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Efeitos quânticos em buracos negros - UFRJ

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<strong>Efeitos</strong> <strong>quânticos</strong> <strong>em</strong> <strong>buracos</strong><br />

<strong>negros</strong><br />

Gabriel Bié Alves<br />

Orientador: Sérgio Eduardo de Carvalho Eyer Jorás


<strong>Efeitos</strong> <strong>quânticos</strong> <strong>em</strong> <strong>buracos</strong> <strong>negros</strong><br />

Gabriel Bié Alves<br />

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-<br />

graduação do Instituto de Física da Universidade Federal<br />

do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à<br />

obtenção do título de Mestre <strong>em</strong> Ciências (Física).<br />

Orientador: Sérgio Eduardo de Carvalho Eyer Jorás<br />

Rio de Janeiro<br />

2011


Agradecimentos<br />

Primeiramente, agradeço a Deus por ter-me dado a oportunidade de estar realizando<br />

o Mestrado nessa área do conhecimento tão intrigante e maravilhosa que é a Física, me<br />

fortalecendo s<strong>em</strong>pre, principalmente nos momentos mais difíceis de minha caminhada.<br />

Gostaria de agradecer também a todos os meus familiares que s<strong>em</strong>pre me deram apoio<br />

nas minhas decisões me incentivando a seguir <strong>em</strong> frente. Em especial, à minha mãe e<br />

minha avó s<strong>em</strong> as quais não teria tido o suporte necessário para concretizar todos os meus<br />

objetivos, s<strong>em</strong>pre me acolhendo e me ajudando da melhor maneira possível. À minha<br />

irmã pela compreensão e paciência nos momentos <strong>em</strong> que precisava de tranqüilidade para<br />

poder-me concentrar no meu estudo. E, principalmente, a meu pai, que considero como<br />

o mentor na minha jornada acadêmica, a qu<strong>em</strong> tenho muito o que agradecer pelo enorme<br />

incentivo e pela incomensurável preocupação (por vezes até excessiva) que t<strong>em</strong> por mim<br />

para que possa realizar todos os meus sonhos.<br />

A todos os meus amigos e amigas que contribuíram direta ou indiretamente para este<br />

trabalho com qu<strong>em</strong> dividi todos os meus momentos felizes e também os mais difíceis ao<br />

longo desses dois anos de mestrado. A todos os meus amigos que conheci na Física. Em<br />

particular, aos meus amigos Rafael Bezerra, que começou parte desse trabalho junto co-<br />

migo, assim como o Otávio. Ao Reinaldo, pela amizade durante todo esse t<strong>em</strong>po (desde<br />

a graduação) com qu<strong>em</strong> tive inúmeras discussões valiosas, que, imagino, acrescentaram<br />

muito a ambos. A Betania, que também me acompanhou durante todo o meu mestrado, e<br />

de qu<strong>em</strong> recebi muito apoio, companheirismo e alegria <strong>em</strong> todos os momentos (principal-<br />

mente nos mais tensos, quando precisava me isolar um pouco), que foram fundamentais<br />

para conseguir progredir no meu trabalho.<br />

A todos os professores com qu<strong>em</strong> tive cursos no Física, pois eles foram e são muito<br />

importantes para minha formação acadêmica. Particularmente, ao Sergio Jorás, peça fun-<br />

damental nesse trabalho, que me orientou magistralmente durante o Mestrado e parte da


graduação, estando s<strong>em</strong>pre presente e disponível a ajudar e a discutir qualquer dúvida de<br />

seus orientandos.<br />

Finalmente, agradeço ao CNPq pelo apoio financeiro recebido nesse período e ao<br />

Instituto de Física, por criar condições adequadas de estudo a todos os estudantes de<br />

pós-graduação, que possu<strong>em</strong> uma sala com seu próprio computador com toda uma in-<br />

fraestrutura voltada para o estudo, o que considero um estímulo importante aos jovens<br />

cientistas.


Resumo<br />

<strong>Efeitos</strong> <strong>quânticos</strong> <strong>em</strong> <strong>buracos</strong> <strong>negros</strong><br />

Gabriel Bié Alves<br />

Orientador: Sérgio Eduardo de Carvalho Eyer Jorás<br />

Resumo da Tese de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação <strong>em</strong> Física,<br />

Instituto de Física, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - <strong>UFRJ</strong>, como parte dos<br />

requisitos necessários à obtenção do título de Mestre <strong>em</strong> Ciências (Física).<br />

O presente trabalho estuda como efeitos <strong>quânticos</strong> alteram alguns resultados na teo-<br />

ria clássica de Relatividade Geral aplicada a <strong>buracos</strong> <strong>negros</strong>. Um ex<strong>em</strong>plo é a conhecida<br />

conjectura de censura cósmica, que nessa abordag<strong>em</strong> pode ser quanticamente violada <strong>em</strong><br />

princípio pela absorção de uma partícula de baixa energia e um momento angular sufici-<br />

ent<strong>em</strong>ente alto. Para isso, nós t<strong>em</strong>os que lidar com a propagação de ondas nas vizinhanças<br />

de <strong>buracos</strong> <strong>negros</strong> estáticos e carregados. Para realizar isto, nós desenvolv<strong>em</strong>os um pro-<br />

grama <strong>em</strong> C que pode nos fornecer a matriz de espalhamento para qualquer freqüência,<br />

usando o método de Prüfer. Além disso, propomos um “toy model” para o potencial<br />

de espalhamento que t<strong>em</strong> retornado bons resultados. Analiticamente, explicamos toda a<br />

análise s<strong>em</strong>iclássica necessária para tratar do probl<strong>em</strong>a de espalhamento e produção de<br />

partículas perto do horizonte de eventos, levando a um espectro térmico e uma seção de<br />

choque análoga ao resultado clássico, e finalmente, propomos a conexão entre esses pro-<br />

cessos físicos.<br />

Palavras-chave: Buraco negro. Conjectura de censura cósmica. Radiação Hawking. Mé-<br />

todo de Prüfer. “Toy model”.


Abstract<br />

Quantum effects in black holes<br />

Gabriel Bié Alves<br />

Orientador: Sérgio Eduardo de Carvalho Eyer Jorás<br />

Abstract da Tese de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação <strong>em</strong> Física,<br />

Instituto de Física, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - <strong>UFRJ</strong>, como parte dos<br />

requisitos necessários à obtenção do título de Mestre <strong>em</strong> Ciências (Física).<br />

The present project studies how quantum effects changes some results in classical<br />

General Relativity theory applied to black holes. One example is the so-called weak<br />

cosmic censorship conjecture, which in this approach can be violated in principle by an<br />

absorption of a particle with low energy and high enough angular momentum. For this<br />

purpose, we have to deal with propagation of waves in the vicinity of both static and<br />

charged black holes. To do so, we developed a numerical code in C that can give us the<br />

scattering matrix for any frequency, using the Prüfer method. Besides, we propose a “toy<br />

model” for the scattering potential that has given good results. Analytically, we explain<br />

all the necessary s<strong>em</strong>iclassical analysis to treat the probl<strong>em</strong>s of scattering and particle<br />

production near the event horizon leading to a thermal spectrum and a analogous classical<br />

cross section, and finally we propose the connection between these physical processes.<br />

Keywords: Black Hole. Weak Cosmic Censorship. Hawking Radiation. Prüfer Method.<br />

“Toy model”.


Sumário<br />

1 Introdução 3<br />

2 Espalhamento de ondas escalares por <strong>buracos</strong> <strong>negros</strong> 13<br />

2.1 Formulação mat<strong>em</strong>ática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14<br />

2.2 Resultados numéricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22<br />

2.3 “Toy model” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25<br />

3 Produção de partículas <strong>em</strong> espaços-t<strong>em</strong>pos com horizontes 35<br />

3.1 Abordag<strong>em</strong> s<strong>em</strong>iclássica: aspectos gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . 36<br />

3.1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36<br />

3.1.2 Condições de contorno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39<br />

3.2 Aplicação ao probl<strong>em</strong>a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41<br />

3.3 Cálculo da radiação térmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44<br />

4 Conclusão 53<br />

A Introdução às métricas de <strong>buracos</strong> <strong>negros</strong> 55<br />

A.1 A métrica de Schwarzschild . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56<br />

A.1.1 Buracos <strong>negros</strong> <strong>em</strong> Schwarzschild . . . . . . . . . . . . . . . . . 57<br />

A.2 Buracos <strong>negros</strong> <strong>em</strong> Reissner-Nordström . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60<br />

B Método de Prüfer 63


Referências 67<br />

2


Capítulo 1<br />

Introdução<br />

Dentro do estudo de uma das principais áreas da Física, a relatividade geral, o estudo<br />

de objetos teóricos conhecidos como “<strong>buracos</strong> <strong>negros</strong>” é fundamental. Tais objetos po-<br />

d<strong>em</strong> ser formados pelo colapso gravitacional de uma estrela ou aglomerado de estrelas e<br />

possu<strong>em</strong> atração gravitacional tão elevada que nada consegue escapar de dentro de uma<br />

região do espaço denominada de horizonte de eventos. Segundo as previsões da teoria,<br />

mesmo uma estrela com massa menor do que 8 vezes a massa solar, pode, ao final de<br />

sua vida, sofrer um colapso gravitacional, levando ao surgimento de uma anã branca e,<br />

<strong>em</strong> última instância, a um buraco negro (caso a massa da anã branca seja maior do que<br />

1,4 vezes a massa solar). Sabendo-se que muitas estrelas <strong>em</strong> nossa galáxia têm mais do<br />

que oito massas solares e o t<strong>em</strong>po de vida de uma estrela é muito menor que o t<strong>em</strong>po de<br />

formação de nossa galáxia, é plausível supor que muitos <strong>buracos</strong> <strong>negros</strong> já foram criados<br />

por esse processo, muito <strong>em</strong>bora sua detecção seja de maneira indireta, já que nenhuma<br />

informação escapa do mesmo.<br />

A motivação inicial deste trabalho foi estudar a conhecida conjectura de censura cós-<br />

mica, que des<strong>em</strong>penha um papel fundamental no estudo de <strong>buracos</strong> <strong>negros</strong>. Essa conjec-<br />

tura sustenta que nenhuma singularidade no espaço-t<strong>em</strong>po, exceto possivelmente a singu-<br />

laridade cosmológica primordial, é visível a qualquer observador. Em outras palavras, a


singularidade de um buraco negro é s<strong>em</strong>pre revestida por um horizonte de eventos (com<br />

detalhes no apêndice A). Mat<strong>em</strong>aticamente, um buraco negro com massa M, carga Q e<br />

momento angular J deve satisfazer a seguinte relação (<strong>em</strong> unidades c = G = = 1):<br />

M 2 ≥ Q 2 + (J/M) 2 , (1.1)<br />

que garante a existência do horizonte de eventos. Denomina-se buraco negro “extr<strong>em</strong>o”<br />

no caso de igualdade <strong>em</strong> (1.1).<br />

Classicamente, vários resultados têm se mostrados favoráveis à conjectura (veja, por<br />

ex<strong>em</strong>plo [1], [2], [3], [4], [5]). Wald, por ex<strong>em</strong>plo, estudou o caso (clássico) de se tentar<br />

adicionar mais momento angular e/ou carga através da absorção de uma partícula teste<br />

a um buraco negro extr<strong>em</strong>o [6]. Em ambos os casos, ele concluiu que o incr<strong>em</strong>ento<br />

<strong>em</strong> massa M é suficiente para manter a desigualdade válida. Entretanto introduzindo-se<br />

efeitos <strong>quânticos</strong> ao probl<strong>em</strong>a pode-se chegar a resultados completamente diferentes. É<br />

possível, então, conjecturar que uma partícula de baixa energia e grande momento angular<br />

tunele a barreira de potencial centrífugo e seja absorvida pelo buraco negro de forma que<br />

o acréscimo no momento angular J do buraco negro seja maior que o acréscimo de massa<br />

M, violando a desigualdade (1.1).<br />

Nesse contexto, estudos foram feitos (<strong>em</strong> particular, [7] e [8]) para se calcular a taxa<br />

de absorção de uma partícula por um buraco negro. Em ambos os casos, a taxa foi cal-<br />

culada para o espaço-t<strong>em</strong>po de Reissner-Nordström (A) no regime de baixa energia da<br />

partícula, sendo que <strong>em</strong> [7] a atenção é mais voltada para a questão da conjectura cós-<br />

mica, considerando-se ainda o caso extr<strong>em</strong>o. Nessas referências, chega-se ao resultado<br />

de que uma partícula com baixa freqüência ω, momento angular l com projeção m no eixo<br />

ˆz t<strong>em</strong> uma probabilidade - <strong>em</strong>bora muito pequena - de ser capturada pelo buraco negro e<br />

violar a conjectura de censura cósmica desde que o valor de l seja suficient<strong>em</strong>ente alto.<br />

Essa conclusão foi refutada <strong>em</strong> [9], tendo <strong>em</strong> vista os efeitos de “back-reaction” que<br />

conseguiriam manter a validade da conjectura. Segundo o autor, deve-se considerar o<br />

efeito de interação entre o buraco negro e o momento angular da onda incidente, ou seja,<br />

4


ao ser absorvida, a partícula (campo escalar) injeta uma certa quantidade de momento<br />

angular no mesmo, fazendo-o girar com um acréscimo na velocidade angular igual a<br />

Ω = m<br />

Mr2 , (1.2)<br />

+<br />

no caso de um buraco negro carregado, alterando o “background” de propagação das on-<br />

das no espaço-t<strong>em</strong>po. Ad<strong>em</strong>ás, é um efeito conhecido que, <strong>em</strong> espaços-t<strong>em</strong>pos descritos<br />

pela métrica de Kerr-Newman (buraco negro com M, Q e J, por ex<strong>em</strong>plo), apenas os mo-<br />

dos com ω > mΩ pod<strong>em</strong> ser absorvidos pelos <strong>buracos</strong> <strong>negros</strong>, caso contrário os modos<br />

são amplificados, com uma taxa de reflexão maior do que a incidente (fenômeno de super-<br />

radiância) [10], [11]. Assumindo uma velocidade angular inicial nula, chega-se à conclu-<br />

são que ω > m 2 /M 3 para poder ser absorvida. Dessa maneira, a absorção de uma partí-<br />

cula com energia ω, momento angular l com projeção m, acarreta as seguintes mudanças<br />

nos parâmetros do buraco negro: M ↦→ M ′ = M + ω e a = J/M = 0 ↦→ a ′ = m/M, o<br />

que mantém a condição<br />

considerando-se que inicialmente M 2 ≥ Q 2 .<br />

M ′2 ≥ Q 2 + a ′2 , (1.3)<br />

Em resposta, os autores, <strong>em</strong> [12], argumentam que o processo proposto continua vá-<br />

lido já que a partícula é enviada ao buraco negro uma de cada vez, muito <strong>em</strong>bora também<br />

manisfest<strong>em</strong> a preocupação com os efeitos de “back-reaction”. Nesse sentido, a análise<br />

desses efeitos faz-se mister para validade ou não da conjectura. Porém, diferent<strong>em</strong>ente<br />

do que feito <strong>em</strong> [9], os parâmetros do buraco negro não deveriam se alterar da maneira<br />

antes apresentada, mas com o mesmo absorvendo o momento angular total da partícula,<br />

agindo como um aparelho de medição clássico para M ≫ MP = √ c/G (massa de<br />

Planck). Assim sendo: M ↦→ M ′ = M + ω e a 2 = 0 ↦→ a ′2 = l(l + 1)/M ′2 , com<br />

ω > mΩ = m 2 /Mr 2 +, tornando a desigualdade da conjectura cósmica passível de ser vio-<br />

lada. Ainda, contrastando com esse resultado, se considerarmos o limite clássico, no qual<br />

um ens<strong>em</strong>ble de N partículas no mesmo estado é enviado ao buraco negro, o momento<br />

angular absorvido passa a ser ⃗ J ′ = N⟨ ⃗ L⟩ = Nmˆz, que restaura a validade da conjectura<br />

5


cósmica. Tudo isso nos mostra que uma abordag<strong>em</strong> s<strong>em</strong>iclássica mais elaborada é neces-<br />

sária para o efeito de “back-reaction” que leve <strong>em</strong> consideração uma mudança t<strong>em</strong>poral<br />

no potencial de espalhamento s<strong>em</strong> lançar mão de uma mudança estática no potencial de<br />

espalhamento que acontece antes da partícula tunelar pela barreira.<br />

Além disso, ainda <strong>em</strong> [8], chegou-se à conclusão que, nesse regime de baixas freqüên-<br />

cias, a taxa de tunelamento dos modos “ingoing” oriundos do “past white-hole horizon”<br />

(τ → ωl ) e a taxa de absorção do “past null infinity” (τ ← ωl ) são iguais. Contudo, esses resulta-<br />

dos parec<strong>em</strong> ser diferentes de um efeito total de absorção e <strong>em</strong>issão de partículas por um<br />

buraco negro que é igual um espectro térmico.<br />

Como sugerido <strong>em</strong> [13] através de uma abordag<strong>em</strong> s<strong>em</strong>iclássica, a taxa de <strong>em</strong>issão de<br />

partículas coincide com a exponencial de Boltzmann, estando o buraco negro num “banho<br />

térmico”, podendo-se recuperar a conhecida t<strong>em</strong>peratura de Hawking, calculada original-<br />

mente <strong>em</strong> [14] e [15] com um tratamento de teoria quântica de campos <strong>em</strong> espaços-<br />

t<strong>em</strong>pos curvos, b<strong>em</strong> como tradicionalmente apresentado <strong>em</strong> [16], [17] e [18]. Levando-se<br />

<strong>em</strong> consideração efeitos de conservação de energia, M. K. Parikh mostrou e o espectro<br />

exato não é precisamente térmico, mas relacionado à entropia de “Bekenstein-Hawking”<br />

(∆SB−H) [19]. Para tal dedução, no caso de Schwarzschild, considerou-se a métrica <strong>em</strong><br />

coordenadas de Painlevé [20]:<br />

ds 2 = −<br />

(<br />

1 − 2M<br />

r<br />

)<br />

dt 2 √<br />

2M<br />

+ 2<br />

t = ts + 2 √ √ √<br />

r − 2M<br />

2Mr + 2M ln √ √<br />

r + 2M<br />

r dt dr + dr2 + r 2 dΩ 2<br />

com, (1.4)<br />

(1.5)<br />

onde ts é a coordenada t <strong>em</strong> Schwarzschild (A.7). Note que esta métrica é estacionária,<br />

mas não estática e que não há singularidade <strong>em</strong> r = 2M.<br />

A idéia chave desse método é achar as geodésicas nulas (ds 2 = 0), que, nesse caso<br />

são dadas por:<br />

˙r = dr<br />

dt<br />

√<br />

2M<br />

= ±1 − , (1.6)<br />

r<br />

onde o sinal +(−) corresponde à geodésica “saindo” (“entrando”).<br />

6


ω:<br />

Usando isso, pode-se calcular a parte imaginária da ação para uma casca de energia<br />

Im S = Im<br />

= Im<br />

∫ rout<br />

rin<br />

∫ ∫ rout H<br />

rin<br />

pr dr = Im<br />

0<br />

∫ ∫ rout pr<br />

dp<br />

rin 0<br />

′ r dr (1.7)<br />

dH ′<br />

dr (1.8)<br />

˙r<br />

onde, na última passag<strong>em</strong>, multiplica-se e divide-se o integrando por ambos os lados da<br />

equação de Hamilton: ˙r = dH<br />

dpr |r. Pensando-se numa onda esférica de energia positiva<br />

se propagando para fora do horizonte e levando-se <strong>em</strong> consideração a conservação de<br />

energia, a integral (1.8) pode ser feita com H = M − ω ′ , rin = 2M, rout = 2(M − ω), e<br />

substituindo-se M → M − ω <strong>em</strong> (1.6), de forma que encontra-se:<br />

(<br />

Im S = 4πω<br />

M − ω<br />

2<br />

)<br />

. (1.9)<br />

Pode-se mostrar que o mesmo resultado é encontrado pensando-se numa criação de um<br />

par partícula e antipartícula, com esta última se propagando para dentro do horizonte.<br />

Portanto, a taxa de tunelamento s<strong>em</strong>iclássica é dada por:<br />

Γ ∼ e −2Im S = e −8πω(M−ω/2) = e ∆SB−H (1.10)<br />

onde o resultado foi expresso <strong>em</strong> termos da variação da entropia de “Bekenstein-Hawking”.<br />

V<strong>em</strong>os que, desprezando-se o fator de ω 2 encontrar<strong>em</strong>os o fator de Boltzmann com a<br />

t<strong>em</strong>peratura de Hawking correspondendo a /8πM. Considerando-se esse fator, a t<strong>em</strong>-<br />

peratura efetiva do buraco negro aumenta enquanto irradia, o que fisicamente pode ser<br />

interpretado como o “evanescimento” já que a partícula <strong>em</strong>itida carrega consigo massa<br />

(e carga) do buraco negro. Em [13] também é analisado o caso de um buraco negro com<br />

carga (Reissner-Nordström), chegando-se a resultados análogos.<br />

Contudo, recent<strong>em</strong>ente, um probl<strong>em</strong>a nessa abordag<strong>em</strong> foi apontado <strong>em</strong> [21], onde<br />

mostra-se que 2Im ∫ rout<br />

rin pr dr não é canonicamente invariante e, portanto, não é um ob-<br />

servável apropriado. O objeto que seria invariante é Im pr dr, onde o caminho fe-<br />

chado engloba a coordenada radial do horizonte de eventos. Tentativas, então, com<br />

7


1<br />

− Γ ∼ e Im pr dr levam a uma t<strong>em</strong>peratura de Hawking sendo o dobro da original. Em<br />

[22], R. Banerjee trabalha com o método de Hamilton-Jacobi que é livre desse fator de<br />

discrepância. Dessa forma, partindo-se da equação de Klein-Gordon para um campo es-<br />

calar não massivo para trajetórias radial no setor (r − t), com a métrica<br />

ds 2 = f(r)dt 2 + dr2<br />

g(r) + r2 (dθ 2 + sin 2 θdϕ 2 ), (1.11)<br />

ter<strong>em</strong>os uma equação de “movimento para o campo Φ(r, t)”. Usando-se o ansatz s<strong>em</strong>i-<br />

clássico:<br />

a solução completa se escreve:<br />

Φ(r, t) =<br />

(<br />

exp − i<br />

)<br />

S(r, t)<br />

<br />

com , (1.12)<br />

S(r, t) = S0(r, t) + S1(r, t) + 2 S2(r, t) + . . . (1.13)<br />

S0(r, t) =<br />

∫ r<br />

dr<br />

ωt ± ω √ ,<br />

0 f(r)g(r)<br />

(1.14)<br />

Si =<br />

<br />

βi<br />

i<br />

M 2i S0(r, t), (1.15)<br />

sendo esta última encontrada por argumentos adimensionais, e a o sinal +(−) referente a<br />

uma partícula entrando (saindo). As probabilidades ficam dadas por:<br />

Pin = |Φin| 2 [ (<br />

2<br />

= exp 1 +<br />

<br />

∑ <br />

βi<br />

i<br />

i<br />

M 2i<br />

) (<br />

∫ )]<br />

r<br />

dr<br />

ωIm t + ωIm √ (1.16)<br />

0 f(r)g(r)<br />

Pout = |Φout| 2 [ (<br />

2<br />

= exp 1 +<br />

<br />

∑ <br />

βi<br />

i<br />

M 2i<br />

) (<br />

∫ )]<br />

r<br />

dr<br />

ωIm t − ωIm √ (1.17)<br />

f(r)g(r)<br />

i<br />

onde foi considerado que a coordenada t t<strong>em</strong> uma parte imaginária por cruzar o horizonte<br />

de eventos que contribui para as probabilidades de <strong>em</strong>issão e absorção. Passando-se ao<br />

limite clássico ( → 0) a probabilidade de absorção (Pin) t<strong>em</strong> de valer 1, o que significa<br />

que:<br />

∫ r<br />

dr<br />

Im t = −Im √<br />

0 f(r)g(r)<br />

0<br />

(1.18)<br />

8


e pode-se relacionar as probabilidade através da exponencial de Boltzmann com uma<br />

t<strong>em</strong>peratura dada por:<br />

Th = <br />

( ∫ ) −1 (<br />

r<br />

dr<br />

Im √ 1 +<br />

4 0 f(r)g(r)<br />

∑<br />

i<br />

βi<br />

i M 2i<br />

) −1<br />

(1.19)<br />

sendo que o primeiro fator dá o resultado conhecido tradicionalmente no caso de Schwarzs-<br />

child (/8πM), enquanto que os outros termos seriam correções quânticas à t<strong>em</strong>peratura.<br />

Mostra-se ainda que trabalhando-se <strong>em</strong> coordenadas de Painlevé chega-se ao mesmo re-<br />

sultado, s<strong>em</strong> a ambugüidade do fator de 2, como mencionado anteriormente.<br />

Nesse ínterim, a referência [23] se propõe a discutir o processo de produção de par-<br />

tículas <strong>em</strong> espaços-t<strong>em</strong>pos com horizonte de eventos. Nesse sentido, T. Padmanabhan<br />

também utiliza-se de uma abordag<strong>em</strong> s<strong>em</strong>iclássica para interpretar a radiação Hawking<br />

[24] como oriunda de um processo de tunelamento nas proximidades de um buraco negro,<br />

obtida através do cálculo direto <strong>em</strong> coordenadas (t, r) padrão <strong>em</strong> Schwarzschild, s<strong>em</strong> a<br />

necessidade de recorrer às coordenadas de Painlevé ou à extensão de Kruskal. O cálculo<br />

s<strong>em</strong>iclássico é válido quando o comprimento de onda de de Broglie é pequeno com rela-<br />

ção às dimensões do probl<strong>em</strong>a, o que justifica sua aplicação, já que, perto do horizonte,<br />

o comprimento de onda da função tende a zero (“blueshift”). Tal horizonte de eventos<br />

oferece uma singularidade nas contas que é contornada de maneira adequada no plano<br />

complexo, podendo-se a partir daí relacionar a taxa de <strong>em</strong>issão de partículas com a taxa<br />

de absorção da seguinte forma:<br />

P <strong>em</strong>issão = P absorção e −βE<br />

(1.20)<br />

onde E é a energia das partículas e β = /8πM é a t<strong>em</strong>peratura de Hawking padrão, que<br />

é equivalente a uma distribuição térmica de partículas <strong>em</strong> analogia com o que é observado<br />

<strong>em</strong> qualquer sist<strong>em</strong>a interagindo com a radição de um corpo negro. Ver<strong>em</strong>os este cálculo<br />

com detalhe, incluindo correções à prescrição de contorno no plano complexo no capítulo<br />

3.<br />

9


Classicamente, um buraco negro absorve tudo o que se encontra próximo ao hori-<br />

zonte de eventos, e por isso, na abordag<strong>em</strong> quântica tradicional, impõe-se a condição de<br />

contorno que só haja onda absorvida no horizonte. Em [25] e [26] os autores propõ<strong>em</strong><br />

uma maneira quântica alternativa de se tratar o probl<strong>em</strong>a nas proximidades do horizonte:<br />

considerando a capacidade de reflexão do buraco negro de uma onda incidente, ou seja,<br />

ambos os efeitos de absorção e reflexão acontecendo paralelamente.<br />

Tanto pelas equações s<strong>em</strong>iclássicas de Hamilton-Jacobi, quanto pela equação de mo-<br />

vimento de Kelin-Gordon para um campo escalar, chega-se à mesma expressão assintótica<br />

para a função de onda nas proximidades do horizonte de eventos:<br />

Φ(r, t) = exp(−iϵt)Ylm(θ, ϕ)ϕ(r) , com (1.21)<br />

ϕ(r) ≃ exp [±iϵ ln r − 1] , (1.22)<br />

onde ϵ corresponde à energia da partícula, e (r, t) são as coordenadas padrão <strong>em</strong> Schwarzs-<br />

child no sist<strong>em</strong>a de unidades <strong>em</strong> que Rs = 2M = 1.<br />

Admitindo-se reflexão no horizonte, pode-se escrever que, para a incidência de uma<br />

onda vinda do lado de fora do mesmo:<br />

ϕ(r) = exp [−iϵ ln (r − 1)] + R exp[iϵ ln(r − 1)] , (1.23)<br />

sendo a primeira a onda incidente e a segunda, a refletida. Por análises de simetria do<br />

probl<strong>em</strong>a, pode-se deduzir que o coeficiente de reflexão vale<br />

(<br />

|R| = exp − 4πMϵ<br />

)<br />

c<br />

(1.24)<br />

<strong>em</strong> unidades convencionais. Logo, a probabilidade de refletir e de cruzar o horizonte<br />

ficam dadas, respectivamente, por:<br />

P = |R| 2<br />

(1.25)<br />

Pcr = 1 − P. (1.26)<br />

10


Como o potencial que aparece na equação de movimento é simétrico (∼ 1/(r − 1) 2 ),<br />

de modo análogo, pode-se pensar <strong>em</strong> uma onda incidente <strong>em</strong> direção ao centro do bu-<br />

raco negro, porém se propagando na região interna ao mesmo. Nesse caso, M. Kuchiev<br />

argumenta que existe uma probabilidade dessa onda escapar do buraco negro dada por:<br />

Pesc = P(1 − P). Pode-se então relacioná-las através de:<br />

Pesc<br />

Pabs<br />

(<br />

= P = exp − ϵ<br />

)<br />

, (1.27)<br />

kT<br />

mostrando que a radiação Hawking pode ser recuperada através do mecanismo de reflexão<br />

no horizonte. Cálculos similares também forma obtidos para outras métricas: Reissner-<br />

Nordström, Kerr e Kerr-Neumann. Além disso, modificações na matriz-S de espalha-<br />

mento também são feitas <strong>em</strong> decorrência do referido efeito de reflexão b<strong>em</strong> como as<br />

seções de choque são calculadas <strong>em</strong> [26].<br />

Por tudo o que foi apresentado, é sensato dizer que a discussão sobre esse t<strong>em</strong>a ainda<br />

não se chegou a um consenso. Como vimos, essa t<strong>em</strong>a é de fundamental importância<br />

quando se deseja abordar o probl<strong>em</strong>a sob o viés da mecânica quântica, muito <strong>em</strong>bora<br />

apenas com uma teoria quântica da gravitação é que ter-se-á uma posição definitiva sobre<br />

o assunto. Por enquanto permanece a intrigante questão se é possível a existência de uma<br />

singularidade “nua” como resultado de um processo estritamente quântico.<br />

No capítulo 2 deste trabalho, estudamos o espalhamento de ondas por <strong>buracos</strong> <strong>negros</strong>.<br />

Desenvolv<strong>em</strong>os o formalismo mat<strong>em</strong>ático para lidar com essa abordag<strong>em</strong> quântica do<br />

probl<strong>em</strong>a partindo da equação de Klein-Gordon e estudamos o caso de um campo escalar<br />

s<strong>em</strong> massa e s<strong>em</strong> spin. A equação fundamental que se apresenta é a conhecida equação de<br />

Teukolsky [27], que não possui solução analítica <strong>em</strong> termos de funções b<strong>em</strong> conhecidas.<br />

Desenvolv<strong>em</strong>os então um programa computacional <strong>em</strong> linguag<strong>em</strong> de programação C que<br />

evolui essa equação para certas condições de contorno e que nos fornece a relação entre<br />

as amplitudes das ondas espalhadas, b<strong>em</strong> como a diferença de fase entre elas para cada<br />

freqüência e momento angular separadamente. A partir daí, t<strong>em</strong>-se uma análise numérica<br />

do probl<strong>em</strong>a que pode ser utilizada para comparação com aproximações analíticas. Em<br />

11


seguida, apresentamos um “toy model” que modela com boa aproximação o probl<strong>em</strong>a<br />

para altos valores de momento angular (que é o caso de maior interesse), cuja vantag<strong>em</strong><br />

reside no fato de se ter uma solução analítica para tal modelag<strong>em</strong>.<br />

No capítulo 3, exploramos o t<strong>em</strong>a de radiação e absorção de partículas por um bu-<br />

raco negro pela abordag<strong>em</strong> s<strong>em</strong>iclássica. Para isso, nas primeiras seções, apresentamos<br />

os apectos gerais dessa teoria dentro da qual fez-se necessário lançarmos mão do método<br />

W.K.B por integrais no plano complexo, também descrito aqui. Com isso, pud<strong>em</strong>os escre-<br />

ver de maneira mais detalhada como o caminho de integração é escolhido para transpassar<br />

a singularidade do horizonte, o que, a nosso ver, ainda estava obscuro nessas referências<br />

supracitadas brev<strong>em</strong>ente. Recupera-se assim o efeito de radiação Hawking.<br />

Além disso, dois apêndices são apresentados. No primeiro, desenvolve-se uma breve<br />

introdução ao estudo das métricas <strong>em</strong> espaços-t<strong>em</strong>pos curvos e como <strong>buracos</strong> <strong>negros</strong> po-<br />

d<strong>em</strong> ser definidos através delas. É um apêndice um pouco superficial para qu<strong>em</strong> é da área<br />

de Cosmologia e Gravitação, porém faz-se necessário para completeza do trabalho. No<br />

apêndice B, o método de Prüfer [28] é discutido, pois foi baseado nele que o programa<br />

computacional foi impl<strong>em</strong>entado para a evolução das equações diferenciais pertinentes<br />

ao probl<strong>em</strong>a.<br />

12


Capítulo 2<br />

Espalhamento de ondas escalares por<br />

<strong>buracos</strong> <strong>negros</strong><br />

O estudo de espalhamento de ondas é uma ferramenta fundamental na Física. Através<br />

dele pod<strong>em</strong>os entender melhor a estrutura do objeto espalhador <strong>em</strong> questão, podendo este<br />

processo ser usado como teste para modelos teóricos de sua composição. Como ex<strong>em</strong>plo<br />

de aplicação, pod<strong>em</strong>os citar o estudo de feixes de ondas planas para determinar a estrutura<br />

de átomos, moléculas, cristais, etc. A analogia pode também ser estendida para a física<br />

gravitacional, especialmente para objetos astrofísicos extr<strong>em</strong>os, como <strong>buracos</strong> <strong>negros</strong>.<br />

O espalhamento de ondas por <strong>buracos</strong> <strong>negros</strong> t<strong>em</strong> sido objeto de estudo há mais de 30<br />

anos, assim como a propagação de onda num espaço-t<strong>em</strong>po que possua tal ente físico. É<br />

improvável a curto prazo a observação dos vários efeitos de difração <strong>em</strong> <strong>buracos</strong> <strong>negros</strong><br />

astrofísicos, contudo faz-se muito importante o esse tipo de estudo já que ele nos fornece<br />

uma compreensão teórica detalhada do espalhamento de ondas por <strong>buracos</strong> <strong>negros</strong> assim<br />

como a propagação de ondas <strong>em</strong> espaços-t<strong>em</strong>pos curvos e ainda uma possível violação da<br />

censura cósmica.<br />

Nesse sentido, o probl<strong>em</strong>a central que se apresenta é o estudo de propagação de ondas<br />

escalares não massivas no espaço-t<strong>em</strong>po de Schwarzschild, que descreve o buraco negro


2.1 Formulação mat<strong>em</strong>ática 14<br />

mais simples com uma dada massa M. Tal probl<strong>em</strong>a é relativamente b<strong>em</strong> estudado, e<br />

ele servirá de base para avançarmos no estudo de outros espaços-t<strong>em</strong>pos. Tratamos do<br />

probl<strong>em</strong>a via uma abordag<strong>em</strong> quântica, ou seja, pensando na partícula teste como sendo<br />

descrita por uma onda (ou pacote de onda) lançando mão dos resultados de relatividade<br />

geral que fornece o el<strong>em</strong>ento métrico para tais espaços-t<strong>em</strong>pos.<br />

Parte do nosso trabalho consiste na resolução numérica das equações diferenciais que<br />

surg<strong>em</strong> do probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> questão. O método de Prüfer, que será analisado <strong>em</strong> maio-<br />

res detalhes no decorrer do traballho, é conhecido na teoria quântica do espalhamento e<br />

tratamentos numéricos da equação de Sturm-Liouville. Ele consite basicamente na trans-<br />

formação da equação de onda radial <strong>em</strong> equações envolvendo funções de fase específicas<br />

a ser<strong>em</strong> integradas numericamente, além de ser um método eficiente para o caso de um<br />

sist<strong>em</strong>a com oscilações de altas freqüências, que é o caso da equação radial. Utilizamos<br />

tal método no programa computacional desenvolvido por nós <strong>em</strong> linguag<strong>em</strong> C para o cál-<br />

culo mais relevante, que são as "phase-shifts"de cada freqüência separadamente, de forma<br />

que pod<strong>em</strong>os então reconstituir o pacote de ondas (representando a partícula) e calcular<br />

as taxas de reflexão, seção de choque e o que mais for necessário.<br />

2.1 Formulação mat<strong>em</strong>ática<br />

Partimos nosso estudo da equação de ondas para partículas de spin nulo e para campos<br />

s<strong>em</strong> massa:<br />

∇α∇ α Φ(⃗r, t) = 0. (2.1)<br />

Ao ser aplicada na métrica de Schwarzchild (equação A.7 do apêndice A) e separando-se<br />

as variáveis Φ(⃗r, t) = Rlm(r)Slm(θ)e imϕ e −iωt , chegar<strong>em</strong>os às equações<br />

r(r − 2M) d2Rlm + (2r − 2M)dRlm<br />

dr2 dr +<br />

d2Slm dSlm<br />

+ cot θ<br />

dθ2 dθ +<br />

(<br />

( ω 2 r 3<br />

r − 2M<br />

)<br />

Alm − m2<br />

sin 2 θ<br />

− Alm<br />

)<br />

Rlm = 0 (2.2)<br />

Slm = 0. (2.3)


2.1 Formulação mat<strong>em</strong>ática 15<br />

Figura 2.1: Relação entre as coordenadas r e r ∗ .<br />

Essa última equação t<strong>em</strong> como soluções as funções de Legendre associadas, ou seja<br />

Slm(θ) = P m<br />

l (cos θ), com Alm = l(l + 1) satifazendo a condição |m| ≤ l.<br />

Voltando à equação radial (2.2), definimos a seguinte mudança de variável:<br />

dr∗ dr =<br />

(<br />

1 − 2M<br />

) −1<br />

r<br />

Note que assim eliminamos a singularidade na métrica (A.7) e dessa forma mapeamos as<br />

coordenadas r e r ∗ segundo o esqu<strong>em</strong>a da figura 2.1.<br />

Portanto, a equação radial fica reescrita da seguinte maneira, <strong>em</strong> um sist<strong>em</strong>a misto de<br />

coordenadas:<br />

{ d 2<br />

+<br />

dr∗2 [<br />

ω 2 (<br />

− 1 − 2M<br />

) (<br />

l(l + 1)<br />

r r2 onde ulm(r) ≡ rRlm(r). Definindo ainda<br />

2M<br />

+<br />

r3 )]}<br />

ulm(r) = 0 (2.4)<br />

x ≡ ωr (2.5)<br />

xs ≡ 2Mω (2.6)<br />

x ∗ ≡ ωr ∗ =<br />

= x + xs ln( x<br />

xs<br />

− 1) − xs ln(2xs) + xs<br />

, (2.7)<br />

2<br />

a equação radial fica conhecida como a equação de Teukolsky [32]:<br />

{ 2 d<br />

dx∗2 [ (<br />

+ 1 − 1 − xs<br />

)<br />

x<br />

( l(l + 1)<br />

x2 xs<br />

+<br />

x3 )]}<br />

ulm(x) = 0 (2.8)


2.1 Formulação mat<strong>em</strong>ática 16<br />

V(x*)<br />

2<br />

1<br />

0<br />

-1<br />

-2<br />

-3<br />

Potencial <strong>em</strong> Schwarzchild<br />

-30 -20 -10 0 10 20 30 40 50<br />

Figura 2.2: Potencial V (x) para o parâmetro l = 30.<br />

que é totalmente análoga a uma equação de Schrödinger:<br />

( 2 d<br />

dx∗2 )<br />

+ V (x) u(x) = 0 (2.9)<br />

com<br />

x*<br />

V (x) ≡ 1 − Vef(x) (2.10)<br />

(<br />

Vef(x) ≡ 1 − xs<br />

)<br />

x<br />

( l(l + 1)<br />

x2 xs<br />

+<br />

x3 )<br />

. (2.11)<br />

Note que V (x) → 1 para x ∗ → ±∞ de acordo com o gráfico da fig.2.2. Nestes<br />

limites, o comportamento da solução será:<br />

ulm(x ∗ ) ∼ ⎧<br />

⎨ e<br />

=<br />

⎩<br />

−ix∗<br />

x ∗ → −∞;<br />

Aout lm eix∗ + Ain lm e−ix∗ ≡ B sin (x∗ + ζ); B, ζ ∈ C x∗ → +∞<br />

(2.12)<br />

que representa a situação de espalhamento de onda, cujo termo da primeira linha re-<br />

presenta uma onda monocromática transmitida (absorvida no horizonte de eventos) <strong>em</strong>


2.1 Formulação mat<strong>em</strong>ática 17<br />

Schwarzschild (r = 2M) e os termos da segunda linha, as ondas refletidas e incidentes<br />

observadas no infinito, respectivamente. Note que já foi imposta a condição de contorno<br />

de que não haja onda refletida nas proximidades do horizonte.<br />

Logo, a solução geral para uma onda monocromática é dada pela superposição das<br />

autofunções obtidas, de forma que pod<strong>em</strong>os escrever:<br />

Φ(r, θ, ϕ, t) = 1<br />

∞∑ ∑+l<br />

r<br />

l=0 m=−l<br />

clmulm(r)P m<br />

l (cos θ) e imϕ e −iωt<br />

sendo clm um coeficiente da expansão e P m(cos<br />

θ) ortogonalizados por:<br />

∫ π<br />

0<br />

dθ sin(θ)P m n (cos θ)P m<br />

l (cos θ) =<br />

l<br />

(2.13)<br />

(l + m)! 2<br />

(l − m)! 2l + 1 δnl. (2.14)<br />

Como o potencial de espalhamento V (x) é esfericamente simétrico, a função de onda<br />

não pode depender de ϕ, o que implica que m = 0 [43]. Ter<strong>em</strong>os então, redefinindo os<br />

coeficientes clm = (2l + 1)al:<br />

Φ(r, θ, ϕ, t) = 1<br />

r<br />

∞∑<br />

(2l + 1)al ul(r)Pl(cos θ) e −iωt . (2.15)<br />

l=0<br />

Para determinarmos os coeficientes al dev<strong>em</strong>os ajustar a função de onda de forma que<br />

seu comportamento assintótico seja dado por:<br />

Φ(r, θ) ∼ Φplana + 1<br />

f(θ) eiωr∗<br />

r<br />

com r → +∞. (2.16)<br />

Porém uma questão não muito trivial é como definir uma onda plana <strong>em</strong> espaços-<br />

t<strong>em</strong>pos curvos. Essa questão é discutida <strong>em</strong> [42], [33] e brev<strong>em</strong>ente apresentada aqui.<br />

Para um campo escalar livre, uma onda plana é dada pela expressão familiar <strong>em</strong> coorde-<br />

nadas esféricas<br />

Φplana = e iωr cos θ = e iωz . (2.17)<br />

A expressão para a onda plana satisfaz a Φplana = 0 e, expandindo <strong>em</strong> funções de<br />

Legendre, ter<strong>em</strong>os a decomposição:<br />

Φplana = 1<br />

d<br />

∑<br />

cl ul(r) Pl(cos θ)<br />

r<br />

l<br />

onde (2.18)<br />

2ul dr2 +<br />

[<br />

ω 2 l(l + 1)<br />

−<br />

r2 ]<br />

ul = 0. (2.19)


2.1 Formulação mat<strong>em</strong>ática 18<br />

Not<strong>em</strong>os então que a equação radial (2.4) para r → ∞ fica<br />

d2 [<br />

ul<br />

+ ω<br />

dr∗2 2 l(l + 1)<br />

−<br />

r∗2 ( ∗ ln r<br />

+ O<br />

r∗3 )]<br />

ul = 0 (2.20)<br />

e, <strong>em</strong> analogia ao caso anterior, pod<strong>em</strong>os escrever<br />

Φplana ∼ 1<br />

r<br />

Φplana = e iωr∗ cos θ<br />

e not<strong>em</strong>os ainda que a solução assintótica de (2.20) é dada por<br />

∑<br />

cl ul(r)Pl(cos θ) ⇒ (2.21)<br />

l<br />

(2.22)<br />

ul ∼ bl sin(ωr ∗ − lπ<br />

2 + δl). (2.23)<br />

Substituindo as expressões para a função de onda, encontramos:<br />

Φ ∼ e iωr∗ cos θ + f(θ)<br />

=<br />

∞∑<br />

l=0<br />

= ∑<br />

l<br />

≡ ∑<br />

r<br />

e iωr∗<br />

(2l + 1)i l jl(ωr ∗ )Pl(cos θ) +<br />

onde usamos as expansões (vide [41])<br />

l<br />

∞∑<br />

l=0<br />

fl<br />

r Pl(cos θ) e iωr∗<br />

[ (2l + 1)<br />

2iωr ∗ ((−1)l+1 e −iωr∗<br />

+ e iωr∗<br />

) + fl<br />

r eiωr∗<br />

]<br />

Pl(cos θ)<br />

(2.24)<br />

(2.25)<br />

1<br />

r (2l + 1)al bl sin(ωr ∗ − lπ/2 + δl)Pl(cos θ) (2.26)<br />

f(θ) = ∑<br />

flPl(cos θ) (2.27)<br />

e iωr∗ cos θ = ∑<br />

i l jl(ωr ∗ ) ∼<br />

l<br />

(2l + 1)i l jl(ωr ∗ )Pl(cos θ) (2.28)<br />

l<br />

1<br />

2iωr∗ ((−1)l+1 e −iωr∗<br />

+ e iωr∗<br />

), ωr ∗ ≫ 1 (2.29)<br />

sendo jl as funções esféricas de Bessel. Finalmente ter<strong>em</strong>os por comparação:<br />

eiδl l<br />

al bl = i<br />

ω<br />

(2.30)<br />

fl = eiδl<br />

ω sin δl ⇒ (2.31)


2.1 Formulação mat<strong>em</strong>ática 19<br />

Φ(r, θ, ϕ, t) =<br />

≡<br />

∞∑<br />

l=0<br />

∞∑<br />

l=0<br />

1<br />

ωr (2l + 1)il e iδl sin(ωr ∗ − lπ/2 + δl)Pl(cos θ) e −iωt<br />

1<br />

r<br />

(2.32)<br />

out<br />

(2l + 1)al(Al e iωr∗<br />

+ A in<br />

l e −iωr∗<br />

)Pl(cos θ) e −iωt , por (2.12)<br />

∴ S . l+1 Aout l<br />

= (−1)<br />

Ain l<br />

= e 2iδl , (2.33)<br />

é denominado o el<strong>em</strong>ento de matriz de espalhamento. Desta relação fica claro que o mó-<br />

dulo de S (relacionado à parte imaginária de δl) corresponde à razão entre as amplitudes<br />

das ondas refletida e incidente, e a fase desse (relacionado à parte real de δl) correspon-<br />

dendo à defasag<strong>em</strong> entre essas ondas. Obt<strong>em</strong>os ainda a amplitude de espalhamento<br />

f(θ) = 1<br />

∞∑<br />

(2l + 1) e<br />

ω<br />

l=0<br />

iδl sin δlPl(cos θ) (2.34)<br />

= 1<br />

∞∑<br />

(2l + 1)(e<br />

2iω<br />

2iδl − 1)Pl(cos θ) (2.35)<br />

l=0<br />

que possui toda a informação física relevante no probl<strong>em</strong>a de espalhamento. V<strong>em</strong>os então<br />

que a matriz de espalhamento carrega o cerne dessa informação.<br />

Sendo I0 o número de partículas incidentes por unidade de área e I dΩ o número de<br />

partículas espalhadas <strong>em</strong> um ângulo sólido, define-se a seção de choque diferencial da<br />

seguinte forma [29]:<br />

que, no presente caso, se resume a:<br />

dσ<br />

dΩ<br />

= |f(θ)|2<br />

= 1<br />

ω2 ∑<br />

ll ′<br />

dσ<br />

dΩ<br />

= I(θ)<br />

I0<br />

(2l + 1)(2l ′ + 1) e i(δl−δ l ′) sin δl sin ∗ δl ′ Pl(cos θ)Pl<br />

(2.36)<br />

(2.37)<br />

′(cos θ). (2.38)<br />

Integrando-se sob os ângulos (θ, ϕ) e levando-se <strong>em</strong> consideração a ortogonalidade dos<br />

polinômios de Legrende, obter<strong>em</strong>os a seção de choque total de espalhamento:<br />

∞∑<br />

(2l + 1)| sin δl| 2<br />

σtot = 4π<br />

ω 2<br />

l=0<br />

(2.39)


2.1 Formulação mat<strong>em</strong>ática 20<br />

onde cada termo<br />

σl =<br />

4π(2l + 1)<br />

ω2 | sin δl| 2<br />

(2.40)<br />

pode ser interpretado como a contribuição ao espalhamento correspondendo ao momento<br />

angular l.<br />

Outro resultado teórico importante, e talvez o mais discutido no que diz respeito a<br />

esse t<strong>em</strong>a, é a seção de choque de absorção, que é definida de maneira análoga à seção<br />

de espalhamento - eq.(2.37) - porém para a função de onda absorvida [30]. Nesse caso, o<br />

comportamento assintótico da solução de (2.2) para r → 2M + é dado por:<br />

com<br />

A função de onda <strong>em</strong> (2.15) fica então reescrita como:<br />

Φ(r, θ) ∼<br />

g(θ) =<br />

Rl ∼ cl(r − 2M) −2iMω . (2.41)<br />

∞∑<br />

(2l + 1)al cl(r − 2M) −2iMω Pl(cos θ) (2.42)<br />

l=0<br />

≡ (r − 2M) −2iMω g(θ) , r → 2M +<br />

∞∑<br />

(2l + 1)al cl Pl(cos θ) =<br />

l=0<br />

a amplitude de absorção, expandido <strong>em</strong> polinômios de Legendre.<br />

(2.43)<br />

∞∑<br />

gl Pl(cos θ) , (2.44)<br />

É possível relacionar as amplitudes de absorção e de espalhamento através das propri-<br />

edades b<strong>em</strong> conhecidas do Wronskiano. Para uma equação diferencial de segunda ord<strong>em</strong><br />

da forma<br />

l=0<br />

d2y + P (x)dy + Q(x)y = 0 (2.45)<br />

dx2 dx<br />

t<strong>em</strong>os que o Wronskiano de duas soluções de (2.45) é dado por:<br />

(<br />

W [y1, y2](x) = W (x0) exp −<br />

∫ x<br />

x0<br />

)<br />

P (ξ) dξ . (2.46)<br />

Como Rl(r) satizfaz à equação (2.2), t<strong>em</strong>os que o Wronskiano de duas soluções radiais


2.1 Formulação mat<strong>em</strong>ática 21<br />

será dado por:<br />

W [R ∗ l , Rl] =<br />

( ∫ r )<br />

2ξ − 2M<br />

W (r0) exp −<br />

r0 ξ(ξ − 2M)<br />

(2.47)<br />

∴ W (r) =<br />

W (r0)<br />

.<br />

r(r − 2M)<br />

(2.48)<br />

Para a solução assintótica <strong>em</strong> (2.41) pode-se calcular o Wronskiano através de:<br />

W [R ∗ l , Rl] =<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

R∗ l (r)<br />

<br />

<br />

Rl(r) <br />

<br />

<br />

<br />

(2.49)<br />

que coincide com (2.48).<br />

R ∗′<br />

l (r) R′ l (r)<br />

= 2i|cl| 2 ω (2M) 2<br />

r(r − 2M)<br />

Para o outro limite assintótico dado por (2.23) o Wronskiano será:<br />

(r → 2M + ) , (2.50)<br />

W [R ∗ l , Rl] = i|bl| 2 ω sinh(2βl)<br />

r 2 , r → ∞. (2.51)<br />

onde βl = Im(δl). Esse resultado está também de acordo com (2.48) para r ≫ 2M.<br />

Equacionando ambos os resultados, ter<strong>em</strong>os:<br />

W (r0) = 2i|cl| 2 ω (2M) 2 = i|bl| 2 ω sinh(2βl) (2.52)<br />

⇒ |cl| 2 = |bl| 2 sinh(2βl)<br />

8M 2<br />

(2.53)<br />

Nesse caso, a seção de absorção diferencial a uma distância r = 2M do centro absor-<br />

vedor será dado por:<br />

Procedendo-se à seção total de absorção:<br />

σ abs = (2M) 2<br />

∫<br />

= ∑<br />

∫<br />

dσ abs<br />

dΩ = (2M)2 |g(θ)| 2 . (2.54)<br />

l,l ′<br />

|g(θ)| 2 dΩ (2.55)<br />

gl g ∗ l ′ Pl(cos θ) Pl ′(cos θ) dΩ , (2.56)


2.2 Resultados numéricos 22<br />

l<strong>em</strong>brando-se da ortogonalidade dos polinômios de Legendre (2.14), ter<strong>em</strong>os:<br />

σ abs = (2M) 2<br />

= 2π<br />

= 2π<br />

ω 2<br />

= π<br />

ω 2<br />

∞∑<br />

∞∑<br />

2 4π<br />

2<br />

|gl| = 16πM (2l + 1)|al cl|<br />

2l + 1<br />

l=0<br />

l=0<br />

2<br />

(2.57)<br />

∞∑<br />

(2l + 1)|al bl| 2 sinh(2βl) por (2.53) (2.58)<br />

l=0<br />

∞∑<br />

(2l + 1) e −2βl sinh(2βl) por (2.30) (2.59)<br />

l=0<br />

∞∑<br />

l=0<br />

(2l + 1)(1 − e −4βl ) ≡ π<br />

ω 2<br />

∞∑<br />

(2l + 1)(1 − |S| 2 ) , (2.60)<br />

onde cada termo σabs l<br />

π = ω2 (2l + 1)(1 − |S| 2 ) é interpretado como a seção de absorção<br />

parcial para cada valor de l. Note que o termo (1 − |S| 2 (<br />

) = 1 − | Aout<br />

Ain |2<br />

)<br />

é a taxa de<br />

absorção da onda incidente.<br />

2.2 Resultados numéricos<br />

Como mencionamos inicialmente, desenvolv<strong>em</strong>os um programa <strong>em</strong> linguag<strong>em</strong> C que<br />

permite a evolução da equação radial (2.4) através do método de Prüfer (Apêndice B), já<br />

que as soluções têm rápidas oscilações. Uma versão anterior do código foi utilizada no<br />

estudo de efeitos opticos <strong>em</strong> <strong>buracos</strong> <strong>negros</strong> multidimensionais <strong>em</strong> [31].<br />

Comparando as equações (B.7) e (2.8) v<strong>em</strong>os que no presente caso <strong>em</strong> estudo usamos<br />

P = 1 e Q = V (x ∗ ). Seguindo a substituição de Prüfer (B.8), definimos G(x ∗ ) ≡<br />

u ′ (x ∗ )/u(x ∗ ) = cot θ. Derivando implicitamente e substituindo <strong>em</strong> (B.13) ter<strong>em</strong>os:<br />

l=0<br />

dG<br />

dx ∗ + G2 + V = 0 (2.61)<br />

com a condição de contorno: G(x∗ → −∞) → −i, já que u(x∗ → −∞) → e−ix∗. Definindo ainda G(x ∗ ) ≡ θ(x ∗ ) − x ∗ , derivando implicitamente e substituindo <strong>em</strong><br />

(B.13), obt<strong>em</strong>os<br />

d G<br />

dx ∗ + Vef sin 2 ( G + x ∗ ) = 0 (2.62)


2.2 Resultados numéricos 23<br />

abs<br />

σ0 /A<br />

2.5<br />

2<br />

1.5<br />

1<br />

0.5<br />

0<br />

0 0.5 1 1.5 2<br />

xs 2.5 3 3.5 4<br />

Figura 2.3: Seção de absorção para l = 0 normalizada pela área do buraco negro de<br />

Schwarzschild.<br />

Para a condição de contorno de G, basta observarmos que por (2.12) t<strong>em</strong>os:<br />

tan θ = u(x∗ )<br />

u ′ (x ∗ ) ∼ B sin(x∗ + ζ)<br />

B cos(x ∗ + ζ) , x∗ → +∞ (2.63)<br />

⇒ G(x ∗ → ∞) → ζ. (2.64)<br />

Nosso método consiste <strong>em</strong> evoluir computacionalmente a Eq. (2.61), a partir da con-<br />

dição inicial fornecida, até o ponto de mínimo do potencial V (x ∗ min). Neste ponto, o<br />

matching das funções é feito por<br />

G(x ∗ min) = i<br />

2 ln<br />

( )<br />

∗ G(xmin) − i<br />

G(x∗ min ) + i<br />

L=0<br />

− x ∗ min. (2.65)<br />

A partir daí, evoluimos a Eq. (2.62) até o ponto <strong>em</strong> que G(x ∗ ) se torne constante, o<br />

que formalmente acontece apenas quando x ∗ → ∞. Tal exigência torna este processo<br />

computacionalmente caro.


2.2 Resultados numéricos 24<br />

Pod<strong>em</strong>os então calcular o desvio de fase δl = ζ + lπ/2 e o el<strong>em</strong>ento de matriz de<br />

espalhamento Sl = exp(2iδl).<br />

Apresentamos os resultados da evolução numérica para as seções de absorção. Na<br />

figura 2.3 v<strong>em</strong>os que no limite de baixa freqüência a seção de absorção para l = 0 tende<br />

à área A = 4π(2M) 2 do buraco negro, que é o único caso de contribuição não nula nesse<br />

regime [35], [36].<br />

Na figura 2.4, pode-se analisar o comportamento das seções de absorção para distin-<br />

tos valores l e a soma desses modos, gerando a seção total, que, no limite geométrico<br />

(altas freqüências), oscila <strong>em</strong> torno de e tende a σ abs<br />

T<br />

encontrado <strong>em</strong> [38].<br />

1.4<br />

1.2<br />

1<br />

0.8<br />

0.6<br />

0.4<br />

0.2<br />

0<br />

→ 27πM 2 [37], resultado também<br />

abs 2<br />

σT /27πM<br />

abs 2<br />

σ0 /54πM<br />

L=1<br />

L=2<br />

L=3<br />

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4<br />

x s<br />

Figura 2.4: Gráfico da seção de absorção total e parcial para alguns valores de l. A<br />

seção de choque total foi obtida somando-se as contribuições de 0 ≤ l ≤ 10. Para<br />

melhor visualização as seções parciais foram ajustadas com outra normalização, a saber:<br />

σl/54πM 2 .<br />

Pod<strong>em</strong>os ainda fazer outra comparação dos resultados numéricos com outros conhe-


2.3 “Toy model” 25<br />

cidos na literatura. Em [7] chega-se ao resultado que uma partícula com baixa energia<br />

(ω ≪ 1), momento angular l t<strong>em</strong> uma probabilidade de ser capturada pelo buraco negro<br />

<strong>em</strong> Reissner-Nordström dada pela expressão:<br />

|τωl| 2 = 1 − e −4Im δl = 2 4l+4 (r+) 2 (r+ − r−) 2l (l!) 6 M 2l+2 ω 2l+2<br />

[(2l + 1)!(2l)!] 2 , (2.66)<br />

onde r± = r±/2M e r± estão definidos <strong>em</strong> (A.20). Tendo <strong>em</strong> vista esse resultado,<br />

foi concluído que a violação da conjectura de censura cósmica é possível dentro deste<br />

cenário.<br />

No caso <strong>em</strong> estudo (Schwarzschild), para que não haja variação significativa de ener-<br />

gia do buraco negro, dev<strong>em</strong>os ter que ω ≪ M, ou seja, ω ≪ Mc 2 / <strong>em</strong> unidades con-<br />

vencionais. Ainda, a fim de que haja espalhamento da onda, é necessário que Mω ∼ 1, ou<br />

ω ∼ c 3 /GM <strong>em</strong> unidades padrões. Combinando esses dois resultados, dev<strong>em</strong>os ter que<br />

M ≫ √ c/G ≡ MP (massa de Planck), ou M ≫ 1 <strong>em</strong> unidades que utilizamos neste<br />

trabalho (c = G = = 1). Em Schwarzschild, a desigualdade da conjectura cósmica é<br />

obedecida trivialmente: M 2 ≥ 0. Se quisermos violá-la, pod<strong>em</strong>os pensar na absorção de<br />

uma partícula com baixa energia e que satisfaça:<br />

(M + ω) 2 ≈ M 2 (<br />

l(l + 1)<br />

<<br />

M 2<br />

) 2<br />

. (2.67)<br />

Para M = 3MP , l ≥ 9 e pod<strong>em</strong>os assim traçar um gráfico comparativo entre os resultados<br />

numéricos com (2.66), que foi feito na figura 2.5. Observamos que o comportamento é<br />

s<strong>em</strong>elhante entre os gráficos, <strong>em</strong>bora exista uma pequena discrepância entre eles que pode<br />

ser atribuída à precisão do código numérico, razão pela qual não conseguimos extrair<br />

resultados para momentos angulares mais altos, o que permitiria aumentar a massa do<br />

buraco negro.<br />

2.3 “Toy model”<br />

De maneira geral, o probl<strong>em</strong>a de espalhamento ou tunelamento de ondas <strong>em</strong> espaços-<br />

t<strong>em</strong>pos curvos é de difícil solução, quase s<strong>em</strong>pre levando a uma abordag<strong>em</strong> mat<strong>em</strong>ática


2.3 “Toy model” 26<br />

log(Imδ)<br />

-10<br />

-20<br />

-30<br />

-40<br />

-50<br />

-60<br />

analitico<br />

numerico<br />

-70<br />

0 0.2 0.4 0.6 0.8 1<br />

xs 1.2 1.4 1.6 1.8 2<br />

Figura 2.5: Gráfico comparando os resultados numéricos com analíticos para M = 3,<br />

l = 9 e 0 ≤ ω ≤ 1/3 (xs = 2Mω). Como os números são extr<strong>em</strong>ente pequenos, apre-<br />

sentamos os dados <strong>em</strong> escala logarítmica, e v<strong>em</strong>os que a curva numérica não é completa,<br />

pois chega ao seu limite de precisão.<br />

mais complicada e densa. A equação radial (2.4) obtida pela separação de variáveis da<br />

função de onda é uma equação do tipo Schrödinger, porém escrita <strong>em</strong> coordenadas mistas<br />

(r e r ∗ ), o que a torna mais complicada de se resolver, além de que a referida equação não<br />

possui solução analítica conhecida. Pensando nisso propus<strong>em</strong>os um “toy model” para<br />

modelarmos esse probl<strong>em</strong>a de forma que possamos ter uma solução fácil (analiticamente<br />

b<strong>em</strong> conhecida) e uma boa análise qualitativa dos resultados, abrindo possibilidade ainda<br />

para a impl<strong>em</strong>entação de um código computacional mais rápido, como far<strong>em</strong>os mais adi-<br />

ante. Tendo <strong>em</strong> vista o gráfico do potencial <strong>em</strong> coordenadas x ∗ na figura 2.6, analis<strong>em</strong>os<br />

um potencial que apresenta um comportamento s<strong>em</strong>elhante, ou seja:<br />

Vtoy(x ∗ ) = B tanh 2 [A(x ∗ − C)] + 1 − B. (2.68)


2.3 “Toy model” 27<br />

V(x*)<br />

5<br />

0<br />

-5<br />

-10<br />

-15<br />

-20<br />

-25<br />

-30<br />

-40 -20 0 20 40 60 80 100<br />

x*<br />

l=30<br />

toy model<br />

Figura 2.6: Comparação entre o potencial V (x) exato e aproximado (toy model).<br />

Pod<strong>em</strong>os ressaltar algumas observações sobre esse potencial:<br />

1. Vtoy(x ∗ ) → 1 para x → ±∞, assim como o original;<br />

2. fixamos A ≥ 0 já que a troca de A ↦→ −A não muda o potencial;<br />

3. o parâmetro A “regula” a largura do potencial e os parâmetros B e C “regulam”<br />

a profundidade e o ponto de mínimo do potencial, respectivamente, podendo ser<br />

ajustado com o original;<br />

4. como o potencial original depende apenas dos parâmetros l e ω, assim ocorrerá<br />

com A, B e C (Alω, Blω e Clω), mas não explicitar<strong>em</strong>os estes índices para não<br />

sobrecarregar a notação.<br />

Dessa forma, a equação (2.9) fica escrita da seguinte maneira:<br />

( 2 d<br />

dx∗2 + B tanh 2 [A(x ∗ )<br />

− C)] + 1 − B ulm = 0. (2.69)


2.3 “Toy model” 28<br />

Fazendo-se a mudança de variável y = tanh[A(x ∗ − C)] a equação acima fica:<br />

cuja solução exata é<br />

(1 − y 2 ) d2ulm dulm<br />

− 2y<br />

dy2 dy +<br />

(<br />

1<br />

A2 (1 − y2 B<br />

−<br />

) A2 )<br />

ulm = 0 (2.70)<br />

ulm(y) = c1 P −µ<br />

ν (y) + c2 Q µ ν(y), (2.71)<br />

onde P −µ<br />

ν (y) e Q µ ν(y) são as funções de Legendre associadas de primeira e segunda es-<br />

pécie, respectivamente, ν ≡ ( √ A 2 − 4B − A)/2A, µ ≡ i/A e c1 e c2 são constantes<br />

complexas fixadas pelas condições de contorno, ou seja, pelas amplitudes e fases das<br />

ondas incidente (Ain), refletida (Aout) e transmitida (absorvida pelo buraco).<br />

Para o cálculo de espalhamento, precisamos determinar as expressões assintóticas para<br />

a solução encontrada (nos limites de x ∗ → ±∞ ou seja y → ±1) e compararmos com<br />

as condições de contorno <strong>em</strong> (2.12). As contas que segu<strong>em</strong> têm como base as proprie-<br />

dades detalhadas nas referências [34], [39] e [40]. T<strong>em</strong>os então que os comportamentos<br />

assintóticos são:<br />

P −µ<br />

ν (z) ∼<br />

(z − 1)µ/2<br />

2 µ/2 Γ(µ + 1)<br />

z → 1; z ∈ C (2.72)<br />

Q µ ν(z) ∼ 2µ/2−1 Γ(µ) e iµπ<br />

(z − 1) µ/2 z → 1; z ∈ C (2.73)<br />

As fórmulas para P −µ<br />

ν (x ± i0) e Q µ ν(x ± i0) são obtidas substituindo-se (z − 1) por<br />

(1 − x) e ±iπ para z = x ± i0. Logo, t<strong>em</strong>os:<br />

P −µ<br />

ν (x + i0) ∼ (1 − x)µ/2 e iµπ/2<br />

2 µ/2 Γ(µ + 1)<br />

Q µ ν(x + i0) ∼ 2µ/2−1 Γ(µ) e iµπ<br />

(1 − x) µ/2 e iµπ/2<br />

Q µ ν(x − i0) ∼ 2µ/2−1 Γ(µ) e iµπ<br />

(1 − x) µ/2 e −iµπ/2<br />

(2.74)


2.3 “Toy model” 29<br />

Das relações:<br />

P −µ<br />

ν (x) = e −iµπ/2 P −µ<br />

ν (x + i0) (2.75)<br />

Q µ ν(x) = 1<br />

2 e−iµπ [e −iµπ/2 Q µ ν(x + i0) + e iµπ/2 Q µ ν(x − i0)] (2.76)<br />

substituindo as relações (2.74) <strong>em</strong> (2.75) e (2.76), obt<strong>em</strong>os que:<br />

P −µ<br />

ν (x) ∼<br />

Usando ainda as relações:<br />

⇒ P µ ν (x) =<br />

Q −µ<br />

ν (x) =<br />

P −µ<br />

ν (x) =<br />

Q −µ<br />

ν (x) =<br />

(1 − x)µ/2<br />

2 µ/2 , x → 1 (2.77)<br />

Γ(µ + 1)<br />

Q µ ν(x) ∼ 2µ/2+1 Γ(µ) cos(mπ)<br />

(1 − x) µ/2 , x → 1. (2.78)<br />

(<br />

cos µπ P µ ν (x) − 2<br />

π sin µπ Qµ )<br />

ν(x)<br />

Γ(ν − µ + 1)<br />

Γ(ν + µ + 1)<br />

Γ(ν − µ + 1)<br />

(<br />

cos µπ Q<br />

Γ(ν + µ + 1)<br />

µ ν(x) + π<br />

2 sin µπ P µ )<br />

ν (x)<br />

Γ(ν + µ + 1) (1 − x)<br />

cos(mπ)Γ(ν − µ + 1)Γ(µ + 1)<br />

µ/2<br />

2 µ/2<br />

Γ(µ)Γ(ν − µ + 1)<br />

2Γ(ν + µ + 1)<br />

2 µ/2 π<br />

+<br />

(1 − x) µ/2 2<br />

+ sin(µπ)Γ(µ)<br />

π<br />

(2.79)<br />

(2.80)<br />

2 µ/2<br />

(1 − x) µ/2 x → 1 (2.81)<br />

tan(µπ) (1 − x)<br />

Γ(µ + 1)<br />

µ/2<br />

2 µ/2 x → 1. (2.82)<br />

Para determinarmos os comportamentos das soluções para x → −1 (x ∗ → −∞)<br />

pod<strong>em</strong>os usar as relações entre as funções de Legendre associadas, a saber:<br />

P −µ<br />

ν (−x) = cos(ν − µ)π P −µ<br />

ν (x) − 2<br />

π<br />

sin(ν − µ)π Q−µ<br />

ν (x) (2.83)<br />

Q µ ν(−x) = − cos(ν + µ)π Q µ ν(x) − π<br />

2 sin(ν + µ)π P µ ν (x) (2.84)


2.3 “Toy model” 30<br />

donde pod<strong>em</strong>os obter P −µ<br />

ν (−x) e Q µ ν(−x). Trocando-se o argumento x ↦→ −x ter<strong>em</strong>os<br />

os comportamentos assintóticos para os limites desejados:<br />

P −µ<br />

ν (x) =<br />

cos((ν − µ)π) (1 + x)<br />

Γ(µ + 1)<br />

µ/2<br />

2 µ/2<br />

− 2<br />

sin((ν − µ)π)<br />

π<br />

[ Γ(µ)Γ(ν − µ + 1)<br />

2 Γ(ν + µ + 1)<br />

2 µ/2<br />

(1 + x) µ/2<br />

+ π tan(µπ) (1 + x)<br />

2 Γ(µ + 1)<br />

µ/2<br />

2 µ/2<br />

]<br />

x → −1 (2.85)<br />

Q µ ν(x) = − 1<br />

2<br />

cos((µ + ν)π) cos(µπ)Γ(µ)<br />

2 µ/2<br />

(1 + x) µ/2<br />

− π<br />

[<br />

1 Γ(ν + µ + 1) (1 + x)<br />

sin((ν + µ)π)<br />

2 cos(µπ) Γ(ν − µ + 1)Γ(µ + 1)<br />

µ/2<br />

2 µ/2 +<br />

sin(µπ) 2<br />

Γ(µ)<br />

π<br />

µ/2<br />

(1 + x) µ/2<br />

]<br />

x → −1. (2.86)<br />

Tendo estabelecido essas fórmulas, pod<strong>em</strong>os agora retornar à solução do “toy model”<br />

e impor as condições de contorno necessárias. L<strong>em</strong>brando que y = tanh[A(x ∗ − C)] e<br />

que ( 1±y<br />

2<br />

e (2.78):<br />

) µ/2 ∼ e ±µA(x ∗ −C) = e ±i(x ∗ −C) para y → ∓1, ter<strong>em</strong>os, com o auxílio das (2.77)<br />

ulm(y) = c1 P −µ<br />

ν (y) + c2 Q µ ν(y)<br />

∼<br />

c1<br />

Γ(µ + 1) eiC e −ix∗<br />

+ c2<br />

≡ A in<br />

lm e −ix∗<br />

+ A out<br />

lm e ix∗<br />

Γ(µ) cos(µπ)<br />

2<br />

e −iC e ix∗<br />

, x ∗ → +∞(2.87)<br />

por (2.12). (2.88)<br />

Por outro lado, pelas (2.85) e (2.86), nas proximidades do horizonte de eventos:


2.3 “Toy model” 31<br />

ulm(y) = c1 P −µ<br />

ν (y) + c2 Q µ ν(y)<br />

[<br />

∼<br />

c1<br />

cos(νπ) e−iC Γ(µ + 1) cos(µπ)<br />

π<br />

− c2<br />

2<br />

sin((µ + ν)π)Γ(µ + ν + 1)<br />

cos(µπ)Γ(ν − µ + 1)<br />

+ [. . .] e −ix∗<br />

e−iC ]<br />

e<br />

Γ(µ + 1)<br />

ix∗<br />

y → −1 , (2.89)<br />

onde o termo <strong>em</strong> [. . .] representa o coeficiente da onda transmitida nas proximidades do<br />

horizonte, que não se faz muito importante no presente momento. Impondo-se a condição<br />

física de que não haja onda refletida no horizonte de eventos:<br />

⇒ c1<br />

cos(νπ)<br />

Γ(µ + 1) cos(µπ)<br />

Por (2.88) e (2.90) t<strong>em</strong>os finalmente:<br />

A out<br />

lm<br />

A in<br />

lm<br />

= cos(µπ) cos(νπ) e−2iC<br />

π sin((ν + µ)π)<br />

π sin((ν + µ)π)Γ(ν + µ + 1)<br />

= c2<br />

2 cos(µπ)Γ(ν − µ + 1)Γ(µ + 1)<br />

Γ(ν − µ + 1)Γ(µ)Γ(µ + 1)<br />

Γ(ν + µ + 1)<br />

donde pode-se obter o el<strong>em</strong>ento de matriz de espalhamento (2.33) analiticamente.<br />

(2.90)<br />

(2.91)<br />

Até agora, apresentamos as relações entre µ e ν da fórmula (2.91) com os parâmetros<br />

A e B do “toy model”, porém faz-se necessário um mapeamento mais exato entre A e<br />

B com os do potencial “real”, ou seja, com xs e l. Tendo <strong>em</strong> vista os gráficos de ambos<br />

os potenciais, a maneira mais intuitiva de relacioná-los é fazendo coincidir os pontos de<br />

mínimos dos mesmos, b<strong>em</strong> como os valores das funções nesse ponto. Como o ponto de<br />

mínimo do “toy model” ocorre <strong>em</strong> x ∗ = C, dev<strong>em</strong>os ter:<br />

dV dV dx<br />

= = 0 (2.92)<br />

dx∗ dx dx∗ ⇒ dV<br />

<br />

<br />

<br />

dx = 0 , (2.93)<br />

x=xmin<br />

já que dx<br />

dx∗ = ( 1 − xs<br />

)<br />

̸= 0. Nesse caso, pod<strong>em</strong>os calcular C analiticamente pela expres-<br />

x<br />

são:<br />

C(xs, l) = xmin = (3l + 3l2 − 3 + √ 23l2 + 18l3 + 14l + 9l4 + 9)xs<br />

. (2.94)<br />

4l(l + 1)


2.3 “Toy model” 32<br />

Igualando-se os valores das funções no ponto de mínimo, dev<strong>em</strong>os ter:<br />

o que fornece a seguinte expressão para B:<br />

Vtoy(x ∗ = C) = V (x ∗ = xmin) , (2.95)<br />

B(xs, l) = 16(−l − l 2 − 3 + √ 23l 2 + 18l 3 + 14l + 9l 4 + 9)×<br />

l3 (l + 1) 3 (3l + 3l2 + 1 + √ 23l2 + 18l3 + 14l + 9l4 + 9)<br />

(3l + 3l2 − 3 + √ 23l2 + 18l3 + 14l + 9l4 + 9) 4x2 . (2.96)<br />

s<br />

Com essa modelag<strong>em</strong>, o parâmetro A fica então responsável pela concavidade do<br />

potencial no ponto de mínimo. A princípio, não é trivial saber qual é a melhor maneira de<br />

relacioná-lo com o potencial “real”, porém, a grosso modo, pode-se fazer uma estimativa<br />

do comportamento de A, pelo seguinte argumento:<br />

d 2 Vtoy<br />

dx ∗2<br />

Vtoy(x ∗ ) ≈ V (x ∗ ) (2.97)<br />

<br />

<br />

<br />

x ∗ =C<br />

≈ d2V dx∗2 <br />

<br />

<br />

dx∗2 <br />

<br />

<br />

2BA 2 ≈ d2 V<br />

x ∗ =xmin<br />

x ∗ =xmin<br />

⇒ (2.98)<br />

. (2.99)<br />

Conhecendo-se o parâmetro B dado por (2.96), ter<strong>em</strong>os que a expressão aproximada para<br />

A será dada por:<br />

A(xs, l) ∼ 4√2 (((−l − l 2 − 3 + √ 23l2 + 18l3 + 14l + 9l4 + 9)(l + 1) 2<br />

xs<br />

(9l 4 +18l 3 +3l 2√ 23l 2 + 18l 3 + 14l + 9l 4 + 9+23l 2 +14l+3l √ 23l 2 + 18l 3 + 14l + 9l 4 + 9<br />

+9−3 √ 23l 2 + 18l 3 + 14l + 9l 4 + 9) l 2 )/((3l+3l 2 +1+ √ 23l 2 + 18l 3 + 14l + 9l 4 + 9)<br />

(3l + 3l 2 − 3 + √ 23l 2 + 18l 3 + 14l + 9l 4 + 9) 4 )) 1/2 . (2.100)<br />

Analisando-se o comportamento dessa expressão para um dado valor de xs na fi-<br />

gura 2.7, v<strong>em</strong>os que o valor de A deve tender rapidamente a uma constante (no caso,<br />

liml→∞ A(xs, l) = 2 √ 3/9xs) o que é de fato constatado nos gráficos 2.8 e 2.9, onde<br />

pode-se ver que tanto a parte real da matriz de espalhamento S quanto a parte imaginária,


2.3 “Toy model” 33<br />

são bastante b<strong>em</strong> ajustadas pelo “toy model” para altos valores de l. A dependência do<br />

parâmetro A com xs ainda está sob análise. Tal função, se encontrada, nos dará um com-<br />

portamento qualitativo b<strong>em</strong> próximo do real, que, dentro da região de validade do “toy<br />

model” (para alto l), pode-se mostrar b<strong>em</strong> interessante visto que é o caso da inspeção da<br />

conjectura de censura cósmica.<br />

Figura 2.7: O comportamento da função A(xs, l) para xs = 0.1.


2.3 “Toy model” 34<br />

Re S<br />

1<br />

0.8<br />

0.6<br />

0.4<br />

0.2<br />

0<br />

-0.2<br />

-0.4<br />

-0.6<br />

-0.8<br />

-1<br />

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450<br />

L<br />

num<br />

toy(A=0.319)<br />

Figura 2.8: Comparação entre os resultados do programa numérico e do “toy model”.<br />

Im S<br />

1<br />

0.8<br />

0.6<br />

0.4<br />

0.2<br />

0<br />

-0.2<br />

-0.4<br />

-0.6<br />

-0.8<br />

-1<br />

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450<br />

L<br />

num<br />

toy(A=0.319)<br />

Figura 2.9: Comparação entre os resultados do programa numérico e do “toy model”.


Capítulo 3<br />

Produção de partículas <strong>em</strong><br />

espaços-t<strong>em</strong>pos com horizontes<br />

Segundo a teoria clássica da relatividade geral, nenhuma informação consegue <strong>em</strong>ergir do<br />

chamado “horizonte de eventos” de um buraco negro, pois a atração gravitacional é tão<br />

forte que n<strong>em</strong> mesmo a luz (viajando à maior velocidade permitida pela teoria) escapa.<br />

Por essa razão o chamamos de “negro”, no sentido de que toda luz é absorvida por ele e<br />

nada é <strong>em</strong>itido pelo mesmo. Entretanto, <strong>em</strong> 1974, o físico inglês Stephen Hawking pro-<br />

vou à comunidade científica que na realidade os <strong>buracos</strong> <strong>negros</strong> pod<strong>em</strong>, de fato, irradiar<br />

energia continuamente e que essa radiação coincide com a radiação de um corpo negro.<br />

Esse resultado foi baseado na teoria quântica de campos. Porém utilizando conceitos de<br />

mecânica quântica clássica, ou seja, atribuindo uma função de onda à partícula pode-<br />

mos obter resultados análogos graças ao fenômeno de tunelamento. Assim, existe uma<br />

pequena propabilidade de uma partícula atravessar a barreira de potencial imposta pelo<br />

buraco negro e conseguir escapar do mesmo. A diferença aqui é que calculamos e relacio-<br />

namos as taxas de <strong>em</strong>issão e de absorção de partículas através de um processo espontâneo<br />

como num banho térmico, diferent<strong>em</strong>ente do capítulo anterior, no qual analisamos um<br />

processo (de espalhamento) <strong>em</strong> específico.


3.1 Abordag<strong>em</strong> s<strong>em</strong>iclássica: aspectos gerais 36<br />

Em nossa análise, usar<strong>em</strong>os uma abordag<strong>em</strong> s<strong>em</strong>iclássica para esse efeito através do<br />

método de Hamilton-Jacobi. Trabalhando <strong>em</strong> coordenadas (r, t) encontrar<strong>em</strong>os singula-<br />

ridades e divergências, que são contornadas por prescrições advindas do método W.K.B.<br />

por caminhos complexos. Aplicamos tal método aos espaço-t<strong>em</strong>pos de Schwarzchild e<br />

Reissner-Nordström, que são produzidos por objetos gravitacionais massivos s<strong>em</strong> e com<br />

carga, respectivamente, além da massa do mesmo. Em última análise, desejamos analisar<br />

as taxas de absorção e <strong>em</strong>issão de partículas de um buraco negro, para podermos inves-<br />

tigar a confirmação, ou não, da conjectura de censura cósmica, que estabelece que toda<br />

singularidade é revestida por um horizonte de eventos.<br />

3.1 Abordag<strong>em</strong> s<strong>em</strong>iclássica: aspectos gerais<br />

3.1.1 Introdução<br />

Nessa seção, abordar<strong>em</strong>os as contas sob o viés da aproximação s<strong>em</strong>iclássica através de<br />

integrais no plano complexo. Para tanto, deve-se ter <strong>em</strong> mente que os efeitos <strong>quânticos</strong>,<br />

nessa aproximação, são levados <strong>em</strong> consideração apenas <strong>em</strong> primeira ord<strong>em</strong>; ou seja,<br />

pensar<strong>em</strong>os no parâmetro (constante de Planck) como sendo muito pequeno e, portanto,<br />

termos da ord<strong>em</strong> de 2 não serão levados <strong>em</strong> consideração.<br />

De maneira geral, a aproximação s<strong>em</strong>iclássica é válida para regiões nas quais o com-<br />

primento de onda de de Broglie λ(x) associado<br />

(<br />

a uma partícula com momento linear p(x)<br />

e energia E sujeita a um potencial U(x) λ(x) . = <br />

p(x) =<br />

)<br />

varia muito pouco,<br />

√ <br />

E−U(x)<br />

ou seja, o potencial U(x) é aproximadamente constante para vários intervalos de com-<br />

primentos de onda. Para dar mais consistência ao método, faz-se necessária uma breve<br />

revisão de seus principais resultados.<br />

A equação de Schrödinger para uma partícula <strong>em</strong> uma dimensão é:<br />

2<br />

2m<br />

d2Ψ(x) + (E − U(x))Ψ(x) = 0. (3.1)<br />

dx2


3.1 Abordag<strong>em</strong> s<strong>em</strong>iclássica: aspectos gerais 37<br />

Fazendo o seguinte Ansatz para a função de onda Ψ(x) = e i<br />

σ(x) e substituindo-o <strong>em</strong><br />

(3.1), ter<strong>em</strong>os<br />

σ ′2 <br />

+<br />

2m 2mi σ′′ = E − U(x). (3.2)<br />

Sendo o sist<strong>em</strong>a quase-clássico, explicit<strong>em</strong>os σ(x) na seguinte série de potências:<br />

σ(x) = σ0(x) + <br />

i σ1(x) +<br />

( ) 2<br />

<br />

σ2(x) + . . . (3.3)<br />

i<br />

Substituindo na eq.(3.2) e agrupando <strong>em</strong> potências do parâmetro ficar<strong>em</strong>os com<br />

σ ′2<br />

0 1 <br />

+<br />

2m 2m i (σ′′ 0 + 2σ ′ 0σ ′ 1) + 1<br />

2m<br />

( ) 2<br />

<br />

(σ<br />

i<br />

′ 0σ ′ 2 + 1<br />

2 σ′2 1 + 1<br />

2 σ′′2 1 ) + · · · = E − U(x)<br />

donde faz<strong>em</strong>os as seguintes identificações (pensando na equação acima como um polinô-<br />

mio na variável ):<br />

Da primeira igualdade, t<strong>em</strong>os que:<br />

σ ′2<br />

0<br />

2m<br />

= E − U(x) (3.4)<br />

σ ′′<br />

0 + 2σ ′ 0σ ′ 1 = 0 (3.5)<br />

σ ′ 0 = ± √ 2m (E − U(x)) ⇒ σ0(x) = ±<br />

. (3.6)<br />

∫ x<br />

x0<br />

p(ζ) dζ, (3.7)<br />

onde identificamos p = √ 2m(E − U(x)) como a quantidade de movimento clássica<br />

da partícula. A ambigüidade no sinal das duas soluções encontradas é identificada pelo<br />

sentido de propagação da onda. O ponto x0 pode, <strong>em</strong> princípio, ser qualquer número no<br />

eixo real de melhor conveniência e não será indicado nas equações a seguir para evitar<br />

sobrecarregá-las. Da segunda igualdade, ter<strong>em</strong>os que σ ′ 1 = − σ′′<br />

0<br />

2σ0<br />

p′<br />

= − o que implica<br />

2p


3.1 Abordag<strong>em</strong> s<strong>em</strong>iclássica: aspectos gerais 38<br />

σ1 = − 1<br />

2<br />

ln p. (3.8)<br />

Pensando no limite clássico ( → 0), consider<strong>em</strong>os apenas termos de ord<strong>em</strong> zero <strong>em</strong><br />

potências de na função de onda, ou seja<br />

Ψ(x) = e i/ σ0<br />

i/ σ0<br />

σ1 /i σ2 i/ e σ0 σ1 e e . . . ≈ e e = √<br />

p<br />

o que significa que t<strong>em</strong>os as seguintes soluções linearmente independentes para Ψ(x):<br />

(3.9)<br />

Ψ(x) = C1<br />

√p e i/ ∫ x p dx ′<br />

+ C2<br />

√p e −i/ ∫ x p dx ′<br />

. (3.10)<br />

Para determinarmos <strong>em</strong> que regime essa aproximação é válida, basta tomarmos σ(x) =<br />

σ0(x) + <br />

i σ1(x) na equação (3.2), obtida pelo Ansatz. Desta forma obt<strong>em</strong>os que<br />

1<br />

2m σ′2 0 + <br />

2mi (σ′′ 0 + 2σ ′ 0σ ′ 1) − 2<br />

2m (σ′2 1 + σ ′′<br />

1) = E − U(x). (3.11)<br />

O segundo termo do lado esquerdo da equação acima é nulo por construção, o que<br />

implica que a aproximação é legítima quando o terceiro termo é pequeno com relação ao<br />

primeiro:<br />

2<br />

<br />

<br />

<br />

σ<br />

<br />

′2<br />

1 + σ ′′<br />

1<br />

σ ′2<br />

0<br />

<br />

<br />

2<br />

<br />

≪ 1 ⇒<br />

p2 <br />

( ′<br />

3<br />

p<br />

<br />

4<br />

p<br />

) 2<br />

− 1<br />

2<br />

p ′′<br />

p<br />

<br />

<br />

<br />

≪ 1. (3.12)<br />

<br />

Portanto, <strong>em</strong> qualquer região do espaço onde essa condição seja satisfeita, poder<strong>em</strong>os<br />

aplicar a solução s<strong>em</strong>iclássica encontrada anteriormente.<br />

Nas regiões classicamente inacessíveis (E < U(x)), t<strong>em</strong>os que p(x) se torna imagi-<br />

nário puro (p = i|p|) e, portanto, a solução geral se transforma <strong>em</strong>:<br />

Ψ(x) = C1<br />

√|p| e −1/ ∫ x |p| dx ′<br />

+ C2<br />

√|p| e 1/ ∫ x |p| dx ′<br />

. (3.13)<br />

que é a soma de duas exponenciais reais, ou seja, exatamente a solução que se espera<br />

obter <strong>em</strong> casos de penetração <strong>em</strong> uma barreira de potencial, efeito estritamente quântico.


3.1 Abordag<strong>em</strong> s<strong>em</strong>iclássica: aspectos gerais 39<br />

Entretanto, por se tratar de uma aproximação s<strong>em</strong>iclássica, os termos exponencialmente<br />

pequenos não são mantidos na solução, de forma que é inadmissível conservar simultane-<br />

amente ambos os termos na expressão acima.<br />

3.1.2 Condições de contorno<br />

Seja a o zero da função E − U(x). Em x = a, v<strong>em</strong>os que p = 0, o que significa<br />

que as soluções s<strong>em</strong>iclássicas encontradas eq.(3.9) diverg<strong>em</strong> nesse ponto, o que as torna<br />

inaplicáveis. Pod<strong>em</strong>os ver isso de outra maneira, já que a condição de aproximação s<strong>em</strong>i-<br />

clássica eq.(3.12) não é satisfeita para p → 0 (próximo ao “ponto de retorno” clássico).<br />

Ir<strong>em</strong>os supor, contudo, que exist<strong>em</strong> regiões I e II (não muito extensas), à esquerda e à<br />

direita do ponto de retorno, nas quais a aproximação s<strong>em</strong>iclássica é válida. Isso implica<br />

que a função de onda Ψ(x) pode ser muito b<strong>em</strong> aproximada por uma combinação linear<br />

das soluções s<strong>em</strong>iclássicas nas regiões I e II:<br />

⎧<br />

⎪⎨<br />

Ψ(x) =<br />

⎪⎩<br />

α1 √ e p i/ ∫ x<br />

p dx ′<br />

+ α2 √p e−i/ ∫ x<br />

p dx ′<br />

β1<br />

√ e p i/ ∫ x<br />

p dx ′<br />

+ β2<br />

√p e−i/ ∫ x<br />

p dx ′<br />

<strong>em</strong> I.<br />

<strong>em</strong> II.<br />

(3.14)<br />

É sabido que os coeficientes (α1, α2) e (β1, β2) não são iguais e, fisicamente, são<br />

eles que defin<strong>em</strong> as probabilidades de reflexão e de tunelamento. A diferença de valor<br />

dos coeficientes é devido ao chamado “fenômeno de Stokes” [44]. O probl<strong>em</strong>a que se<br />

põe, portanto, é determinar a conexão entre esses coeficientes de uma região à outra. A<br />

abordag<strong>em</strong> que adotar<strong>em</strong>os nesse trabalho é um método aproximativo W.K.B por integrais<br />

no plano complexo desenvolvido primeiramente por A.Zwaan <strong>em</strong> sua tese [45] e abordado<br />

também <strong>em</strong> [46]. Para tanto, estender<strong>em</strong>os o domínio da função Ψ(x) ao plano complexo.<br />

Nesse caso, Ψ(x) é função da variável complexa x e efetuar<strong>em</strong>os a passag<strong>em</strong> de (x−a) ><br />

0 a (x − a) < 0 por um caminho “longe” do ponto x = a (ponto de retorno) no qual a<br />

condição s<strong>em</strong>iclássica (3.12) é satisfeita.


3.1 Abordag<strong>em</strong> s<strong>em</strong>iclássica: aspectos gerais 40<br />

Para simplificar a leitura, adotar<strong>em</strong>os a seguinte notação:<br />

com z ∈ C.<br />

f+(z) . = p(z) −1/2 e iω(z) ;<br />

f−(z) . = p(z) −1/2 e−iω(z) ;<br />

∫ z<br />

ω(z) = 1<br />

<br />

z0<br />

(3.15)<br />

p dζ ; (3.16)<br />

Ao longo do caminho escolhido para contornar o ponto de retorno no plano complexo,<br />

existirá s<strong>em</strong>pre uma parte na qual f+ é exponencialmente maior que f− (ou vice-versa,<br />

<strong>em</strong> outro trecho do caminho), onde dir<strong>em</strong>os que f+ é dominante e f−, subdominante. A<br />

alternância de dominância entre essas funções é o que dá orig<strong>em</strong> à mudança nos coefi-<br />

cientes de f+ e f− para diferentes regiões do plano complexo e caracteriza o chamado<br />

fenômeno de Stokes. A grosso modo, como d<strong>em</strong>onstrado formalmente <strong>em</strong> [47], t<strong>em</strong>os<br />

que, nos trechos dos caminhos onde, digamos, f+ é dominante e |e iω | − 1 não muda<br />

de sinal, seu coeficiente é aproximadamente constante (já que uma pequena variação no<br />

mesmo acarreta numa grande variação na função de onda Ψ(x)), enquanto que o coefici-<br />

ente da função f− (subdominante nesse caso) pode sofrer variação ao longo desse trecho.<br />

Por outro lado, o coeficiente da função subdominante (f+ ou f−) também pode ser sensi-<br />

velmente constante, desde que o coeficiente da função dominante seja nulo.<br />

Como ex<strong>em</strong>plo, considere a figura 3.1, na qual pode-se ver o caminho escolhido para<br />

contornar o ponto de retorno a. Suponha que f+ seja dominante no arco AC e que f− seja<br />

dominante <strong>em</strong> BC (C é o ponto no qual e iω = 1) então, se A e B pertenc<strong>em</strong> a regiões se-<br />

miclássicas, pod<strong>em</strong>os escrever a função de onda como <strong>em</strong> (3.14). Logo, β2 será constante<br />

<strong>em</strong> BC e também será constante ao longo de AC caso α1 seja nulo, por alguma imposição<br />

de condição de contorno física. Nesse caso, poder<strong>em</strong>os dizer que β2 ≃ α2.<br />

Com essa descrição do método de integrais complexas, estamos aptos a retomar o<br />

cálculo para o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> questão onde explicar-se-á melhor o método <strong>em</strong> “ação”.


3.2 Aplicação ao probl<strong>em</strong>a 41<br />

Figura 3.1: Regiões de dominância entre f+ e f− ao longo do caminho no plano complexo.<br />

3.2 Aplicação ao probl<strong>em</strong>a<br />

Retomando o que foi dito na introdução deste capítulo, vamos agora desenvolver as con-<br />

tas necessárias para a analogia do probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> questão ao método desenvolvido na seção<br />

anterior. Do ponto de vista físico, a análise é feita de maneira s<strong>em</strong>iclássica, no sentido<br />

de que partimos de um tratamento quântico para a descrição de uma partícula como uma<br />

função de onda descrita pela equação de Klein-Gordon, porém proced<strong>em</strong>os com o forma-<br />

lismo s<strong>em</strong>iclássico descrito na seção anterior. Aqui, seguimos [23], mas com correções à<br />

prescrição de contorno.<br />

c = 1):<br />

Considere um espaço-t<strong>em</strong>po estático cuja métrica t<strong>em</strong> a seguinte estrutura (assumindo<br />

ds 2 = B(r)dt 2 − B −1 (r)dr 2 − r 2 (dθ 2 + sin 2 θ dϕ 2 ). (3.17)<br />

Note que assim pod<strong>em</strong>os obter as métricas de Schwarzchild, e Reissner-Nordström, bas-<br />

tando tomar a função B(r) apropriadamente. O horizonte de eventos descrito por essas<br />

métricas é o ponto r = r0 no qual B(r0) = 0.


3.2 Aplicação ao probl<strong>em</strong>a 42<br />

Analisar<strong>em</strong>os a partir de aqui uma partícula por um campo escalar s<strong>em</strong> massa. Nesse<br />

caso, a equação satisfeita para o campo escalar é a equação de Klein-Gordon:<br />

∇α ∇ α Φ(r, t, θ, ϕ) = 0 , (3.18)<br />

onde α = 0, 1, 2, 3 e o operador ∇α ∇ α é calculado usando-se a métrica (3.17).<br />

De (3.18) obt<strong>em</strong>os a seguinte equação:<br />

1<br />

B(r)<br />

∂2Φ 1<br />

−<br />

∂t2 r2 (<br />

∂<br />

r<br />

∂r<br />

2 B(r) ∂Φ<br />

)<br />

−<br />

∂r<br />

1<br />

r2 sin θ<br />

(<br />

∂<br />

sin θ<br />

∂θ<br />

∂Φ<br />

)<br />

−<br />

∂θ<br />

1<br />

r 2 sin 2 θ<br />

∂2Φ = 0 (3.19)<br />

∂ϕ2 que é uma equação separável e, portanto, pod<strong>em</strong>os fazer Φ(r, t, θ, ϕ) = Ψ(r, t)Y m<br />

l (θ, ψ)<br />

e ter<strong>em</strong>os a equação para Φ(r, t):<br />

1<br />

B(r)<br />

∂2Ψ 1<br />

−<br />

∂t2 r2 (<br />

∂<br />

r<br />

∂r<br />

2 B(r) ∂Ψ<br />

)<br />

+<br />

∂r<br />

l(l + 1)<br />

Ψ = 0. (3.20)<br />

r2 Fazendo o W.K.B Ansatz Ψ = exp(i/ S(r, t)) e substituindo na eq.(3.20), ter<strong>em</strong>os:<br />

[<br />

1<br />

B(r)<br />

( ) 2<br />

∂S<br />

− B(r)<br />

∂t<br />

( ) 2<br />

∂S<br />

−<br />

∂r<br />

+ <br />

i<br />

l(l + 1)2<br />

r2 ]<br />

[<br />

1<br />

B(r)<br />

∂2S ∂t2 − B(r)∂2 S 1<br />

−<br />

∂r2 r2 Expandindo S(r, t) <strong>em</strong> uma série de potências <strong>em</strong> /i:<br />

S(r, t) = S0(r, t) +<br />

( )<br />

<br />

S1(r, t) +<br />

i<br />

d(r 2 B)<br />

dr<br />

]<br />

∂S<br />

= 0. (3.21)<br />

∂r<br />

( ) 2<br />

<br />

S2(r, t) + . . . (3.22)<br />

i<br />

e substituindo na equação (3.21), levando-se <strong>em</strong> consideração apenas potências de ord<strong>em</strong><br />

zero <strong>em</strong> /i ter<strong>em</strong>os que a solução para S0 é dada por:<br />

S0(r2, t2; r1, t1) = −E(t2 − t1) ±<br />

∫ r2<br />

r1<br />

dr √<br />

E2 − B(r)L2 /r2 (3.23)<br />

B(r)


3.2 Aplicação ao probl<strong>em</strong>a 43<br />

onde E é uma constante e identificada como a energia e L 2 = l(l + 1) 2 é o autovalor<br />

do momento angular. A ambiguidade no sinal refere-se ao sentido de propagação da<br />

onda: (+) para propagação para r crescente e (−) para r decrescente. Os pontos (r1, t1)<br />

e (r2, t2) são os pontos inicial e final de propagação da partícula. Portanto, se a partícula<br />

cruza o horizonte de eventos (r1 e r2 estão <strong>em</strong> lados opostos com relação a r0), B −1 (r0)<br />

diverge e a integral não é b<strong>em</strong> definida. Pod<strong>em</strong>os contornar o probl<strong>em</strong>a estendendo a<br />

região de integração ao plano complexo. Para tal, dever<strong>em</strong>os adotar uma prescrição para<br />

a integral ao redor do ponto de singularidade r0. O cálculo é feito diretamente por analogia<br />

à equação de Schrödinger, como apresentado na seção 3.1.2.<br />

Fazendo Ψ(r, t) = exp(−iEt/)R(r)/ √ r 2 B(r) obter-se-á a seguinte equação:<br />

− d2 [<br />

R 1<br />

−<br />

dr2 B2 ( ′ 2 (B ) E2<br />

+<br />

4 2 )<br />

− 1<br />

( ′′ B B′ L2<br />

+ +<br />

B 2 r 2r2 )]<br />

R = 0. (3.24)<br />

Próximo ao horizonte pod<strong>em</strong>os escrever<br />

B(r) = B ′ (r0)(r − r0) + O(r − r0) 2 ≈ B0 (r − r0) (3.25)<br />

e substituir na equação (3.24). Desprezando-se os termos da ord<strong>em</strong> de 1/(r − r0) <strong>em</strong><br />

relação aos termos <strong>em</strong> 1/(r − r0) 2 e pensando no limite <strong>em</strong> que → 0, a equação será<br />

reescrita como:<br />

− d2R(r) E2<br />

−<br />

dr2 2B2 0<br />

R(r)<br />

= 0. (3.26)<br />

(r − r0) 2<br />

Se fizermos a mudança de variável x = (r − r0) a equação se transformará numa equação<br />

do tipo Schrödinger com o potencial sendo ∝ (1/x 2 ). A analogia fica melhor quando<br />

acrescentamos um termo E/ 2 R(r), tomando o limite de E → 0, de forma que a equação<br />

fica:<br />

− d2R(x) E2<br />

−<br />

dx2 2B2 0<br />

R(x)<br />

x2 = E<br />

R(x) , (3.27)<br />

2


3.3 Cálculo da radiação térmica 44<br />

ou seja, pod<strong>em</strong>os reduzir o probl<strong>em</strong>a de propagação de ondas nesse espaço-t<strong>em</strong>po a um<br />

potencial dado por U(x) = −k/x 2 onde k = E2<br />

B 2 0<br />

3.3 Cálculo da radiação térmica<br />

Considerando o potencial dado por<br />

> 0 através dessa abordag<strong>em</strong>.<br />

U(x) = − k<br />

, (3.28)<br />

x2 onde k é uma constante positiva, t<strong>em</strong>os que a condição s<strong>em</strong>iclássica (eq.(3.12)) é escrita<br />

como:<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

2<br />

4<br />

k(6 Ex2 + k)<br />

( Ex2 + k) 3<br />

<br />

<br />

<br />

≪ 1. (3.29)<br />

<br />

Da imposição acima fica claro que para |x| ≪ 1 a condição s<strong>em</strong>iclássica é satisfeita<br />

desde que ≪ 2 √ k, independent<strong>em</strong>ente do parâmetro E. Isso significa que, partindo da<br />

aproximação feita na eq.(3.25), pod<strong>em</strong>os de fato utilizar o formalismo desenvolvido na<br />

seção 3.1.<br />

Para a eq.(3.27), <strong>em</strong> analogia com a equação de Schrödinger, t<strong>em</strong>os que:<br />

p(x) =<br />

√<br />

√<br />

E − U(x) =<br />

E + k<br />

≈<br />

x2 Substituindo essa expressão na eq.(3.16) ter<strong>em</strong>os:<br />

√<br />

k<br />

x + E<br />

2 √ x , |x| ≪ 1; (3.30)<br />

k<br />

ω(x) = 1<br />

(√ k ln(x) + E<br />

4 √ k x2 ). (3.31)<br />

Considere, primeiramente, o caso de tunelamento de uma partícula oriunda da parte<br />

interna (e b<strong>em</strong> próxima) do horizonte de eventos sendo detectada fora do mesmo. Por-<br />

tanto, de acordo com as expressões <strong>em</strong> (3.14), a função de onda pode ser escrita como:


3.3 Cálculo da radiação térmica 45<br />

ΨII = C3 x iε+1/2 e i<br />

κx2<br />

x > 0,<br />

ΨI = (−x) −iε+1/2 i<br />

− e κx2 + C2 (−x) iε+1/2 e i<br />

κx2<br />

x < 0 ,<br />

(3.32)<br />

onde ε = √ k/ e κ = E<br />

4 √ . Note que dentro do horizonte (x < 0) há o termo de onda<br />

k<br />

incidente (cujo coeficiente já foi normalizado à unidade) e a refletida. Além disso, já foi<br />

imposta a condição de contorno para que fora do horizonte de eventos (x > 0) só haja<br />

onda transmitida.<br />

A maneira pela qual faz<strong>em</strong>os a conexão entre os coeficientes C2 e C3 é feita com<br />

base na subseção 3.1.2. Dev<strong>em</strong>os contornar o ponto x = 0 por um caminho no plano<br />

complexo ao longo do qual a condição (3.12) seja satisfeita ao longo do mesmo. Porém<br />

esse contorno (supondo que exista) pode, a princípio, ser feito tanto por cima quanto por<br />

baixo ao redor da singularidade. Para determinar o contorno adequado, analis<strong>em</strong>os então<br />

as funções de onda. Fazendo x = ρeiθ e tendo <strong>em</strong> mente que ε ≫ 1 pela condição (3.29):<br />

2<br />

1. Onda incidente:<br />

Ψin ∼ (ρ eiθ ) −iε+1/2 −i/ κx2 e ∼ eθε ;<br />

2. Onda refletida:<br />

Ψr ∼ (ρ eiθ ) iε+1/2 i/ κx2 e ∼ e−θε .<br />

V<strong>em</strong>os assim que, por um caminho no s<strong>em</strong>iplano inferior a partir da região II (θ varia de 0<br />

a −π), a onda refletida é dominante <strong>em</strong> relação à incidente ao longo de todo este caminho.<br />

Logo, pelos argumentos da referida subseção, poder<strong>em</strong>os estabelecer uma conexão entre<br />

os coeficientes das ondas refletida e transmitida. Seguindo a variação da onda transmitida<br />

de x positivo a x negativo, ter<strong>em</strong>os que a mesma se transforma na onda refletida. Ao final<br />

da passag<strong>em</strong> ter<strong>em</strong>os:<br />

x ↦→ −x e −iπ<br />

Ψt ↦→ C3(−x e −iπ ) iε+1/2 i/ κx2<br />

e<br />

⇒ C2 = C3 exp<br />

(<br />

πε − iπ<br />

2<br />

≡ Ψr<br />

(3.33)<br />

(3.34)<br />

)<br />

. (3.35)


3.3 Cálculo da radiação térmica 46<br />

As taxas de transmissão e reflexão são dadas por T = |C3| 2 e R = |C2| 2 e pod<strong>em</strong>os<br />

relacioná-las: R = T e 2πε = T e 2π/ √ k . Além disso, R + T = 1, donde:<br />

T =<br />

R =<br />

1<br />

1 + e 2π/ √ k<br />

e 2π/ √ k<br />

1 + e 2π/ √ k<br />

(3.36)<br />

. (3.37)<br />

Note que as taxas de transmissão e reflexão são independentes de E, o que não é de<br />

todo surpreendente, já que o potencial é divergente nessa região, e, portanto, E − U(x)<br />

é s<strong>em</strong>pre tão grande quanto se deseje. Além disso, como ε ≫ 1/2 t<strong>em</strong>os que T ≪ 1 e<br />

R ≈ 1. É um resultado conhecido de mecânica quântica não-relativística [46] que para<br />

um potencial do tipo U(x) = −β/x 2 ocorre o confinamento da função de onda <strong>em</strong> x < 0,<br />

desde que β > 1/4 (<strong>em</strong> unidades = 1, que é o caso). Isso pode então ser interpretado<br />

como a absorção da partícula pelo buraco negro.<br />

No caso de espalhamento de uma partícula, ter<strong>em</strong>os que a função de onda satisfaz às<br />

seguintes condições de contorno para regiões próximas ao horizonte de eventos:<br />

ΨII = x−iε+1/2 i<br />

− e κx2 + C2 xiε+1/2 e i<br />

κx2<br />

ΨI = C3 (−x) iε+1/2 e i<br />

κx2<br />

x < 0 .<br />

x > 0,<br />

(3.38)<br />

Contornando-se o ponto x = 0 por um “raio” pequeno, fazendo x = ρe iθ , pod<strong>em</strong>os<br />

escrever:<br />

1. Onda incidente:<br />

Ψin ∼ (ρ eiθ ) −iε+1/2 −i/ κx2 e ∼ eθε ;<br />

2. Onda refletida:<br />

Ψr ∼ (ρ eiθ ) −iε+1/2 i/ κx2 e ∼ e−θε .<br />

Portanto, efetuando-se a passag<strong>em</strong> no s<strong>em</strong>iplano superior de x < 0 a x > 0 no qual θ<br />

varia de −π a −2π, ter<strong>em</strong>os que a onda refletida é exponencialmente maior que a onda


3.3 Cálculo da radiação térmica 47<br />

incidente, validando a conexão entre a onda refletida e a transmitida. Procedendo-se a<br />

passag<strong>em</strong>:<br />

x ↦→ −x e −iπ<br />

Ψt ↦→ C3(x e −iπ ) iε+1/2 i/ κx2<br />

e<br />

⇒ C2 = C3 exp<br />

⇒ R = T e 2πε<br />

(<br />

πε − iπ<br />

2<br />

(3.39)<br />

)<br />

≡ Ψr<br />

(3.40)<br />

, (3.41)<br />

(3.42)<br />

resultado análogo ao caso anterior, como mat<strong>em</strong>aticamente esperaria-se. Observ<strong>em</strong>os<br />

assim que, nesse regime, as taxas de transmissão tanto no caso de tunelamento (para fora)<br />

e de espalhamento coincid<strong>em</strong>, resultado analogamente concluído <strong>em</strong> [8], muito <strong>em</strong>bora<br />

não seja possível a comparação das taxas <strong>em</strong> si, por se tratar<strong>em</strong> de regimes diferentes:<br />

aqui, para altas energias (ϵ = E/B0 ≫ 1/2), e lá para baixas energias.<br />

Pod<strong>em</strong>os entao retomar o cálculo da integral (3.23), sabendo-se que dev<strong>em</strong>os fechar<br />

o contorno no s<strong>em</strong>iplano inferior complexo para o processo de <strong>em</strong>issão de uma partícula<br />

do horizonte de eventos. No caso de Schwarzchild, com B(r) = ( 1 − 2M<br />

)<br />

, tomando-se a<br />

r<br />

propagação da partícula para pontos (t, r) próximos ao horizonte, de forma que r1 = r0−ϵ<br />

e r2 = r0 + ϵ:<br />

S0[<strong>em</strong>issão] =<br />

∫ r0+ϵ<br />

dr √<br />

−E(t2 − t1) + lim<br />

E2 − B(r)L2 /r2 ϵ→0<br />

r0−ϵ B(r)<br />

= iπE<br />

+ (parte real) = 2MEπi + (p.r) , (3.43)<br />

B0<br />

tendo <strong>em</strong> vista que B0 = B ′ (2M) = 1/2M, como definido <strong>em</strong> (3.25).<br />

A parte real de S0 não é relevante no momento, tendo <strong>em</strong> vista o cálculo de proba-<br />

bilidades que será apresentado logo a seguir. No caso de absorção de uma partícula o<br />

contorno é fechado por cima, r1 > r0 e r2 < r0, e <strong>em</strong> Schwarzchild:


3.3 Cálculo da radiação térmica 48<br />

S0[absorção] =<br />

∫ r0−ϵ<br />

dr √<br />

−E(t2 − t1) − lim<br />

E2 − B(r)L2 /r2 ϵ→0<br />

r0+ϵ B(r)<br />

= −iπE<br />

+ (parte real) = −2MEπi + (p.r). (3.44)<br />

B0<br />

As probabilidades <strong>em</strong> ambos os casos são calculadas como: P = |Φ| 2 ∝ |exp i/ S0| 2 =<br />

exp −2/ ℑS0. Em suma:<br />

P [<strong>em</strong>issão] ∝ e −4MπE/<br />

P [absorção] ∝ e 4MπE/ ⇒<br />

P [<strong>em</strong>issão] /P [absorção] = e −8MπE/ ≡ e −βE . (3.45)<br />

A última equação mostra que a probabilidade de <strong>em</strong>issão de uma partícula é diferente da<br />

de absorção, cuja relação é equivalente a uma distribuição térmica de partículas intera-<br />

gindo com a radiação de um corpo negro. Recupera-se assim a t<strong>em</strong>peratura de Hawking<br />

para um buraco negro de Schwarzchild:<br />

β −1 = <br />

. (3.46)<br />

8πM<br />

De maneira análoga, pode-se pensar nesse processo de tunelamento para fora do horizonte<br />

como uma criação de um par partícula e antipartícula nas vizinhanças de fora do buraco<br />

negro, sendo esta absorvida pelo mesmo. De fato, tendo a antipartícula energia negativa<br />

e propagando-se para trás no t<strong>em</strong>po, na solução de S0 de <strong>em</strong>issão, trocando-se E ↦→ −E<br />

e t ↦→ −t, ter<strong>em</strong>os:<br />

∫ r0−ϵ<br />

S0 = −E(t2 − t1) +<br />

r0+ϵ<br />

dr √<br />

E2 − B(r)L2 /r2 B(r)<br />

= −E(t2 − t1) + 2MEπi , (3.47)<br />

que é o mesmo resultado que se chegou <strong>em</strong> (3.43).


3.3 Cálculo da radiação térmica 49<br />

Consegue-se ainda recuperar um resultado clássico através desse cálculo. Sendo<br />

B(r) = (1 − 2M/r), pod<strong>em</strong>os reescrever:<br />

S0[absorção] = −E(t2 − t1) − 2ME<br />

∫ x2<br />

x1<br />

dx √<br />

x4 − α2x2 + α2x , (3.48)<br />

x(x − 1)<br />

onde x = r/2M, α = L/2ME. Agora, pod<strong>em</strong>os considerar 0 < x2 < 1 e x1 → ∞.<br />

Definindo f(x) := x 4 −α 2 x 2 +α 2 x, v<strong>em</strong>os que f(x) possui uma raiz trivial <strong>em</strong> x = 0.<br />

Nesse caso, f(x) = x g(x), com g(x) = x 3 − α 2 x + α 2 . Definindo ainda h(x) := x 3 e<br />

w(x) := α 2 (x − 1), v<strong>em</strong>os que g(x) = h(x) − w(x). Por uma rápida análise gráfica, vide<br />

fig. 3.2, pod<strong>em</strong>os concluir alguns fatos interessantes:<br />

g(x)<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

-2<br />

-4<br />

-2 -1 0 1 2 3<br />

Figura 3.2: Gráficos de x 3 e de α 2 (x − 1) para valores crescentes de α = 1, 3 √ 3/2, 2 √ 2.<br />

1. Para x2 < x < 1 − ϵ com ϵ > 0, f(x) > 0<br />

⇒<br />

∫ x2<br />

1−ϵ<br />

x<br />

dx √<br />

f(x) = C ∈ R;<br />

x(x − 1)


3.3 Cálculo da radiação térmica 50<br />

2. A integral no s<strong>em</strong>iplano complexo superior<br />

∫ 1−ϵ<br />

1+ϵ<br />

resultado que não depende de α;<br />

dx √<br />

f(x) = πi<br />

x(x − 1)<br />

√ <br />

f(x)<br />

<br />

<br />

<br />

x<br />

3. Sejam r1 < r2 < r3 as raízes de g(x), t<strong>em</strong>os então que:<br />

r2, r3<br />

⇒<br />

⎧<br />

⎨<br />

⎩<br />

com B = ∫ r3<br />

r2<br />

r1 < 0;<br />

x=1<br />

= πi ,<br />

ambas reais para α ≥ 3 √ 3/2 ⇒ f(x) ≤ 0 , r2 ≤ r ≤ r3 ;<br />

ambas imaginárias para 0 ≤ α < 3 √ 3/2.<br />

⎧<br />

dx √ ⎨ A − iB , A, B ∈ R , α > 3<br />

f(x) =<br />

x(x − 1) ⎩<br />

√ 3/2<br />

∫ 1+ϵ<br />

∞<br />

√<br />

dx −f(x) > 0.<br />

x(x−1)<br />

K , K ∈ R , 0 ≤ α ≤ 3 √ 3/2.<br />

Tendo <strong>em</strong> mente que a integral <strong>em</strong> (3.48) é calculada <strong>em</strong> três regiões:<br />

(∫ x2 ∫ 1−ϵ ∫ 1+ϵ )<br />

S0 = −E(t2 − t1) − 2ME (. . .) + (. . .) + (. . .) , (3.49)<br />

1−ϵ<br />

1+ϵ<br />

∞<br />

pod<strong>em</strong>os resumir os resultados como:<br />

P = |Φ| [absorção] 2 ⎧<br />

⎨ exp(4MEπ/) , para 0 ≤ α ≤ 3<br />

∝ exp(−2/ℑS0) =<br />

⎩<br />

√ 3/2<br />

exp(4ME(π − B)/) , para α > 3 √ 3/2.<br />

(3.50)<br />

Assim, a probabilidade de absorção é menor para o parâmetro α > 3 √ 3/2, ou seja, para<br />

p = L<br />

E > 3√ 3M, que é o parâmetro de impacto clássico no caso de Schwarzschild,<br />

muito <strong>em</strong>bora ela não seja nula. Note ainda que o pré-fator da exponencial acima não foi<br />

determinado, portanto não é lícito tormar o limite clássico ( → 0), já que este coeficiente<br />

global deve depender de .<br />

Note que a dedução de S0 foi feita supondo apenas a métrica do espaço-t<strong>em</strong>po sendo<br />

da forma (3.17), o que nos permite aplicar essa solução para o caso de Reissner-Nordström


3.3 Cálculo da radiação térmica 51<br />

(B(r) = 1 − 2M/r + Q 2 /r 2 ). Nesse caso, o horizonte de eventos está situado <strong>em</strong> r =<br />

r+ = M + √ M 2 − Q 2 (A.20), e ter<strong>em</strong>os:<br />

B0 = B ′ (r+) = 2 (M 2 + M √ M 2 − Q 2 − Q 2 )<br />

(M + √ M 2 − Q 2 ) 3<br />

o que nos dá uma relação análoga ao caso de Schwarzschild:<br />

com<br />

β −1 =<br />

P <strong>em</strong>issão<br />

P absorção<br />

= e −βE , (3.51)<br />

√ M 2 − Q 2<br />

2π(M + √ M 2 − Q2 , (3.52)<br />

) 2<br />

que é a conhecida t<strong>em</strong>peratura de Hawking para um buraco negro <strong>em</strong> Reissner-Nordström.<br />

V<strong>em</strong>os então que esse método é uma ferramenta poderosa para o cálculo de taxas de<br />

absorção e de <strong>em</strong>issão de partículas <strong>em</strong> horizontes de eventos.<br />

Até este ponto pode não ter ficado muito claro qual a relação entre as taxas de trans-<br />

missão e reflexão calculadas <strong>em</strong> (3.36), (3.37) e (3.42) pela aproximação W.K.B e as da<br />

equação (3.45). Primeiramente, as taxas de <strong>em</strong>issão (tunelamento para fora) e de absorção<br />

(tunelamento para dentro oriundo do espalhamento) são iguais como apontado anterior-<br />

mente, o que parece não refletir o espectro térmico encontrado. Além disso, considerando-<br />

se apenas um dos processos (espalhamento, por ex<strong>em</strong>plo) t<strong>em</strong>os que as probabilidades de<br />

transmissão e reflexão são relacionadas por R = T e 2π/√ k = T e 4MπE/ no caso de<br />

Schwarzschild, o que também não coincide com a exponencial de Boltzmann por um fa-<br />

tor de 2, mesmo erro que se chega através de cálculos de geodésicas nulas como apontado<br />

na Introdução deste trabalho.<br />

Entretanto, a nosso ver, esses cálculos pod<strong>em</strong> ser conciliados na medida <strong>em</strong> que o<br />

resultado <strong>em</strong> (3.45) não faz distinção do processo <strong>em</strong> questão, se é o espalhamento de<br />

partículas ou o tunelamento de dentro para fora do buraco negro (alternativamente, uma<br />

produção par um par partícula e antipartícula nas proximidades do horizonte), apenas<br />

relacionando das taxas de absorção e <strong>em</strong>issão de uma partícula. Dessa forma (3.36) e<br />

,


3.3 Cálculo da radiação térmica 52<br />

(3.42) calculam cada um, separadamente, as transmissões e reflexões para processos físi-<br />

cos distintos, ou mat<strong>em</strong>aticamente com condições de contorno diferentes. Se quisermos<br />

recuperar o espectro térmico dev<strong>em</strong>os considerar que ambos os processos ocorr<strong>em</strong> si-<br />

multaneamente, tendo <strong>em</strong> mente que a <strong>em</strong>issão de uma partícula pode ser oriunda da<br />

transmissão no tunelamento de dentro para fora (caso de (3.36)) e/ou a reflexão de um<br />

processo de espalhamento.


Capítulo 4<br />

Conclusão<br />

Nesta dissertação, estudamos a propagação de ondas <strong>em</strong> espaços-t<strong>em</strong>pos curvos gera-<br />

dos por <strong>buracos</strong> <strong>negros</strong> e como a introdução de efeitos <strong>quânticos</strong> pode afetar resultados<br />

clássicos conhecidos e ainda levantar novas questões à teoria.<br />

Na primeira parte do trabalho, descrev<strong>em</strong>os a formulação mat<strong>em</strong>ática necessária para<br />

o estudo de ondas escalares s<strong>em</strong> massa e s<strong>em</strong> spin, interpretadas pela visão quântica como<br />

partículas, que serviu como ponto de partida para o desenvolvimento de um código com-<br />

putacional <strong>em</strong> linguag<strong>em</strong> C para a evolução numérica de equações diferenciais que se<br />

faz<strong>em</strong> pertinentes nesse estudo, com a subseqüente proposta de um “toy model” para o<br />

mesmo. No que diz respeito ao programa computacional, impl<strong>em</strong>entamos o formalismo<br />

do método de Prüfer, que nos permitiu calcular os desvios de fase (e a matriz S) para<br />

o caso de espalhamento de ondas <strong>em</strong> <strong>buracos</strong> <strong>negros</strong> de Schwarzschild. Pretend<strong>em</strong>os<br />

ainda analisar o espalhamento de um pacote de onda, que descreve uma situação física<br />

mais realista, já que pod<strong>em</strong>os obter resultados da evolução de cada freqüência separa-<br />

damente. É válido também ressaltar que o código também se aplica ao caso de buraco<br />

negro carregado (Reissner-Nordström) e que, futuramente, pode-se usar essa abordag<strong>em</strong><br />

para calcularmos efeitos de superradiância na métrica de Kerr. Ainda nesta parte, o “toy<br />

model” mostrou produzir resultados qualitativamente b<strong>em</strong> parecidos com os numéricos,


muito <strong>em</strong>bora ajustes finos no parâmetro A faz<strong>em</strong>-se necessário para podermos comparar<br />

as taxas de tunelamento analíticas e numéricas <strong>em</strong> função da freqüência da onda.<br />

Na segunda parte da tese, fiz<strong>em</strong>os um tratamento s<strong>em</strong>iclássico das equações de campo.<br />

Para tanto, descrev<strong>em</strong>os a teoria necessária, que engloba as equações de Hamilton-Jacobi<br />

e o método aproximativo W.K.B por integrais no plano complexo. Embora essa aborda-<br />

g<strong>em</strong> já tenha sido utilizada por outros autores, como citado no capítulo 1, encontrando-se<br />

<strong>em</strong> plena discussão no meio acadêmico, apresentamos a mesma com um detalhamento<br />

que, a nosso ver, se fazia necessário na literatura, principalmente a respeito da prescrição<br />

de integração ao redor do ponto de horizonte de eventos que parece fornecer resultados<br />

corretos mesmo <strong>em</strong> coordenadas usuais (r, t). Assim sendo, pode-se dizer que esse tra-<br />

tamento da questão o torna potencialmente útil para o estudo da violação da conjectura<br />

cósmica, já que é possível calcular a taxa de absorção de um buraco negro, além de que<br />

com essa abordag<strong>em</strong> pod<strong>em</strong>os recuperar os efeitos de radiação Hawking e de seção de<br />

choque clássica.<br />

Por tudo isso, vê-se que o quão importante é o estudo de efeitos <strong>quânticos</strong> <strong>em</strong> <strong>buracos</strong><br />

<strong>negros</strong>, que até o presente momento se resume a uma análise s<strong>em</strong>iclássica, tendo <strong>em</strong><br />

mente que apenas com o advento de uma teoria quântica da gravitação é que poder<strong>em</strong>os<br />

ter uma visão ampla de todas essas questões.<br />

54


Apêndice A<br />

Introdução às métricas de <strong>buracos</strong><br />

<strong>negros</strong><br />

A equação de Einstein para o campo gravitacional é a base da teoria da relatividade, que<br />

é uma teoria muito b<strong>em</strong> estabelecida atualmente, já que forneceu melhores explicações a<br />

diversos fenômenos observados, tais como a reinterpretação do efeito de maré, a anomalia<br />

do periélio de Mercúrio, a curvatura da trajetória da luz (produzindo o efeito de lentes<br />

gravitacionais), dentre outros. Assim como as equações de Maxwell governam como os<br />

campos elétrico e magnético respond<strong>em</strong> a correntes e cargas, as equações de campo de<br />

Einstein governam como a métrica responde a energia e momentum e vice-versa. Nesse<br />

sentido, faz-se extr<strong>em</strong>amente importante o estudo de métricas <strong>em</strong> espaços-t<strong>em</strong>pos com a<br />

presença de matéria, pois servirá de base para o desenvolvimento do trabalho da tese 1 .<br />

A referida equação de Einstein é válida para qualquer sist<strong>em</strong>a de coordenadas - já que<br />

é uma equação tensorial - e é dada por:<br />

Rµν − 1<br />

2 Rgµν = 8πGTµν<br />

(A.1)<br />

onde Rµν é o tensor de Ricci, R = Rµνg µν é o escalar de Ricci, gµν é o tensor métrico<br />

do espaço-t<strong>em</strong>po, G é a constante de gravitação newtoniana e Tµν é o tensor energia-<br />

1 Para informações mais detalhadas consulte [49]


A.1 A métrica de Schwarzschild 56<br />

momento. O lado esquerdo de (A.1) diz respeito apenas às propriedades “geométricas”<br />

da variedade, e o lado direito, às propridades da matéria, ou seja, essa equação nos diz<br />

como energia e momento influenciam o espaço-t<strong>em</strong>po para gerar curvatura.<br />

Se tirarmos o traço de (A.1) encontrar<strong>em</strong>os que R = −8πGT , e, na ausência de<br />

matéria, Tµν = 0, de forma que a equação de Einstein neste caso se resume a:<br />

A.1 A métrica de Schwarzschild<br />

Rµν = 0. (A.2)<br />

Como primeiro estudo da aplicação da equação de Einstein, analisar<strong>em</strong>os as soluções<br />

esfericamente simétricas e estáticas da métrica, que modelam, com boa aproximação, o<br />

espaço-t<strong>em</strong>po fora de estrelas e planetas. Nos concentrar<strong>em</strong>os nas soluções exteriores ao<br />

objeto (no vácuo) que gera o campo gravitacional, donde pode-se analisar o movimento<br />

de partículas teste e que, principalmente, nos levará ao estudo dos <strong>buracos</strong> <strong>negros</strong>.<br />

De maneira não muito rigorosa, interpretar<strong>em</strong>os as soluções estáticas e simétricas por<br />

duas condiçoes: que todas as componentes da métrica são independentes da coordenada<br />

t<strong>em</strong>poral e que não exist<strong>em</strong> el<strong>em</strong>entos “cruzados” do tipo dtdx i + dx i dt (já que a métrica<br />

deve ser invariável trocando-se t ↦→ −t) assim como dx i dx j . É possível d<strong>em</strong>onstrar que<br />

de maneira geral, pode-se escrever a métrica <strong>em</strong> coordenadas esféricas x ν = (t, r, θ, ϕ)<br />

da seguinte maneira:<br />

ds 2 . = gµνdx ν dx µ = −e 2α(r) dt 2 + e 2β(r) dr 2 + r 2 (dθ 2 + sin 2 θ dϕ 2 ). (A.3)<br />

Através das definições dos objetos:<br />

Γ α µν ≡ 1<br />

2 gαβ (gβµ,ν + gβν,µ − gµν,β) (A.4)<br />

R α βµν ≡ Γ α βν,µ − Γ α βµ,ν + Γ α σµΓ σ βν − Γ α σνΓ σ βµ (A.5)<br />

Rαβ ≡ R µ<br />

αµβ<br />

(A.6)


A.1 A métrica de Schwarzschild 57<br />

pode-se calcular o tensor de Ricci (Rαβ) usando a métrica definida <strong>em</strong> (A.3) e resolver as<br />

equações de campo, que, no caso, se resum<strong>em</strong> à equação (A.2).<br />

A solução é definida a menos de uma constante de integração Rs e é dada por:<br />

ds 2 (<br />

= − 1 − Rs<br />

)<br />

dt<br />

r<br />

2 (<br />

+ 1 − Rs<br />

) −1<br />

dr<br />

r<br />

2 + r 2 dΩ 2 , (A.7)<br />

onde dΩ 2 = dθ 2 + sin 2 θdϕ 2<br />

que é conhecida como a solução de Schwarzschild. Essa solução deve corresponder à<br />

solução das equações de Einstein de campo fraco, na qual gtt = − ( 1 − 2M<br />

)<br />

(<strong>em</strong> unidades<br />

r<br />

na qual c = G = 1), no limite <strong>em</strong> que r ≫ 2M, e portanto Rs = 2M.<br />

Finalmente obt<strong>em</strong>os uma métrica esfericamente simétrica e estática que descreve<br />

como o espaço-t<strong>em</strong>po se curva na presença de um corpo com massa M. Note que para<br />

M → 0 recuperamos o espaço de Minkowski - o que era esperado - assim como no limite<br />

de r → ∞, propriedade conhecida como “o limite plano”. Pelo teor<strong>em</strong>a de Birkhoff [49],<br />

a métrica de Schwarzschild é a única solução de vácuo com simetria esférica.<br />

A.1.1 Buracos <strong>negros</strong> <strong>em</strong> Schwarzschild<br />

Primeiramente, analis<strong>em</strong>os os pontos de aparente singularidade da métrica, ou seja, <strong>em</strong><br />

r = 2M e r = 0. Deve-se avaliar se nesses pontos t<strong>em</strong>os singularidades reais (físicas)<br />

ou apenas probl<strong>em</strong>as devido ao sist<strong>em</strong>a de coordenadas utilizado. Procur<strong>em</strong>os então por<br />

quantidades que sejam independentes do sist<strong>em</strong>a de coordenadas e que “meçam” a curva-<br />

tura do espaço-t<strong>em</strong>po. Nesse caso, faz sentido pensar por ex<strong>em</strong>plo no tensor de Ri<strong>em</strong>ann,<br />

e a partir dele construímos o escalar:<br />

R µνρσ Rµνρσ =<br />

48M 2<br />

r 6 . (A.8)<br />

Para r = 0 ter<strong>em</strong>os de fato uma singularidade no espaço-t<strong>em</strong>po, enquanto que para r =<br />

2M não ter<strong>em</strong>os probl<strong>em</strong>a, e assim ocorrerá com qualquer outro escalar de curvatura que<br />

se construa, como por ex<strong>em</strong>plo: R,R µν Rµν, RµνρσR ρσλτ R µν<br />

λτ , etc.


A.1 A métrica de Schwarzschild 58<br />

.<br />

Figura A.1: Cones de luz <strong>em</strong> Schwarzschild. Figura retirada de [50]<br />

Um fóton viajando a velocidade da luz percorre, na ausência de forças externas, um<br />

trajetória chamada geodésica. Para essas trajetórias, t<strong>em</strong>os que ds 2 = 0 e, considerando-<br />

se apenas trajetórias radiais (dΩ 2 = 0):<br />

ds 2 (<br />

= 0 = − 1 − 2M<br />

⇒ dt<br />

dr<br />

r<br />

(<br />

= ± 1 − 2M<br />

r<br />

)<br />

dt 2 (<br />

+ 1 − 2M<br />

) −1<br />

r<br />

) −1<br />

dr 2<br />

(A.9)<br />

(A.10)<br />

que determina a inclinação dos cones de luz no plano r − t para cada ponto do mesmo.<br />

Esqu<strong>em</strong>aticamente ter<strong>em</strong>os a figura A.1 que nos diz que quanto mais próximo do raio de<br />

Schwarzschild (r = 2M) menor é a liberdade radial que a partícula t<strong>em</strong> para escapar do<br />

mesmo.<br />

V<strong>em</strong>os que os cones de luz não são b<strong>em</strong> comportados e que n<strong>em</strong> todo o domínio r<br />

está acessível, visto que uma partícula incidente tenderia alcançar a posição r = 2M num<br />

intervalo de t<strong>em</strong>po infinito quando medido por um observador a uma distância fixa do bu-<br />

raco negro. Como visto anteriormente, isso é um probl<strong>em</strong>as nas coordenadas usadas para<br />

descrever o espaço-t<strong>em</strong>po. Impl<strong>em</strong>entando-se a mudança de variável conhecida como co-


A.1 A métrica de Schwarzschild 59<br />

ordenadas tartaruga dr<br />

dr∗ = ( 1 − 2M<br />

)<br />

∗ eliminamos esse probl<strong>em</strong>a e ter<strong>em</strong>os: dt = ±dr .<br />

r<br />

Tomando ainda a mudança de variável:<br />

v = t + r ∗<br />

u = t − r ∗<br />

(A.11)<br />

(A.12)<br />

ter<strong>em</strong>os as conhecidas coordenadas de Eddington-Finkelstein e os cones de luz ficam<br />

determinados pela equação:<br />

dv<br />

dr =<br />

⎧<br />

⎨ 0 , entrando<br />

⎩ 2 ( 1 − 2M<br />

)<br />

, saindo<br />

r<br />

representado pela figura A.2.<br />

(A.13)<br />

Figura A.2: Cones de luz <strong>em</strong> Schwarzschild nas novas coordenadas. Figura retirada de<br />

[49].<br />

V<strong>em</strong>os que para r ≤ 2M os cones de luz estão dirigidos para dentro, e portanto,<br />

denominamos a superfície r = 2M como horizonte de eventos, ou seja uma região da<br />

qual nenhuma informação consegue escapar. Se o raio de uma estrela for menor que o<br />

raio de Schwarzschild, então este objeto será visto como um buraco negro no sentido de<br />

que ele não poderá ser detectado visualmente.


A.2 Buracos <strong>negros</strong> <strong>em</strong> Reissner-Nordström 60<br />

A.2 Buracos <strong>negros</strong> <strong>em</strong> Reissner-Nordström<br />

Para o caso de um buraco negro eletricamente carregado com simetria esférica, dev<strong>em</strong>os<br />

procurar soluções para a métrica do tipo:<br />

ds 2 = −e 2α(r,t) dt 2 + e 2β(r,t) + r 2 dΩ 2 . (A.14)<br />

Porém agora não estamos interessados <strong>em</strong> soluções do vácuo, já que o buraco possui<br />

um campo eletromagnético, que age como uma fonte de energia-momento. O tensor de<br />

energia-momento para o campo eletromagnético é dado por:<br />

Tµν = FµρF ρ<br />

ν − 1<br />

4<br />

gµνFρσF ρσ<br />

(A.15)<br />

onde Fµν é o tensor stress de Maxwell. As equações de campo nesse caso se resum<strong>em</strong> a:<br />

g µν ∇µFνσ = 0 (A.16)<br />

∇[µFνρ] = 0. (A.17)<br />

Os detalhes das contas não serão levados <strong>em</strong> consideração, já que as equações acima são<br />

acopladas e complicadas de se resolver. Nesse caso, a solução é a conhecida métrica de<br />

Reissner-Nordström da forma:<br />

ds 2 = −<br />

(<br />

1 − 2M<br />

r<br />

+ Q2<br />

r 2<br />

)<br />

dt 2 (<br />

+ 1 − 2M<br />

r<br />

Q2<br />

+<br />

r2 ) −1<br />

dr 2 + r 2 dΩ 2<br />

para um buraco negro de massa M carga Q e s<strong>em</strong> “carga magnética”.<br />

(A.18)<br />

Como sugerido na seção A.1.1 uma maneira de diagnosticar horizontes de eventos é<br />

procurar o(s) ponto(s) no(s) qual(is) g rr = g −1<br />

rr (para métricas diagonais)= 0. No presente<br />

caso ter<strong>em</strong>os:<br />

g rr =<br />

(<br />

1 − 2M<br />

r<br />

Q2<br />

+<br />

r2 )<br />

= 0 ⇒ (A.19)<br />

r± = M ± √ M 2 − Q 2 (A.20)<br />

Aqui, t<strong>em</strong>os três casos a considerar:M 2 − Q 2 > 0, M 2 − Q 2 = 0 e M 2 − Q 2 < 0.


A.2 Buracos <strong>negros</strong> <strong>em</strong> Reissner-Nordström 61<br />

No primeiro caso, ambas as raízes r± serão reais e o buraco negro possuirá dois ho-<br />

rizontes. O primeiro horizonte de eventos r+ será análogo à superfície de r = 2M <strong>em</strong><br />

Schwarzschild, e, assim como naquele caso, tanto r+ quanto r− não são singularidades<br />

físicas, ou seja, pod<strong>em</strong> ser r<strong>em</strong>ovidas por uma mudança de sist<strong>em</strong>a de coordenadas, o que<br />

não é o caso da singularidade real <strong>em</strong> r = 0.<br />

No segundo caso, conhecido como a solução “extr<strong>em</strong>a” de Reissner Nordström, há<br />

apenas um horizonte de eventos <strong>em</strong> r = M. Essa solução é normalmente analisada no<br />

contexto de gravidade quântica além de parecer instável, na medida <strong>em</strong> que um pequeno<br />

acréscimo massa já retornaria ao caso anterior.<br />

No terceiro caso, não existe um horizonte de eventos e a métrica é completamente<br />

regular nas coordenadas (r, θ, ϕ, t), ainda que exista a singularidade <strong>em</strong> r = 0. Nesse<br />

caso diz-se que a singularidade é nua por não estar revestida por um horizonte de eventos.<br />

Essa solução não é fisicamente aceitável, tendo <strong>em</strong> vista a conjectura de censura cós-<br />

mica. Esta conjectura - ainda não d<strong>em</strong>onstrada formalmente, porém com base <strong>em</strong> sólidos<br />

argumentos teóricos e dados experimentais - formula que todos os espaços-t<strong>em</strong>pos fisi-<br />

camente aceitáveis são globalmente hiperbólicos, ou seja, nenhuma singularidade, exceto<br />

pela possível singularidade cosmológica primordial, é visível a qualquer observador [48].<br />

Três são as possíveis maneiras de se obter uma singularidade através do colapso gravi-<br />

tacional: a primeira refere-se à auto-atração gravitacional de uma estrela, que, tendo mais<br />

que 1.4 massas solares, entra <strong>em</strong> colapso; a segunda, envolve o colapso gravitacional de<br />

todo núcleo central de um denso algomerado de estrelas; e o terceiro, e mais especulativo,<br />

é o colapso gravitacional de regiões com altas densidades no universo primordial.<br />

Pode-se mostrar que qualquer colapso gravitacional esfericamente simétrico resulta<br />

numa singularidade dentro de um buraco negro. Além disso, estudos de perturbações line-<br />

ares <strong>em</strong> Schwarzschild mostram que, a menos que as soluções das equações não-lineares<br />

não “explodam” <strong>em</strong> uma determinada região da variedade (que permitiria o surgimento de<br />

uma singularidade nua), as soluções limitadas e b<strong>em</strong> comportadas serão não-singulares,


A.2 Buracos <strong>negros</strong> <strong>em</strong> Reissner-Nordström 62<br />

que é o caso que se t<strong>em</strong> comprovado. Isso sugere que um colapso gravitacional com uma<br />

pequena perturbação <strong>em</strong> relação ao esfericamente simétrico tende a produzir um buraco<br />

negro <strong>em</strong> detrimento a uma singularidade nua.


Apêndice B<br />

Método de Prüfer<br />

Representações assintóticas de soluções de equações diferenciais (para um grande pa-<br />

râmetro p) de segunda ord<strong>em</strong> num intervalo que não contém pontos de retorno são de<br />

fundamental importância para a Física. É sabido que a escolha das soluções assintóti-<br />

cas não é única e, <strong>em</strong> geral, para soluções com altas oscilações, é adotado o Ansatz da<br />

forma u(x) = A(x) exp[ipτ(x)] - como é o caso do método W.K.B. - com A(x) e τ(x)<br />

conhecidos como a amplitude e a fase, respectivamente.<br />

Ambas as funções satisfaz<strong>em</strong> equações na qual pelo menos uma delas é de segunda<br />

ord<strong>em</strong>, sendo que o coeficiente da mais alta derivada não contém o (alto) parâmetro p,<br />

podendo ser interpretados como uma perturbação. Entretanto esse procedimento t<strong>em</strong> um<br />

alto custo computacional, já que a cada passo dever<strong>em</strong>os levar <strong>em</strong> consideração a derivada<br />

mais alta que foi negligenciada no passo anterior. Portanto, uma questão que surge é sobre<br />

a possibilidade de desenvolver-se um esqu<strong>em</strong>a computacional no qual tanto a amplitude<br />

quanto a fase obedeçam equações de primeira ord<strong>em</strong>. Tal procedimento é impl<strong>em</strong>entado<br />

através da transformação de Prüfer [51].<br />

Considere uma equação do tipo Schrödinger na forma padrão:<br />

d 2 u(x)<br />

dx 2 + p2 Q(x, λ)u(x) = 0 (B.1)


onde Q(x, λ) = λ − q(x).<br />

Introduzimos a transformação de Prüfer:<br />

que é uma solução com alta freqüência.<br />

u(x, p) = r(x, p) sin(p θ(x, p)), (B.2)<br />

⇒ u ′ = r ′ sin(p θ) + pr θ ′ cos(p θ). (B.3)<br />

A próxima diferenciação produzirá um termo de segunda derivada r ′′ . Para evitar isso<br />

representamos θ(x, p) como:<br />

de forma que:<br />

forma:<br />

p θ(x, p) = p τ(x) + h(x, p) com (B.4)<br />

r ′ sin(p θ) + rh ′ cos(p θ) = 0 (B.5)<br />

u ′ = r ′ sin(p θ) + rh ′ cos(p θ) + rpτ ′ cos(p θ) = rpτ ′ cos(p θ) (B.6)<br />

De maneira geral, o método de Prüfer se aplica a qualquer equação diferencial da<br />

(<br />

d<br />

P (x)<br />

dx<br />

du<br />

)<br />

+ Q(x)u(x) = 0 (B.7)<br />

dx<br />

definida no intervalo x ∈ [a, b], onde P (x) > 0 e P ′ (x) e Q(x) são contínuos. Note que<br />

pode-se retornar ao caso anterior quando P = 1 e Q(x) ↦→ p 2 Q(x), ou seja, quando Q(x)<br />

varia rapidamente.<br />

Consider<strong>em</strong>os o retrato de fase no plano de fase de Poincaré. Faz<strong>em</strong>os isso introdu-<br />

zindo a “fase” e o “raio ” da solução u(x) pela substituição de Prüfer:<br />

⎧<br />

⎪⎨<br />

⎪⎩<br />

P (x) u ′ = r(x) cos (θ(x))<br />

u(x) = r(x) sin (θ(x))<br />

(B.8)<br />

64


Not<strong>em</strong>os que:<br />

o que implica:<br />

onde u ′ ≡ du<br />

dx .<br />

P 2 (x)u ′ (x) 2 = r 2 cos 2 θ ; u 2 = r 2 sin 2 θ (B.9)<br />

P 2 u ′2 + u 2 = r 2<br />

tan θ =<br />

(B.10)<br />

u<br />

.<br />

P u ′ (B.11)<br />

Essa transformação (P u ′ , u) ↔ (r, θ) pode ser vista como uma curva parametrizada pela<br />

variável x no plano de Poincaré e é válido notar que ela é não-singular para todo r ̸= 0. De<br />

fato, se para algum x particular r(x) = 0, ter<strong>em</strong>os, por (B.9), u(x) = 0 e u ′ (x) = 0. Pelo<br />

teor<strong>em</strong>a da unicidade para a equação diferencial de segunda ord<strong>em</strong>, u(x) = 0 ∀x para<br />

todas as soluções não triviais, r > 0. Derivando o inverso da equação (B.11), obt<strong>em</strong>os:<br />

− csc 2 θ dθ<br />

dx = (P u′ ) ′ P u′2<br />

−<br />

u u2 = −Q − cot2 θ 1<br />

P<br />

⇒ dθ<br />

dx = Q(x) sin2 θ + cos2 θ<br />

P (x)<br />

que é chamada equação diferencial de Prüfer para a fase.<br />

Diferenciando agora a equação (B.10) ter<strong>em</strong>os:<br />

r dr<br />

dx = uu′ + (P u ′ )(P u ′ ) ′ = u<br />

P P u′ − P u ′ Qu =<br />

⇒ dr<br />

dx<br />

= r sin 2θ<br />

2<br />

( 1<br />

P<br />

(B.12)<br />

(B.13)<br />

r sin θ<br />

r cos θ − r cos θQr sin θ (B.14)<br />

P<br />

)<br />

− Q . (B.15)<br />

Finalmente, as equações (B.13) e (B.15) formam o sist<strong>em</strong>a de equações de Prüfer, que<br />

é equivalente à (B.7). O que as torna interessantes é o fato de que a equação original se<br />

65


eduz a um sist<strong>em</strong>a diferencial de primeira ord<strong>em</strong>, sendo que a equação para a fase θ(x)<br />

é independente da variável r(x), o que a torna mais importante, visto que ela determina<br />

o comportamento oscilatório de u(x). Para qualquer valor inicial (a, γ) há uma única<br />

solução que satisfaz<br />

dθ<br />

dx<br />

= F (x, θ) (B.16)<br />

θ(a) = γ (B.17)<br />

desde que P e Q sejam contínuos <strong>em</strong> a. Conhecendo-se θ(x) pode-se determinar r(x)<br />

integrando-se (B.15):<br />

com K = r(a).<br />

(∫ x (<br />

1<br />

r(x) = K exp<br />

a P<br />

) )<br />

sin 2θ<br />

− Q dx<br />

2<br />

(B.18)<br />

66


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