O que é jornalismo de investigação?
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O <strong>que</strong> <strong>é</strong> <strong>jornalismo</strong> <strong>de</strong> <strong>investigação</strong>?<br />
Uma outra dificulda<strong>de</strong> resi<strong>de</strong> no facto <strong>de</strong> <strong>que</strong> a realização <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> <strong>investigação</strong> re<strong>que</strong>r muito dinheiro. Po<strong>de</strong><br />
ser necessário comprar documentos e cobrir custos <strong>de</strong> transporte e comunicação. Perante o obstáculo <strong>que</strong> se ergue<br />
entre a imprensa e as fontes oficiais, po<strong>de</strong> revelar-se útil recorrer a fugas <strong>de</strong> informação, <strong>de</strong>tectives particulares e<br />
outros, exigindo todos meios financeiros.<br />
At<strong>é</strong> ao próximo episódio<br />
Os factos narrados por Eric revelam muitas das dificulda<strong>de</strong>s enfrentadas pelos jornalistas <strong>de</strong> <strong>investigação</strong> em África, assim como<br />
alguns dos dilemas e contradições envolvidos. Por exemplo, ele refere-se à “compra <strong>de</strong> documentos” e a ver-se forçado a<br />
recorrer a fontes ávidas <strong>de</strong> dinheiro. São <strong>que</strong>stões <strong>que</strong> discutiremos nos nossos capítulos sobre fontes, entrevistas e <strong>é</strong>tica, um pouco<br />
mais adiante neste livro.<br />
Contudo, o artigo <strong>de</strong> Eric apresenta-nos o exemplo <strong>de</strong> um projecto <strong>de</strong> <strong>investigação</strong> <strong>que</strong> se encaixa na noção <strong>de</strong> muitas pessoas<br />
sobre a essência do <strong>jornalismo</strong> <strong>de</strong> <strong>investigação</strong>: “O <strong>jornalismo</strong> <strong>de</strong> <strong>investigação</strong> revela escândalos, e envergonha indivíduos corruptos.<br />
Põe a nu segredos <strong>que</strong> algu<strong>é</strong>m <strong>que</strong>r manter encobertos.” Para outros, por<strong>é</strong>m, Eric e os seus colegas estavam simplesmente a fazer<br />
aquilo <strong>que</strong> qual<strong>que</strong>r bom jornalista faria. Para eles, “o <strong>jornalismo</strong> <strong>de</strong> <strong>investigação</strong> <strong>é</strong> simplesmente o bom <strong>jornalismo</strong>”.<br />
Mas, serão estas as únicas formas <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir a especialida<strong>de</strong>? Existem provavelmente tantas <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> <strong>jornalismo</strong> <strong>de</strong> <strong>investigação</strong><br />
quanto existem jornalistas a trabalhar na área. Por<strong>que</strong>, por um lado, o <strong>jornalismo</strong> <strong>de</strong> <strong>investigação</strong>, enquanto uma especialida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ntro da profissão, <strong>é</strong> relativamente novo e ainda estamos a <strong>de</strong>senvolver os mo<strong>de</strong>los apropriados. E todo o <strong>jornalismo</strong> pertence a<br />
uma comunida<strong>de</strong> e a um campo <strong>de</strong> trabalho. Assim, não existe nenhuma divisória entre ‘jornalista comunitário’, ‘jornalista ambiental’<br />
e ‘jornalista <strong>de</strong> <strong>investigação</strong>’: qual<strong>que</strong>r jornalista se torna jornalista <strong>de</strong> <strong>investigação</strong> quando a mat<strong>é</strong>ria <strong>que</strong> estiver a trabalhar adquire<br />
um âmbito e uma profundida<strong>de</strong> <strong>que</strong> vão para al<strong>é</strong>m das reportagens <strong>de</strong> rotina.<br />
Jornalismo <strong>de</strong> <strong>investigação</strong> na Austrália, na Am<strong>é</strong>rica e na Europa<br />
Os bons jornalistas sempre foram investigadores, e continuam a sê-lo. O jornalista australiano John Pilger escreveu no Sydney<br />
Monitor sobre o seu compatriota Edward Hall Smith <strong>que</strong>, em data tão remota como 1826, quando a Austrália ainda era uma<br />
colónia, <strong>de</strong>u início a uma campanha contra a corrupção oficial e os maus tratos infligidos a operários con<strong>de</strong>nados – e foi preso<br />
pelas suas acções. Mas, só <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> passado um s<strong>é</strong>culo ou mesmo mais tar<strong>de</strong>, quando a comunicação social se tornou muito<br />
mais consagrada, alargada e diversificada, <strong>é</strong> <strong>que</strong> começaram a surgir <strong>de</strong>sks <strong>de</strong> <strong>investigação</strong> especializados, fre<strong>que</strong>ntemente<br />
para trabalhar em mat<strong>é</strong>rias mais longas <strong>que</strong> exigiam mais recursos e conhecimentos. E para muitos leitores, só foi nos anos 60<br />
e 70, e <strong>de</strong> forma mais visível com a publicida<strong>de</strong> mundial dada à <strong>investigação</strong> do caso Watergate nos EUA pelos jornalistas Bob<br />
Woodward e Carl Bernstein, <strong>é</strong> <strong>que</strong> o conceito <strong>de</strong> ‘jornalista <strong>de</strong> <strong>investigação</strong>’ ganhou raízes. Woodward e Bernstein seguiram<br />
uma pista para <strong>de</strong>stapar e provar exaustivamente activida<strong>de</strong>s ilícitas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> escala pelo então Presi<strong>de</strong>nte Richard Nixon e<br />
pelos seus agentes. Nixon foi forçado a <strong>de</strong>mitir-se, e o livro – convertido <strong>de</strong>pois em filme – “Todos os Homens do Presi<strong>de</strong>nte”<br />
(All The Presi<strong>de</strong>nt’s Men), fez <strong>de</strong> Woodward e Bernstein, daquilo <strong>que</strong> realizaram e <strong>de</strong> como o realizaram, a base <strong>de</strong> muita<br />
discussão popular e ilustração do trabalho <strong>de</strong> <strong>investigação</strong> da imprensa.<br />
Mas outras mat<strong>é</strong>rias <strong>de</strong> <strong>investigação</strong> tiveram um impacto similar na Am<strong>é</strong>rica. Seymour M. Hersh ajudou a revelar o<br />
massacre em My Lai durante a guerra do Vietname e, recentemente, contribuiu para o <strong>de</strong>bate acerca da ocupação do Ira<strong>que</strong><br />
pelos EUA, <strong>de</strong>nunciando os abusos contra prisioneiros no centro <strong>de</strong> <strong>de</strong>tenção <strong>de</strong> Abu Ghraib. Stephen Grey revelou o caso das<br />
‘rendições extraordinárias’ em <strong>que</strong> suspeitos terroristas eram secretamente transferidos pelos EUA <strong>de</strong> prisões <strong>de</strong> países <strong>que</strong><br />
não permitem a tortura para prisões <strong>de</strong> países <strong>que</strong> a permitem.<br />
Mais recentemente, estudantes <strong>de</strong> <strong>jornalismo</strong> da Northwestern University, perto <strong>de</strong> Chicago, trabalharam numa<br />
equipa com o seu professor <strong>de</strong> Direito e alguns jornalistas locais a fim <strong>de</strong> investigar presos colocados no corredor na morte.<br />
Descobriram <strong>que</strong> cerca <strong>de</strong> 60 por cento das con<strong>de</strong>nações não eram conclusivas; os presos foram soltos e o governador<br />
estadual <strong>de</strong>mitiu-se.<br />
O fracasso flagrante <strong>de</strong> oferecer ajuda humanitária a<strong>de</strong>quada à cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> New Orleans <strong>de</strong>pois do furacão Katrina foi<br />
revelado por jornalistas locais <strong>que</strong> se recusaram a acreditar na letra das <strong>de</strong>clarações oficiais. Talvez alguns dos capítulos mais<br />
corajosos <strong>de</strong> <strong>jornalismo</strong> <strong>de</strong> <strong>investigação</strong> tiveram lugar em países da antiga União Sovi<strong>é</strong>tica on<strong>de</strong>, por exemplo, a jornalista<br />
russa, Anna Politkovskaya, foi assassinada por tentar chegar muito ao fundo dos abusos <strong>que</strong> acompanharam a campanha<br />
militar russa contra os separatistas chechenos.<br />
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