Fluxos migratórios e formação da rede urbana de Roraima
Fluxos migratórios e formação da rede urbana de Roraima
Fluxos migratórios e formação da rede urbana de Roraima
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>Fluxos</strong> <strong>migratórios</strong> e <strong>formação</strong> <strong>da</strong> <strong>re<strong>de</strong></strong> <strong>urbana</strong> <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong> 1<br />
Alexandre M A Diniz 2<br />
Reinaldo Onofre dos Santos 3<br />
Resumo:<br />
Cravado na bacia do Rio Branco, o Estado <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong> manteve-se isolado do resto do Brasil<br />
por séculos, até que, recentemente, ligações mais perenes foram constituí<strong>da</strong>s, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando<br />
um ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro boom populacional. Atualmente a <strong>re<strong>de</strong></strong> é composta por 15 centros urbanos,<br />
sendo coman<strong>da</strong><strong>da</strong> pela ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Boa Vista. Uma <strong>da</strong>s características mais marcantes <strong>de</strong>sta<br />
<strong>re<strong>de</strong></strong> é o seu dinamismo. Novos núcleos urbanos vêm surgindo <strong>da</strong> floresta amazônica e <strong>da</strong>s<br />
savanas setentrionais a reboque <strong>de</strong> intensos fluxos i<strong>migratórios</strong> inter e intra-estaduais e <strong>da</strong>s<br />
profun<strong>da</strong>s transformações estruturais <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>a<strong>da</strong>s pelo avanço <strong>da</strong>s fronteiras agrícolas, que<br />
vêm promovendo substantivos movimentos do tipo campo-ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. O presente trabalho<br />
explora a constituição e funcionamento <strong>da</strong> <strong>re<strong>de</strong></strong> <strong>urbana</strong> do Estado <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong> e sua relação<br />
com os fluxos i<strong>migratórios</strong> intra e inter-estaduais <strong>da</strong>s déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong> 1970,1980 e 1990.<br />
Palavras-chave: <strong>re<strong>de</strong></strong> <strong>urbana</strong>, migrações, <strong>Roraima</strong> - Brasil<br />
Introdução<br />
No contexto amazônico, o Estado <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong> notabiliza-se por seu caráter remoto e<br />
por ser ain<strong>da</strong> <strong>de</strong>sconhecido <strong>de</strong> boa parte dos brasileiros. Outra peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong> é o fato <strong>da</strong><br />
maioria dos seus 225.116 km² encontrarem-se localizados no hemisfério norte. Apesar <strong>de</strong>ssas<br />
idiossincrasias, <strong>Roraima</strong> compartilha vários atributos e problemas com a região Amazônica,<br />
incluindo rápido <strong>de</strong>senvolvimento, programas <strong>de</strong> colonização, investimentos maciços em<br />
infra-estrutura, competição por recursos naturais, <strong>de</strong>struição <strong>da</strong> cobertura vegetal natural, e<br />
conflitos entre os vários grupos <strong>de</strong> interesse que operam na região (Furley e Mougeot, 1994).<br />
As profun<strong>da</strong>s transformações espaciais vivencia<strong>da</strong>s por <strong>Roraima</strong> ao longo <strong>da</strong>s últimas<br />
déca<strong>da</strong>s partejaram vertiginoso crescimento populacional, sobretudo via imigração,<br />
acompanhado <strong>de</strong> intensa concentração populacional em centros urbanos consoli<strong>da</strong>dos e<br />
embrionários, fato que culminou em número expressivo <strong>de</strong> emancipações municipais e na<br />
<strong>formação</strong> <strong>de</strong> uma <strong>re<strong>de</strong></strong> <strong>urbana</strong> altamente <strong>de</strong>sequilibra<strong>da</strong>.<br />
Vale lembrar neste momento que a expressão “<strong>re<strong>de</strong></strong> <strong>urbana</strong>” vem sendo usa<strong>da</strong>, <strong>de</strong><br />
maneira generaliza<strong>da</strong>, e nem sempre com a precisão necessária, em muitos estudos urbanos e<br />
regionais realizados principalmente após a Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial, no mundo oci<strong>de</strong>ntal<br />
(Amorim Filho e Diniz, 2005A). Sem querer entrar em polêmicas acerca <strong>da</strong>s diversas<br />
acepções do epíteto, o presente estudo adota como conceito <strong>de</strong> “<strong>re<strong>de</strong></strong> <strong>urbana</strong>” proposto por<br />
Corrêa (1996:93), que afirma que “a <strong>re<strong>de</strong></strong> <strong>urbana</strong> constitui-se no conjunto <strong>de</strong> centros urbanos<br />
funcionalmente articulados entre si.”<br />
Como se vê, o estudo <strong>da</strong>s <strong>re<strong>de</strong></strong>s <strong>urbana</strong>s trabalha com organizações hierárquicas e<br />
tipológicas <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s que as compõem, sendo lógica a afirmação <strong>de</strong> que quanto mais níveis<br />
hierárquicos possuir e quanto mais diferencia<strong>da</strong> e complementar for uma <strong>da</strong><strong>da</strong> tipologia<br />
<strong>urbana</strong>, mais complexa e, possivelmente, mais dinâmica será a <strong>re<strong>de</strong></strong> <strong>urbana</strong> (Amorim Filho e<br />
Diniz, 2005A).<br />
Pari-passu aos fluxos i<strong>migratórios</strong> inter e intra-estaduais e à <strong>formação</strong> <strong>da</strong> ain<strong>da</strong><br />
<strong>de</strong>sequilibra<strong>da</strong> <strong>re<strong>de</strong></strong> <strong>urbana</strong> <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>, encontram-se <strong>re<strong>de</strong></strong>s sociais ativas. Uma enre<strong>da</strong><strong>da</strong><br />
1 Os autores agra<strong>de</strong>cem ao Prof. Irineu Rangel Rigotti e o mestrando Járvis Campos, do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Geografia –<br />
Tratamento <strong>da</strong> In<strong>formação</strong> Espacial - PUCMinas, pelo apoio técnico na geração dos <strong>da</strong>dos empregados neste trabalho.<br />
2 PhD em Geografia. Professor Adjunto III – Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Geografia – Tratamento <strong>da</strong> In<strong>formação</strong> Espacial - PUCMinas<br />
3 Graduando em Geografia – UFMG.<br />
1
trama <strong>de</strong> <strong>re<strong>de</strong></strong>s sociais liga <strong>de</strong>stinos específicos em <strong>Roraima</strong> a uma miría<strong>de</strong> <strong>de</strong> origens<br />
igualmente específicas, sobretudo nos Estados do Maranhão, Pará e Amazonas.<br />
O presente trabalho resgata o processo <strong>de</strong> ocupação <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>, explorando a sua<br />
relação com os movimentos <strong>migratórios</strong> recentes, enfatizando o papel <strong>da</strong>s <strong>re<strong>de</strong></strong>s sociais na<br />
sustentação e ampliação <strong>de</strong> fluxos <strong>migratórios</strong>, e no impacto <strong>de</strong>sses movimentos na <strong>formação</strong><br />
<strong>da</strong> incipiente <strong>re<strong>de</strong></strong> <strong>urbana</strong> do Estado.<br />
Ocupação histórica <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong><br />
Em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu isolamento físico, <strong>Roraima</strong> manteve-se esparsamente povoa<strong>da</strong> por<br />
séculos. Mesmo durante o auge <strong>da</strong> extração <strong>da</strong> borracha (1850-1911), a ocupação econômica<br />
e <strong>de</strong>mográfica <strong>da</strong> região foi irrelevante, sendo que sua população mal chegava a 10.000<br />
habitantes em 1900. A <strong>de</strong>rroca<strong>da</strong> <strong>da</strong> economia <strong>da</strong> borracha, fomenta<strong>da</strong> pela concorrência <strong>da</strong>s<br />
plantações do su<strong>de</strong>ste asiático, engendrou um pronunciado refluxo populacional e muitos<br />
indivíduos retornaram aos seus estados <strong>de</strong> origem. Com isso, a população tornou-se ain<strong>da</strong><br />
menor, chegando a 7.424 indivíduos em 1920 (Silveira e Gatti, 1988).<br />
Com o fim do ciclo <strong>da</strong> borracha, a mineração tornou-se a principal ativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
econômica. A <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> minas <strong>de</strong> ouro e diamantes no norte <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong> fomentou a<br />
chega<strong>da</strong> <strong>de</strong> garimpeiros <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a região Amazônica (Barbosa, 1994). Ao longo <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />
1930, outras minas <strong>de</strong> diamante foram encontra<strong>da</strong>s, revitalizando a economia local, fazendo<br />
com que a população chegasse a 10.509, em 1940 (Silveira e Gatti, 1988, Freitas, 1997).<br />
Inspirado por motivos geopolíticos, o Presi<strong>de</strong>nte Getúlio Vargas (1930-1945)<br />
implementou uma série <strong>de</strong> medi<strong>da</strong>s para promover o crescimento econômico e a ocupação<br />
física <strong>da</strong> região Amazônica. Tais mu<strong>da</strong>nças culminaram com o <strong>de</strong>creto que criava o Território<br />
Fe<strong>de</strong>ral do Rio Branco, em 1943, mais tar<strong>de</strong> renomeado Território <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>.<br />
A implementação do Território Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou as primeiras tentativas <strong>de</strong> se<br />
promover a ocupação mais efetiva <strong>da</strong> região. Vários projetos <strong>de</strong> colonização foram<br />
implementados pelas administrações Fe<strong>de</strong>rais e locais, que promoveram a transferência <strong>de</strong><br />
centenas <strong>de</strong> colonos <strong>de</strong> regiões economicamente <strong>de</strong>primi<strong>da</strong>s do nor<strong>de</strong>ste brasileiro. A<br />
colonização direciona<strong>da</strong> beneficiou diversas áreas do Nor<strong>de</strong>ste, mas os nativos do Estado do<br />
Maranhão foram priorizados e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1940 os maranhenses representam o<br />
principal grupo <strong>de</strong> imigrantes. Esta ligação histórica entre o Maranhão e <strong>Roraima</strong> se<br />
fortaleceu através do tempo, gerando e perpetuando uma série <strong>de</strong> fluxos altamente<br />
especializados, ligando comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s específicas nos dois estados (Freitas, 1997).<br />
O status <strong>de</strong> Território Fe<strong>de</strong>ral, juntamente com a criação <strong>da</strong>s colônias agrícolas, teve<br />
um profundo impacto na população local. O censo <strong>de</strong> 1950 contabilizou 18.116 indivíduos,<br />
80% acima <strong>da</strong> contagem <strong>de</strong> 1940. A tendência <strong>de</strong> crescimento continuou durante os anos<br />
1950, culminando com uma população <strong>de</strong> 28.304 habitantes em 1960 (Silveira e Gatti, 1988;<br />
Souza, 1986; Magalhães, 1986).<br />
Apesar <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s essas mu<strong>da</strong>nças, <strong>Roraima</strong> permaneceu esparsamente povoado e<br />
economicamente isolado. O maior impedimento à ocupação e <strong>de</strong>senvolvimento do território<br />
era a sua gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência do Rio Branco para transporte. O rio não era navegável por<br />
barcos <strong>de</strong> maior calado durante a estação seca, <strong>de</strong>vido à presença <strong>de</strong> cor<strong>re<strong>de</strong></strong>iras ao longo do<br />
seu curso. Este impedimento só foi resolvido em 1976, quando a estra<strong>da</strong> <strong>de</strong> ro<strong>da</strong>gem BR174<br />
estabeleceu o primeiro elo terrestre entre Boa Vista e Manaus. A estra<strong>da</strong> foi mais tar<strong>de</strong><br />
estendi<strong>da</strong> até a divisa com a Venezuela e concluí<strong>da</strong> em 1998. Deve-se também mencionar a<br />
construção <strong>da</strong> rodovia Perimetral Norte, que abriu o flanco Sudoeste <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong> à<br />
colonização (Barros, 1995; Diniz, 2002).<br />
A construção <strong>de</strong>ssas estra<strong>da</strong>s marca o início <strong>de</strong> uma nova era <strong>de</strong> ocupação na região,<br />
pois além <strong>de</strong> garantir uma ligação durante to<strong>da</strong>s as estações do ano, permitiu que vastas áreas<br />
fossem explora<strong>da</strong>s em diversos projetos <strong>de</strong> colonização. Conseqüentemente, a população que<br />
2
era ligeiramente superior a 28.000 habitantes, em 1960, chegou a 40.885, em 1970. A<br />
tendência <strong>de</strong> crescimento se manteve durante a déca<strong>da</strong> seguinte, chegando a 79.159 pessoas<br />
em 1980.<br />
Esta época foi também marca<strong>da</strong> pela criação <strong>de</strong> incentivos à ocupação do território<br />
para solucionar dois problemas crônicos. O primeiro, <strong>de</strong> cunho geopolítico, era o <strong>de</strong> ocupar os<br />
“espaços vazios” do território, tendo em vista a antiga preocupação dos governos centrais em<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r as fronteiras internacionais do país. O segundo residia na questão regional<br />
nor<strong>de</strong>stina. A proposta era criar colônias agrícolas para transferir a população <strong>de</strong> regiões<br />
empobreci<strong>da</strong>s e “castiga<strong>da</strong>s” pela seca para regiões mais úmi<strong>da</strong>s e supostamente agricultáveis.<br />
Assim, as famílias <strong>de</strong> migrantes po<strong>de</strong>riam ter acesso a frações <strong>de</strong> terra para sua subsistência,<br />
servindo então como um gran<strong>de</strong> fator <strong>de</strong> atração e auxiliando, concomitantemente, aos<br />
interesses geopolíticos (Barros, 1994).<br />
Ressalte-se que, entre 1970 e 1980, a população <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong> praticamente duplicou,<br />
apresentando uma taxa anual <strong>de</strong> crescimento na or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 6,8% ao ano. Vale <strong>de</strong>stacar que a<br />
população masculina apresentou uma taxa <strong>de</strong> crescimento geométrico <strong>de</strong> 6,9%, enquanto a<br />
feminina apresentou taxa <strong>de</strong> 6,7%. Tal dissonância é <strong>de</strong>corrente do principal atrativo<br />
populacional <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong> na déca<strong>da</strong> (as terras <strong>de</strong>volutas do estado), que prioriza o elemento<br />
masculino, em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> natureza do trabalho e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> em ambientes <strong>de</strong> fronteira agrícola.<br />
Também neste período, <strong>Roraima</strong> sofre profun<strong>da</strong>s transformações na estrutura<br />
populacional, com <strong>de</strong>staque para a consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> transição <strong>urbana</strong> do Estado, que ocorreu<br />
na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 70, quase uma déca<strong>da</strong> após a transição <strong>urbana</strong> nacional.<br />
A <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> ouro e diamantes na porção setentrional <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>, em meados dos<br />
anos 1980, trouxe milhares <strong>de</strong> garimpeiros ao Estado. Estima-se que mais <strong>de</strong> 40.000<br />
indivíduos estiveram envolvidos diretamente nesta empreita<strong>da</strong>, entre 1987 e 1991, sem contar<br />
aqueles que se envolveram indiretamente com o garimpo, trabalhando em ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio<br />
(Macmillan, 1995). Devido à intensa ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> mineira, a população <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong> cresceu a<br />
uma média <strong>de</strong> 10,64% ao ano na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980, praticamente triplicando as suas cifras. Este<br />
maior crescimento teve como principal contribuinte os fluxos <strong>migratórios</strong> <strong>de</strong>stinados a<br />
ambientes rurais, o que proporcionou uma taxa <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong> 9,7%, em contraposição ao<br />
ínfimo valor <strong>de</strong> 2,7% apresentado na déca<strong>da</strong> anterior.<br />
Mas, apesar <strong>da</strong> natureza rural dos atrativos populacionais do Estado (garimpo e<br />
assentamentos agrícolas), <strong>Roraima</strong> é um Estado eminentemente urbano. A sua urbanização,<br />
que vem acontecendo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1940, intensificou-se nas últimas déca<strong>da</strong>s, culminando com<br />
76,15% <strong>da</strong> população vivendo em ambientes urbanos no ano <strong>de</strong> 2000. A urbanização <strong>de</strong><br />
<strong>Roraima</strong> não é um fenômeno isolado, mas parte integrante <strong>de</strong> um processo generalizado que<br />
se faz presente em todos os estados amazônicos. O fato é que as áreas <strong>urbana</strong>s <strong>da</strong> região<br />
Amazônica constituem-se como pontos <strong>de</strong> congregação <strong>de</strong> uma força <strong>de</strong> trabalho altamente<br />
móvel e flexível, que é fun<strong>da</strong>mental para o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico <strong>da</strong> região<br />
(Becker, 1990).<br />
Outro elemento a ser consi<strong>de</strong>rado é o fato <strong>de</strong> que a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> mineradora <strong>de</strong>man<strong>da</strong> um<br />
grupo seleto <strong>de</strong> migrantes, dotado <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> vigor físico. Neste sentido, a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
garimpeira ten<strong>de</strong> a selecionar jovens-adultos, do sexo masculino, com i<strong>da</strong><strong>de</strong>s entre 20 e 34<br />
anos. Tal seletivi<strong>da</strong><strong>de</strong> migratória teve um impacto significativo na estrutura populacional <strong>de</strong><br />
<strong>Roraima</strong> (Barros, 1994; Diniz, 2002).<br />
Como a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> mineradora era conduzi<strong>da</strong> <strong>de</strong> maneira clan<strong>de</strong>stina em parques<br />
nacionais e reservas indígenas, o governo Fe<strong>de</strong>ral removeu os garimpeiros e <strong>de</strong>clarou a<br />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> ilegal, gerando um gran<strong>de</strong> refluxo populacional e uma significativa diminuição nas<br />
taxas <strong>de</strong> crescimento. Entre 1991 e 1996, as taxas <strong>de</strong> crescimento populacional não passaram<br />
<strong>de</strong> 3,29% anuais, contra 10,64% entre 1980 e 1991.<br />
3
Durante o apogeu <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> mineradora, foi aprova<strong>da</strong> a Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />
1988, que entre outras transformações, elevava ao status <strong>de</strong> Estados <strong>da</strong> Fe<strong>de</strong>ração os antigos<br />
Territórios Fe<strong>de</strong>rais, incluindo <strong>Roraima</strong>. <strong>Roraima</strong> contava no ano <strong>de</strong> 2000 com 324.397<br />
habitantes, distribuídos <strong>de</strong> maneira assimétrica entre os 15 municípios que compõem o estado<br />
(IBGE 2002). Tal concentração se dá nas se<strong>de</strong>s municipais localiza<strong>da</strong>s ao longo <strong>da</strong> malha<br />
viária que cobre o estado, com <strong>de</strong>staque para as ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Boa Vista, Caracaraí, Iracema e<br />
Mucajaí on<strong>de</strong> se concentra a maioria <strong>da</strong> população (Tabela 1).<br />
Evolução político-administrativa <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong><br />
Esse intenso processo <strong>de</strong> crescimento populacional vivenciado nas últimas déca<strong>da</strong>s<br />
encetou profun<strong>da</strong>s reconfigurações espaciais, que por sua vez, encontram-se intrinsecamente<br />
associa<strong>da</strong>s à <strong>formação</strong> <strong>da</strong> <strong>re<strong>de</strong></strong> <strong>urbana</strong> <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>.<br />
Vale lembrar que antes <strong>de</strong> 1943, a região que hoje compreen<strong>de</strong> o Estado <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>,<br />
era composta por municípios pertencentes ao Estado do Amazonas: Boa Vista do Rio Branco<br />
e uma parte dos municípios <strong>de</strong> Moura e Barcelos (Figura 1). Porém, o Decreto-Lei nº 5.812<br />
<strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1943, criou o Território Fe<strong>de</strong>ral do Rio Branco, que passou a ser<br />
composto pelos municípios <strong>de</strong> Boa Vista e Catrimani. Mas apesar <strong>de</strong> proposto, este<br />
município nunca foi instalado. Desta forma, em 1955, este município foi formalmente extinto,<br />
e, em seu lugar, criado o município <strong>de</strong> Caracaraí (Figura 3). O Decreto <strong>de</strong> 1943 guindou,<br />
ain<strong>da</strong>, a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Boa Vista à categoria <strong>de</strong> capital do Território (AMBTEC, 1994).<br />
O mesmo Decreto estabeleceu que o município <strong>de</strong> Boa Vista passaria a contar com<br />
quatro distritos: a se<strong>de</strong> Boa Vista, Conceição do Maú, Depósito e Uraricoera. Por outro lado,<br />
o município <strong>de</strong> Caracaraí encerraria três distritos: além <strong>da</strong> se<strong>de</strong> (Caracaraí), Santa Maria do<br />
Boiaçu e São José do Anauá.<br />
Este quadro permaneceu praticamente inalterado até 1962, quando o Território Fe<strong>de</strong>ral<br />
do Rio Branco passou a ser <strong>de</strong>nominado Território Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>, buscando-se evitar os<br />
inúmeros extravios <strong>de</strong> correspondências, que ao invés <strong>de</strong> se dirigirem ao Território Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />
Rio Branco, acabavam na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Rio Branco, capital do então Território do Acre.<br />
Outra mu<strong>da</strong>nça importante na configuração espacial <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong> se <strong>de</strong>u em 1982,<br />
quando a Lei Nº 7009, <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> julho, criou os municípios <strong>de</strong> Alto Alegre, Bonfim e<br />
Normandia com terras pertencentes a Boa Vista; e Mucajaí, São João <strong>da</strong> Baliza e São Luiz,<br />
com parcelas territoriais do município <strong>de</strong> Caracaraí (Barros, 1995; Freitas, 1997) (Figura 4).<br />
Nova alteração se <strong>de</strong>u em 1994, com a criação dos municípios <strong>de</strong> Caroebe, com terras<br />
antes pertencentes a São João <strong>da</strong> Baliza e Iracema, <strong>de</strong>smembrado <strong>de</strong> Mucajaí. No ano<br />
seguinte, foram criados os municípios <strong>de</strong> Pacaraima e Amajari, com terras <strong>de</strong> Boa Vista;<br />
Uiramutã, <strong>de</strong>smembrado <strong>de</strong> Normandia; Cantá, <strong>de</strong>smembrado <strong>de</strong> Bonfim; e Rorainópolis,<br />
com terras <strong>de</strong> São Luiz do Anauá (Figura 5).<br />
Deve-se, no entanto, ressaltar que tanto a Lei Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1982, como as Leis Estaduais<br />
<strong>de</strong> 1994 e 1995 não mencionaram os distritos que fazem parte dos municípios por elas<br />
criados. Porém, sabe-se que a exceção <strong>de</strong> Boa Vista, as se<strong>de</strong>s municipais <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>, apesar<br />
<strong>de</strong> gozarem <strong>da</strong> condição formal <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>sempenham funções <strong>urbana</strong>s elementares,<br />
encontrando-se extremamente vincula<strong>da</strong>s e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do mundo rural que as cerca, fato que<br />
será retomado mais adiante.<br />
Movimentos <strong>migratórios</strong><br />
O intenso crescimento populacional vivenciado por <strong>Roraima</strong> nas últimas déca<strong>da</strong>s, bem<br />
como as mu<strong>da</strong>nças <strong>de</strong> cunho político-administrativo e a crescente complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>re<strong>de</strong></strong><br />
<strong>urbana</strong> encontram-se intimamente vincula<strong>da</strong>s aos movimentos <strong>migratórios</strong>, que, por sua vez,<br />
contam com o suporte <strong>de</strong> <strong>re<strong>de</strong></strong>s sociais ativas. A próxima seção é <strong>de</strong>vota<strong>da</strong> ao escrutínio dos<br />
principais movimentos <strong>migratórios</strong> inter e intra-estaduais no final <strong>da</strong>s déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong> 1970, 1980<br />
4
e 1990, com o fito <strong>de</strong> buscar subsídios para melhor compreen<strong>de</strong>r a recente história <strong>de</strong><br />
<strong>Roraima</strong>.<br />
Para a i<strong>de</strong>ntificação dos imigrantes inter e intra estaduais, trabalhou-se com os <strong>da</strong>dos<br />
sobre migração disponíveis nos Censos <strong>de</strong> 1980, 1991 e 2000, empregando-se uma<br />
periodização qüinqüenal nos seguintes termos: 1975-1980, 1986-1991 e 1995-2000. Tal<br />
procedimento foi adotado por causa <strong>da</strong>s restrições impostas à análise, sobretudo pelo Censo<br />
<strong>de</strong> 2000, que disponibiliza informações migratórias somente do tipo “<strong>da</strong>ta fixa” e última etapa<br />
apenas no nível <strong>de</strong> UF. Desta forma, trabalhou-se com as informações do tipo “<strong>da</strong>ta fixa”<br />
disponíveis nos Censos <strong>de</strong> 2000 e 1991. Mas como o Censo <strong>de</strong> 1980 não franquia <strong>da</strong>dos <strong>de</strong><br />
migração do tipo “<strong>da</strong>ta-fixa”, buscou-se uma alternativa compatível, aplicando-se um filtro,<br />
no qual foram selecionados aqueles indivíduos que tinham, em 1980, tempo <strong>de</strong> residência<br />
inferior a cinco anos nos municípios <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong> e i<strong>da</strong><strong>de</strong> igual ou superior a 5 anos. No<br />
processo <strong>de</strong> compilação e tratamento <strong>de</strong>ssas informações, <strong>de</strong>sprezou-se imigrantes com<br />
origem e <strong>de</strong>stinos <strong>de</strong>sconhecidos ou não <strong>de</strong>clarados, fato que não inviabiliza as análises que<br />
seguem, tendo em vista a sua diminuta proporção.<br />
Padrões <strong>de</strong> imigração inter-estadual<br />
Em relação à imigração inter-estadual merece <strong>de</strong>staque o crescente número <strong>de</strong><br />
imigrantes que buscaram <strong>Roraima</strong> como <strong>de</strong>stino ao longo <strong>da</strong>s últimas déca<strong>da</strong>s (Figura 6).<br />
Note-se que no final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970, chegaram ao então Território <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>, 11.729<br />
imigrantes. Esse número quase triplicou no final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> seguinte, chegando a 33.086<br />
imigrantes. Novo acréscimo no número <strong>de</strong> imigrantes foi atingido no final dos anos 1990,<br />
quando outros 45.491 imigrantes atingiram o Estado.<br />
A intensificação <strong>de</strong>sse processo esteve atrela<strong>da</strong> à superação do principal obstáculo ao<br />
<strong>de</strong>senvolvimento do Estado, qual seja a sua acessibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, contornado pela consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong><br />
rodovia BR 174, que liga Manaus à divisa com a Venezuela, bem como aos atrativos naturais<br />
do Estado, consubstanciados no seu rico sub-solo e na vasta disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> terras.<br />
Além do crescente número <strong>de</strong> imigrantes, também chama a atenção a significativa<br />
reestruturação ocorri<strong>da</strong> nas últimas déca<strong>da</strong>s em relação aos principais Estados <strong>de</strong> procedência<br />
<strong>de</strong>sses imigrantes (Figura 7). Note-se que os Estados do Amazonas e Maranhão eram os<br />
principais fornecedores <strong>de</strong> imigrantes no final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970. No entanto, o fim <strong>da</strong> déca<strong>da</strong><br />
<strong>de</strong> 1980 <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou outros fluxos dignos <strong>de</strong> monta, além <strong>da</strong>queles oriundos nos Estados do<br />
Amazonas e Maranhão, fazendo com que Ceará, Pará e <strong>Roraima</strong> passassem a fornecer<br />
expressivas hor<strong>da</strong>s <strong>de</strong> imigrantes.<br />
O fim <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990 traz uma nova configuração. O Pará ultrapassa o Maranhão<br />
como principal fonte <strong>de</strong> imigrantes, seguidos por Amazonas, no rol <strong>da</strong>s origens mais<br />
significativas.<br />
No plano dos municípios <strong>de</strong> <strong>de</strong>stino, Boa Vista mantém a primazia, consubstanciandose<br />
na principal área <strong>de</strong> atração <strong>de</strong> imigrantes inter-estaduais nos três períodos em tela (Figura<br />
8). Essa intrigante e aparentemente paradoxal reali<strong>da</strong><strong>de</strong> foi explora<strong>da</strong> por Diniz (1997), que<br />
buscando compreen<strong>de</strong>r a discrepância entre a natureza rural dos atrativos populacionais <strong>de</strong><br />
<strong>Roraima</strong> (garimpo e áreas <strong>de</strong> assentamento agrícola) e a concentração populacional na ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Boa Vista <strong>de</strong>senvolveu estudo que revelou que essa discrepância é fruto <strong>da</strong> existência <strong>de</strong><br />
padrões <strong>de</strong> comportamento diferenciados entre os principais agentes <strong>de</strong> ocupação do Estado<br />
(garimpeiros e trabalhadores rurais sem terra), baseados em intensa mobili<strong>da</strong><strong>de</strong> entre campo e<br />
ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Os garimpeiros, ao chegarem ao Estado <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>, estabelecem residência na ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Boa Vista, utilizando-a como centro <strong>de</strong> apoio para a empreita<strong>da</strong> mineradora. Partindo do<br />
aeroporto <strong>de</strong> Boa Vista, com víveres, ferramentas, remédios e armas, os garimpeiros se<br />
5
embrenham na mata, on<strong>de</strong> chegam a ficar meses, retornando à Boa Vista para <strong>de</strong>scansar,<br />
reabastecer, visitar familiares e principalmente comercializar os metais e pedras preciosas.<br />
Por outro lado, Boa Vista também é ponto <strong>de</strong> referência para boa parte dos colonos<br />
que chegam a <strong>Roraima</strong> em busca <strong>de</strong> terra. Primeiramente, as duas agências responsáveis pela<br />
regularização fundiária (INCRA e ITERAIMA) encontram-se sedia<strong>da</strong>s em Boa Vista.<br />
Portanto, é comum entre os imigrantes recém-chegados estabelecerem residência em caráter<br />
temporário na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> até conseguirem acesso à lotes nas áreas <strong>de</strong> assentamento agrícola do<br />
Estado. Mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> assentados na zona rural <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>, Boa Vista continua a exercer<br />
gran<strong>de</strong> magnetismo. A ci<strong>da</strong><strong>de</strong> constitui o maior mercado para produtos agrícolas, sendo<br />
prática comum entre os agricultores <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong> o <strong>de</strong>slocamento semanal para ven<strong>de</strong>r os seus<br />
produtos.<br />
Padrões <strong>migratórios</strong> intra-estaduais<br />
A exemplo <strong>da</strong> trajetória observa<strong>da</strong> nos movimentos inter-estaduais, a migração intraestadual<br />
em <strong>Roraima</strong> também exibe números crescentes nas últimas déca<strong>da</strong>s. Enquanto o<br />
número <strong>de</strong> migrantes, com origem e <strong>de</strong>stino conhecidos, não ultrapassavam 514 no final <strong>da</strong><br />
déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970, esse número subiu para 3083 no fim dos anos 1980, culminando em 11.558<br />
no final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990 (Figura 6).<br />
Mas também cabe <strong>de</strong>stacar as importantes reestruturações ocorri<strong>da</strong>s nos fluxos intraestaduais,<br />
que priorizaram, <strong>de</strong> maneira inconsistente e assimétrica os municípios do Estado.<br />
Tal aspecto <strong>da</strong>s migrações intra-estaduais po<strong>de</strong>m ser captados através <strong>da</strong> análise do número <strong>de</strong><br />
migrantes líquidos por município. No final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970, a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong> era<br />
muito mais simples do que na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong> (Figura 9). As trocas entre os dois municípios do<br />
Estado, além <strong>de</strong> exíguas, geravam baixos números <strong>de</strong> migrantes líquidos.<br />
Por outro lado, na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980, com a intensificação dos movimentos intraestaduais,<br />
o município <strong>de</strong> Boa Vista sobressai-se com expressivo número <strong>de</strong> migrantes<br />
líquidos positivos, enquanto os <strong>de</strong>mais municípios do Estado contabilizaram per<strong>da</strong>s<br />
migratórias (Figura 10).<br />
Tal situação se inverte na déca<strong>da</strong> seguinte, fazendo com que Boa Vista seja o<br />
município com as mais expressivas trocas líqui<strong>da</strong>s negativas <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>, seguido <strong>de</strong><br />
Normandia, Mucajaí e Uiramutã. Do outro lado <strong>da</strong> balança, figuram Cantá, Pacaraima,<br />
Bonfim e Amajari, com trocas líqui<strong>da</strong>s positivas (Figura 11).<br />
Para se compreen<strong>de</strong>r a alternância na condição <strong>de</strong> Boa Vista, enquanto foco <strong>de</strong><br />
movimentos <strong>migratórios</strong> centrípetos, no final dos anos 1980, e centrífugos, no final dos anos<br />
1990, <strong>de</strong>ve-se resgatar as transformações estruturais inerentes ao processo <strong>de</strong> evolução <strong>da</strong><br />
fronteira agrícola, <strong>de</strong>scritos por Diniz (2001, 2002, 2003A). Segundo o autor, o processo <strong>de</strong><br />
evolução <strong>da</strong> fronteira agrícola transforma a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos assentamentos rurais, transformando<br />
áreas marca<strong>da</strong>s por agricultura <strong>de</strong> subsistência e ausência <strong>de</strong> mercados <strong>de</strong> terra e <strong>de</strong> trabalho<br />
em áreas mais proximamente incorpora<strong>da</strong>s à economia nacional. Neste processo, a penetração<br />
do modo <strong>de</strong> produção capitalista termina por expulsar os imigrantes pioneiros, que se<br />
<strong>de</strong>slocam, no mais <strong>da</strong>s vezes, para as áreas <strong>urbana</strong>s do Estado, em especial para a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Boa Vista. Para lá acorrem levas <strong>de</strong> re-migrantes, atraídos, sobretudo, pelo setor terciário e<br />
pela relativa facili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se conseguir locais para a construção <strong>de</strong> habitações na periferia <strong>da</strong><br />
ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Do mesmo modo, muitos colonos frustrados com as precárias condições inerentes às<br />
áreas <strong>de</strong> assentamento agrícola, on<strong>de</strong> doenças tropicais, falta <strong>de</strong> infra-estrutura a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> e<br />
isolamento físico são prevalentes, acabam sucumbindo ao magnetismo <strong>de</strong> Boa Vista.<br />
No final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990, a situação se inverte, não porque a sangria dos antigos<br />
projetos <strong>de</strong> colonização se estancasse, mas por que houve significativa expansão na oferta <strong>de</strong><br />
terras em novos projetos <strong>de</strong> colonização, que fizeram com que muitos indivíduos <strong>de</strong>ixassem<br />
Boa Vista, e numa nova etapa migratória, voltassem ao mundo rural.<br />
6
Some-se a isso o fato <strong>de</strong> que, com a criação dos novos municípios, muitos postos <strong>de</strong><br />
trabalho no âmbito urbano, associados à implantação <strong>da</strong>s novas administrações municipais,<br />
foram gerados. Este fator beneficiou os recém criados municípios <strong>de</strong> Amajari, Cantá, Iracema,<br />
Pacaraima e Rorainópolis, fazendo com que experimentassem, no final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990,<br />
trocas líqui<strong>da</strong>s positivas.<br />
Principais fluxos <strong>migratórios</strong><br />
A análise dos 20 principais fluxos <strong>migratórios</strong>, tanto <strong>de</strong> origem externa quanto interna<br />
a <strong>Roraima</strong>, ao longo <strong>da</strong>s últimas déca<strong>da</strong>s, auxilia a i<strong>de</strong>ntificação do peso diferenciado <strong>da</strong>s<br />
correntes migratórias e sua reestruturação espacial. Esses fluxos, altamente canalizados, são<br />
lastreados por <strong>re<strong>de</strong></strong>s sociais ativas, que operam a ligação <strong>de</strong> municípios específicos, que<br />
chegam a distar milhares <strong>de</strong> quilômetros uns dos outros (Tabela 2).<br />
No final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970 os principais fluxos <strong>migratórios</strong> <strong>de</strong>stinados aos municípios<br />
<strong>de</strong> <strong>Roraima</strong> (Boa Vista e Caracaraí) tinham origem, principalmente, nas capitais dos Estados<br />
<strong>da</strong> região Norte (Manaus e Belém) e Nor<strong>de</strong>ste (Fortaleza e São Luiz) (Tabela 2).<br />
Subjacentes a esses fluxos existem importantes processos históricos. Sabe-se que<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ciclo <strong>da</strong> Borracha boa parte <strong>da</strong>s migrações <strong>de</strong>stina<strong>da</strong>s à Região Amazônica têm<br />
origem em estados do Nor<strong>de</strong>ste, sobretudo Ceará e Maranhão. Essas vinculações históricas<br />
parecem ter-se perpetuado, fato que explica os fluxos <strong>migratórios</strong> ligando Fortaleza e São<br />
Luiz à <strong>Roraima</strong>. Por outro lado, vale <strong>de</strong>stacar as fortes vinculações <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong> e sua relação<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência com as metrópoles <strong>da</strong> região Norte, sobretudo em relação à Manaus. Lembrese<br />
que até a déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1940, a área hoje conheci<strong>da</strong> como Estado <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>, pertencia ao<br />
Estado do Amazonas, logo, sob influência direta <strong>de</strong> Manaus. Tais fatores históricos explicam,<br />
pelo menos parcialmente, os intensos fluxos entre as metrópoles do Norte e <strong>Roraima</strong>.<br />
Mas também são dignos <strong>de</strong> nota os fluxos oriundos <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s do interior do Estado<br />
do Maranhão, especialmente Imperatriz, Santa Luzia, Bacabal e Santa Inês no mesmo período<br />
(Tabela 2). Tais fluxos, altamente canalizados, também têm <strong>de</strong>terminações históricas<br />
importantes. Des<strong>de</strong> <strong>de</strong> que <strong>Roraima</strong> foi transformado em Território e, posteriormente, em<br />
Estado <strong>da</strong> Fe<strong>de</strong>ração, contou com na<strong>da</strong> menos do que seis Governadores, civis e militares, que<br />
exerceram man<strong>da</strong>tos múltiplos, oriundos do Estado do Maranhão (Freitas, 1997). Até a<br />
promulgação <strong>da</strong> atual Constituição, esses governadores eram apontados pelo Governo<br />
Fe<strong>de</strong>ral, passando a ser aduzidos ao po<strong>de</strong>r por sufrágio universal a partir <strong>de</strong> 1988. Durante as<br />
várias administrações maranhenses, campanhas publicitárias, ressaltando as vantagens <strong>de</strong><br />
<strong>Roraima</strong>, foram veicula<strong>da</strong>s através <strong>de</strong> diversas mídias, no Maranhão, convi<strong>da</strong>ndo os seus<br />
habitantes a contribuir com a empreita<strong>da</strong> colonizadora <strong>da</strong> região.<br />
Desta forma os fluxos, ligando comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s no Maranhão à comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s específicas<br />
em <strong>Roraima</strong>, <strong>de</strong>flagrados ao longo <strong>da</strong>s últimas déca<strong>da</strong>s, se perpetuaram, expandindo-se,<br />
graças ao suporte efetivo <strong>de</strong> <strong>re<strong>de</strong></strong>s sociais. Em processo, <strong>de</strong>scrito por Diniz (2003B), a<br />
ocupação <strong>de</strong>mográfica <strong>de</strong> áreas inabita<strong>da</strong>s ou pouco habita<strong>da</strong>s se dá em etapas, sendo forja<strong>da</strong><br />
pela chega<strong>da</strong> <strong>de</strong> on<strong>da</strong>s distintas <strong>de</strong> imigrantes. A mobili<strong>da</strong><strong>de</strong> na fronteira é fortemente basea<strong>da</strong><br />
em canais informais <strong>de</strong> in<strong>formação</strong> e migrações por corrente (step migration).<br />
Neste processo, um <strong>de</strong>terminado colono (inovador) chega à fronteira em busca <strong>de</strong><br />
terra. Durante to<strong>da</strong> a sua estadia, este indivíduo mantém contato direto com o local <strong>de</strong> origem<br />
e tão logo obtenha acesso a um pe<strong>da</strong>ço <strong>de</strong> terra e alguma estabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>flagra-se a segun<strong>da</strong><br />
on<strong>da</strong> <strong>de</strong> migrantes (seguidores), que chegam à fronteira bafejados pelo sucesso e pelo apoio<br />
do “inovador”. Esta invasão <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> assentamento por indivíduos <strong>de</strong> mesma origem<br />
geográfica se intensifica, uma vez que, tão logo a primeira on<strong>da</strong> <strong>de</strong> “seguidores” ganha acesso<br />
à terra, sucessivas on<strong>da</strong>s <strong>de</strong> “migrantes seguidores”, com algum grau <strong>de</strong> relação, chegam ao<br />
<strong>de</strong>stino.<br />
7
Situações nas quais os migrantes mantêm contato direto com os locais <strong>de</strong> origem, seja<br />
através <strong>de</strong> cartas, telefonemas e visitas regulares, fazem com que a migração acabe<br />
representando e promovendo, no <strong>de</strong>stino, a expansão <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> origem, e não um<br />
hiato físico em relação a mesma (Mountz e Wright 1996). Neste caso, o conceito <strong>de</strong> Gid<strong>de</strong>ns<br />
(1984) “time-space edges” 4 é apropriado, uma vez que estes intensos contatos fortalecem os<br />
laços entre lugares distantes, construindo um caminho firme e seguro a ser trilhado por<br />
migrantes “seguidores” ou “secundários”. Apesar <strong>de</strong> forte durante os primeiros estágios <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> fronteira, o “time space distanciation”, ou a extensão <strong>de</strong> sistemas sociais<br />
através do tempo e do espaço enfraquece, uma vez que o processo <strong>de</strong> evolução <strong>da</strong> fronteira<br />
ten<strong>de</strong> a expulsar migrantes pioneiros, comprometendo a perpetuação <strong>da</strong>s <strong>re<strong>de</strong></strong>s sociais. Por<br />
outro lado, o processo <strong>de</strong> evolução <strong>da</strong> fronteira dá origem a novos “time-space distanciations”<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> própria região Amazônica, na qual laços familiares e <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> cumprem papéis<br />
importantes na ligação entre locais mais avançados no espectro evolucionário e áreas<br />
pioneiras.<br />
A impressionante capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptação a novos <strong>de</strong>stinos <strong>de</strong>monstra<strong>da</strong> pelos<br />
migrantes <strong>de</strong> fronteira merece <strong>de</strong>staque. Sendo, na maioria <strong>da</strong>s vezes, <strong>de</strong>stituídos <strong>de</strong> bens<br />
materiais, esquecidos pelo po<strong>de</strong>r público, e excluídos social e economicamente, esses<br />
indivíduos contam uns com os outros para sobrevivência e a<strong>da</strong>ptação na fronteira. Neste<br />
contexto, a <strong>formação</strong> <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> aju<strong>da</strong> informal é uma importante estratégia emprega<strong>da</strong><br />
pelos colonos. De acordo com este estratagema, os colonos revezam o trabalho entre os lotes<br />
dos membros <strong>de</strong>sses grupos informais <strong>de</strong> trabalho, materializando ca<strong>da</strong> fase do árduo<br />
processo <strong>de</strong> produção agrícola, alterna<strong>da</strong>mente: aceiro <strong>de</strong> <strong>de</strong>rruba<strong>da</strong>, broca, <strong>de</strong>rruba<strong>da</strong>,<br />
queima<strong>da</strong>, coivara, aceiro, plantio e colheita.<br />
No final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980, assiste-se a manutenção <strong>de</strong> alguns dos principais fluxos<br />
pré-existentes, sobretudo aqueles oriundos <strong>da</strong>s capitais dos Estados <strong>da</strong> região Norte (Manaus e<br />
Belém) e Nor<strong>de</strong>ste (Fortaleza e São Luiz), e também <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s do interior do Estado do<br />
Maranhão, como é o caso <strong>de</strong> Imperatriz, Santa Inês e Bacabal. Por outro lado, surgem novos<br />
fluxos <strong>migratórios</strong> <strong>de</strong> monta, como é o caso <strong>da</strong>queles oriundos em Itaituba e Santarém, no<br />
Estado do Pará; Zé Doca, no Estado do Maranhão; e Porto Velho, em Rondônia.<br />
A intensificação <strong>de</strong>sses fluxos estaria associa<strong>da</strong> ao boom do garimpo, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado<br />
pela <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> ouro e diamantes em sua porção setentrional em meados <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />
1980. Como revelado anteriormente, o número <strong>de</strong> indivíduos envolvidos diretamente no<br />
garimpo é estimado em mais <strong>de</strong> 40.000, sem contar aqueles engajados em ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio,<br />
como pilotos, cozinheiros, motoristas, etc. (Macmillan, 1995). No bojo <strong>de</strong>sse intenso<br />
movimento <strong>de</strong> chega<strong>da</strong> <strong>de</strong> pessoas não é coincidência o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> fluxos<br />
<strong>migratórios</strong> a partir <strong>de</strong> outras áreas <strong>de</strong> garimpo ativas ou <strong>de</strong>clinantes na Amazônia, como é o<br />
caso <strong>de</strong> Itaituba, Santarém e Porto Velho.<br />
O fim dos anos 1990 traz a tona outra reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. De um lado, alguns do fluxos<br />
presentes na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970 e 1980 permanecem, como é o caso <strong>da</strong>queles oriundos nas<br />
capitais <strong>da</strong> região Norte (Manaus, Belém e Porto Velho) e Nor<strong>de</strong>ste (São Luis e Fortaleza), no<br />
interior do Estado do Maranhão (Zé Doca, Santa Inês, Bacabal e Imperatriz) e no interior do<br />
Estado do Pará (Santarém e Itaituba).<br />
Por outro lado, algumas mu<strong>da</strong>nças são dignas <strong>de</strong> nota. Desta feita Itaituba ultrapassa<br />
Manaus como a principal fonte <strong>de</strong> imigrantes inter-estaduais, e Santarém, que até então<br />
apresentava-se em níveis intermediários no rol dos principais fluxos, ganha importância.<br />
Mesmo diante dos recorrentes protestos vociferados por garimpeiros, comerciantes e políticos<br />
roraimenses em prol <strong>da</strong> reativação <strong>da</strong> extração mineral, os garimpos permanecem<br />
oficialmente fechados. Entretanto, apesar <strong>de</strong> proscritos, os garimpos continuaram<br />
4 Time-space edges representam os pontos <strong>de</strong> contato e troca que facilitam este distanciamento e servem como<br />
ligações entre origem e <strong>de</strong>stino (Gid<strong>de</strong>ns, 1984).<br />
8
clan<strong>de</strong>stinamente em operação ao longo <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990, fato que explica, pelo<br />
menos parcialmente, a intensificação <strong>da</strong> chega<strong>da</strong> <strong>de</strong> indivíduos oriundos <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> garimpo<br />
do Estado do Pará, como Itaituba e Santarém. Ressalte-se que além <strong>da</strong> extração <strong>de</strong> ouro e<br />
diamantes na porção setentrional <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>, relatos <strong>de</strong> garimpeiros dão conta que inúmeros<br />
brasileiros encontram-se envolvidos na extração <strong>de</strong> recursos minerais em solo venezuelano,<br />
fato que po<strong>de</strong> gerar sérios problemas políticos entre as duas nações.<br />
Outra modificação que merece <strong>de</strong>staque em relação aos principais fluxos <strong>migratórios</strong><br />
do final dos anos 1990 é o fato <strong>de</strong> que pela primeira vez os fluxos inter-municipais <strong>de</strong><br />
<strong>Roraima</strong> rivalizam os inter-estaduais. Este é o caso <strong>de</strong> vários fluxos originários no município<br />
<strong>de</strong> Boa Vista, em direção a Cantá, Pacaraima, Caracaraí e Bonfim. Como revelado<br />
anteriormente, esse aspecto <strong>da</strong> migração intra-estadual está associa<strong>da</strong> à expansão na oferta <strong>de</strong><br />
terras em novos projetos <strong>de</strong> colonização, além dos postos <strong>de</strong> trabalho criados em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong><br />
criação <strong>de</strong>sses municípios em 1995.<br />
A <strong>re<strong>de</strong></strong> <strong>urbana</strong> <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong><br />
Dois importantes <strong>de</strong>sdobramentos <strong>da</strong>s intensas correntes inter e intra migratórias<br />
vivenciados por <strong>Roraima</strong> ao longo <strong>da</strong>s últimas déca<strong>da</strong>s foram, indubitavelmente, as<br />
emancipações municipais e a <strong>formação</strong> <strong>de</strong> uma <strong>re<strong>de</strong></strong> <strong>urbana</strong> <strong>de</strong>sequilibra<strong>da</strong>.<br />
No contexto <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>, Boa Vista se sobressai como o principal e mais complexo<br />
núcleo urbano, constituindo-se como ci<strong>da</strong><strong>de</strong> primaz e ponto <strong>de</strong> referência para a população<br />
(Amorim Filho e Diniz, 2005B) (Tabela 1). Na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Boa Vista, congregam-se 79,79% <strong>da</strong><br />
população do Estado <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>, o que torna a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> 23,93 vezes maior do que o segundo<br />
maior centro urbano (Caracaraí) e 27,43 vezes maior do que o terceiro maior centro urbano<br />
(Rorainópolis). Um grupo intermediário <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s exibe populações oscilando entre 5.000 e<br />
9.000 habitantes (Caracaraí, Rorainópolis, Mucajaí, e Alto Alegre). Por fim, um numeroso<br />
grupo composto por núcleos urbanos embrionários, com população abaixo <strong>de</strong> 5.000<br />
habitantes, completa o conjunto <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> <strong>re<strong>de</strong></strong> <strong>urbana</strong> <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>. Esse conjunto <strong>de</strong><br />
fatores sugere que a atual <strong>re<strong>de</strong></strong> <strong>urbana</strong> <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong> possa ser classifica<strong>da</strong>, como <strong>de</strong>ntrítica,<br />
conforme exposto por Correa (1996).<br />
Em estudo recente, Amorim Filho e Diniz (2005A) exploraram a organização dos<br />
centros urbanos <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>, revelando que as ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong> encontram-se em uma<br />
etapa bastante incipiente <strong>de</strong> hierarquização, uma vez que, excluindo-se Boa Vista, a <strong>re<strong>de</strong></strong><br />
<strong>urbana</strong> <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong> conta, predominantemente, com aglomerações <strong>de</strong> caráter semi-urbano,<br />
com a maioria <strong>da</strong> população ativa ocupa<strong>da</strong> em ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do setor primário <strong>da</strong> economia.<br />
No mesmo estudo, os autores i<strong>de</strong>ntificam três classes <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s na <strong>re<strong>de</strong></strong> <strong>urbana</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Roraima</strong>. No topo <strong>da</strong> hierarquia figura Boa Vista, importante centro regional que exibe a<br />
maior ren<strong>da</strong> per capita <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong> e níveis superiores <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano e <strong>de</strong> infraestrutura.<br />
Apesar <strong>de</strong> seu porte <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> média, Boa Vista <strong>de</strong>sempenha muitas funções<br />
características <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s maiores, a começar por aqueles próprios <strong>de</strong> uma capital <strong>de</strong> Estado.<br />
Apesar <strong>de</strong> presente, o setor agrícola representa apenas uma pequena parcela <strong>da</strong> economia <strong>de</strong><br />
Boa Vista, que é domina<strong>da</strong> pelos serviços e pelo comércio, ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que polarizam os<br />
<strong>de</strong>mais núcleos urbanos <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>. Ressalte-se ain<strong>da</strong> que o <strong>de</strong>sequilíbrio hierárquico entre<br />
Boa Vista e as <strong>de</strong>mais ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s é tão significativo que se po<strong>de</strong> falar, pelo menos no momento<br />
atual, do fenômeno <strong>de</strong> macrocefalia <strong>urbana</strong> na capital do Estado.<br />
I<strong>de</strong>ntificou-se também um grupo intermediário <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s, com funções e<br />
características específicas, posta<strong>da</strong>s às margens <strong>da</strong>s rodovias fe<strong>de</strong>rais (BR174 e BR210 -<br />
Perimetral Norte). Estes eixos viários foram instrumentais à ocupação <strong>de</strong>mográfica e<br />
econômica <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>, constituindo-se em importantes vetores <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. Ao<br />
longo <strong>da</strong> BR174 encontram-se os centros emergentes Pacaraima (na fronteira com a<br />
Venezuela), Mucajaí, Iracema, Caracaraí e Rorainópolis, e às margens <strong>da</strong> BR210, a poucos<br />
9
quilômetros <strong>de</strong> seu entroncamento com a BR174, São Luiz e São João <strong>da</strong> Baliza. Estes<br />
centros emergentes gozam <strong>de</strong> posição intermediária em relação à ren<strong>da</strong> per capita e aos níveis<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano e infra-estrutura. Sua estrutura ocupacional sugere que tais<br />
centros cumpram funções muito específicas e <strong>de</strong> influência local, sendo igualmente<br />
importantes os setores agropecuário e prestação <strong>de</strong> serviços. Não é difícil prever que, no<br />
médio prazo, e salvo modificações inespera<strong>da</strong>s, estas ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s são aquelas que maiores<br />
probabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s possuem <strong>de</strong> alcançarem os níveis hierárquicos <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s médias na <strong>re<strong>de</strong></strong><br />
<strong>urbana</strong> do Estado <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>.<br />
Por fim, as <strong>de</strong>mais ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong> compõem o grupo <strong>de</strong> pequenos núcleos<br />
urbanos. Suas posições geográficas mais periféricas e as condições precárias <strong>de</strong> suas estra<strong>da</strong>s<br />
são fatores <strong>de</strong>cisivos na explicação <strong>da</strong> fragili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> seus intercâmbios e <strong>da</strong> precária condição<br />
sócio-econômica <strong>de</strong> seus habitantes. Estes pequenos núcleos urbanos estão muito ligados ao<br />
mundo rural, servindo, no mais <strong>da</strong>s vezes, como dormitório para trabalhadores do setor<br />
agrícola. Diniz (2002; 2003B) os <strong>de</strong>fine como herança dos embrionários núcleos urbanos<br />
criados no coração <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> colonização, conforme prescreve o Estatuto <strong>da</strong> Terra. O seu<br />
crescimento é condicionado pelo processo <strong>de</strong> evolução <strong>da</strong>s áreas <strong>de</strong> assentamento<br />
circunvizinhas, tornando-se, portanto, enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s inseparáveis dos projetos agrícolas dos quais<br />
se originaram. As transformações estruturais no seu entorno intensificam os movimentos<br />
rural-urbanos, aumentando o tamanho e a complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sses núcleos. Segundo Becker<br />
(1990) e Godfrey (1992), tais lugares constituem-se centros <strong>de</strong> concentração e redistribuição<br />
<strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra, forma<strong>da</strong> por ex-colonos e migrantes que não conseguiram acesso à terra. É<br />
justamente esta última constatação que explica, por sua vez, o caráter ain<strong>da</strong> incipiente <strong>da</strong> <strong>re<strong>de</strong></strong><br />
<strong>urbana</strong> <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>.<br />
Consi<strong>de</strong>rações finais<br />
O presente trabalho promoveu um breve resgate do processo <strong>de</strong> ocupação <strong>de</strong>mográfica<br />
do remoto e pouco conhecido Estado <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>. Ao longo <strong>da</strong>s últimas déca<strong>da</strong>s assistiu-se a<br />
um intenso crescimento populacional, especialmente em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> crescentes fluxos<br />
i<strong>migratórios</strong>, oriundos <strong>de</strong> porções longínquas do território brasileiro, com <strong>de</strong>staque para os<br />
Estados do Maranhão e do Pará.<br />
Tais fluxos tiveram como ignescência as riquezas do sub-solo e a gran<strong>de</strong><br />
disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> terras <strong>de</strong>volutas. Esses fluxos contaram ain<strong>da</strong> com a propagan<strong>da</strong><br />
institucional realiza<strong>da</strong> pelos diversos governos do Território e, posteriormente, do Estado <strong>de</strong><br />
<strong>Roraima</strong> em comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s rurais maranhenses, além <strong>de</strong> <strong>re<strong>de</strong></strong>s <strong>de</strong> comunicação informais que<br />
levavam aos garimpos <strong>da</strong> Amazônia, informações sobre as riquezas minerais <strong>da</strong>s terras<br />
banha<strong>da</strong>s pelo Rio Branco. Uma vez <strong>de</strong>flagrados os fluxos, <strong>re<strong>de</strong></strong>s sociais entraram em<br />
operação, <strong>da</strong>ndo sustentação à imigrantes secundários, fomentando a chega<strong>da</strong> <strong>de</strong> sucessivas<br />
on<strong>da</strong>s <strong>de</strong> imigrantes.<br />
Neste contexto, a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Boa Vista vem cumprindo distintos papéis, representando<br />
no plano externo o ponto focal <strong>de</strong> boa parte <strong>da</strong> imigração inter-estadual <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> a <strong>Roraima</strong>.<br />
Por outro lado, no plano interno, Boa Vista tem operado nos últimos anos como um<br />
redistribuidor <strong>de</strong> migrantes, apresentando trocas líqui<strong>da</strong>s negativas com boa parte dos <strong>de</strong>mais<br />
municípios do Estado. Destarte, a capital roraimense constitui-se não somente num pólo <strong>de</strong><br />
atração populacional, mas também num vórtice, atraindo migrantes inter-estaduais e<br />
dispersando sua população para outros núcleos <strong>da</strong> <strong>re<strong>de</strong></strong> <strong>urbana</strong>, como sugere as trocas líqui<strong>da</strong>s<br />
negativas entre Boa Vista e os <strong>de</strong>mais municípios do Estado no final dos anos 1990.<br />
Como resultado <strong>de</strong>sse intenso processo imigratório, observou-se nas últimas déca<strong>da</strong>s<br />
uma gran<strong>de</strong> reorganização política, com a emancipação <strong>de</strong> diversos municípios, e,<br />
conseqüentemente, com a <strong>formação</strong> <strong>de</strong> uma <strong>re<strong>de</strong></strong> <strong>urbana</strong> pouco sofistica<strong>da</strong>. Logo, a evolução<br />
<strong>da</strong> <strong>re<strong>de</strong></strong> <strong>urbana</strong> <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá <strong>de</strong> como serão negociados os seus maiores obstáculos<br />
10
atuais, quais sejam: o isolamento e a posição periférica (regional e nacionalmente) do Estado;<br />
as <strong>re<strong>de</strong></strong>s <strong>de</strong> transportes e <strong>de</strong> comunicação ain<strong>da</strong> bastante incompletas, tanto em termos <strong>de</strong><br />
cobertura espacial, quanto em termos <strong>de</strong> suas condições técnicas; e as gran<strong>de</strong>s extensões<br />
territoriais não transitáveis livremente, seja em razão <strong>de</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m ambiental, seja<br />
como resultado <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> reservas indígenas, que po<strong>de</strong> ficar, provisória ou<br />
permanentemente, fecha<strong>da</strong>s à passagem <strong>de</strong> forasteiros.<br />
Some-se a isso o fato <strong>de</strong> que o futuro acena com outras possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> rearticulação<br />
<strong>da</strong>s <strong>re<strong>de</strong></strong>s <strong>urbana</strong>s. A volatili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s fronteiras agrícolas, <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> pela rápi<strong>da</strong> transição entre<br />
modos <strong>de</strong> produção, expulsará gran<strong>de</strong>s levas <strong>de</strong> agricultores do campo, levando não só a uma<br />
ocupação <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>na<strong>da</strong> dos centros urbanos existentes, bem como <strong>da</strong>rão origem a novos<br />
núcleos urbanos. Este fator po<strong>de</strong>rá adicionar complexi<strong>da</strong><strong>de</strong>s funcionais aos atuais centros<br />
urbanos do Estado, po<strong>de</strong>ndo culminar em uma <strong>re<strong>de</strong></strong> <strong>urbana</strong> mais articula<strong>da</strong> e complementar.<br />
Outro fator que merece <strong>de</strong>staque é a posição geográfica <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>. Sua localização<br />
em uma região <strong>de</strong> fronteiras internacionais dá aos núcleos urbanos localizados ao longo dos<br />
principais eixos viários, especialmente Boa Vista, um papel fun<strong>da</strong>mental na integração<br />
política e econômica com os vizinhos. Tendo em vista a inclusão <strong>da</strong> Venezuela ao Mercosul,<br />
os centros urbanos <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong> assumirão, certamente, maior importância geoeconômica e<br />
geopolítica.<br />
Mas não se po<strong>de</strong> tergiversar em relação ao potencial <strong>de</strong> atração populacional <strong>da</strong>s<br />
riquezas minerais do Estado. Se os garimpos, ain<strong>da</strong> que proscritos, continuam a exercer<br />
relativa atrativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, imagine-se se forem legitimados pelas autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s, em face ao<br />
movimento pró-legalização coman<strong>da</strong>do por políticos, empresários e garimpeiros locais. Tal<br />
medi<strong>da</strong>, seguramente, impingiria substantivas mu<strong>da</strong>nças nos fluxos i<strong>migratórios</strong> inter e intraestaduais,<br />
com repercussões significativas na <strong>re<strong>de</strong></strong> <strong>urbana</strong> do Estado.<br />
Referências bibliográficas<br />
AMBTEC. <strong>Roraima</strong>, O Brasil do Hemisfério Norte. Boa Vista, Fun<strong>da</strong>ção do Meio<br />
Ambiente e Tecnologia <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>. 1994<br />
AMORIM FILHO, Oswaldo Bueno, DINIZ, A. M. A. Boa Vista, <strong>Roraima</strong>: uma ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
média na fronteira setentrional do Brasil In: Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s: relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e cultura <strong>urbana</strong><br />
Goiânia - Goiás : Editora Vieira, 2005A, p. 13-34.<br />
AMORIM FILHO, Oswaldo Bueno, DINIZ, A. M. A. A embrionária <strong>re<strong>de</strong></strong> <strong>urbana</strong> <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>.<br />
Estudios Socioterritoriales. Revista <strong>de</strong> Geografía. Tandil - Argentina: , v.5, n.5, 2005B.<br />
BARROS N. N. The Frontier Cycle: A Study of the Agricultural Frontier Settlment in the<br />
Southeast of <strong>Roraima</strong>, Brazil. Working Paper 4, Department of Geography, Univeristy of<br />
Durham. 1994<br />
BARROS N. <strong>Roraima</strong>, Paisagens e Tempo na Amazônia Setentrional. Editora<br />
Universitária. Recife, UFPE. 1995<br />
BECKER B. K. Amazônia. São Paulo, Ática. 1990.<br />
CORREA, R. Trajetórias Geográficas. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Bertrand Brasil. 1996.<br />
DINIZ, A. Growth and Urbanization in <strong>Roraima</strong> State, Brazil. Conference of Latin<br />
Americanist Geographers Yearbook p. 51- 62. 1997.<br />
DINIZ, A. Mobility and evolving frontier settlements: the case of central <strong>Roraima</strong>. In Annals<br />
of the XXIV IUSSP General Conference, realizado em Salvador, entre 18 e 24 <strong>de</strong> Agosto,<br />
Seção S28 Internal migration: health, education and <strong>de</strong>velopment consequences. 2001.<br />
DINIZ, A. Frontier Evolution and Mobility in Volatile Frontier Settlements of the<br />
Brazilian Amazon. Doctoral Dissertation. Arizona State University. 2002<br />
DINIZ, A. M. A. Migração e Evolução <strong>da</strong> Fronteira Agrícola. Geografia. Rio Claro: , v.28,<br />
n.3, p.363 - 378, 2003A.<br />
11
DINIZ, A. M. A. A dimensão qualitativa <strong>da</strong> mobili<strong>da</strong><strong>de</strong> humana na fronteira agrícola <strong>de</strong><br />
<strong>Roraima</strong>. Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Geografia. Belo Horizonte: , v.13, n.21, p.44 - 59, 2003B.<br />
FREITAS, A. Geografia e História <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>. Manaus, GRAFIMA. 1997.<br />
FURLEY, P. and MOUGEOT, L. Perspectives in the Forest Frontier, Settlement and<br />
Change in Brazilian <strong>Roraima</strong>. Ed. by Peter Furley. New York, Routledge. 1994<br />
GIDDENS, A 1984. The Constitution of Society: Outline of the history of Structuration.<br />
Cambridge: Polity Press<br />
MACMILLAN, G. At the End of the Rainbow? Gold, Land and People in the Brazilian<br />
Amazon. London, Earthscan Publications Ltd. 1995.<br />
MAGALHÃES, D. <strong>Roraima</strong>, Informações históricas. Rio <strong>de</strong> Janeiro. Graphos. 1986.<br />
MOUNTZ, A. and WRIGHT, R. Daily Life in the Transnational Migrant Community of San<br />
Agustín, Oaxaca and Poughkeepsie, New York. Diaspora 5, 403-428. 1996<br />
GODFREY, B. Migration to the gold-mining frontier in Brazilian Amazônia. Geographical<br />
Review, Vol. 82(4) pp. 458-469. 1992<br />
SEPLAN – Secretaria <strong>de</strong> Planejamento do Estado <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>. Perfil <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>. Boa Vista.<br />
Mimeo. 1999<br />
SILVEIRA, I. and GATTI, M. Notas Sobre a Ocupação <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>, Migração e Colonização.<br />
Boletin do Museo Paraense Emilio Goeldi: Antropologia 4 (1) 43-64. 1988<br />
SOUZA, A F. <strong>Roraima</strong>, Fatos e Len<strong>da</strong>s. Boa Vista. 1986.<br />
Tabela 1<br />
População <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong><br />
Município Total Urbana Rural Taxa <strong>de</strong> urb (%)<br />
Boa Vista 200.568 197.098 3.470 98,27<br />
Caracaraí 14.286 8.236 6.050 57,65<br />
Rorainópolis 17.393 7.185 10.208 41,31<br />
Mucajaí 11.247 7.029 4.218 62,50<br />
Alto Alegre 17.907 5.195 12.712 29,01<br />
São João <strong>da</strong> Baliza 5.091 3.882 1.209 76,25<br />
São Luiz 5.311 3.447 1.864 64,90<br />
Iracema 4.781 3.228 1.553 67,52<br />
Bonfim 9.326 3.000 6.326 32,17<br />
Pacaraima 6.990 2.760 4.230 39,48<br />
Caroebe 5.692 1.977 3.715 34,73<br />
Normandia 6.138 1.500 4.638 24,44<br />
Cantá 8.571 1.155 7.416 13,48<br />
Amajari 5.294 799 4.495 15,09<br />
Uiramutã 5.802 525 5.277 9,05<br />
<strong>Roraima</strong> 324.397 247.016 77.381 76,15<br />
Fonte: IBGE – Censo Demográfico <strong>de</strong> 2000 ( IBGE 2002)<br />
12
Tabela 2<br />
Principais fluxos <strong>migratórios</strong> <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>: 1975-1980<br />
Origem Destino Nº <strong>de</strong> imigrantes<br />
Manaus – AM Boa Vista – RR 1.608<br />
Manaus – AM Caracaraí- RR 377<br />
Belém – PA Boa Vista – RR 374<br />
Fortaleza – CE Boa Vista – RR 319<br />
Imperatriz – MA Caracaraí- RR 301<br />
Santa Luzia – MA Boa Vista – RR 284<br />
Santa Luzia –MA Caracaraí- RR 278<br />
Imperatriz –MA Boa Vista – RR 263<br />
São Luis –MA Boa Vista – RR 241<br />
Santarém – PA Boa Vista – RR 157<br />
Bacabal – MA Boa Vista – RR 154<br />
Santa Inês – MA Boa Vista – RR 132<br />
Boa Vista –RR Caracaraí- RR 131<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro – RJ Boa Vista – RR 122<br />
João Lisboa – MA Caracaraí- RR 120<br />
Aracati – CE Boa Vista – RR 114<br />
Vitorino Freire – MA Boa Vista – RR 113<br />
Bacabal – MA Caracaraí- RR 109<br />
Rio Branco – AC Boa Vista – RR 96<br />
Vitorino Freire – MA Caracaraí- RR 92<br />
Tabela 3<br />
Principais fluxos <strong>migratórios</strong> <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>: 1986-1991<br />
Origem Destino Nº <strong>de</strong> imigrantes<br />
Manaus – AM Boa Vista - RR 2.300<br />
Itaituba – PA Boa Vista - RR 1.564<br />
Imperatriz – MA Boa Vista - RR 1.555<br />
Fortaleza – CE Boa Vista - RR 946<br />
Zé Doca – MA Boa Vista - RR 785<br />
Belém – PA Boa Vista - RR 712<br />
Santarém – PA Boa Vista - RR 705<br />
Santa Inês – MA Boa Vista - RR 703<br />
Porto Velho – RO Boa Vista - RR 586<br />
São Luis – MA Boa Vista - RR 567<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro – RJ Boa Vista - RR 556<br />
Bacabal – MA Boa Vista - RR 498<br />
São João <strong>da</strong> Baliza – RR Boa Vista - RR 443<br />
Alto Alegre – RR Boa Vista - RR 403<br />
Goiânia – GO Boa Vista - RR 376<br />
Teresina – PI Boa Vista - RR 362<br />
São Paulo – SP Boa Vista - RR 354<br />
Açailândia – MA Boa Vista - RR 306<br />
Xinguara – PA Boa Vista - RR 295<br />
Mucajaí – RR Boa Vista - RR 288<br />
13
Tabela 4<br />
Principais fluxos <strong>migratórios</strong> <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>: 1995-2000<br />
Origem Destino Nº <strong>de</strong> imigrantes<br />
Itaituba – PA Boa Vista - RR 4.627<br />
Manaus – AM Boa Vista - RR 3.988<br />
Santarém – PA Boa Vista - RR 1.691<br />
Manaus- AM Rorainópolis - RR 1.182<br />
Boa Vista – RR Cantá - RR 957<br />
Zé Doca – MA Boa Vista - RR 829<br />
Boa Vista – RR Pacaraima - RR 781<br />
Bacabal – MA Boa Vista - RR 714<br />
Boa Vista – RR Caracaraí- RR 708<br />
Boa Vista - RR Bonfim - RR 681<br />
Belém - PA Boa Vista - RR 670<br />
Porto Velho - RO Boa Vista - RR 620<br />
Alto Alegre - RR Boa Vista - RR 552<br />
Santa Inês - MA Boa Vista - RR 532<br />
Imperatriz - MA Boa Vista - RR 521<br />
Caracaraí - RR Boa Vista - RR 498<br />
São Luis - MA Boa Vista - RR 447<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro - RJ Boa Vista - RR 445<br />
Rurópolis - PA Boa Vista - RR 436<br />
Fortaleza - CE Boa Vista - RR 422<br />
Figura 1<br />
Organização política <strong>da</strong> área hoje conheci<strong>da</strong> como<br />
Estado <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong> antes <strong>de</strong> 1943<br />
14
Figura 2<br />
Organização Política do<br />
Território <strong>de</strong> Rio Branco - 1943<br />
Figura 3<br />
Organização Política do<br />
Território do Rio Branco - 1955<br />
15
Figura 4<br />
Organização Política do<br />
Território do Rio Branco - 1982<br />
Figura 5<br />
Organização Política do<br />
Estado <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong> - 1995<br />
16
14000<br />
12000<br />
10000<br />
8000<br />
6000<br />
4000<br />
2000<br />
0<br />
50000<br />
45000<br />
40000<br />
35000<br />
30000<br />
25000<br />
20000<br />
15000<br />
10000<br />
5000<br />
0<br />
Figura 6<br />
Volume <strong>da</strong>s imigrações em <strong>Roraima</strong>:<br />
1975-1980, 1986-1991 e 1995-2000<br />
1975-1980 1986-1991 1996-2000<br />
Inter-estadual 11729 33086 45491<br />
Intra-estadual 514 3083 11558<br />
Inter-estadual Intra-estadual<br />
Figura 7<br />
Estados <strong>de</strong> Origem dos Imigrantes <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>:<br />
1975-1980, 1986-1991 e 1995-2000<br />
AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RS SC SE SP TO<br />
1975-1980 1986-1991 1995-2000<br />
17
60<br />
40<br />
20<br />
0<br />
-20<br />
-40<br />
-60<br />
40000<br />
35000<br />
30000<br />
25000<br />
20000<br />
15000<br />
10000<br />
5000<br />
0<br />
Figura 8<br />
Municípios <strong>de</strong> Destino dos Imigrantes <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>:<br />
1975-1980, 1986-1991, 1995-2000<br />
ALTO ALEGRE<br />
AMAJARI<br />
BOA VISTA<br />
BONFIM<br />
CANTA<br />
CARACARAI<br />
CAROEBE<br />
IRACEMA<br />
MUCAJAI<br />
NORMANDIA<br />
PACARAIMA<br />
RORAINOPOLIS<br />
SAO JOAO DA BALIZA<br />
SAO LUIZ<br />
UIRAMUTA<br />
1975-1980 1986-1991 1995-2000<br />
Figura 9<br />
Migrações Líqui<strong>da</strong>s Intra-Estaduais em <strong>Roraima</strong> - 1975-1980<br />
BOA VISTA CARACARAI<br />
18
1400<br />
1200<br />
1000<br />
800<br />
600<br />
400<br />
200<br />
0<br />
-200<br />
-400<br />
-600<br />
Figura 10<br />
ALTO ALEGRE BOA VISTA BONFIM CARACARAI MUCAJAI NORMANDIA SAO JOAO DA<br />
BALIZA<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
0<br />
-500<br />
-1000<br />
-1500<br />
-2000<br />
-2500<br />
Migrações Líqui<strong>da</strong>s Intra-Estaduais em <strong>Roraima</strong> - 1986-1991<br />
Figura 11<br />
Migrações Líqui<strong>da</strong>s Intra-Estaduais em <strong>Roraima</strong> - 1995-2000<br />
ALTO ALEGRE<br />
AMAJARI<br />
BOA VISTA<br />
BONFIM<br />
CANTA<br />
CARACARAI<br />
CAROEBE<br />
IRACEMA<br />
19<br />
MUCAJAI<br />
NORMANDIA<br />
PACARAIMA<br />
RORAINOPOLIS<br />
SAO JOAO DA<br />
BALIZA<br />
SAO LUIZ<br />
SAO LUIZ<br />
UIRAMUTA
Figura 12<br />
Principais fluxos <strong>migratórios</strong> <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>: 1975-1980<br />
Figura 13<br />
Principais fluxos <strong>migratórios</strong> <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>: 1986-1991<br />
Figura 14<br />
Principais fluxos <strong>migratórios</strong> <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>: 1995-2000<br />
20