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6 poemas de Laís Romero - dEsEnrEdoS

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[revista <strong>dEsEnrEdoS</strong> - ISSN 2175-3903 - ano IV - número 14 - teresina - piauí – julho agosto setembro <strong>de</strong> 2012]<br />

Poema da noite<br />

Noite<br />

calabouço voraz<br />

intermitente pedra nos olhos<br />

imagens ru<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong> o templo magnífico<br />

não se apresenta à vossa sombra<br />

Voraz<br />

antídoto das mágoas<br />

ruínas memórias suicidas<br />

entrevejo um possível <strong>de</strong> riso<br />

na amplitu<strong>de</strong> do <strong>de</strong>serto negro.<br />

Um <strong>de</strong>sejo<br />

é tudo que ronda tamanho espaço<br />

é tudo que mor<strong>de</strong> meu mamilo seco<br />

é tudo que ren<strong>de</strong> um faminto beijo<br />

e exaspero-me em sauda<strong>de</strong>s...<br />

Não mais aqui estamos<br />

as mãos soltas na aurora nervosa<br />

o suor <strong>de</strong>nso o peso<br />

o ambíguo jeito que me olhas agora...<br />

Noite<br />

calabouço voraz<br />

e me admiro ainda <strong>de</strong> tua fome<br />

do meu passo pesado<br />

tua mão enorme:<br />

uma sombra inva<strong>de</strong> o recinto<br />

e choro<br />

Voraz<br />

como as fian<strong>de</strong>iras<br />

se<strong>de</strong>ntas pelo corte<br />

como a se<strong>de</strong> espinhosa<br />

na língua aflita<br />

como o sacrifício on<strong>de</strong><br />

os <strong>de</strong>uses se alimentam.<br />

6 <strong>poemas</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Laís</strong> <strong>Romero</strong><br />

1


[revista <strong>dEsEnrEdoS</strong> - ISSN 2175-3903 - ano IV - número 14 - teresina - piauí – julho agosto setembro <strong>de</strong> 2012]<br />

De mim resta apenas<br />

o rosto do sujeito<br />

in<strong>de</strong>finido e criterioso<br />

a observar o escuro fosso<br />

<strong>de</strong> um poema inacabado.<br />

A noite é voraz silêncio<br />

indagações são ventos<br />

que animam os corpos.<br />

Estamos a um passo do <strong>de</strong>serto<br />

e meu corpo lá espera<br />

por um sopro do poeta.<br />

Estudo N° 01<br />

Às vezes, em suspensão,<br />

olho ao redor <strong>de</strong> tudo<br />

o que me faz ausente<br />

A queda é macia palavra<br />

e sequer te sinto, estranho,<br />

sentado ali.<br />

Estudo N° 02<br />

Nos levantamos juntos<br />

e ainda assim te ignoro...<br />

Meus motivos constantes<br />

são puramente verbais<br />

e o teu sorriso<br />

[uma afronta]<br />

não disse a que veio.<br />

Estudo N° 03<br />

Os olhos perdidos alteram-se<br />

em cores repartidas por paixão<br />

O vento atravessa meus <strong>de</strong>dos<br />

e perco o rumo em <strong>de</strong>lírios, em vão.<br />

Por quanto tempo mais <strong>de</strong>vo<br />

exigir dos meus domínios <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo?<br />

2


[revista <strong>dEsEnrEdoS</strong> - ISSN 2175-3903 - ano IV - número 14 - teresina - piauí – julho agosto setembro <strong>de</strong> 2012]<br />

Evoco <strong>de</strong>uses, aflição inconsolável,<br />

aperto <strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>dos fibras<br />

vasos tortuosos entre carnes<br />

E não há portas para on<strong>de</strong> te carrego<br />

nem te escuto os reclames e elogios.<br />

O querer é um <strong>de</strong>safio necessário<br />

que moldo o vento, se possível,<br />

no conhecido rosto do inefável.<br />

Estudo n°07<br />

Dos teus duros olhos <strong>de</strong> âmbar<br />

escapa a minha dança<br />

e sobram outros segredos.<br />

Duros aspectos do medo<br />

sinto meu pulso revidar<br />

um ritmo atravessado em garganta<br />

e ainda em dança em dança<br />

no âmbar dos nossos anseios.<br />

Temporário<br />

Revisito o templo vazio<br />

E sonho comigo criança:<br />

bacias <strong>de</strong> alumínio<br />

laranjas<br />

o chuveiro atroz<br />

num quintal cinzento<br />

assobios para chamar o vento<br />

lembro<br />

em tom saboroso e sombrio.<br />

_______________________<br />

<strong>Laís</strong> <strong>Romero</strong> é mãe e professora <strong>de</strong> Literatura.<br />

3

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