Mamíferos
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<strong>Mamíferos</strong><br />
1. Caracterização geral dos mamíferos<br />
Os mamíferos constituem o mais moderno grupo de vertebrados, estando representados a nível mundial por<br />
cerca de 4500 espécies, muitas das quais se encontram ameaçadas de extinção. Estes animais apresentam<br />
como principal particularidade o facto de alimentarem as crias com as secreções de glândulas cutâneas<br />
especializadas designadas de glândulas mamárias. Um outro carácter exclusivo deste grupo é a posse de<br />
pêlos, que, no entanto, em algumas espécies podem faltar secundariamente. Os pêlos, além da sua função<br />
principal, como estruturas de termo-isolamento, servem também como órgãos do sentido do tacto, uma vez<br />
que na sua raiz se localizam terminações nervosas sensoriais.<br />
Figura 1: A – Gamo, Dama dama; B – Roaz-corvineiro, Tursiops truncatus<br />
Os mamíferos são, como as aves, animais de sangue quente possuindo uma temperatura interna constante,<br />
característica que é responsável pela enorme capacidade de adaptação das espécies deste grupo a<br />
diferentes habitats. A maioria dos mamíferos são animais terrestres, porém um número considerável de<br />
espécies como os golfinhos, baleias e focas adaptou-se, de um modo mais ou menos exclusivo, à vida<br />
aquática, outras, como os morcegos, desenvolveram a capacidade de voar.<br />
2. Os mamíferos da serra da Estrela<br />
Inventariação e caracterização de áreas florestais naturais do concelho de Seia<br />
– bases para a criação de uma rede de microrreservas {<br />
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A B
Embora a fauna de mamíferos da serra se encontre empobrecida em relação ao passado, em particular no<br />
que diz respeito a animais de maior porte, como o lobo (Canis lupus), este grupo ainda está representado<br />
por cerca de 49 espécies: sete de insectívoros, 19 de morcegos, dez de roedores, duas de lagomorfos, uma<br />
de artiodáctilo e 11 de carnívoros. De entre as várias espécies destacam-se a toupeira-de-água (Galemys<br />
pyrenaicus), o gato-bravo (Felis silvestris), a lontra (Lutra lutra) e sete morcegos, pelo facto de<br />
apresentarem um estatuto de conservação a nível global mais preocupante.<br />
Tabela I – <strong>Mamíferos</strong> que ocorrem no PNSE<br />
Ordem Família Nome Científico Nome Comum E. C. (a)<br />
Insectivora<br />
Rodentia<br />
Talpidae<br />
Inventariação e caracterização de áreas florestais naturais do concelho de Seia<br />
– bases para a criação de uma rede de microrreservas {<br />
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Galemys pyrenaicus Toupeira-d’água VU<br />
Talpa occidentalis Toupeira LC<br />
Erinaceidae Erinaceus europaeus Ouriço-cacheiro LC<br />
Soricidae<br />
Sorex granarius<br />
Musaranho-ibérico-de-dentes-<br />
vermelhos<br />
Sorex minutus Musaranho-anão-de-dentes-vermelhos DD<br />
Crocidura russula Musaranho-de-dentes-brancos LC<br />
Neomys anomalus Musaranho-d’água DD<br />
Sciuridae Sciurus vulgaris Esquilo LC<br />
Muridae<br />
Lagomorpha Leporidae<br />
Microtus agrestis Rato-do-campo-de-rabo-curto LC<br />
Microtus lusitanicus Rato-cego LC<br />
Microtus duodecimcostatus Rato-cego-mediterrânico LC<br />
Apodemus sylvaticus Rato-do-campo LC<br />
Arvicola sapidus Rato-d’água LC<br />
Mus domesticus Rato-caseiro LC<br />
Mus spretus Rato-das-hortas LC<br />
Rattus norvegicus Ratazana NA<br />
Gliridae Eliomys quercinus Leirão-dos-pomares DD<br />
Oryctolagus cuniculus Coelho-bravo NT<br />
Lepus granatensis Lebre LC<br />
Canidae Canis lupus Lobo EN<br />
DD
Carnivora<br />
Inventariação e caracterização de áreas florestais naturais do concelho de Seia<br />
– bases para a criação de uma rede de microrreservas {<br />
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Vulpes vulpes Raposa LC<br />
Viverridae Genetta genetta Gineta LC<br />
Felidae Felis silvestris Gato-bravo VU<br />
Mustelidae<br />
Meles meles Texugo LC<br />
Lutra lutra Lontra LC<br />
Martes martes Marta DD<br />
Martes foina Fuinha LC<br />
Mustela putorius Toirão DD<br />
Mustela nivalis Doninha LC<br />
Herpestidae Herpestes ichneumon Sacarrabos LC<br />
Artiodactila Suidae Sus scrofa Javali LC<br />
Chiroptera<br />
Rhinolophidae<br />
Vespertilionidae<br />
Rhinolophus ferrumequinum Morcego-de-ferradura-grande VU<br />
Rhinolophus hipposideros Morcego-de-ferradura-pequeno VU<br />
Rhinolophus euryale Morcego-de-ferradura-mediterrânico CR<br />
Myotis myotis Morcego-rato-grande VU<br />
Myotis blythii Morcego-rato-pequeno CR<br />
Myotis nattereri Morcego-de-franja VU<br />
Myotis daubentonii Morcego-d’água LC<br />
Myotis emarginatus Morcego-lanudo DD<br />
Nyctalus noctula Morcego-arborícola-grande DD<br />
Nyctalus leisleri Morcego-arborícola-pequeno DD<br />
Eptesicus serotinus Morcego-hortelão LC<br />
Pipistrellus pipistrellus Morcego-anão LC<br />
Pipistrellus kuhlii Morcego-de-Kuhl LC<br />
Hypsugo savii Morcego-de-Savi DD<br />
Plecotus auritus Morcego-orelhudo-castanho DD<br />
Barbastella barbastellus Morcego-negro DD<br />
Miniopteridae Miniopterus schreibersi Morcego-de-peluche VU<br />
Molossidae Tadarida teniotis Morcego-rabudo DD<br />
(a) E. C. – Estatuto de Conservação: LC – Pouco Preocupante; EN – Em Perigo; VU – Vulnerável; NT – Quase Ameaçado; CR –<br />
Criticamente em Perigo; DD – Informação Insuficiente; NA – Não aplicável.
A<br />
Figura 2: A – Javali, Sus scrofa; B – Lobo-ibérico, Canis lupus signatus<br />
A toupeira-de-água é uma espécie que surge associada a rios e ribeiras de correntes rápidas e águas com<br />
teores de oxigénio elevados, apresentando uma distribuição alargada na área do PNSE, porém as suas<br />
populações deverão ser pouco abundantes.<br />
O gato-bravo deverá ser uma das espécies de carnívoros mais raras da serra, havendo pouca informação<br />
disponível sobre a distribuição e abundância das suas populações.<br />
A lontra apresenta uma distribuição muito alargada na área do parque tendo sido detectados indícios da sua<br />
presença nos principais rios como o Mondego, Alva e Zêzere e em muitos dos seus afluentes. Também as<br />
principais lagoas e albufeiras da serra constituem locais importantes de ocorrência da espécie, em particular<br />
durante o Verão, desde que possuam fauna piscícola abundante e apresentem coberto vegetal nas<br />
margens que proporcione abrigo.<br />
Figura 3: A – Morcego-de-ferradura-mediterrânico, Rhinolophus euryale; B – Lontra, Lutra lutra<br />
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A B<br />
B
No caso dos morcegos são as espécies de hábitos cavernícolas que se encontram mais ameaçadas e que<br />
por isso merecem uma maior atenção por parte das entidades responsáveis pela conservação da natureza.<br />
Neste sentido, os abrigos subterrâneos onde ocorrem as colónias de criação e hibernação deverão ser<br />
protegidos de modo a assegurar a preservação das populações que aí ocorrem.<br />
3. Observação de <strong>Mamíferos</strong><br />
Para a recolha de informação no campo relativa à presença de mamíferos, numa determinada área, podem<br />
ser utilizados métodos directos que se baseiam na observação dos indivíduos, e/ou indirectos, que têm por<br />
base os indícios da sua presença como pegadas, rastos, trilhos, tocas e a análise de dejectos.<br />
Figura 4: A – Pegada de gamo; B – Cama de javali<br />
Os carnívoros, os artiodáctilos, e os lagomorfos caracterizam-se por apresentarem, na sua maioria,<br />
comportamentos secretivos, hábitos nocturnos ou uma relativa raridade, sendo por isso bastante difícil a<br />
observação directa de indivíduos destes grupos. Deste modo, a recolha de informação acerca da presença<br />
destas espécies deve basear-se na prospecção de indícios de presença como excrementos, pegadas e<br />
tocas.<br />
Quanto ao estudo dos micromamíferos, grupo que inclui os roedores e os insectívoros, sendo muito difícil a<br />
recolha de informação torna-se necessária a adopção de metodologias específicas que permitam a<br />
detecção e identificação destas espécies.<br />
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A B<br />
A B
Figura 5: A – Rato-do-campo, Apodemus sylvaticus; Toupeira, Talpa occidentalis<br />
Relativamente aos micromamíferos de entre os vários métodos de estudo os mais expeditos e com maior<br />
sucesso são a armadilhagem e a análise dos hábitos alimentares dos principais predadores destes animais.<br />
Existem essencialmente dois grupos de armadilhas: as que matam e que incluem as armadilhas de “tipo<br />
americano”, vulgarmente designadas por guilhotina; e, as que capturam os indivíduos vivos como as<br />
Sherman, Longworth e de tubos, estas para animais de hábitos fossoriais. O número e tipo de armadilhas a<br />
empregar deve ser seleccionado, atendendo aos hábitos e dimensões dos indivíduos em estudo, bem como<br />
ao objectivo do trabalho. O primeiro tipo de armadilhas deverá ser utilizado, sempre que possível, em<br />
detrimento do segundo, pois não provoca a morte dos animais, porém tem o inconveniente de exigir uma<br />
inspecção diária das armadilhas instaladas.<br />
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– bases para a criação de uma rede de microrreservas {<br />
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A<br />
Figura 6 – A, B e C – Armadilhas do tipo Sherman<br />
C<br />
B
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Figura 7 – Armadilha do tipo Longworth<br />
Figura 8 – Armadilha do tipo de tubo.<br />
Figura 9 – Armadilha de guilhotina.<br />
As rapinas, em especial as nocturnas e os predadores de médio porte como a raposa, a gineta ou a fuinha<br />
incluem na sua dieta alimentar um elevado número de micromamíferos. Assim, o estudo dos seus hábitos<br />
alimentares permite obter dados, nomeadamente de distribuição e abundância relativos aos pequenos<br />
mamíferos. São particularmente interessantes os resultados obtidos através do estudo das regurgitações de<br />
mochos e corujas. As regurgitações são os restos não digeríveis das presas como penas, pêlos, carapaças<br />
de insectos e ossos, apresentando-se, em geral, o crânio e mandíbulas dos micromamíferos quase intactos<br />
o que permite uma fácil diagnose das espécies.
Bibliografia<br />
Reichholf, Dr. Josef (1983). O Mundo da Natureza – <strong>Mamíferos</strong>. Editorial Publica.<br />
Cabral, M. J. (coord); Almeida, J.; Almeida, P. R.; Ferrand de Almeida, N.; Oliveira, M. E.; Palmeirim, J. M.;<br />
Queiroz, A. I.; Rogado, L.. & Santos-Reis, M. (eds.) (2006). Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. 2ª<br />
ed. Instituto da Conservação da Natureza/Assírio & Alvim. Lisboa. 660 pp.<br />
Capucha, Dr. José (2000). Revisão do Plano de Ordenamento do Parque Natural da Serra da Estrela.<br />
Volume 1 – Relatório. Instituto da Conservação da Natureza.<br />
MacDonald, David; Barret, Priscilla (1999). Guias FAPAS <strong>Mamíferos</strong> de Portugal e Europa. INOVA Artes –<br />
Gráficas.<br />
Magalhães, Carlos; Trindade, Anabela (1987). Iniciação ao Estudo dos Micromamíferos – Parque Nacional<br />
da Peneda-Gerês. Tilgráfica – Soc. Gráfica, Lda.<br />
Inventariação e caracterização de áreas florestais naturais do concelho de Seia<br />
– bases para a criação de uma rede de microrreservas {<br />
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