O primo Basílio

Eça de Queirós
(1845-1900)

Contexto Sócio-histórico e cultural:
•Crise na economia portuguesa ( exportação) decorrente
da emancipação do Brasil em 1822;
•Revolta de camponeses insatisfeitos com o atraso
(1846-1847);
•Período da Regeneração: política liberal; urbanização;
desenvolvimentismo econômico; aumento da produção
agrícola;
•Valorização da cultura e da educação;
•Aumento do consumo de jornais (democratização da
cultura);
•Desenvolvimento do jornalismo (período áureo);
•Ampliação de público leitor como impulsionador do
desenvolvimento do romance.

Características estruturais do romance:
Narrador: 3ª pessoa onisciente;
Predomínio da linearidade cronológica;
Espaço: Lisboa; Viagem de Jorge (Alentejo, Évora,
Beja); passado de Luísa( Sintra); viagens de Basílio
(Constantinopla, a Terra Santa, Roma, Veneza,Escócia,
Paris e Brasil;
Linguagem: padrão culto, elevado, exato e dinâmico;
Objetividade do escritor em retratar a relidade;
A representação das personagens por tipos e não por
indivíduos (não há o gosto pelo psicologismo);
A descrição de ambientes, assim como de
personagens e detalhismo;
Narrativa lenta e ironia;
Contemporaneidade e historicismo.

Personagens:
Personagens principais:
Luísa: representa a transposição para a ficção das idéias sobre
a educação da mulher expostas com intenção moralizante. É
frágil, sonhadora, sentimental, preguiçosa, vaidosa e ociosa
(temperamento romântico e burguês). Incapacidade de ação e
de reflexão
Basílio: “um maroto, sem paixão nem a justificativa da sua
tirania, que o que pretende é a vaidadezinha de uma aventura e
o amor grátis”. É um janota ou dândi. Um Don Juan cínico e
viajado.

Jorge: homem sério e caseiro personalidade pacata, mansa,
dividida entre o que realmente sente e o papel social do homem
casado, de engenheiro. Possui a moral do homem (hipocrisia no
adultéiro).
Juliana: “o caráter mais completo e verdadeiro do livro”, na
opinião de Machado de Assis.
“Devia ter quarenta anos, era muitíssimo magra. As feições
espremidas, tinham a amarelidão de tons baços das doenças de
coração. Os olhos grandes, encovados, rolavam numa
inquietação, numa curiosidade, raiados de sangue, entre
pálpebras sempre debruadas de vermelho. Usava uma cuia de
retrós imitando tranças, que lhe fazia a cabeça enorme. Tinha um
tique nas asas do nariz”.
É a mulher do povo, a criada que jamais aceita sua
condição e revolta-se contra ela. É rancorosa e amarga.

Personagens secundários:
Conselheiro Acácio: responsável pela popularidade que o
romance alcançou. É caricato, exagerado e ridículo.Suas frase
feitas revelam o vazio das idéias. É uma sátira queirosiana à
incapacidade mental da classe dirigente. È o discurso vazio, a
vacuidade portanto.
Ernesto Ledesma: segundo Eça representa a “literaturinha
acéfala. Obra e aspecto físico revelam fraqueza. Crítica ao
Romantismo em Portugal.
D. Felicidade: fidalga representa a alta sociedade. Aos
cinqüenta anos, gorda e branca, com os cabelos começando a
branquear, queixa-se de dispepsia e gases. Tem uma paixão
sensual e não correspondida pelo Acácio. Religiosa recorre a
uma bruxa para conseguir o amor do Conselheiro.

Leopoldina: representa a mulher decaída, sem moral, e no ínicio
da narrativa é o oposto da amiga Luísa. Comportamento e idéias
são ousados para a época (tem amantes, não quer ter filhos,
fuma, detesta padres).
Julião: médico e intelectual positivista. Tem inveja de Jorge. Seu
comportamento revela frieza e insensibilidade pela dor alheia.
Crítica queirosiana ao cientificismo da época.
Sebastão: contraponto aos demais por representar o bem. É
honesto e simples, casto e respeitoso em relação às mulheres.
Demonstra consciência da injustiça social, da diferença entre
pobres e ricos.

Alegoria metalingüística relevante:
O drama em cinco atos Honra e paixão, de Ernesto
Ledesma gira em torno de um adultério e corre
paralelo ao adultério de Luísa. Encenado com grande
sucesso, nele a heroína adúltera é perdoada,
enquanto Luísa, na vida real, é punida.

Síntese do
Enredo

Início da ação:
Final de manhã / Início de tarde de domingo em Julho :
Término do almoço entre Luísa e Jorge.
(Clima sonolento, ocioso e quente)
Retorno ao Passado:
Identificação de Luísa:
Tem vinte e cinco anos; casada há três com Jorge, engenheiro
de minas;
Revelações:
Amores de Luísa: Jorge não foi seu primeiro amor;
Amor de Verão em Sintra: aos dezoito anos tem um “affaire”
com seu primo Basílio;
Perda da fortuna de Basílio: embarque para o Brasil
buscando nova riqueza.

Rompimento do namoro: Basílio envia carta a Luísa e a faz
sofrer muito;
Casamento de Luísa com Jorge: após três anos, Luísa
casa sem amor;
Moral burguesa: casal sem filhos tem vida calma e
confortável;
Espaço: casa herdada por Jorge;
Empregadas: Joana, cozinheira; Juliana, amarga e
detestada por Luísa, ,mas não pode despedir porque havia
cuidado devotadamente de uma falecida tia de Jorge.
Costumes do casal: Reuniões em casa, nas tardes de
domingo, os poucos amigos de Jorge (Julião, d. Felicidade,
conselheiro Acácio, Sebastião, Ernesto Ledesma);
Desafeto de Jorge: as visitas de Leopoldina nas ausências
de Jorge ( intolerância devido a má reputação de Leopoldina
por trair o marido).

Retomada da linearidade:
Retorno à tarde inicial de domingo:
Visita de Leopoldina(pão e queijo): amiga íntima de Luísa que
a visita na ausência de Jorge;
Comentários de Juliana: a empregada conta, ao Jorge, sobre
a visita de Leopoldina ;
Recomendações de Jorge: em nome dos vizinhos e da
decência não quer que Luísa receba Leopoldina;
Censura de Luísa: Adverte a empregada sobre seu
comentários;
Cavaqueira: detalhes da festa na casa de Jorge e Luísa;
Leitura de trechos do drama Honra e paixão (drama em Cinco
atos), por Ernestinho;
Delaração de Jorge: favorável à morte da heroína como
punição do adultério (Luísa escuta).
Conversa reservadade Jorge: preocupado com a viagem,
pede ao amigo Sebastião que cuide de Luísa em sua ausência.

Viagem de Jorge para trabalhar na região do Alentejo.
Vai contrariado,nunca havia se afastado da mulher;
Reações de Luísa (12 dias de ausência do marido):
ócio, tédio, sente-se uma viúva (insegurança);
Visitas a Leopoldina e chegada de Basílio (hospedado
no Hotel Central): o janota representa a aventura, a
sedução e conta que viajou pelo Oriente e morou um ano
em Paris. Críticas ao Brasil e a Portugal.
Estratégia de sedução: presentes (rosário e luvas de
verão francesas); visitas diárias; recordações do tempo de
namoro; canta-lhe canções românticas sensuais e
perturbadoras; glamourização da vida “chic” de Paris; fala
sobre a “moda” das mulheres em ter “amante”.
Convites de Passeio: Basílio convida Luísa para passear
no campo; Luísa resiste e acaba aceitando. Assédio de
Basílio e a “enxaqueca” de Luísa que quer retornar para
Lisboa.

Advertência de Sebastião: os comentário dos vizinhos sobre
as visitas de Basílio exigiam cautela.
Carta de Leopoldina: agenda janta com Luísa;
Bilhete de Luísa após não aparecimento de Basílio a um
encontro: demonstra preocupação com a ausência do sedutor;
toca a campainha e Luísa pensa ser Basílio; amassa o bilhete
(coloca no seu vestido) e corre a porta: era Sebastião.
Chegada de Leopoldina para o jantar: bebem vinho e
champagne; confidências de Leopoldina a preparar a excitação
de Luísa; preparação do clima de adultério.
Chegada de Basílio: diz que vai embora pra preparar o clima;
Luísa entrega-se ao primo;
Descoberta de Juliana: percebe indícios da relação sexual
no local; descobre o bilhete no vestido de Luísa e devolve ao
bolso após a leitura;

Ingenuidade de Luísa e argumento para não se sentir
culpada pelo adultério: recebe carta de Basílio e idealiza o
amante; julga ter sido uma fatalidade o ocorrido, mas acredita
que Basílio lhe ama.
Nova carta de Luísa: Juliana anuncia a visita de d.
Felicidade; Luísa desconfiada pensa ser Jorge; amassa a
carta e joga no sarcófago (cesto); desespero pois não encontra
a carta.
Revolta de Juliana: rouba a carta e passará a chantagear a
patroa;
Surge o “Paraíso” em carta de Basílio: quarto barato
alugado por Basílio, local repugnante e sujo. Ninho de amor.
Rotina do adultério: todos os dias às duas horas; mesmo
decepcionada com o local, Luísa desculpa a economia do
amante por acreditar estar vivendo um grande amor.

Preocupação de Sebastião: Comentários sobre as saídas de
Luísa que justifica como visitas a d. Felicidade que está
hospitalizada.
Alívio de Sebastião: com a justificativa de Luísa passa a
espalhar pela vizinhança; elogios pela caridade de Luísa.
Desencanto de Luísa: depois de cinco semanas de encontros
diários, Luísa nota o desinteresse de Basílio e sua maneira
egoísta e pouco respeitosa com que a tratava.
Comparações de Luísa: entre Basílio e Jorge que nunca
deixara de amá-la, em três anos de casada. Sente-se humilhada.
Plano e revolta de Juliana: junto com tia Vitória, inculcadeira,
planeja chantagear Luísa e pedir um conto de réis a Basílio.
Basílio reconquista a confiança de Luísa: reatam a antiga
paixão, desgastada com a indiferença de Basílio pela amante.
Luísa sente-se em solidão: procura Leopoldina e vai a sua
casa; não encontra a amiga e, ao retornar, é seguida por um
homem de chapéu de palha e a toma por uma prostituta ( ou será
ela que tem sensação de sê-la?)

Choque com Juliana: Luísa reclama dos serviços da casa
por fazer (quarto por arrumar). Juliana feroz diz-lhe que as
cartas que a senhora escreve aos seus amantes, tenho-as eu
aqui!
Desespero de Luísa: não encontra Basílio no Hotel Central,
nem no Paraíso; pensa em fugir com o primo para Paris (“fugir
é bom nos romances”, diz Basílio e que ela ficaria desonrada.)
Desmaio de Luísa.
Humilhação de Luísa: após palavras duras Basílio oferece
trezentos mil réis e Luísa recusa,
Negação de Basílio à Luísa: nega-lhe um último pedido (o
de falar com Juliana.
Subterfúgio de Basílio: forja um telegrama e parte para
Paris.
Exigência de Juliana: pede seiscentos mil réis pelas cartas;
Luísa apela para Sebastião, no entanto perde a coragem;

Revelação das traições de Jorge: Luísa pede notícias de
Jorge, Sebastião tem duas cartas, atrapalha-se e entrega a Luísa
as confissões amorosas de Jorge.
Alternativas de Luísa para obter dinheiro: escreve carta ao
Basílio pedindo dinheiro (não obtém resposta); procura pelas
cartas no quarto de Juliana; compra bilhetes de loteria;
Submissão de Luísa: a ama cede aos caprichos da
empregada, presenteando-a com roupas que a criada há muito
invejava;
Retorno de Jorge: manda telegrama anunciando sua volta;
Pesadelos de Luísa: sonha que Jorge está a matando no
palco, posto que estão representando a peça de Ernestinho;
Recepção ao marido: Luísa recebe-o apaixonada, parecendo
amá-la mais do que antes;
Reações de Jorge: nota e censura os privilégios sempre
maiores dispensados a Juliana (havia trocado o quarto e
mobiliado);

Falsa prosperidade: Juliana, com as chantagens, sente-se
feliz e em verdadeiro progresso; trabalha com dedicação;
comentários na vizinhança sobre o tratamento excelente dado
aos empregados; Jorge recebe cartas de pessoas que se
oferecem para servi-lo.
Fragilidade de Luísa: entristecida, começa a emagrecer, tem
febres, desmaios, odiando a criada passa a fazer, escondida, as
tarefas da casa.
Juliana sofre um ataque do coração: a empregada era
doente; Jorge quer dispensá-la pois não queria que a mulher
morresse na casa deles.
Novo desespero de Luísa: pensa conseguir dinheiro com o
banqueiro Castro (apaixonado por ela); Leopoldina arranja um
encontro que Luísa fraqueja;
Demissão de Juliana: os desleixos da empregada forçam
Jorge a mandá-la embora; Luísa chora e a decisão é adiada por
quinze dias.

Último recurso de Luísa: recorre a Sebastião, pedindo-lhe
auxílio.
Plano de Sebastião: Luísa, Jorge, Acácio e Felicidade
deverão ir ao teatro assistir à ópera Fausto e, nesse instante, ele
com a ajuda de um policial vão até o quarto de Juliana para
reaver as cartas.
Desdobramentos: Sebastião tem sucesso em sua
empreitada. Consegue as cartas de Juliana que, ao se esforçar
na defesa dos documentos roubados, morre pois estoura o seu
aneurisma.
Chegada após a ópera: Sebastião, de forma discreta, dá a
notícia da morte de Juliana e da recuperação das cartas. Luísa
em gratidão beija a mão de Sebastião.
Enterro de Juliana: nenhuma suspeita pois a empregada era
doente, magra, fraca, debilitada e vivia em hospitais para tratar
da saúde e era esperada sua morte.

Declínio da saúde de Luísa: dores de
cabeça e febres inexplicáveis;
Cuidados de Jorge: o marido zela com
devoção da esposa; procura o médico Julião e
recebe uma carta de Paria que lê quando
chega em casa.
Descoberta do adultério: pela carta
(resposta) de Basílio, Jorge sofre muito por
ciúmes e mostra a carta do ex-amante.
Reação de Luísa: convalescente, com a forte
emoção da revelação, a esposa grita
roucamente desmaia.

Morte de Luísa: após tentativas, do Médico Julião,
em reanimá-la, na tarde do dia seguinte Luísa morre.
Desespero de Jorge e enterro de Luísa: o marido
arrepende-se, fecha a casa e hospeda-se com
Sebastião.
Retorno de Basílio: vai à casa de Luísa e tem a
notícia da fatalidade pelos vizinhos.
Retorno de Basílio ao hotel: conversa com
visconde Reinando e lamenta por não ter trazido sua
amante Alphonsine à medida que ficou sem mulher.
Indiferença total e hipocrisia: “E foram tomar
Xerez à Taverna Inglesa.”