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História breve dos pigmentos: 4 - Sociedade Portuguesa de Química

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parar a espécie violeta e, em seguida,<br />

expondo os trapinhos com esta espécie<br />

a vapores amoniacais provenientes <strong>de</strong><br />

urina putrificada.<br />

Convém notar que a planta Chrozophora<br />

tinctoria é hoje conhecida pelo nome <strong>de</strong><br />

tornassol, o que tem criado alguma con-<br />

fusão com certas espécies <strong>de</strong> líquenes<br />

produtores <strong>de</strong> uma tintura vermelho-<br />

violácia, <strong>de</strong>signadas em França pelo<br />

nome genérico <strong>de</strong> orseille (que se aplica<br />

também às respectivas preparações tin-<br />

toriais), algumas das quais – como por<br />

exemplo a Roccella tinctoria DC e outras<br />

semelhantes – se usavam e usam ainda<br />

para fabricar o tornesol empregado<br />

como indicador ácido-base.<br />

De acordo com Cardon [20], a colora-<br />

ção do folium, tal como a das tinturas<br />

<strong>dos</strong> referi<strong>dos</strong> líquenes, é <strong>de</strong>vida aos<br />

<strong>de</strong>riva<strong>dos</strong> orceicos que o constituem,<br />

<strong>de</strong>signadamente aos representa<strong>dos</strong> nas<br />

figuras 10 e 11.<br />

No entanto, o folium po<strong>de</strong> distinguir-se<br />

<strong>de</strong> tais tinturas mediante análise quí-<br />

mica, dado que contém um colorante<br />

alifático que não existe naquelas. Esta<br />

circunstância tem permitido i<strong>de</strong>ntificá-lo<br />

nalguns manuscritos em “pergaminho<br />

purpúreo” da Alta Ida<strong>de</strong> Média (fig. 12)<br />

bem como em manuscritos ilumina<strong>dos</strong><br />

data<strong>dos</strong> <strong>dos</strong> séculos IX-XI.<br />

É interessante notar que, em meio ácido<br />

(pH 2,5), os cromóforos do folium e do<br />

tornesol formam um catião vermelho<br />

vivo por adição <strong>de</strong> um protão e que, em<br />

meio alcalino, formam um anião azul-<br />

violeta por subtracção <strong>de</strong> um protão (fig.<br />

13).<br />

De acordo com Thompson [18] conhe-<br />

cem-se poucos indícios, quer acha<strong>dos</strong><br />

em fontes literárias quer obti<strong>dos</strong> em<br />

análises <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> arte, <strong>de</strong> que o fo-<br />

lium vermelho tivesse <strong>de</strong>sempenhado<br />

um papel importante na pintura medie-<br />

val.<br />

Laca <strong>de</strong> hera<br />

Na receita n o 184 contida no tratado De<br />

coloribus faciendis do monge Petrus <strong>de</strong><br />

Figura 10 Estruturas da α‑amino‑orceína, R = NH 2 ; e α‑hidroxiorceína, R = OH.<br />

S. Au<strong>de</strong>mar [9a] fala-se <strong>de</strong> um líquido<br />

extraído <strong>de</strong> ramos <strong>de</strong> hera o qual, uma<br />

vez fervido com urina, adquire a cor <strong>de</strong><br />

sangue e é <strong>de</strong>signado igualmente por<br />

laca. Do mesmo líquido e da mesma<br />

laca se fala também na Tabula <strong>de</strong> vo-<br />

cabulis sinonimis et equivocis colorum<br />

ecc. que, tal como uma cópia daquele<br />

tratado, faz parte <strong>dos</strong> manuscritos <strong>de</strong><br />

Jehan le Begue [9a, p. 18].<br />

Curiosamente, porém, apesar <strong>de</strong><br />

Thompson [15] e Roosen-Runge [32]<br />

terem efectuado várias tentativas para<br />

preparar uma laca com base em tal re-<br />

ceita, nunca foram capazes <strong>de</strong> obtê-la.<br />

É possível, portanto, que a laca referida<br />

nos cita<strong>dos</strong> manuscritos não fosse pro-<br />

duzida a partir da hera mas sim a partir<br />

<strong>de</strong> uma outra planta que não se conse-<br />

guiu ainda i<strong>de</strong>ntificar.<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

Agra<strong>de</strong>ce-se à Doutora Maria João Melo<br />

a amabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ler criticamente o ori-<br />

Figura 11 Estruturas da β‑ e γ‑amino‑orceínas, R = NH 2 ; β‑ e γ‑hidroxiorceínas, R = OH; e β‑ e γ‑amino‑orceíminas, R = NH 2 ‑O‑NH 2 + .

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