Adição de Derivados da Mandioca à Farinha de Trigo - Embrapa
Adição de Derivados da Mandioca à Farinha de Trigo - Embrapa
Adição de Derivados da Mandioca à Farinha de Trigo - Embrapa
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Texto para Discussão 12<br />
<strong>Adição</strong> <strong>de</strong> <strong>Derivados</strong> <strong>da</strong> <strong>Mandioca</strong><br />
<strong>à</strong> <strong>Farinha</strong> <strong>de</strong> <strong>Trigo</strong><br />
Algumas Reflexões<br />
Carlos Estevão Leite Cardoso<br />
Augusto Hauber Gameiro<br />
<strong>Embrapa</strong> Informação Tecnológica<br />
Brasília, DF<br />
2002<br />
1<br />
ISSN 1677-5473
Exemplares <strong>de</strong>sta publicação po<strong>de</strong>m ser adquiridos na:<br />
Empresa Brasileira <strong>de</strong> Pesquisa Agropecuária – <strong>Embrapa</strong><br />
Secretaria <strong>de</strong> Administração Estratégica<br />
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constitui violação dos direitos autorais (Lei n<br />
CIP-Brasil.Catalogação-na-publicação.<br />
<strong>Embrapa</strong> Informação Tecnológica.<br />
o 9.610).<br />
Cardoso, Carlos Estevão Leite.<br />
<strong>Adição</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivados <strong>da</strong> mandioca <strong>à</strong> farinha <strong>de</strong> trigo. Algumas reflexões<br />
/ Carlos Estevão Leite Cardoso e Augusto Hauber<br />
Gameiro. — Brasília : <strong>Embrapa</strong> Informação Tecnológica, 2002.<br />
30 p. ; (Texto para Discussão ; 12).<br />
1. <strong>Mandioca</strong> – <strong>Farinha</strong> <strong>de</strong> raspa. 2. <strong>Mandioca</strong> – Fécula. 3.<br />
<strong>Trigo</strong> – <strong>Farinha</strong>. I. Gameiro, Augusto Hauber. II. Título. III. Série.<br />
CDD 641.33682 (21ª ed.)<br />
© <strong>Embrapa</strong> 2002
Apresentação<br />
Texto para Discussão é um veículo utilizado pela<br />
Secretaria <strong>de</strong> Administração Estratégica – SEA –, <strong>da</strong> Empresa<br />
Brasileira <strong>de</strong> Pesquisa Agropecuária – <strong>Embrapa</strong> –,<br />
para dinamizar a circulação <strong>de</strong> idéias novas e a prática<br />
<strong>de</strong> reflexão e <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate sobre aspectos relacionados <strong>à</strong> ciência,<br />
<strong>à</strong> tecnologia, ao <strong>de</strong>senvolvimento agrícola e ao<br />
agronegócio.<br />
O objetivo <strong>da</strong> série é fazer com que uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
mais ampla, composta <strong>de</strong> profissionais <strong>da</strong>s diferentes<br />
áreas científicas, <strong>de</strong>bata os textos apresentados, contribuindo<br />
para o seu aperfeiçoamento.<br />
Os trabalhos trazidos a esta série po<strong>de</strong>rão, em<br />
segui<strong>da</strong>, ser submetidos a publicação em qualquer livro ou<br />
periódico. Não se reserva aqui o direito <strong>de</strong> exclusivi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> artigo ou monografia posta em discussão.<br />
O leitor po<strong>de</strong>rá apresentar comentários e sugestões,<br />
assim como <strong>de</strong>bater diretamente com os autores, em seminários<br />
especialmente programados, ou utilizando qualquer<br />
um dos en<strong>de</strong>reços fornecidos: eletrônico, fax ou postal.<br />
Os trabalhos para esta coleção <strong>de</strong>vem ser enviados<br />
<strong>à</strong> <strong>Embrapa</strong>, Secretaria <strong>de</strong> Administração Estratégica,<br />
Edifício-Se<strong>de</strong>, Parque Estação Biológica – PqEB –, Av. W3<br />
Norte (final), CEP 70770-901, Brasília, DF. Contatos com<br />
a Editoria <strong>de</strong>vem ser feitos pelo fone (61) 448-4452 ou<br />
pelo fax (61) 448-4319.<br />
Os usuários <strong>da</strong> Internet po<strong>de</strong>m acessar as publicações<br />
pelo en<strong>de</strong>reço http://www.embrapa.br/novi<strong>da</strong><strong>de</strong>s/<br />
publica/apresent.htm/. Para os usuários do Sistema<br />
<strong>Embrapa</strong>, basta clicar em novi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, na Intranet.
Agra<strong>de</strong>cimentos<br />
.O<br />
s autores agra<strong>de</strong>cem aos parceiros anônimos <strong>da</strong> série<br />
Texto para Discussão <strong>da</strong> <strong>Embrapa</strong> pelas valiosas<br />
contribuições apresenta<strong>da</strong>s na formulação <strong>de</strong>ste texto.
12<br />
<strong>Adição</strong> <strong>de</strong> <strong>Derivados</strong> <strong>da</strong> <strong>Mandioca</strong><br />
<strong>à</strong> <strong>Farinha</strong> <strong>de</strong> <strong>Trigo</strong><br />
Algumas Reflexões<br />
Carlos Estevão Leite Cardoso 1<br />
Augusto Hauber Gameiro 2<br />
1 Pesquisador <strong>da</strong> <strong>Embrapa</strong> <strong>Mandioca</strong> e Fruticultura e<br />
doutorando em Economia Aplica<strong>da</strong> pela Esalq-USP.<br />
Caixa Postal 007, CEP 44380-000, Cruz <strong>da</strong>s Almas, BA.<br />
E-mail: estevao@cnpmf.embrapa.br.<br />
2 Pesquisador do Centro <strong>de</strong> Estudos Avançados em Economia<br />
Aplica<strong>da</strong> – Cepea-Esalq-USP – e doutorando em Economia<br />
Aplica<strong>da</strong> pela Esalq-USP. E-mail: ahgameir@terra.com.br.
Introdução<br />
.A<br />
adição <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> mandioca (farinha <strong>de</strong> mandioca<br />
refina<strong>da</strong>, farinha <strong>de</strong> raspa <strong>de</strong> mandioca e fécula <strong>de</strong><br />
mandioca) <strong>à</strong> farinha <strong>de</strong> trigo não é uma prática nova.<br />
Historicamente, a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> produzir farinhas mistas<br />
esteve atrela<strong>da</strong> a questões econômicas e políticas. Isso<br />
po<strong>de</strong> ser constatado nos termos do Decreto-Lei <strong>de</strong><br />
1937, do Serviço <strong>de</strong> Fiscalização do Comércio, que<br />
estimulava a produção <strong>de</strong> pão misto com 70% <strong>de</strong> farinha<br />
<strong>de</strong> trigo e 30% <strong>de</strong> sucedâneos. Naquela época, o<br />
aspecto econômico que justificava o referido <strong>de</strong>creto<br />
era justamente reduzir as importações <strong>de</strong> trigo e melhorar<br />
o <strong>de</strong>sempenho <strong>da</strong> balança comercial.<br />
Parecia claro, portanto, que as restrições <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />
técnica que existiam (e que persistem) podiam<br />
ser resolvi<strong>da</strong>s, em parte, pelo mercado, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que ampara<strong>da</strong>s<br />
por força <strong>da</strong>s leis <strong>de</strong> mercado (relação <strong>de</strong> preços)<br />
ou pela intervenção governamental.<br />
Faz-se necessário, agora, discutir com profundi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
as implicações e as restrições <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m econômica<br />
e social <strong>da</strong> proposta <strong>de</strong> inclusão <strong>de</strong> farinhas <strong>de</strong><br />
mandioca <strong>à</strong> farinha <strong>de</strong> trigo, assunto que volta <strong>à</strong> tona,<br />
por provocação do Projeto <strong>de</strong> Lei n o . 4.679, apresentado<br />
pelo <strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral Aldo Rebelo. O referido<br />
Projeto <strong>de</strong> Lei dispõe sobre a obrigatorie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> adição<br />
<strong>de</strong>, no mínimo, 10% <strong>de</strong> farinha <strong>de</strong> mandioca refina<strong>da</strong>,<br />
farinha <strong>de</strong> raspa <strong>de</strong> mandioca ou fécula <strong>de</strong> mandioca<br />
<strong>à</strong> farinha <strong>de</strong> trigo.<br />
9
No contexto do referido Projeto <strong>de</strong> Lei, algumas<br />
consi<strong>de</strong>rações precisam ser explicita<strong>da</strong>s, para i<strong>de</strong>ntificar<br />
as restrições <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m econômica e social <strong>de</strong>correntes<br />
<strong>da</strong> obrigatorie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> inclusão <strong>da</strong> farinha<br />
<strong>de</strong> mandioca <strong>à</strong> farinha <strong>de</strong> trigo.<br />
O que há <strong>de</strong> recorrente nessa discussão?<br />
.V<br />
A força do mercado<br />
ivencia-se, mais uma vez, a justifica<strong>da</strong> busca do governo<br />
(e por que não dizer “<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>”) por medi<strong>da</strong>s<br />
que possam reduzir o déficit na balança comercial<br />
brasileira. Além disso, verifica-se que a adição <strong>de</strong> farinha<br />
<strong>de</strong> mandioca <strong>à</strong> farinha <strong>de</strong> trigo é uma prática já<br />
adota<strong>da</strong> por algumas empresas do setor alimentício,<br />
indicando, que, talvez, possa ser dispensa<strong>da</strong> a formulação<br />
<strong>de</strong> uma lei específica.<br />
Indústrias <strong>de</strong> biscoitos e macarrão vêm adicionando<br />
parcelas consi<strong>de</strong>ráveis <strong>de</strong> fécula <strong>de</strong> mandioca<br />
<strong>à</strong> farinha <strong>de</strong> trigo na fabricação <strong>de</strong> seus produtos, a<br />
exemplo <strong>da</strong> Zadimel Indústria e Comércio <strong>de</strong> Alimentos,<br />
sedia<strong>da</strong> em Goioerê, PR. As condições <strong>de</strong> mercado<br />
favorecem esse procedimento, que resulta em redução<br />
<strong>de</strong> custos e conseqüente aumento <strong>de</strong> competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>da</strong> empresa diante <strong>da</strong> estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica<br />
e <strong>da</strong> concorrência acirra<strong>da</strong>, sem com isso comprometer<br />
a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> do produto.<br />
10
Iniciativa pública vs. iniciativa priva<strong>da</strong><br />
Há também informações <strong>de</strong> iniciativas, tanto <strong>da</strong><br />
<strong>Embrapa</strong> <strong>Mandioca</strong> e Fruticultura como <strong>da</strong> Associação<br />
Brasileira dos Produtores <strong>de</strong> Amido <strong>de</strong> <strong>Mandioca</strong><br />
– Abam –, <strong>de</strong> estímulo <strong>à</strong> adoção <strong>de</strong>ssa prática. A primeira,<br />
pelo estímulo concedido a panificadores no<br />
Estado <strong>da</strong> Bahia; e a segun<strong>da</strong>, em treinamentos a<br />
panificadores na região <strong>de</strong> Paranavaí, PR. As ações<br />
implementa<strong>da</strong>s tanto pelas iniciativas priva<strong>da</strong> quanto<br />
pública são apoia<strong>da</strong>s por estudos já realizados nas<br />
uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisa <strong>da</strong> <strong>Embrapa</strong> e por outras instituições<br />
públicas. A título <strong>de</strong> exemplo, citam-se El-Dash<br />
et al. (1994) e Cere<strong>da</strong> (2001).<br />
Economia <strong>de</strong> divisas<br />
No que tange <strong>à</strong> evasão <strong>de</strong> divisas, a implementação<br />
<strong>da</strong> lei nos termos propostos po<strong>de</strong>rá resultar<br />
numa economia estima<strong>da</strong> em U$ 104 milhões (a preços<br />
médios <strong>de</strong> 2001), consi<strong>de</strong>rando-se uma redução<br />
nas importações em volume equivalente ao incremento<br />
dos <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> mandioca (farinha <strong>de</strong> mandioca<br />
refina<strong>da</strong>, farinha <strong>de</strong> raspa <strong>de</strong> mandioca ou fécula) adicionados<br />
<strong>à</strong> farinha <strong>de</strong> trigo.<br />
Geração <strong>de</strong> emprego<br />
Há também recorrentes argumentos que invocam<br />
a maior geração <strong>de</strong> emprego ao se substituir farinha <strong>de</strong><br />
trigo por farinha <strong>de</strong> mandioca. Para aten<strong>de</strong>r <strong>à</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong><br />
adicional <strong>de</strong> fécula, estima<strong>da</strong> em 630 mil tonela<strong>da</strong>s,<br />
11
seriam gerados, só na ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> agrícola, mais <strong>de</strong><br />
50 mil empregos diretos, supondo uma produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
média <strong>de</strong> 25 t/ha, um rendimento médio <strong>de</strong> 25% <strong>de</strong><br />
fécula e uma relação <strong>de</strong> 2:1 <strong>de</strong> área planta<strong>da</strong>/emprego<br />
direto. Se fossem utilizados os <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Sistema<br />
Estadual <strong>de</strong> Análise <strong>de</strong> Dados (Sea<strong>de</strong>, 2002), publicados<br />
para o Estado <strong>de</strong> São Paulo, seriam gerados<br />
mais <strong>de</strong> 4,7 mil EHAs (equivalentes-homens-ano), que<br />
correspon<strong>de</strong>m a mais <strong>de</strong> 40% dos EHAs gerados na<br />
cultura <strong>da</strong> mandioca no Estado <strong>de</strong> São Paulo em 2001.<br />
Ressalve-se, entretanto, que os sistemas <strong>de</strong> produção<br />
<strong>de</strong> mandioca já não são tão intensivos em mão-<strong>de</strong>-obra<br />
como eram no passado.<br />
Impacto ambiental<br />
Na Região Centro-Sul, on<strong>de</strong> ocorreria maior estímulo<br />
<strong>à</strong> cultura, possivelmente por conta <strong>da</strong> lei, boa<br />
parte dos produtores já mecaniza o plantio e usa herbici<strong>da</strong>s<br />
no controle <strong>de</strong> ervas <strong>da</strong>ninhas, substituindo assim<br />
parte <strong>da</strong>s capinas manuais que tradicionalmente <strong>de</strong>man<strong>da</strong>m<br />
gran<strong>de</strong> quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra. Essa prática<br />
é uma resposta <strong>à</strong>s pressões <strong>de</strong> custos <strong>de</strong>correntes <strong>da</strong><br />
escassez <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra em algumas locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />
O incremento do uso <strong>de</strong> herbici<strong>da</strong>s na cultura <strong>da</strong><br />
mandioca po<strong>de</strong>rá também abalar os argumentos que<br />
indicam essa cultura como a que causa menos <strong>da</strong>nos<br />
ao meio ambiente quando compara<strong>da</strong> <strong>à</strong> do trigo. Há<br />
ain<strong>da</strong> o agravante <strong>de</strong> se utilizarem herbici<strong>da</strong>s não recomen<strong>da</strong>dos<br />
para a cultura <strong>da</strong> mandioca, em doses que<br />
po<strong>de</strong>m comprometer os custos e, sobretudo, o ambiente.<br />
Um processo <strong>de</strong> incremento <strong>da</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong> <strong>de</strong>ve<br />
agravar essa situação. Esse é um campo que está a<br />
12
exigir a colaboração imediata <strong>da</strong> pesquisa agrícola e<br />
<strong>da</strong> atuação <strong>de</strong> instituições públicas envolvi<strong>da</strong>s com o<br />
assunto.<br />
Estímulo aos pequenos produtores<br />
A situação permanece praticamente inaltera<strong>da</strong> no<br />
que diz respeito aos estratos <strong>de</strong> área dos produtores<br />
<strong>de</strong> mandioca e trigo. Ocorre, entretanto, que, quando<br />
os preços são estimulantes, observa-se a entra<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />
produtores <strong>de</strong> estratos <strong>de</strong> áreas mais extensas. Na<br />
Tabela 1, po<strong>de</strong>-se observar que, com base nos <strong>da</strong>dos<br />
do Censo Agropecuário realizado em 1996, mais <strong>de</strong><br />
76% <strong>da</strong> produção <strong>de</strong> mandioca encontrava-se em<br />
áreas com menos <strong>de</strong> 50 ha, enquanto, para o trigo, o<br />
mesmo estrato <strong>de</strong> área respondia por aproxima<strong>da</strong>mente<br />
33% <strong>da</strong> produção. Isso significa que a produção do<br />
trigo continua não concentra<strong>da</strong> nos estratos <strong>de</strong> áreas<br />
inferiores, o que não po<strong>de</strong>ria ser diferente, consi<strong>de</strong>rando<br />
as próprias características <strong>da</strong> cultura, que exige<br />
ganhos <strong>de</strong> escala, sobretudo na mecanização.<br />
Desse modo, um <strong>de</strong>slocamento na <strong>de</strong>man<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />
mandioca, <strong>de</strong>riva<strong>da</strong> do processo <strong>de</strong> substituição <strong>da</strong><br />
farinha <strong>de</strong> trigo por farinha <strong>de</strong> mandioca, certamente<br />
beneficiaria os produtores que estão concentrados nas<br />
pequenas áreas (até 50 ha), consi<strong>de</strong>rando que o perfil<br />
do sistema <strong>de</strong> produção não será alterado imediatamente.<br />
Posteriormente, produtores <strong>de</strong> outros estratos<br />
<strong>de</strong> área po<strong>de</strong>rão ser beneficiados. Tudo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá do<br />
comportamento dos preços e <strong>da</strong>s inovações tecnológicas<br />
gera<strong>da</strong>s, pois se sabe que algumas tecnologias (mecanização<br />
do processo <strong>de</strong> colheita, por exemplo) po<strong>de</strong>rão<br />
estimular a entra<strong>da</strong> <strong>de</strong> produtores que ocupam<br />
estratos <strong>de</strong> maior área.<br />
13
Tabela 1. Distribuição <strong>da</strong> produção <strong>de</strong> mandioca e trigo por grupo <strong>de</strong> área total no Brasil, em 1996.<br />
<strong>Mandioca</strong> <strong>Trigo</strong><br />
Acumulado<br />
(%)<br />
Participação<br />
(%)<br />
Área<br />
(ha)<br />
Acumulado<br />
(%)<br />
Participação<br />
(%)<br />
Área<br />
(ha)<br />
60.278<br />
85.014<br />
175.042<br />
160.350<br />
201.003<br />
256.923<br />
124.574<br />
78.718<br />
51.920<br />
19.764<br />
11.098<br />
5.545<br />
1.599<br />
1.160<br />
88<br />
60<br />
Grupo <strong>de</strong> área total<br />
0,01<br />
0,02<br />
0,55<br />
2,91<br />
11,57<br />
32,81<br />
49,14<br />
63,98<br />
81,38<br />
90,47<br />
96,57<br />
99,16<br />
99,95<br />
100,00<br />
0,01<br />
0,02<br />
0,52<br />
2,36<br />
8,66<br />
21,24<br />
16,34<br />
14,84<br />
17,39<br />
9,10<br />
6,09<br />
2,60<br />
0,78<br />
0,05<br />
-<br />
0,00<br />
48<br />
162<br />
4.687<br />
21.083<br />
77.365<br />
189.810<br />
145.966<br />
132.610<br />
155.408<br />
81.284<br />
54.450<br />
23.222<br />
6.981<br />
460<br />
4,89<br />
11,78<br />
25,98<br />
38,98<br />
55,28<br />
76,12<br />
86,22<br />
92,60<br />
96,81<br />
98,41<br />
99,31<br />
99,76<br />
99,89<br />
99,99<br />
100,00<br />
4,89<br />
6,89<br />
14,19<br />
13,00<br />
16,30<br />
20,83<br />
10,10<br />
6,38<br />
4,21<br />
1,60<br />
0,90<br />
0,45<br />
0,13<br />
0,09<br />
0,01<br />
0,00<br />
Menos <strong>de</strong> 1 ha<br />
1 a menos <strong>de</strong> 2 ha<br />
2 a menos <strong>de</strong> 5 ha<br />
5 a menos <strong>de</strong> 10 ha<br />
10 a menos <strong>de</strong> 20 ha<br />
20 a menos <strong>de</strong> 50 ha<br />
50 a menos <strong>de</strong> 100 ha<br />
100 a menos <strong>de</strong> 200 ha<br />
200 a menos <strong>de</strong> 500 ha<br />
500 a menos <strong>de</strong> 1.000 ha<br />
1.000 a menos <strong>de</strong> 2.000 ha<br />
2.000 a menos <strong>de</strong> 5.000 ha<br />
5.000 a menos <strong>de</strong> 10.000 ha<br />
10.000 a menos <strong>de</strong> 100.000 ha<br />
100.000 ha e mais<br />
Sem <strong>de</strong>claração<br />
14<br />
21<br />
100,00<br />
893.555<br />
100,00<br />
1.233.138<br />
Total<br />
Fonte: IBGE (2001).
Impacto sobre a ren<strong>da</strong> dos agricultores<br />
Quanto aos efeitos <strong>da</strong> lei sobre a ren<strong>da</strong> dos agricultores,<br />
po<strong>de</strong>-se arrolar algumas hipóteses. O aumento<br />
imediato <strong>da</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong> sem a contraparti<strong>da</strong> <strong>da</strong> oferta 3<br />
irá provocar elevação imediata dos preços em todos<br />
os níveis (matéria-prima e produto final). Consi<strong>de</strong>rando-se<br />
que a oferta e a <strong>de</strong>man<strong>da</strong> <strong>de</strong> mandioca têm<br />
comportamento inelástico, espera-se que ocorra uma<br />
elevação mais que proporcional no preço, refletindose<br />
diretamente na ren<strong>da</strong>. Esse efeito terá maior intensi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
no início do processo e ten<strong>de</strong>rá a se reduzir<br />
com o ajuste final, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> cessados os efeitos do<br />
choque <strong>de</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong>.<br />
A intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> do incremento <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> dos produtores<br />
vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r do nível <strong>da</strong> elastici<strong>da</strong><strong>de</strong>-preço<br />
<strong>da</strong> oferta na região em que a lei provocar maior impacto<br />
(Região Centro-Sul, a princípio). Consi<strong>de</strong>rando<br />
a atual conjuntura, esse benefício inicial na ren<strong>da</strong> dos<br />
agricultores se contrapõe, porém, <strong>à</strong> competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>da</strong> ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> mandioca.<br />
Cessados os efeitos do choque <strong>de</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong>, percorrido<br />
o tempo em que se processam os ajustes e tudo<br />
permanecendo constante, espera-se que o novo equilíbrio<br />
seja restabelecido ao mesmo nível <strong>de</strong> preço anterior<br />
ao choque e com maior quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> produzi<strong>da</strong>.<br />
Isso só será possível, como já foi mencionado, se a<br />
oferta aumentar em valores equivalentes aos <strong>da</strong> <strong>de</strong>-<br />
3 Esse mecanismo será mais bem explicado oportunamente.<br />
15
man<strong>da</strong>, ou seja, na mesma proporção, o que acontecerá<br />
em médio e longo prazos. Nesse caso, consi<strong>de</strong>rando<br />
o atual nível <strong>de</strong> preço, os produtores que não mantiverem<br />
eficiência <strong>de</strong>verão sair do mercado. Assim,<br />
os ganhos em termos <strong>de</strong> ren<strong>da</strong>, que po<strong>de</strong>rão não ser<br />
alterados por uni<strong>da</strong><strong>de</strong> produzi<strong>da</strong>, serão auferidos pelos<br />
produtores remanescentes ou por novos produtores<br />
competitivos, aumentando apenas o volume <strong>de</strong> ren<strong>da</strong><br />
<strong>de</strong> todo o setor.<br />
Ajustes na oferta e na <strong>de</strong>man<strong>da</strong> <strong>de</strong> matéria-prima<br />
e produtos<br />
.C<br />
Impactos na <strong>de</strong>man<strong>da</strong><br />
onsi<strong>de</strong>rando-se que a produção média <strong>de</strong> farinha <strong>de</strong><br />
trigo nos últimos 5 anos foi <strong>de</strong> aproxima<strong>da</strong>mente<br />
6,3 milhões <strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s (Tabela 2), a <strong>de</strong>man<strong>da</strong> <strong>de</strong>riva<strong>da</strong><br />
proporciona<strong>da</strong> pela lei seria <strong>de</strong> 630 mil tonela<strong>da</strong>s<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>rivados <strong>da</strong> mandioca (farinha <strong>de</strong> mandioca<br />
refina<strong>da</strong>, farinha <strong>de</strong> raspa ou fécula <strong>de</strong> mandioca). Levando-se<br />
em consi<strong>de</strong>ração que nesse processo seriam<br />
preferi<strong>da</strong>s a farinha <strong>de</strong> raspa e a fécula <strong>de</strong> mandioca,<br />
pois apresentam melhor quali<strong>da</strong><strong>de</strong> que a <strong>da</strong> farinha <strong>de</strong><br />
mandioca refina<strong>da</strong> e interferem menos na quali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>da</strong> farinha <strong>de</strong> trigo, espera-se que a <strong>de</strong>man<strong>da</strong> por esses<br />
dois produtos seja maior.<br />
16
Tabela 2. Produção <strong>de</strong> farinha <strong>de</strong> trigo no Brasil, <strong>de</strong> 1987 a 2000.<br />
Ano<br />
1987<br />
1988<br />
1989<br />
1990<br />
1991<br />
1992<br />
1993<br />
1994<br />
1995<br />
1996<br />
1997<br />
1998<br />
1999<br />
2000<br />
Média <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 90<br />
Média do período 1995-00<br />
Fonte: Abitrigo (2001).<br />
Segundo El-Dash et al. (1994), a farinha <strong>de</strong> raspa<br />
é o <strong>de</strong>rivado <strong>de</strong> mandioca mais recomen<strong>da</strong>do para<br />
a panificação. Entretanto, as informações disponíveis<br />
registram apenas uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> processamento <strong>de</strong><br />
farinha <strong>de</strong> raspa em operação no Brasil. Desse modo,<br />
seriam necessários novos investimentos para atualizar<br />
parte do parque industrial que se encontra obsoleto<br />
ou <strong>de</strong>sativado, ou, então, fazer investimentos em<br />
novas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> raspa <strong>de</strong> mandioca ou<br />
a<strong>da</strong>ptar as fecularias (estratégia que parece pouco pro-<br />
17<br />
Em 1.000 t<br />
5.054<br />
4.849<br />
5.167<br />
5.339<br />
5.168<br />
5.493<br />
5.877<br />
6.261<br />
5.264<br />
6.320<br />
6.194<br />
6.308<br />
6.770<br />
6.789<br />
5.980<br />
6.274<br />
<strong>Farinha</strong> <strong>de</strong> raspa <strong>de</strong> mandioca: uma boa opção?
vável) 4 . Portanto, ao se optar pelo melhor <strong>de</strong>rivado <strong>de</strong><br />
mandioca (farinha <strong>de</strong> raspa) para adição <strong>à</strong> farinha <strong>de</strong><br />
trigo, enfrentar-se-ia, em médio prazo, a escassez <strong>de</strong><br />
produto e, conseqüentemente, pressões sobre o preço.<br />
Além disso, haveria pressão sobre o preço <strong>da</strong><br />
matéria-prima, uma vez que se admite que seriam produzi<strong>da</strong>s,<br />
além dos volumes atuais, mais 630 mil tonela<strong>da</strong>s<br />
<strong>de</strong> farinha <strong>de</strong> raspa. Essa pressão sobre os preços<br />
resultaria <strong>da</strong> <strong>de</strong>fasagem na resposta <strong>da</strong> oferta aos<br />
preços que, no caso <strong>da</strong> mandioca, em um período, alcança<br />
55% do ajustamento <strong>de</strong> longo prazo5 . A intensi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
do aumento <strong>da</strong> oferta vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r do efeito do<br />
choque <strong>de</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong> sobre os preços e <strong>da</strong> combinação<br />
<strong>da</strong>s elastici<strong>da</strong><strong>de</strong>s-preço <strong>de</strong> oferta e <strong>de</strong>man<strong>da</strong>.<br />
Impactos sobre to<strong>da</strong> a ca<strong>de</strong>ia<br />
A pressão sobre os preços traria reflexos por<br />
to<strong>da</strong> a ca<strong>de</strong>ia, haja vista que as pressões sobre o preço<br />
<strong>da</strong> matéria-prima seriam transmiti<strong>da</strong>s aos <strong>de</strong>mais<br />
produtos, po<strong>de</strong>ndo inclusive tornar a fécula e os amidos<br />
modificados não-competitivos em mercados nos<br />
quais houvesse disputa direta, por exemplo, com os<br />
<strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> milho.<br />
Conseqüências negativas também po<strong>de</strong>riam ser<br />
observa<strong>da</strong>s no mercado <strong>de</strong> farinha comum, com implicações<br />
diretas aos consumidores, que tradicionalmen-<br />
4 O montante <strong>de</strong> investimento para montar uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> farinha <strong>de</strong><br />
raspa é menor do que o para montar uma fecularia.<br />
5 O período <strong>de</strong> ajustamento <strong>da</strong> oferta foi calculado com base nos <strong>da</strong>dos<br />
estimados por Pastore (1973) para o Estado <strong>de</strong> São Paulo.<br />
18
te compõem as classes <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> mais baixa. Nelas, os<br />
gastos com alimentos representam uma porcentagem<br />
consi<strong>de</strong>rável <strong>da</strong> ren<strong>da</strong>. É evi<strong>de</strong>nte que essa previsão<br />
pressupõe uma situação em que não haja nenhum tipo<br />
<strong>de</strong> compensação para as partes que venham a ser prejudica<strong>da</strong>s,<br />
até que o mercado se ajuste <strong>à</strong> nova situação.<br />
Fécula <strong>de</strong> mandioca: uma boa opção?<br />
Para a fécula <strong>de</strong> mandioca, normalmente as restrições<br />
relacionam-se <strong>à</strong> viabili<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica. Da<strong>da</strong><br />
a conjuntura atual <strong>de</strong> oferta e <strong>de</strong>man<strong>da</strong>, essa restrição<br />
não é relevante. Aos preços vigentes em 2001, seria<br />
economicamente viável substituir parte do trigo por<br />
fécula (como mencionado anteriormente, há indústrias<br />
que já fazem isso), mas não o seria se fosse para aten<strong>de</strong>r<br />
ao imediato incremento na <strong>de</strong>man<strong>da</strong> <strong>de</strong> 630 mil<br />
tonela<strong>da</strong>s. A justificativa resi<strong>de</strong> no fato <strong>de</strong> que se estima<br />
uma <strong>de</strong>man<strong>da</strong> atual <strong>de</strong> fécula <strong>de</strong> mandioca no Brasil<br />
em torno <strong>de</strong> 450 mil tonela<strong>da</strong>s, enquanto a produção<br />
para 2001 <strong>de</strong>ve ter alcançado 550 mil tonela<strong>da</strong>s<br />
(há previsões mais otimistas que apontam para<br />
600 mil tonela<strong>da</strong>s). Portanto, haveria apenas um excesso<br />
<strong>de</strong> oferta <strong>de</strong> 100 a 150 mil tonela<strong>da</strong>s, o que não<br />
aten<strong>de</strong>ria <strong>à</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong> <strong>de</strong>riva<strong>da</strong> imposta pela obrigatorie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>da</strong> substituição, implicando o incremento <strong>de</strong><br />
80% na <strong>de</strong>man<strong>da</strong> atual.<br />
Como o excesso <strong>de</strong> oferta atualmente existente<br />
no mercado po<strong>de</strong> tornar a política <strong>de</strong> substituição economicamente<br />
viável, é <strong>de</strong> se esperar que esse preço<br />
19
só se sustente se houver, imediatamente, uma<br />
contraparti<strong>da</strong> na oferta, equivalente <strong>à</strong> soma do excesso<br />
<strong>de</strong> produto (para facilitar, consi<strong>de</strong>ram-se as estimativas<br />
mais otimistas, ou seja, 150 mil tonela<strong>da</strong>s)<br />
mais a <strong>de</strong>man<strong>da</strong> atual (450 mil tonela<strong>da</strong>s), acresci<strong>da</strong><br />
<strong>da</strong>s 630 mil tonela<strong>da</strong>s proporciona<strong>da</strong>s pela <strong>de</strong>man<strong>da</strong><br />
<strong>de</strong>riva<strong>da</strong>. Em outras palavras, seria necessário aumentar<br />
imediatamente a oferta <strong>de</strong> fécula para níveis em<br />
torno <strong>de</strong> 1,2 milhão <strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s. Nesse cenário, mesmo<br />
se houvesse uma capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> instala<strong>da</strong> no parque<br />
industrial <strong>de</strong> praticamente dobrar a produção <strong>de</strong> fécula<br />
<strong>de</strong> mandioca, ocorreriam restrições <strong>de</strong> curto prazo<br />
associa<strong>da</strong>s ao segmento <strong>de</strong> oferta <strong>de</strong> matéria-prima6 .<br />
Assim, as consi<strong>de</strong>rações feitas sobre a farinha <strong>de</strong> raspa,<br />
<strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s pelos efeitos do processo <strong>de</strong> transmissão<br />
<strong>de</strong> preços, aplicam-se, em boa parte, <strong>à</strong> fécula.<br />
Para completar a análise, seria preciso consi<strong>de</strong>rar<br />
uma possível combinação dos dois produtos <strong>de</strong>rivados<br />
<strong>da</strong> mandioca que melhor se ajustassem ao processo<br />
<strong>de</strong> substituição. Essa estratégia, além <strong>de</strong> apresentar<br />
restrições <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m técnica, consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> a diferença<br />
<strong>de</strong> características dos produtos, exigiria estudos<br />
aprofun<strong>da</strong>dos para que fosse possível projetar as<br />
conseqüências socioeconômicas.<br />
Nas análises anteriores (farinha <strong>de</strong> raspa ou fécula),<br />
supôs-se que tanto a <strong>de</strong>man<strong>da</strong> por produtos <strong>de</strong>rivados<br />
<strong>da</strong> mandioca como a oferta <strong>de</strong> trigo permaneceriam<br />
as mesmas. Essa é uma forte suposição, mas<br />
6 As pesquisas <strong>de</strong> campo realiza<strong>da</strong>s no âmbito <strong>de</strong> um projeto em an<strong>da</strong>mento<br />
em parceria <strong>da</strong> <strong>Embrapa</strong> com o Cepea/Esalq/USP, para estu<strong>da</strong>r o<br />
setor <strong>de</strong> fécula <strong>de</strong> mandioca, não apontam para a existência <strong>de</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
ociosa equivalente a 50%.<br />
20
facilita as análises e não compromete o sentido <strong>da</strong>s<br />
conclusões. Se for consi<strong>de</strong>rado que, mantendo-se os<br />
preços vigentes no mercado, as <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s <strong>de</strong> fécula e<br />
<strong>de</strong>rivados (amidos modificados) ten<strong>de</strong>m a crescer,<br />
maiores serão os impactos causados pela <strong>de</strong>fasagem<br />
na oferta.<br />
Haverá oferta compatível <strong>de</strong> matéria-prima?<br />
Quanto ao aspecto <strong>de</strong> <strong>de</strong>fasagem na oferta, cujas<br />
conseqüências já foram expostas nas duas situações<br />
analisa<strong>da</strong>s, há alguns pontos a ser ressaltados. Po<strong>de</strong>se<br />
afirmar que não haverá aumento imediato na oferta<br />
nos mesmos níveis aos do choque <strong>de</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong>.<br />
Além <strong>da</strong>s restrições associa<strong>da</strong>s <strong>à</strong>s expectativas<br />
dos produtores com relação ao mercado e aos “custos<br />
subjetivos” 7 – muito bem consi<strong>de</strong>rados por Paiva<br />
(1975) –, as características inerentes <strong>à</strong> cultura, a rigi<strong>de</strong>z<br />
dos fatores fixos <strong>de</strong> produção e as informações<br />
incompletas8 explicam essa <strong>de</strong>fasagem. Ou seja, não é<br />
7 Segundo Paiva (1975) os “custos subjetivos” estão associados <strong>à</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> conhecimento técnico a<strong>de</strong>quado, <strong>de</strong> obtenção<br />
<strong>de</strong> recursos materiais suficientes, <strong>de</strong> contratação <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra responsável<br />
e eficiente, <strong>de</strong> garantia regular <strong>de</strong> insumo <strong>de</strong> boa quali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
(principalmente <strong>de</strong>fensivos, vacinas, rações e mu<strong>da</strong>s) e, principalmente,<br />
<strong>de</strong> risco financeiro no caso <strong>de</strong> uma mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> dos agricultores.<br />
Esse aspecto foi utilizado pelo autor para explicar as restrições ao processo<br />
<strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> uma tecnologia tradicional para uma tecnologia<br />
mo<strong>de</strong>rna. Sem gran<strong>de</strong>s prejuízos, acredita-se que isso possa ser adotado<br />
aqui para também explicar a rigi<strong>de</strong>z na oferta.<br />
8 No caso <strong>da</strong> mandioca, <strong>da</strong><strong>da</strong> a facili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se entrar e sair do mercado,<br />
é possível que a rigi<strong>de</strong>z <strong>da</strong> oferta esteja mais associa<strong>da</strong> <strong>à</strong> maneira pela<br />
qual os produtores criam suas expectativas com relação ao preço <strong>de</strong><br />
mercado.<br />
21
possível, por exemplo, alocar imediatamente mais máquinas<br />
planta<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> mandioca ao processo <strong>de</strong> produção,<br />
já que a maioria dos pequenos produtores não<br />
dispõe <strong>de</strong> capital para investimento imediato. Não é<br />
possível também efetuar plantio no período seco, a<br />
menos que se use irrigação. De qualquer forma, a mu<strong>da</strong>nça<br />
na oferta po<strong>de</strong> ocorrer via aumento <strong>de</strong> área ou<br />
<strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, ou mesmo pela combinação <strong>da</strong>s duas<br />
alternativas.<br />
Expansão <strong>da</strong> área<br />
Estimular a oferta por meio do aumento <strong>de</strong> área<br />
tem sido a opção geralmente adota<strong>da</strong> pelos produtores<br />
<strong>de</strong> mandioca. Consi<strong>de</strong>rando a Região Centro-Sul,<br />
on<strong>de</strong> potencialmente a lei <strong>de</strong>verá causar maior impacto,<br />
pelo menos num primeiro momento, tem-se as seguintes<br />
implicações:<br />
1) No Paraná e em São Paulo, on<strong>de</strong> as fronteiras<br />
agrícolas já não são tão elásticas, po<strong>de</strong>rá haver restrições,<br />
pois ocorrerá competição por terra nas áreas on<strong>de</strong><br />
se possam cultivar outras culturas. Isso também vai<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>da</strong> situação <strong>de</strong> mercado dos outros produtos<br />
em relação ao mercado <strong>de</strong> mandioca.<br />
2) Em Mato Grosso do Sul, Estado no qual se<br />
verificou o mais elevado incremento relativo <strong>da</strong> produção<br />
no ano <strong>de</strong> 2001, ou mesmo nas áreas planta<strong>da</strong>s<br />
com pastagem nos Estados citados anteriormente, certamente<br />
essa restrição será <strong>de</strong> menor intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> ou<br />
quase ausente.<br />
22
Incremento <strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
Se a alternativa for pelo aumento <strong>da</strong> oferta via<br />
incremento <strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, a questão a se apresentar<br />
será: existem tecnologias disponíveis para aumentar<br />
imediatamente a produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> nos níveis em que a<br />
aplicação <strong>da</strong> lei exigirá? Mesmo que se consi<strong>de</strong>re o<br />
estoque <strong>de</strong> tecnologia disponível nas instituições <strong>de</strong><br />
pesquisa, na atual conjuntura <strong>de</strong> mercado, haveria exigência<br />
por novas <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s tecnológicas.<br />
Cardoso et al. (2001) apresentam algumas sugestões<br />
para alimentar a discussão a respeito <strong>da</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong><br />
por novas tecnologias. É importante <strong>de</strong>stacar<br />
que, com o aumento <strong>da</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong>, pressupõe-se maior<br />
procura por alternativas tecnológicas <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente<br />
ajusta<strong>da</strong>s <strong>à</strong> nova conjuntura econômica e social, que<br />
se instalará na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> mandioca após<br />
a implementação <strong>da</strong> lei.<br />
O que há <strong>de</strong> novo na discussão?<br />
.V<br />
Abertura econômica, globalização e Mercosul<br />
ive-se em uma economia aberta e globaliza<strong>da</strong>. Logo,<br />
as <strong>de</strong>cisões domésticas <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser influencia<strong>da</strong>s<br />
apenas pela conjuntura nacional. Se, no passado, a política<br />
<strong>de</strong> subsídio ao trigo atuava como um elemento<br />
23
<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ador <strong>de</strong> processos que visavam <strong>de</strong>sonerar a<br />
socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, atualmente os pesados subsídios aos produtos<br />
agrícolas concedidos pelos países <strong>de</strong>senvolvidos<br />
concorrem para tornar a produção brasileira, em<br />
alguns setores, menos competitiva.<br />
Some-se a isso a intenção do governo brasileiro<br />
(pelo menos em tese) <strong>de</strong> consoli<strong>da</strong>r a proposta, ain<strong>da</strong><br />
não efetiva<strong>da</strong>, <strong>de</strong> um mercado comum para o Cone Sul<br />
– o Mercosul. Em favor <strong>da</strong> produção argentina <strong>de</strong> trigo9<br />
, tem-se a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> consoli<strong>da</strong>r o Mercosul,<br />
contam-se as melhores condições <strong>de</strong> produção e o<br />
menor custo <strong>de</strong> transporte – em relação aos outros fornecedores,<br />
como Canadá e Estados Unidos –, fatores<br />
que, associados aos preços <strong>de</strong>primidos no mercado<br />
internacional, permitem, na maior parte do ano, uma<br />
oferta <strong>de</strong> trigo a preços mais baixos do que os praticados<br />
no mercado brasileiro.<br />
Conquanto haja indicações <strong>de</strong> que a que<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />
subsídios no mercado internacional possa induzir o<br />
aumento <strong>da</strong> produção <strong>de</strong> trigo no Brasil, é difícil prenunciar<br />
a retira<strong>da</strong> <strong>de</strong> subsídios nos países <strong>de</strong>senvolvidos,<br />
sobretudo nos Estados Unidos. Acredita-se que,<br />
cessa<strong>da</strong>s as condições externas que expõem o trigo<br />
produzido pelo País a condições <strong>de</strong>sfavoráveis <strong>de</strong><br />
competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, haverá a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> resolver o<br />
déficit <strong>de</strong> oferta <strong>de</strong> trigo. Questiona-se, então, se, nessa<br />
nova circunstância, seria manti<strong>da</strong> a adição <strong>de</strong> <strong>de</strong>ri-<br />
9 É evi<strong>de</strong>nte a participação <strong>da</strong> Argentina nas importações brasileiras <strong>de</strong><br />
trigo. Entretanto, ao longo dos anos, essa participação tem se alterado.<br />
Até o final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 60, a supremacia era argentina. A partir <strong>da</strong>í, até<br />
meados <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 80, a Argentina per<strong>de</strong> espaço para o Canadá e os<br />
EUA, vindo a se recuperar <strong>de</strong>sse momento em diante.<br />
24
vados <strong>de</strong> mandioca <strong>à</strong> farinha <strong>de</strong> trigo. É possível que<br />
viesse a ocorrer estímulos <strong>à</strong> substituição, a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r<br />
<strong>da</strong> relação <strong>de</strong> preços. Não mais seria possível, porém,<br />
recorrer ao argumento <strong>de</strong> estancar a saí<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />
divisas, prevalecendo, certamente, as forças políticas<br />
e econômicas que controlam o comércio <strong>de</strong> trigo.<br />
Organização Mundial do Comércio – OMC<br />
A <strong>de</strong>speito <strong>da</strong>s recentes <strong>de</strong>cisões toma<strong>da</strong>s na<br />
Conferência Ministerial <strong>da</strong> Organização Mundial do<br />
Comércio – OMC –, que apontam para uma redução<br />
dos subsídios <strong>à</strong>s exportações e maior liberalização do<br />
comércio multilateral, a política protecionista <strong>de</strong>verá<br />
permanecer por muito tempo, uma vez que a “Cláusula<br />
<strong>de</strong> Paz” não foi trata<strong>da</strong> na conferência realiza<strong>da</strong> em<br />
Doha, no período <strong>de</strong> 9 a 14 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2001,<br />
persistindo assim os subsídios agrícolas nos níveis<br />
existentes em 1992.<br />
Nova configuração do setor <strong>de</strong> trigo<br />
Outro aspecto a ser consi<strong>de</strong>rado é que, internamente,<br />
os produtores respon<strong>de</strong>m <strong>à</strong>s políticas <strong>de</strong> incentivo<br />
<strong>à</strong> produção do trigo, ficando-se, assim, <strong>à</strong> mercê<br />
<strong>da</strong>s políticas orienta<strong>da</strong>s para o setor. Segundo Dotto<br />
(2001), “na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 80, quando houve uma <strong>de</strong>cisão<br />
governamental <strong>de</strong> produzir trigo no País via preço, os<br />
triticultores brasileiros, por dois anos consecutivos,<br />
86 e 87, conseguiram produzir o equivalente a 95%<br />
do consumo brasileiro”. Portanto, na presença <strong>de</strong> uma<br />
25
política <strong>de</strong> incentivo <strong>à</strong> produção <strong>de</strong> trigo, só será adicionado<br />
<strong>de</strong>rivado <strong>de</strong> mandioca <strong>à</strong> farinha <strong>de</strong> trigo se os<br />
preços forem compensadores.<br />
Novo também é o fato <strong>de</strong> que, a partir do fim do<br />
monopólio estatal na comercialização do trigo, em<br />
1990, a <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> importações vem aumentando<br />
consi<strong>de</strong>ravelmente, com tendência a crescimento. Aliase<br />
a isso o financiamento <strong>da</strong>s importações com prazo<br />
superior a 400 dias e juros <strong>de</strong> 8% a.a. 10 . Isso implica<br />
matéria-prima barata, que interessa ao setor <strong>de</strong> alimentos,<br />
e explica, em parte, a falta <strong>de</strong> interesse <strong>de</strong><br />
setores internos por investimentos que reduzam as importações<br />
ou mesmo apóiem ações antidumping na<br />
OMC. Ressalta-se, entretanto, que essa não é uma política<br />
específica para o setor <strong>de</strong> trigo (Ambrosi et al.,<br />
2001). Embora seja uma política <strong>de</strong> intervenção estatal11<br />
, ela causa, <strong>de</strong> qualquer forma, distorções no mercado<br />
interno, com efeitos perversos sobre a oferta <strong>de</strong><br />
empregos e a estrutura produtiva do País.<br />
Impactos <strong>de</strong>correntes <strong>da</strong> crise argentina<br />
Para finalizar, é necessário consi<strong>de</strong>rar as conseqüências<br />
<strong>da</strong> crise econômica na Argentina, nação<br />
que parece ain<strong>da</strong> não ter <strong>de</strong>finido os seus rumos.<br />
10 Esse é um exemplo <strong>de</strong> uma linha <strong>de</strong> financiamento existente no<br />
mercado.<br />
11 Atualmente, não há mais política <strong>de</strong> subsídio ao trigo, em contraposição<br />
<strong>à</strong> política <strong>da</strong>s déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong> 70 e 80.<br />
26
A <strong>de</strong>svalorização cambial na Argentina <strong>de</strong>verá<br />
favorecer a competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> do trigo argentino comparativamente<br />
ao brasileiro. Isso po<strong>de</strong> implicar a que<strong>da</strong><br />
nos preços do trigo no mercado brasileiro e, conseqüentemente,<br />
prejudicar o processo <strong>de</strong> substituição<br />
<strong>da</strong> farinha <strong>de</strong> trigo por <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> mandioca, a menos<br />
que seja acompanhado pela que<strong>da</strong> simultânea do<br />
preço <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> mandioca. As condições atuais<br />
do mercado não apontam nessa direção (ou seja, <strong>de</strong><br />
redução no preço <strong>da</strong> fécula), haja vista que, para os<br />
próximos 2 anos, há expectativa <strong>de</strong> elevação <strong>de</strong> preço,<br />
provocado pelo aumento do preço <strong>da</strong> matériaprima,<br />
em virtu<strong>de</strong> do processo <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> área <strong>de</strong><br />
produção, <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> preços <strong>de</strong>primidos em 2001.<br />
Sugestões<br />
Avaliados os aspectos positivos e negativos <strong>de</strong><br />
uma lei que <strong>de</strong>termina a adição <strong>de</strong> farinha <strong>de</strong> mandioca<br />
<strong>à</strong> farinha <strong>de</strong> trigo, po<strong>de</strong>m ser feitas as seguintes<br />
consi<strong>de</strong>rações:<br />
Se o projeto for aprovado, será preferível utilizar<br />
um porcentual mais baixo <strong>de</strong> adição <strong>de</strong><br />
farinha <strong>de</strong> mandioca.<br />
Ao invés <strong>de</strong> 10%, propõem-se as seguintes alternativas:<br />
a) aproxima<strong>da</strong>mente 2,5% sobre o<br />
consumo total <strong>de</strong> farinha <strong>de</strong> trigo; b) ou 5,0%<br />
sobre a meta<strong>de</strong> do consumo <strong>de</strong> farinha <strong>de</strong> trigo;<br />
c) ou até mesmo 10% sobre um quarto <strong>da</strong><br />
produção <strong>de</strong> farinha <strong>de</strong> trigo.<br />
27
Qualquer estratégia adota<strong>da</strong> correspon<strong>de</strong>ria a<br />
150 mil tonela<strong>da</strong>s <strong>de</strong> fécula, por exemplo. Esse<br />
porcentual traria menor impacto sobre o setor <strong>de</strong> trigo<br />
e resolveria o problema <strong>de</strong> excesso <strong>de</strong> oferta <strong>de</strong> fécula<br />
existente no mercado. Os porcentuais propostos seriam<br />
experimentados, inicialmente, por um período <strong>de</strong><br />
2 a 3 anos 12 . Encerrado esse prazo, seria realiza<strong>da</strong><br />
uma avaliação para <strong>de</strong>cidir se o setor apresentava condições<br />
para respon<strong>de</strong>r a um nível mais elevado <strong>de</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong>.<br />
Esse prazo também permitiria que inovações<br />
organizacionais maturassem¹³, tais como a implementação<br />
do processo do contrato na ca<strong>de</strong>ia e novas alianças<br />
estratégicas em curso no setor. Nesse ínterim,<br />
as instituições <strong>de</strong> geração e difusão <strong>de</strong> tecnologia ganhariam<br />
tempo para implementar novas estratégias com<br />
o propósito <strong>de</strong> solucionar (ou amenizar) os principais<br />
gargalos tecnológicos já i<strong>de</strong>ntificados e os que estão<br />
por surgir.<br />
12 Em 2 anos, quase 80% do processo <strong>de</strong> ajuste <strong>de</strong> longo prazo estaria<br />
completado segundo os <strong>da</strong>dos apresentados em Pastore (1973) para o<br />
Estado <strong>de</strong> São Paulo. Mais uma vez, ressalta-se que a mu<strong>da</strong>nça na<br />
oferta vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>da</strong> intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> do choque e <strong>da</strong>s elastici<strong>da</strong><strong>de</strong>s-preço<br />
<strong>de</strong> oferta e <strong>de</strong>man<strong>da</strong>. Na falta <strong>de</strong> informações para os <strong>de</strong>mais Estados,<br />
acredita-se que os valores apresentados em Pastore (opus cit.) representam<br />
uma boa aproximação (proxy), embora se reconheça que estimativas<br />
atuais possam ser diferentes. As inovações tecnológicas incorpora<strong>da</strong>s<br />
ao sistema <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> mandioca não sugerem, entretanto,<br />
essa possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
¹³ Nos levantamentos <strong>de</strong> campo realizados no âmbito do projeto em an<strong>da</strong>mento,<br />
conduzido em parceria <strong>da</strong> <strong>Embrapa</strong> com o Cepea/Esalq/USP,<br />
também está sendo verifica<strong>da</strong> a implementação <strong>de</strong> inovações<br />
organizacionais.<br />
28
Referências<br />
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29
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SEADE. Disponível em: .<br />
Acesso em: 15 maio 2002.<br />
30
Títulos lançados:<br />
N o 1 – A pesquisa e o problema <strong>de</strong> pesquisa: quem os <strong>de</strong>termina?<br />
Ivan Sergio Freire <strong>de</strong> Sousa<br />
N o 2 – Projeção <strong>da</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong> regional <strong>de</strong> grãos no Brasil: 1996 a 2005<br />
Yoshihiko Sugai, Antonio Raphael Teixeira Filho, Rita <strong>de</strong> Cássia<br />
Milagres Teixeira Vieira e Antonio Jorge <strong>de</strong> Oliveira<br />
N o 3 – Impacto <strong>da</strong>s cultivares <strong>de</strong> soja <strong>da</strong> <strong>Embrapa</strong> e rentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos<br />
investimentos em melhoramento<br />
Fábio Afonso <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>, Clóvis Terra Wetzel e Antonio Flávio<br />
Dias Ávila<br />
N o 4 – Análise e gestão <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> inovação em organizações<br />
públicas <strong>de</strong> P&D no agronegócio<br />
Maria Lúcia D’Apice Paez<br />
N o 5 – Política nacional <strong>de</strong> C&T e o programa <strong>de</strong> biotecnologia do<br />
MCT<br />
Ronaldo Mota Sar<strong>de</strong>nberg<br />
N o 6 – Populações indígenas e resgate <strong>de</strong> tradições agrícolas<br />
José Pereira <strong>da</strong> Silva<br />
N o 7 – Seleção <strong>de</strong> áreas a<strong>da</strong>ptativas ao <strong>de</strong>senvolvimento agrícola,<br />
usando-se algoritmos genéticos<br />
Jaime Hi<strong>de</strong>hiko Tsuruta, Takashi Hoshi e Yoshihiko Sugai<br />
N o 8 – O papel <strong>da</strong> soja com referência <strong>à</strong> oferta <strong>de</strong> alimento e <strong>de</strong>man<strong>da</strong><br />
global<br />
Hi<strong>de</strong>ki Ozeki, Yoshihiko Sugai e Antonio Raphael Teixeira Filho<br />
N o 9 – Agricultura familiar: priori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>Embrapa</strong><br />
Eliseu Alves<br />
N o 10 – Classificação e padronização <strong>de</strong> produtos, com ênfase na<br />
agropecuária: uma análise histórico-conceitual<br />
Ivan Sergio Freire <strong>de</strong> Sousa<br />
N o 11 – A <strong>Embrapa</strong> e a aqüicultura: <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s e priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
pesquisa<br />
Júlio Ferraz <strong>de</strong> Queiroz, José Nestor <strong>de</strong> Paula Lourenço<br />
e Paulo Choji Kitamura (eds.)<br />
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Produção editorial, impressão e acabamento<br />
<strong>Embrapa</strong> Informação Tecnológica<br />
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