Vanguardas Europeias - Profª Jaqueline Borges
Vanguardas Europeias - Profª Jaqueline Borges
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E.E. Hércules Maymone<br />
Professor (a): <strong>Jaqueline</strong> da Silva <strong>Borges</strong>/Maria Paula<br />
Disciplina: Literatura Ano: 3º Turma(s): A-B–C-D-F-G Matutino<br />
Período: 1º Bimestre A Vespertino<br />
Contexto histórico<br />
O avanço tecnológico da sociedade<br />
burguesa industrial (luz e motores elétricos,<br />
petróleo como fonte de energia e matériaprima,<br />
os avanços das ciências) e a entrada da<br />
Alemanha e da Itália – países de capitalismo<br />
tardio - no processo industrial, disputando<br />
mercados com Inglaterra e França – países<br />
pioneiros –, são fatores que estimularam a luta<br />
neocolonial e imperialista (com a conseqüente<br />
partilha da África e da Ásia) e resultaram no<br />
chamado choque de imperialismo, que levaria<br />
o mundo à Primeira Guerra Mundial.<br />
Paralelo a isso, havia também<br />
significativas parcelas da população que não<br />
se beneficiavam do capitalismo; pelo<br />
contrário, viviam cada vez mais à margem de<br />
todo esse processo. Acirraram-se as lutas<br />
proletárias com o avanço do socialismo, do<br />
anarquismo, do comunismo.<br />
A Europa vivia um momento ambíguo: de<br />
um lado, um clima de euforia motivado pelo<br />
progresso industrial e pela expansão do<br />
capitalismo, pelo aumento do consumo, pela<br />
moderna urbanização (Paris tornou-se símbolo<br />
desse período, batizado de belle époque); de<br />
outro, um clima de insatisfação, insegurança e<br />
pessimismo motivado pelo acirramento dos<br />
conflitos sociais; o mesmo progresso industrial<br />
que levava ao consumismo criava massas de<br />
excluídos; o movimento operário se<br />
organizava, eclodiam as greves.<br />
Nesse clima surgiam movimentos<br />
artísticos que questionavam o passado e<br />
buscavam novos caminhos, ao contrário da<br />
ordenação política e econômica que na virada<br />
do século XIX para o XX, se prolongou até<br />
1914; as artes se anteciparam e entre 1907 e<br />
1910, obras e manifestos já anunciavam o que<br />
AS VANGUARDAS EUROPEIAS<br />
seria a modernidade artística. Dessa forma,<br />
surgiram as vanguardas 1 .<br />
Cubismo<br />
O movimento cubista teve início na<br />
França, em 1907, com o quadro Les<br />
demoiselles d’Avignon, do pintor espanhol<br />
Pablo Picasso.<br />
Na Literatura, o Cubismo viveu seu<br />
primeiro momento com um manifesto-síntese<br />
assinado por Guillaume Apollinaire (1880-<br />
1918) e publicado em 1913.<br />
A literatura cubista valoriza a proposta da<br />
vanguarda europeia de aproximar ao máximo<br />
as várias manifestações artísticas (pintura,<br />
música, literatura, escultura), preocupando-se<br />
com a construção do texto e ressaltando a<br />
importância dos espaços em branco e em preto<br />
da folha de papel e da impressão tipográfica.<br />
A literatura cubista apresenta<br />
características como ilogismo, humor,<br />
antiintelectualismo, instantaneísmo, simultaneidade,<br />
linguagem predominantemente<br />
nominal.<br />
Ex.: Poema - “La colombe poignardée et let jet<br />
d’eau” de Guillaume Apollinaire. – Tradução<br />
(anexo)<br />
Futurismo<br />
Em 1909, no jornal parisiense Le Figaro,<br />
o italiano Tommasio Marinetti publica o<br />
Manifesto Futurista (anexo), que surpreende<br />
1 Do francês avant-garde, a palavra vanguarda significa<br />
“o que marcha na frente”. As vanguardas acreditam<br />
perceber, ou compreender, antes de todos, aquilo que<br />
mais será o senso comum. Sua missão é, com suas<br />
ações (às vezes incompreendidas), fazer o futuro<br />
acontecer agora.
E.E. Hércules Maymone<br />
os meios culturais europeus pelo caráter<br />
violento e radical de suas propostas.<br />
O futurismo pregava uma absoluta<br />
sintonia entre a arte e o mundo moderno,<br />
regido pela eletricidade, máquinas, motores,<br />
pelos grandes aglomerados urbano-industriais,<br />
pela velocidade, enfim. Entre 1909 e 1914<br />
vários manifestos foram publicados,<br />
apresentando propostas para as várias artes.<br />
Expressionismo<br />
O movimento expressionista surgiu em<br />
1910, na Alemanha. No movimento<br />
expressionista o movimento de criação parte<br />
da subjetividade do artista, do seu mundo<br />
interior, em direção ao mundo exterior. Para o<br />
artista expressionista, a obra de arte é o reflexo<br />
direto de seu mundo interior e toda atenção é<br />
dada à expressão, isto é, ao modo como a<br />
forma e o conteúdo se unem livremente<br />
(materialização) para dar vazão às sensações<br />
do artista no momento da criação. Para o<br />
expressionista pouco importa o conceito de<br />
belo e feio, pela sua arte ser o retrato do seu<br />
mais profundo “eu”.<br />
Na literatura, o Expressionismo<br />
geralmente apresenta características como:<br />
linguagem fragmentada, elíptica, constituída<br />
de frases nominais (substantivos e adjetivos),<br />
às vezes até sem sujeito; despreocupação com<br />
a organização do texto em estrofes, com o<br />
emprego de rimas ou de musicalidade;<br />
combate à fome, à inércia e aos valores do<br />
mundo burguês.<br />
Ex.: Poema – Psicologia de um vencido -<br />
Augusto dos Anjos. (anexo)<br />
Dadaísmo – a antiarte<br />
O Dadaísmo surgiu em 1916, em plena<br />
guerra, em Zurique, na Suíça, quando um<br />
grupo de “fugidos da guerra” reúnem-se no<br />
Cabaret Voltaire. Criado a partir do clima de<br />
instabilidade, medo e revolta provocado pela<br />
guerra, o movimento dadá pretendia ser uma<br />
resposta à nítida decadência da civilização<br />
representada pelo conflito.<br />
Dessa pretensão provém a irreverência, o<br />
deboche, a agressividade e o ilogismo dos<br />
textos e manifestações dadaístas. Eles<br />
entendiam que, com a Europa banhada de<br />
sangue, o cultivo da arte não passava de<br />
hipocrisia e presunção. Por isso, a postura de<br />
ridicularizá-la, agredi-la, destruí-la.<br />
A própria palavra Dadá, que foi escolhida<br />
(segundo eles, ao acaso) para batizar o<br />
movimento, não significa nada. O Dadaísmo é<br />
a total falta de perspectiva diante da guerra;<br />
daí ser contra as teorias; as ordenações<br />
lógicas; e caracterizar-se pela agressividade,<br />
pela improvisação, pela desordem, pela<br />
rejeição a qualquer tipo de racionalização e<br />
equilíbrio, pela livre associação de palavras e<br />
pela invenção da palavra com base na<br />
exploração apena da sua sonoridade.<br />
Ex.: Texto: Um grito de liberdade – Tristan<br />
Tzara (anexo)<br />
Surrealismo – o combate à razão<br />
O movimento surrealista teve início na<br />
França a partir da publicação do Manifesto<br />
Surrealismo (1924), de André Breton. As<br />
propostas de Breton era procurar unir arte e<br />
psicanálise.<br />
O Surrealismo é um movimento de<br />
vanguarda que surgiu no período entre<br />
guerras, foi criado sobre as cinzas da Primeira<br />
Guerra Mundial e sobre a experiência<br />
acumulada de todos os outros movimentos.<br />
As origens do Surrealismo estão próximas<br />
ao Expressionismo, pela sondagem do mundo<br />
interior, em busca do homem primitivo, da<br />
liberação do inconsciente, da valorização do<br />
sonho.<br />
Na pintura um dos grande destaques foi<br />
Salvador Dalí e na literatura André Breton,<br />
Luiz Aragon, entre outros.<br />
Ex.: Trecho do Manifesto Surrealista de<br />
André Breton – “Para escrever falsos<br />
romances”. (anexo)<br />
Prof. <strong>Jaqueline</strong> <strong>Borges</strong> – jaqborges@r7.com
E.E. Hércules Maymone<br />
“La colombe poignardée et let jet d’eau”<br />
de Guillaume Apollinaire<br />
CUBISMO<br />
FUTURISMO<br />
Manifesto Futurista<br />
A pomba apunhalada e o jato d’água -<br />
Tradução de Patrícia Galvão<br />
Doces figuras apunhaladas – Caros lábios<br />
em flor – Mia Mareye – Yette Lorie – Annie e<br />
você Marie – onde estão - vocês ó – meninas<br />
– Mas – junto a um – jacto de água que –<br />
chora e que suplica – esta pomba se extasia<br />
– Todas as recordações de outrora? – Onde<br />
estão Raynal Billy Dalize – Os meus amigos<br />
foram para a guerra – Os seus nomes se<br />
melancolizam – Esguicham para o<br />
firmamento – Como os passos numa igreja –<br />
E os seus olhares na água parada – Onde<br />
está Crémnitz que se alistou – Morrem<br />
melancolicamente – Pode ser que já estejam<br />
mortos – Onde estão Braque e Max Jacob –<br />
Minha alma está cheia de lembranças –<br />
Derain de olhos cinzentos como a aurora – O<br />
jacto de água chora sobre a minha pena –<br />
OS QUE PARTIRAM PARA A GUERRA AO<br />
NORTE SE BATEM AGORA – A noite cai o<br />
sangrento mar – Jardins onde sangra<br />
abundantemente o louro rosa flor guerreira.<br />
O Manifesto Futurista foi escrito por Fillippo Marinetti e publicado em "Le Figaro" em 20 de<br />
fevereiro de 1909.<br />
1. Queremos cantar o amor do perigo, o hábito da energia e da temeridade.<br />
2. A coragem, a audácia, a rebelião, serão elementos essenciais da nossa poesia.<br />
3. Até hoje, a literatura exaltou a imobilidade pensativa, o êxtase e o sono. Nós queremos exaltar o<br />
movimento agressivo, a insôónia febril, o passo de corrida, o salto mortal, a bofetada e o sopapo.<br />
4. Declaramos que a magnificência do mundo se enriqueceu de uma beleza nova: a beleza da<br />
velocidade. Um carro de corrida com a carroçaria enfeitada por grandes tubos de escape como
E.E. Hércules Maymone<br />
serpentes de respiração explosiva… um carro tonitruante que parece correr entre a metralha é mais<br />
belo do que a Vitória de Samotrácia.<br />
5. Queremos cantar o homem que segura o volante, cuja haste ideal atravessa a Terra, lançada, por<br />
sua vez, em corrida no circuito da sua órbita.<br />
6. O poeta terá de se prodigar, com ardor, refulgência e prodigalidade, para aumentar o entusiástico<br />
fervor dos elementos primordiais.<br />
7. Não há beleza senão na luta. Nenhuma obra que não tenha um carácter agressivo pode ser<br />
considerada obra-prima. A poesia deve ser concebida como um violento assalto contra as forças<br />
ignotas, para reduzi-las a prostrar-se perante o homem.<br />
8. Estamos no promontório extremo dos séculos!… Porque deveremos olhar para detrás das costas se<br />
queremos arrombar as misteriosas portas do impossível? O Tempo e o Espaço morreram ontem. Nós<br />
vivemos já no absoluto, pois já criamos a eterna velocidade.<br />
9. Nós queremos glorificar a guerra, o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos libertários,<br />
as belas ideias por que se morre e o desprezo da mulher.<br />
10. Queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academias de todo o tipo e combater o<br />
moralismo, o feminismo e todas as vilezas oportunistas ou utilitárias.<br />
11. Cantaremos as grandes multidões agitadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela revolta; cantaremos<br />
a maré multicor e polifônica das revoluções nas capitais modernas; cantaremos o vibrante fervor<br />
noturno dos arsenais e dos estaleiros incendiados por violentas luas elétricas; as gulosas estações de<br />
caminho-de-ferro engolindo serpentes fumegantes; as fábricas suspensas das nuvens pelas fitas do<br />
seu fumo; as pontes que saltam como atletas por sobre a diabólica cutelaria dos rios ensolarados; os<br />
aventureiros navios a vapor que farejam o horizonte; as locomotivas de vasto peito, galgando os<br />
carris como grandes cavalos de aço curvados por longos tubos e o deslizante voo dos aviões cujos<br />
motores drapejam ao vento como o aplauso de uma multidão entusiasta.<br />
É da Itália que lançamos ao mundo este manifesto de violência arrebatadora e incendiária com o qual<br />
fundamos o nosso Futurismo, porque queremos libertar este país de sua fétida gangrena de<br />
professores, arqueólogos, cicerones e antiquários.<br />
Há muito tempo a Itália vem sendo um mercado de belchiores. Queremos libertá-la dos incontáveis<br />
museus que a cobrem de cemitérios inumeráveis.<br />
Museus: cemitérios!... Idênticos, realmente, pela sinistra promiscuidade de tantos corpos que não se<br />
conhecem. Museus: dormitórios públicos onde se repousa sempre ao lado de seres odiados ou<br />
desconhecidos! Museus: absurdos dos matadouros dos pintores e escultores que se trucidam<br />
ferozmente a golpes de cores e linhas ao longo de suas paredes!<br />
Que os visitemos em peregrinação uma vez por ano, como se visita o cemitério no dos dos mortos,<br />
tudo bem. Que uma vez por ano se desponta uma coroa de flores diante da Gioconda, vá lá. Mas não<br />
admitimos passear diariamente pelos museus nossas tristezas, nossa frágil coragem, nossa mórbida<br />
inquietude. Por que devemos nos envenenar? Por que devemos apodrecer?
E.E. Hércules Maymone<br />
E que se pode ver num velho quadro senão a fatigante contorção do artista que se empenhou em<br />
infringir as insuperáveis barreiras erguidas contra o desejo de exprimir inteiramente o seu sonho?...<br />
Admirar um quadro antigo equivalente a verter a nossa sensibilidade numa urna funerária, em vez de<br />
projetá-la para longe, em violentos arremessos de criação e de ação.<br />
Quereis, pois, desperdiçar todas as vossas melhores forças nessa eterna e inútil admiração do<br />
passado, da qual saís fatalmente exaustos, diminuídos e espezinhados?<br />
Em verdade eu vos digo que a frequentação cotidiana dos museus, das bibliotecas e das academias<br />
(cemitérios de esforços vãos, calvários de sonhos crucificados, registros de lances truncados!...) é,<br />
para os artistas, tão ruinosa quanto a tutela prolongada dos pais para certos jovens embriagados por<br />
seu os prisioneiros, vá lá: o admirável passado é talvez um bálsamo para tantos os seus males, já que<br />
para eles o futuro está barrado... Mas nós não queremos saber dele, do passado, nós, jovens e fortes<br />
futuristas!<br />
Bem-vindos, pois, os alegres incendiários com seus dedos carbonizados! Ei-los!... Aqui!... Ponham<br />
fogo nas estantes das bibliotecas!... Desviem o curso dos canais para inundar os museus!... Oh, a<br />
alegria de ver flutuar à deriva, rasgadas e descoradas sobre as águas, as velhas telas gloriosas!...<br />
Empunhem as picaretas, os machados, os martelos e destruam sem piedade as cidades veneradas!<br />
Os mais velhos dentre nós têm 30 anos: resta-nos assim, pelo menos um decênio mais jovens e<br />
válidos que nós jogarão no cesto de papéis, como manuscritos inúteis. - Pois é isso que queremos!<br />
Nossos sucessores virão de longe contra nós, de toda parte, dançando à cadência alada dos seus<br />
primeiros cantos, estendendo os dedos aduncos de predadores e farejando caninamente, às portas das<br />
academias, o bom cheiro das nossas mentes em putrefação, já prometidas às catacumbas das<br />
bibliotecas.<br />
Mas nós não estaremos lá... Por fim eles nos encontrarão - uma noite de inverno - em campo aberto,<br />
sob um triste galpão tamborilado por monótona chuva, e nos verão agachados junto aos nossos<br />
aeroplanos trepidantes, aquecendo as mãos ao fogo mesquinho proporcionado pelos nossos livros de<br />
hoje flamejando sob o vôo das nossas imagens.<br />
Eles se amotinarão à nossa volta, ofegantes de angústia e despeito, e todos, exasperados pela nossa<br />
soberba, inestancável audácia, se precipitarão para matar-nos, impelidos por um ódio tanto mais mais<br />
implacável quanto seus corações estiverem ébrios de amor e admiração por nós.<br />
A forte e sã Injustiça explodirá radiosa em seus olhos - A arte, de fato, não pode ser senão violência,<br />
crueldade e injustiça.<br />
Os mais velhos dentre nós têm 30 anos: no entanto, temos já esbanjado tesouros, mil tesouros de<br />
força, de amor, de audácia, de astúcia e de vontade rude, precipitadamente, delirantemente, sem<br />
calcular, sem jamais hesitar, sem jamais repousar, até perder o fôlego... Olhai para nós! Ainda não<br />
estamos exaustos! Nossos corações não sentem nenhuma fadiga, porque estão nutridos de fogo, de<br />
ódio e de velocidade!... Estais admirados? É lógico, pois não vos recordais sequer de ter vivido!<br />
Eretos sobre o pináculo do mundo, mais uma vez lançamos o nosso desafio às estrelas!<br />
Vós nos opondes objeções?... Basta! Basta! Já as conhecemos... Já entendemos!... Nossa bela e<br />
mendaz inteligência nos afirma que somos o resultado e o prolongamento dos nossos ancestrais. -
E.E. Hércules Maymone<br />
Talvez!... Seja!... Mas que importa? Não queremos entender!... Ai de quem nos repetir essas palavras<br />
infames!...<br />
Cabeça erguida!...<br />
Eretos sobre o pináculo do mundo, mais uma vez lançamos o nosso desafio às estrelas.<br />
Psicologia de um vencido – Augusto dos Anjos<br />
Eu, filho do carbono e do amoníaco,<br />
Monstro de escuridão e rutilância,<br />
Sofro, desde a epigênese da infância,<br />
A influência má dos signos do zodíaco.<br />
Profundissimamente hipocondríaco,<br />
Este ambiente me causa repugnância…<br />
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia<br />
Que se escapa da boca de um cardíaco.<br />
Já o verme – este operário das ruínas -<br />
Que o sangue podre das carnificinas<br />
Come, e á vida em geral declara guerra,<br />
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,<br />
E há de deixar-me apenas os cabelos,<br />
Na frialdade inorgânica da terra!<br />
Um grito de liberdade – Tristan Tzara<br />
EXPRESSIONISMO<br />
DADAÍSMO<br />
"Que cada homem grite: há um grande trabalho destrutivo, negativo, a executar. Varrer, limpar. A<br />
propriedade do indivíduo se afirma após o estado de loucura, de loucura agressiva, completa, de um<br />
mundo abandonado entre as mãos dos bandidos que rasgam e destroem os séculos."
E.E. Hércules Maymone<br />
"Liberdade: Dadá, Dadá, Dadá, uivos das dores crispadas, entrelaçamento dos contrários e de todas<br />
as contradições, dos grotescos, das inconsequências: A Vida." - Tristan Tzara<br />
SURREALISMO<br />
Trecho do Manifesto Surrealista – André Breton<br />
Para escrever falsos romances<br />
Você, seja quem for, se é de seu agrado, faça queimar algumas folhas de louro, e sem atiçar<br />
este fogo fraco, e comece a escrever um romance. Você tem a permissão do surrealismo: basta você<br />
mudar a agulha de “Tempo bom e estável” para “Ação” e a mágica está feita. Eis aqui personagens<br />
com atitudes disparatadas: os nomes deles em sua escritura são uma questão de maiúsculas e estarão<br />
tão a vontade com os verbos ativos como na conjugação impessoal, os pronomes estão<br />
subentendidos, em expressões tais como: chove, há, é preciso, etc. Eles vão comanda-los, por assim<br />
dizer, e quando a observação, a reflexão, e as faculdades de generalização não lhe tenham ajudado<br />
nada, esteja certo de que eles vão lhe retribuir mil intenções que você não teve. Assim dotados de<br />
poucas características físicas e morais, estes seres, que em verdade lhe devem tão pouco, não se<br />
desviarão de uma certa linha de conduta, com a qual você não precisa se incomodar. Daí resultará<br />
uma intriga mais ou menos hábil na aparência, justificando ponto por ponto esse desfecho comovente<br />
ou tranqüilo, ao qual você não dá nenhuma atenção. O seu falso romance imitará admiravelmente um<br />
romance verdadeiro; você ficará rico, e todos concordam em dizer que você tem “algo na barriga”,<br />
pois é aí mesmo que este algo está.<br />
Bem entendido, por um processo análogo, e à condição de ignorar o que você vai comentar, você<br />
poderá se aplicar com sucesso à falsa crítica.