Patrocínio Apoio cidades ilustradas CARLOS NINE <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> Prefácio de Jorge Furtado
Copyright © Carlos Nine TEXTO Carlos Nine TRADUÇÃO E REVISÃO Pina Bastos VERSÃO INGLÊS Sonia Al Abdalla PESQUISA FOTOGRÁFICA Fábio Zimbres e Jack Kaminski PESQUISA TEXTO Lucas Nine PRODUÇÃO GRÁFICA Radiográfico CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ N6<strong>21</strong>p Nine, Carlos, 1944- <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> / Carlos Nine ; [versão para o inglês Sonia Al Abdalla ; tradução e revisão Pina Bastos ; pesquisa fotográfica Fábio Zimbres e Jack Kaminski]. - Rio de Janeiro : <strong>Casa</strong> <strong>21</strong>, 2008. 72p. : principalmente il. color. ; . -(Cidades ilustradas ; n.9) Texto em português e inglês ISBN 978-85-88627-14-7 1. <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> (RS) - Obras ilustradas. 2. <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> (RS) - Descrições e viagens. I. Título. II. Série. 08-1689. CDD: 918.8165 CDU: 913(816.5) 05.05.08 05.05.08 006437 Todos os direitos desta edição reservados à: <strong>Casa</strong> <strong>21</strong> Ltda Rua do Catete, 92 – casa <strong>21</strong> 22220-000 – Rio de Janeiro – RJ www.editoracasa<strong>21</strong>.com.br Não deixa de ser humilhante: precisou vir alguém de longe para mostrar aos porto-alegrenses o que a cidade tem de mais bonito. Eu, que sempre morei aqui e faz tempo, nunca tinha visto a cidade tão bonita. Faltou só o Museu Iberê e o Teatro São Pedro, ambos cobertos de tapumes quando Carlos Nine andou por aqui. De resto, o melhor da cidade está lá: a incomparável luz oblíqua, os prédios elegantes, as árvores multicores pedindo para virar aquarelas, o céu imenso sobre o Guaíba, o pôr-do-sol de catálogo, os parques cheios de tipos e, principalmente, os tipos. Repare nos tipos. Aquele coelho artista, cachimbador, mora perto da minha casa, vejo por aqui seguido. É ensimesmado, arredio, talvez sonhe com murais ou tenha problemas em casa. Não dá conversa a ninguém. O porco de gabardine e sua esposa longilínea eu já vi lá pelo bric, acho que mexe com imóveis. Tipo risonho, viajado, bom papo. Sua senhora é uma deusa, mangas bufantes, très chic, dizem que fidelíssima. Porco de sorte. E os monges flutuantes? Acabou de passar um pela minha janela, juro, sem piadas e sem balões, são monges sérios. Levitam por serem leves, naturalmente, vão com o vento. Mas voltam, acho que a pé. Reparem o cão deprimido que bebe vinho no chalé da Praça XV. Seu interlocutor, bacharel psitacídeo, se esforça em convencê-lo a tentar vida em São Paulo. O cão reluta. Talvez já mude de idéia, pois se aproxima o leão, rei dos arquitetos, vendendo imóveis na planta, uma conversa intragável. Menos mal que a filha é uma gata. E preste atenção, quantos livros: patos, pintos, bigodudos, mocinhas pernudas, gansos, guascas, todos lêem. A cidade gosta de livros, bem que ela faz. Todos lêem, ou tocam violão, ou cantam, ou pintam, ou dançam. Se não lêem, correm, se exercitam, cuidam da mente ou do corpo. Todos lêem, mas na cidade, olhe bem, não se vê palavra escrita: sem placas, reclames, faixas, nada de letras na rua! Que prazer as placas dão com sua ausência! Ah, fosse sempre assim! Sereias, dragões, tritões, o pato cantor, Padre Mário, o Veríssimo, Netuno, o Vasques, o Santiago, aquela coruja pilchada, mais os anjos trombeteiros, o Rodrigo Rosa, o Lancast, o Fraga, o Atlas, o Zimbres, andam todos por aqui, vez por outra nos cruzamos. Já o Gilmar, não conheço, pelo menos que eu me lembre. A cidade também não é tão pequena assim, nuvem aqui não falta. Valeu Nine! Volte sempre! Jorge Furtado <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>, seis de maio de dois mil e oito