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A trilogia urbana (O POVO 10/09/2007 - Eduardo Campos

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O <strong>POVO</strong>.com.br<br />

A <strong>trilogia</strong> <strong>urbana</strong><br />

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Eleuda de Carvalho<br />

da Redação<br />

[<strong>10</strong> Setembro 00h54min <strong>2007</strong>]<br />

Page 1 of 2<br />

A Fortaleza do subúrbio - com seus dramas pessoais, renitentes alegrias,<br />

problemas que parecem não ter solução, o avanço da especulação<br />

imobiliária, o choque de valores morais e também, claro, o humor peculiar a<br />

sua gente - é o cenário dos textos mais conhecidos do dramaturgo <strong>Eduardo</strong><br />

<strong>Campos</strong>. O livro Três Peças Escolhidas, da Coleção Literatura no<br />

Vestibular (Edições UFC/CCV), reúne Rosa do Lagamar, Morro do Ouro e<br />

A Donzela Desprezada. As duas primeiras foram dos maiores sucessos da<br />

Comédia Cearense, com prêmios em festivais pelo Brasil e temporadas em<br />

cartaz. Escritas em meados da década de 60, quando a cidade começava a se expandir em bairros cada<br />

vez mais distantes e precários, elas continuam atuais, ao trazerem à cena dramática a questão da<br />

inclusão/exclusão social. Sem perder a graça.<br />

Lá para os lados da Barra do Ceará fica o lugar conhecido desde os anos 50 como Morro do Ouro. Era<br />

uma comunidade pobre que surgiu em torno do aterro da cidade, muito tempo antes do Jangurussu. É o<br />

cenário desta peça de <strong>Eduardo</strong> <strong>Campos</strong>, que tem como protagonista a prostituta Madalena e seu amante,<br />

o trambiqueiro Zé Valentão. Outros personagens são o bodegueiro Patrício, o apontador do jogo-do-bicho<br />

Ezequiel, conhecido por Fortuna, o mendigo Aleijado e sua mulher, assistentes sociais, um candidato a<br />

vereador - dr. Gervásio, entre outros. A história começa com Madalena e Zé Valentão na cama, depois de<br />

uma noite de folia. O amante escapole antes que a polícia venha. É de manhã, e logo a favela fica<br />

animada com a chegada de uma máquina de costura, entregue ali por ordem do candidato.<br />

Quem também chega são algumas assistentes sociais, e nestas cenas o autor põe à mostra o proselitismo<br />

oco, de um lado, e o tal espírito moleque do povão - picaresco e por isso tão escancaradamente<br />

verdadeiro, real. "Veja que estou aqui, saindo do meu conforto, para cuidar de vocês. (Olhando ao<br />

derredor). Que rua horrível! (Pausa). E esse mau cheiro? É sempre assim?", pergunta a assistente social.<br />

A lavadeira, trouxa na cabeça, responde: "Não, não sinto não... Será esta catinguinha? É do lixo! Todo o<br />

lixo da cidade é botado na rua". O nó dramático da peça é a chegada de dona Elvira, mãe de Madalena,<br />

que vem do interior e nem desconfia da vida que a filha leva. Com a ajuda dos amigos, ela disfarça suas,<br />

digamos, atividades. Logo, dona Elvira inventa uma novena, que consegue reunir todos os moradores. Até<br />

Ezequiel vai mudar de negócio: de vendedor de bicho, passa a comerciar santinhos e medalhas.<br />

A solidariedade dá o tom aos protagonistas de <strong>Eduardo</strong> <strong>Campos</strong>, nestas três peças. Em A Rosa do<br />

Lagamar, temos outra vez a presença de mulheres determinadas, fortes, que aprenderam a se virar<br />

sozinhas, e romperam os limites sexistas da moral e dos bons costumes sem discurso nem alarde. Como<br />

continuam a fazer, ainda agora. Rosa é uma batalhadora. Ela saiu do Lagamar e comprou um terreninho<br />

na Aldeota, onde montou uma birosca que serve café e refeições para os trabalhadores de uma obra em<br />

construção. O dono do casarão quer o terreno de Rosa, ela não vende. Mas acaba perdendo tudo, porque<br />

o documento que tem é falso. Na hora do despejo, Rosa pede para contar as telhas e caibros de sua casa,<br />

pela última vez. "São vinte e dois caibros e 72 telhas. Só depois que eu conto é que durmo. É um velho<br />

hábito de solidão".<br />

A Donzela Desprezada é a história de Amelinha, uma moça sonhadora, filha da viúva zeladora da igreja,<br />

que transa com o namorado, motorista do caminhão da entrega do gás. Ela é a candidata do partido azul,<br />

na quermesse da igreja. Quando a mãe descobre que a filha "se perdeu", fica maluca. Com a ajuda de um<br />

jornalista sensacionalista e um policial corrupto, ela convence a filha a dar parte do namorado ao<br />

delegado, para forçar o casamento. O motivo pode ter ficado, e ficou, anacrônico, mas a peça não: é arte.<br />

A capa do livro traz um óleo sobre tela do artista plástico Nogueira, Casamento no Arraial, bem de acordo<br />

com o colorido universo popular de Manelito <strong>Eduardo</strong> (como o dramaturgo também é conhecido).<br />

http://admin.opovo.com.br/servlet/opovo?event=ctdi_noticiaForPrint&NOT_cod=7274...<br />

25/9/<strong>2007</strong>


O <strong>POVO</strong>.com.br<br />

SERVIÇO<br />

Três Peças Escolhidas - <strong>Eduardo</strong> <strong>Campos</strong>. Coleção Literatura no Vestibular, publicação CCV/UFC, 244<br />

páginas. R$ 13 (na livraria da UFC: av. da Universidade, 2932, Benfica - em frente à Igreja dos Remédios).<br />

Inf.: 3366.7439 ou www.editora.ufc.br<br />

E-MAIS<br />

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Manuel <strong>Eduardo</strong> Pinheiro <strong>Campos</strong> nasceu em 11 de janeiro de 1923, em Guaiúba, então distrito de<br />

Pacatuba. Órfão de pai aos quatro meses, foi criado pelos tios (pais do escritor Artur <strong>Eduardo</strong> Benevides).<br />

Formado em direito, ele autou no jornalismo e no rádio e foi um dos criadores da TV Ceará. No endereço<br />

www.eduardocampos.jor.br, o leitor encontra biografia, bibliografia, infogravuras e fotos do escritor, que<br />

também integrou o grupo Clã.<br />

Presidiu a Academia Cearense de Letras de 1965 a 1974. É membro-fundador da Acert (Associação<br />

Cearense de Emissoras de Rádio e Televisão), da qual foi o primeiro presidente. Atualmente, termina seu<br />

mandato à frente do Instituto do Ceará (Histórico, Geográfico e Antropológico). <strong>Eduardo</strong> <strong>Campos</strong> também<br />

foi secretário de Cultura do Ceará, no governo de Virgílio Távora (1979-1982). Além de peças teatrais,<br />

também escreveu textos para tevê. Foram ao ar, pela TV Ceará canal 2, na década de 60 e começo de 70,<br />

os teledramas As Tentações do Demônio, O Amargo Desejo da Morte e A Morte Prepara o Laço - que teve<br />

participação do ator Emiliano Queiroz.<br />

http://admin.opovo.com.br/servlet/opovo?event=ctdi_noticiaForPrint&NOT_cod=7274...<br />

25/9/<strong>2007</strong>

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