em Inglês<br />

com duas loiras australianas<br />

que falavam Alemão<br />

an<strong>da</strong>ndo na ciclovia.<br />

Não conheciam Nietzsche,<br />

mas o céu estava particularmente lindo...<br />

Está vendo essa felici<strong>da</strong>de<br />

aí nas suas mãos, Stella?<br />

É minha...<br />

De uma forma estranha<br />

FORÇA<br />

PHOENIX<br />

DESTROCAN<strong>DO</strong><br />

53


tudo se trocou<br />

mas faltou<br />

você devolver ela.<br />

E se o céu que brilhava<br />

bonito perfeito<br />

brilhava desse jeito<br />

por brilhar por ela?<br />

De alguma forma<br />

empurro as mais importantes mãos<br />

que me amparam...<br />

R-e-p-e-t-i-d-a-m-e-n-t-e...<br />

Para não admitir<br />

a dependência<br />

<strong>da</strong> minha vi<strong>da</strong><br />

a mãos outras.<br />

(O sol saiu,<br />

justo agora,<br />

iluminando<br />

minha metáfora...)<br />

Sou a rosa morta<br />

na encosta antiga<br />

cheia de espinhos<br />

precisando d´água.<br />

REENCONTRO<br />

INSIGHT<br />

SÍNDROME <strong>DO</strong> PÂNICO NO LAGO SEM LAGO SEM ÁGUA SEM <strong>NADA</strong><br />

Pânico de noite. Noite to<strong>da</strong>. Última vez que a vi. Último dia. 4:10 <strong>da</strong> manhã e não durmo. To<strong>da</strong>s as<br />

pendências resolvi<strong>da</strong>s exceto respirar. O pânico começou no shopping cheio, nos botecos quentes,<br />

no barulho alto. Um suar estranho e um ver as mãos tremendo leve... Achei que era fome. Não era.<br />

Cafeína do refrigerante? No carro, de novo. No carro, sozinho, um peso. Não ligo o rádio. Se tocar<br />

qualquer música, romântica ou não, sinto que seja lá o que for vai piorar. Chego no apartamento<br />

escuro lá pra meia-noite. Todos dormem. Todos dormem. Isso me agonia. Vou pro PC e mando<br />

logo o último email de seis páginas que escrevo há dias. O último. O último. Uma nova esperança<br />

no MSN me adia o sono, quando eu ain<strong>da</strong> tinha o sono... Então ela se vai (a esperança) e vou tentar<br />

dormir. Vou dormir e desisto. Desisto. Pânico em neon, vozes quase falando no silêncio. Pior... Tá<br />

piorando. Pânico parecido com o medo dos meus pais morrerem quando eu era pequeno... Com a<br />

solidâo na casa de meu avô, onde a noite era cheia de ventiladores e roncos no escuro. Medo um dia<br />

na casa de minha avó, de dormir lá (primeira percepção de um inconsciente inexplicável?). Medo <strong>da</strong><br />

solidão no apartamento de Maria <strong>da</strong> Graça, de dormir na sala ilumina<strong>da</strong> lendo e relendo títulos de<br />

livros... Todo o pior <strong>da</strong> infância brotando... No meu peito. Meu pai lendo histórias e eu esticando o<br />

pé para senti-lo ali ain<strong>da</strong>, presente. Medos infinitos passados. Hoje. Hoje. Hoje, medo de pedir para<br />

meus pais pararem um instante de ver a novela para me abraçarem e me <strong>da</strong>rem parabéns pela<br />

consquista poética... O livro chegou hoje de tarde, quando voltei <strong>da</strong> caminha<strong>da</strong>, e solucei uivando<br />

no banho até o plexo solar doer, misturando, não necessariamente nesta ordem: o nervosismo do<br />

encontro futuro (último), água, alegria pela vitória, dor por perceber não ter com quem dividi-la,<br />

54


lágrima. Ninguém para contar na<strong>da</strong>. Isso é meu pânico. Dividir na<strong>da</strong>... De novo, a infância: minha<br />

mãe estranhando eu não gostar de brincar nunca sozinho, de ver TV sozinho, de jogar videogame<br />

sozinho... Na<strong>da</strong>, sozinho. Desde a infância, meu Deus, meu pânico é estar sozinho... Escrevendo,<br />

percebo que finalmente algo adiantou para eu melhorar. 4:23 Meu problema é não ser visto. Para<br />

que qualquer coisa se ninguém vê? Meu problema é a solidão, pior à noite. Meu problema, meu<br />

maior problema, é viver. Maravilha. Percebo que entendi meu pânico. (Não é mais ansie<strong>da</strong>de,<br />

quase-pânico, sub-pânico, é PÂNICO. No peito.) E ain<strong>da</strong> o sinto. Pausa para três Maracuginas<br />

(além <strong>da</strong>s duas que tomei à tarde). 4:28 Destranco a porta do quarto para o caso de eu ter uma<br />

síncope. Meus pais não acor<strong>da</strong>m por na<strong>da</strong>. Trocaria meu maravilhoso dom de escrever por uma<br />

noite normal, uma vi<strong>da</strong> feliz, uma mulher que não me abandonasse... Não sei se... Não. Melhor não.<br />

Vontade de colocar isso no blog. Vontade de ser visto, mesmo que por qualquer um. Mosquitos. Me<br />

bato / os mato / no meio / do pânico / que começa / a passar. Rio 2016, eu vou! 4:36 Finalmente<br />

entendo porque tantas pessoas desistem de amor. 4:39 Não passou. Largo tudo, inclusive o pingo de<br />

orgulho que me resta, e vou pro quarto de meus pais pedir para falarem comigo e ser abraçado aos<br />

trinta e três (diga trinta e três). 5:25 Passou. Choro. 5:28 Meu Deus, e se o medo infantil de não ter<br />

mais os pais for o mesmo medo de hoje de, perdendo ela, não ter mais ninguém? Passou. 5:52<br />

Piorou. E se algo em mim quer ficar doente para, doente, na condição de doente, admitir mais<br />

facilmente o quanto preciso do outro? Nasce o sol.<br />

ela cala<strong>da</strong><br />

eu mudo<br />

tudo<br />

era<br />

ela<br />

perdendo ela<br />

perco tudo<br />

(perdendo tudo<br />

ganho o mundo)<br />

Por um longo tempo<br />

vestiu o escudo mais forte<br />

e a armadura mais poderosa...<br />

Por um longo tempo<br />

cegou<br />

os próprios<br />

olhos...<br />

Chega!<br />

Destruir o escudo na mão esquer<strong>da</strong><br />

com o punho <strong>da</strong> mão direita!<br />

Chega!<br />

Tirar to<strong>da</strong>s as armaduras!<br />

PODA<br />

DRAGÃO<br />

55


- Levante-se, Shiryu!<br />

Minha poesia:<br />

narcótico<br />

para não ver(mos)<br />

o tamanho<br />

do vazio<br />

nem nos perdermos<br />

na busca inútil<br />

<strong>da</strong> perfeição.<br />

caminho (vôo?)<br />

bolhas nos pés<br />

calos na alma<br />

Depois do desespero,<br />

paz.<br />

Uma paz serena e triste<br />

de que eu nem lembrava mais.<br />

E se os personagens<br />

que vivem e morrem<br />

de amar e sofrer<br />

forem nós?<br />

(Personagens<br />

enigmáticos<br />

contidos<br />

calados...)<br />

Enquanto isso a vi<strong>da</strong><br />

assiste a tudo lentamente<br />

comendo pipocas de estrelas.<br />

Chove na Sapucaí.<br />

Escolhem um rei<br />

Momo.<br />

Sono.<br />

Chove em mim:<br />

adivinho<br />

que devo passar<br />

o carnaval<br />

sozinho.<br />

DEFINO<br />

MUITO VENTO NO CREPÚSCULO<br />

<strong>NADA</strong> A PERDER<br />

LUZ E SILÊNCIO<br />

ESQUINDÔ<br />

56


Para Stella<br />

Ora, podeis amar estrelas...<br />

(De certo, perdeste o nexo... )<br />

E a estrela<br />

a mesma estrela feito<br />

uma estrela outra<br />

desce do céu ao peito<br />

transmuta<strong>da</strong> em pássaro.<br />

Pássaro negro, noite<br />

cantando outras eras<br />

sons dourados, cortes<br />

onde eu era herói...<br />

Mas o herói<br />

é a criança<br />

que propositalmente<br />

se esquece<br />

de crescer<br />

sob o prisma<br />

<strong>da</strong> pura<br />

literali<strong>da</strong>de<br />

(dura e cristalina).<br />

Sigo só.<br />

O pássaro engrandece<br />

em ausência e força.<br />

Respiro.<br />

Asas tece o peito:<br />

dor elegante<br />

que devagar me abraça<br />

e me fortalece.<br />

(O pássaro<br />

passa<br />

a pedra.)<br />

Para Lô Borges<br />

Ando na chuva<br />

e venta<br />

e gosto.<br />

Lembranças boas<br />

PASSO 1: SOLIDÃO NÃO SER DERROTA<br />

PASSO 2: ALVORADA DA ALEGRIA<br />

57


na cabeça azul<br />

fazendo bem...<br />

(Sinto o trem<br />

partindo<br />

em paz.)<br />

Amei<br />

e fui amado...<br />

Podemos mais.<br />

Esse poema é pra quem vai ao cinema sozinho.<br />

Vai no sábado, chega cedo e senta no lugar marcado<br />

esperando o que pode vir parar ao seu lado<br />

na vi<strong>da</strong>...<br />

Wall-E sem Eva,<br />

90% do espaço ao seu redor<br />

são namorados<br />

de mãos <strong>da</strong><strong>da</strong>s...<br />

Então vem a música branca<br />

a paz <strong>da</strong> luz<br />

o cavalo correndo e ganhando asas<br />

o volume aumentando<br />

e tudo melhora.<br />

Há aqueles<br />

que falam sozinho<br />

comentam o filme<br />

de si para consigo...<br />

E os que vão depois do "The End"<br />

para os jardins com chafarizes e lembranças<br />

para os carros negros estacionados com placas desconheci<strong>da</strong>s<br />

an<strong>da</strong>r na chuva fina<br />

na dor inútil<br />

e, suando, pensar:<br />

pelo menos<br />

ain<strong>da</strong> consigo.<br />

Epicuro<br />

é muito bonito<br />

num mundo distinto.<br />

POEMA-HOMENAGEM AO CINÉFILO SOLITÁRIO<br />

DURO<br />

SILENCIO<br />

"Olho a ci<strong>da</strong>de ao redor / E na<strong>da</strong> me interessa / Eu finjo ter calma / A solidão me apressa" (Ana<br />

Carolina / Vitor Ramil)<br />

58


Há um tempo<br />

onde o silêncio<br />

não diz mais na<strong>da</strong>...<br />

E o vento<br />

é o ar<br />

em movimento.<br />

Não<br />

publicar<br />

poemas.<br />

Enquanto<br />

o pensamento<br />

(falado)<br />

racional<br />

causal<br />

não contraditório<br />

lógico<br />

(o nome, o lugar, a identi<strong>da</strong>de, o cpf)<br />

vencer, dominar, controlar<br />

o corpo<br />

a sensação<br />

o sentimento<br />

o agora<br />

o todo<br />

o sonho<br />

a mu<strong>da</strong>nça<br />

o desejo<br />

cuspirei espaços...<br />

Cuspirei espaços<br />

pois é acre o gosto do padrão normal<br />

do pai, do padre, do patrão, do vizinho<br />

nos definindo<br />

nos encolhendo<br />

o corpo, a alma, a percepção.<br />

Fechados em horas eternas sem tempo<br />

entre muros, paredes e grades curriculares menores menores menores<br />

ou seguindo velhos caminhos empoeirados<br />

em vez de criar caminhos aéreos.<br />

Vou semeando sozinho<br />

silêncios<br />

de mãos <strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />

com todos.<br />

PASSO 3: REINVENÇÃO DE SI<br />

ONDE ESTAREI DAQUI A 5 ANOS<br />

59


O surfista<br />

indiferente a olhares alheios<br />

(ou à falta deles)<br />

elegante voa<br />

cortando azuis<br />

do longe até a areia<br />

percurso sinuoso<br />

molhado<br />

belo<br />

arriscado<br />

sempre incompleto<br />

e inútil.<br />

Sozinho<br />

remar de volta<br />

sorver horizontes<br />

e esperar<br />

paciente<br />

a próxima.<br />

O seu sorriso<br />

vem vagaroso<br />

do todo<br />

do na<strong>da</strong><br />

se abre<br />

flor instantânea<br />

estrela cadente<br />

plenitude<br />

cura<br />

e se esvai aos poucos<br />

deixando doce<br />

seus lábios.<br />

O desafio enorme<br />

ultrapasso<br />

venço<br />

compenso<br />

a per<strong>da</strong> de tudo<br />

enfrentando o na<strong>da</strong><br />

que me detinha.<br />

Postes amarelos<br />

alongam-me nas ruas.<br />

Piscam vermelhas luzes<br />

de antenas para celulares<br />

no alto dos prédios apagados.<br />

ONDA<br />

PARA LETÍCIA<br />

AGIR<br />

GLÁUCIO GIL, RECREIO <strong>DO</strong>S BANDEIRANTES<br />

60


Caminho<br />

exausto e feliz<br />

pelo silêncio.<br />

(Feliz<br />

por não estar<br />

mais parado.)<br />

Jacarés não aparecem...<br />

Mas uma capivara enorme<br />

e gor<strong>da</strong><br />

pára de comer<br />

quando paro de an<strong>da</strong>r.<br />

Nos olhamos<br />

tentando<br />

nos abismar.<br />

Sigo.<br />

Ela come.<br />

Uma estrela<br />

entre nuvens<br />

nos abençoa.<br />

Dia cheio<br />

de literali<strong>da</strong>de:<br />

Desejo um fantasma<br />

o curupira<br />

um disco-voador...<br />

Mas a noite<br />

a mesma noite<br />

segue<br />

seus grilos<br />

apenas.<br />

(E isso<br />

não é<br />

pouco.)<br />

Sorrio por dentro<br />

pois além <strong>da</strong> brutali<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong>s matérias do dia longo<br />

(e dos seus etéreos sonhos materiais)<br />

vence o cheiro de jasmim.<br />

Sincronici<strong>da</strong>de<br />

é o divino<br />

na coincidência<br />

sorrindo para você<br />

HOUSE MD 601/602<br />

61


no simples, no perto<br />

violoncelos sem violência<br />

altas esferas refletindo<br />

o melhor pra sua fase<br />

o mesmo que a sua face<br />

religação<br />

borboletas a vencer mariposas<br />

sem feiúra no combate.<br />

Harmonia:<br />

tudo exatamente<br />

onde deveria.<br />

Estou de pé<br />

bato a espa<strong>da</strong> no escudo<br />

venha o que vier.<br />

Entreamanhecer<br />

olhos abertos<br />

vi<strong>da</strong> quase plena.<br />

Devedores duvidosos administradores<br />

debitam duplicatas<br />

descontam participações<br />

adiantam a diretores<br />

depreciam<br />

liqui<strong>da</strong>m...<br />

Vão pagar<br />

no longo prazo.<br />

(Decorem)<br />

se o papa-moscas<br />

no meu quarto<br />

comesse mosquitos<br />

comecem gritos<br />

os grilos infindos<br />

cantassem os sapos<br />

A ciência contempla<br />

mais e mais vastidões<br />

de universo árido<br />

em todos os cantos <strong>da</strong>s galáxias.<br />

Enquanto isso<br />

nascemos<br />

crescemos<br />

reproduzimo-nos<br />

SORRIN<strong>DO</strong><br />

CE<strong>DO</strong> (AS GARRAS DA FÊNIX)<br />

DEDUÇÕES E DÁDIVAS DA CONTABILIDADE DE CUSTOS<br />

NOCTURNO<br />

TELESCÓPIO<br />

62


e morremos<br />

sem tempo<br />

pra ser o m-i-l-a-g-r-e que somos.<br />

Sem tempo<br />

pra querer<br />

o que queremos.<br />

Sofro de excessos.<br />

Na<strong>da</strong> em mim<br />

é pouco<br />

no rio rouco<br />

do risco solto.<br />

(Por isso<br />

rabisco<br />

versos...)<br />

Amo.<br />

Sofro.<br />

Sinto.<br />

Me enfureço.<br />

Demais...<br />

Ideais à parte<br />

agora escolho limites<br />

para me libertar.<br />

Quando tudo é janela<br />

o telhado<br />

é por demais pesado.<br />

An<strong>da</strong>r<br />

até a chuva<br />

desistir de molhar.<br />

Regendo as on<strong>da</strong>s<br />

na praia<br />

sem o peso<br />

do mundo<br />

com os olhos<br />

no novo.<br />

Para Stella<br />

Antiverso só<br />

um cigarro caro<br />

se apaga inexistente<br />

AFETOS<br />

PERSISTÊNCIA<br />

<strong>DO</strong> ALTO<br />

QUASE<br />

63


entretanto<br />

entre tanta<br />

gente<br />

pertolonge<br />

(pernilongos lá em casa)<br />

ante tanta<br />

antítese<br />

antepasto<br />

antipasto<br />

de vacas magras<br />

de vacas mortas<br />

rebanho<br />

eu fora<br />

vaca<br />

amarela<br />

amar ela<br />

vontade reincidente<br />

do chão<br />

a falta<br />

a volta<br />

(distimia é a palavra nova, natimorta)<br />

ao mesmo<br />

quase ao mesmo<br />

de antes<br />

quase o gosto<br />

do tempo cíclico<br />

ao mesmo tempo<br />

do tempo cínico<br />

o chão faltando aos pés.<br />

Porém<br />

quase.<br />

Apenas<br />

quase.<br />

Tudo dura<br />

até o próximo<br />

s-o-r-r-i-s-o<br />

no ponto de ônibus.<br />

Uma guitarra<br />

transmuta<strong>da</strong><br />

em pássaro.<br />

Ando do alto<br />

do alto de tudo<br />

do alto de minha altura<br />

ando<br />

FREE BIRD<br />

COLUNA ERETA (ASA ESQUERDA)<br />

64


ando tentando<br />

ando tentando não cair...<br />

Pingo<br />

pontos<br />

estalos<br />

antes<br />

penso<br />

depois<br />

existo<br />

pingo<br />

pingo<br />

pingo<br />

passo.<br />

Dados os <strong>da</strong>dos<br />

sobre <strong>da</strong>dos ordenados<br />

vagos vasos vazios<br />

vesgo<br />

vago e divago<br />

porque vagando me movo<br />

enquanto a vi<strong>da</strong> joga <strong>da</strong>dos<br />

agrupados<br />

em intervalos interquartílicos.<br />

Todo<br />

o ouro<br />

é o outro.<br />

CHUVA 2 - A REVANCHE<br />

A MEDIANA E A MÉDIA<br />

OROBOROS<br />

PARA ROBERTA<br />

"Se a gente já não sabe mais / rir um do outro, meu bem / então o que resta é chorar." (O Vento -<br />

Marcelo Camelo)<br />

Ando<br />

no alto<br />

sem sobre<br />

salto.<br />

(Se caio<br />

levanto.)<br />

As pessoas fecha<strong>da</strong>s?<br />

Eu fechado?<br />

O sinal<br />

vermelho...<br />

Uma mente presa<br />

em si mesma<br />

PARE<br />

65


criando histórias<br />

contando histórias<br />

acreditando em histórias<br />

e não dormindo...<br />

Não durmo<br />

que a noite<br />

é grande<br />

e qualquer planejamento metódico prévio<br />

jaz natimorto<br />

em meu sangue<br />

vermelho quente<br />

fervente<br />

de agora<br />

diferente<br />

do que deveria<br />

sempre.<br />

(A derrota<br />

do poema<br />

é Clara...)<br />

Todos os dias, o que eu sempre quis:<br />

passo por Drummond em si bemol<br />

e Drummond parece até feliz<br />

quando aqui dentro faz sol.<br />

ORLA (A ASA DIREITA)<br />

AMOR FATI REVISITA<strong>DO</strong> (A AVE INTEIRA DE PHOENIX)<br />

"Todos estes que aí estão / Atravancando o meu caminho, / Eles passarão. / Eu passarinho!"<br />

(Mario Quintana)<br />

1 - Amar o inesperado;<br />

2 - Não esperar não sofrer;<br />

3 - Na dúvi<strong>da</strong>, fazer;<br />

4 - Sobretudo, voar.<br />

Eu sou<br />

o que você é.<br />

Alguém que busca<br />

e quer.<br />

(O invisível...)<br />

A poesia<br />

não leva a na<strong>da</strong>.<br />

Leva a tudo.<br />

já amei<br />

sem dizer na<strong>da</strong><br />

VITÓRIA<br />

META<br />

JÁ HÁ MEIOS MELHORES?<br />

66


já amei<br />

com raiva<br />

já amei<br />

parado<br />

já amei<br />

sem raiva<br />

já amei<br />

duvi<strong>da</strong>ndo<br />

já amei<br />

fingindo<br />

já amei<br />

voando<br />

já amei<br />

atrasado<br />

já desamei<br />

sorrindo<br />

já amei<br />

de um só lado<br />

já amei<br />

caindo<br />

já amei<br />

demais:<br />

jamais<br />

amarei<br />

em cheio<br />

o Eros<br />

é maior<br />

que o erro<br />

LETICIANTE<br />

GUARDA<strong>DO</strong><br />

Quando os pais não valorizam a própria Liber<strong>da</strong>de e não incentivam a filha a dizer não — nem lhe<br />

concedem o sagrado direito de fazer escolhas — ela se tornará uma mulher submissa, sem graça e<br />

sem criativi<strong>da</strong>de. (...) - Edson Marques<br />

Para Stella<br />

Sonhei que eu contava<br />

pro melhor amigo que não tenho<br />

sobre o final patético<br />

do grande amor que também não tenho.<br />

Hoje é um <strong>da</strong>queles dias<br />

em que até o mar, sem on<strong>da</strong>s<br />

silencia.<br />

E o meu grito não <strong>da</strong>do<br />

relampeja.<br />

Quantos raios dourados<br />

bastariam<br />

67


pra que essa raiva carrega<strong>da</strong><br />

seja?<br />

Porém, vejamos nós:<br />

se o mar silencia<br />

os céus preparam sua voz...<br />

A noite se estende<br />

pro alto<br />

pra trás<br />

pra frente...<br />

A noite imensa<br />

de céus passados<br />

distantes e calmos e bons<br />

e futuros possíveis.<br />

A noite é alta<br />

na ci<strong>da</strong>de escura<br />

sem semáforos ou petições.<br />

Árvores fortes<br />

sustentam<br />

a noite.<br />

Prédios mortos<br />

temem<br />

do alto <strong>da</strong> ordem.<br />

Pessoas<br />

ratos<br />

amontoados<br />

nos pontos de ônibus<br />

preocupam-se.<br />

A música triste<br />

agora é apenas lenta.<br />

Na música lenta<br />

a beleza acende.<br />

(Nas trevas<br />

voltar a ser.)<br />

Reaprender<br />

a flertar<br />

com prazer<br />

devagar...<br />

APAGÃO<br />

RENASCIMENTO<br />

68


Para Diego e Luciana<br />

"Balance os cabelos, menina, com seu rabo de cavalo<br />

Leve-me de volta (para quando você era jovem)"<br />

Leve-me para quando o mar<br />

não éramos<br />

grande de dor<br />

e sal.<br />

E amar<br />

ia além<br />

<strong>da</strong> luminosi<strong>da</strong>de planeja<strong>da</strong><br />

pra mostrar<br />

de leve<br />

o sonho impossível.<br />

O horizonte sangra<br />

a hora alquímica<br />

sobre as águas:<br />

nem noite<br />

nem dia.<br />

A lua sorrindo<br />

desvanece<br />

junto com os luais<br />

as estrelas<br />

e os sonhos sexuais<br />

<strong>da</strong> escuridão.<br />

O dourado<br />

traceja pinturas róseas<br />

sobre o mar manso.<br />

Luzes se apagam<br />

seres noturnos se desfazem<br />

deixando cheiro de cerveja no chão.<br />

No céu<br />

dragões de nuvens<br />

bafejam<br />

o azul <strong>da</strong> manhã.<br />

E gaivotas<br />

adoram em círculos<br />

a esfera brilhante<br />

que venceu mais uma vez<br />

as profundezas.<br />

FLASHBACKS OF A FOOL<br />

NASCENTE<br />

69


Para Juliana<br />

antes<br />

tarde<br />

depois<br />

cedo<br />

noite<br />

de ris(c)os<br />

contidos<br />

Enquanto aqui dentro<br />

uma agonia<br />

silencia<br />

lá fora<br />

chove.<br />

Independentemente disso<br />

mais cabelos<br />

nascem brancos.<br />

A vi<strong>da</strong> traz<br />

momentos bons<br />

capivaras noturnas<br />

paixões controla<strong>da</strong>s impossíveis<br />

poetisas no banco ao lado do ônibus<br />

coincidências sincrônicas<br />

momentos ruins<br />

mariposas<br />

dissidências<br />

e sigo com a mesma cara.<br />

A<br />

mesma<br />

cara<br />

de capivara.<br />

Sem pressa<br />

ou drama<br />

sigo estranhamente leve<br />

e tomo vitaminas<br />

para a falta<br />

de algo indeterminado<br />

que não faz muita falta.<br />

A MANHÃ<br />

EMAGRECIMENTO, PAZ TRANSCENDENTAL OU CANSAÇO?<br />

LUTO<br />

"Mesmo que nossos lábios não se cruzem novamente, posso dizer em silêncio, tudo aquilo que ficou<br />

escondido para sempre. Haverá momentos em que nossos pensamentos se encontrarão no espaço e,<br />

assim, sentiremos falta de estar juntos novamente." - Janis Joplin<br />

70


Para Stella<br />

Luto contra<br />

o luto resoluto.<br />

Luto contra<br />

que o luto<br />

seja.<br />

Que seja luta.<br />

Veja.<br />

Luciana mútua<br />

Luciana ambas<br />

vencer a noite via palavra<br />

no barco leve<br />

<strong>da</strong> paciente L<br />

(com fome).<br />

Perfil de Luciana de perfil:<br />

Lu se ama.<br />

Chocolate pouco<br />

eu e ela - Lucians transvexos<br />

nós, analisados, nos analisando<br />

Luciana livre<br />

Luciana engraça<strong>da</strong> e indizível<br />

nozes buscamos<br />

vozes buscais<br />

sonhando pacas, cobras e buracos.<br />

Nome que salva<br />

o não (sem saliva)<br />

<strong>da</strong>s infinitas nuli<strong>da</strong>des<br />

que não dizem (nem são).<br />

Devo me fechar em mim<br />

para balanço.<br />

Não há mais na<strong>da</strong> a fazer.<br />

Exceto ser o melhor possível<br />

em to<strong>da</strong> maldita área imaginável<br />

para me convencer...<br />

LUCIANA<br />

NO MORE TEARS<br />

71


Para Stella<br />

Os covardes se olham<br />

com olhos contidos<br />

dentre grades e telas<br />

os covardes não tentam.<br />

Os covardes lamentam<br />

entre tanta mentira<br />

entre tanta cegueira<br />

os covardes não fazem.<br />

Uma tonta corri<strong>da</strong><br />

que os fazem covardes<br />

nessa pressa venci<strong>da</strong><br />

nessa vi<strong>da</strong> sem morte.<br />

E correndo pra cama<br />

quando a noite explode<br />

os covardes se amam?<br />

Os covardes se fodem?<br />

TEMA DE ABERTURA<br />

Para Stella<br />

Um ex-poeta recomendou<br />

um saco de panca<strong>da</strong><br />

para a minha raiva.<br />

Prefiro<br />

a<br />

palavra.<br />

sexta-feira, 20 de novembro de 2009 – Snikt!<br />

AUTO-POEMA-CONSELHO OU GALINHA DANGOLA<br />

Para Stella<br />

Nunca ame um fraco<br />

pelo amor e admiração<br />

que ele te dá<br />

por ser forte.<br />

Mesmo os fortes<br />

precisarão<br />

de uma força<br />

COR<br />

72


algum dia.<br />

E, nesse dia,<br />

justo nesse dia,<br />

o fraco fraquejará...<br />

(E quando chega o dia<br />

em que o forte<br />

precisa desespera<strong>da</strong>mente<br />

do fraco...<br />

Qualquer idiota pode ver<br />

que ele está ain<strong>da</strong> mais fraco<br />

do que o fraco propriamente dito.)<br />

PASSIONAL<br />

Para Stella<br />

Uma faca<br />

uma espa<strong>da</strong><br />

um peito...<br />

Uma fraca<br />

uma espa<strong>da</strong><br />

um medo...<br />

Um medo<br />

lentamente<br />

i-n-s-p-i-r-a-n-d-o<br />

Uma vontade de aço.<br />

PREPARE-SE<br />

Para Stella<br />

Não...<br />

Não!<br />

Eu não vou calar meus versos<br />

para refletir calmamente<br />

passivamente passar<br />

sem mu<strong>da</strong>r<br />

esse mundo de mer<strong>da</strong><br />

(essa visão de mundo de mer<strong>da</strong>).<br />

(Venta forte na varan<strong>da</strong>...)<br />

- Namastê o caralho!<br />

73


Não vou calar meus versos<br />

no fundo do bolso dos pragmáticos<br />

no fundo dos sonhos de mer<strong>da</strong> dos conservadores<br />

no fundo <strong>da</strong>s almas pequenas dos especialistas<br />

no fundo <strong>da</strong> falta de tempo dos que na<strong>da</strong> fazem<br />

para poupar<br />

os que adiam<br />

os que fogem<br />

os que mentem<br />

os que se escondem<br />

(até de si mesmos).<br />

- Boa noite, seu VERME!<br />

Siga lendo calado<br />

(e tremendo)<br />

o meu egoísmo sagrado...<br />

MAS, CÁ ENTRE NÓS, PUTA QUE PARIU, HEIN...<br />

Para Stella<br />

A ca<strong>da</strong> dia que passa<br />

e que você adia<br />

uma sau<strong>da</strong>de morre<br />

e um desgosto pia<br />

a ca<strong>da</strong> dia que passa<br />

e que você adia<br />

a ponta <strong>da</strong> raiva brilha<br />

qualquer chance tardia voa<br />

pensando na vi<strong>da</strong> morta<br />

em que você prosseguiria<br />

a ca<strong>da</strong> dia que passa<br />

e que você adia<br />

calmamente cavando<br />

avestruz sombria<br />

lentamente e fria<br />

se enterrando<br />

se escondendo<br />

tremendo de fraca<br />

a ca<strong>da</strong> dia que passa<br />

e que você adia.<br />

A CONSTATAÇÃO FINAL<br />

Para Stella<br />

Se eu tivesse passado<br />

os últimos anos<br />

com um coqueiro<br />

74


ele não estaria<br />

me devendo<br />

noventa real...<br />

SEM DIZER ADEUS...<br />

Para Stella<br />

Stella Desapareci<strong>da</strong><br />

Seis anos de convívio<br />

um casamento marcado<br />

duas vi<strong>da</strong>s planeja<strong>da</strong>s<br />

um apartamento arrumado<br />

e agora esse silêncio.<br />

Sua dúvi<strong>da</strong> eterna sobre o que quer<br />

e mamãe não deixa<br />

que adivinho sozinho<br />

mais ou menos<br />

assim assim<br />

meio dita mas não dita<br />

t-o-t-a-l-mente<br />

obscura<br />

fugi<strong>da</strong><br />

pela metade<br />

covarde<br />

meio de lado<br />

meia ver<strong>da</strong>de adia<strong>da</strong>...<br />

Será medo?<br />

Será tudo?<br />

Será o fim?<br />

Será já na<strong>da</strong>?<br />

Duro<br />

conjecturo<br />

e escrevo emails de seis páginas durante dias<br />

(também não lidos)<br />

infinitamente<br />

d-e-c-e-p-c-i-o-n-a-d-o<br />

pelo cúmulo-nimbo de sua fraqueza<br />

que não chove<br />

não atende<br />

não comparece<br />

não se mostra...<br />

Sem conversa<br />

sem saí<strong>da</strong>.<br />

E a raiva<br />

proporcional a essa dor<br />

75


se expande<br />

se explode<br />

enquanto um amor<br />

miserável filha-<strong>da</strong>-puta burro<br />

se esconde aqui dentro<br />

(amodiar, amodiar desde sempre amodiar)<br />

e não se acaba tão rápido<br />

quanto o seu enigma...<br />

Tentei<br />

e tento<br />

desistir<br />

sem conseguir<br />

sem entender<br />

sem você.<br />

OLHAN<strong>DO</strong> DE FORA<br />

Para Stella<br />

Preciso parar de falar disto.<br />

Preciso parar de falar disto.<br />

O plano original<br />

era você vir morar comigo...<br />

Preciso parar de falar disto.<br />

Preciso parar de falar disto.<br />

Desde então, tudo foi lentamente mu<strong>da</strong>ndo<br />

para o que SEUS PAIS queriam.<br />

Preciso parar de falar disto.<br />

Preciso parar de falar disto.<br />

O melhor movimento de minhas mãos<br />

nos últimos seis anos<br />

foi jogar a aliança no lixo.<br />

ILUMINAÇÃO<br />

Para Stella<br />

O verme procura<br />

buracos escuros<br />

para ser.<br />

Ser<br />

em<br />

paz.<br />

76


Sob as sombras seguras<br />

adiar o confronto sagrado<br />

e não mostrar aos poderosos pais (de outro século)<br />

sexo pecaminoso proibido prazeroso<br />

noites fora de casa<br />

viagens, religiões, fantasias e algo mais<br />

(em troca de unhas corta<strong>da</strong>s).<br />

Apareci<strong>da</strong> Santa<br />

bailarina de rosinha emoldura<strong>da</strong> na sala girando para<strong>da</strong> no tempo<br />

com santos em que finge acreditar no quarto,<br />

porém<br />

sau<strong>da</strong>velmente revolta<strong>da</strong> e reprimi<strong>da</strong> com os mesmos pais,<br />

ave macula<strong>da</strong> em pele,<br />

rosacruz liberta<br />

desde muito antes<br />

deste monstro imaginário que vos fala<br />

se tornar real e palpável.<br />

(O verme<br />

se esconde<br />

na sombra,<br />

no silêncio<br />

e desiste<br />

do vestido<br />

alvo como a paz<br />

que faria mamãe chorar em Cristo.)<br />

PAUSE<br />

Para Stella<br />

Quando paro<br />

quando vejo<br />

estou pensando<br />

tentando entender<br />

ruminando detalhes, quandos<br />

e progressivamente<br />

trincando dentes e punhos<br />

contra o pesadelo de que não acordo<br />

nem com to<strong>da</strong> a raiva do mundo<br />

nem espalhando a raiva pro mundo<br />

sem acordos de partes<br />

sem acordes de voz<br />

sem acordos de partos<br />

enquanto silencias<br />

silencias fraco<br />

como pais ausentes<br />

como deuses imaginários...<br />

77


- Desejo sinceramente que durante to<strong>da</strong> a sua vi<strong>da</strong> outros falem por ti.<br />

CHINELOS AZUIS PEQUENINOS<br />

Para Stella<br />

Chinelos azuis e pequenos<br />

vazios<br />

ao lado dos meus.<br />

Chinelos azuis e pequenos<br />

que apoiaram pés<br />

que apoiaram pernas<br />

que apoiaram corpo<br />

que apoiaram cabeça.<br />

(No entanto<br />

cabe dizer<br />

que desconheço<br />

esse ser.)<br />

Chinelos azuis e pequenos<br />

no apartamento fechado<br />

no apartamento vazio<br />

nas minhas mãos cansa<strong>da</strong>s<br />

nos meus olhos secos...<br />

Chinelos azuis e pequenos<br />

no lixo<br />

do apartamento trancado.<br />

ÚLTIMO POEMA PARA STELLA<br />

nunca cometo o mesmo erro<br />

duas vezes<br />

já cometo duas três<br />

quatro cinco seis<br />

até esse erro aprender<br />

que só o erro tem vez<br />

Paulo Leminski<br />

Eu também prefiro os laços firmes<br />

desde que sejam<br />

ver<strong>da</strong>deiros.<br />

Onde ambos<br />

se mostrem todos<br />

como são.<br />

78


Aqueles laços<br />

pelos quais<br />

vale ser e lutar<br />

quando aparece a primeira - a maldita primeira! - dificul<strong>da</strong>de.<br />

(A vi<strong>da</strong><br />

não tem ensaio<br />

como num filme mal feito consolador espírita<br />

do youtube).<br />

Prefiro a sensação de ter sido eu mesmo<br />

totalmente eu<br />

do início ao fim<br />

totalmente claro<br />

exposto<br />

vulnerável<br />

cego<br />

burro<br />

mas eu.<br />

Mesmo que se desfaça o laço firme (porém falso)<br />

como tudo, um dia, acaba...<br />

E um milhão de vezes se acabando<br />

um milhão de vezes eu morra<br />

sem poder chorar<br />

sem poder chorar uma maldita lágrima<br />

presa no peito quente que não explode<br />

pressionado por infernos insolúveis de silêncio e pânico...<br />

Mas quem morre<br />

sou eu<br />

EU<br />

orgulhosamente EU<br />

e não o que eu queria parecer<br />

e não a despercebi<strong>da</strong> heroína cristã que só pensa no outro<br />

(porque não tem um eu próprio).<br />

E é esse mesmo EU<br />

que pode sair pela vi<strong>da</strong><br />

a errar de novo<br />

radioso de luz e garras e dentes<br />

por EXISTIR<br />

em vez de se ESCONDER.<br />

E por isso mesmo<br />

posso dizer que a raiva<br />

a raiva no final<br />

(apesar <strong>da</strong> bela teoria de Jung)<br />

não foi de mim mesmo...<br />

79


Ana<br />

me sorri<br />

a noite.<br />

Eu chego em casa<br />

e Luna é festa<br />

coraçãozinho louco desvairado<br />

rabo-hélice...<br />

Eu fico triste<br />

e Luna lambe<br />

pula no colo<br />

adivinha...<br />

Quando eu vejo<br />

chamo Luna<br />

(de barriga pra cima)<br />

de tartaruga.<br />

Luna vai embora<br />

amanhã.<br />

Qual a cor<br />

e o sabor<br />

<strong>da</strong> sua alma?<br />

Talita:<br />

Conjunto interminável de aspectos<br />

de uma sinfonia leve que nunca ouvimos to<strong>da</strong><br />

(sentir, pensar, tocar, escrever, procurar, ser...)<br />

mas é completamente<br />

bonita.<br />

Um monge budista<br />

após anos e anos de prática meditativa<br />

consegue não pensar em na<strong>da</strong><br />

atinge o Nirvana<br />

e, para um psicólogo apressado<br />

nesse exato instante<br />

não consegue ter desejo<br />

ou imaginar um futuro:<br />

está deprimido.<br />

Eu com tendinite<br />

sem poder an<strong>da</strong>r<br />

matei oito mosquitos<br />

no segundo an<strong>da</strong>r<br />

BELO HORIZONTE<br />

LUNA (E A VIDA)<br />

STEPHANIE<br />

TALITA<br />

DA MASTURBAÇÃO MENTAL<br />

POEMA ESQUISITO<br />

80


às três <strong>da</strong> manhã<br />

quando a luz voltou<br />

quando ar ligou<br />

no meu quarto caro - agora com tela<br />

desprotegido<br />

(e casualmente eis que de tarde não vi o infinito<br />

olhando bobo a beleza do crepúsculo que na<strong>da</strong> me dizia<br />

no mesmo ônibus <strong>da</strong> alegria de sempre<br />

quando dentro aqui treva aqui dentro sem trova<br />

chovia)<br />

dito isso<br />

não durmo.<br />

Sou eu<br />

o nervo <strong>da</strong> noite de Noll<br />

sou o olhar assustado<br />

para as frestas no telhado noturno<br />

antiácido<br />

Friburgo<br />

salteabundo<br />

Através <strong>da</strong>s frestas e freiras<br />

do teto trincado e rasgado<br />

um céu sem estrelas nem segredos<br />

(nem sagrados)<br />

me leva ao mundo plano<br />

aos rebanhos<br />

já que tudo<br />

tudo<br />

são rebanhos<br />

me banho do mesmo mesmo<br />

enquanto a vaca ri<br />

silenciosa<br />

como capim ao vento<br />

com Coca-Cola.<br />

Escrever<br />

pode ser<br />

perigoso.<br />

Quantas libélulas<br />

é possível tossir?<br />

Pintassilgos silvam<br />

em silveiras e silvas e lulas sem dedo...<br />

Políticos roubam<br />

REDISCO<br />

TUTELA<br />

LIBERA<br />

81


e pessoam se reproduzem.<br />

Simples.<br />

É a ordem <strong>da</strong>s coisas em ordem...<br />

Tanta coisa a mim muitíssimo interessante...<br />

Quantas libélulas<br />

é possível tossir?<br />

Não estou bem não, não é?<br />

Será meu colesterol?<br />

Meus triglicerídeos?<br />

Onde estão os doutores de branco<br />

cheios de respostas?<br />

Esse ano não tive ain<strong>da</strong> glaucoma<br />

mas cuspi libélulas<br />

pensando em centopéias<br />

mês sim<br />

mês não.<br />

(Será a fibromialgia psicossomática? Eram os deuses astronautas?)<br />

O poeta é um psicossomatizador, Pessoa...<br />

Psicossomatiza tão completamente<br />

que chega a fingir que é cor<br />

a mor que deveras sente.<br />

Tanta cara parafernália<br />

e ain<strong>da</strong> não consigo<br />

ver dois canais ao mesmo tempo.<br />

Eu cuspo nos objetivismos triunfalistas.<br />

Eu cuspo nos objetivismos triunfalistas.<br />

Eu cuspo nos objetivismos triunfalistas.<br />

Cravar as garras na terra<br />

as falto<br />

ar falta...<br />

Despender morcegos-símbolos<br />

raios amarelos.<br />

Abrir a palma<br />

jamais<br />

novamente.<br />

LIMITE<br />

POETRÍPLICE<br />

PROMESSA<br />

POESIA CONCRETO<br />

82


O concreto do caminhão<br />

mata o mato.<br />

Plantas de to<strong>da</strong>s as regiões<br />

são ca<strong>da</strong> vez mais<br />

concreto e projeto e plano e cálculo.<br />

Árvores mol<strong>da</strong>m prédios<br />

só até o concreto secar<br />

(depois queimam as tábuas).<br />

O homem concreto<br />

carrega consigo numa mala preta e quadra<strong>da</strong><br />

pressa, não ser, não saber, não poder e um rumo esquecido.<br />

De quando em quando<br />

cresce, reproduz os pais<br />

e morre na paz de nosso senhor Jesus Cristo.<br />

A poesia verde-sonho<br />

é mais e mais<br />

cinza<br />

e fumaça.<br />

Núbia de nuvens<br />

e palavras tempestades:<br />

raios de ser.<br />

Sabemos ambos<br />

que amor rima com sangue e dor<br />

(não lantejoulas e mimimis).<br />

Gritamos ambos acre<br />

perante a força do indeterminável<br />

sem nos ajoelhar perante nenhum deus minúsculo<br />

mol<strong>da</strong>do por mãos humanas.<br />

Para I.<br />

Lambi<strong>da</strong>s lembranças eróticas<br />

<strong>da</strong> paixão ereção:<br />

vôos nus para ti<br />

vôos sorrisos<br />

<strong>da</strong>s almas se tocando dificultosas<br />

entre tanta linguagem<br />

línguas vencem<br />

flores sensíveis<br />

e castas<br />

porém úmi<strong>da</strong>s<br />

pétalas macias<br />

JOPLIN<br />

MELODIA<br />

83


sem lágrimas, sem lágrimas...<br />

Tudo pra <strong>da</strong>r errado<br />

e <strong>da</strong>r certo...<br />

Tanto imaginário<br />

e no entanto<br />

real:<br />

o início<br />

o fim<br />

e o meio.<br />

Núbia de nuvens<br />

de nuvens todos<br />

somos<br />

núcleos de nuvens imaginárias<br />

leves leves tão leves<br />

que a sombra <strong>da</strong> pena <strong>da</strong> asa<br />

do mais leve pássaro<br />

passando rente<br />

desmancharia em chuva<br />

ou em choro<br />

to<strong>da</strong> a sua branquidão.<br />

(Dilúvio).<br />

Na<strong>da</strong> é para sempre<br />

exceto o céu sem fim...<br />

Aqui embaixo<br />

nós<br />

gafanhotos<br />

acabaremos<br />

sem som<br />

no vácuo.<br />

Na batata-frita<br />

há mais poesia<br />

que no coração.<br />

É noite.<br />

Todos dormem.<br />

É tarde.<br />

Os bichos nos presépios dormem.<br />

As luzinhas brilham nas varan<strong>da</strong>s.<br />

É noite, apenas...<br />

Sem mais palavras.<br />

DE NÚBIA<br />

DUST IN THE WIND<br />

CONS TATO AÇÃO<br />

FELIZ<br />

84


A tartaruga do sonho<br />

de barriga pra cima<br />

parecia morta<br />

mas não estava.<br />

Desvirei uma<br />

duas<br />

três...<br />

Mas ela lenta<br />

e quase morta<br />

virava de volta<br />

outra vez.<br />

Há traições maiores que beijos<br />

Há traições maiores que sexo<br />

Há traições assim:<br />

A flor e a grade:<br />

Agrade a flor<br />

e cairão as grades.<br />

Com calmas novas<br />

notar a beleza do pequeno<br />

e a importância do próximo.<br />

Hoje acordei bem<br />

porque fui lembrado<br />

de que sou bom.<br />

Caminhei na água<br />

sobre círculos que ampliavam<br />

a vastidão do mundo.<br />

Fez-se um rastro profundo<br />

onde a luz tremia...<br />

Se a manhã estava fria de gente<br />

amanhã será de novo:<br />

amanhecerá de novo<br />

o mesmo, diferente.<br />

A dor é inevitável.<br />

Busquemos<br />

algum<br />

prazer...<br />

CAS(C)O<br />

ATRAÇÕES<br />

PARA I. (SO?)<br />

ACORDAR BEM<br />

OBRIGA<strong>DO</strong><br />

2010<br />

METAS DE TEMPO NOVO<br />

85


Chegou o final <strong>da</strong> guerra<br />

e o silêncio amplia os campos.<br />

Na beira do oceano<br />

sem nenhum cavalo ou dragão<br />

sinto o peso de Excalibur pela última vez.<br />

Ela<br />

quer<br />

o<br />

mar.<br />

Seu vôo de giros e brilhos<br />

parece lento e musical.<br />

As águas se abrindo para recebê-la<br />

levam também<br />

(lavam também)<br />

minha alma.<br />

Do mar<br />

de incertezas<br />

on<strong>da</strong>s de ansie<strong>da</strong>de<br />

raios de raiva<br />

eu<br />

(e somente eu)<br />

me resgato.<br />

Entre tropeços<br />

novamente vejo<br />

borboletas.<br />

Almejo<br />

a sereni<strong>da</strong>de rósea<br />

<strong>da</strong>s cerejeiras<br />

do Japão em mim.<br />

Desquero a cor<br />

errante de crepúsculos ocres<br />

cantos rasgados de dor<br />

dentes trincados<br />

quebra de vidros<br />

cacos de vi<strong>da</strong>.<br />

Chove.<br />

Não há on<strong>da</strong>s<br />

no mar.<br />

EXCALIBUR<br />

YOGA<br />

O RETORNO<br />

PERCE-VEJO<br />

3 SERENAS CONSTATAÇÕES FAZEM UM POEMA?<br />

86


Os pássaros voam<br />

sem motivo.<br />

É hora.<br />

É tempo<br />

<strong>da</strong> palavra.<br />

Da palavra<br />

certa.<br />

Mas e se a palavra<br />

a mesma palavra certa<br />

só acerta mesmo<br />

em mim?<br />

Tenho predisposição<br />

para crianças e bichos.<br />

Gaivotas parecem anjos<br />

(e acenam<br />

sempre que passo).<br />

A lua costuma<br />

me sorrir<br />

no azul <strong>da</strong>s tardes<br />

em que olho pra cima.<br />

Quem crê<br />

não<br />

cria.<br />

11:11 - A SETA NO ALVO<br />

VÔO LONGE<br />

EM DEUS<br />

CONTO DE NATAL - UMA HISTÓRIA DE AMOR<br />

Julinha amava Logan. Quando ele cuspia no chão, ela corria pra limpar e pedia desculpas. Enquanto<br />

isso, ele se perguntava constantemente o que admirava nela... Será que a amava? Mas amor não<br />

seria baseado na admiração? Ela não criava na<strong>da</strong> admirável... Logan queria amor livre nessa época.<br />

Lia Roberto Freire e Edson Marques. Houve choro e desconversa, mas continuaram juntos. Com o<br />

tempo, Logan foi se acostumando mais e mais com o amor desmedido e incondicional, o carinho, o<br />

companheirismo, a troca de confidências, a análise de sonhos dividi<strong>da</strong>, a proteção, o afeto, ele<br />

sempre com razão, ela dirigindo pra ele, lendo e relendo to<strong>da</strong> a sua obra, fazendo comi<strong>da</strong> pra ele, o<br />

sexo <strong>da</strong> forma que ele man<strong>da</strong>sse (escondido dos pais dela)... Logan amava Julinha. Em três anos,<br />

ele engordou dez quilos, entrou em depressão, parou de ler, trancou a facul<strong>da</strong>de, quase não saía<br />

mais do quarto, largou o emprego, brigou com o melhor amigo e se viciou em jogos de computador.<br />

E Logan não parou aí: quis que essa maravilha fosse pra sempre (apesar de sua admiração teórica<br />

por Heráclito) e pediu Julinha em casamento (apesar de sua admiração teórica por Nietzsche).<br />

Obviamente, ela viajou com os pais num fim de semana e nunca mais falou com Logan. Tinha<br />

medo dele. Ele tocou as barbas <strong>da</strong> morte e do na<strong>da</strong>. Mas refez-se em três meses e voltou ao que era<br />

antes (talvez melhor). Tinha nojo dela.<br />

87


Eu tenho pressa<br />

e Julia<br />

tem Pastel no nome.<br />

Que falar<br />

(todo prosa)<br />

quando a vi<strong>da</strong><br />

sai <strong>da</strong> mer<strong>da</strong><br />

direto<br />

pra rosa?<br />

Para Julia Pastore<br />

Sob a amendoeira do tempo<br />

o templo sagrado<br />

de te achar.<br />

e eis que a poesia<br />

agora alça<br />

de outra beira<br />

gumercin<strong>da</strong><br />

mostra<br />

que não é<br />

só arte<br />

muito menos<br />

só parte<br />

ca<strong>da</strong> vez mais longe<br />

de nós e paz e conformi<strong>da</strong>de<br />

rasgaremos a ilusão do real<br />

(que não lê)<br />

por um real<br />

(ou uma revolução)<br />

dá-me uma mão<br />

lição<br />

missão<br />

obrigado<br />

(pausa pra xingar mentalmente<br />

o cara serrando algum piso na obra interminável aqui do lado<br />

desde que o cachorro parou de latir e rimar)<br />

Somos o encontro<br />

o estrondo<br />

tempestades se olhando.<br />

POR MOTIVO DE FOME<br />

TIMING<br />

TEU POEMA<br />

TE ME LEN<strong>DO</strong>, JULIA<br />

88


Para Julia, que não pára<br />

Parei de ver Fringe<br />

pra ler sua obra completa<br />

e foi uma volta completa<br />

ao redor do fundo<br />

de mim mesmo<br />

parado<br />

aqui<br />

eu<br />

.<br />

Julia tem voz<br />

tem eu<br />

Julia fala alto<br />

grita<br />

Julia usa máscara branca<br />

amedrontadora<br />

aponta o dedo na cara do mesmo<br />

assalta em Pessoa e sem telas intermediárias<br />

assusta o sistema que se reproduz em ternos eternos...<br />

Mas na hora certa<br />

Julia, leve<br />

tira to<strong>da</strong>s as máscaras<br />

(to<strong>da</strong>s)<br />

e silencia.<br />

Caminho perdendo peso<br />

caminho na praia<br />

sob a proteção de palavras<br />

a colorir um céu de estrelas mortas.<br />

Meu eu real caminha<br />

ao encontro<br />

do ideal de eu<br />

do eu ideal<br />

do eu lírico.<br />

Final<br />

mente.<br />

Para Julia<br />

Noite cheia<br />

meia noite<br />

lua ausente<br />

meia lua<br />

FINGEMUN<strong>DO</strong><br />

RELEN<strong>DO</strong> JULIA PASTORE<br />

POEMINHO EGOCÊNTRICO<br />

SEM BEBER VINHO<br />

89


gente inteira<br />

longe ela<br />

perto, perto...<br />

Nunca Antígona<br />

antídoto para a nuca<br />

terra antiga nua<br />

cheiro de molha<strong>da</strong><br />

chove devagar<br />

a madruga<strong>da</strong>.<br />

Ain<strong>da</strong> cedo<br />

a noite calma<br />

amando a morte<br />

a parte to<strong>da</strong><br />

segue escrevendo<br />

escreve sendo.<br />

Trocentas fontes no longe<br />

na lama<br />

no inferno<br />

e se apenas<br />

saíssemos de baixo dos telhados<br />

a água milagro-ferruginosa viria direto do céu à boca.<br />

Ninguém compreende<br />

a agrura<br />

de ca<strong>da</strong> mínimo mísero passo meu.<br />

Nem entende<br />

o esforço por trás<br />

de ca<strong>da</strong> presente que dou (e meço).<br />

Ninguém.<br />

(Nem agüenta indolor<br />

os monstros invisíveis atrás<br />

do silêncio a dois incolor...)<br />

Quem ternamente compreende<br />

(sei, sei...)<br />

passam dois ratos<br />

vai pra outro lado<br />

passam dois ratos<br />

vai pra longe<br />

dá tchauzinho<br />

passam dois ratos<br />

foge<br />

corre<br />

some.<br />

A NULA<br />

FENDA<br />

FONTE<br />

ESTA<strong>DO</strong><br />

90


Eu não julgo.<br />

Eu não sou meu eu-lírico<br />

em paz<br />

cheio de ideais...<br />

Eu não sei quem sou.<br />

(Nem os ratos.)<br />

Num mundo imundo distrito<br />

de egoísmo e intolerância ao distinto<br />

(que me arde mas faço parte)<br />

eu parto ficando<br />

e vivo indistinto<br />

entre o calar e o ferir<br />

entre o pai e a mãe<br />

entre o céu inalcançável e o inferno deserticamente real<br />

forçando passos sem conseguir sentir o vento<br />

forçando passos pra não enlouquecer parado trancado estagnado<br />

mas odiando ca<strong>da</strong> nova feri<strong>da</strong> do caminho.<br />

E ca<strong>da</strong> pétala de rosa tênue e perfuma<strong>da</strong><br />

(brilhante, lin<strong>da</strong>, plim, plim)<br />

tem o poder de me cortar ao meio<br />

como a mais afia<strong>da</strong> espa<strong>da</strong><br />

desde sempre<br />

sem esforço<br />

desde sempre<br />

desde sempre...<br />

Parto?<br />

Mas entre viver assim<br />

e ver um filme ruim<br />

no meu maldito abençoado quarto fechado<br />

prefiro pastel<br />

odiar a mim<br />

e um vento inventado qualquer<br />

por ora.<br />

Por três meses ao menos.<br />

Nestes termos,<br />

cabeça inclina<strong>da</strong>,<br />

peço: dê ferimento.<br />

Não estou pronto.<br />

Não estarei pronto.<br />

Nunca estive pronto.<br />

COM TATO<br />

91


Exceto para subir a noite.<br />

Para o Suspiro de Carol<br />

O cão<br />

é o símbolo vivo<br />

<strong>da</strong> fideli<strong>da</strong>de<br />

que o ser humano<br />

nunca alcançará.<br />

Eu te gosto tanto<br />

que assusta<br />

além.<br />

Está muito rápi<strong>da</strong><br />

a nossa calma.<br />

Estou misturado<br />

apesar do trauma.<br />

Estalo no telhado<br />

que devagar ia.<br />

Caia tudo<br />

ou não:<br />

você mora<br />

na minha<br />

poesia...<br />

Sonhei que ia me candi<strong>da</strong>tar<br />

para tentar trabalhar<br />

onde não queria.<br />

Depois ia cantar<br />

uma música que desconhecia<br />

num restaurante lotado<br />

onde o Sidney Magal era o Leonardo.<br />

Uma noite dessas<br />

só com chocolate...<br />

Uma noite dessas<br />

ela longe<br />

escrevendo lindo<br />

e dormindo.<br />

Tonto ou não tonto<br />

uma noite dessas<br />

HOMENAGEM<br />

JULIA<br />

PERDI<strong>DO</strong><br />

HERSHEY´S CROCANTE<br />

92


só com chocolate...<br />

- Não quero na<strong>da</strong><br />

que não seja sempre!<br />

céu ain<strong>da</strong><br />

joelho hermético<br />

mar calmo<br />

azulejo azul quebrado imaginário longe cheio de tentativas e adjetivos que corta perto<br />

sacudo areia palavra<br />

mesmo sendo<br />

pouco público pagante<br />

eu pra mim<br />

recomeço<br />

Entro na gaiola de silêncio<br />

e jogo a chave fora.<br />

Eu mesmo entro<br />

e eu mesmo jogo a chave fora.<br />

Eu me repito erro<br />

e arranho frio e duro<br />

no tempo raro<br />

de leveza e acalanto<br />

inalcançável depois<br />

passado.<br />

Não bastasse isso<br />

inicio o desmonte<br />

<strong>da</strong> minha casa antiga<br />

que não era minha<br />

mas parecia.<br />

Salvo primeiro<br />

os livros<br />

de poesia.<br />

vamos<br />

vamos para dentro.<br />

a casa, como eu sabia<br />

não era lin<strong>da</strong><br />

mas posso dizer<br />

que nunca foi tão<br />

como está...<br />

SEMPRE<br />

O MESMO<br />

DA VENDA<br />

A CASA: ACHA<strong>DO</strong> E PERDI<strong>DO</strong><br />

93


ventos passam<br />

mu<strong>da</strong>m tudo de lugar<br />

de um dia pro outro.<br />

vamos<br />

os degraus<br />

juntos<br />

são menores<br />

de mãos <strong>da</strong><strong>da</strong>s.<br />

vou falar baixinho...<br />

escuta<br />

puxa um sofá<br />

calma.<br />

escuta<br />

sem atrito<br />

e grades<br />

e espa<strong>da</strong>s<br />

por pelo menos nove estrofes?<br />

o frio trago<br />

em dias ímpares apenas<br />

mas sei que aqueço quem o divide comigo<br />

pares.<br />

sei que sim<br />

mesmo que não pareça<br />

não vá ain<strong>da</strong>.<br />

o frio aqui dentro<br />

lá fora<br />

é meu.<br />

mas frio<br />

é como aprendi<br />

a amar.<br />

nem houve tempo pra<br />

o problema talvez não tenha sido mesmo<br />

eu ter vivido em apenas um dia<br />

sem saber<br />

no susto<br />

boa parte dos riscos<br />

que evitei por 33 anos monásticos...<br />

porque eu estava vivo nesse dia.<br />

(um milagre)<br />

94


mas se o amor não pode assim<br />

a casa<br />

está aberta ain<strong>da</strong><br />

para o assado<br />

para o passado.<br />

mesmo partindo você<br />

em concreto silêncio<br />

foi lin<strong>da</strong> nossa <strong>da</strong>nça<br />

pela madruga<strong>da</strong>.<br />

sigamos<br />

eu e meu tendão<br />

an<strong>da</strong>ndo<br />

pra onde?<br />

meu deus<br />

preciso<br />

de um emprego!<br />

- Suncê tem paz?<br />

- Num tein num, sinhô misimfio.<br />

- E pastels?<br />

Andorinhas no crespúsculo<br />

horizontes no dourado<br />

alegria nos telhados.<br />

Para Julia<br />

No tempo de um dia perfeito<br />

quando esse dia é o último dia<br />

porque esse dia é o último dia<br />

(que dia não é o último dia dele mesmo?)<br />

caberia<br />

to<strong>da</strong> a <strong>da</strong>nça <strong>da</strong> eterni<strong>da</strong>de.<br />

Nasceu o dia<br />

em que vivi.<br />

Sem nódoa de mágoa<br />

armas inúteis<br />

defesas desgastas<br />

fugas mentais...<br />

Amando<br />

E CANTAN<strong>DO</strong><br />

PENSEI QUE NUNCA FALARIA ISSO MAS...<br />

UH, DIÁLOGO...<br />

VER HÃO<br />

POESIA<br />

95


apenas<br />

amando<br />

sem planos futuros<br />

amando<br />

sem motivos pré<br />

amando<br />

sem passado<br />

amando<br />

o bastante<br />

pra ser apenas<br />

esse dia.<br />

Perfeito.<br />

Na<strong>da</strong> mais.<br />

A poesia é invendável:<br />

não vende<br />

não se vende<br />

não se ven<strong>da</strong>.<br />

A poesia é inventável:<br />

não deixa de ser vento<br />

jamais.<br />

A poesia é inevitável.<br />

o sol<br />

piano suave<br />

entre árvores<br />

fogo<br />

as asas<br />

do pássaro<br />

passos lentamente<br />

braços<br />

disfarça<strong>da</strong>mente<br />

abertos<br />

minhas mãos<br />

cantando<br />

sua pele<br />

o suor<br />

me seca<br />

qualquer treva<br />

domingo, 10 de janeiro de 2010<br />

TROCA<br />

ENCONTRO<br />

96


O mar é manso<br />

nos dias<br />

úteis.<br />

Há palavras<br />

mágicas<br />

que em momentos<br />

mornos<br />

destrancam vi<strong>da</strong>s<br />

gela<strong>da</strong>s.<br />

DE<strong>DO</strong>S LIVRES<br />

INÍCIO <strong>DO</strong> INÍCIO<br />

LUKE<br />

Use a força, Luke. Sim, ela me queria tanto e tudo tão rápido que me assustei muito e minha razão<br />

descontrola<strong>da</strong> usou o sabre de luz na castanhola mística que se partiu para sempre. Já era. Sempre é<br />

sempre. Incolável. Depois, ela me querendo no hoje e eu não assustado, passei a querê-la, aberto e<br />

leve e vencendo a razão. A força enorme em mim. No amanhã, ela não me querendo mais, andei<br />

fênix. A ciran<strong>da</strong> de Drummond. No depois de amanhã, olhando a maravilha <strong>da</strong> vista, a glória do<br />

horizonte, já comecei a me concentrar no beco de Bandeira. Use a força, Luke. Mestre Marques,<br />

ensangüentado de touros, não me salvou <strong>da</strong> posse. Planos. Planos racionais. Medir e controlar riscos<br />

de sofrer futuramente. Luke, Luke... A sombra no meio de tanta luz. Estou aberto como um pato e<br />

pensando na beleza do que foi, vejo o que não mais será. Grandes riscos de sofrer futuramente.<br />

Porém só esse medo talvez já seja mais sofrimento presente do que o de qualquer futuro possível.<br />

Acordo suado no sono <strong>da</strong> tarde. O medo leva ao lado negro, Luke. No entanto, cabe dizer,<br />

castanhola estilhaça<strong>da</strong>, como posso querer qualquer futuro, ela com tantas cicatrizes? Não existe<br />

castanhola de metal líquido que se autosolde novamente. Como posso querer? Como posso não<br />

querer? Mas querer o que? Um nome e um hábito e uma posse mútua e eu engor<strong>da</strong>ndo e apelidos<br />

estranhos e uma rotina até que a mer<strong>da</strong> ou a morte nos detone? Querer o que? O que, meu deus? Ela<br />

só minha? C-3PO.<br />

Ela real: fim.<br />

A força: ain<strong>da</strong> em mim.<br />

A possibili<strong>da</strong>de<br />

tende a se tornar<br />

certeza.<br />

Vivo no não-lugar.<br />

Onde ca<strong>da</strong> quase<br />

toca o nunca.<br />

E sempre<br />

é muito<br />

longe.<br />

"Um menino caminha e caminhando chega no muro" - Toquinho (Aquarela)<br />

"All in all it's just another brick in the wall" - Roger Waters (Another Brick in the Wall)<br />

CUIDA<strong>DO</strong><br />

TEMPO VELOZ<br />

POSSO<br />

97


o mar é manso<br />

caminho<br />

passos leves<br />

encosto as mãos<br />

nos muros de sempre<br />

mágico não era o amor de um dia<br />

fora de mim<br />

mas o meu amar que revivia<br />

os muros sempre duros<br />

sempre lá<br />

os muros passados<br />

muros futuros<br />

sem murros<br />

consigo novamente derrubar<br />

caminho sorrindo<br />

a música do silêncio<br />

e a poesia dorme<br />

descoberta<br />

Amor profundo<br />

que me abra:<br />

trocar<br />

com o mundo<br />

respirar.<br />

silêncio<br />

a vi<strong>da</strong> leva<br />

a vi<strong>da</strong> traz<br />

arte de esperar<br />

em paz<br />

a vi<strong>da</strong> leva<br />

a vi<strong>da</strong> traz<br />

o beijo perfeito<br />

fugaz<br />

silêncio<br />

Venta.<br />

O céu ganhou<br />

profundi<strong>da</strong>de.<br />

Sobre mim<br />

YOGA 2010<br />

MAR<br />

<strong>DO</strong> CÉU AO CHÃO (ou EXPECTRUM PATRONUM)<br />

98


andorinhas em círculos.<br />

Sobre andorinhas<br />

gaivotas planam.<br />

Sobre gaivotas<br />

nuvens <strong>da</strong>nçam.<br />

Sobre nuvens<br />

o sol brilha<br />

e apaga<br />

e brilha de novo.<br />

Silêncio sagrado<br />

um halo colorido<br />

em volta do olho amarelo<br />

prenuncia...<br />

(POF)<br />

E não mais que de repente<br />

tudo<br />

tudo<br />

tudo<br />

tudo<br />

tudo o que eu<br />

vejo<br />

é essa menina lin<strong>da</strong><br />

senta<strong>da</strong> no quiosque<br />

as pernas pra cima<br />

descalça no vento<br />

lendo Harry Potter.<br />

Para o Coldplay, pela inspiração<br />

Toco o frio<br />

e o frio esquenta.<br />

A tensão aumenta<br />

até se derramar<br />

voz.<br />

A voz amplia<br />

espreme<br />

exprime<br />

experimenta<br />

o som tranqüilo<br />

dos ápices...<br />

E,<br />

ao final,<br />

LOVERS IN JAPAN<br />

99


derrete-se<br />

em borboletas.<br />

Meus poemas<br />

são lantejoulas<br />

sobre as grades<br />

entre mim e você.<br />

crepúsculo sagrado<br />

já posso an<strong>da</strong>r<br />

sem o punho fechado<br />

“Diga sim à vi<strong>da</strong>; abandone todos os nãos possíveis.” - Osho<br />

Estilhaços de traços antigos<br />

espólios de muros ao chão<br />

rebocos<br />

retratos partidos<br />

repartos...<br />

Não!<br />

A vi<strong>da</strong><br />

a mesma vi<strong>da</strong><br />

num turbilhão de cores<br />

canta canção de amores infindos<br />

por ca<strong>da</strong> janela aberta<br />

e não olhando as portas fecha<strong>da</strong>s<br />

<strong>da</strong>nço flores<br />

sobre o teto do céu.<br />

Sim!<br />

"Tu vens, tu vens / Eu já escuto os teus sinais" - Alceu Valença (Anunciação)<br />

vens um pouco<br />

em ca<strong>da</strong> on<strong>da</strong><br />

que espuma<br />

vem sem medo<br />

que é tua a pátria<br />

no meu peito<br />

todos os meus<br />

perdidos passos<br />

são pro teu abraço<br />

muito em breve<br />

MOTIVO MOR<br />

<strong>DO</strong>MINGO PERFEITO<br />

MAIS E MAIS BORBOLETRAS<br />

PREPARAÇÃO<br />

100


será tempo<br />

de perfeição<br />

minha poesia renasceu<br />

rio<br />

eu<br />

por favor não me alimente<br />

com a sombra dos casais<br />

se os par<strong>da</strong>is em pleno vôo<br />

ain<strong>da</strong> se amam mais<br />

Nós tentamos.<br />

E foi bom<br />

enquanto foi.<br />

olho tanto<br />

vejo ninguém<br />

olhos ardem<br />

no entanto<br />

quanto<br />

céu<br />

você me mostra<br />

suas partes<br />

mais secretas<br />

proibi<strong>da</strong>s águas<br />

de segredos<br />

doces<br />

no escuro<br />

de nossa clari<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong>nçamos no imaginário<br />

e minha mão<br />

leve<br />

te toca<br />

canção<br />

um armário aberto<br />

como o dia<br />

simples e maravilhoso<br />

Se me dissesses que vinhas cá dentro<br />

minha mão em tua pega<strong>da</strong><br />

meu sono sem som perdido<br />

tão rápido, tão preciso...<br />

O PASTOR E AS OVELHAS<br />

PENA<br />

MANTA ou MANTRA<br />

MOLHO DE CHAVES<br />

DIÁLOGO<br />

BROMATO<br />

101


Se me dissesses que era sim possível<br />

que era mesmo assim fantástico<br />

eu prometo que não acreditava.<br />

todos os poemas<br />

são<br />

de amor<br />

E se for hoje<br />

o dia?<br />

O mar<br />

(a mar)<br />

silencia.<br />

O mundo<br />

não responde.<br />

Mas celebro<br />

aqui dentro<br />

em silêncio<br />

como se fosse.<br />

O Rio de Janeiro<br />

é a melhor ci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> galáxia<br />

para se dirigir enamorado<br />

num sábado de sol.<br />

Seus olhos<br />

analisam minha pele<br />

constantemente ávidos<br />

tal qual ave rasa<br />

porém sem medo...<br />

Minha pele<br />

alisa sua pele<br />

tocando e cantando<br />

<strong>da</strong>nçando e ro<strong>da</strong>ndo<br />

amores de hoje<br />

sem se perder em alíseos vindouros...<br />

Talvez dois dias e três beijos<br />

seja o prazo perfeito<br />

para o amor eterno.<br />

O sol amarelo me dá poderes.<br />

Eu sou hoje todo sorriso<br />

COM TATO 2<br />

RITMO DE FESTA<br />

DIREÇÃO<br />

PELE<br />

LIBERTAÇÃO 2<br />

102


quando penso em tua i<strong>da</strong>de<br />

não preciso de cerveja<br />

pra urinar felici<strong>da</strong>de<br />

bem na porta <strong>da</strong> igreja:<br />

culpa, medo e mal<strong>da</strong>de...<br />

Virar a noite<br />

em dia...<br />

Até sem querer<br />

até sem saber<br />

toco vossa ovelha<br />

e ela mu<strong>da</strong> em gavião<br />

porque a vontade do sim<br />

sempre foi muito maior<br />

que a vontade do não.<br />

Meu universo:<br />

eu transo em trova<br />

sinto em prosa<br />

e gozo em verso.<br />

Ando sem pressa<br />

na praia<br />

e a gaivota<br />

lin<strong>da</strong>mente flecha<br />

lin<strong>da</strong>mente rápi<strong>da</strong><br />

lin<strong>da</strong>mente mata<br />

o peixe submerso<br />

(sem vaia).<br />

Eu falo a língua <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

e canto os ventos de maio<br />

em vez de achar a saí<strong>da</strong><br />

crio a passagem de um raio.<br />

Caminhei 6 anos de i<strong>da</strong>de<br />

e chego perfeito e não senil<br />

onde a psicanalista primeira previu:<br />

felici<strong>da</strong>de.<br />

A praia é hoje<br />

o passo no agora<br />

a coruja na árvore<br />

mais um acidente<br />

a mulher me olhando<br />

castelo de areia<br />

cansaço gostoso<br />

o som de Tim Maia<br />

num carro de funk<br />

na<strong>da</strong> impossível<br />

O VENTO SOLAR<br />

103


um cara voando<br />

por sobre o crepúsculo<br />

num treco vermelho<br />

eu gravo poemas<br />

e publico mundos<br />

eu passo o rasante<br />

e me ultrapássaro.<br />

As mulheres tantas<br />

tão distintas<br />

distintamente amando<br />

distintamente sendo ama<strong>da</strong>s<br />

tão minhas ali<br />

no apartamento pequenino.<br />

Tudo que passou<br />

será<br />

o que mais está<br />

aqui comigo<br />

(enorme).<br />

Estou em casa<br />

quando há uma espa<strong>da</strong> pendura<strong>da</strong> na parede<br />

e palavras troca<strong>da</strong>s<br />

(em ar, pele ou papel)<br />

com um amor.<br />

DESPEDIDA DA ZONA NORTE<br />

E ela goza com o rosto iluminado<br />

e dorme do meu lado a noite to<strong>da</strong><br />

e de manhã prepara um sanduíche só para mim<br />

e seus olhos me olham o tempo todo tão sorrisos<br />

que eu sou e falo e escrevo e sigo<br />

muito maior assim.<br />

ANTI-CITALOPRÁTICO VIOLENTO COM RAIOS GAMA<br />

Se há vi<strong>da</strong><br />

não há respostas prontas.<br />

(Entendeu, Mercado?<br />

Entendeu, Ciência?<br />

Entendeu, Igreja?)<br />

Úteis e dóceis<br />

deveríamos<br />

(deveríamos)<br />

não deixar nosso individualismo<br />

atirar em desconhecidos em Columbine.<br />

Deus me livre<br />

de passar a vi<strong>da</strong><br />

a passar de Bart<br />

para Homer Simpson.<br />

104


Ain<strong>da</strong> bem que eu ain<strong>da</strong> lia<br />

em minha infância fugidia<br />

como consumidor consciente<br />

gibis de Super-Heróis...<br />

Não sei onde estarei em 5 anos.<br />

(Nem quero saber...)<br />

Mas sei que não serei um débil mental amarelo no sofá<br />

e minha imaginação não estará morta cheia de tiros.<br />

Para Fagner<br />

Acreditar apenas<br />

no pulsar <strong>da</strong>s veias<br />

a-ce-le-rar<br />

na luz dos inícios<br />

re-as-cen-der!<br />

Para ela<br />

Nas entrelinhas desses versos<br />

as estrelinhas<br />

do seu sorriso.<br />

Vem<br />

traz teu fogo<br />

pro meu ar...<br />

Fin<strong>da</strong> o tempo<br />

de esperar.<br />

Te acelerar o pulso<br />

a respiração<br />

e a escrita.<br />

chove<br />

e venta<br />

no tempo<br />

menos um<br />

apartamento<br />

mais uma<br />

vontade<br />

SÓ QUEM PODE ME SEGUIR SOU EU<br />

ORTO<strong>DO</strong>NTIA<br />

VAZ<br />

MISSÃO BENDITA<br />

MATEMATECA<br />

105


Não.<br />

Não inventa.<br />

Não chora.<br />

Deixa ela ir.<br />

Deixa ela voar.<br />

É hora.<br />

Eu sou o homem que an<strong>da</strong>.<br />

Passam pessoas<br />

paixões<br />

imóveis<br />

refrigeradores vazios na garantia<br />

lugares<br />

retratos<br />

amores<br />

teorias...<br />

Eu sou o homem que an<strong>da</strong>.<br />

Querer passar as portas<br />

as janelas tortas<br />

(sombras de asas no telhado)<br />

o passado, porém, forte e duro<br />

colore os pássaros futuros<br />

de morte?<br />

outra forma de minhas mãos<br />

tocarem suas coxas<br />

é pelos versos<br />

pelo inverso de sua pele<br />

pela distância multiplica<strong>da</strong> por na<strong>da</strong><br />

proporcional a dentro<br />

dentro de tanto branco<br />

perto<br />

dentro de leve<br />

quente<br />

dentro semente<br />

dentro<br />

(deliciosamente)<br />

inicia pelo nariz<br />

um tremor<br />

contração de olhos<br />

abertos<br />

atentos<br />

DA CRIAÇÃO DE AVES (OU O TERCEIRO DIA)<br />

AN<strong>DO</strong> ESCREVEN<strong>DO</strong> DEMAIS<br />

ENCONTRO NOS ARES<br />

PRA ELA<br />

ABRE-SE<br />

106


pele que se curva<br />

em prazer<br />

e <strong>da</strong>nça<br />

lábios que se erguem<br />

sem maestros<br />

e então<br />

estrelas<br />

muitas<br />

sobre dentes<br />

brancos<br />

Fabio,<br />

aprende,<br />

Fabio.<br />

Já é hora.<br />

Amor<br />

não se escolhe<br />

não se inicia<br />

não se nomeia<br />

não se compara<br />

não se planeja:<br />

se aceita...<br />

Vem como vem<br />

dos lugares menos possíveis<br />

com os maiores problemas insolúveis<br />

mas vem.<br />

Aceita.<br />

Senta aí um pouco...<br />

Toma um gole de água.<br />

Isso.<br />

Ele nasce de uma invenção<br />

vem do na<strong>da</strong><br />

e vai, então.<br />

Aceita também.<br />

Deita nesse colchão<br />

faz um poema, liga o som<br />

e dorme bem...<br />

Hoje é noite<br />

não durmo<br />

antes de amanhã<br />

AUTO-CARTA<br />

MAS A VIDA NÃO É <strong>DO</strong>CE?<br />

107


amanhã será só quinta<br />

antes de sexta<br />

doce<br />

sexta-feira será a última sexta-feira<br />

seu pescoço<br />

antes de domingo<br />

lambo.<br />

Domingo é cachimbo<br />

onde tudo<br />

fin<strong>da</strong>.<br />

Coleciono últimos dias.<br />

Ela é lin<strong>da</strong><br />

e branca.<br />

(Dezenove anos.)<br />

Penduro<br />

no duro<br />

passados gloriosos<br />

mesmo antes<br />

de passarem...<br />

Ela é branca<br />

e fin<strong>da</strong>.<br />

Coleciono<br />

últimos<br />

dias.<br />

(Não é culpa de ninguém.)<br />

Minha avó<br />

me dá mate ain<strong>da</strong><br />

com cinco colheres cheias de açúcar<br />

além do tempo cronológico<br />

pinga.<br />

Penetro<br />

o rosa<br />

do dia<br />

nascente.<br />

Postes<br />

apagam.<br />

Ilhas<br />

sombram.<br />

CE<strong>DO</strong> ENCONTRO<br />

108


Te amando<br />

aprendo<br />

que amar<br />

não é per<strong>da</strong><br />

ou ganho...<br />

Te amando<br />

cedo<br />

sem trocar.<br />

E tocando<br />

fundo<br />

sou tocado<br />

pleno.<br />

(Música interna celebrando a vi<strong>da</strong>!)<br />

Te amando<br />

aprendo<br />

a amar<br />

e deixar<br />

ir.<br />

Cheiro de cola<br />

a favela<br />

atrito de pedras sem astros<br />

atrasos e prazos corridos<br />

grunhidos e gritos estrábicos<br />

benditas igrejas malditas<br />

lá fora<br />

lá fora<br />

no meu estômago.<br />

Um poema (me) agarro<br />

nesse dia horroroso<br />

prendo a rima com escarro<br />

mas não perco o amoroso.<br />

quero saber sua alma<br />

e sentir seu pescoço<br />

com minha respiração<br />

a pedra se move<br />

sob minhas pernas<br />

oculta por terras vermelhas<br />

a terra se move mar<br />

quando estendo minhas mãos enormes<br />

pros teus seios impossíveis<br />

AMAN<strong>DO</strong> CE<strong>DO</strong><br />

ATRAVÉS DA JANELA (PRATELEIRAS NO QUARTO)<br />

DA FORÇAÇÃO<br />

O QUE EU QUERO SABER?<br />

109


nuvens no ar entre mim e ti<br />

ares muito luares e longes<br />

meus sonhos imaginam<br />

o que você já é<br />

se<br />

eu<br />

te<br />

tocar<br />

(raios)<br />

Cair do mais alto<br />

com a cara no mais chão<br />

em sonho duro<br />

e acor<strong>da</strong>r pesado.<br />

O fantasma.<br />

O fantasma.<br />

O fantasma.<br />

O fantasma<br />

sem vi<strong>da</strong><br />

em sonho<br />

me amarra<br />

ao peso.<br />

Arrasto ain<strong>da</strong><br />

essa âncora antiga<br />

no lado escuro<br />

<strong>da</strong> mente nua?<br />

Arrasteço?<br />

Arrastão?<br />

Mas o tubarão<br />

não para de na<strong>da</strong>r<br />

mesmo perdendo sangue<br />

e caramujos.<br />

Essa cor<strong>da</strong> cheia de musgos<br />

em alguma hora silenciosa<br />

vai arrebentar.<br />

KRYPTONITA NO INCONSCIENTE<br />

110


A origem<br />

de Adão e Eva como metáfora<br />

foi Darwin.<br />

Eu ando e ando e ando<br />

e na<strong>da</strong>.<br />

Planejo fazer poemetos<br />

herméticos<br />

sobre tartarugas e nematocistos<br />

que nem na teoria saem <strong>da</strong> água...<br />

Mas quando te vejo<br />

o sorriso abrindo<br />

desejo<br />

palavras mágicas<br />

de todos os dedos pingam<br />

e mãos felizes<br />

<strong>da</strong>nçam<br />

nos teclados.<br />

É preciso seguir<br />

pianos<br />

vozes<br />

aero planos:<br />

amar.<br />

O mar traz.<br />

Por entre ilhas para<strong>da</strong>s<br />

e vi<strong>da</strong>s estagna<strong>da</strong>s<br />

dedos pesados<br />

sorrisos pensados<br />

na busca irrisória<br />

de certezas e eterni<strong>da</strong>des<br />

finca<strong>da</strong>s no fundo insólito<br />

de areia...<br />

O mar traz.<br />

E leva<br />

e traz<br />

até levar-te.<br />

segun<strong>da</strong>-feira, 1 de fevereiro de 2010<br />

A ORIGEM DAS ESPÉCIES<br />

AUTOMÁTICO<br />

PLANOS DE AR<br />

LAVARTE<br />

111


De onde<br />

essa raiva?<br />

A mesma raiva?<br />

Raiva nova?<br />

Arranhando a ausência de que?<br />

De quem?<br />

Elas chovem.<br />

E eu relampejo.<br />

Vendi um carro,<br />

alguém me ama...<br />

De manhã cedo<br />

como banana...<br />

E sigo roendo raiva<br />

no escuro?<br />

E sigo roendo essa raiva<br />

no escuro?<br />

E sigo roendo essa mesma raiva<br />

no escuro?<br />

não planejo na<strong>da</strong><br />

além de sua<br />

chega<strong>da</strong><br />

hoje<br />

agora<br />

presente<br />

sua vin<strong>da</strong><br />

sua boca rindo<br />

olhos corpo rosto lindo<br />

PRAZO<br />

MEU AMOR VEM<br />

A MORTE, O FIM, A DESPEDIDA, A TRANSITORIEDADE E O ME<strong>DO</strong> NO INCONSCIENTE <strong>DO</strong><br />

EU LÍRICO <strong>DO</strong>RMENTE (UMA PSICO-ANÁLISE VIA POESIA)<br />

A festa acabou<br />

na casa antiga<br />

e enorme.<br />

É tarde.<br />

Pessoas demais.<br />

Não quero ler mais na<strong>da</strong>.<br />

Apago as luzes acesas<br />

112


tranco as portas escancara<strong>da</strong>s<br />

que é noite ain<strong>da</strong><br />

madruga<strong>da</strong>.<br />

Noite.<br />

Vozes me acompanham<br />

e um cão em ossos negros<br />

morto<br />

an<strong>da</strong> comigo.<br />

No quarto antigo<br />

e meu<br />

uma paixão mal acaba<strong>da</strong> fala mal de mim<br />

a ama<strong>da</strong><br />

deita<strong>da</strong> nos braços de outro cara<br />

feio asqueroso filha <strong>da</strong> puta burro<br />

e deixo minha cama bem grande e minha<br />

para transarem em cima pela noite adentro<br />

sem dizer na<strong>da</strong><br />

sem dizer<br />

na<strong>da</strong>...<br />

Enquanto isso<br />

uma por vir<br />

e outra inicia<strong>da</strong>.<br />

Mu<strong>da</strong>m os nomes<br />

e <strong>da</strong>tas<br />

(às vezes, nem isso).<br />

Pessoas demais.<br />

Desço as esca<strong>da</strong>s<br />

trancando a apagando<br />

e nunca parece bastar.<br />

Pessoas demais.<br />

Amando?<br />

Amando quem, caralho?<br />

A mando de quem, amar?<br />

Quero uma só.<br />

Quero uma só?<br />

Quero uma só<br />

que não me seja faca<br />

só lâmina<br />

no final...<br />

113


Mas sem ser fraca<br />

não perca o brilho<br />

do metal.<br />

Uma<br />

só.<br />

As vozes de fora<br />

me falam de alguém me chamando<br />

perto <strong>da</strong> máquina de lavar.<br />

É minha irmã bem casa<strong>da</strong><br />

no chão, sem queixo, machuca<strong>da</strong><br />

tentando se proteger do cachorro sem plumas<br />

maldito manco morto deformado e negro.<br />

Alguém chama<br />

uma ambulância?<br />

Pessoas?<br />

Vozes de fora?<br />

Alguém?<br />

Do cão<br />

do fim<br />

eu te protejo.<br />

palavras escarpa<strong>da</strong>s<br />

dentifrício de céu<br />

falésias e falências<br />

desabando em câmera lenta<br />

bonitas<br />

bonitas musicais inteligentes criativas novas<br />

lavrar noites em silêncio e solidão acompanha<strong>da</strong><br />

colher dias de amor<br />

algodão-doce<br />

tudo claro<br />

tudo causticamente claro e infantil<br />

seguir sem se curvar ao vento<br />

alimento<br />

de lembranças<br />

o edifício<br />

o difícil fechar de to<strong>da</strong>s as janelas e portas<br />

quando alcançar<br />

o sol<br />

Na vi<strong>da</strong><br />

se esperaram<br />

AMON HÁ FICTÍCIO<br />

ARVOCÊ<br />

114


estu<strong>da</strong>ndo botânica<br />

mas passaram a largo<br />

sem trocar seivas.<br />

No leito derradeiro<br />

coincidentemente lado a lado<br />

os uniu no tempo<br />

o que mais amaram.<br />

Uma casca pétrea<br />

uma estátua viva<br />

de suas mãos <strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />

floresceu enorme.<br />

A vi<strong>da</strong> é óbvia.<br />

Enquanto a poeira <strong>da</strong> noite<br />

vem noite<br />

a pós noite<br />

com dores superficiais<br />

cobrindo dores profun<strong>da</strong>s<br />

que pouco a pouco desaparecem<br />

sob a negritude do tempo...<br />

A vi<strong>da</strong> é óbvia.<br />

E o Faustão tem muitos amigos nos domingos.<br />

QUER PERDER 15 KG E SER FELIZ? FALE COMIGO!<br />

Das amendoeiras não caem jacas, patos assados, sementes de automóveis ou ovos.<br />

E esse coração de fato<br />

bate animado novamente<br />

aéreo, móvel<br />

com a magia do novo<br />

e o aprendizado de que...<br />

A vi<strong>da</strong> é irritantemente óbvia.<br />

(Sim, talvez caiam ovos.)<br />

Por tal e qual<br />

semelhante isso<br />

cabe dizer que<br />

não posso desembainhar a espa<strong>da</strong><br />

contra amigo, inimigo,<br />

amor novo, amor antigo<br />

ou qualquer desconhecido<br />

pelo simples fato<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> ser óbvia,<br />

Dante.<br />

Enquanto meu poema não for totalmente insano e imprevisível é porque<br />

115


não queria ter<br />

acor<strong>da</strong>do<br />

hoje<br />

Preciso de um emprego de oito horas<br />

e um apartamento<br />

não de tormento.<br />

Morreu Jesus<br />

por nossos pecados<br />

na cruz.<br />

- Pequemos!<br />

berílio<br />

magnésio<br />

cálcio<br />

estrôncio<br />

bário<br />

e rádio<br />

lítio<br />

sódio<br />

potássio<br />

rubídio<br />

césio<br />

e frâncio<br />

O, S, Se, Te, Po -2<br />

F, Cl, Br, I, At -1<br />

cima cima baixo baixo esquer<strong>da</strong> direita esquer<strong>da</strong> direita Y B X A<br />

cima cima baixo baixo esquer<strong>da</strong> direita esquer<strong>da</strong> direita Y B X A<br />

Qual o nome do navegante árabe com Vasco <strong>da</strong> Gama?<br />

Ahmad Ibn Majid<br />

Ahmad Ibn Majid<br />

Não.<br />

Não me arrependo<br />

de na<strong>da</strong>.<br />

Essa<br />

é minha cruza<strong>da</strong>.<br />

Minha essência<br />

OPEN YOUR EYES, NEO<br />

A VIDA É ÓBVIA<br />

PEQUENOS (OU O MÍNIMO A FAZER)<br />

MENTE VAZIA<br />

EWIGE WIEDERKUNFT<br />

116


é jogar os pássaros pro céu.<br />

Mesmo que no calor do Rio de Janeiro<br />

eles prefiram o chão<br />

e se cubram com pele de cordeiro<br />

no verão<br />

e se amarrem à pedra sobre a qual<br />

se construiu essa igreja anti-natural<br />

com cabeças baixas e graves<br />

(palmas pra Jesus).<br />

Mesmo com chagas<br />

nas minhas mãos<br />

de tantas bica<strong>da</strong>s...<br />

Não me arrependo de na<strong>da</strong><br />

e faria tudo outra vez<br />

e-x-a-t-a-m-e-n-t-e igual.<br />

Para Aman<strong>da</strong> Vaz Teixeira<br />

a vi<strong>da</strong><br />

crepita<br />

e premia<br />

constantemente<br />

mesmo que ca<strong>da</strong> parti<strong>da</strong><br />

queime muito<br />

muito quente<br />

(velas<br />

sem barcos<br />

nem bússolas<br />

na mão<br />

<strong>da</strong> janela)<br />

nem um mísero dia<br />

se passou<br />

até tua chega<strong>da</strong> vindoura<br />

e essa suave surpresa saborosa<br />

de palavras<br />

doces<br />

presentes<br />

“Ser como o rio que deflui...<br />

Silencioso dentro <strong>da</strong> noite.<br />

Não temer as trevas <strong>da</strong> noite.<br />

Se há estrelas nos céus, refleti-las.<br />

E se os céus se pejam de nuvens,<br />

LINDA(MENTE)<br />

DIZER ADEUS SORRIN<strong>DO</strong><br />

117


Como o rio as nuvens são água,<br />

Refleti-las também sem mágoa<br />

Nas profundi<strong>da</strong>des tranqüilas.”<br />

(Manuel Bandeira)<br />

Fazer do encontro, arte.<br />

Conquista<strong>da</strong> essa parte<br />

fazer <strong>da</strong> despedi<strong>da</strong><br />

beleza<br />

um passo de <strong>da</strong>nça<br />

um acenar suave<br />

uma leveza...<br />

(Tão difícil<br />

quanto levitar uma mesa<br />

de mármore.)<br />

"Minha estrela guia desvia e me atropela." - Alice Ruiz<br />

enquanto o Nirvana não vem<br />

relampeja<br />

e me encolho<br />

trovões<br />

a tempestade<br />

próxima e alta<br />

é quase<br />

cala<strong>da</strong> noite negra<br />

o olho do vento<br />

derruba folhas<br />

e por mais<br />

que nasçam mais<br />

quando caem<br />

sou menos<br />

caminhar<br />

mais leve<br />

que nunca<br />

caminhar<br />

deliciosamente<br />

onde sempre estive<br />

nenhum véu<br />

através<br />

do rosto<br />

SEM REDE DE PROTEÇÃO<br />

SIDDHARTA<br />

118


quase sorrindo<br />

aceitar<br />

a condição íntima<br />

que me define<br />

sob esse lindo<br />

céu:<br />

eu estou na busca<br />

Finalmente<br />

consegui um carro preto<br />

para colocar<br />

no meu adesivo<br />

do Batman.<br />

Nunca o mar esteve tão azul,<br />

Marisol.<br />

o mar<br />

estado<br />

<strong>da</strong> alma<br />

aceito<br />

o mal-estar<br />

de todo e qualquer<br />

caos<br />

amar é<br />

a maré<br />

que vem<br />

e vai<br />

todos os azuis<br />

cabem no mar<br />

a mar é<br />

mergulhar e se perder<br />

no outro<br />

perder o outro<br />

e se sentir<br />

perdido<br />

mas é isso<br />

tudo isso<br />

sem males ou mares a mais<br />

amor<br />

amar é cheia<br />

DA IMPORTÂNCIA <strong>DO</strong> SIMBÓLICO<br />

MARADENTRO<br />

119


na vi<strong>da</strong> vazia<br />

a maré vazante<br />

<strong>da</strong> fonte<br />

que esvai-se do peito<br />

amar é tudo isso<br />

há mar é máscara parti<strong>da</strong><br />

mágoa ressenti<strong>da</strong><br />

mácula dos poros<br />

mágica de inícios<br />

música<br />

epifania<br />

sacrifício<br />

espa<strong>da</strong>s<br />

marulho<br />

interminável<br />

"A<strong>da</strong>pte-se, Neo." - Morpheus (Matrix)<br />

ain<strong>da</strong> sou<br />

o mesmo homem<br />

no barquinho<br />

no meio do caos<br />

raios<br />

tempestades<br />

on<strong>da</strong>s<br />

ventos...<br />

ain<strong>da</strong><br />

grito<br />

pro na<strong>da</strong><br />

"man<strong>da</strong> mais"<br />

porém<br />

hoje<br />

é menos caos<br />

e mais <strong>da</strong>nça<br />

menos grito<br />

e mais canto<br />

o problema<br />

não é o mar<br />

nem amar<br />

é a noite<br />

REVISITAN<strong>DO</strong> POEMAS MARÍTIMOS<br />

E SEU SILÊNCIO<br />

120


o vento espalha meus pe<strong>da</strong>ços<br />

o fantasma continua brincando de viver<br />

com quem acredita<br />

que há vi<strong>da</strong> nele<br />

o vento me espalha pelo chão<br />

trinco a mão<br />

e depois salto<br />

o chão acolhe meus pe<strong>da</strong>ços<br />

o vento entra nos meus olhos<br />

e minhas pernas fatiga<strong>da</strong>s<br />

se movem sozinhas<br />

através <strong>da</strong> inutili<strong>da</strong>de do crepúsculo<br />

você é forte, Fabio.<br />

puta que pariu,<br />

você é forte.<br />

ser forte<br />

não é ser insensível<br />

é sentir essas porra<strong>da</strong>s infin<strong>da</strong>s<br />

tanto e tanto<br />

tamanhas e tamanhas<br />

virar pó, vácuo, na<strong>da</strong><br />

e no entanto (tanto)<br />

seguir<br />

só podendo socar<br />

o vento<br />

que foge...<br />

seguir<br />

duro como essa areia<br />

que se espalha...<br />

você agüenta.<br />

repita com seu torcicolo:<br />

você agüenta.<br />

você agüenta o vento...<br />

você agüenta.<br />

no final<br />

foi tudo<br />

só um sonho<br />

de um deus bêbado, invisível e filha<strong>da</strong>puta<br />

que não existe<br />

elas vão por ar<br />

vão por terra<br />

MINA (UM POEMA DUPLO)<br />

121


vão por mar<br />

vão<br />

(pra puta que pariu)<br />

mas o pior de tudo<br />

é que<br />

uma a uma<br />

vão<br />

como eu posso<br />

estar de pé<br />

e caminhando<br />

pelo último<br />

pelo sempre último dia<br />

que sangra<br />

depois disso?<br />

como diabos eu consigo?<br />

(breve pausa)<br />

eu sei<br />

eu sei,<br />

no fundo...<br />

eu sei:<br />

no meio de to<strong>da</strong> essa mer<strong>da</strong><br />

minha poesia eterna<br />

floresce<br />

é terna<br />

e não me abandona.<br />

a vi<strong>da</strong> tão forte<br />

borbulhando<br />

tão viva<br />

onde eu estava?<br />

cansado de poetar<br />

a magia <strong>da</strong> paixão certinha, medi<strong>da</strong>, segura e planeja<strong>da</strong><br />

eu caio na paixão real<br />

inspiro<br />

e mordo<br />

brigo<br />

bato<br />

apanho<br />

cravo<br />

estrago<br />

FOLHAS (OU SOBRE COMO NÃO DESVIAR DAS BALAS)<br />

122


arrombo<br />

sangro<br />

corro<br />

agarro<br />

deixo<br />

beijo<br />

arrisco<br />

arrisco<br />

arrisco<br />

me fodo<br />

mas vivo.<br />

E se a estra<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> paixão pro amor<br />

estiver sempre interdita<strong>da</strong>?<br />

Para Ígor Andrade<br />

A noite<br />

é grande<br />

sim<br />

Mas<br />

suportável<br />

com amigos<br />

para dividi-la<br />

E<br />

muito<br />

menor<br />

no dia<br />

seguinte<br />

canso<br />

descanso<br />

e recanto<br />

Querido diário,<br />

DESVIO: AMIZADE<br />

OBRIGA<strong>DO</strong><br />

VOCÊ NÃO CANSA?<br />

QUERI<strong>DO</strong> <strong>DIÁRIO</strong><br />

Contra o meu isolamento total do mundo (arduamente aprendido desde cedo), tentei você, ler,<br />

poetar, endeusar, cinema, gibis, religiões, me especializar com o Ryu no Street Fighter, tocar violão,<br />

RPG, namorar, música clássica e new age, Simpsons, séries estadunidenses, seitas secretas com<br />

anúncios em ônibus, 3 facul<strong>da</strong>des, 1 estágio, 2 empregos, casar, animes, loucamente me arriscar na<br />

paixão, fantasiar... Tentei ufologia, esoterismo, tarô, I-Ching, simbologia, Freud, rock, Nietzsche,<br />

Heráclito, Jung, caminhar, Yoga... Tentei de tudo. Mantive o poetar apenas... E continuei ansioso. E<br />

não me sentindo na<strong>da</strong> bem sozinho. Agora, com algumas noites de pânico, inclusive.<br />

Sim, recentemente houve alguma abertura. Alguma melhora. Houve. É fato. Não basta. Outro fato.<br />

123


Por isso mesmo, cogito na hipótese de ouvir o universo (na voz de uma antiga e queri<strong>da</strong> mestra) e<br />

entrar na Somaterapia. Por mim e pela próxima mulher ao meu lado. Pelos amigos futuros... Por<br />

mim, sobretudo.<br />

Após isso, estou oficialmente encerrando as buscas. (Não os poemas.)<br />

Para todo o sempre. Eternamente. Até maio.<br />

E se<br />

em algum ponto azul<br />

do passado<br />

havia um muro<br />

que eu não deveria<br />

ter quebrado?<br />

VITÓRIA?<br />

AN<strong>DO</strong> ANDAN<strong>DO</strong><br />

"0 passado é uma selva de monstros." - Minha irmã citando o filme "Lobisomen", em cartaz nos<br />

cinemas<br />

tudo passa<br />

tudo broxa<br />

poemas a caneta<br />

se dissolvem nas coxas<br />

que se vão<br />

vou comer brócolis<br />

que evita o câncer<br />

o futuro está lá<br />

ain<strong>da</strong><br />

horizonte lindo<br />

meta mágica intocável<br />

no mesmo lugar<br />

eu<br />

não perdi<br />

o futuro<br />

e caminho para ele<br />

paixão é doença<br />

droga<br />

ilusão<br />

Vivo em minha própria casa,<br />

Jamais imitei algo de alguém<br />

E sempre ri de todo mestre<br />

Que nunca riu de si também.<br />

GEMINIANAMENTE VOS AFIRMO:<br />

PRONTOFALEI<br />

124


(Inscrição sobre a minha porta) - Friedrich Nietzsche, abertura do "A Gaia Ciência"<br />

Estou cansado<br />

dos mestres maravilhosos em teoria<br />

que vivem pior do que eu.<br />

- Quer um pe<strong>da</strong>ço de pêra, Fabio?<br />

Pera...<br />

Fábio?<br />

Quem é Fábio?<br />

Eu curo a dor<br />

com meu cor<br />

po.<br />

MANHÃ DE CARNAVAL<br />

UM PONTO FINAL<br />

EXERCÍCIO<br />

Uma hora tardia você olha para trás com a consciência de que ca<strong>da</strong> per<strong>da</strong> trouxe também uma<br />

chega<strong>da</strong>. E que nenhuma delas foi definitiva. Que dessas on<strong>da</strong>s fez-se sua vi<strong>da</strong>. E o sentido dela<br />

nasceu em ca<strong>da</strong> vin<strong>da</strong>, e morreu a ca<strong>da</strong> saí<strong>da</strong>, porque sempre foste exagerado. O momento idoso de<br />

olhar pra trás e além do tempo se aproxima a ca<strong>da</strong> carnaval, a ca<strong>da</strong> dia dos namorados. Olhe e chore<br />

a despedi<strong>da</strong>, mas abra a maldita mão para a nova ama<strong>da</strong>.<br />

Ela virá na hora futura<br />

numa solitária hora<br />

em que eu lia lindo<br />

algo que me doía fundo.<br />

Ela virá<br />

e de voz mansa<br />

me falou:<br />

- Descansa.<br />

Pensando bem<br />

meu caos é mais antigo<br />

não tem causa ou nome definido.<br />

A voz de Clarice Lispector me acalma.<br />

Esse momento<br />

no contínuo espaço-tempo<br />

não me basta.<br />

O peito aperta<br />

também por isso.<br />

Porque estou agora<br />

na Mongólia, meditando,<br />

fumando um charuto em Cuba,<br />

ALL I NEED<br />

OU TOCA OU NÃO TOCA<br />

ARERÊ<br />

125


pulando Chiclete em Salvador,<br />

com uma amante na Grécia,<br />

baixando a porra<strong>da</strong> em Gotham,<br />

cantando My Way no carnaval,<br />

vendo um filme de mãos <strong>da</strong><strong>da</strong>s,<br />

e fazendo este poema<br />

e mal.<br />

"Não importa o que fizeram de nós, mas o que fazemos com o que fizeram de nós" - Sartre<br />

Eu sou teu mistério<br />

você é meu segredo<br />

minha mão<br />

no seu medo<br />

minha visão<br />

no seu rosto<br />

sem intenção<br />

ou desgosto.<br />

MARÍTIMA<br />

RES-PI-RAR<br />

“Feliz é a inocente virgem; Esquecendo o mundo e sendo por ele esqueci<strong>da</strong>. Brilho eterno de uma<br />

mente sem lembranças; To<strong>da</strong> prece é ouvi<strong>da</strong>, to<strong>da</strong> graça se alcança.” - Alexander Pope<br />

Noite passa<strong>da</strong><br />

eu dormi<br />

sobre meu pânico<br />

e quando ele mordia<br />

eu quase dormia<br />

doía<br />

e deixava.<br />

"E que morra a puta que pariu minha tristeza." - Adélia Prado<br />

Um cachorro preto<br />

todo osso<br />

tempo demais<br />

junto<br />

eu chuto, cuspo, expulso:<br />

- Passa! Passa!<br />

Junto<br />

tempo demais<br />

junto<br />

arrumo a cama<br />

pra outros dormirem<br />

o cachorro junto<br />

de osso preto.<br />

L´AMOUR<br />

126


SIMPLES ASSIM<br />

"Recomeça... Se puderes, sem angústia e sem pressa e os passos que deres, nesse caminho duro do<br />

futuro, dá-os em liber<strong>da</strong>de, enquanto não alcances não descanses, de nenhum fruto queira só a<br />

metade..." (Miguel Torga)<br />

O vento balança<br />

o pendurado.<br />

A cor<strong>da</strong><br />

dura.<br />

O cachorro<br />

passa.<br />

Meu eu te amo<br />

mora na falésia ao lado<br />

de quem te odeia<br />

(cantou a sereia).<br />

Deixa eu me salvar<br />

te salvando<br />

do dragão...<br />

Gosto de beijar<br />

com a vontade do vulcão<br />

ou delicadeza de mulher<br />

esses lábios pequenos.<br />

A língua<br />

de parti<strong>da</strong><br />

no encontro<br />

é chega<strong>da</strong>.<br />

As mãos inventam<br />

contornos sinuosos<br />

de seu corpo branco<br />

na folha pura.<br />

Deita no meu colo<br />

nua e lua<br />

que teu respirar<br />

acelerado quer a paz<br />

dos dedos certos.<br />

Para Vanessa Souza Moraes<br />

é quando<br />

leio a coisa certa<br />

(ou a erra<strong>da</strong>)<br />

CUIDA<strong>DO</strong><br />

PRINCESA DE NEVE<br />

ESTA<strong>DO</strong> PLEXO<br />

127


e quando uma música lenta<br />

e quando uma cena corta<strong>da</strong><br />

mas acho maravilhoso<br />

a princípio<br />

(oh, glória!)<br />

e no seguinte<br />

sumo eu<br />

e qualquer resquício de precária paz<br />

e resta flutuando<br />

no meio de tudo<br />

além do espaço<br />

esse peito indefinível<br />

em chamas, em pânico, em frenesi de dor, ácido<br />

e estou fora do tempo<br />

longe do momento<br />

o passado é i-n-a-c-r-e-d-i-t-á-v-e-l<br />

e o futuro, imprevisível<br />

Querer mais<br />

que o médio<br />

o meio<br />

o tédio<br />

o morno<br />

o quase<br />

o morto.<br />

DAS COISAS QUE APRENDI<br />

SEM RAIVA?!<br />

"O correr <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> embrulha tudo. A vi<strong>da</strong> é assim: esquenta e esfria, aperta e <strong>da</strong>í afrouxa, sossega e<br />

depois desinquieta. O que ela quer <strong>da</strong> gente é coragem." - João Guimarães Rosa<br />

Na<strong>da</strong> é tão<br />

como era<br />

então.<br />

(Exceto talvez a paixão...)<br />

Se a raiva passa<br />

o medo<br />

aumenta.<br />

Ela ali inteira<br />

fora <strong>da</strong> piscina<br />

esperando<br />

pra me lavar a mão<br />

depois <strong>da</strong> artificial cachoeira<br />

128


to<strong>da</strong> de branco<br />

sem marchas, pais, religião<br />

era real?<br />

Era bom?<br />

(Fecharam a água:<br />

peixes morrendo no chão<br />

raso do sonho.)<br />

Ela ali de pé<br />

tão grande<br />

quanto minha ilusão<br />

senta<strong>da</strong><br />

na mesa redon<strong>da</strong><br />

meu medo branco.<br />

O sonho<br />

o sono<br />

o amor<br />

a ira<br />

a água<br />

acaba<br />

sem motivo<br />

ou aviso.<br />

Apanho<br />

minha mala<br />

branca de dor suportável<br />

e de medo controlável<br />

(sem raiva?!).<br />

Aceito-a.<br />

Olho a estra<strong>da</strong>.<br />

É feia.<br />

E nunca houve um estrela.<br />

Acordo e ando.<br />

De quando em vez<br />

esteja com quem estiver<br />

o som <strong>da</strong>s vozes baixa<br />

e entro num estado de solidão.<br />

Minha voz se cala<br />

não me prendo a na<strong>da</strong><br />

(que se veja, ouça ou sinta)<br />

e alguma paz não há.<br />

COMO NUM AQUÁRIO<br />

129


Essa é minha essência<br />

meu escrever de alguma forma<br />

se liga a esse templo.<br />

Não é culpa<br />

de ninguém.<br />

Nem há como<br />

fugir disso.<br />

O homem<br />

sensível<br />

não sabe<br />

o que fazer<br />

com sua dor.<br />

A mulher<br />

sente<br />

mas suporta melhor<br />

desde sempre.<br />

Leonar<strong>da</strong> é alta<br />

parece forte<br />

e não precisar de mim.<br />

Leonar<strong>da</strong> é assim<br />

como to<strong>da</strong> mulher<br />

(de início).<br />

Leonar<strong>da</strong><br />

me arde<br />

não ter...<br />

Me arranha<br />

estar lá<br />

eu aqui...<br />

Leonar<strong>da</strong><br />

tão alta e felina<br />

leopar<strong>da</strong>.<br />

Eu <strong>da</strong>nço no palco <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

em vez de procurar<br />

metodicamente<br />

uma saí<strong>da</strong>.<br />

Minha essência<br />

é mu<strong>da</strong>r.<br />

OS SEXOS<br />

LEONARDA<br />

INCRÍVEL MAS<br />

MARÍTIMO<br />

130


Não me basta<br />

ser rio<br />

se posso<br />

ser mar.<br />

PARA CLARICE LISPECTOR<br />

"Nova era, esta minha, e ela me anuncia para já. Tenho coragem? Por enquanto estou tendo:<br />

porque venho do sofrido longe, venho do inferno de amor mas agora estou livre de ti. Venho do<br />

longe - de uma pesa<strong>da</strong> ancestrali<strong>da</strong>de. Eu que venho <strong>da</strong> dor de viver. E não a quero mais. Quero a<br />

vibração do alegre. Quero a isenção de Mozart. Mas quero também a inconseqüência. Liber<strong>da</strong>de?<br />

é o meu último refúgio, forcei-me à liber<strong>da</strong>de e agüento-a não como um dom mas com heroísmo:<br />

sou heroicamente livre. E quero o fluxo." - Clarice Lispector (Água Viva)<br />

Mergulho em Clarice Lispector por três páginas e tenho que parar para escrever e respirar. Para não<br />

me perder. A pintura sinuosa de sua palavra me brilha os olhos. Adianto fatos para não ter que<br />

percebê-los. Amores resolvidos e vi<strong>da</strong> conquista<strong>da</strong>. O eterno duelo com o definitivo que cisma de<br />

não existir. Escondo minha ansie<strong>da</strong>de debaixo do tapete. "Elas" é uma palavra forte. "Ela", pior<br />

ain<strong>da</strong>. Perdi o escudo <strong>da</strong> raiva e jogo a leveza no mar sem água. Peixes mortos. Na<strong>da</strong> a fazer. Eu<br />

lavo as minhas mãos. Ela enxuga. Embrulho palavras com papel laminado de dias. Noites não, que<br />

noites podem ser frias. Experimento a liber<strong>da</strong>de <strong>da</strong> palavra viva. Da palavra mágica que corre aqui e<br />

acolá, faz piruetas e saltos na língua imóvel, enorme, plana, estagna<strong>da</strong> a espera de algo. Sim, de<br />

certo que tenho fome, que é hora quase de almoçar. Sim, eu gosto de comer conforme o relógio.<br />

Olho de novo<br />

o mundo velho<br />

com olhos de criança.<br />

Quero experimentar tudo.<br />

Cores, sabores, amores...<br />

Em vez de encolher,<br />

expandir ao máximo<br />

para escolher<br />

o melhor.<br />

Definitivo<br />

é o instante.<br />

O meu deus então não pune<br />

não man<strong>da</strong> pro inferno eterno<br />

aumente agora o seu volume<br />

cante a glória do enfermo<br />

jogue fora sua muleta<br />

fo<strong>da</strong> tudo, menos a boceta<br />

engane mãe, pai, proveta<br />

faça tudo que não pode<br />

mas não use camisinha<br />

faça tudo que lhe agra<strong>da</strong><br />

e dê uma risadinha<br />

a tal bíblia sagra<strong>da</strong><br />

MAXIMIZE<br />

FINALMENTE<br />

EVANGELIZA<strong>DO</strong>R<br />

131


é todinha metafórica<br />

nos castigos, não nos prêmios<br />

nos castigos, não nos prêmios<br />

nos castigos, não nos prêmios.<br />

Mais uma vez, louvando até o chão:<br />

Nos castigos, não nos prêmios<br />

nos castigos, não nos prêmios<br />

nos castigos, não nos prêmios.<br />

Agora eu durmo com meus olhos e meu plexo solar<br />

voltados totalmente para o ar<br />

para o infinito<br />

para as infinitas possibili<strong>da</strong>des<br />

para a expansão cósmica...<br />

Em vez de virar meu umbigo<br />

para a terra<br />

sumir, proteger, desaparecer, esquecer, encolher...<br />

Até isso consegui mu<strong>da</strong>r.<br />

An<strong>da</strong>r na chuva<br />

sem óculos<br />

nem guar<strong>da</strong>-chuva.<br />

Nenhuma pergunta prévia<br />

adianta na<strong>da</strong>.<br />

Nenhum planejamento metódico<br />

pode prever<br />

as mer<strong>da</strong>s que virão.<br />

Nenhuma lista<br />

pode contê-los.<br />

Mais um motivo<br />

pra mergulhar<br />

na tentativa.<br />

Ressaca forte.<br />

Estouro de on<strong>da</strong>s brancas<br />

espumas pelos ares<br />

estrondos.<br />

Olho cansado e ando.<br />

Cinco quilômetros.<br />

SOBRE O SONO<br />

PRAZER (E POEMA) BOBO<br />

<strong>DO</strong>S ENCONTROS<br />

MAR EM FÚRIA<br />

132


Uma hora.<br />

E meu pulso?<br />

Coloco a mão no peito<br />

na jugular<br />

na<strong>da</strong>.<br />

Sem mais impulsos assassinos...<br />

A ira do mar<br />

não é minha.<br />

Profundi<strong>da</strong>de<br />

não rima<br />

com segurança.<br />

Para Edson Marques<br />

Sou eu e o céu novamente<br />

o mesmo céu<br />

o mesmo eu<br />

ambos diferentes.<br />

Fevereiro de 2010<br />

MERGULHE!<br />

SORRISO MÚTUO DE CUMPLICIDADE<br />

133


Caro(a) Leitor(a),<br />

A poesia, para estar viva, precisa de olhos. Não basta o papel. Obrigado pela leitura.<br />

Este é um trabalho independente e gratuito, que pode ser distribuído pela internet.<br />

Se tiver gostado, mande aos seus amigos. Caso contrário, aos inimigos... <br />

Uma <strong>da</strong>s coisas de que mais gosto é ver estes versos se espalhando como vírus pela<br />

grande rede...<br />

Um grande abraço e obrigado mais uma vez,<br />

Fabio Rocha<br />

e-mail: fabiorocha@fabiorocha.com.br<br />

site: www.fabiorocha.com.br<br />

134

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!