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PRODUÇÃO<br />

W W W . N A T U R T E R R A . C O M


GUIA DOS PARQUES,<br />

JARDINS E GEOMONUMENTOS<br />

DE LISBOA


FICHA TÉCNICA<br />

Edição: CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA<br />

(Pelouro do Ambiente, Espaços Verdes, Plano Verde, Higiene Urbana e Espaço Público)<br />

Produção: NATURTERRA<br />

Coordenação editorial: David Travassos (<strong>Naturterra</strong>)<br />

Textos: Aurora Carapinha (texto de abertura), Cláudia Pinto (descrição dos geomonumentos/CML),<br />

David Travassos (títulos, aberturas e descrição inicial dos parques e jardins/<strong>Naturterra</strong>),<br />

João Paulo Gomes (descrição da flora/<strong>Naturterra</strong>), José Vicente (descrição dos geomonumentos/CML),<br />

Nuno Ludovice (enquadramento histórico dos parques e jardins/CML)<br />

Fotografia: David Travassos (fotos dos parques e jardins destacados, do texto de abertura e da <strong>capa</strong>/<strong>Naturterra</strong>),<br />

Luís Tinoco Faria (fotos dos parques e jardins não destacados/<strong>Naturterra</strong>),<br />

José Vicente (fotos dos geomonumentos/CML)<br />

Investigação histórica dos parques e jardins: Nuno Ludovice (CML)<br />

Projecto gráfico: Miguel Félix (<strong>Naturterra</strong>)<br />

Cartografia: Luís Tinoco Faria (<strong>Naturterra</strong>)<br />

Edição dos mapas: David Travassos (<strong>Naturterra</strong>), João Paulo Gomes (<strong>Naturterra</strong>)<br />

Assessoria administrativa: Maria José Marreiros (CML)<br />

AGRADECIMENTOS:<br />

Câmara Municipal de Lisboa — Eng.º Ângelo Horácio de Carvalho Mesquita (Direcção Municipal de Ambiente<br />

Urbano); Eng.ª Inês Barreto Dias de Castro Henriques (departamento de Ambiente e Espaços Verdes),<br />

Arq.º João Paulo da Gama Leite de Barros da Rocha e Castro, Arq.ª Cristina Duarte, Arq.º Paulo Cardoso,<br />

Arq.ª Rosário Salema, Dra. Sandra Duarte (Divisão de Estudos e Projectos); Dra. Cristina Pereira Santos Andrade<br />

Gomes (Divisão de Educação e Sensibilização Ambiental); Arq.º Artur José Canal Madeira, Arq.ª Rosa Rodrigues,<br />

Eng.º Souto Cruz (Divisão de Matas); Eng.ª Ana Júlia de Lima Soares Francisco, Eng.º Vera Cruz (Divisão de<br />

Jardins); Dra. Maria Manuela Canedo (Direcção Municipal de Cultura/Gabinete de Estudos Olisiponenses);<br />

Dra. Mónica Queiroz (Divisão de Gestão de Arquivos/Arquivo do Arco do Cego); Dr. Álvaro Tição<br />

(Departamento de Património Cultural);<br />

Ministério da Cultura — Dra. Graça Mendes Pinto (Instituto dos Museus e da Conservação/Galeria de Pintura<br />

do Rei D. Luís); Dra. Clara Vaz Pinto, Arq.º Rui do Rosário Costa (Museu Nacional do Traje e da Moda);<br />

Fundação das Casas de Fronteira e Alorna — Dr. Filipe Benjamim dos Santos;<br />

Gabinete do Primeiro-Ministro – Jardim do Palácio de São Bento;<br />

EPAL – Empresa Portuguesa de Águas Livres, S. A. – Casa do Arco<br />

A título individual — Arq.º Paulo Pais, Arq.º Duarte Mata, Dr. Rui Lérias, Arq.º Bruno Alves Silva.<br />

Depósito Legal N.º: 293342<br />

ISBN: 978-972-98489-1-9<br />

Impressão: Divisão de Imprensa Municipal (Direcção Municipal de Serviços Centrais),<br />

Estrada de Chelas, n.º 101, 1900-154 Lisboa<br />

Tiragem: 4.000 exemplares<br />

Lisboa, Junho de 2009


GUIA DOS PARQUES, JARDINS E GEOMONUMENTOS DE LISBOA<br />

ÍNDICE<br />

Prefácio .......................................................................................................................... 6<br />

Introdução ..................................................................................................................... 8<br />

Texto de abertura ......................................................................................................... 10<br />

Mapa geral de Lisboa .................................................................................................... 16<br />

Zona Ocidental ........................................................................................................ 18<br />

Parque Florestal de Monsanto ....................................................................................... 20<br />

Jardim do Palácio Fronteira .......................................................................................... 38<br />

Parque Recreativo dos Moinhos de Santana .................................................................. 48<br />

Tapada da Ajuda ........................................................................................................... 56<br />

Jardim Botânico da Ajuda ............................................................................................ 68<br />

Jardim Botânico Tropical / Jardim do Museu Agrícola Tropical .................................... 78<br />

Jardim Ducla Soares / Ermida de São Jerónimo ............................................................ 88<br />

Tapada das Necessidades e Jardim Olavo Bilac .............................................................. 92<br />

Jardim Teófilo Braga / Jardim de Campo de Ourique / Jardim da Parada .................... 106<br />

Jardim da Estrela / Jardim Guerra Junqueiro .............................................................. 110<br />

Jardim Lisboa Antiga .................................................................................................. 120<br />

Miradouro do Alto de Santa Catarina / Jardim do Adamastor .................................... 123<br />

Jardim do Príncipe Real / Jardim França Borges ......................................................... 126<br />

Jardim Botânico da Universidade de Lisboa /<br />

Jardim Botânico do Museu de História Natural .......................................................... 134<br />

Jardim Alfredo Keil / Praça da Alegria ........................................................................ 146<br />

Jardim de São Pedro de Alcântara / Jardim António Nobre ......................................... 149<br />

Jardim da Gulbenkian ................................................................................................ 152<br />

Jardim do Beau Séjour ................................................................................................ 162<br />

Parque Bensaúde / Quinta de Santo António das Frechas ........................................... 166<br />

Jardim das Amoreiras / Jardim Marcelino Mesquita .................................................... 174<br />

Geomonumentos da Zona Ocidental ......................................................................... 178<br />

Outros jardins da Zona Ocidental .............................................................................. 180<br />

Zona Ribeirinha .................................................................................................... 184<br />

Conjunto Monumental de Belém / Jardim do Império, Jardim Vasco da Gama<br />

e Jardim da Praça Afonso de Albuquerque .................................................................. 186<br />

Jardim da Torre de Belém ........................................................................................... 196<br />

Jardim 9 de Abril / Jardim da Rocha Conde de Óbidos .............................................. 199<br />

Jardim Nuno Álvares / Jardim de Santos ..................................................................... 202<br />

Jardim Sá da Bandeira / Praça D. Luís I ...................................................................... 205<br />

4


Jardim Garcia da Orta ................................................................................................ 208<br />

Parque Tejo e Trancão (concelho de Lisboa) ................................................................ 216<br />

Outros jardins da Zona Ribeirinha ............................................................................. 224<br />

Zona Norte ............................................................................................................. 226<br />

Parque Silva Porto ...................................................................................................... 228<br />

Jardim do Seminário da Luz ....................................................................................... 232<br />

Parque do Monteiro-Mor ........................................................................................... 240<br />

Jardim da Quinta de Santa Clara ................................................................................ 252<br />

Geomonumentos da Zona Norte ................................................................................ 255<br />

Outros jardins da Zona Norte .................................................................................... 256<br />

Zona Central .......................................................................................................... 258<br />

Parque da Quinta das Conchas e dos Lilases ............................................................... 260<br />

Parque Oeste / Parque do Vale Grande ....................................................................... 270<br />

Jardim do Campo Grande / Campo 28 de Maio ........................................................ 272<br />

Jardim do Museu da Cidade ....................................................................................... 281<br />

Jardim do Campo Pequeno / Jardim Marquês de Marialva ......................................... 285<br />

Parque Eduardo VII e Estufa Fria ............................................................................... 288<br />

Jardim Amália Rodrigues ............................................................................................ 298<br />

Avenida da Liberdade ................................................................................................. 301<br />

Geomonumentos da Zona Central ............................................................................. 305<br />

Outros jardins da Zona Central ................................................................................. 305<br />

Zona Oriental ........................................................................................................ 306<br />

Jardim do Castelo de São Jorge ................................................................................... 308<br />

Miradouro de Santa Luzia .......................................................................................... 316<br />

Jardim Braamcamp Freire / Campo de Santana / Campo dos Mártires da Pátria ......... 319<br />

Jardim do Torel .......................................................................................................... 323<br />

Alameda Dom Afonso Henriques ............................................................................... 326<br />

Jardim Botto Machado / Jardim de Santa Clara .......................................................... 329<br />

Jardim do Museu da Água .......................................................................................... 332<br />

Parque da Madre de Deus ........................................................................................... 334<br />

Parque do Vale do Fundão .......................................................................................... 339<br />

Parque do Vale do Silêncio ......................................................................................... 342<br />

Parque José Gomes Ferreira / Parque de Alvalade ....................................................... 350<br />

Parque da Bela Vista ................................................................................................... 358<br />

Outros jardins da Zona Oriental ................................................................................ 366<br />

Índice das plantas indicadas nos textos ....................................................................... 372<br />

5<br />

Índice


GUIA DOS PARQUES, JARDINS E GEOMONUMENTOS DE LISBOA<br />

Este guia é um convite a uma viagem ao<br />

rico património de parques e jardins<br />

de Lisboa, permitindo, por exemplo,<br />

conhecer notáveis árvores de espécies oriundas<br />

de todos os continentes, algumas das<br />

quais autênticos monumentos vivos, desde os<br />

metrosideros do jardim da Praça da Alegria e<br />

da colossal azinheira do Parque Bensaúde, à<br />

gigantesca araucária-de-Norfolk do Parque<br />

do Monteiro-Mor, passando pelas enormes<br />

figueiras exóticas do Jardim Botânico Tropical,<br />

do Jardim Botânico da Universidade de<br />

Lisboa ou do Jardim do Príncipe Real.<br />

Para cada parque e jardim destacámos um<br />

conjunto de espécies e exemplares, levando<br />

em conta uma perspectiva global sobre todos<br />

os parques e jardins. No entanto não deixa de<br />

haver alguma subjectividade nessa escolha, e<br />

não pretendemos de forma alguma reduzir a<br />

importância de todas as espécies e exemplares<br />

não destacados. Mesmo assim estão descritas<br />

e assinaladas nos mapas dos parques e jardins<br />

mais de 120 espécies de plantas e com informação<br />

útil e diversificada sobre cada uma<br />

delas. Foi ainda dada uma atenção especial<br />

às espécies nativas de Portugal, permitindo<br />

conhecer a diversidade botânica do país.<br />

É também uma viagem pela história de<br />

INTRODUÇÃO<br />

8<br />

Portugal e da cidade de Lisboa, com muitas<br />

histórias para contar, desde a antiga fábrica<br />

de seda no Jardim das Amoreiras — onde<br />

inicialmente foram plantadas 331 amoreiras<br />

para a cultura dos bichos-de-seda — às diferentes<br />

vidas que animaram ao longo do tempo<br />

o Jardim do Campo Grande. É também<br />

um encontro com inúmeros monumentos<br />

da cidade, alguns dos quais emblemáticos,<br />

sobretudo os que estão devidamente enquadrados<br />

por espaços verdes. São séculos de<br />

história reunidos na totalidade dos parques<br />

e jardins, de diferentes tipologias e épocas,<br />

desde antigas quintas de recreio até aos muitos<br />

jardins de inspiração Romântica, sem esquecer<br />

os espaços mais contemporâneos da<br />

arquitectura paisagista, como o Jardim da<br />

Gulbenkian, o Parque do Vale do Silêncio<br />

ou o Parque Tejo.<br />

Sobra ainda o património geológico da cidade,<br />

de uma escala temporal que ultrapassa<br />

a génese da humanidade, tendo sido destacados<br />

pela Câmara Municipal de Lisboa seis<br />

geomonumentos da cidade, de um conjunto<br />

total de 17. Mas este livro propõe sobretudo<br />

uma viagem pelos sentidos, pois a diversidade<br />

de paisagens e cenários, ambiências,<br />

recantos, formas, cores e aromas proporcio-


nados pelos parques e jardins de Lisboa a isso<br />

convidam. E com um clima aprazível e muitos<br />

dias de sol descoberto que enaltecem as<br />

cores e tonalidades naturais.<br />

Este guia propõe ainda quatro percursos<br />

pedestres, com alguns quilómetros cada,<br />

que prometem desvendar alguns segredos do<br />

imenso Parque Florestal de Monsanto (três<br />

percursos) e da notável, e por vezes esquecida,<br />

Tapada da Ajuda (um percurso). Locais,<br />

onde, pela sua dimensão, se pode descobrir a<br />

vida selvagem da cidade, incluindo esquilos,<br />

coelhos, águias-de-asa-redonda, pica-paus,<br />

gaios, pombos-torcazes, patos-reais, galinhasde-água,<br />

garças, entre muitas outras espécies.<br />

Em Lisboa podem ser observadas mais de 60<br />

espécies de aves selvagens, e até diversas espécies<br />

exóticas que se naturalizaram na cidade,<br />

como os distintos periquitos-de-colar ou rabijuncos,<br />

e em menor número, os periquitosmonge<br />

e os periquitões-de-cabeça-azul.<br />

Para além de uma ficha que reúne uma série<br />

de informações úteis, os 51 parques e jardins<br />

destacados estão quase sempre acompanhados<br />

por um mapa com a indicação, pormenorizada,<br />

das espécies de plantas referidas nos textos,<br />

da estatuária presente (existem largas dezenas<br />

de estátuas ou esculturas no conjunto dos par-<br />

9<br />

Introdução<br />

ques e jardins de Lisboa), dos bebedouros, das<br />

cafetarias e restaurantes, dos parques infantis.<br />

Os mapas permitem uma autonomia na visita<br />

dos parques e jardins, nomeadamente nos de<br />

maior dimensão, sendo, em inúmeros casos, a<br />

única base cartográfica disponível ao público.<br />

A selecção dos parques e jardins, quer os<br />

destacados quer os não destacados, foi quase<br />

na totalidade proposta pela Câmara Municipal<br />

de Lisboa, tal como a sua organização no<br />

guia por zonas geográficas da cidade. A maior<br />

parte dos mapas teve como base o acervo cartográfico<br />

da Câmara, e todos foram actualizados<br />

com confirmações no terreno.<br />

Para além da contemplação e de observação<br />

da natureza, a colecção de parques e jardins<br />

de Lisboa permite excelentes oportunidades<br />

de convívio, de descanso, de introspecção e<br />

reflexão, de leitura e de estudo, de exercício<br />

físico, de lazer e de pura evasão à rotina do<br />

dia-a-dia e do bulício citadino.<br />

A elaboração deste guia foi um trabalho<br />

apaixonante, e até uma descoberta de uma<br />

outra dimensão da cidade. Cabe agora ao<br />

leitor juntar-se a nós, e surpreender-se com a<br />

face verde de Lisboa.<br />

DAVID TRAVASSOS (coordenador editorial)


GUIA DOS PARQUES, JARDINS E GEOMONUMENTOS DE LISBOA<br />

78<br />

JARDIM BOTÂNICO TROPICAL / JARDIM-MUSEU<br />

AGRÍCOLA TROPICAL<br />

Uma pérola tropical<br />

79<br />

Jardim Botânico Tropical<br />

É um dos jardins mais bonitos da capital, o que logo se<br />

percebe quando percorremos a sua alameda principal<br />

ladeada por grandes palmeiras. Um lago com uma ilha,<br />

canais de água, relvados salpicados de árvores de todos os<br />

continentes, um jardim de buxo e até um jardim oriental.<br />

Um belo cenário secular, onde a natureza foi sabiamente<br />

recriada pelo homem.


GUIA DOS PARQUES, JARDINS E GEOMONUMENTOS DE LISBOA<br />

O “Jardim Oriental” recria o ambiente dos jardins do Oriente, utilizando espécies vegetais desta região.<br />

INFORMAÇÕES ÚTEIS<br />

• Área total: 7 hectares A<br />

partir do portão de entrada, o Jardim<br />

Botânico Tropical impõe logo a sua<br />

presença e a sua atmosfera particu-<br />

• Ano de criação: 1906 (origem),<br />

1912 (instalação neste local)<br />

• Endereço: Calçada do Galvão<br />

• Entrada: adultos (1,5 €), dos 7 anos aos 18<br />

anos e maiores de 65 anos (0,75 €), crianças<br />

até aos 6 anos (gratuita)<br />

lar. É um espaço que convida ao descanso e<br />

relaxamento, a um encontro com livros ou<br />

pessoas, ou à pura contemplação das plantas.<br />

É um jardim aberto, arejado, com um<br />

permanente jogo de luz e sombras. E a idade<br />

• Abertura: encerra aos feriados<br />

fê-lo amadurecer como o vinho.<br />

• Horário de abertura: horário de Verão (26 de Criado há mais de um século, em 1906, no<br />

Abril a 28 de Outubro: 10h-18h nos dias úteis<br />

e 11h-18h aos ns-de-semana); horário de<br />

Inverno (29 de Outubro a 24 de Abril: 9h-17h<br />

nos dias úteis e 10h-17h aos ns-de-semana);<br />

• Acesso a pessoas c/ mobilidade reduzida: sim<br />

• Parque infantil: não<br />

contexto da organização dos serviços agrícolas<br />

coloniais e do Ensino Agronómico Colonial,<br />

denominava-se então Jardim Colonial. Hoje<br />

integra o Instituto de Investigação Científica<br />

Tropical. São cerca de 500 espécies de plantas<br />

• Café, restaurante e esplanada: não<br />

reunidas no jardim e nas suas estufas, a maio-<br />

• WC: sim (com acesso a cadeiras de rodas) ria das quais de origem tropical e subtropical,<br />

• Parque de merendas: não<br />

• Acesso a cães: não<br />

• Actividades lúdicas: passeios a pé<br />

• Acesso por transportes públicos: autocarros<br />

(4, 727, 728, 729, 751), eléctricos (15)<br />

embora também se encontrem exemplares de<br />

climas temperados, como o nosso.<br />

Uma das curiosidades deste espaço é o “Jardim<br />

Oriental”, assinalado distintamente pelo<br />

seu portal de entrada em forma de arco. É uma<br />

80<br />

réplica da entrada do pagode mais antigo de<br />

Macau — o Pagode da Barra —, construída<br />

por ocasião da Exposição do Mundo Português<br />

em 1940, que comemorou os 800 anos<br />

da Independência de Portugal e os 300 anos<br />

da Restauração. Como o nome indica, procurou-se<br />

recriar um jardim oriental, obedecendo<br />

aos seus elementos estruturais, como os percursos<br />

sinuosos e intimistas com a vegetação,<br />

ou a presença constante de jogos de água e pequenas<br />

pontes, e como é claro, a utilização de<br />

espécies oriundas do Extremo Oriente, como<br />

o bambu, os hibiscos e as cameleiras.<br />

O cimo de todo este cenário botânico é<br />

enquadrado, já num tabuleiro superior, pela<br />

fachada do Palácio dos Condes da Calheta<br />

(séculos XVII-XVIII), e pelo seu geométrico<br />

jardim de buxo.<br />

A rua das palmeiras<br />

As palmeiras que ladeiam a rua principal<br />

fazem-se notar ainda antes de se transporem<br />

os portões deste jardim. O alinhamento é<br />

composto por duas espécies similares, a palmeira-da-Califórnia<br />

(Washingtonia filifera) (1)<br />

e a palmeira-do-México (W. robusta) (2). O<br />

nome do género foi uma homenagem ao primeiro<br />

Presidente dos EUA, George Washington.<br />

Muito similares nas folhas, em forma de<br />

leque, distinguem-se por a primeira apresentar<br />

um “tronco” mais grosso.<br />

A palmeira-da-Califórnia é originária da<br />

Califórnia, e deve o seu epíteto filifera aos filamentos<br />

das suas folhas, usados no fabrico de<br />

sandálias pelos índios locais. Estes incluiam<br />

ainda os frutos desta palmeira na sua alimentação.<br />

As folhas mortas persistem agarradas ao<br />

tronco, criando uma “saia” volumosa. Com<br />

um crescimento rápido, atingem os 20 m de<br />

altura e podem viver até aos 200 anos. Estão<br />

bem adaptadas à secura e ao ambiente mediterrânico,<br />

idêntico ao da Califórnia.<br />

A palmeira-do-México é originária do noroeste<br />

do México, tem um crescimento mais<br />

81<br />

Jardim Botânico Tropical<br />

As palmeiras que ladeiam a rua principal fazem-se notar<br />

ainda antes de se transporem os portões deste jardim.<br />

lento, mas atinge uma maior altura, apresentando<br />

um “tronco” mais delgado. É a palmeira<br />

que surge em quase todos os filmes rodados<br />

em Hollywood.<br />

De um lado e do outro desta rua podemos<br />

observar espécies consideradas “fósseis vivos”,<br />

expressão utilizada pela primeira vez por Charles<br />

Darwin na sua obra “A Origem das Espécies”,<br />

publicada em 1859. Esta expressão caracteriza<br />

os seres vivos que sobreviveram durante<br />

milhões de anos sem alterações significativas.<br />

Destas espécies destacam-se algumas árvores<br />

como o ginkgo (Ginkgo biloba) (3), a metasequoia<br />

(Metasequoia glyptostroboides) e o pinheiro-do-Chile<br />

(Araucaria araucana) e algumas espécies<br />

de porte arbustivo como as dos géneros<br />

Cycas, Dioon e Encephalartos, que constituíam


GUIA DOS PARQUES, JARDINS E GEOMONUMENTOS DE LISBOA<br />

HISTÓRIA<br />

CRIADO A 25 DE JANEIRO de 1906, por Decreto Ré-<br />

gio, no reinado de D. Carlos I (1863-1908), o então<br />

denominado Jardim Colonial, assim como o Museu<br />

Agrícola Colonial, são instituídos no contexto da restruturação<br />

dos serviços agrícolas coloniais e do ensino<br />

Agronómico Colonial, ficando ambas instituições<br />

sob a tutela do Instituto de Agronomia e Veterinária.<br />

A instalação do museu efectivou-se em Maio de 1912<br />

no antigo Palácio dos Condes de Calheta (século XVII-<br />

XVIII).<br />

Em 1912 o Jardim Colonial transferiu-se da Quinta<br />

das Laranjeiras (onde se tinha instalado em 1907)<br />

para a maior parte da antiga “Cerca do Palácio de<br />

Belém” (propriedade situada entre o Mosteiro dos<br />

Jerónimos e o Museu Nacional dos Coches), mas que<br />

à data se en<strong>contra</strong>va devoluta, compreendendo uma<br />

área de terreno de cerca de 5 hectares considerada<br />

suficiente para o projecto de ampliação do jardim.<br />

Igualmente pesou nesta escolha a sua localização<br />

(virada a sul, situada numa encosta de vertente suave)<br />

e ainda a existência de um abundante manancial<br />

de água nativa, proveniente de um poço e de várias<br />

minas ali existentes.<br />

Após a sua cedência feita pelo Ministério dos<br />

Negócios Estrangeiros, iniciaram-se os trabalhos de<br />

adaptação, substituindo o arvoredo existente por<br />

plantas exóticas em conformidade com os objectivos<br />

enunciados no Decreto de 10 de Maio de 1919<br />

para a renovada instituição, dos quais se destacam:<br />

«Fazer o estudo sistemático da flora económica das<br />

Colónias Portuguesas e organizar os respectivos herbários<br />

e contribuir, juntamente com o Museu Agrícola<br />

Colonial, para o estudo económico das Plantas e<br />

respectivos produtos das regiões tropicais e subtropicais,<br />

com o fim de elucidar sobre a possibilidade<br />

da sua exploração económica nas nossas Colónias<br />

ou de melhorar as explorações existentes; promover<br />

o estudo da fitopatologia colonial e respectivos tratamentos<br />

preventivos e terapêuticos; divulgar conhecimentos<br />

sobre a flora e agricultura coloniais e fornecer,<br />

juntamente com o Museu Agrícola Colonial, as<br />

informações sobre assuntos da sua competência que<br />

lhe forem solicitados por entidades oficiais ou particulares;<br />

contribuir, com o Museu Agrícola e Colonial<br />

82<br />

e em harmonia com o disposto no art. 3.º do Decreto<br />

N.º 2.089, de 25 de Novembro de 1915, para que o<br />

ensino de Agronomia Colonial, ministrado no Instituto<br />

Superior de Agronomia, possa ser feito pela forma<br />

mais proveitosa possível.»<br />

No jardim destaca-se o seu grande lago localizado<br />

nas proximidades da entrada principal. Terá sido expressamente<br />

construído para embelezar esta antiga<br />

dependência do Palácio de Belém por ocasião da visita<br />

do Rei Afonso XIII de Espanha a Portugal.<br />

A partir de 1944, o Jardim Colonial funde-se com<br />

o Museu Agrícola Colonial, passando a designar-se<br />

por Jardim e Museu Agrícola Colonial, deixando de<br />

estar sob a alçada do Instituto Superior de Agronomia.<br />

A designação em 1951 altera-se para Jardim e<br />

Museu Agrícola do Ultramar, passando a integrar-se<br />

em 1974 na Junta de Investigações do Ultramar, hoje<br />

Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT). Em<br />

1983 o Jardim adopta a designação de Jardim-Museu<br />

Agrícola Tropical, constituindo uma das unidades<br />

funcionais do (IICT).<br />

Numa perspectiva de dinamização e realização<br />

de actividades de cariz técnico, pedagógico, cultural<br />

e de apoio à comunidade, no enquadramento<br />

dos objectivos do jardim, foi criada em 2005 a<br />

Liga dos Amigos do Jardim Botânico Tropical, “associação<br />

sem fins lucrativos que se propõe, ainda,<br />

angariar fundos complementares e contribuir para<br />

a definição das linhas orientadoras do Jardim Botânico<br />

Tropical”.<br />

Actualmente os objectivos do Jardim Botânico<br />

Tropical, designação atribuída nos primeiros anos<br />

do século XXI, fundamentam-se em três vertentes<br />

principais: constituir um pólo para o estudo técnico<br />

e científico do IICT; ser “montra” de exposições<br />

e outros eventos <strong>capa</strong>zes de atrair e sensibilizar<br />

o público para a importância, não só da enorme<br />

riqueza de exemplares da flora tropical e subtropical<br />

presentes no jardim; e divulgação da colecção<br />

existente na Xiloteca, que integra madeiras de todo<br />

as partes do mundo, bem como o Herbário, situado<br />

no “Pátio das Vacas”, que aloja cerca de 50 mil<br />

exemplares de flora mundial, destacando-se especialmente<br />

a africana.<br />

Figueira-da-Austrália (Ficus macrophylla), uma das árvores mais imponentes do jardim.<br />

o habitat percorrido pelos dinossauros, que se<br />

extinguiram há 65,5 milhões de anos.<br />

Ginkgos e cicas<br />

Do lado esquerdo en<strong>contra</strong>-se um conjunto<br />

de ginkgos. Segundo alguns botânicos é a<br />

espécie viva geneticamente mais antiga, sendo<br />

actualmente considerada rara pelas reduzidas<br />

populações naturais existentes apenas na<br />

China. Existem registos de fósseis de folhas de<br />

ginkgo datadas de há 150 milhões de anos. São<br />

árvores que podem atingir os 30 m de altura.<br />

Apresentam umas folhas muito particulares<br />

em forma de leque com um rasgo a meio, que<br />

se pintam de um amarelo intenso no Outono<br />

antes de caírem. De muito fácil cultivo, pouco<br />

sujeitas a pragas e doenças e muito resistentes<br />

à poluição das cidades, tornam-se boas árvores<br />

de arruamento. O fruto tem um odor muito<br />

desagradável, mas como é uma espécie dióica,<br />

apenas as árvores femininas dão fruto, tornando<br />

os pés masculinos mais apetecidos para fins<br />

83<br />

Jardim Botânico Tropical<br />

ornamentais. Muito utilizada na medicina alternativa<br />

pelas suas propriedades regenerativas,<br />

despertou o interesse dos investigadores após a<br />

Segunda Guerra Mundial, por ter sobrevivido<br />

às radiações em Hiroxima.<br />

A bordejar o lago existe uma colecção de<br />

espécies pertencentes à ordem das Cycadales.<br />

A sua parecença com as palmeiras não passa<br />

disso mesmo. Todas as espécies desta ordem<br />

pertencem às Gimnospérmicas, ou seja, grupo<br />

de plantas de semente nua, como os pinheiros<br />

e os cedros. Entre elas, a cica (Cycas revoluta)<br />

(4), originária do Sul do Japão. O epíteto vem<br />

da forma enrolada dos vários folíolos que constituem<br />

as folhas. É uma planta de crescimento<br />

muito lento, podendo demorar 60 a 80 anos a<br />

chegar aos 6 m de altura. O “tronco” é formado<br />

pelas bases das folhas à medida que vão caindo,<br />

como nas palmeiras. Apesar de ser muito<br />

utilizada como ornamental, todas as partes da<br />

planta são tóxicas para as pessoas e animais, em<br />

particular as suas sementes que causam irritações<br />

gastrointestinais quando ingeridas.


GUIA DOS PARQUES, JARDINS E GEOMONUMENTOS DE LISBOA<br />

O Jardim Botânico Tropical foi criado há mais de um século, em 1906.<br />

As figueiras tropicais<br />

A norte do lago surgem três árvores majestosas<br />

do género Ficus. Este género tem cerca<br />

de 800 espécies diferentes, quase todas de climas<br />

amenos das regiões tropicais ou sub-tropicais<br />

e de folha persistente. Uma excepção<br />

é a figueira (Ficus carica), uma árvore bem<br />

conhecida em Portugal. As flores são pouco<br />

vistosas e transformam-se em figos, uns mais<br />

carnudos do que outros, mas quase todos<br />

comestíveis por humanos e animais. A existência<br />

de fruto está dependente da existência<br />

de uma determinada vespa que polinize as<br />

flores; por sua vez a vespa está dependente<br />

do figo para depositar os seus ovos. Cada espécie<br />

de Ficus cria uma associação com uma<br />

espécie de vespa.<br />

A primeira é uma figueira-dos-pagodes<br />

(F. religiosa) (5), árvore originária do Sudeste<br />

da Ásia, também conhecida por “figueira-de-<br />

Buda” por se acreditar que foi à sombra de<br />

uma destas árvores que Siddhartha Gautama<br />

se sentou a meditar e atingiu a iluminação<br />

convertendo-se num buda, sendo sagrada<br />

tanto para hindus como budistas. São árvores<br />

com grande longevidade; uma das mais anti-<br />

84<br />

gas registadas tem 3000 anos, em Bombaim.<br />

As folhas são inconfundíveis, com a extremidade<br />

fina e comprida e um longo pecíolo<br />

(caule que liga a folha ao ramo), que as faz<br />

agitar ao mínimo vento. São plantadas principalmente<br />

junto a templos budistas, mas também<br />

como ornamentais em jardins ou usadas<br />

como planta medicinal.<br />

Ao seu lado, uma figueira-da-Austrália (Ficus<br />

macrophylla) (6), de todas a mais imponente.<br />

De origem australiana, apresenta folhas grandes,<br />

como é sugerido pelo seu epíteto (macro<br />

– grande, phylla – folha). Para além das suas<br />

grandes raízes superficiais, apresenta raízes aéreas,<br />

uma estratégia de sobrevivência em solos<br />

pouco arejados. Com o tempo, as raízes aéreas<br />

alcançam o solo, enraízam e formam novos<br />

troncos, permitindo que a árvore se expanda<br />

na horizontal, característica comum à maioria<br />

das Ficus. As suas raízes de crescimento rápido<br />

são problemáticas quando próximas de equipamentos<br />

como lagos, passeios ou canalizações.<br />

Por último, o sicómoro (Ficus sycomorus) (7),<br />

originário da África Oriental, onde cresce junto<br />

a linhas de água. É uma cultura ancestral e frequente<br />

no Egipto, onde a sua madeira era utilizada<br />

na construção de sarcófagos. Os seus figos<br />

ainda hoje são muito apreciados na alimentação<br />

e utilizados no fabrico de aguardente. Para<br />

além de ornamental e generosa na sombra, é<br />

um valioso recurso para a medicina alternativa,<br />

que aplica por exemplo o leite da sua seiva no<br />

tratamento de problemas pulmonares.<br />

Podemos ver outras duas espécies de Ficus<br />

neste jardim. A Ficus altissima (8), uma árvore<br />

de grande porte, nativa de regiões montanhosas<br />

da Ásia, entre os Himalaias e a Malásia. É cultivada<br />

como ornamental em jardins mas também<br />

como planta de interior. Tem uma importância<br />

económica acrescida por ser hospedeira do<br />

insecto Laccifer lacca, produtor de uma resina<br />

natural usada no fabrico de tintas e vernizes. A<br />

Ficus microcarpa (9), tem um porte menos imponente,<br />

mas pode chegar aos 25 m de altura.<br />

As suas fibras são utilizadas no fabrico de redes<br />

de pesca e confecção de algodão artificial.<br />

O “Jardim Oriental”<br />

O “Jardim Oriental”, situado à esquerda da<br />

estufa principal, recria o ambiente dos jardins<br />

85<br />

Jardim Botânico Tropical<br />

O jardim e as suas estufas albergam cerca de 500 espécies de plantas, provenientes de climas tropicais, subtropicais e temperados.<br />

orientais, utilizando espécies vegetais destas regiões,<br />

tais como o hibisco-chinês (Hibiscus rosa-sinensis)<br />

(10) e o bambu (Bambusa vulgaris) (11).<br />

O hibisco-chinês é um arbusto de folha<br />

perene, originário do Leste asiático. Cada flor<br />

dura apenas um dia, compensando com uma<br />

floração abundante e prolongada no ano, de<br />

Maio a Dezembro. É a flor nacional da Malásia,<br />

onde também é conhecido por “flor dos<br />

sapatos”, por ser usada para engraxar sapatos,<br />

para além de ainda ser utilizada em tratamentos<br />

de cabelo.<br />

O bambu é uma gramínea de origem desconhecida,<br />

reportada à Ásia tropical. Surge<br />

ao longo de linhas de água, e tem um forte<br />

carácter infestante devido à sua rápida propagação<br />

através das raízes. De uso ornamental<br />

formando densos tufos, apresenta variados e<br />

atractivos padrões no colmo, nome dado ao<br />

“tronco”. O bambu é um material muito resistente,<br />

com uma relação entre o seu peso e<br />

a força que suporta superior à do aço, sendo<br />

muito usado na construção de casas ou no fabrico<br />

de mobiliário.


GUIA DOS PARQUES, JARDINS E GEOMONUMENTOS DE LISBOA<br />

MAPA<br />

N N N<br />

0 0 0 200 200 Metros 200 Metros Metros<br />

1 1 1 2 2<br />

4 4 4<br />

Travessa dos Ferreiros<br />

Travessa Travessa dos dos Ferreiros Ferreiros<br />

Travessa dos Ferreiros<br />

86<br />

5<br />

2<br />

Calçada do Galvão<br />

Calçada Calçada do do Galvão Galvão<br />

Calçada do Galvão<br />

3<br />

3<br />

5 56<br />

5 6 67<br />

6 7<br />

7<br />

3<br />

A<br />

A<br />

A<br />

11 11 11<br />

wc wc wc<br />

10 10 10<br />

B B<br />

B B B<br />

B<br />

B<br />

B<br />

B<br />

B<br />

B<br />

B<br />

8<br />

8<br />

9<br />

C<br />

R. Gen. João de Almeida<br />

R. R. Gen. Gen. João João de de Almeida Almeida<br />

R. Gen. João de Almeida<br />

8<br />

9<br />

C<br />

9<br />

C<br />

87<br />

Jardim Botânico Tropical<br />

wc wc WC wc WC WC<br />

Cafetaria<br />

Restaurante<br />

Parque Parque Parque Infantil Infantil Infantil<br />

Área Área de Área de Merendas de Merendas<br />

Bebedouro<br />

Estatuária<br />

1 Espécies 1 Espécies 1 Espécies indicadas no no texto no texto texto<br />

A A Jardim A Jardim Jardim Oriental<br />

B B Estufas B Estufas Estufas<br />

C C Palácio C Palácio Palácio dos dos Condes dos Condes da da Calheta da Calheta

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