companhia_das_letrinhas/akimbo_e_os_elefantes-9788574063386
companhia_das_letrinhas/akimbo_e_os_elefantes-9788574063386
companhia_das_letrinhas/akimbo_e_os_elefantes-9788574063386
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
. O sonho de Akimbo<br />
Imagine como é viver no coração da África. Imagine como é viver em um lugar onde o<br />
sol nasce to<strong>das</strong> as manhãs sobre montanhas azuis e sobre extens<strong>os</strong> camp<strong>os</strong> de grama,<br />
mais alt<strong>os</strong> do que uma pessoa. Imagine como é viver em um lugar onde ainda existem<br />
<strong>elefantes</strong>.<br />
Akimbo vivia em um lugar assim, à beira de uma grande reserva de animais na África.<br />
Lá, <strong>os</strong> animais selvagens podiam viver em segurança. Nas planícies, havia grandes<br />
mana<strong>das</strong> de zebras e de antílopes. Nas florestas e nas montanhas roch<strong>os</strong>as, havia<br />
leopard<strong>os</strong> e babuín<strong>os</strong>. E, claro, havia <strong>os</strong> grandes <strong>elefantes</strong>, que passeavam<br />
tranqüilamente pel<strong>os</strong> camp<strong>os</strong> e por entre as árvores.<br />
O pai de Akimbo trabalhava lá. Às vezes, ele dirigia <strong>os</strong> jipes; às vezes, operava o rádio<br />
ou ajudava a consertar <strong>os</strong> veícul<strong>os</strong>. Sempre havia algo a fazer.<br />
Quando Akimbo estava com sorte, seu pai o levava junto para trabalhar. O menino<br />
adorava ir com o pai para o interior da reserva. De vez em quando, <strong>os</strong> dois tinham que<br />
consertar uma cerca ou rebocar um jipe quebrado, mas em geral faziam apenas ron<strong>das</strong><br />
de rotina pela selva para checar <strong>os</strong> animais.<br />
Vez ou outra, eles encontravam algo emocionante.<br />
"Olhe", o pai c<strong>os</strong>tumava dizer. "Não faça nenhum barulho. Apenas olhe para lá."<br />
Akimbo seguia o olhar do pai e via alguma fera comendo, dormindo ou esperando para<br />
atacar sua presa.<br />
Um dia, enquanto eles caminhavam pela selva, o pai de Akimbo levantou o braço de<br />
repente e pediu que o filho não se mexesse.<br />
"O que foi?", perguntou Akimbo com o tom de voz mais baixo que conseguiu.<br />
"Dê uns pass<strong>os</strong> para trás. Bem devagar. Volte pelo caminho de onde viem<strong>os</strong>."<br />
Somente quando começou a recuar, Akimbo percebeu o que estava acontecendo. Em<br />
uma clareira não muito distante havia dois leopard<strong>os</strong>. Um deles, pressentindo alguma<br />
coisa no ar, tinha ficado de pé, se pondo a farejar. O outro continuava dormindo.<br />
Por sorte, o vento soprava em direção contrária, senão o leopardo teria sentido a<br />
presença deles. Se isso acontecesse, eles teriam corrido um risco ainda maior.<br />
"Essa foi por pouco", disse o pai de Akimbo quando amb<strong>os</strong> já estavam fora de perigo.<br />
"Não g<strong>os</strong>to nem de imaginar o que aconteceria se eu não tivesse visto <strong>os</strong> leopard<strong>os</strong> a<br />
tempo."<br />
Não eram <strong>os</strong> leopard<strong>os</strong>, e nem mesmo <strong>os</strong> leões, que Akimbo g<strong>os</strong>tava mais de observar.<br />
Seu animal preferido era o elefante. Também era preciso manter distância deles, mas <strong>os</strong><br />
<strong>elefantes</strong> pareciam mais mans<strong>os</strong> do que <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> animais. Akimbo adorava suas figuras<br />
imensas e pesa<strong>das</strong>. Ele adorava o jeito com que moviam o corpo lentamente, pra lá e pra<br />
cá, esmagando o chão <strong>das</strong> planícies que se espremem entre as grandes faixas de árvores.<br />
E adorava o som do bramido d<strong>os</strong> <strong>elefantes</strong> - um som curto, assustado e engraçado.<br />
Antes, havia inúmer<strong>os</strong> <strong>elefantes</strong> na África, mas ao longo d<strong>os</strong> an<strong>os</strong> eles foram sendo<br />
exterminad<strong>os</strong> cruelmente. Hoje, existem cada vez men<strong>os</strong>.<br />
Akimbo não entendia por que as pessoas caçavam <strong>os</strong> <strong>elefantes</strong> e um dia perguntou a seu<br />
pai.<br />
"É por causa de suas presas. Elas são feitas de marfim, e o marfim é um material muito<br />
vali<strong>os</strong>o. É usado para enfeites e jóias. Alguns ricaç<strong>os</strong> o colecionam e g<strong>os</strong>tam de <strong>os</strong>tentar<br />
as presas de elefante esculpi<strong>das</strong>."<br />
"Mas que malvadeza", disse Akimbo. "Que bom que isso não acontece mais."<br />
O pai de Akimbo ficou em silêncio por um instante.
"Infelizmente, isso acontece. Ainda há pessoas que caçam <strong>elefantes</strong> - mesmo aqui, na<br />
reserva."<br />
"E não podem<strong>os</strong> fazer nada?"<br />
O pai de Akimbo sacudiu a cabeça. "É muito difícil. A reserva se estende por mais de<br />
150 quilômetr<strong>os</strong>. Não dá pra ficar de olho em tudo, o tempo todo."<br />
Akimbo permaneceu em silêncio. A idéia de que <strong>os</strong> <strong>elefantes</strong> eram caçad<strong>os</strong> por causa de<br />
suas presas o deixava furi<strong>os</strong>o. Ele ficou imaginando o que aconteceria se, um dia, tod<strong>os</strong><br />
<strong>os</strong> <strong>elefantes</strong> da África f<strong>os</strong>sem exterminad<strong>os</strong>. Então só restariam fotografias como<br />
lembranças e, claro, o marfim de suas presas. As reservas ficariam vazias, e a visão de<br />
um elefante cruzando a planície seria apenas uma recordação.<br />
"Não quero que isso aconteça", disse Akimbo para si mesmo. "Quero que <strong>os</strong> <strong>elefantes</strong><br />
continuem a existir."