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ESTUDO DO COMPORTAMENTO DE Suricata suricatta EM ... - spzoo

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<strong>ESTU<strong>DO</strong></strong> <strong>DO</strong> <strong>COMPORTAMENTO</strong> <strong>DE</strong> <strong>Suricata</strong> <strong>suricatta</strong> <strong>EM</strong> CATIVEIRO NO BOSQUE<br />

<strong>DO</strong>S JEQUITIBÁS, CAMPINAS, SP.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Marcela Moretto¹; Eliana Ferraz Santos²; Luiza Ishikawa-Ferreira¹<br />

¹PUC-Campinas, ²Bosque dos Jequitibás – Campinas, SP<br />

e-mail: mmoretto87@hotmail.com<br />

<strong>Suricata</strong> <strong>suricatta</strong> é um pequeno mamífero da Ordem Carnivora, Surbordem<br />

Feliformia, Família Herpestidae (FUEHRER, 2003). A maioria dos herpestídeos é terrestre e<br />

constrói complexos sistemas de túneis subterrâneos (MYERS, 2000).<br />

Os suricatas habitam lugares semi-áridos, secos e abertos, normalmente com solo<br />

duro ou pedregoso (SMITHERS, 1971 apud NOWAK, 1999), distribuindo-se pela maioria da<br />

porção sudeste da África, incluindo a região do Kalahari, Botswana, Zimbábue, Moçambique<br />

e África do Sul (FUEHRER, 2003).<br />

Os suricatas são animais dinâmicos e altamente sociais; vivem em colônias de 3 a<br />

30 indivíduos (CLUTTON-BROCK et al., 2002), podendo os maiores grupos chegar a ter 40<br />

indivíduos (CLUTTON-BROCK, 2002). São muito territoriais e dentro de seu grupo costumam<br />

ser amigáveis, mas entre diferentes colônias, podem surgir sérias disputas; cada colônia<br />

inclui um par reprodutivo (macho e fêmea dominantes) e sua prole (ESTES, 1991 apud<br />

FUEHRER, 2003). Os “subordinados” do grupo, também chamados de “ajudantes”,<br />

contribuem com outras atividades (RUSSELL et al., 2002). Segundo Clutton-Brock et al.<br />

(2002), são quatro tarefas: cuidar dos recém nascidos (de uma a três semanas de vida),<br />

alimentá-los (de um a três meses de vida), limpar as tocas subterrâneas e ficar de guarda<br />

enquanto o grupo forrageia. Um sistema de comunicação é essencial ao comportamento<br />

social de um grupo (KOONTZ; ROUSH, 1996). Os suricatas comunicam-se através de dois<br />

principais tipos de sinais: acústico, através de vocalizações e químico, através de marcações<br />

de cheiro A estrutura acústica de algumas vocalizações de alarme varia, dependendo do tipo<br />

de predador (aéreo ou terrestre) e do nível de urgência do aviso. Chamados de pouca<br />

urgência tendem a ser mais claros e harmônicos, enquanto alarme de grande urgência são<br />

mais dissonantes e ríspidos (MANSER, 2001).


A vocalização é também um importante recurso para os filhotes que já se juntam<br />

ao grupo fora da toca para forragear e são alimentados pelos indivíduos mais velhos e<br />

vocalizam repetidamente para solicitar comida (MANSER; AVEY, 2000).<br />

O período de vida dos suricatas, em estado selvagem, é de 5 a 15 anos (VAN<br />

STAA<strong>DE</strong>N, 1994). Em cativeiro, eles podem viver mais de 12 anos (HONOLULU ZOO,<br />

2008). São animais diurnos; só são ativos quando o sol está presente e com tempo nublado<br />

ou chuvoso eles raramente saem de suas tocas. Da mesma forma, durante o meio-dia, se a<br />

temperatura está muito quente, eles voltam ao seu refúgio para se resfriarem (VAN<br />

STAA<strong>DE</strong>N, 1994).<br />

No cativeiro, os animais têm certas limitações em sua capacidade de alterar<br />

estímulos externos aos quais eles possam eventualmente ser expostos (CARLSTEAD,<br />

1996). Por causa dos cuidados necessários para a manutenção desses animais em cativeiro,<br />

o ambiente torna-se previsível, o que contribui para que eles demonstrem-se entediados, ou<br />

com comportamentos estereotipados (FUNDAÇÃO PARQUE..., 2008).<br />

Realizar estudos de comportamento em animais em cativeiro possibilita verificar<br />

comportamentos anormais ou estereotipados, além de conhecer melhor as necessidades<br />

desses animais.<br />

MATERIAL E MÉTO<strong>DO</strong>S<br />

2.1. Área de estudo<br />

O estudo foi realizado no recinto dos suricatas do zoológico do Bosque dos<br />

Jequitibás. Esse parque está localizado na região central de Campinas, SP (22° 55’ S, 47°<br />

03’ W) e é uma das principais áreas de lazer de entrada franca da cidade, recebendo<br />

aproximadamente um milhão de pessoas por ano, vindas de várias regiões do estado de São<br />

Paulo e de estados vizinhos (SANTOS, 2005).<br />

O Bosque dos Jequitibás ocupa uma área de 10 hectares (figura 1), formada em<br />

grande parte por mata natural e áreas mistas com árvores nativas e introduzidas.<br />

(MATTHES, 1980 apud SANTOS, 2005).


2.2. Recinto<br />

Figura 1. Aerofotogramétrica do Bosque dos Jequitibás, Campinas – SP.<br />

Fonte: Embrapa Monitoramento por Satélite - <strong>EM</strong>BRAPA/CNPM<br />

O recinto dos suricatas (figura 2) é de terra batida com uma área total de 180 m²,<br />

possui pedras e vegetação arbustiva, composta de pequenas palmeiras. Em uma<br />

extremidade do recinto há um tanque de pequena profundidade (espelho d’água) com água<br />

corrente e renovável. Como medidas de segurança, há um cambeador para confinamento e<br />

manejo dos animais, e um fosso seco que determina um afastamento em relação ao público.<br />

Como abrigo, no centro do recinto há uma toca, que também serve de sombreamento<br />

artificial, além de troncos e das próprias paredes de cimento que delimitam o recinto.


2.3. Observação<br />

Figura 2. Representação esquemática do recinto dos suricatas.<br />

Os animais foram observados por um período total de 80 horas durante os meses<br />

de abril e maio de 2008, para a confecção de um etograma.<br />

Foram analisados os comportamentos de 3 suricatas machos irmãos, de<br />

aproximadamente 3 anos de idade: Athos, Porthos e Aramis. Em cada dia de observação<br />

foram anotadas as condições climáticas (temperaturas mínima e máxima, umidade relativa<br />

mínima do ar e precipitação), segundo dados coletados do “site” da Cepagri (Centro de<br />

Pesquisas Meteorológicas e Climáticas aplicadas à Agricultura) da Unicamp.<br />

Os animais foram observados na presença do público que visita o bosque<br />

diariamente (exceto nas segundas feiras, dia da semana que o local é fechado para o<br />

público).<br />

Foi feita amostragem de todas as ocorrências (ad libitum), na qual foi anotado tudo<br />

o que os animais estavam fazendo, segundo a metodologia de Del-Claro (2004). Para essa<br />

etapa, foram utilizados: um caderno de anotações, um relógio para marcar o horário das<br />

ocorrências e uma máquina fotográfica para registrar alguns comportamentos, quando<br />

possível.<br />

cambeador<br />

palmeira<br />

fosso<br />

galho<br />

toca<br />

tronco oco<br />

tronco<br />

espelho d’água<br />

Os repertórios comportamentais observados e anotados durante esse período<br />

foram usados para a construção de um etograma, como proposto por Del-Claro (2004).


RESULTA<strong>DO</strong>S E DISCUSSÃO<br />

3.1 Etograma<br />

A partir da observação ad libitum, realizada nas primeiras 80 horas do estudo, foi<br />

possível elencar, qualitativamente todos os repertórios comportamentais registrados,<br />

subdividindo-os em 13 categorias específicas.(Quadro 1).<br />

Quadro 1. Etograma<br />

Categorias comportamentais Repertórios comportamentais<br />

1. Locomoção Andar, trotar ou correr pelo recinto; entrar ou sair da<br />

toca; escalar; saltando.<br />

2. Repouso Cochilar; tomar sol; bocejar; espreguiçar-se.<br />

3. Postura Sentinela; em pé; sentado; deitado.<br />

4. Alimentação Comer; beber água; forragear; transportar comida.<br />

5. Brincadeira Brincar; arrastar bandeja de comida.<br />

6. Vocalização Vocalizar ao se locomover, ao forragear, ao<br />

observar, na sentinela.<br />

7. Latido de advertência Latir, sinalizando perigo<br />

8. Comportamento agonístico<br />

(agressivo)<br />

Rosnar; mostrar os dentes; dar patadas; arquear as<br />

costas, eriçar os pêlos.<br />

9. Limpeza corporal Limpar-se individualmente (selfgrooming) ou em<br />

grupo (allogrooming); sacudir-se; limpar focinho (em<br />

pedras).<br />

10. Vigia Observar ao redor; ao público; a outros animais;<br />

erguer a cauda; sobressaltar-se.<br />

11. Marcação Esfregar glândula anal ou a bochecha contra pedras,<br />

objetos ou chão.<br />

12. Exploração Farejar; cavar; morder.<br />

13. Outros Espirrar; montar; urinar.


3.2 Descrições dos repertórios comportamentais<br />

Locomoção<br />

Andar: Indivíduo caminha mais lentamente, deslocando-se pelo recinto.<br />

Trotar: Indivíduo desloca-se pelo recinto em uma velocidade intermediária entre andar e<br />

correr, dando pequenos “saltos”<br />

Correr: Indivíduo se desloca muito rapidamente.<br />

Entrar ou sair da toca: Indivíduo desloca-se, andando, trotando ou correndo para dentro ou<br />

para fora da toca.<br />

Escalar: (comportamento registrado uma única vez, no indivíduo Porthos). Indivíduo sobe<br />

nas grades das portas do cambeador.<br />

Saltar: Indivíduo salta de um lado a outro, com as costas arqueadas e a cauda erguida.<br />

Quando houve ocorrência desse comportamento, o indivíduo estava agitado pela presença<br />

de vários visitantes observando os animais (comportamento registrado apenas em um dos<br />

indivíduos, Athos).<br />

Repouso<br />

Cochilar: Indivíduo sentado, com a cabeça abaixada, “cochilando”.<br />

Tomar sol: Indivíduo senta-se, deita-se com a região ventral virada para cima ou fica em<br />

posição de sentinela e permanece em repouso, tomando sol. Em geral, esse comportamento<br />

é realizado com o grupo todo junto.<br />

Espreguiçar-se: Indivíduo pára o que está fazendo (geralmente locomovendo-se) e alonga<br />

todo seu corpo, esticando suas patas dianteiras para frente e erguendo a região posterior de<br />

seu corpo para cima. Esse comportamento, geralmente é precedido de um bocejo.<br />

Bocejar: Indivíduo abre a boca, num movimento espasmódico.<br />

Postura<br />

Sentinela: Indivíduo ergue-se nas duas patas traseiras, com o apoio da cauda no chão e<br />

patas dianteiras repousadas sobre a região ventral.<br />

Em pé: Indivíduo com as quatro patas firmadas no chão, sem flexioná-las.<br />

Sentado: Indivíduo estabelecido no chão, com as patas posteriores flexionadas para frente.<br />

Deitado: Indivíduo com o corpo estendido no chão, podendo estar com a região dorsal ou a<br />

ventral virada para cima.


Alimentação<br />

Comer: Indivíduo abocanha alimento e mastiga-o, ingerindo-o.<br />

Beber água: Indivíduo agacha-se na margem do curso da água que se forma entre o espelho<br />

d’água e o ralo, no fosso e bebe água.<br />

Forragear: Indivíduo cava o solo ou raspa entre frestas de pedras, paredes e troncos com as<br />

garras das patas dianteiras, buscando insetos e larvas para se alimentar ou, algumas vezes,<br />

para brincar.<br />

Transportar comida: Indivíduo abocanha algum alimento e o leva para comê-lo em outro<br />

lugar do recinto.<br />

Brincadeira<br />

Brincar: Indivíduo, com as costas levemente arqueadas, raspa e arranha algum objeto ou<br />

inseto encontrado no solo, manipulando-os com as garras das patas dianteiras e<br />

movimentando-se rapidamente, enquanto se desloca, andando para trás e/ou ao redor do<br />

objeto ou inseto.<br />

Arrastar bandeja de comida: Indivíduo puxa a bandeja de comida para si, utilizando as duas<br />

patas dianteiras (comportamento registrado apenas em um dos indivíduos, Athos).<br />

Vocalização<br />

Vocalizar: Indivíduo reproduz som, ao se locomover, forragear, vigiar ou observar, mais ou<br />

menos freqüentemente e por vezes, continuamente. Algumas vocalizações registradas eram<br />

similares a um ronco baixo ou a um soluço e variavam em freqüência, tom e volume de<br />

indivíduo para indivíduo.<br />

Latido de advertência<br />

Latir: Indivíduo que estava na sentinela, reproduz uma vocalização similar a um latido curto e<br />

alto, sinalizando algum perigo que foi observado e/ou escutado por ele. Em resposta a esse<br />

comportamento, o indivíduo e os outros correm para dentro da toca rapidamente, geralmente<br />

também vocalizando, mais alto que o normal.<br />

Comportamento agonístico (agressivo)<br />

Rosnar: Indivíduo reproduz uma vocalização, dirigida diretamente a outro, demonstrando<br />

claramente uma ameaça.


Mostrar os dentes: Indivíduo com boca fechada ou aberta, fica com focinho franzido,<br />

mostrando os dentes.<br />

Dar patadas: Indivíduo ergue uma das patas dianteiras, batendo-a sobre outro.<br />

Arquear as costas: Indivíduo, geralmente com o corpo encolhido, sobe a região dorsal, de<br />

forma que ela forma um arco convexo em relação a seu corpo.<br />

Eriçar os pêlos: Indivíduo arrepia seus pêlos, principalmente os da cauda.<br />

Limpeza corporal<br />

Limpar-se individualmente (selfgrooming): Indivíduo, geralmente em posição sentada, limpa<br />

as regiões ventral e do períneo, lambendo-se, coçando-se com os dentes e esfregando-se<br />

com patas dianteiras.<br />

Limpar-se em grupo (allogrooming): Dois indivíduos ou mais encostam-se lateralmente um<br />

no outro, de forma que suas cabeças se encontrem em posições opostas e limpam-se,<br />

coçando com os dentes mutuamente as regiões dorsais e o<br />

pescoço (“nuca”) um do outro.<br />

Sacudir-se: Indivíduo de pé (sobre suas quatro patas) pára e agita seu corpo todo<br />

rapidamente.<br />

Limpar focinho (em pedras): Indivíduo esfrega seu focinho em uma pedra.<br />

Vigia<br />

Observar ao redor: Indivíduo olha ao redor e para cima. Esse comportamento pode ocorrer<br />

na sentinela, com o indivíduo sentado, ou em pé, parado ou locomovendo-se.<br />

Observar público: Indivíduo aproxima-se das pessoas (visitantes do Zoológico), em geral<br />

com a cauda erguida e vocalizando para observá-las, na sentinela ou não.<br />

Observar outros animais ou objetos externos ao recinto: Indivíduo, na sentinela, olha para<br />

cima (para observar animais passando nas árvores, como pássaros, preguiças e sagüis ou<br />

objetos aéreos, como aviões e helicópteros) e ao redor, olhando para fora do recinto (para<br />

observar passagem ocasional de carros e caminhões, na via principal do bosque).<br />

Erguer a cauda: Indivíduo ergue sua cauda, deixando-a a 90º em relação ao seu corpo. Esse<br />

comportamento pode ocorrer enquanto ele estiver andando, trotando, correndo ou parado.<br />

Sobressaltar-se: Comportamento relacionado ao indivíduo assustar-se repentinamente; este<br />

faz um movimento rápido e brusco com o corpo, podendo até latir, em advertência.<br />

Marcação


Esfregar glândula anal: Indivíduo ergue uma das patas posteriores e esfrega (uma única vez)<br />

a glândula na região perianal em uma pedra ou outro objeto. Geralmente, esse<br />

comportamento ocorre em alguma das entradas da toca, quando o indivíduo está saindo ou<br />

entrando nesta.<br />

Esfregar o ânus no chão: Indivíduo senta-se no chão e desloca-se para frente, dando<br />

impulso com as patas anteriores, de modo a esfregar o ânus no chão.<br />

Esfregar bochecha: Indivíduo fricciona a lateral de sua face contra uma pedra ou outro<br />

objeto.<br />

Exploração<br />

Farejar: Indivíduo cheira o solo e objetos, como folhas das palmeiras, pedras, galhos, etc.<br />

Geralmente, enquanto fareja o indivíduo está se locomovendo, andando pelo recinto.<br />

Cavar túnel ou buracos no chão: Indivíduo raspa a terra com ambas patas dianteiras em um<br />

ponto fixo, jogando a terra para trás de seu corpo.<br />

Morder: Indivíduo dá dentadas em objetos como o tronco das palmeiras, galhos e folhas.<br />

Outros<br />

Espirrar: Indivíduo, expira o ar brusca e rapidamente, estremecendo a cabeça.<br />

Montar: Indivíduo “abraça” outro indivíduo pelas costas, com suas patas dianteiras. Esse<br />

comportamento geralmente ocorre enquanto o segundo indivíduo está sentado.<br />

Urinar: Indivíduo posiciona-se sobre um buraco na terra e abaixa-se sobre ele para urinar.<br />

3.3 – Comportamento em cativeiro<br />

Em relação ao comportamento em cativeiro, todos os indivíduos tiveram,<br />

predominantemente, atividades de locomoção (Figuras 3, 4 e 5). Para Aramis, essa<br />

freqüência foi ainda maior (Figura 4).<br />

Analisando as Figuras 6, 7 e 8, nota-se que o comportamento mais freqüente foi<br />

“Em pé”. Esse fato foi condizente com a alta freqüência de locomoção, já que,<br />

necessariamente, para que um comportamento de deslocamento aconteça, o indivíduo deve<br />

estar com a postura “Em pé”. Isso mostra que os suricatas são animais muito ativos durante<br />

o dia e estão constantemente movimentando-se, sendo poucos os momentos de repouso, no<br />

entanto a categoria de vigia foi a segunda mais freqüente (Figuras 3, 4 e 5). Com isso, infere-


se que esses animais são bastante alertas ao ambiente ao seu redor. Aliando a análise da<br />

categoria de vigia à da postura de sentinela, verifica-se que Porthos teve a maior freqüência<br />

dessa postura, em relação aos demais (Figura 8). Pode-se deduzir, por esse dado, que<br />

Porthos foi o que mais assumiu o dever de guarda de grupo. Por outro lado, Athos teve uma<br />

freqüência baixa da postura de sentinela, o que mostra que sua tendência a vigiar o grupo foi<br />

bem inferior.<br />

As categorias de exploração e de alimentação também foram significativas para<br />

todos os animais (Figuras 3, 4 e 5). Isso ocorreu, principalmente porque os suricatas<br />

apresentam alta atividade de farejamento e de forrageamento. Na natureza são de hábitos<br />

alimentares prioritariamente insetívoros, porém podem se alimentar de pequenos<br />

vertebrados, ovos e algumas plantas e raízes. Eles forrageiam, a uma distância aproximada<br />

de 20 a 50 metros das tocas CLUTTONBROCK et al, 1998) cavando o solo rapidamente e<br />

vasculhando sob pedras (FUHERER, 2003). Essa atividade ocupa de cinco a oito horas por<br />

dia desses animais (CLUTTON-BROCK et al, 1998). Através de seu olfato muito acurado,<br />

podem facilmente localizar suas presas abaixo do solo (SAN FRANCISCO...,2008).<br />

Athos teve a maior freqüência relativa de comportamento agonístico (Figura 3) em<br />

relação aos demais. Esse dado demonstra que esse indivíduo exerceu certa dominância<br />

sobre os outros e, possivelmente, era considerado um líder.<br />

Porthos teve a maior freqüência das vocalizações (Figura 5). Isso pode estar<br />

associado ao fato de que ele assumiu mais o dever da guarda, corroborando com o estudo<br />

de Manser (1999). Uma das características da comunicação através de vocalizações é o fato<br />

de que as informações podem ser passadas rapidamente (KOONTZ; ROUSH, 1996). Isso<br />

representa grande vantagem para animais sociais como os suricatas, já que eles têm um<br />

sistema de sentinela, no qual um indivíduo fica de guarda, enquanto o grupo forrageia; ao<br />

avistar um predador, o suricata que está vigiando vocaliza, emitindo um som de alarme,<br />

caracterizado por uma espécie de latido, advertindo os outros animais (VAN STAA<strong>DE</strong>N,<br />

1994). Em geral, quando o grupo está forrageando e um indivíduo assume a posição de<br />

guarda, ele emite uma vocalização característica para avisar que assumiu o dever da guarda<br />

(MANSER, 1999).<br />

No entanto, chama-se a atenção aqui que a anotação dos dados de vocalização<br />

não foi confiável, já que houve momentos em que o ruído externo (de outros animais ou dos<br />

visitantes do zoológico) impossibilitava a observadora de distinguir ou mesmo perceber as<br />

vocalizações dos suricatas.


19,6<br />

17,3<br />

2,3<br />

3,7<br />

4,8<br />

0,4<br />

2,9<br />

2,5<br />

14,9<br />

29,6<br />

2,0<br />

Locomoção<br />

Repouso<br />

Alimentação<br />

Brincadeira<br />

Vocalização<br />

Comport. agonístico<br />

Limpeza Corporal<br />

Marcação<br />

Vigia<br />

Exploração<br />

Outros<br />

Figura 3. Freqüências relativas de cada categoria comportamental de Athos.<br />

22,1<br />

16,3<br />

2,5<br />

3,7<br />

1,3 3,0<br />

0,3<br />

1,5<br />

12,2<br />

1,9<br />

35,3<br />

Locomoção<br />

Repouso<br />

Alimentação<br />

Brincadeira<br />

Vocalização<br />

Comport. agonístico<br />

Limpeza Corporal<br />

Marcação<br />

Vigia<br />

Exploração<br />

Outros<br />

Figura 4. Freqüências relativas de cada categoria comportamental de Aramis.


26,5<br />

13,6<br />

1,4<br />

4,7<br />

2,2<br />

0,6<br />

5,7<br />

1,8<br />

28,5<br />

13,5<br />

1,5<br />

Locomoção<br />

Repouso<br />

Alimentação<br />

Brincadeira<br />

Vocalização<br />

Comport. agonístico<br />

Limpeza Corporal<br />

Marcação<br />

Vigia<br />

Exploração<br />

Outros<br />

Figura 5. Freqüências relativas de cada categoria comportamental de Porthos.<br />

16,8<br />

5,1 2,2<br />

75,9<br />

Em pé<br />

Sentado<br />

Sentinela<br />

Deitado<br />

Figura 6. Freqüências relativas de cada postura para Athos.


13,8<br />

9,9<br />

2,8<br />

73,5<br />

Em pé<br />

Sentado<br />

Sentinela<br />

Deitado<br />

Figura 7. Freqüências relativas de cada postura para Aramis.<br />

19,7<br />

15,6<br />

0,8<br />

63,9<br />

Em pé<br />

Sentado<br />

Sentinela<br />

Deitado<br />

Figura 8. Freqüências relativas de cada postura para Porthos.<br />

O cativeiro determina aos animais um ambiente que difere de seu hábitat<br />

“selvagem” (CARLSTEAD,1996). A habilidade de determinada espécie de responder às<br />

condições de cativeiro, de acordo com seu repertório normal de comportamento, depende de<br />

uma série de fatores que incluem aspectos experimentais, genéticos e de desenvolvimento<br />

do comportamento, além do quanto o ambiente do cativeiro pode reproduzir as condições<br />

naturais do animal (CARLSTEAD,1996). Além disso, geralmente, a presença de um público<br />

interfere no comportamento normal do animal que está sob observação (HEDIGER, 1955).


CONCLUSÃO<br />

A partir do estudo realizado, pode-se concluir que os suricatas observados, em<br />

cativeiro, seguem mais ou menos um padrão de comportamentos naturais para essa<br />

espécie. Eles são animais bastante dinâmicos, e estão praticamente em constante<br />

movimento durante o dia. Seguindo seus padrões de comportamento social, no grupo de<br />

suricatas em cativeiro, sempre haverá um indivíduo de guarda.


REFERÊNCIAS<br />

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