Estudos tEatrais FEstivais tEatro JuliEta MyriaM szabo ... - Imaginei.net
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Foto: Gérard Sarrouy<br />
<strong>Estudos</strong> <strong>tEatrais</strong><br />
<strong>FEstivais</strong> <strong>tEatro</strong><br />
<strong>JuliEta</strong><br />
<strong>MyriaM</strong> <strong>szabo</strong><br />
Folha Caída<br />
AALZINE<br />
nº 05 julho 2007 | Baal 17 - Companhia de Teatro na Educação do Baixo Alentejo<br />
nº 05 julho 2007 | Baal 17 - Companhia de Teatro na Educação do Baixo Alentejo
Colectivo Baal 17:<br />
Da esquerda para a direita: Rui<br />
Garcia, Telma Saião, Ana Antão,<br />
Rui Ramos, Sandra Serra, Paulo<br />
Troncão, Marco Ferreira.<br />
FICHA TéCNICA<br />
Propriedade: Baal 7 – Companhia de Teatro na<br />
Educação do Baixo Alentejo<br />
Cine-Teatro Municipal de Serpa<br />
Apartado 78 0 Serpa<br />
www.baal 7.com<br />
Telefone: 84 549 488<br />
E-mail: baal. 7@mail.telepac.pt<br />
ou baalzine@gmail.com<br />
Coordenação: Sandra Serra<br />
Colaboram nesta edição: Carlos Pinto, Laureano<br />
Carreira, Marco Ferreira, Rui Garcia, Rui Ramos e<br />
Sandra Serra.<br />
Concepção gráfica: Verónica Guerreiro<br />
Bloco d, design & comunicação (www.blocod.com)<br />
Impressão: Gráfica Comercial, Loulé<br />
Periodicidade: Sai duas vezes ao ano<br />
Tiragem: 000 exemplares<br />
COMPANHIA FINANCIADA POR<br />
Cinco Baalzines e oito Noras<br />
Cinco – São já cinco as edições da Baalzine e continuamos a receber<br />
mensagens de incentivo e de apoio, de pessoas que nos acham<br />
corajosos, teimosos e … Obrigado pelo retorno. Em jeito de retribuição<br />
fica o nosso modesto e insistente contributo em afirmar a importância<br />
de olhar a cultura e as diferentes formas de arte como um campo fértil,<br />
vivo e em crescimento constante.<br />
Mas, algumas coisas nos separam ainda de um lugar à sombra, ou ao<br />
sol… de uma azinheira cada vez mais palmeira no meio do deserto.<br />
Porque queremos mais consciência de quem a lê, de quem critica.<br />
Crescer é uma curiosa necessidade de comunicar e mais ainda de ouvir.<br />
Queremos crescer e, para isso, necessitamos de vos ouvir, de partilhar<br />
convosco, de receber sugestões, opiniões.<br />
Oito – Juntámos esta Baalzine número cinco às Noites na Nora número oito.<br />
Juntas, procuramos fazer com que cheguem mais longe, aproveitando<br />
esta boleia de amigos e de todos aqueles que nos visitam na nossa<br />
segunda casa: a Nora.<br />
Mais um Festival, mais um sem fim de dificuldades superadas, outras<br />
por superar. Com um parco orçamento para programar cinco semanas<br />
de espectáculos, tomámos este ano a decisão de encurtá-lo para quatro<br />
semanas, apostando num maior investimento na programação oferecida.<br />
Aumentamos a qualidade, diminuímos a quantidade.<br />
Ainda assim, assumimos, só conseguimos fazê-la através dos laços de<br />
amizade criados em edições anteriores do festival, de amigos de amigos,<br />
desconhecidos que ainda vamos dando a conhecer e, principalmente, da<br />
renovação de intercâmbios e divulgação de actividades com instituições,<br />
associações e companhias de teatro do país. É claro, também, e<br />
sobretudo, com o apoio da Câmara Municipal de Serpa, do Ministério da<br />
Cultura/Instituto das Artes e todas as demais instituições que nos apoiam<br />
sem as não conseguiríamos fazer esta festa da cultura.<br />
0 Baal Ensino<br />
<strong>Estudos</strong> Teatrais<br />
04 Baal Auscultação<br />
A realidade dos festivais<br />
de teatro no Alentejo<br />
06 Baal a dois<br />
Julieta Santos por<br />
Rui Ramos<br />
08 Baal e se…<br />
Centro Artístico e<br />
Cultural da Nora?...<br />
09 Baal à nora<br />
Oito anos de cultura<br />
como uma festa<br />
Marco Ferreira<br />
7 Baal com Myriam<br />
Szabo<br />
No caminho da guerreira<br />
9 Baal desbocado<br />
O Stand Uper<br />
0 Baal em Banho Maria<br />
Folha Caída<br />
Pão<br />
ALTO PATROCÍNIO:<br />
Governo Civil de Beja
BAAL ENSINO<br />
O ensino do teatro na Universidade de<br />
évora começou em Outubro de 1996,<br />
abrindo em certo sentido um caminho<br />
pioneiro nesta área científico/artística<br />
em Portugal. Na realidade, não existiam<br />
então estudos de teatro na Universidade<br />
Portuguesa ao nível da licenciatura. O<br />
teatro era somente objecto de formação<br />
profissional nos conservatórios, em<br />
particular no Conservatório de Teatro, em<br />
Lisboa, hoje chamado Escola Superior de<br />
Teatro, tendo transitado para a Amadora.<br />
De imediato, o curso de <strong>Estudos</strong> Teatrais<br />
da Universidade de évora, então com uma<br />
duração de cinco anos, como era de norma<br />
nas licenciatura na época, distinguiu-se da<br />
formação praticada pelo conservatório pelo<br />
facto de incidir mais na formação teóricohistórica<br />
do que na formação prática.<br />
Mais tarde, em 2003, procedeu-se a uma<br />
reestruturação que obedeceu a duas<br />
características principais: o curso passou<br />
de 5 para 4 anos (seguindo, mais uma vez,<br />
a evolução do ensino superior em Portugal),<br />
e foi introduzida uma dose significativa de<br />
formação nas áreas práticas do teatro.<br />
é pois este plano de estudos que ainda<br />
se encontra em vigor até ao final deste<br />
presente ano universitário.<br />
Com efeito, é sabido, pois tem sido objecto<br />
de um intenso debate na imprensa em<br />
Portugal, todo o ensino superior deverá<br />
adaptar-se, até 2010, às novas normas para<br />
o ensino superior europeu designadas<br />
genericamente como “normas de Bolonha”,<br />
do nome da cidade italiana onde tal coisa<br />
foi decidida entre os ministros europeus<br />
do ensino superior. Pretende-se, com estas<br />
novas normas, que todo o ensino superior<br />
praticado no espaço europeu tenha uma<br />
O ENSINO DO<br />
TEATRO NA<br />
UNIVERSIDADE<br />
DE ÉVORA<br />
só leitura, qualquer que seja o país. Mas, e<br />
ao mesmo tempo, para além deste aspecto,<br />
Bolonha veio também permitir algo que era<br />
inédito no sistema do ensino em Portugal:<br />
o reconhecimento das competências<br />
adquiridas no meio profissional.<br />
Por princípio, as licenciaturas na Europa<br />
passarão a ter doravante uma duração<br />
de 3 anos (1º ciclo), os mestrados de 2 (2º<br />
ciclo), e os doutoramentos de 3 (3º ciclo).<br />
Algumas excepções tendem a agrupar<br />
os 5 primeiros anos numa única unidade,<br />
são os chamados “mestrados integrados”.<br />
Em suma, um aluno que entre hoje na<br />
universidade, e que não perca nenhum ano,<br />
deverá terminar o seu percurso oito anos<br />
mais com o grau de “doutor”. As vantagens<br />
deste sistema são inúmeras, a começar pelo<br />
facto de os diplomas terem exactamente o<br />
mesmo valor em qualquer país da Europa,<br />
o que significa que uma formação iniciada<br />
em França poderá ser terminada em<br />
Portugal, ou vice-versa, obviamente. E sobre<br />
isto as Universidades não poderão exercer<br />
quaisquer espécies de restrições, pois que o<br />
reconhecimento é um direito adquirido.<br />
Vem isto a propósito do novo plano<br />
de estudos que entrará em vigor em<br />
Setembro próximo nos estudos de Teatro<br />
na Universidade de évora. Como não podia<br />
deixar de ser, também em évora a maioria<br />
dos cursos já foram adaptados a Bolonha.<br />
Todavia, ao abrigo desta necessidade de<br />
adaptação, alguns cursos procederam<br />
à criação de novos planos curriculares.<br />
Assim, a Licenciatura em <strong>Estudos</strong> Teatrais,<br />
doravante intitulada simplesmente<br />
Licenciatura em Teatro, terá uma duração<br />
de 3 anos, com uma notável inovação na<br />
sua filosofia.<br />
Na realidade, este plano curricular foi<br />
concebido para poder criar formações<br />
específicas destinadas a serem<br />
aprofundadas ao nível do segundo ciclo,<br />
que passará a ter três saídas: Arte do Actor,<br />
Dramaturgia e Encenação, e História e<br />
Teoria do Teatro. Isto é, ao nível do primeiro<br />
ciclo, o aluno é susceptível de descobrir<br />
matérias teóricas e práticas dentro de um<br />
equilíbrio que se procurou harmonioso,<br />
enquanto começará, ao mesmo tempo,<br />
a desenhar o percurso formativo que irá<br />
aprofundar ao nível do 2º ciclo.<br />
Quanto ao 3º ciclo, cujo plano curricular<br />
está ainda por concluir, deverá obedecer,<br />
também ele, ao espírito de Bolonha.<br />
Todavia, e para além deste aspecto, é<br />
preocupação do Departamento de Artes<br />
Cénicas que este 3º ciclo, à imagem do<br />
2º ciclo, permita também um aprofundar<br />
original das opções tomadas anteriormente.<br />
Falta somente decidir como chegar lá.<br />
Enfim, algumas palavras sobre a nova<br />
organização dos <strong>Estudos</strong> artísticos ao<br />
nível da Universidade de évora. Com<br />
efeito, aproveitando a mudança imposta<br />
por Bolonha, procedeu a reitoria da<br />
universidade à criação de uma Área<br />
Departamental das Artes (correspondente<br />
noutras universidades à designação<br />
de Faculdade), onde se encontram<br />
os departamentos de Artes Visuais,<br />
Arquitectura, Música e Artes Cénicas. Em<br />
suma, o Alentejo possui neste momento, e já<br />
não será sem tempo, ensinos artísticos ao<br />
nível do que melhor se faz na Europa.<br />
Laureano Carreira<br />
Departamento de Artes Cénicas<br />
Universidade de Évora
A REALIDADE DOS FESTIVAIS DE<br />
TEATRO NO ALENTEJO<br />
ExISTIRãO SEMPRE<br />
OS CAROLAS...<br />
Um pouco por toda a região, os alentejanos<br />
habituaram-se há já algum tempo a<br />
marcarem na sua agenda lúdica os festivais<br />
de teatro. Sejam realizados por amadores<br />
ou por profissionais, assentes na articulação<br />
de mario<strong>net</strong>as ou mais vocacionados para<br />
um público juvenil, os festivais de teatro são<br />
hoje uma realidade incontornável numa<br />
região onde factores sócio-económicos<br />
ainda limitam o acesso de todos à arte.<br />
Ao longo dos anos, os responsáveis<br />
pela organização de festivais de teatro<br />
têm sabido, à custa de muito suor, levar<br />
a sua “carta a Garcia”, que é como<br />
quem escreve, têm tido a capacidade de<br />
encontrar ferramentas e soluções para os<br />
inúmeros problemas e dificuldades que a<br />
realização de qualquer evento artístico na<br />
região tem de enfrentar. Por isso mesmo, e<br />
apesar do Alentejo ser, cada vez mais, um<br />
território de oportunidades adiadas que<br />
o desenvolvimento teima em abraçar, os<br />
festivais de teatro têm-se multplicado um<br />
pouco por toda a parte.<br />
Mais para norte, no distrito de Portalegre,<br />
destaca-se o Festival Internacional de<br />
Teatro de Portalegre, promovido pelo Teatro<br />
d’O Semeador – Associação de Animação<br />
Cultural e Produção Teatral de Portalegre.<br />
A par deste, nota de realce na agenda<br />
cultural do Norte Alentejano para o Encontro<br />
Nacional de Teatro Escolar (promovido,<br />
também em Portalegre, pela companhia<br />
AMAIA durante o mês de Abril), para o<br />
Encontro de Teatro de Campo Maior (uma<br />
organização da companhia Blá Blá Blá no<br />
mês de Março) e para o Festival de Teatro<br />
Começaram a surgir há pouco mais de uma década, dando vida aos<br />
palcos de norte a sul do Alentejo. Primeiro com alguma timidez, agora<br />
com ilimitadas ambições e expectativas. Os festivais de teatro no<br />
Alentejo são hoje uma realidade incontornável no calendário regional<br />
de eventos, mas como não há bela sem senão, são muitos os escolhos<br />
que cada iniciativa tem de ultrapassar até à sua concretização. O<br />
diagnóstico das dificuldades está, aparentemente, traçado. Falta<br />
apenas colocar a terapêutica em prática...<br />
do Grupo Alterense de Cultura (em Alter do<br />
Chão, durante o mês de Maio).<br />
Descendo no mapa, no distrito de évora,<br />
o grande destaque vai para as iniciativas<br />
da eborense Cendrev. Entre Junho e<br />
Setembro com a BIME – Bienal Internacional<br />
de Mario<strong>net</strong>as de évora e depois, entre<br />
Novembro e Dezembro, com o Encontro de<br />
Teatro Ibérico. A estes dois eventos juntamse,<br />
na região central (geograficamente<br />
falando, é óbvio...) do Alentejo, o Festival de<br />
Teatro de Amadores de évora (promovido<br />
em évora entre Setembro e Outubro pela<br />
SOIR – Joaquim António de Aguiar), o<br />
Encontro Theatron (durante o mês de<br />
Outubro em Montemor-o-Novo, numa<br />
organização da Associação Theatron)<br />
e o Encontr’Arte de Artes Performativas<br />
(iniciativa da Opsis em Metamorphose que<br />
tem lugar na vila de Cabeção nos meses de<br />
Março e Abril).<br />
No Baixo Alentejo, os festivais de teatro<br />
parecem ter como local de eleição a<br />
Margem Esquerda do Guadiana. Na cidade<br />
de Serpa, a companhia Baal 17 promove o<br />
Festival Noites na Nora (sempre nos meses<br />
de Verão, de Julho a Agosto) e a Mostra<br />
de Teatro no Outono – Folha Caída (em<br />
Outubro), enquanto que na “vizinha” Moura<br />
o Centro Recreativo Amadores de Música<br />
Os Leões organiza o Festival de Teatro dos<br />
Leões (no mês de Maio). Pelo meio, em Pias,<br />
o Teatro Experimental de Pias é responsável,<br />
em Março, pelo Mês do Teatro.<br />
Passando para a outra margem do<br />
Guadiana, Beja tem também o seu festival.<br />
Trata-se da Bienal Internacional de Teatro<br />
Por Carlos Pinto *<br />
para a Infância e Juventude, promovida pelo<br />
Grupo de Teatro Jodicus entre a capital de<br />
distrito e a freguesia da Cabeça Gorda no<br />
mês de Outubro.<br />
Finalmente, no Litoral Alentejano, há a<br />
sublinhar a Mostra de Teatro de Santo<br />
André (da responsabilidade do Gato SA<br />
– Grupo Amador de Teatro de Santo André<br />
durante o mês de Maio) e a Mostra de<br />
Teatro de Alcácer do Sal (promovida pela<br />
companhia Teatro do Rio).<br />
A CULTURA “NãO VENDE<br />
DETERGENTES OU ENChIDOS..”<br />
Disseminados um pouco por toda a região, a<br />
organização de um festival de teatro encerra,<br />
contudo, muitas dificuldades para qualquer<br />
companhia. Apoios estatais à parte, sejam<br />
profissionais ou amadores, qualquer grupo<br />
de teatro tem de “puxar pela cabecinha”<br />
para fazer face as todas as despesas<br />
inerentes a um evento do género. E não<br />
se pense que se trata apenas de garantir<br />
os cachets das companhias convidadas.<br />
A estes, há ainda que juntar toda a<br />
componente logística dos espectáculos, a<br />
alimentação e alojamento dos artistas ou a<br />
promoção do próprio evento.<br />
“No Alentejo não existem apoios estatais<br />
nem privados para este tipo de organizações<br />
culturais. As autarquias, que acabam por<br />
ser as grandes financiadoras, e demais<br />
instituições públicas, tem preocupações<br />
culturais mais abrangentes e gerais<br />
e não conseguem dar respostas às<br />
necessidades financeiras para a realização<br />
BAAL DIÁRIO<br />
4
5<br />
AAL DIÁRIO<br />
de festivais artísticos específicos. Os apoios<br />
do Estado, nomeadamente do Ministério da<br />
Cultura, são muito difíceis de conseguir. Face<br />
à escassez de grandes empresas públicas<br />
na região e à pouca sensibilização para o<br />
mecenato, não existem praticamente apoios<br />
privados. Acabam por ser as companhias de<br />
teatro, com uma grande ginástica orçamental<br />
e iniciativa própria, a organizar festivais ou<br />
mostras de teatro no Alentejo”, sublinha Rui<br />
Ramos, da direcção da Baal 17 (Serpa).<br />
“Quando as autarquias entendem o<br />
interesse da iniciativa e se disponibilizam<br />
para a apoiar condignamente, quer ao nível<br />
financeiro, quer logístico, as coisas ficam<br />
simplificadas, de contrário é preciso bater<br />
a muitas portas e ter a capacidade para<br />
‘engolir alguns sapos’, porque isto da Cultura<br />
ainda não dá para vender detergentes, nem<br />
enchidos…”, observa, por seu lado, Mário<br />
Primo, da Gato SA (Santo André).<br />
QUE FUTURO?<br />
Neste panorama de dificuldades, em<br />
que são raros os eventos de expressão<br />
cultural que não sobrevivem à custa da<br />
“arte e engenho”dos seus promotores,<br />
subsistem duas “eternas” questões.<br />
Por um lado, tentar saber qual é o futuro<br />
que têm os festivais de teatro? Por outro<br />
lado, tentar descobrir que caminhos têm<br />
estes de, inevitavelmente, percorrer por<br />
forma a garantirem a sua longevidade<br />
temporal e qualitativa?<br />
Para José Maria Pereira, do Teatro<br />
Experimental de Pias (TEP), aos festivais<br />
de teatro resta percorrer “o caminho da<br />
exigência permanente por mais e melhores<br />
condições” em prol das populações<br />
e dos agentes culturais. Um caminho,<br />
advoga, que terá também de passar pelos<br />
PELA CRIAçãO DE<br />
NOVOS PúBLICOS<br />
Nos tempos que correm, é “politicamente<br />
correcto” falar na “criação de novos públicos”<br />
mediante a promoção constante e metódica<br />
de eventos de cariz natural. Um propósito<br />
que se encaixa na perfeição entre aqueles<br />
que devem os grandes objectivos a qualquer<br />
festival de teatro, conforme é reconhecido<br />
pelos seus próprios dinamizadores.<br />
“[As nossas metas são] Promover o<br />
teatro e incentivar o gosto pela expressão<br />
dramática”, observa José Maria Pereira,<br />
do TEP, complementado por Rui Ramos,<br />
do Baal 17: “Na província, o público tem<br />
pontualmente a oportunidade de assistir a<br />
um espectáculo de teatro. Pouca oferta é<br />
um factor dissuasivo para a participação<br />
e o espectáculo que deveria ser uma<br />
oportunidade única, não raro, passa<br />
despercebido. Um festival é sempre um<br />
momento de festa e ritual, as apresentações<br />
enquadram-se num acontecimento e<br />
o publico adere com maior facilidade.<br />
Acontece muitas vezes serem surpreendidos<br />
por espectáculos que à partida não iriam<br />
ver se este não estivesse incluído nessa<br />
“intercâmbios”, pelas “parcerias” e pela<br />
“troca de experiências” entre as diversas<br />
companhias teatrais da região e do país.<br />
“Havendo apoios e havendo público,<br />
estamos em crer que haverão sempre<br />
alguns carolas com vontade de levar por<br />
diante eventos dessa natureza. Até porque<br />
a arte de Talma é ainda uma daquelas que<br />
permite ao Homem tomar consciência da<br />
sua memória temporal, social e colectiva.<br />
Que apesar de se consumir em cada<br />
espectáculo, voltará a renascer das suas<br />
próprias cinzas no espectáculo seguinte e<br />
onde o actor, mais uma vez, irá incomodar,<br />
provocar, comover, exaltar, de tal forma que<br />
um só actor poderá ele próprio viver sozinho<br />
a história de um povo”, complementa<br />
Rogério Fialho, do Grupo de Teatro Jódicus.<br />
‘festa’. A nossa experiência leva-nos a<br />
concluir que os públicos fidelizam-se aos<br />
festivais e assistem cada vez mais a cada<br />
nova edição”.<br />
A opinião de que cada festival de teatro<br />
é uma oportunidade quase única para<br />
despertar em muitos o interesse para a<br />
arte de Moliére é partilhada pela maioria,<br />
mas ainda assim Mário Primo, da Gato SA,<br />
lembra que um certame do género “deve<br />
surgir de uma necessidade já existente”<br />
e não “ser o ponto de partida para o<br />
despertar do interesse por estas práticas”,<br />
sendo que a sua organização “deve estar a<br />
cargo de ‘gente do teatro’, que conheça de<br />
perto as problemáticas específicas que lhe<br />
estão associadas e que seja capaz de tecer<br />
uma rede de contactos e de parcerias que<br />
facilitem a produção”.<br />
“[Em todos os festivais deve haver] Uma<br />
clara preocupação de levar as pessoas ao<br />
teatro mas também levar o teatro junto das<br />
pessoas e, assim, casar os dois principais<br />
objectivos: público e espectáculo”, conclui<br />
Rogério Fialho, do Grupo Jódicus.<br />
*Jornalista
ENTREVISTA JULIETA AURORA SANTOS<br />
BAAL A DOIS<br />
fundação do Teatro do Mar é hoje possível<br />
encontrar uma vida fora do teatro?<br />
R: O teatro tornou-se a minha vida por<br />
tudo e tanto que exige. E por tudo e tanto<br />
que me dá. é a minha primeiríssima casa.<br />
Questiono-me muitas vezes... Se isto<br />
acontecerá só a mim, se será uma realidade<br />
de todos os que estão nesta profissão e<br />
mais particularmente aos que trabalham<br />
em pequenas Companhias, com todos os<br />
problemas que isso implica. Pergunto-<br />
-me se não será mesmo uma espécie de<br />
sacerdócio partilhado por todos os que<br />
viajam neste barco, em qualquer lugar do<br />
país ou do mundo. Estar no teatro, a uma<br />
determinada altura, é um modo de vida,<br />
uma filosofia, uma crença, uma espécie<br />
de religião cujo Deus não mostra o rosto e<br />
procuramos a toda a hora. Estar no teatro<br />
é também uma revelação constante de<br />
vida, de beleza e inquietação, uma forma<br />
constante de estar acordado e atento,<br />
um prazer, um vício, e dor também. Mas<br />
ainda não me arrependi um segundo.<br />
Queixo-me às vezes, quando vejo os dias<br />
Foto: Carlos Campos P: Julieta Santos, passados 20 anos sobre a<br />
ensolarados e as pessoas a passear, a<br />
falar de férias, “pontes” e fins-de-semana…<br />
mas depois regresso à “caixa negra” da<br />
sala de ensaios, às luzes, às conversas e<br />
discussões, à descoberta dos corpos que<br />
se movem ali…aos risos e emoções e ao<br />
maravilhar constante do quanto esta arte<br />
revela da natureza humana. Continuo a<br />
assombrar-me com o teatro e enquanto<br />
isso acontecer, a vida acontece-me.<br />
P: Era assim nessa altura? Como surgiu<br />
o Teatro do Mar?<br />
R: A história do Teatro do Mar é<br />
essencialmente uma história de resistência<br />
e perseverança. O seu prelúdio teve<br />
lugar em meados dos anos 80. Um grupo<br />
de pessoas, onde eu me incluía, tentava<br />
montar uma peça de teatro. Juntávamo-nos,<br />
inicialmente, numa antiga colectividade<br />
sineense, numa sala de baile com um<br />
grande espelho dourado. O actor Vladimiro<br />
Franklin havia chegado de Lisboa e<br />
trazia na bagagem anos de experiência<br />
profissional, a par de um talento e de um<br />
coração enormes. Transformou-me na Inês<br />
Por Rui Ramos<br />
Falar do Teatro do Mar é falar também de Julieta<br />
Santos, a sua Directora Artística. Segue o perfil de<br />
uma das poucas mulheres em Portugal a comandar<br />
o destino de uma companhia de teatro.<br />
Resistente e perseverante, ainda acredita na<br />
humanidade e na arte como forma de transformar<br />
e melhorar o mundo…<br />
Pereira, da Farsa de Gil Vicente, e fez-me<br />
contracenar com uma galinha verdadeira.<br />
A Miss Fricassé. Ficava na montra do<br />
Teatro-Oficina, um armazém fechado há<br />
algum tempo, que se veio a tornar a nossa<br />
sede por mais de 15 anos, agora o actual<br />
Centro de Artes de Sines. Baptizámos o<br />
grupo. Teatro do Mar. Apresentámo-nos ao<br />
público, pela primeira vez, curiosamente<br />
com um trabalho que antecedeu a<br />
estreia da dita Farsa. A 8 de Março, Dia<br />
Internacional da Mulher, data que passou<br />
a assinalar o nosso aniversário. Ainda me<br />
lembro dos projectores. Lâmpadas enfiadas<br />
em canudos de cartão, forrados com papel<br />
de prata. Estávamos em 1986. Entretanto,<br />
já celebrámos 21 anos de existência. Dirijo<br />
a Companhia desde o final dos anos 80.<br />
O Vladimiro partira nessa altura para<br />
Portalegre e veio, malogradamente, a<br />
falecer mais tarde, em 1998.<br />
Envolver, mais do que mostrar, foi o que<br />
mais definiu o nosso trajecto e objectivos<br />
primeiros. Mesmo que mantendo a constituição<br />
de um núcleo duro, nos anos que se se-<br />
BAAL A DOIS<br />
6
7<br />
BAAL A DOIS<br />
guiram, centenas de jovens participaram no<br />
projecto. Montaram-se produções teatrais,<br />
recitais, espectáculos de rua e animações,<br />
dinamizaram-se acções de formação e<br />
inúmeros trabalhos com as crianças e a comunidade.<br />
Mais do que o produto artístico,<br />
apenas a ponta do iceberg, foi fundamental<br />
todo o processo, de profunda aprendizagem<br />
e experiência, não só na arte e ciência do<br />
fazer teatro, mas também no conhecimento<br />
pessoal, dos outros e do mundo. Um<br />
caminho desenhado de deslumbramentos e<br />
alegrias mas também de lutas, desilusões e<br />
intempéries. Mas, mais do que nos derrotar,<br />
contribuíram, em contraposição, para criar<br />
anticorpos à desistência e à apatia. A natural<br />
evolução ao longo do tempo e a consequente<br />
formação profissional e experiência<br />
artística dos seus elementos mais efectivos,<br />
foi trazendo necessidades, exigências e<br />
ambições – artísticas, culturais e sociais<br />
– que, num processo natural, conduziram<br />
o Teatro do Mar à sua profissionalização, o<br />
que veio a consolidar-se em 1997, mantendo<br />
um núcleo duro de pessoas desde esses<br />
anos até aos dias de hoje.<br />
P: Os objectivos de então eram os mesmos de<br />
hoje? O que é que muda em tanto tempo?<br />
R: Os objectivos são basicamente os mesmos,<br />
muito embora nos tenhamos tornado numa<br />
estrutura profissional. Mudou, essencialmente,<br />
a nossa capacidade de os concretizar,<br />
sobretudo devido à experiência acumulada<br />
ao longo dos anos. Muda, ou vai mudando, a<br />
nossa forma de encarar os problemas, continuam<br />
a crescer as ambições e os desejos,<br />
mas a inquietação é a mesma, a que nos faz<br />
mover ainda. Criar, num movimento cultural,<br />
artístico e social. Criar para dar, contribuir e<br />
participar, para ter um espaço para dizer e<br />
para afirmar o que pensamos e o que sentimos.<br />
Conferir alguma utilidade às nossas<br />
capacidades como indivíduos e artistas,<br />
tentando também, dessa forma, encontrar um<br />
sentido para esta coisa que é existir.<br />
P: O Teatro do Mar sem o teu percurso,<br />
seria uma outra companhia de teatro.<br />
Achas que os projectos de teatro ganham<br />
ou perdem ao seguirem no tempo o mesmo<br />
director artístico?<br />
R: Ganham em coerência no seu caminho<br />
artístico, sobretudo se essa direcção<br />
for reflexo do colectivo, mesmo que,<br />
naturalmente, com um olhar direccionado<br />
por quem cumpre essa função.<br />
P: Quando vejo um espectáculo vosso noto<br />
claramente uma linha artística coerente<br />
assente numa estética muito vossa. Porquê<br />
essa estética?<br />
R: Sines é um concelho de contrastes,<br />
onde ao mesmo nível convivem natureza e<br />
indústria, história e tradição e modernidade.<br />
O Teatro do Mar tem vindo a definir uma<br />
linguagem teatral que, fundindo tradições<br />
e contemporaneidade, levante questões<br />
sobre a forma como os valores sociais<br />
estão organizados e de que modo é que os<br />
mesmos se relacionam com o indivíduo.<br />
O nosso trabalho assume-se como<br />
transdisciplinar, um teatro de fusão,<br />
essencialmente físico e visual. Com o<br />
objectivo de estabelecer uma maior<br />
comunicação com o público alvo, as jovens<br />
audiências, temos vindo a desenvolver<br />
uma linguagem, onde possamos, sem<br />
constrangimentos académicos, usar como<br />
contribuição para uma significação comum<br />
e global, assente num rigoroso processo<br />
dramatúrgico, outras artes como a dança,<br />
o circo, a música, as artes plásticas e as<br />
novas tecnologias do vídeo.<br />
Fazemos teatro itinerante. Criamos num<br />
esquema de partilha e participação<br />
colectiva. Um trabalho que se afirma, mais<br />
particularmente, através das produções<br />
de rua e dos espectáculos para a infância,<br />
numa preocupação de carácter social,<br />
numa filosofia de promoção do gosto e da<br />
prática artística do teatro.<br />
P: A recentemente aposta na<br />
internacionalização é uma experiência<br />
ou regra para o futuro?<br />
R: Não é uma aposta recente. é um<br />
desejo, um objectivo muito antigo, agora<br />
concretizado. Não sei se é uma regra, mas<br />
é de certeza uma grande vontade de todos<br />
nós. E estamos a consegui-lo. Este ano<br />
regressamos ao estrangeiro onde vamos<br />
passar, de novo, uma boa parte do Verão e<br />
parte do Outono também.<br />
P: Na tua opinião que mais valias existem<br />
para uma companhia sedeada na província<br />
apresentar o seu trabalho no estrangeiro.<br />
O mercado cultural português é insuficiente?<br />
R: Isso de estar “na província” é cada vez<br />
mais relativo. Sobretudo para uma Companhia<br />
itinerante. Estamos em Sines, mas representamos<br />
um pouco por todo o país e agora<br />
também no estrangeiro. Sentimos mais a<br />
questão do provincianismo na relação com o<br />
poder político, com os poderes centrais e com<br />
a comunicação social que não se desloca.<br />
O público é cada vez mais heterogéneo.<br />
E é preciso sair dos nossos “quintais”, ir ver<br />
o que se passa lá fora. Lutar contra esta realidade<br />
de estarmos num cantinho pequeno,<br />
algures numa ponta da Europa.<br />
é muito importante sairmos do nosso umbigo<br />
e confrontarmo-nos com o que se passa<br />
no mundo. Temos aprendido muito com o<br />
que vemos nos Festivais Internacionais e temos<br />
valorizado ainda mais o nosso trabalho<br />
pelos bons resultados que temos obtido. E é<br />
importante que Portugal seja representado e<br />
Foto: Edgar Cortes<br />
se mostre o que se faz por cá. Infelizmente,<br />
na maioria dos Festivais onde temos estado,<br />
nunca tinha ido uma Companhia portuguesa.<br />
O que nos orgulha, também nos entristece.<br />
é preciso mudar isso. A internacionalização<br />
é também um desafio, sobretudo a um grupo<br />
que trabalha “sem rede”, sem cunhas, sem<br />
apoios substanciais, residente na “província<br />
portuguesa”. E, o tipo de trabalho em que<br />
nos especializámos, o teatro de rua, tem<br />
uma expressão gigantesca fora de Portugal.<br />
Aqui, praticamente não existe e o que existe<br />
é sobretudo teatro “na” rua, o que é um conceito<br />
muito diferente. Para crescer é preciso<br />
trabalhar, ir à luta e confrontar os nossos<br />
conhecimentos e experiências com quem já<br />
anda nisto há muito tempo.<br />
E finalmente, cruzar o fazer teatro com a possibilidade<br />
de viajar, mesmo que em trabalho,<br />
é maravilhoso. Estafante, mas maravilhoso.<br />
P: Quais são as dificuldades que o Teatro do<br />
Mar enfrenta no momento?<br />
R: Poucos recursos financeiros e humanos e<br />
a ausência de uma sede definitiva.<br />
P: Com tanto trabalho desenvolvido,<br />
como se explica a inexistência de um<br />
espaço próprio, do Teatro do Mar, para a<br />
persecução dos vossos objectivos? O que<br />
mudaria caso esse espaço existisse?<br />
R: Explica-se pela falta de dinheiro e pela<br />
ineficácia dos agentes políticos, mesmo que<br />
manifestando vontades e intenções, sempre<br />
teóricas. Pelo menos até hoje. E já lá vão<br />
mais de 20 anos de actividade.<br />
Mas, apesar de tudo, já estivemos pior.<br />
Alugámos recentemente uma casa, por<br />
acaso muito bonita, que nos serve de centro<br />
de produção e sede oficial, e um antigo
armazém na mesma rua – onde chove – para<br />
oficina e sala de ensaios. Mas não temos um<br />
espaço de apresentação pública dos nossos<br />
espectáculos – à excepção dos que fazemos<br />
na rua – o que nos colocou sempre numa<br />
situação de o fazer em conformidade com a<br />
programação e agenda do único auditório<br />
municipal existente. Este facto impediu<br />
sempre que o Teatro do Mar pudesse estar<br />
“em cena” na sua própria cidade, tivesse um<br />
espaço permanentemente aberto ao público,<br />
com programação própria e de Companhias<br />
convidadas, ateliers contínuos de formação<br />
para crianças e jovens e um café-teatro, outro<br />
dos nossos sonhos e objectivos. Uma sede<br />
com estas condições aproximaria, ainda<br />
mais, a Companhia da sua comunidade e<br />
contribuiria, sem qualquer dúvida, para o<br />
CENTRO ARTíSTICO E<br />
CULTURAL DA NORA?...<br />
Sete anos e meio em Serpa.<br />
Uma estrutura humana de desenvolvimento<br />
cultural e artístico,que cresceu através dos<br />
constantes desafios que se propôs superar:<br />
Criar objectos artísticos vivos sustentados<br />
por toda uma região e a forma de viver das<br />
suas gentes, numa terra que é de todos e<br />
que a todos inspira;<br />
Realizar e tornar grande um festival [e<br />
depois outro] que ofereça, a esta periférica<br />
parte do mundo,o contacto vivo com o que<br />
os artistas e criadores constroem;<br />
Desenvolver um trabalho artístico de base<br />
junto dos alunos, fundamento essencial<br />
para o seu crescimento;<br />
Esta mesma revista onde estas linhas se<br />
encrostam;<br />
E tantos, tantos outros....<br />
Hoje a Baal 17 é maior de idade.<br />
é parte integrante de uma comunidade<br />
e região.<br />
Possui capital humano de qualidade<br />
e em constante processo de captação<br />
de conhecimento. Possui uma rede de<br />
cumplicidades artísticas e culturais no<br />
Alentejo, em Portugal e no estrangeiro.<br />
Possui apoios minimamente condignos ao<br />
trabalho que desenvolve, ainda que deseje<br />
o seu aumento, para que possa melhorar e<br />
engrandecer constantemente todos os seus<br />
projectos... ir mais além...<br />
Atingindo a maioridade, chegou pois o<br />
momento de se afirmar como ser autónomo,<br />
construindo a sua “Casa”, o seu “Lar”.<br />
Chegou o momento de deixar a casa dos<br />
pais – neste caso o Cine-Teatro Municipal de<br />
enriquecimento da oferta cultural da cidade.<br />
P: Que importância tem no panorama<br />
cultural de Sines a existência desta<br />
companhia de teatro profissional?<br />
R: A importância de ter fidelizado<br />
audiências, ter formado e sensibilizado<br />
centenas, se não mesmo milhares de<br />
crianças e jovens, posto a sua cidade no<br />
mapa teatral português e europeu e servir<br />
como exemplo de perseverança, resistência<br />
e luta às novas gerações.<br />
P: Tens planos para mais 20 anos de<br />
actividade?<br />
R: Espero que o Teatro do Mar tenha mais de<br />
20 anos de actividade pela frente.<br />
Quanto a mim, vivo um dia de cada vez, ou<br />
Serpa, com tudo o que aí viveu e aprendeu.<br />
Com tudo o que de bom esse espaço lhe<br />
proporciona. Uma “Casa” onde possa<br />
receber toda uma comunidade e se possa<br />
mostrar a essa mesma comunidade.<br />
Um novo ciclo.<br />
O “Centro Cultural e Artístico”.<br />
Um Espaço vivo, onde a Associação Baal 17<br />
possa dar largas à sua imaginação e onde<br />
possa continuar a crescer de forma sustentada,<br />
com a vitalidade que a caracteriza.<br />
Não é difícil de imaginar como seria “se” a<br />
Baal 17 possuísse já esse Espaço...<br />
Espaço Multidisciplinar (Teatro, Dança, Música,<br />
Artes Plásticas, etc…), será um local de<br />
eleição para a criação e produção artística<br />
extremamente dinâmico, com várias funcionalidades<br />
para a apresentação de espectáculos,<br />
projecção de cinema, programação de<br />
exposições, organização de ateliers, etc.<br />
Possuirá espaços para ensaios e demais<br />
condições para artistas e criadores, em<br />
regime de residências e acolhimentos<br />
artísticos, criarem e apresentarem os<br />
seus trabalhos e espaços onde a equipa<br />
da Baal 17 possa realizar condignamente<br />
as suas actividades. Um bar de apoio,<br />
local de encontro e de partilha entre<br />
criadores e população em geral, aberto a<br />
tertúlias e trocas de ideias, será outro dos<br />
espaços a dinamizar.<br />
O “Centro Artístico e Cultural” da Baal 17<br />
representará, inegavelmente, uma tremenda<br />
mais valia para a cidade de Serpa e para<br />
toda a sub-região onde a Associação está<br />
inserida, através do desenvolvimento de<br />
mais concretamente, um projecto de cada<br />
vez. Foi um longo caminho até agora. Mas<br />
claro que há ainda muito para fazer. Sou<br />
uma idealista compulsiva. Ainda acredito<br />
na humanidade e na arte como forma de<br />
transformar, melhorar o mundo e o modo<br />
como nos relacionamos. Isso mantém-me<br />
viva. Mas procuro não fazer mais planos do<br />
que aqueles que a regularidade do trabalho<br />
me obriga a fazer. Um dia estamos aqui, no<br />
outro não sabemos se vamos estar. Procuro<br />
viver o presente com toda a seriedade e<br />
empenho, procuro não anestesiar e estar<br />
atenta. Se um dia sentir que já não tenho<br />
nada para dizer, páro. Se um dia sentir que<br />
os outros já não estão interessados no que<br />
quero dizer, páro. Espero ter o discernimento<br />
e a coragem para o fazer. Em tempo útil.<br />
uma permanente actividade cultural e<br />
artística de referência, 365 dias por ano.<br />
Potenciará os projectos da Baal 17,<br />
permitirá o reforço das cumplicidades<br />
existentes e a constituição de novas<br />
parcerias (institucionais e artísticas),<br />
corrigirá assimetrias culturais, estimulará<br />
a mobilidade cultural, sensibilizará e criará<br />
novos públicos para a cultura, promoverá<br />
novos artistas.<br />
Sonhar é fácil, e realizar os sonhos também.<br />
E este é um sonho que está mesmo<br />
aqui à mão.<br />
Haja para tal vontade e força.<br />
O local ideal já está identificado: centro<br />
histórico de Serpa, paredes-meias com o<br />
iconográfico Espaço da Nora, onde a Baal<br />
17 organiza anualmente, e desde há sete<br />
anos, o Festival Noites na Nora, e que só<br />
poderá crescer com a aquisição do espaço<br />
contíguo.<br />
Será que está para breve o “Centro Cultural<br />
e Artístico da Nora”?<br />
Quem sabe.<br />
Uma certeza no entanto – as entidades<br />
públicas e privadas a quem será<br />
apresentado o projecto devem olhar para<br />
ele como uma fantástica oportunidade, a<br />
ser concretizada numa pequena e bela<br />
cidade do interior, validando a arte e a<br />
cultura como factores de crescimento social<br />
e económico.<br />
Tão simples quanto isso….<br />
Rui Garcia<br />
8<br />
BAAL E SE
9<br />
AAL OLHARES<br />
noites<br />
na nora<br />
oito anos de cultura como uma festa<br />
Há oito anos começámos a idealizar projectos ligados ao teatro, à música, à dança e às artes plásticas,<br />
criando amizades e partilhando um espaço estimulante que funciona como uma corrente de ar fresco<br />
à criação, espontaneidade e forma de estar. Poesia, surpresa e calma. Desde o primeiro dia um local<br />
arrogou essa função: a Nora.<br />
É para esse local que transpomos a nossa vontade de assumir uma programação estruturada e<br />
especializada. Uma programação que até agora tentou variar e surpreender quem nos visita com um<br />
objectivo: partilhar o sentimento de que a cultura pode ser uma festa. Celebrar esse momento, partilhálo<br />
com os amigos e, quem sabe, despertar a imaginação para novos projectos, novas paixões.<br />
Em oito anos fizemos conquistas, mas não queremos baixar a fasquia, muito pelo contrário.<br />
Queremos fazer mais e melhor, mas o facto é que sem um maior incentivo e investimento financeiro<br />
tal não será possível.<br />
Em 2008, subimos um pouco a barreira e criámos uma ponte ainda mais estreita entre novas criações<br />
nacionais e internacionais e o emergir das tradições populares aliadas à pesquisa. É o caso do<br />
projecto inspirado pelo fado de nome Deolinda, as guitarras de Dead Combo entre o blues, o fado<br />
e western, e a residência/criação artística de dança e movimento “Serpa Serpente Terra de Mulher<br />
Gente”, a cargo de Vanda Melo.<br />
No teatro procurámos dar um salto ainda que pouco impulsivo. As dificuldades técnicas do espaço<br />
obrigam a uma procura de espectáculos vocacionados para a rua o que nem sempre é fácil. Sabemos<br />
o que encaixa na perfeição, mas, e novamente as dificuldades orçamentais, fazem-nos encolher a<br />
barriga e fazer a ginástica do euro.<br />
Procuramos fazer com que o Festival chegue mais longe, aproveitando esta boleia da Baalzine que<br />
viaja junto com outros amigos e novos projectos assumindo no nosso papel na criação, edição e<br />
programação. A eles, aos amigos que fomos fazendo ao longo de oito edições de Festival Noites na<br />
Nora, fica aqui publicamente o nosso agradecimento. Graças a eles, também, conseguimos continuar a<br />
ter uma programação rica e fresca. Obrigado também àqueles que ano após ano fazem das Noites na<br />
Nora as suas noites e, claro, a todos os que continuam a apoiar a Cultura como uma Festa.
dia6<br />
música<br />
às<br />
22.30<br />
horas<br />
duração<br />
1h30m<br />
todas as<br />
idades<br />
dia7<br />
música<br />
às<br />
22.30<br />
horas<br />
duração<br />
50 min.<br />
m/12<br />
anos<br />
dia8<br />
teatro<br />
às<br />
22<br />
horas<br />
duração<br />
40 min.<br />
até aos<br />
12 anos<br />
Ciganos D’Ouro +<br />
Myriam Szabo & Salamantras<br />
Os Ciganos d’Ouro surgiram em 1994,<br />
por iniciativa dos irmãos José Pato e<br />
Sérgio Silva. Em 1996 lançam o álbum<br />
“La Casa” e passaram então a divulgar<br />
o seu trabalho em Portugal, Espanha,<br />
França, Bélgica, Holanda e muito mais e<br />
participando em festivais internacionais<br />
de música cigana, ao mesmo tempo que<br />
conquistam novas plateias fora desta<br />
comunidade. Depois de “Libertad” e<br />
“Maktoub, palavra árabe que significa<br />
destino e caracteriza o caminho errante<br />
do povo cigano, os Ciganos d’Ouro editam<br />
pela Newcolors. “SAL” é tema de abertura<br />
e dá nome ao álbum que junta assim<br />
9 canções e um tema instrumental da<br />
autoria do guitarrista Francisco Montoya.<br />
No Festival Noites na Nora, Myriam Szabo<br />
volta a subir ao palco com os Ciganos<br />
d´Ouro e, com ela, as Salamantras Mónica<br />
Roncon e Carolina Fonseca prometem<br />
encher de alegria, magia e beleza o<br />
Espaço da Nora.<br />
Os Ciganos d’Ouro são:<br />
José Pato – Voz principal e guitarra<br />
Sérgio Silva – 2ª voz e guitarra<br />
Francisco Montoya – guitarra solo<br />
Jalma – 2º voz e bateria<br />
Sebastian Charifie – percussão<br />
Gustavo Roriz – baixo<br />
João Falcato – piano<br />
Vozes do Imaginário<br />
Associação do<br />
Imaginário<br />
Vozes do Imaginário é um projecto musi-<br />
cal constituído por um conjunto de vozes<br />
femininas e três instrumentistas que dão<br />
corpo ao vasto repertório das polifonias<br />
tradicionais portuguesas. O legado de<br />
Michel Giacometti é o elemento de partida<br />
para esta revisita à tradição musical por-<br />
tuguesa. Engloba um conjunto de temas<br />
que vão desde as polifonias femininas do<br />
Minho até às modas de trabalho do Alen-<br />
tejo passando pelas canções de romaria<br />
A Revolta dos Micróbios<br />
Teatro Jódicus<br />
Trata-se de um espectáculo que se desen-<br />
rola em dois planos de acção, por um lado<br />
o consultório do dentista, onde podemos<br />
assistir ao desenrolar de uma consulta que<br />
se quer pedagógica e elucidativa sobre a<br />
profilaxia da higiene oral, nomeadamente<br />
na boca de um jovem que não se farta de<br />
comer guloseimas.<br />
Num segundo plano, a acção desenrola-se<br />
dentro da boca do nosso amigo João. Aqui,<br />
vamos assistir ás tropelias e atitudes malé-<br />
ficas dos micróbios residentes na cavidade<br />
bucal do nosso jovem.<br />
das Beiras. A música de Zeca Afonso é<br />
também elemento integrante do repertório<br />
deste projecto.<br />
A inclusão de sonoridades de instrumen-<br />
tos como o contrabaixo, percussões e<br />
sopros, conferem a este grupo caracterís-<br />
ticas algo invulgares emprestando às suas<br />
apresentações um carácter particular,<br />
estabelecendo uma curiosa ponte entre a<br />
tradição e o nosso tempo.<br />
Autor: Carlos Manuel Pires Correia<br />
Encenação: João Góis<br />
Concepção e construção do<br />
espectáculo: Colectiva<br />
Actores manipuladores: Rogério<br />
Fialho e João Góis<br />
Desenho de Luz: José Jorge Anes<br />
Canções e Musica: Artur Silva<br />
0
“RE Apareceu D. Margarida”<br />
de Roberto Athayde é uma peça<br />
tragicómica que retrata o dia-a-dia<br />
de uma sala de aula da severa<br />
Professora D. Margarida, que se<br />
desloca numa trama de indagações<br />
onde é a própria a dar as respostas<br />
que os alunos deveriam responder.<br />
D. Margarida transforma a<br />
plateia em alunos para discutir e<br />
criticar uma sociedade oprimida,<br />
metamorfoseando as disciplinas<br />
de Biologia, História e<br />
Matemática, em instrumentos<br />
de práticas terroristas.<br />
Linda Xénon, Armani D’Vyne,<br />
Bang Bang La Desh<br />
A 8.ª edição do Festival Noites na Nora recebe o seu primeiro show<br />
de transformismo. Em palco: Linda Xennon - com 25 anos de carreira<br />
nacional e internacional, foi eleita em 2002 Melhor Travesti Nacional<br />
e, em 2006, Rainha da Noite. Realiza interpretações diversas, desde<br />
o cómico às duplas de grandes divas, incluindo a grande Amália<br />
Rodrigues; Bang Bang Ladesh - Gilberto Costa actor e transformista<br />
cómico, conta com várias participações em televisão tais como na<br />
novela brasileira Cabôcla/ como Anastácio, no Big Show Sic ou Sítio<br />
do Pica-Pau Amarelo; Armani D’Vyne - artista britânica radicada em<br />
Portugal há 10 anos, exímia na interpretação de grandes divas como<br />
Diana Ross, Shirley Bassey, Whitney Houston, Tina Turner, Cher, pri-<br />
mando pelo glamour e beleza de uma artista nova, sendo que tem uma<br />
carreira ainda muito recente.<br />
Re-apareceu a Margarida<br />
Entretanto Teatro<br />
Texto | Roberto Athayde<br />
Versão Portuguesa | Nina Teodoro<br />
Encenação | Gabriel Villela<br />
Assistência de Encenação | Hugo Sousa<br />
Interpretação | Júnior Sampaio<br />
Participação | Hugo Sousa<br />
Operação de Luz e Som | Tiago Dâmaso<br />
Co-Produção | Cia. Melodramática Brasileira<br />
Produção | ENTREtanto TEATRO<br />
A linguagem e as expressões irónicas usadas<br />
pela personagem, mostram claramente a nossa<br />
sociedade actual, com os seus encontros e desencontros,<br />
situações conflituosas e a opressão<br />
do regime totalitarista, evidenciando a busca de<br />
uma nova escola de formação mais humanista.<br />
Tocam Lisboa, a cidade do campo, das<br />
chaminés e das cúpulas brancas, cenários de<br />
um passado perdido, o fado, o western vadio,<br />
tudo junto num voodoo de emoções, o Tejo, os<br />
amantes desencontrados, anjos abandonados<br />
nas encruzilhadas do destino, flores com cores<br />
trocadas, santos, Câmaras ardentes, guitarras<br />
despidas, cuspidas e deitadas à rua, contrabaixos<br />
em fogo, cartolas, galinhas à solta e coisas<br />
que rolam na rua.<br />
Em “Vol 2: Quando a Alma não é Pequena”, os<br />
Dead Combo também nos dão vestígios do<br />
tango, flamenco, do Faroeste como manifestado<br />
por Ennio Marricone, da Cuba real e daquela<br />
D. Margarida, na sua condição neurótica e<br />
solitária, amedronta, agride, faz-nos rir e<br />
leva-nos à condição de esqueleto, com um<br />
humor próprio de uma mulher, cujo verbo<br />
principal é a violência.<br />
Dead Combo<br />
que Marc Ribot avistou, do klezmer judaico e<br />
do drama siciliano... Desmontam as paisagens<br />
sonoras que tinham já dado em “Vol. 1”, o álbum<br />
de estreia manifestamente elogiado pela crítica<br />
em 2004. Dele se disse que era “um dos mais<br />
belos e tocantes registos alguma vez paridos<br />
sob o signo da melancolia.”; ou “um projecto que<br />
figura de OVNI no panorama musical português<br />
em 2004 – ou em qualquer outro ano(...)”.<br />
Os Dead Combo são:<br />
Tó Trips (Lulu Blind) e Pedro Gonçalves.<br />
Encarnam duas personagens que poderiam<br />
ter saído de uma BD: um gato pingado e um<br />
gangster.<br />
dia12<br />
show<br />
transformista<br />
às<br />
22<br />
horas<br />
duração<br />
50 min.<br />
m/16<br />
anos<br />
dia13<br />
teatro<br />
às<br />
22<br />
horas<br />
duração<br />
1h30m<br />
m/16<br />
anos<br />
dia14<br />
música<br />
às<br />
22.30<br />
horas<br />
duração<br />
60 min.<br />
m/12<br />
anos
dia15<br />
circo<br />
às<br />
22<br />
horas<br />
duração<br />
50 min.<br />
todas as<br />
idades<br />
dia 18<br />
teatro<br />
às<br />
22<br />
horas<br />
duração<br />
60 min.<br />
m/12<br />
anos<br />
dia19<br />
teatro<br />
às<br />
22<br />
horas<br />
duração<br />
50 min.<br />
m/16<br />
anos<br />
Na Cara – Leo Cartouche<br />
Atrás do rosto inexorável oculta-se Jens<br />
Altheimer, performer, criador e professor<br />
nas áreas do Novo Circo e do Teatro Físico.<br />
Enquanto como intérprete compulsivo já<br />
foi visto em muitos países, em Portugal<br />
tornou-se num dos dinamizadores do Novo<br />
Circo. “Na Cara”- comedy-show interac-<br />
tivo, é uma produção que utiliza técnicas<br />
circenses como linha condutora, recorrendo<br />
às linguagens de improvisação e de teatro<br />
de comédia. Um espectáculo não só de<br />
entretenimento, mas onde é proposto ao<br />
público que participe e interaja, onde numa<br />
constante e mútua provocação, o actor se<br />
adapte e responda.<br />
“Piratas! O Mistério de<br />
Maria de la Muerte” Teatro<br />
das Beiras<br />
Venha fazer parte da tripulação de<br />
uma grande viagem marítima!<br />
O que é um verdadeiro pirata?<br />
Quem aqui já saboreou o sangue<br />
da batalha em alto mar?<br />
Qual de vocês sabe o que é andar<br />
a cavalo nas ondas encapeladas?<br />
Eu sei. Isto eu sei e muito mais.<br />
Tesouros, aventuras, mulheres de<br />
todo o mundo<br />
AL-MaSRAH Teatro<br />
Carne p´ra Cargueiro<br />
Carne p´ra Cargueiro é um espectáculo<br />
de Dança /Teatro inspirado numa história<br />
verídica, que aconteceu em 1995 no<br />
Brasil. Várias prostitutas brasileiras são<br />
contratadas para passar três noites num<br />
navio romeno, ancorado no Nordeste<br />
Criação Colectiva AL-MaSRAH<br />
Teatro<br />
Direcção: Rita Alves<br />
Interpretação: Aline Catarino,<br />
Nuno Faísca, Patrícia Vito, Pedro<br />
Ramos, Sónia Botelho, Susana<br />
Nunes, Verónica Guerreiro<br />
do Brasil, mas acabam por ser raptadas<br />
e seguem viagem no cargueiro onde<br />
permanecem cativas durante 28 dias. Esta<br />
viagem está repleta de amores, desafectos,<br />
violações, violências e outras situações<br />
trágicas. A aventura tem o seu fim quando<br />
Texto: Graeme Pulleyn e<br />
Helen Ainsworth<br />
Encenação: Graeme Pulleyn,<br />
Cenografia e figurinos: Helen<br />
Ainsworth<br />
Interpretação: Teresa Baguinho, Filipa<br />
Teixeira, Sara Silva, João Costa, Paulo<br />
Almeida e Rafael Freire<br />
as raparigas são abandonadas no Sul do<br />
Brasil. A partir daí elas terão de enfrentar<br />
a nova realidade das suas vidas. Mas…<br />
será que lhes será feita justiça ou estas<br />
mulheres são apenas pessoas de segunda<br />
categoria, carne p’ra canhão?
AAL OLHARES<br />
José Cid liderou a renovação da música<br />
popular portuguesa no fim dos anos 60<br />
com a “Lenda d´Rei D. Sebastião” e foi<br />
até à revolução de 74 um dos cantautores<br />
mais censurados pela ditadura com dois<br />
LP e vários singles proibidos.<br />
A sua criatividade, inspiração e ousadia<br />
como compositor respondem por grandes<br />
êxitos como “Na cabana junto à praia”<br />
ou “Cai neve em Nova York”. Com uma<br />
atitude mais vanguardista inicia nos anos<br />
80 o rock sinfónico em Portugal com o<br />
álbum “10.000 anos depois entre Venús e<br />
Marte”, e explora nas décadas de 80 e 90<br />
o lado da música étnica com os CD´s “Ode<br />
The Campesinos<br />
Bluegrass, Country Blues<br />
Os The Campesinos são uma banda<br />
lisboeta de Bluegrass, Old Time e Old<br />
School Country Blues que tocam canções<br />
de amor, desgosto, angustia e infortúnio.<br />
É Sábado à noite e toda a aldeia está<br />
presente, a fogueira a crepitar, a luz pálida<br />
da lua, canecos de whiskey de contrabando<br />
espirrando pela taberna.<br />
Arranje um lugar e entre neste espectáculo<br />
musical que o fará reviver outros tempos.<br />
Os The Campesinos são tão quentes como<br />
o cobertor de lã que te aconchega ao teu<br />
amor enquanto escutam a musica da velha<br />
grafenola, aparecendo-te como o crack de<br />
uma pistola Colt numa fria e irritadiça noite.<br />
The Campesinos tocam as canções<br />
clássicas e originais do bluegrass e old<br />
school country de artistas como Johnny<br />
Cash, Dr. Ralph Stanley, Bill Monroe, Flatt<br />
and Scruggs e the Carter Family e também<br />
versões Bluegrass das tuas canções<br />
preferidas, como nunca ouviste antes.<br />
The Campesinos formaram-se quando<br />
Pancho Brown, um viajante country trovador<br />
do lado Americano do Atlântico aterrou em<br />
Lisboa e cruzou caminho com André Daal,<br />
tocador de Banjo Português que poderia<br />
também ter nascido em Nashville.<br />
Desenvolvendo um repertório de clássicos e<br />
originais, Brown e Daal, the Lisbon Flatt and<br />
José Cid - Ao Piano<br />
a Frederico Garcia Lorca” e “Camões,<br />
as Descobertas e Nós”. O Fado, a música<br />
tradicional portuguesa e o jazz são outras<br />
facetas menos conhecidas, mas também<br />
exploradas pelo autor. Em 2006 produz o<br />
seu próprio álbum “Vinyl” e edita “Baladas<br />
da minha vida” – disco de platina nos dois<br />
primeiros meses de venda. Mora numa<br />
casa bonita do princípio do século passado,<br />
onde vai gravando e produzindo tanto para<br />
si como para outros artistas. Nos tempos<br />
livres participa em concursos hípicos.<br />
Scruggs, juntaram-se para tocar Bluegrass<br />
com alguns dos melhores músicos Folk<br />
portugueses incluindo o tocador de<br />
Bandolin Luis Peixoto, a acordionista Celina<br />
Piedade e o violinista Nuno Flores, todos<br />
fascinados pelo som do Bluegrass.<br />
Esperamos encontra-los pela estrada,<br />
batendo o pé e o coração ao ritmo da<br />
música dos The Campesinos.<br />
The Campesinos são:<br />
Pancho Brown – Guitarra e voz<br />
André Daal - Banjo<br />
Nuno Flores - Violinino<br />
Miguel Santos - Bandolin<br />
Serpa Serpente Terra de Mulher Gente<br />
“De Serpe, Serpente Alada?<br />
Ou de Serpínia, a Princesa?<br />
Talvez de Ana, a Encantada<br />
Tem Serpa o nome, a Beleza?”<br />
Serpa será mulher?<br />
A mulher faz parte predominante das lendas<br />
esta terra e é fonte de inspiração neste trabalho.<br />
Todo o universo que povoa as estórias<br />
lendárias de Serpa assim o sugere, e são figuras<br />
femininas: “Ana - a encantada em Serpente<br />
alada e Serpínia - a princesa amada”.<br />
Porque são lendas e cantes e contos - de<br />
- estórias não se sabe ao certo a origem<br />
do nome Serpa, mas tudo indica que a<br />
serpente alada esteve na origem deste<br />
nome e foi fonte de inspiração ao brasão<br />
desta cidade.<br />
Foi nesta atmosfera que me atrevi e entrei<br />
para iniciar este trabalho de criação, uma<br />
fusão plástica de dança, expressão e canto.<br />
Esta peça tenta ligar de forma simbólica o<br />
passado lendário e o presente, sem pretensiosismo,<br />
mas, e apenas, com a intenção<br />
de acender a chama de curiosidade sobre<br />
as lendas desta terra e homenagear o seu<br />
encanto e beleza. É uma peça que fala<br />
do faz-de-conta, da magia, do simbólico.<br />
Fala-nos de fecundidade, sensualidade,<br />
solidão, alegria, carácter, e beleza. Ela trata<br />
o universo feminino, de forma intemporal.<br />
Realização e coreografia: Vanda Melo<br />
Assistente de realização: Kátia Leitão<br />
Bailarinas: Kàtia Leitão, Joana<br />
Manaças, Rita Leão, Rita Luz, Cláudia<br />
Oliveira, Eduarda Espernega,<br />
Cantora: Helena Madeira<br />
dia20<br />
música<br />
às<br />
22.30<br />
horas<br />
duração<br />
90 min.<br />
m/12<br />
anos<br />
dia21<br />
música<br />
às<br />
22.30<br />
horas<br />
duração<br />
90 min.<br />
todas as<br />
idades<br />
dia22<br />
dança<br />
às<br />
22<br />
horas<br />
duração<br />
50 min.<br />
m/12<br />
anos
dia25<br />
teatro<br />
às<br />
22<br />
horas<br />
duração<br />
60 min.<br />
m/12<br />
anos<br />
dia 26<br />
teatro<br />
às<br />
22<br />
horas<br />
duração<br />
45 min.<br />
m/6<br />
anos<br />
dia27<br />
música<br />
às<br />
22<br />
horas<br />
duração<br />
40 min.<br />
m/10<br />
anos<br />
Smooth Cabaret<br />
Baal 17 and “guests”<br />
Existe no País a ideia feita de que os<br />
alentejanos são preguiçosos, mas também<br />
amáveis, acolhedores e prestáveis; de<br />
que os alentejanos são ignorantes mas<br />
também desenrascados. Existe também<br />
a ideia de que um espectáculo que se<br />
apresenta com um título em inglês tem<br />
mais hipóteses de revelar uma certa<br />
profundidade artística. É sobre todas<br />
essas ideias feitas e, em nossa opinião,<br />
erradas por tão generalistas, que este<br />
espectáculo se constrói. Assim, Smooth<br />
Cabaret pretende ser um espectáculo que<br />
aborda de uma forma mordaz a qualidade<br />
intrínseca do povo alentejano em ser<br />
Smooth com tudo o que o significado<br />
da palavra implica. O povo alentejano<br />
é smooth por ser gentil, por possuir a<br />
suavidade que a paisagem lhe transmite,<br />
por ser desenrascado perante as<br />
adversidades que são muitas, mas também<br />
é smooth por ser bonacheirão nos meses<br />
de Verão em que o calor e a languidez<br />
nos lenhificam os movimentos. E porquê<br />
o cabaret? Porque nas Noites na Nora, e<br />
sobretudo nas noites quentes de verão em<br />
Serpa, tudo é mais fácil se for divertido.<br />
Criação Colectiva<br />
Coordenação geral: Marco Ferreira<br />
Interpretação: Ana Cristina Baptista,<br />
Eduarda Espernega, Marco Ferreira,<br />
Sandra Serra, Susana Romão, Rui<br />
Garcia, Rui Ramos e Telma Saião,<br />
entre outros “guests”.<br />
Operação de Som e Luz:<br />
Paulo Troncão<br />
Sombras - Mario<strong>net</strong>as Actores e Objectos<br />
Com este espectáculo pretendemos apresentar uma<br />
pequena mostra desta arte milenar que se chama<br />
Teatro de Sombras. As mario<strong>net</strong>as de sombra da<br />
Turquia são figuras bidimensionais, confeccionadas<br />
num material transparente (pele de camelo,<br />
tradicionalmente) e coloridas. As suas sombras num<br />
ecrã branco resultam igualmente coloridas.<br />
Assim vamos juntos ver um espectáculo de sombras.<br />
Haja luz!<br />
Deolinda - Fusão Fado<br />
com Urânio Enriquecido<br />
“O seu nome é Deolinda e tem idade suficiente<br />
para saber que a vida não é tão fácil como parece,<br />
solteira de amores, casada com desamores, natural<br />
de Lisboa, habita um rés-do-chão algures nos<br />
subúrbios da capital. Compõe as suas canções a<br />
olhar por entre as cortinas da janela, inspirada pelos<br />
discos de grafonola da avó e pela vida bizarra dos<br />
vizinhos. Vive com 2 gatos e um peixinho vermelho...”<br />
Deolinda é um projecto lisboeta de música original<br />
popular portuguesa, inspirado pelo fado e as<br />
suas origens tradicionais. Formado em 2006<br />
por 4 jovens músicos com experiências musicais<br />
diversas (jazz, música clássica, música étnica e<br />
tradicional), procuram, através do cruzamento das<br />
diferentes linguagens e pesquisa musical, recriar<br />
uma sonoridade de cariz popular que sirva de base<br />
às composições originais do grupo.<br />
Texto, cenário e mario<strong>net</strong>as: Sabahat<br />
Passos<br />
Manipulação: Alexandre Vorontsov<br />
Vozes: António Neiva, Carla Magal-<br />
hães e Sabahat Passos<br />
Encenação: Alexandre Vorontsov<br />
Técnica de manipulação: Teatro de<br />
sombras tradicional da Turquia<br />
Encarnam a Deolinda:<br />
Ana Bacalhau, na voz<br />
Pedro da Silva Martins<br />
e Luis José Martins, nas<br />
guitarras clássicas<br />
Zé Pedro Leitão, no<br />
contrabaixo<br />
4
5<br />
Os Mosca Tosca são:<br />
Vitor Cordeiro: Flautas, Gaitas-de-Foles<br />
Mário Dias: Viola<br />
Luísa Corte: Concertina, Flautas<br />
Matias: Cajon, Percussão<br />
Mosca Tosca<br />
Música Tradicional Europeia<br />
Vinda de uma época esquecida, mas<br />
ainda viva, esta recente formação de<br />
jovens músicos oferece ao público um<br />
espectáculo de ritmos europeus dignos<br />
de uma lenda épica. Os participantes<br />
poderão dançar valsas lentas e inebriantes<br />
ou, se preferirem, agitadas coreogra-<br />
fias de tirar o fôlego. Os quatro músicos<br />
acompanharão o público nesta aventura<br />
onde uma concertina, tocada por Luísa<br />
Corte, se deixa embalar por uma guitarra,<br />
dedilhada por Mário Dias, que se permite<br />
Oficina Dança Gypsy<br />
Duende por Myriam Szabo<br />
A Dança Duende, conceito criado por<br />
Myriam Szabo, assenta numa visão da<br />
dança e da vida assumidas numa profunda<br />
interdependência consciente. É uma busca<br />
energética, intelectual e emocional através<br />
da exploração do corpo, manifesta-se pelo<br />
movimento e pela tranquilidade. É uma<br />
busca que versa a arte de viver. A alquimia<br />
pela dança. A formação será baseada na<br />
Dança Gypsy Duende com uma fusão<br />
entre a dança oriental e improvisações em<br />
músicas gypsy techno e decorre no<br />
Cine-Teatro Municipal de Serpa,<br />
nos dias 7 e 8 de Julho.<br />
acompanhar pelas flautas e gaitas-de-<br />
fole do Vítor Cordeiro. A estabelecer<br />
o ritmo das percussões e a ensinar as<br />
coreografias perdidas no tempo, estará o<br />
Matias, disposto a animar quem acei-<br />
tar este desafio. As danças e músicas<br />
levam o nosso imaginário a vários países<br />
desde Portugal, França, Irlanda, Suécia,<br />
Alemanha, Bulgária, Estónia, entre outros,<br />
em que todas as culturas são trazidas à<br />
memória de muitos.<br />
Oficina de Danças Tradicionais por Matias<br />
“Pr’aprender” a bailar antes do baile à noite com<br />
Matias, um dos grandes dinamizadores de bailes e<br />
jam sessions de danças tradicionais europeias por<br />
Lisboa, sobretudo no Teatro Ibérico onde também<br />
realiza trabalho como actor.<br />
Monitor de danças tradicionais europeias na<br />
Quinta da Regaleira (Sintra), é ainda responsável<br />
pelo Blogue Trad Balls, onde se pode encontrar<br />
bastante informação, com uma agenda actualizada<br />
sobre Bailes, Jam Sessions, Festivais, Fotos<br />
e Oficinas de Danças Tradicionais que se vão<br />
realizando em Portugal e no estrangeiro.<br />
Faz parte dos Dançarilhos e do Rancho Folclórico<br />
das Salineiras de Lavos.<br />
Local: Cine-Teatro Municipal de Serpa.<br />
Durante seis dias, oito mulheres<br />
criam em Serpa um trabalho de fusão<br />
plástica de dança, expressão e canto,<br />
tendo como fonte de inspiração a<br />
Mulher nas lendas de Serpa. Uma peça<br />
que tenta ligar de forma simbólica o<br />
Residência<br />
“Serpa Serpente”<br />
por Vanda Melo<br />
passado lendário e o presente, sem<br />
pretensiosismo, mas e apenas com<br />
a intenção de acender a chama da<br />
curiosidade sobre as lendas desta terra<br />
e homenagear o seu encanto e beleza.<br />
dia28<br />
música/baile<br />
às<br />
22.30<br />
horas<br />
duração<br />
1.30<br />
horas<br />
todas as<br />
idades<br />
dia7e 8<br />
oficina<br />
das<br />
17<br />
horas<br />
às<br />
19.30<br />
dia28<br />
oficina<br />
às17<br />
às 19<br />
horas<br />
dia7e8<br />
residência<br />
às<br />
22<br />
horas
Noites na Nora 2007 direcção Geral: Baal 17 I Programação: Marco Ferreira I coordenação<br />
do espaço: Rui Ramos I direcção financeira/Gestão: Telma Saião I direcção de Produção: Rui<br />
Garcia I Produção executiva: Sandra Serra I assistência de Produção: Ana Antão e Marla Leitão |<br />
direcção técnica: Marco Ferreira I equipa técnica: Paulo Troncão e João Sofio<br />
noites<br />
na nora<br />
A CULTURA COMO UMA FESTA<br />
6 a 28 de julho | serpa 2007<br />
Agradecimentos Grupo de Teatro de Serpa, Grupo de Teatro Jodicus, Santa Casa da<br />
Misericórdia de Serpa, Bloco D – Design & Comunicação, Cocas Produções, funcionários da<br />
Câmara Municipal de Serpa, Carla Matadinho, Daniel Veiga, David Tejera, Carlos Arruda, Bernardo<br />
Santos, António Guerreiro, Restaurante “A Tradição”, Pronto a Comer “La Salete” e Bombeiros<br />
Voluntários de Serpa e a todos os que de alguma forma ajudaram ou contribuíram para a realização<br />
do Festival Noites na Nora 2007.<br />
TEATRO. MÚSICA. DANÇA.<br />
OFICINAS. RESIDÊNCIAS<br />
Ciganos D'Ouro | Deolinda | Myriam Szabo + Salamantras | Dead Combo |<br />
José Cid | Mosca Tosca | Teatro das Beiras | Entretanto Teatro |<br />
Leo Cartouche e muito mais...<br />
Baal 17 Companhia de Teatro na Educação do Baixo Alentejo | Apt. 113 - 7830 Serpa - Portugal | 284 549 488 | 966 350 511 | 961 363 107 | baal.17@mail.telepac.pt | www.baal17.com<br />
BAAL 17 FINANCIADO POR:<br />
COM O APOIO DE:<br />
PATROCÍNIO: APOIO À DIVULGAÇÃO:
BAAL COM MYRIAM SZABO 7<br />
Foto: Paulo Escoto<br />
a<br />
Myriam Szabo nasceu em França, Paris,<br />
em 1961,nacionalidade a que viria a juntar<br />
também a Portuguesa, na década de 80.<br />
E, com três anos de idade, inicia os seus<br />
estudos em Dança Clássica e “Tap Dance”,<br />
nos Estados Unidos da América. De volta a<br />
Paris recebe formação em Dança Clássica e<br />
Dança de Carácter na école du Ballet Russe<br />
Irina Grjebina, escola onde viria a ser solista<br />
com 12 anos de idade, realizando digressões<br />
pela Europa e pela Coreia do Sul.<br />
Com 19 anos Myriam inicia na agência<br />
“Mademoiselle” carreira como manequim<br />
profissional, posando para revistas como a<br />
“Elle” ou a “Vogue” e realizando diversas<br />
campanhas publicitárias (Triumph, L’Óreal).<br />
Em 1981, torna-se uma das caras mais<br />
conhecidas em França, com a célebre e<br />
polémica campanha publicitária “Avenir”,<br />
que viria a ser tema central da revista “Photo”<br />
que lhe dedica a primeira capa a preto e<br />
branco da sua história. Pouco depois retira-se<br />
da vida profissional: “uma pessoa quando se<br />
torna famosa torna-se um produto e eu achei<br />
que não tinha estrutura para isso. Por isso<br />
retirei-me”, disse “revista 7”, em 1994.<br />
Com 21 anos, deixa a ribalta e o estrelato<br />
e viaja pela Índia e pelo Nepal, realizando<br />
vários retiros tradicionais em solitário, e<br />
especializando-se em Filosofia Budista,<br />
Hatha Yoga, Karate Shoutuakan e Chi Gong.<br />
O seu caminho tornava-se mais espiritual<br />
e, com ele, também a visão da dança.<br />
Dançar para um mundo melhor, como forma<br />
de aperfeiçoamento pessoal e não como<br />
ambição profissional.<br />
No final da década de 80, Myriam Szabo<br />
BAAL COM MyRIAM SzABO<br />
NO CAMINhO<br />
DA GUERREIRA<br />
“Logo que consegui segurar-me nas pernas quis dançar. Era uma<br />
certeza e também uma obsessão”. Um caminho que começou aos<br />
três anos de idade e que prossegue um desígnio: o da coroação<br />
da vida, como uma artista autêntica, feliz de partilhar essa<br />
simples vivência com o mundo. hoje, Dança o seu Caminho,<br />
assente na Liberdade, no Rigor, e na Virtude, os três pilares da<br />
Dança Duende. Contar o caminho de Myriam Szabo é desfolhar<br />
um livro de aventuras, um livro no caminho do conhecimento<br />
pessoal e do mundo; um caminho altruísta, acreditando, por que<br />
não (?) que o mundo pode e deve ser melhor.“<br />
Foto: José Carballo<br />
chega a Portugal apaixonada por um<br />
português. Realiza espectáculos de<br />
dança no Centro de Yoga e Macrobiótica<br />
“Pirâmide” e gere o restaurante do mesmo,<br />
no quadro da Escola de Budismo Tibetano<br />
Ogyen Kuunzang Choling.<br />
A mulher do mundo em busca do<br />
conhecimento frequenta workshops<br />
intensivos de danças do mundo: Flamenco,<br />
Sevilhanas, a Kathakali, Bharata Natyam,<br />
Danças Africanas, Danças Judias (já tinha<br />
colaborado com a companhia de dança<br />
judaica Iahmel), Dança Contemporânea<br />
Expressiva, recebe formação em Arte<br />
Dramática e descobre a Dança Oriental,<br />
impulsionada por um amigo português.<br />
Sobre essa descoberta escreve Myriam<br />
no seu sítio da Inter<strong>net</strong>: “Quando a Dança<br />
Oriental me domesticou finalmente,<br />
Por Sandra Serra<br />
descobri uma nova sensibilidade, uma<br />
doçura, uma feminilidade delicada à flor<br />
da pele que se desenvolveu aos poucos no<br />
meu coração. O coração terno, profundo e<br />
temível da Mãe”. Sobre a Dança Oriental,<br />
a que comummente chamamos Dança<br />
do Ventre, Myriam continua: “Do Oriente<br />
a Dança Oriental só tem a aparência; ela<br />
é universalmente feminina. Adquirindo<br />
suavidade, um sorriso nos lábios e<br />
ondulamos com generosidade, trememos<br />
com vigor. Deixamos de ser uma mulher<br />
com uma idade, com um rosto, um nome<br />
ou uma história. é muito mais do que isso,<br />
descobrimos A Mulher. Não falo de se<br />
cobrir de fantasia nem de ouro ou seda<br />
para deslumbrar o público ou para tentar<br />
um competição lamentável com Salomé,<br />
nutrindo-se dos suores libidinosos de<br />
alguns predadores frustrados, fascinandose<br />
até à cegueira com o brilho do nosso<br />
próprio umbigo. Aí nos espera a alhada da<br />
vaidade, os ciúmes ruins que nos afastam<br />
de nós próprias e dos outros, que nos<br />
afastam do essencial”.<br />
Em Portugal, Myriam Szabo começa a<br />
agitar o País pelo Norte. No Porto organiza<br />
e produz os 1.º e 2.º Rally Jazz do Porto e<br />
é galardoada pela Secretaria de Estado<br />
da Cultura, fazendo cair novamente em<br />
si os olhos da imprensa estrangeira em<br />
busca da menina que tinha protagonizado<br />
a campanha “Avenir”, e traçando o<br />
seu percurso até então. Dos tempos no<br />
Norte, Myriam cria espectáculos, realiza<br />
performances a solo, organiza digressões<br />
de artistas como Ghalia Benali e Waso,
DANçA<br />
DUENDE:<br />
DANçAR<br />
O SEU<br />
CAMINhO<br />
O projecto Dança Duende (termo<br />
popular andaluz que designa a presença<br />
poética em toda a sua força), explica<br />
Myriam, “apareceu espontaneamente<br />
à medida que o meu trabalho se<br />
tornou mais incansável e se afastou de<br />
categorias de danças pré-existentes.<br />
Ao tomar consciência das implicações<br />
artísticas e pessoais da minha própria<br />
experiência como bailarina, como<br />
mulher e como ser humano, comecei<br />
a procurar meios de partilhar essas<br />
vivências com numerosos alunos. A<br />
minha profunda admiração pelas<br />
Danças Tradicionais, pelas Artes<br />
Marciais e pelas Artes Internas, a<br />
minha formação clássica e o meu<br />
empenhamento numa via espiritual<br />
milenar juntam-se numa dança que<br />
ainda não tinha nome. Efectivamente<br />
esta dança segue sem nome, já que a<br />
Dança Duende é um meio e não um fim”.<br />
Efectivamente, Dança Duende pretende<br />
propor uma abordagem integrada<br />
da dança em geral, sensibilizando as<br />
pessoas para novas dimensões, que<br />
nem sempre se enquadram nas técnicas<br />
dos vários estilos de dança, mas que<br />
são indispensáveis para transformar<br />
um “bom técnico” num artista autêntico,<br />
mágico e especial. Não se trata de criar<br />
um novo estilo de dança, trata-se de<br />
“restaurar uma visão simples e sagrada<br />
das artes no âmbito profissional graças a<br />
um processo criativo ilimitado, individual<br />
e definido”, uma visão que se pretende<br />
aplicada a todos os aspectos da vida.<br />
Liberdade, Rigor e Virtude, são os três<br />
pilares onde assenta o caminho do<br />
guerreiro.<br />
“Quando a consciência brilha: aqui<br />
nasce o duende. Se a Arte é duende por<br />
que não a vida?” Aí reside o desígnio da<br />
vida de Myriam Szabo. Transmiti-lo aos<br />
outros talvez a sua missão.<br />
Foto: Gérard Sarrouy<br />
dedica-se ao estudo da etnia cigana<br />
em Portugal, protagoniza passagens<br />
pelo cinema, dinamiza ateliês de dança,<br />
coordena a exposição de arte sagrada<br />
do Tibete no Centro Cultural de Belém, é<br />
modelo fotográfico de “Do Tamanho do<br />
Mundo”, de Carlos Pinto Coelho. E mais<br />
uma vez o tamanho do mundo a chama e<br />
Myriam parte, em 1996, viajando durante um<br />
ano com saltimbancos pela Europa.<br />
Depois de várias digressões como solista<br />
pela Europa e das aulas regulares em<br />
Bruxelas, Myriam chega a Serpa, em 2002,<br />
contratada pela autarquia local como<br />
assessora cultural e professora de dança. O<br />
agito na Vila Branca começou. Aqui dá aulas<br />
nas escolas do concelho para cerca de 60<br />
alunas e co-produz com a Baal 17 “A História<br />
de Yanarava”. é também em Serpa que<br />
concebe e realiza o Festival “Wild Women´s<br />
World” que, infelizmente, contou apenas com<br />
duas edições. Myriam Szabo acabaria por<br />
voar mais para Sul, para o Centro de Retiro<br />
Budista Karuna, em Monchique.<br />
Novamente o apelo do vento, e o espírito<br />
criador livre e Myriam parte para Bruxelas,<br />
renunciando à produção de eventos<br />
e dedicando-se exclusivamente ao<br />
desenvolvimento do projecto Dança Duende<br />
e à direcção artística do grupo Salamantras<br />
(Myriam Szabo, Carolina Fonseca e Mónica<br />
Roncon), projecto criado por Myriam Szabo<br />
em 2002 e que, tendo começado como<br />
uma formação de dança Zíngaroriental<br />
na Península Ibérica, o evoluiu para uma<br />
abordagem da dança como um caminho,<br />
uma via para a transformação das emoções<br />
e para o alcance do bem-estar e da<br />
felicidade, unindo técnicas e conhecimentos<br />
de disciplinas ancestrais, tais como o Kung-<br />
Fu, o Chi Gong ou o Bharata-Natyam.<br />
De quando em vez, muito raramente,<br />
Myriam regressa a Portugal. Não pára. é<br />
difícil saber onde a encontrar hoje e se lá<br />
estará ainda amanhã. Ainda há muitas rotas<br />
por percorrer, muitos caminhos por explorar.<br />
“Acho que tenho um objectivo na vida<br />
que é bastante esquisito. Um dia, quando<br />
morrer queria estar satisfeita. Estar pronta<br />
para isso sem problemas de consciência.<br />
Entretanto, gostava de perceber os outros e<br />
não ser egoísta”.<br />
AAL COM MYRIAM SZABO
BAAL DESBOCADO 9<br />
O StAND UPER<br />
Por Desbocado Doidinho<br />
COM UP<br />
INDECISO<br />
SEM FUTURO<br />
SEM UP<br />
Eu queria ser um Stand Uper com piada. Ou<br />
mesmo um Stand Uper sem piada.<br />
é uma profissão de futuro. Os americanos,<br />
esse povo empreendedor, rico em cultura<br />
e de longa história, fazem isto há dezenas<br />
de anos, e toda a gente sabe que o que é<br />
americano é bom. E eu não quero arriscar<br />
numa profissão sem futuro.<br />
Tenho vindo a estudar esta matéria<br />
atentamente: as ditas profissões com saída.<br />
E penso que saída quer dizer, no caso da<br />
profissão, sucesso, resmas de dinheiro<br />
e reconhecimento público, a satisfação<br />
pessoal não é para aqui chamada. Se tenho<br />
que trabalhar, então que o trabalho, se for<br />
árduo, se traduza em capital para o meu<br />
bolso e o resto são cantigas. Até porque,<br />
pelo que vejo, Stand Uper é uma profissão<br />
muito sofredora, sempre de pé, estão<br />
sozinhos e desamparados, eles transpiram,<br />
eles enganam-se no que dizem, a tensão é<br />
óbvia e não raro entaramela-se-lhes a voz,<br />
é mesmo um trabalho para verdadeiros<br />
homens, facto atestado pela quase<br />
inexistência de mulheres a fazê-lo.<br />
Há muitos artistas em Portugal, não sei se<br />
demais ou se de menos, mas artistas de<br />
Stand Up há poucos, pouquinhos. O que<br />
é bom, pelo menos para mim que quero<br />
enveredar pela profissão.<br />
Há algum tempo fui a uma festa, daquelas<br />
que duram uma semana com muitos<br />
espectáculos e têm preocupações<br />
culturais, mas também políticas, muito<br />
altas. Fui assistir a alguns desses<br />
espectáculos. E qual não é o meu espanto:<br />
o público num certo dia esgotou o recinto<br />
para ver 1 (um) Stand Uper e não apareceu<br />
no outro dia para ver um espectáculo dito<br />
de “teatro convencional” com quase 12<br />
(uma dúzia) de actores em cena. Imagino<br />
que o cachet daquele Stand Uper seja<br />
bem merecido e proporcional ao seu<br />
sucesso: um verdadeiro Stand Uper de<br />
massas. Para mim, este episódio é um bom<br />
indicador, não sei muito bem de quê, mas<br />
definitivamente um bom indicador.<br />
E depois há todo o resto… Eu sou feio,<br />
admito. Mas para Stand Up quanto mais<br />
feio melhor. Aliás, no Stand Uper o feio<br />
fica bonito. O Stand Uper não precisa<br />
de estudar, apenas de tentar e persistir,<br />
não precisa de ter talento, apenas<br />
descaramento, não precisa de saber falar e<br />
se for alarve tanto melhor.<br />
Se eu começar agora, já, num qualquer<br />
programinha de TV (que não deve ser<br />
difícil), aposto que lá para o fim do<br />
ano já darei a cara por alguma marca<br />
publicitária, farei tournée por todo o<br />
país, e para aqueles que não tiverem<br />
oportunidade de assistir ao vivo aos meus<br />
espectáculos terei uma linha telefónica de<br />
valor acrescentado e dois DVD editados<br />
onde contarei muitas e boas piadas.<br />
Isto do Stand Up não é novo cá por<br />
Portugal, quem não se lembra das velhas<br />
histórias do Raul Solnado? Mas acho que<br />
o homem se esforçava demais, coitado, e<br />
aquilo era muito rebuscado. Nem sempre<br />
o trabalho e o talento são sinónimos<br />
de qualidade. O certo é que não se lhe<br />
deu muita importância e a coisa não<br />
vingou. Até agora… Porque agora tudo é<br />
diferente. Agora somos um país da linha<br />
da frente. E há certas preocupações<br />
culturais demasiado profundas que não<br />
são mais necessárias. Basta de sensaboria<br />
e de velhas formas que deveriam estar<br />
enterradas há milhares de anos. Viva a<br />
simplicidade. Viva a oratória e a capacidade<br />
de improviso. Viva o individualismo.<br />
Vivam os homens empreendedores que<br />
orgulhosamente sós enfrentam as massas.<br />
Vou parar por aqui, porque senão ainda<br />
acabo no Iraque a lutar pela democracia.<br />
Pois é, estou decidido. Este é o momento<br />
ideal para começar, o riso está na moda.<br />
E há lá coisa mais risível que um<br />
Stand Uper português?
BAAL EM BANHO MARIA<br />
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de trabalho? Quer fazer parte desta família? Então não hesite, preencha o destacável e envie para: Baal 17 Cine-Teatro Municipal Apartado<br />
113 7830 Serpa, ou envie um e-mail com as palavras Informação e/ou Baalzine para baalzine@gmail.com.<br />
Nome<br />
ª EDIçãO DA MOSTRA DE TEATRO<br />
NO OUTONO – FOLhA CAíDA<br />
De 6 a 7 de Outubro. Cine-Teatro Municipal de Serpa<br />
Depois de uma primeira edição,<br />
em 2006, e em que o balanço foi<br />
por demais positivo, a Baal 17 volta<br />
a organizar conjuntamente com a<br />
Câmara Municipal de Serpa a Mostra<br />
de Teatro de Outono – Folha Caída.<br />
Temos como objectivo a criação de<br />
novos públicos para o Teatro, pelo que<br />
na programação<br />
PãO<br />
Criação colectiva<br />
Nenhum outro alimento, antes ou<br />
depois da sua descoberta, dominou<br />
tanto o mundo como o pão. O Pão<br />
que triunfou ao longo dos tempos,<br />
que ultrapassou guerras, conquistou<br />
povos e dominou o mundo.<br />
Que histórias há para contar do pão?<br />
O pão, que faz viver o homem, que só<br />
pode sobreviver pela mão do homem.<br />
O Homem, que sobre o assento de<br />
aço do tractor, já não parece um<br />
homem. O Homem que já não lavra,<br />
faz com essa máquina uma cirurgia<br />
à terra que ecoa pelos campos,<br />
inseparável do ar e da terra que com<br />
Idade Profissão<br />
apostamos em espectáculos que<br />
abranjam o público escolar, desde<br />
o pré-escolar ao secundário, com<br />
marcações específicas para os<br />
estabelecimentos de ensino, onde se<br />
pretende, também, fazer do palco um<br />
espaço de análise, de aprendizagem<br />
e, igualmente, de convívio com a arte, e<br />
com os protagonistas do espectáculo.<br />
eles vibravam em uníssono. O Homem<br />
sentado no seu acento metálico,<br />
orgulhoso das linhas rectas que não<br />
é ele a traçar, orgulhoso do tractor<br />
que não lhe pertence, orgulhoso da<br />
potência que não controla.<br />
E quando a seara cresce e depois<br />
é ceifada, ninguém chegou a pegar<br />
num torrão húmido com as mãos<br />
para o desfazer e deixar escorregar<br />
a terra por entre os dedos. Nenhuma<br />
mão humana tocou na semente,<br />
ninguém chegou a amar a terra. O<br />
homem come aquilo que não fez<br />
crescer. Já não há ligação entre o<br />
Morada<br />
Localidade<br />
E-mail<br />
Código Postal<br />
Pretendo receber Informação<br />
Comentário à Baalzine (opcional)<br />
Baalzine<br />
O estabelecimento de pontes artísticas<br />
com outras companhias de teatro, é<br />
igualmente razão de ser desta mostra<br />
de teatro, que, em 2007, conta com<br />
as participações do Projecto Ruínas,<br />
da Urze Teatro, Companhia de Teatro<br />
de Portalegre O Semeador, A Bruxa<br />
Teatro, Art’ Imagem, AL-MaSRAH<br />
Teatro e Cendrev.<br />
Homem e o pão que levava à boca.<br />
“Pão” será um espectáculo criado<br />
a partir de pesquisas realizadas<br />
em torno das histórias e história do<br />
pão, e onde se pretende explorar a<br />
importância deste alimento dando<br />
principal destaque à sua história no<br />
Alentejo, à sua evolução tecnológica<br />
e cultural, política e social,<br />
económica e psicológica, através da<br />
exploração dramatrgica do seu ciclo,<br />
envolvendo-o como personagem<br />
principal numa viagem aos trabalhos<br />
da terra, ao homem e ao seu contexto<br />
político, religioso, social e místico.