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Fluxos migratórios e formação da rede urbana de Roraima

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era ligeiramente superior a 28.000 habitantes, em 1960, chegou a 40.885, em 1970. A<br />

tendência <strong>de</strong> crescimento se manteve durante a déca<strong>da</strong> seguinte, chegando a 79.159 pessoas<br />

em 1980.<br />

Esta época foi também marca<strong>da</strong> pela criação <strong>de</strong> incentivos à ocupação do território<br />

para solucionar dois problemas crônicos. O primeiro, <strong>de</strong> cunho geopolítico, era o <strong>de</strong> ocupar os<br />

“espaços vazios” do território, tendo em vista a antiga preocupação dos governos centrais em<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r as fronteiras internacionais do país. O segundo residia na questão regional<br />

nor<strong>de</strong>stina. A proposta era criar colônias agrícolas para transferir a população <strong>de</strong> regiões<br />

empobreci<strong>da</strong>s e “castiga<strong>da</strong>s” pela seca para regiões mais úmi<strong>da</strong>s e supostamente agricultáveis.<br />

Assim, as famílias <strong>de</strong> migrantes po<strong>de</strong>riam ter acesso a frações <strong>de</strong> terra para sua subsistência,<br />

servindo então como um gran<strong>de</strong> fator <strong>de</strong> atração e auxiliando, concomitantemente, aos<br />

interesses geopolíticos (Barros, 1994).<br />

Ressalte-se que, entre 1970 e 1980, a população <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong> praticamente duplicou,<br />

apresentando uma taxa anual <strong>de</strong> crescimento na or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 6,8% ao ano. Vale <strong>de</strong>stacar que a<br />

população masculina apresentou uma taxa <strong>de</strong> crescimento geométrico <strong>de</strong> 6,9%, enquanto a<br />

feminina apresentou taxa <strong>de</strong> 6,7%. Tal dissonância é <strong>de</strong>corrente do principal atrativo<br />

populacional <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong> na déca<strong>da</strong> (as terras <strong>de</strong>volutas do estado), que prioriza o elemento<br />

masculino, em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> natureza do trabalho e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> em ambientes <strong>de</strong> fronteira agrícola.<br />

Também neste período, <strong>Roraima</strong> sofre profun<strong>da</strong>s transformações na estrutura<br />

populacional, com <strong>de</strong>staque para a consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> transição <strong>urbana</strong> do Estado, que ocorreu<br />

na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 70, quase uma déca<strong>da</strong> após a transição <strong>urbana</strong> nacional.<br />

A <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> ouro e diamantes na porção setentrional <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong>, em meados dos<br />

anos 1980, trouxe milhares <strong>de</strong> garimpeiros ao Estado. Estima-se que mais <strong>de</strong> 40.000<br />

indivíduos estiveram envolvidos diretamente nesta empreita<strong>da</strong>, entre 1987 e 1991, sem contar<br />

aqueles que se envolveram indiretamente com o garimpo, trabalhando em ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio<br />

(Macmillan, 1995). Devido à intensa ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> mineira, a população <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong> cresceu a<br />

uma média <strong>de</strong> 10,64% ao ano na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980, praticamente triplicando as suas cifras. Este<br />

maior crescimento teve como principal contribuinte os fluxos <strong>migratórios</strong> <strong>de</strong>stinados a<br />

ambientes rurais, o que proporcionou uma taxa <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong> 9,7%, em contraposição ao<br />

ínfimo valor <strong>de</strong> 2,7% apresentado na déca<strong>da</strong> anterior.<br />

Mas, apesar <strong>da</strong> natureza rural dos atrativos populacionais do Estado (garimpo e<br />

assentamentos agrícolas), <strong>Roraima</strong> é um Estado eminentemente urbano. A sua urbanização,<br />

que vem acontecendo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1940, intensificou-se nas últimas déca<strong>da</strong>s, culminando com<br />

76,15% <strong>da</strong> população vivendo em ambientes urbanos no ano <strong>de</strong> 2000. A urbanização <strong>de</strong><br />

<strong>Roraima</strong> não é um fenômeno isolado, mas parte integrante <strong>de</strong> um processo generalizado que<br />

se faz presente em todos os estados amazônicos. O fato é que as áreas <strong>urbana</strong>s <strong>da</strong> região<br />

Amazônica constituem-se como pontos <strong>de</strong> congregação <strong>de</strong> uma força <strong>de</strong> trabalho altamente<br />

móvel e flexível, que é fun<strong>da</strong>mental para o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico <strong>da</strong> região<br />

(Becker, 1990).<br />

Outro elemento a ser consi<strong>de</strong>rado é o fato <strong>de</strong> que a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> mineradora <strong>de</strong>man<strong>da</strong> um<br />

grupo seleto <strong>de</strong> migrantes, dotado <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> vigor físico. Neste sentido, a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

garimpeira ten<strong>de</strong> a selecionar jovens-adultos, do sexo masculino, com i<strong>da</strong><strong>de</strong>s entre 20 e 34<br />

anos. Tal seletivi<strong>da</strong><strong>de</strong> migratória teve um impacto significativo na estrutura populacional <strong>de</strong><br />

<strong>Roraima</strong> (Barros, 1994; Diniz, 2002).<br />

Como a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> mineradora era conduzi<strong>da</strong> <strong>de</strong> maneira clan<strong>de</strong>stina em parques<br />

nacionais e reservas indígenas, o governo Fe<strong>de</strong>ral removeu os garimpeiros e <strong>de</strong>clarou a<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> ilegal, gerando um gran<strong>de</strong> refluxo populacional e uma significativa diminuição nas<br />

taxas <strong>de</strong> crescimento. Entre 1991 e 1996, as taxas <strong>de</strong> crescimento populacional não passaram<br />

<strong>de</strong> 3,29% anuais, contra 10,64% entre 1980 e 1991.<br />

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