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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC<br />

CURSO DE PSICOLOGIA<br />

HELENO FELIX TORRES<br />

A HIPNOSE NA PRÁTICA CLÍNICA<br />

CRICIÚMA, JUNHO DE 2009


HELENO FELIX TORRES<br />

A HIPNOSE NA PRÁTICA CLÍNICA<br />

Trabalho <strong>de</strong> Conclusão <strong>de</strong> Curso, apresenta<strong>do</strong><br />

para obtenção <strong>do</strong> grau <strong>de</strong> bacharel no <strong>curso</strong> <strong>de</strong><br />

Psicologia da Universida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Extremo Sul<br />

Catarinense -UNESC.<br />

Orienta<strong>do</strong>r: Prof. Jeverson Rogerio Costa<br />

Reichow<br />

CRICIÚMA, JUNHO DE 2009


HELENO FELIX TORRES<br />

A HIPNOSE NA PRÁTICA CLÍNICA<br />

11<br />

Trabalho <strong>de</strong> Conclusão <strong>de</strong> Curso aprova<strong>do</strong> pela<br />

Banca Examina<strong>do</strong>ra para obtenção <strong>do</strong> Grau <strong>de</strong><br />

Bacharel no Curso <strong>de</strong> Psicologia da<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Extremo Sul Catarinense -<br />

UNESC, com Linha <strong>de</strong> Pesquisa em Neuro<br />

Psicologia.<br />

Criciúma, 22 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 2009. (data da <strong>de</strong>fesa)<br />

BANCA EXAMINADORA<br />

Prof. Jeverson Rogerio Costa Reichow – Mestre - (UNESC) - Orienta<strong>do</strong>r<br />

Dr. Antonio Carlos Althoff – Especialista em Reumatologia<br />

Profª. Elenice De Freitas Sais – Especialista - (UNESC)


12<br />

“Se você quiser comer hoje, cultive arroz.<br />

Se você quiser comer amanhã, cultive árvores frutíferas.<br />

Se você quiser que seus filhos e netos comam, cultive homens”.<br />

Confúcio Confúcio<br />

Confúcio


RESUMO<br />

Rever conceitos tão antigos e tão atuais sobre a prática hipnótica implica<br />

necessariamente em revisitar os nomes que figuram na sua história. Das antigas<br />

práticas ritualísticas pagãs, <strong>do</strong> culto aos <strong>de</strong>uses, passan<strong>do</strong> por Mesmer, Freud e<br />

Erickson, apenas entre os mais expressivos, chega-se ao presente com os<br />

ultramo<strong>de</strong>rnos exames <strong>de</strong> tomografia por emissão <strong>de</strong> pósitrons e a ressonância<br />

magnética <strong>do</strong> fluxo sanguíneo e seus proeminentes executores. À luz <strong>de</strong> novos<br />

acha<strong>do</strong>s científicos, a hipnose se renova e reforça uma posição que já conquistou na<br />

comunida<strong>de</strong> médica, a saber o expressivo relato <strong>de</strong> casos que dão conta da sua<br />

eficácia na prática clínica, in<strong>do</strong> mais pontualmente esclarecer o funcionamento <strong>do</strong><br />

cérebro humano quan<strong>do</strong> ativa<strong>do</strong> pelo esta<strong>do</strong> hipnótico. Especificamente na clínica<br />

psicológica, a hipnose vem sen<strong>do</strong> utilizada com gran<strong>de</strong> sucesso nos casos em que<br />

trata <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong>, fobias, traumas, drogadição, <strong>de</strong>pendência em seus vários níveis,<br />

apenas para citar algumas <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns, razão pela qual o presente trabalho se<br />

inscreve, num esforço <strong>de</strong> resgatar a história da hipnose no mun<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

Antigüida<strong>de</strong> até os dias atuais, os caminhos e <strong>de</strong>scaminhos que percorreu para que<br />

hoje pu<strong>de</strong>sse ocupar o lugar que ora ocupa: revestir-se da capa protetora da ciência<br />

e colocar-se a serviço <strong>do</strong> homem enquanto possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reduzir sofrimentos.<br />

Palavras-chave: Hipnose. Indução Hipnótica. Psicologia. Prática Clínica<br />

13


LISTA DE ILUSTRAÇÕES<br />

Figura 1 – Divisão <strong>do</strong> Sistema Nervoso .................................................................... 36<br />

Figura 2 – Subdivisão <strong>do</strong> córtex cerebral .................................................................. 39<br />

Figura 3 – Áreas <strong>do</strong> cérebro e suas respectivas funções .......................................... 40<br />

Figura 4 – Mo<strong>de</strong>lo utiliza<strong>do</strong> nos experimentos <strong>de</strong> Kosslyn & Col. ............................. 42<br />

Figura 5 – Variação da ativida<strong>de</strong> normal <strong>de</strong> um recém-nasci<strong>do</strong>................................ 43<br />

Figura 6 – Imagem <strong>de</strong> cérebro estimula<strong>do</strong> pela Serotonina ...................................... 43<br />

Figura 7 – Imagem <strong>do</strong> cérebro durante exame <strong>de</strong> IRMf ............................................ 44<br />

Figura 8 - Estimulação <strong>do</strong> cérebro sob efeito <strong>de</strong> sugestões pós-hipnóticas .............. 82<br />

14


LISTA DE TABELAS<br />

Tabela 01 - Aspectos da sugestão .......................................................................... 48<br />

Tabela 02 - Fatores da relação especialista-paciente ..................................................... .... 49<br />

Tabela 03 - Influência <strong>do</strong> meio ambiente e a relação especialista-paciente ......................... 50<br />

Tabela 04 - Classificação das sugestões ............................................................................. 51<br />

Tabela 05 - Tipos <strong>de</strong> temperamento .................................................................................... 53<br />

Tabela 06 - Características <strong>do</strong> paciente hipnotiza<strong>do</strong> ........................................................... 54<br />

Tabela 07 - Alterações observáveis durante a hipnose ........................................................ 55<br />

Tabela 08 - Características psicológicas <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> hipnótico .............................................. 56<br />

Tabela 09 - Alterações em pacientes com ou sem sugestão hipnótica ................................ 57<br />

Tabela 10 - Escala De Torres Norry (mod. Por Moraes Passos) .......................................... 78<br />

Tabela 11 - Características a observar no esta<strong>do</strong> hipnótico ................................................. 79<br />

Tabela 12 - Atribuições <strong>do</strong> O<strong>do</strong>ntólogo ................................................................................ 84<br />

15


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS<br />

CFP – Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Psicologia......................................................................32<br />

SNA – Sistema Nervoso Autônomo...........................................................................35<br />

SNC - Sistema Nervoso Central.................................................................................36<br />

SNP – Sistema Nervoso Periférico.............................................................................36<br />

SNPS – Sistema Nervoso Periférico Somático..........................................................36<br />

SNPA – Sistema Nervoso Periférico Autônomo.........................................................36<br />

SNAS – Sistema Nervoso Autônomo Simpático........................................................37<br />

SNAP – Sistema Nervoso Autônomo Parassimpático...............................................37<br />

PET – Tomografia por emissão <strong>de</strong> pósitrons ............................................................37<br />

MAT/URFGS – Matemática – Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Su...............42<br />

FSCr – Fluxo sanguíneo cerebral regional ................................................................44<br />

IRMf – Ressonância Magnética Funcional.................................................................44<br />

EEG – Eletroencefalograma.......................................................................................44<br />

SHCL- Stanford Hypnotic Clinical Scale.....................................................................79<br />

SSTA - Sugestões para sintonização, treinamento e aproveitamento......................79<br />

AAC – Córtex anterior cingula<strong>do</strong>................................................................................82<br />

CFO – Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> O<strong>do</strong>ntologia..................................................................83<br />

CFM – ConselhoFe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Medicina........................................................................97<br />

AMB – Associação Médica Brasileira.......................................................................100<br />

DOU – Diário Oficial da União..................................................................................110<br />

17<br />

16


SUMÁRIO<br />

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 10<br />

2 HISTÓRIA DA HIPNOSE ................................................................................................. 12<br />

2.1 As Origens .................................................................................................................. .13<br />

2.2 Hipnose na Era Mo<strong>de</strong>rna ........................................................................................... .23<br />

2.3 Hipnose no Brasil ...................................................................................................... .28<br />

2.3.1 Cronologia <strong>do</strong> Hipnotismo no Brasil ..................................................................... .30<br />

3 HIPNOSE E CIÊNCIA ..................................................................................................... .33<br />

3.1 Neurofisiologia da Hipnose ....................................................................................... .35<br />

3.2 Consciência, Transe e Hipnose ................................................................................ .45<br />

3.3 Sugestão .................................................................................................................... .47<br />

3.4 Méto<strong>do</strong>s/técnicas <strong>de</strong> Hipnoterapia com Hipnose ..................................................... 58<br />

3.5 Fenômenos Hipnóticos ............................................................................................. .66<br />

3.6 Técnicas Hipnóticas .................................................................................................. .70<br />

3.7 Estágios da Hipnose .................................................................................................. .77<br />

4 O USO DA HIPNOSE NA PRÁTICA CLÍNICA ............................................................... .80<br />

4.1 Hipnose na Clínica Médica ........................................................................................ .80<br />

4.2 Hipnose na Clínica O<strong>do</strong>ntológica ............................................................................. .82<br />

4.3 Hipnose na Clínica Psicológica ................................................................................ .84<br />

5 METODOLOGIA ............................................................................................................. .87<br />

6 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ................................................................ .88<br />

7 CONCLUSÃO ................................................................................................................. .90<br />

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. .91<br />

ANEXOS ........................................................................................................................... .97<br />

ANEXO I ............................................................................................................................ .97<br />

ANEXOII...............................................................................................................................107<br />

ANEXO III............ ........................................................................................................... ..108<br />

17


1 INTRODUÇÃO<br />

Ao longo <strong>do</strong>s séculos, a hipnose foi sen<strong>do</strong> revelada por diferentes lentes,<br />

<strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com cada momento histórico, mas ainda hoje guarda ranços <strong>de</strong> antigas<br />

concepções acerca <strong>de</strong> sua significação e efetiva contribuição para a prática clínica,<br />

tanto médica quanto psicológica.<br />

A associação com espetáculos <strong>de</strong> varieda<strong>de</strong>s, em que um convida<strong>do</strong><br />

realizava ações incomuns e surreais induzi<strong>do</strong> supostamente por hipnose, faz com<br />

que ainda nos tempos mo<strong>de</strong>rnos ela sofra suas conseqüências.<br />

Iniciada muito antes da existência <strong>de</strong> relatos escritos da história humana,<br />

a hipnose já podia ser encontrada nas cerimônias religiosas e <strong>de</strong> cura <strong>de</strong> muitos<br />

povos primitivos, os quais se utilizavam <strong>de</strong>la para induzir seus participantes ao<br />

transe hipnótico. Sua importância não está em chamar estas cerimônias <strong>de</strong><br />

religiosas, curan<strong>de</strong>irismo, ou alguma outra combinação que seja, mas sim que o<br />

esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> transe com características hipnóticas já existia, muito embora o termo<br />

tenha si<strong>do</strong> cunha<strong>do</strong> apenas no século XIX, com James Braid.<br />

Não é sem razão que o final <strong>do</strong> século passa<strong>do</strong> e início <strong>de</strong>ste também<br />

tenha si<strong>do</strong> muito fértil quanto à discussão da dimensão social da ciência, no senti<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> que a compreensão da prática hipnótica não po<strong>de</strong>ria passar distanciada <strong>do</strong>s<br />

processos comuns a uma comunida<strong>de</strong> científica que prima pelo conhecimento como<br />

forma <strong>de</strong> dar ao homem o melhor <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is mun<strong>do</strong>s, buscan<strong>do</strong> a teoria para aplicar a<br />

prática.<br />

A preocupação com o bem-estar <strong>do</strong> homem num mun<strong>do</strong> cada vez mais<br />

agita<strong>do</strong>, on<strong>de</strong> as pessoas se veem acossadas pela matéria, faz a Psicologia voltar<br />

os olhos à humanida<strong>de</strong> como forma <strong>de</strong> buscar outros re<strong>curso</strong>s que a faça conseguir<br />

um equilíbrio entre as exigências da vida mo<strong>de</strong>rna e o equilíbrio emocional,<br />

consequentemente procuran<strong>do</strong> reduzir sofrimento.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, a hipnose tem se mostra<strong>do</strong> uma valiosa ferramenta,<br />

justifican<strong>do</strong> o presente trabalho ao buscar respon<strong>de</strong>r por qual mo<strong>do</strong>, como terapia<br />

complementar, atua na mente humana mudan<strong>do</strong> comportamentos e favorecen<strong>do</strong> a<br />

remissão <strong>de</strong> patologias, físicas e ou emocionais, como insônia, enxaqueca,<br />

alcoolismo, no alívio da <strong>do</strong>r, para citar alguns, bem como sua importância.<br />

18


Embora tenha si<strong>do</strong> apresentada sob diferentes conceitos ao longo <strong>de</strong> sua<br />

evolução, Barber a enten<strong>de</strong> como um comportamento hipnótico sugeri<strong>do</strong> a partir <strong>de</strong><br />

atitu<strong>de</strong>s positivas, motivações ou expectativas que predispõem o indivíduo a pensar<br />

e ou imaginar <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong> os temas sugeri<strong>do</strong>s (FERREIRA, 2006).<br />

Na visão <strong>do</strong> próprio Ferreira, hipnose médica é “[...] essencialmente um<br />

esta<strong>do</strong> da mente no qual as sugestões são mais profundamente aceitas <strong>do</strong> que no<br />

esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> vigília, mas também agem mais po<strong>de</strong>rosamente <strong>do</strong> que seria possível<br />

durante o esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> vigília” (2003, p. 155).<br />

Para a Associação Americana <strong>de</strong> Psicologia, Divisão <strong>de</strong> Hipnose<br />

Psicológica, a hipnose consiste em<br />

[...] um procedimento durante o qual um profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ou<br />

pesquisa<strong>do</strong>r sugere que um cliente, paciente, ou um sujeito experimente<br />

mudanças <strong>de</strong> sensações, percepções, pensamentos e comportamentos. O<br />

contexto hipnótico é geralmente estabeleci<strong>do</strong> por um procedimento <strong>de</strong><br />

indução. Embora haja muitas induções hipnóticas diferentes, a maioria inclui<br />

sugestões <strong>de</strong> relaxamento, calma e bem-estar. Instruções para pensar<br />

sobre experiências agradáveis são também comumente incluídas em<br />

induções hipnóticas (TIBÉRIO; <strong>de</strong> MARCO & PETEAN, 2004).<br />

Pela consciência <strong>do</strong>s inúmeros benefícios que a hipnose é capaz <strong>de</strong><br />

apresentar, o objetivo geral <strong>de</strong>ste trabalho está em <strong>de</strong>stacar a importância da<br />

hipnose como terapia complementar em processos terapêuticos físicos e<br />

psicológicos. Começan<strong>do</strong> por uma revisão bibliográfica sobre o assunto, passa a<br />

investigar e <strong>de</strong>screver a história da hipnose no Brasil e no mun<strong>do</strong>, além <strong>de</strong><br />

esclarecer seu uso eficaz na prática clínica, bem como o esta<strong>do</strong> legal em que se<br />

encontra atualmente junto aos profissionais na área das ciências da saú<strong>de</strong> e<br />

humanas.<br />

19


2 HISTÓRIA DA HIPNOSE<br />

Etimologicamente, a palavra hipnose tem uma origem grega, cujo termo<br />

Hypnos significa sono, significa<strong>do</strong> esse que provocou uma ligação com o ato <strong>de</strong><br />

<strong>do</strong>rmir e que perdura até os tempos atuais. Entretanto, é pertinente esclarecer que o<br />

esta<strong>do</strong> hipnótico é muito mais <strong>do</strong> que isso, pois libera o paciente para a indução <strong>do</strong><br />

transe, conduzin<strong>do</strong>-o a um esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> relaxamento semiconsciente, mas com<br />

manutenção <strong>do</strong> contato sensorial <strong>de</strong>ste com o ambiente.<br />

Pelos conceitos <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s por Milton Erickson, um <strong>do</strong>s maiores<br />

expoentes em hipnose no mun<strong>do</strong>, o ser humano tem como característica a<br />

habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r às sugestões e aceitá-las. Com a utilização <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong><br />

hipnose, o terapeuta dá ao paciente a chance <strong>de</strong> escutar realmente os conceitos<br />

mentais, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que este se torna receptivo aos padrões, às associações e aos<br />

mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> funcionamento que conduzem à solução <strong>de</strong> problemas (ERICKSON,<br />

HERSHMAN & SECTER, 2003; FERREIRA, 2006). Na visão <strong>do</strong>s autores, “[...] transe<br />

é um esta<strong>do</strong> psicológico <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> da consciência [...] e que ele difere <strong>do</strong> esta<strong>do</strong><br />

comum da consciência” (p. 53).<br />

No entanto, embora aponte para a inexistência <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s que<br />

comprovem a existência <strong>do</strong> transe, Ferreira (2006) consi<strong>de</strong>ra um <strong>de</strong>sserviço à<br />

indução hipnótica não reconhecer tal esta<strong>do</strong>. Segun<strong>do</strong> ele, “[...] não haven<strong>do</strong> um<br />

esta<strong>do</strong> para o paciente entrar, por que fazer o processo <strong>de</strong> indução?” (p. 54).<br />

Segun<strong>do</strong> Stark (apud FERREIRA, 2006), a influência da hipnose se liga à<br />

alteração <strong>do</strong> autocontrole na medida em que, ao prestar atenção a um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong><br />

aspecto ou senti-lo, este se configura como “esta<strong>do</strong> altera<strong>do</strong>”, e o fato <strong>de</strong> se esperar<br />

modificações a partir <strong>do</strong> que se pretenda que aconteça, produz alterações nos<br />

pensamentos, atos e sentimentos <strong>do</strong> indivíduo.<br />

Para William Edmonston Jr, o termo para <strong>de</strong>screver hipnose seria anesis,<br />

uma vez que o autor consi<strong>de</strong>ra que o relaxamento é condição essencial para que o<br />

indivíduo responda melhor às sugestões (apud FERREIRA, 2006).<br />

20


2.1 As Origens<br />

Embora a palavra hipnose tenha si<strong>do</strong> revelada ao homem apenas no<br />

século XVI, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Antiguida<strong>de</strong> esta se achava representada através <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos<br />

em cavernas, nas cerâmicas, por assírios e egípcios. Pincherle & Colabora<strong>do</strong>res<br />

(1985 apud ANDRADE FARIA, 1961) referem que em Tebas foi encontra<strong>do</strong> um<br />

baixo-relevo num sarcófago, cujo <strong>de</strong>senho <strong>de</strong>nota um sacer<strong>do</strong>te induzin<strong>do</strong> um<br />

paciente. Conforme sustenta Bauer (2002), os homens primitivos registravam<br />

situações <strong>de</strong> sua vida cotidiana através <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos e outras simbolizações que<br />

tinham por objetivo representar seu mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> comunicação. No Talmu<strong>de</strong> se faz<br />

alusão ao encantamento <strong>de</strong> serpentes, enquanto que os gregos antigos usavam o<br />

sono hipnótico para a cura <strong>de</strong> diversos males nos chama<strong>do</strong>s “templos <strong>do</strong> sono”.<br />

O mais antigo relato <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> flui<strong>do</strong>s através <strong>de</strong> passes foi<br />

registra<strong>do</strong> entre os sacer<strong>do</strong>tes cal<strong>de</strong>us há cerca <strong>de</strong> 2400 a.C. Entre os gregos e<br />

indianos, a hipnose apresentava-se sob a face <strong>de</strong> “milagres” opera<strong>do</strong>s por<br />

sacer<strong>do</strong>tes, bruxos ou feiticeiros, os quais se <strong>de</strong>signavam mensageiros <strong>de</strong> Deus<br />

(AKSTEIN,1973, apud FERREIRA, 2006).<br />

Entre os egípcios, há registros <strong>de</strong> curas através da hipnose nos Papiros<br />

<strong>de</strong> Ebers (data<strong>do</strong> aproximadamente entre 1536-1534 a.C., nono ano <strong>do</strong> reina<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

Amenophis I na XVIII Dinastia e publica<strong>do</strong> em 1875, em Leipzig, pelo egiptólogo<br />

George Ebers, segun<strong>do</strong> BAPTISTA e colabora<strong>do</strong>res, 2003, os quais dão uma idéia a<br />

respeito da teoria e prática da medicina egípcia antes <strong>de</strong> 1552 a.C., cujas culturas,<br />

regidas por um pensamento mágico-religioso, dão conta <strong>de</strong> que a ativida<strong>de</strong> médica e<br />

seus médicos se encontravam sob a proteção divina (GARCIA-ALBEA, 1999).<br />

Consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s pre<strong>curso</strong>res da hipnose, Franz Anton Mesmer,<br />

discípulo <strong>do</strong> padre Maximiliano Hehl - professor <strong>de</strong> astronomia na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Viena, ajudava seu mestre a aplicar magnetos que tinham as formas <strong>de</strong> vários<br />

órgãos humanos, utilizan<strong>do</strong>-os <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o local on<strong>de</strong> se alojava a <strong>do</strong>ença <strong>do</strong><br />

paciente.<br />

Sobre o assunto, Shrout (1985) comenta que padre Hehl sabia que suas<br />

curas tinham muito mais um cunho psicológico <strong>do</strong> que físico, pois se o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> cura<br />

estivesse realmente nos magnetos, seriam indiferentes as formas, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se infere<br />

que a crença em talismãs ou amuletos sempre esteve presente entre os homens.<br />

21


Como Hehl, Padre Gassner (SHROUT, 1985) também usava os<br />

magnetos, cujo ritual começava por <strong>de</strong>ixar seus pacientes no centro <strong>de</strong> uma sala a<br />

sua espera, momento em que Gassner chegava até eles portan<strong>do</strong> nas mãos<br />

estendidas ao alto um crucifixo negro. Seus pacientes eram antecipadamente<br />

avisa<strong>do</strong>s que <strong>de</strong> quan<strong>do</strong> fossem por ele toca<strong>do</strong>s com o crucifixo, <strong>de</strong>veriam cair<br />

imediatamente ao chão, numa espécie <strong>de</strong> morte, enquanto o padre expulsaria os<br />

<strong>de</strong>mônios para <strong>de</strong>volver-lhes a saú<strong>de</strong> (BRYAN, 2009). Shrout (1985) também<br />

comenta sobre a dramaticida<strong>de</strong> que envolvia as sessões <strong>de</strong> cura <strong>de</strong> Padre Gassner,<br />

a qual envolvia o uso <strong>de</strong> mantos esvoaçantes, expressan<strong>do</strong>-se em latim e com um<br />

crucifixo enfeita<strong>do</strong> com pedrarias. Entretanto, isso não impediu que o padre<br />

obtivesse uma média <strong>de</strong> cura <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> setenta e cinco por cento <strong>do</strong>s casos que<br />

aten<strong>de</strong>u (i<strong>de</strong>m).<br />

Se Mesmer já se encontrava fascina<strong>do</strong> com os trabalhos <strong>de</strong> Hehl, <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> assistir várias performances <strong>do</strong> Padre Gassner, por volta <strong>de</strong> 1775, <strong>de</strong>cidiu-se a<br />

estudar o assunto. Embora mais tar<strong>de</strong> se tenha comprova<strong>do</strong> a puerilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu<br />

méto<strong>do</strong>, Mesmer conseguiu um sucesso consi<strong>de</strong>rável numa época em que sangrias<br />

e amputações eram as práticas médicas mais usadas, cujo caso <strong>de</strong> cura mais<br />

notável foi o <strong>de</strong> Maria Theresa Paradis, uma jovem pianista curada <strong>de</strong> cegueira em<br />

1777(FERREIRA, 2006).<br />

Aprimoran<strong>do</strong> esta linha <strong>de</strong> trabalho, os apontamentos <strong>de</strong> Erickson,<br />

Hershman & Secter, (2003) referem os postula<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Mesmer, em que “[...] um certo<br />

flui<strong>do</strong> que circulava no corpo era influencia<strong>do</strong> por forças magnéticas originadas a<br />

partir <strong>do</strong>s corpos astrais” (p. 20). Os da<strong>do</strong>s disponíveis na época davam<br />

credibilida<strong>de</strong> científica a sua teoria, coincidin<strong>do</strong> com o <strong>de</strong>scobrimento da eletricida<strong>de</strong><br />

e mais alguns avanços na astronomia.<br />

Da<strong>do</strong> o sucesso <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> por ele emprega<strong>do</strong>, Mesmer passou a<br />

acreditar que o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> cura estava antes na pessoa <strong>do</strong> “magnetiza<strong>do</strong>r” <strong>do</strong> que no<br />

próprio instrumento, passan<strong>do</strong> então a aplicar seu tratamento a várias pessoas ao<br />

mesmo tempo. Para tanto, i<strong>de</strong>alizou uma gran<strong>de</strong> tina (baquet em francês),<br />

distribuin<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la garrafas <strong>de</strong> vidro com as bocas voltadas para o centro,<br />

cobertas com limalha <strong>de</strong> ferro e vidro moí<strong>do</strong>, completan<strong>do</strong> o restante <strong>do</strong> espaço com<br />

água. A séance (reunião) tinha início então com as pessoas alinhadas ao re<strong>do</strong>r<br />

<strong>de</strong>sta tina (comportava 130 pessoas <strong>de</strong> cada vez) seguran<strong>do</strong> as garrafas <strong>de</strong> vidro,<br />

on<strong>de</strong> <strong>de</strong>veriam tocar a pessoa mais próxima. Entran<strong>do</strong> <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> impactante no<br />

22


ecinto, Mesmer ia <strong>de</strong> um em um aplican<strong>do</strong> passes até que eles caiam num transe<br />

cataléptico (SHROUT, 1985; FERREIRA, 2006).<br />

O alcance <strong>de</strong> suas curas <strong>de</strong>u-lhe uma reputação memorável, espalhan<strong>do</strong><br />

o Mesmerismo rapidamente pela Europa, ao mesmo tempo em que fez provocar em<br />

seus colegas uma gran<strong>de</strong> animosida<strong>de</strong>, fazen<strong>do</strong> com que a Aca<strong>de</strong>mia Francesa<br />

<strong>de</strong>signasse uma comissão especial para investigá-lo, a qual foi composta por<br />

Benjamin Franklin, Lavoisier e Dr. Guillotin (o inventor da guilhotina), entre outros<br />

(ERICKSON, HERSHAN & SECTER, 2003; FERREIRA, 2006; SAURET, 2008).<br />

Una <strong>de</strong> las comisiones <strong>de</strong> investigación - la encabezada por Benjamin<br />

Franklin- estaba formada por miembros <strong>de</strong> la Facultad <strong>de</strong> Medicina -Borie,<br />

Sallin, DArcet y Guillotin -, y <strong>de</strong> la Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Ciencias - Le Roy, Bailly,<br />

Lavoisier-, mientras que la segunda estaba formada sólo por miembros<br />

notables <strong>de</strong> la Sociedad Real <strong>de</strong> Medicina - Possonier, Caille, Mauduyt,<br />

Audry y Laurent <strong>de</strong> Jussieu. Sus frutos fueron <strong>do</strong>s amplios informes<br />

(Commissaires <strong>de</strong> lAcadémiee <strong>de</strong> Sciences et la Faculté <strong>de</strong> Mé<strong>de</strong>cine,<br />

1784; Commissaires <strong>de</strong> la Société Royale <strong>de</strong> Mé<strong>de</strong>cine, 1784),<br />

reproduci<strong>do</strong>s en forma amplia en la <strong>do</strong>cumentada obra editada por Burdin y<br />

Dubois (1841) (TORTOSA, GONZÁLEZ-ORDI e MIGUEL-TOBAL, 1999,<br />

p.8)<br />

As conclusões da comissão apontaram Mesmer como uma frau<strong>de</strong>, ao<br />

verificar que algumas pessoas eram sensíveis ao magnetismo animal e<br />

experimentavam uma reação convulsiva quan<strong>do</strong> tocadas pelos objetos, porém sem<br />

conseguir i<strong>de</strong>ntificar quais objetos tinham si<strong>do</strong> magnetiza<strong>do</strong>s, a menos que os<br />

vissem no momento <strong>do</strong> aconteci<strong>do</strong>: “A imaginação sem magnetismo provoca<br />

convulsões, o magnetismo sem imaginação não provoca nada” (SAURET, 2008, p.<br />

27).<br />

Estas conclusões, seus acertos e <strong>de</strong>sacertos foram brilhantemente<br />

trata<strong>do</strong>s por Chertok & Stengers (1990), no livro O coração e a razão, a hipnose <strong>de</strong><br />

Lavoisier à Lacan.<br />

Pincherle & Colabora<strong>do</strong>res (1985) sustentam que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Antiguida<strong>de</strong> o<br />

fenômeno mesmérico já era utiliza<strong>do</strong> por sacer<strong>do</strong>tes egípcios, nos templos hindus,<br />

por gregos, por Paracelso no século XV, Van Helmont e Valentin no século XVI,<br />

Greatrakes no século XVII, Cagliostro no século XVIII, porém circunscritos à religião.<br />

O que Mesmer postulava com seus acha<strong>do</strong>s era uma explicação científica para tais<br />

ocorrências.<br />

23


Entretanto, a originalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> Mesmer e que não teve o<br />

reconhecimento <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> na época estava em que os pacientes eram capazes <strong>de</strong><br />

alterar comportamentos mediante a sugestão dada por ele. É por esta razão que<br />

Erickson, Hershman & Secter (2003) apontam como base da psiquiatria dinâmica<br />

mo<strong>de</strong>rna o trabalho <strong>de</strong> Mesmer e sua teoria <strong>do</strong> magnetismo animal, além <strong>de</strong> que tais<br />

trabalhos permitiram que se aperfeiçoasse a percepção existente entre sugestão<br />

hipnótica e psicoterapia.<br />

Neubern (2008) aponta duas gran<strong>de</strong>s consequências históricas para que<br />

o Mesmerismo fosse <strong>de</strong>squalifica<strong>do</strong> enquanto ciência como foi. Primeiramente, o<br />

esquecimento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s nomes <strong>do</strong> magnetismo, não obstante “[...] suas<br />

contribuições para a construção da psicologia (p. 444)”. Num segun<strong>do</strong> plano,<br />

embora a hipnose “[...] fosse her<strong>de</strong>ira histórica <strong>do</strong> mesmerismo, seus promotores<br />

buscaram concebê-la como um méto<strong>do</strong> legitimamente científico, <strong>de</strong>svencilha<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

noções místicas, como flui<strong>do</strong>s e imaginação, para se fundamentar nas estruturas<br />

nervosas <strong>do</strong> cérebro” (CARROY, 1991; MÉHEUST, 1999 apud NEUBERN, 2008, p.<br />

445).<br />

Armand Marie Jacques Chastenet <strong>de</strong> Puységur, Marquês <strong>de</strong> Puységur, foi<br />

seu discípulo mais aplica<strong>do</strong>, <strong>de</strong>scobrin<strong>do</strong> o sonambulismo artificial em 1784,<br />

segun<strong>do</strong> Ferreira (2006) e Sauret (2008), professor titular da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Tolouse, que esteve no Brasil a convite <strong>de</strong> Universida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro em<br />

2005.<br />

Sobre o assunto, Woznyak (2009) comenta que Puységur tratou Victor<br />

Race, um trabalha<strong>do</strong>r <strong>de</strong> sua fazenda. Abaixo a tradução em espanhol da versão<br />

original inglesa:<br />

Cuan<strong>do</strong> Victor, quien en condiciones normales nunca se habría atrevi<strong>do</strong> a<br />

confiar sus problemas personales al señor <strong>de</strong> la casa, admitió en el<br />

trans<strong>curso</strong> <strong>de</strong>l sueño magnético que estaba disgusta<strong>do</strong> por una pelea que<br />

había teni<strong>do</strong> con su hermana, Puységur le sugirió que hiciera algo para<br />

resolver la querella y, <strong>de</strong>spués <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar, sin recordar las palabras <strong>de</strong><br />

Puységur, Victor obró <strong>de</strong> acuer<strong>do</strong> con la sugestión <strong>de</strong>l marqués (trad.<br />

VIVES, 2009).<br />

O sono lúci<strong>do</strong> aponta<strong>do</strong> pelo Aba<strong>de</strong> Faria, um sacer<strong>do</strong>te português, nada<br />

mais era <strong>do</strong> que “[...] a vonta<strong>de</strong> <strong>do</strong> paciente”, afirman<strong>do</strong> que os <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong><br />

24


cura eram a perfeita sintonia entre paciente e hipnotiza<strong>do</strong>r e a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> curar-se<br />

(FERREIRA, 2006, p.11).<br />

Em Londres, o Mesmerismo renovou-se com os estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> um professor<br />

<strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Londres, o médico e professor Elliotson, o qual<br />

publicou suas <strong>de</strong>scobertas no jornal intitula<strong>do</strong> Zoist (ERICSON, HERSHMAN &<br />

SECTER, 200; FERREIRA, 2006), com edição trimestral <strong>de</strong>stinada a expor temas<br />

referentes ao Mesmerismo em1855.<br />

Os fenômenos hipnóticos foram investiga<strong>do</strong>s pela Associação Médica<br />

Britânica em 1891, cujo relatório apresenta<strong>do</strong> no ano seguinte po<strong>de</strong> ser assim<br />

resumi<strong>do</strong>:<br />

Pleno convencimento quanto ao fenômeno;<br />

O termo “hipnose” não é representativo <strong>do</strong> que ela seja, uma vez que o sono<br />

fisiológico e a hipnose não são a mesma coisa;<br />

Eficaz no alívio das <strong>do</strong>res, embriaguez, na realização <strong>de</strong> atos cirúrgicos;<br />

Deve ser usada exclusivamente por médicos para fins terapêuticos, apenas<br />

em homens. Quan<strong>do</strong> em mulheres, diante <strong>de</strong> familiares ou pessoas <strong>do</strong><br />

mesmo sexo;<br />

Con<strong>de</strong>nação para fins recreativos (FERREIRA, 2006).<br />

Simultaneamente aos estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Elliotson, James Braid usou o termo<br />

“Hipnose” e mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> arrepen<strong>de</strong>r-se <strong>do</strong> nome, este já se encontrava <strong>de</strong> tal<br />

mo<strong>do</strong> associa<strong>do</strong> à prática que não foi mais possível mudá-lo (ERICSON,<br />

HERSHMAN & SECTER, 2003). Contu<strong>do</strong>, o prefixo hypn- já havia si<strong>do</strong> grafa<strong>do</strong> 20<br />

anos antes pelo francês Etienne Felix d’Henin <strong>de</strong> Cuvillers (FERREIRA, 2006).<br />

A concepção <strong>de</strong> Braid acerca da hipnose e <strong>do</strong>s mitos que já naquela<br />

época a circundavam ficam bastante explícitas a partir da tradução <strong>de</strong> um excerto<br />

retira<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu livro Neurypnology Or The rationale of nervous sleep consi<strong>de</strong>red in<br />

relation with animal magnetism (FERREIRA, 2006):<br />

25


Estou ciente <strong>do</strong> gran<strong>de</strong> prejuízo que foi levanta<strong>do</strong> contra o Mesmerismo a<br />

partir da idéia que po<strong>de</strong>ria estar volta<strong>do</strong> para fins imorais. No que respeita<br />

ao esta<strong>do</strong> Neuro-hipnótico, induzi<strong>do</strong> pelo méto<strong>do</strong> explica<strong>do</strong> no presente<br />

trata<strong>do</strong>, estou certo <strong>de</strong> que tal não merece censura. Eu tenho prova<strong>do</strong> por<br />

experiências, tanto em público como priva<strong>do</strong> que, durante o esta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

excitação, o julgamento é suficientemente ativo para os pacientes, se<br />

possível, ainda mais fastidioso no que diz respeito à sobrieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> conduta,<br />

<strong>do</strong> que na condição <strong>de</strong> vigília; [...] E, finalmente, o esta<strong>do</strong> não po<strong>de</strong> ser<br />

induzi<strong>do</strong>, em qualquer fase, a não ser com o conhecimento e consentimento<br />

<strong>do</strong> paciente. Isto é mais <strong>do</strong> que se po<strong>de</strong> dizer a respeito <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong><br />

parte <strong>do</strong>s nossos mais valiosos medicamentos, [...] Ela nunca <strong>de</strong>veria ser<br />

perdi<strong>do</strong> <strong>de</strong> vista, pois que existe o uso e abuso <strong>de</strong> qualquer coisa na<br />

natureza. Trata-se <strong>do</strong> uso, e apenas da utilização judiciosa <strong>do</strong> Hypnotismo,<br />

que eu <strong>de</strong>fen<strong>do</strong>. (BRAID, 1843,pp.10-11 )<br />

Shrout (1985) sustenta que a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> que algumas pessoas tinham<br />

a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> entrar em transe hipnótico ao fixar o olhar em um ponto <strong>de</strong> luz fez<br />

Braid ir mais adiante, testan<strong>do</strong> sugestões para apressar o processo. Em seus<br />

estu<strong>do</strong>s, percebeu que a concentração <strong>do</strong> próprio paciente em um objetivo<br />

<strong>de</strong>terminava o processo hipnótico, sen<strong>do</strong> que em 1847 relatou fenômenos <strong>de</strong><br />

catalepsia, anestesia e amnésia, os quais eram possíveis mesmo sem o paciente<br />

<strong>do</strong>rmir (FERREIRA, 2006).<br />

Embora seus estu<strong>do</strong>s pouco tenham influencia<strong>do</strong> os ingleses, estes foram<br />

retoma<strong>do</strong>s “[...] como técnica anestésica, pelos médicos franceses como Azam,<br />

Broca, Cloquet, Velpeau”, (SAURET, 2008, p. 28), cuja prática anestésica a partir da<br />

hipnose se mantém até o uso <strong>do</strong> clorofórmio.<br />

Na Índia, o Mesmerismo chegou através <strong>de</strong> James Esdaile, um cirurgião<br />

escocês que fez inúmeras cirurgias utilizan<strong>do</strong> anestesia mesmérica, inclusive com a<br />

publicação em 1850 <strong>do</strong> livro Mesmerism in Indian and its Practical Aplication In<br />

Surgery and Medicine e em 1918 pela Harvard College Library. Abaixo, a tradução<br />

<strong>de</strong> um pequeno trecho prefacia<strong>do</strong> pelo autor e retira<strong>do</strong> <strong>do</strong> livro no original:<br />

O que eu agora ofereço ao público é o re<strong>sul</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> apenas oito meses <strong>de</strong><br />

prática <strong>do</strong> Mesmerismo em um hospital <strong>de</strong> carida<strong>de</strong>, mas foi suficiente para<br />

<strong>de</strong>monstrar a singular mais benéfica influência que o Mesmerismo exerce<br />

sobre a constituição <strong>do</strong> povo <strong>de</strong> Bengala, e que intervenção médicocirúrgica<br />

in<strong>do</strong>lor, entre outras vantagens, são um direito natural; [...].<br />

Hooghly, Fevereiro, 1 º, 1846. (ESDAILE, 1847, p.7)<br />

No entanto, mais <strong>de</strong>talhadamente po<strong>de</strong> se analisar sua prática pela<br />

<strong>de</strong>scrição feita a partir <strong>de</strong> alguns atendimentos que realizou:<br />

26


13 <strong>de</strong> julho – 4 homens e 1 mulher <strong>de</strong>ram entrada hoje:<br />

Nº 1 – lumbago<br />

Nº 2 – ciático<br />

Nº 3 – <strong>do</strong>r ao longo <strong>do</strong> nervo crural (parte da frente da coxa nos quadríceps,<br />

ten<strong>do</strong> por origem uma agressão <strong>do</strong> nervo entre a 3ª e a 4ª vértebra lombar)<br />

Nº 4 - reumatismo sifilítico<br />

Nº 5 - ditto (sem tradução – grifo meu)<br />

To<strong>do</strong>s foram usualmente manipula<strong>do</strong>s, observan<strong>do</strong>-se a respiração. Depois<br />

<strong>do</strong> primeiro dia, to<strong>do</strong>s foram induzi<strong>do</strong>s a beber água “mesmerizada”<br />

diariamente, até o 17º dia, [...] no caso <strong>do</strong> sifilítico, os benefícios não foram<br />

os espera<strong>do</strong>s; aqueles que constituíam uma <strong>do</strong>ença específica continuaram<br />

em tratamento; as <strong>do</strong>res locais foram atenuadas [...] (ESDAILE, 1847, p.7)<br />

A valiosa contribuição <strong>de</strong> James Esdaile ao estu<strong>do</strong> da hipnose faz <strong>de</strong>sse<br />

livro um importante <strong>do</strong>cumento científico, pois tal como os atuais pesquisa<strong>do</strong>res, ele<br />

observou “[...] que havia uma sensível diminuição <strong>do</strong> trauma cirúrgico em seus<br />

pacientes hipnotiza<strong>do</strong>s. Ele ou seus auxiliares nativos mesmerizavam pacientes pela<br />

manhã e os <strong>de</strong>ixavam em esta<strong>do</strong> cataléptico” (ERICKSON, HERSHMAN & SECTER,<br />

2003, p. 21). As cirurgias eram realizadas mais tar<strong>de</strong>, cujos casos eram<br />

<strong>do</strong>cumenta<strong>do</strong>s e observa<strong>do</strong>s por médicos e autorida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> local.<br />

Em Nancy, na França, Ambroise-Auguste Liebeault foi quem levou a<br />

termo os estu<strong>do</strong>s sobre o tema, afirman<strong>do</strong> que os fenômenos <strong>do</strong> hipnotismo eram<br />

subjetivos em sua origem, pois era a sugestão verbal que representava o fator<br />

hipnotizante (SAURET, 2008). Len<strong>do</strong> sobre os trabalhos <strong>de</strong> Braid, foi aplican<strong>do</strong> a<br />

hipnose por mais <strong>de</strong> vinte anos <strong>de</strong> forma quase gratuita para evitar a pecha <strong>de</strong><br />

charlatão; porém, seu trabalho só foi reconheci<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> tratou <strong>de</strong> um caso envia<strong>do</strong><br />

por um colega neurologista e professor da faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina, Bernheim.<br />

Em tratamento há seis anos sem lograr êxito, nas mãos <strong>de</strong> Liebeault o<br />

paciente curou-se após algumas sessões <strong>de</strong> hipnose. Daí em diante, os <strong>do</strong>is,<br />

Liébeault e Bernheim, trataram cerca <strong>de</strong> <strong>de</strong>z mil pacientes (ERICKSON,<br />

HERSHMAN & SECTER, 2003), o que permitiu à Bernheim elaborar o primeiro<br />

trata<strong>do</strong> sobre hipnose – Suggestive therapeutics em 1886, publican<strong>do</strong> também o<br />

livro De la suggestion et <strong>de</strong> sés applications a la therapeutique (FERREIRA, 2006).<br />

Seus trabalhos criaram um referencial em hipnose, fican<strong>do</strong> conheci<strong>do</strong> como Escola<br />

<strong>de</strong> Nancy e chaman<strong>do</strong> a atenção <strong>de</strong> especialistas no mun<strong>do</strong> inteiro.<br />

Sua obra, Confesiones <strong>de</strong> un medico hipnotiza<strong>do</strong>r, contém uma <strong>de</strong>scrição<br />

<strong>de</strong> como sua técnica evoluiu:<br />

27


Hice uso <strong>de</strong>l méto<strong>do</strong> mas emplea<strong>do</strong> para producir el sueno artificial, el <strong>de</strong><br />

Dupotet y La Fontaine [...] De este procedimiento clásico, al que encontré<br />

inconvenientes, pasé a ensayar el <strong>de</strong> Braid [...] al procedimiento es<br />

conoci<strong>do</strong> por los magnetiza<strong>do</strong>res durante largo tiempo, añadimos la<br />

sugestión <strong>de</strong>l sueno, ya utilizada por el abate Faria [...] A partir <strong>de</strong> esta<br />

reforma capital em mi manera <strong>de</strong> hipnotizar mis enfermos si durmieron<br />

tranquilamente y con mucha más rapi<strong>de</strong>z.(In Lièbeault 1891, 290-293 apud<br />

TORTOSA, MIGUEL-TOBAL & GONZÁLEZ-ORDI, 1999, p. 14)<br />

Enquanto Liebeault só teve seu trabalho reconheci<strong>do</strong> após a associação<br />

com Bernheim, este publicou diversos trabalhos sobre hipnose. Em 1891 publicou<br />

Hipnose, sugestão e psicoterapia (SAURET, 2008). Bernheim (apud TRIPICHIO,<br />

2009) afirmava que o sono hipnótico ou provoca<strong>do</strong> era uma condição fisiológica<br />

possível <strong>de</strong> ser alcançada por qualquer pessoa, alguns mais facilmente que outros e<br />

que o esta<strong>do</strong> hipnótico não era uma condição inerente à histeria.<br />

Ferreira (2006, p. 13; TRIPICHIO, 2009) comenta que Bernhein<br />

acreditava que a capacida<strong>de</strong> “[...] <strong>do</strong> cérebro <strong>de</strong> receber ou evocar idéias e sua<br />

tendência a realizá-las ou transformá-las em atos” era dada pela sugestão.<br />

A repercussão <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s sobre hipnose estimulou outro<br />

francês, um fisiologista, a percorrer os caminhos <strong>do</strong> hipnotismo: Charles Richet, que<br />

por sua vez, levou Jean Martin Charcot, neurologista em Salpêtriêre, a focalizar a<br />

hipnose, afirman<strong>do</strong> que “[...] a hipnose era apenas uma outra forma <strong>de</strong> histeria”<br />

(ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003, p. 22; FERREIRA, 2006). Acreditava<br />

Charcot que somente as pessoas histéricas po<strong>de</strong>riam ser hipnotizadas (SHROUT,<br />

1985).<br />

Segun<strong>do</strong> ele, o entendimento clínico para ocorrências <strong>de</strong> traumas<br />

psíquicos, comportamentos hipnói<strong>de</strong>s, sugestão e representação inconsciente<br />

divergia daquelas até então aceitas pelos estudiosos da época, os quais<br />

acreditavam que tais problemas localizavam-se no cérebro ou eram provoca<strong>do</strong>s por<br />

alterações em seu funcionamento (FULGÊNCIO, 2006).<br />

Esta oposição <strong>de</strong> idéias entre as duas escolas <strong>de</strong>u início a uma longa luta<br />

(ANDERSSON, 2000 apud FULGÊNCIO, 2006), duran<strong>do</strong> cerca <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos, mesmo<br />

após a morte <strong>de</strong> Charcot.<br />

Jean Martin Charcot ficou muito bem conheci<strong>do</strong> pelos profissionais <strong>de</strong><br />

medicina por tantas e variadas realizações, como o banho <strong>de</strong> Charcot, pela <strong>do</strong>ença<br />

<strong>de</strong> Charcot, pela junta <strong>de</strong> Charcot, pela síndrome <strong>de</strong> Charcot, microaneurisma <strong>de</strong><br />

28


Charcot-Bouchard, esclerose lateral, entre muitos outros, além <strong>de</strong> seu trabalho com<br />

a atrofia muscular neuropática progressiva, <strong>de</strong> conhecimento <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os estudantes<br />

<strong>de</strong> medicina, conforme aponta Teixeira (2001). A neurologia se colocou como uma<br />

especialida<strong>de</strong> médica na segunda meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XIX em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> seus<br />

estu<strong>do</strong>s e <strong>de</strong> seus discípulos em Salpêtrière.<br />

Em 1878, Charcot apresentou a teoria <strong>de</strong> três estágios hipnóticos:<br />

catalepsia – fixação <strong>do</strong> olhar <strong>do</strong> paciente num <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> objeto luminoso,<br />

produção <strong>de</strong> um som abruptamente; letargia - paciente <strong>de</strong> olhos fecha<strong>do</strong>s ou cessar<br />

o objeto luminoso; sonambulismo – pressão ou fricção no alto da cabeça<br />

(FERREIRA, 2006).<br />

No entanto, mesmo sua fama não o poupou <strong>de</strong> ver enfraquecida sua<br />

reputação quan<strong>do</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u, contra as teorias da Escola <strong>de</strong> Nancy, que a hipnose<br />

seria um esta<strong>do</strong> patológico capaz <strong>de</strong> enfraquecer a mente humana, situação que<br />

muito se agravou após sua morte quan<strong>do</strong> um colabora<strong>do</strong>r direto, Babinski, <strong>de</strong>u<br />

<strong>de</strong>clarações sobre falsas curas sustentadas por Charcot. Além disso, Janet, seu<br />

aluno e Dubois, aluno <strong>de</strong> Bernheim, viriam mais tar<strong>de</strong> a concordar com os preceitos<br />

da Escola <strong>de</strong> Nancy (SAURET, 2008).<br />

Um <strong>do</strong>s colabora<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Charcot, Pierre Janet, publicou sua tese <strong>de</strong><br />

<strong>do</strong>utora<strong>do</strong> sob o título “L'Automatisme psychologique” em 1889 na Sorbonne, a<br />

primeira <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> trata<strong>do</strong>s sobre as manifestações <strong>do</strong> inconsciente, estu<strong>do</strong>s<br />

que serviram <strong>de</strong> base para reputá-lo como o funda<strong>do</strong>r da mo<strong>de</strong>rna psicologia<br />

dinâmica (THEÓPHILO ROQUE, 2009).<br />

Neste trata<strong>do</strong>, Janet reorganizou a consciência sob três aspectos:<br />

catalepsia (consciência puramente afetiva, reduzida às sensações e às imagens), a<br />

sugestão (consciência <strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong> controle, orientação e percepção) e o<br />

sonambulismo, como um campo <strong>de</strong> consciência comparável ao esta<strong>do</strong> vígil<br />

(CHERTOK & STENGERS, 1990).<br />

Muito natural então que a ampla divulgação na comunida<strong>de</strong> científica<br />

sobre a hipnose chamasse a atenção daquele que é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> o funda<strong>do</strong>r da<br />

psicanálise. Junto com Breuer, Freud havia usa<strong>do</strong> a hipnose para ajudar pessoas<br />

com distúrbios emocionais (ERICKSON, HERSHAMN & SECTER, 2003). No<br />

entanto, como quisesse <strong>de</strong>senvolver técnicas próprias, em 1890 Freud foi para<br />

Nancy, através <strong>de</strong> uma bolsa <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s <strong>do</strong> governo, passar algumas semanas na<br />

29


Salpêtrière, em Paris, estudar com Jean-Martin Charcot, o qual realizava<br />

experiências com <strong>do</strong>entes mentais, principalmente a histeria, utilizan<strong>do</strong> a hipnose.<br />

Para Breuer, as <strong>do</strong>enças mentais provinham <strong>de</strong> conflitos que estavam<br />

localiza<strong>do</strong>s na mente da pessoa, e não necessariamente biológicos. Breuer<br />

acreditava que através da hipnose a pessoa po<strong>de</strong>ria driblar censuras que a<br />

impediriam <strong>de</strong> lembrar certos fatos (os traumas) e assim livrar-se <strong>do</strong>s males que as<br />

incomodavam. Freud <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>screveu esse esta<strong>do</strong> como catarse.<br />

Seu caso mais famoso e para o qual contou com a ajuda <strong>de</strong> Freud foi a<br />

paciente cujo pseudônimo era Anna O, uma moça <strong>de</strong> 21 anos, <strong>de</strong>pressiva e<br />

hipocondríaca (quadro na época <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> "histeria"); ela se acreditava paralítica<br />

em algumas ocasiões, ou não conseguia beber água mesmo estan<strong>do</strong> com se<strong>de</strong>, e<br />

se sentia incapaz <strong>de</strong> falar seu próprio idioma, o alemão, recorren<strong>do</strong> ao francês ou<br />

inglês para se comunicar. Breuer submeteu-a à hipnose e ela relatou casos <strong>de</strong> sua<br />

infância, o que lhe causava enorme bem-estar após o transe hipnótico.<br />

Freud (1888 apud GOMES, 2005, p. 149) refere, ao prefaciar a tradução<br />

<strong>do</strong> livro <strong>de</strong> Bernheim, De la suggestion, que a questão a colocar seria “[...] saber se<br />

to<strong>do</strong>s fenômenos da hipnose <strong>de</strong>vem passar em algum lugar através da esfera<br />

psíquica [...] se as mudanças <strong>de</strong> excitabilida<strong>de</strong> que ocorrem na hipnose afetam<br />

invariavelmente apenas a região <strong>do</strong> córtex cerebral”. Aqui se encontram as primeiras<br />

indicações <strong>de</strong> uma preocupação bastante atual, que é a <strong>de</strong> investigar as bases<br />

neurais da hipnose.<br />

Embora a hipnose fosse o tema em voga no meio científico, Freud a<br />

<strong>de</strong>scartou como técnica <strong>de</strong> cura, passan<strong>do</strong> a usar a técnica <strong>de</strong>senvolvida por ele <strong>de</strong><br />

“associação <strong>de</strong> idéias”, convenci<strong>do</strong> que estava <strong>de</strong> que ao induzir o paciente a um<br />

esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> total relaxamento, este recordava emoções recalcadas e que eram a<br />

causa <strong>de</strong> seus distúrbios. Esta convicção, conforme sustenta Cobra (2009) fez Freud<br />

formular a teoria<br />

[...] <strong>de</strong> que os sintomas histéricos teriam origem na energia <strong>do</strong>s processos<br />

mentais os quais, impedi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> influenciar a consciência, são <strong>de</strong>sviadas<br />

[sic] para a inervação <strong>do</strong> corpo e converti<strong>do</strong>s nesses sintomas. Devi<strong>do</strong> à<br />

natureza das experiências traumáticas recordadas pelos pacientes, ficou<br />

convenci<strong>do</strong> <strong>de</strong> que o sexo tinha parte <strong>do</strong>minante na etiologia das neuroses.<br />

Logo passou a consi<strong>de</strong>rar o <strong>de</strong>sejo sexual como motivação praticamente<br />

única <strong>do</strong> comportamento humano, quer direta, quer indiretamente. Essa<br />

ênfase foi a principal causa <strong>do</strong> afastamento <strong>de</strong> Breuer, e <strong>do</strong> rompimento que<br />

ocorreria no futuro com vários <strong>de</strong> seus colegas. (COBRA, 2009)<br />

30


Nos anos subsequentes, especialistas <strong>de</strong> várias partes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, entre<br />

eles Bramwell e Moll da Grã-Bretanha (apud BRYAN, 2008), Morton Prince (apud<br />

PINCHERLE & COLABORADORES, 1985), McDougall (apud ERICKSON,<br />

HERSHMAN & SECTER, 2003) <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e Pavlov na Rússia<br />

(FERREIRA, 2006), continuaram a fazer uso <strong>do</strong> hipnotismo, especialmente os<br />

neurologistas, uma vez que a maior parte das <strong>do</strong>enças mentais era estudada à luz<br />

da neurologia, os quais foram influencia<strong>do</strong>s diretamente pelos trabalhos <strong>de</strong> Freud.<br />

2.2 Hipnose na Era Mo<strong>de</strong>rna<br />

Outro nome referencia<strong>do</strong> em hipnose, Pavlov (Escola <strong>de</strong> Reflexologia)<br />

teceu suas teorias sobre o tema quan<strong>do</strong> começou a trabalhar com reflexo<br />

condiciona<strong>do</strong>, as quais originaram Sobre a fisiologia no esta<strong>do</strong> hipnótico <strong>do</strong> cão.<br />

Suas anotações o levaram a afirmar que os reflexos condiciona<strong>do</strong>s respon<strong>de</strong>m pela<br />

adaptação <strong>do</strong> homem ao meio, cujos estímulos po<strong>de</strong>m vir <strong>do</strong> ambiente ou <strong>do</strong> próprio<br />

organismo.<br />

Ferreira (2006) consi<strong>de</strong>ra que durante a ocorrência da hipnose, segun<strong>do</strong><br />

a teoria <strong>de</strong> Pavlov, a partir <strong>de</strong> um estímulo inicial no córtex cerebral atuan<strong>do</strong><br />

repetidamente (que po<strong>de</strong> ser visual, tátil, auditivo, cinestésico), este provoca uma<br />

ação inibi<strong>do</strong>ra reflexa em to<strong>do</strong>s os estímulos iniciais, embora o paciente continue em<br />

esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> vigília. A seguir, assertivas quanto ao cansaço das pálpebras produz o<br />

fechamento <strong>do</strong>s olhos. Neste exemplo, o estímulo é auditivo, uma vez que é pela<br />

fala que o hipnotiza<strong>do</strong>r mantém o hipnotiza<strong>do</strong> em esta<strong>do</strong> hipnótico.<br />

Em estu<strong>do</strong>s conduzi<strong>do</strong>s por Fernan<strong>de</strong>s-Guardiola (2005), os<br />

experimentos <strong>de</strong> Pavlov mostraram novos caminhos para tratar os fenômenos<br />

psíquicos ao consi<strong>de</strong>rar os reflexos <strong>do</strong> meio sobre o organismo humano:<br />

? é características diferenciales hay entre estos nuevos fenômenos en<br />

comparación com l os fisiológicos? [...] la diferencia consiste em que,<br />

mientras em La forma fisiológica la sustância entra em contacto directo con<br />

el organismo, em la psíquica actúa a distancia [..]; cuantos reflejos<br />

fisiológicos <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>nan la nariz, los ojos y los oí<strong>do</strong>s, reflejos que son,<br />

por consiguiente, reflejos a distancia! (PAVLOV 1903/1968 apud<br />

FERNANDES-GUARDIOLA: 2005, p. 57).<br />

31


Com o advento da Primeira Guerra Mundial e o gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong><br />

pessoas com traumatismos, tanto físicos quanto psicológicos, o assunto voltou à<br />

tona com o psicanalista alemão Ernst Simmel, que <strong>de</strong>senvolveu a técnica chamada<br />

hipnoanálise. Durante a Segunda Guerra, Grinker e Spiegel utilizaram barbitúricos<br />

para induzir a hipnose através <strong>de</strong> medicamentos (ERICKSON, HERSHMAN &<br />

SECTER, 2003).<br />

O interesse <strong>do</strong>s americanos foi <strong>de</strong>sperta<strong>do</strong> por Clark L. Hull, com suas<br />

observações registradas no livro Hypnosis and suggestibility, em que o autor, em<br />

comentários <strong>de</strong> Horton & Crawford no Jornal Americano <strong>de</strong> Hipnose (2009) conclui<br />

que “[...] a única coisa que parece caracterizar a hipnose como tal e que dá qualquer<br />

justificativa para a prática <strong>de</strong> chamar-lhe um "esta<strong>do</strong>" é a sua<br />

hipersugestionabilida<strong>de</strong> generalizada”.<br />

A guerra da Coréia entre os anos <strong>de</strong> 1950 a 1953 foi mais um <strong>do</strong>s<br />

momentos em que se fez ressurgir a prática da hipnose nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e na<br />

Inglaterra, o que fez a British Medical Association e a American Medical Association<br />

<strong>de</strong>cidirem pela inclusão da hipnose nos currículos <strong>do</strong>s <strong>curso</strong>s <strong>de</strong> medicina<br />

(ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003), ten<strong>do</strong> em vista sua reconhecida<br />

eficácia no tratamento <strong>de</strong> várias patologias, tanto físicas quanto psicossomáticas.<br />

Estas aprovaram também oficialmente o uso <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> hipnótico como tratamento<br />

auxiliar em 1955 e 1958, respectivamente, segun<strong>do</strong> os apontamentos <strong>de</strong> Horton &<br />

Crawford (2009).<br />

Aponta<strong>do</strong> como uma das maiores autorida<strong>de</strong>s em hipnoterapia e<br />

psicoterapia breve, Milton Erickson é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s em hipnose o<br />

que foi Freud para a psicanálise.<br />

A hipnoterapia Ericksoniana, assim chamada em razão <strong>de</strong> ter si<strong>do</strong><br />

elaborada por Milton Hyland Erickson (1901 - 1980), psiquiatra americano <strong>do</strong> início<br />

<strong>do</strong> século XX, passou a ser consi<strong>de</strong>rada uma divisora <strong>de</strong> águas entre a hipnoterapia<br />

clássica, estabelecida à época da experimentação científica, e o mo<strong>de</strong>lo vigente na<br />

atualida<strong>de</strong>. Coautor <strong>de</strong> cinco livros sobre o assunto, Erickson publicou mais 130<br />

artigos, a maioria <strong>de</strong>les versan<strong>do</strong> sobre as aplicações da hipnose, buscan<strong>do</strong><br />

expandir e reformular a forma pela qual se compreendia a hipnose e a forma <strong>de</strong><br />

trabalhar os fenômenos a ela associa<strong>do</strong>s.<br />

No prefácio <strong>de</strong> Hipnose Médica e O<strong>do</strong>ntológica, Aplicações Práticas,<br />

Jeffrey Zeig afirma que Erickson criou um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> tratamento em que procurou<br />

32


utilizar re<strong>curso</strong>s <strong>do</strong> próprio paciente, mudan<strong>do</strong> com isso o <strong>curso</strong> da hipnose, pois até<br />

então esta era praticada a partir <strong>de</strong> sugestões dadas ao paciente pelo hipnotiza<strong>do</strong>r,<br />

mas sem consi<strong>de</strong>rar suas motivações intrínsecas. As anotações <strong>de</strong> Erickson,<br />

Hershman & Secter (2003, p. 9) dão conta <strong>de</strong> que “O trabalho <strong>de</strong> Erickson parte <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ntro para fora (insi<strong>de</strong> out) e méto<strong>do</strong>s indiretos eram utiliza<strong>do</strong>s para <strong>de</strong>spertar<br />

forças <strong>do</strong> paciente, ao invés da aplicação <strong>de</strong> sugestões po<strong>de</strong>rosas dirigidas contra<br />

um paciente passivo”.<br />

Pelas palavras <strong>de</strong> Zeig (ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003) se<br />

<strong>de</strong>preen<strong>de</strong> o quanto o trabalho <strong>de</strong> Milton Erickson influenciou a comunida<strong>de</strong><br />

científica, ao elaborar uma teoria que prometia <strong>de</strong>svelar os meandros da mente<br />

humana, ajudan<strong>do</strong> o indivíduo a encontrar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si mesmo a resposta para os<br />

seus males.<br />

Zeig (2003) consi<strong>de</strong>ra que uma razão bastante plausível para o sucesso<br />

<strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Erickson tenha si<strong>do</strong> o fato <strong>de</strong> ter usa<strong>do</strong> em sua própria vida seus<br />

ensinamentos, uma vez que usava a hipnose para controlar a <strong>do</strong>r praticamente<br />

to<strong>do</strong>s os dias. Pela citação abaixo, é possível entrever uma fração <strong>de</strong> sua técnica:<br />

Quan<strong>do</strong> Erickson realizava auto-hipnose [sic] para controlar o sofrimento,<br />

ele não se programava; ao invés disso, <strong>de</strong>ixava seu inconsciente trabalhar a<br />

idéia <strong>de</strong> conforto e então seguia as sugestões que recebia. [...] prestava<br />

atenção na posição <strong>do</strong> polegar entre seus <strong>de</strong><strong>do</strong>s, logo que levantava da<br />

cama. Se estivesse entre seus <strong>de</strong><strong>do</strong>s mínimo e anular, isto significava que<br />

tinha controla<strong>do</strong> bastante a <strong>do</strong>r durante a noite. Caso estivesse entre o<br />

anular e o médio, tinha controla<strong>do</strong> menos <strong>do</strong>r; e se estivesse entre o médio<br />

e o indica<strong>do</strong>r, ainda menos. Dessa forma, ele tinha uma idéia <strong>de</strong> quanta<br />

energia disponível teria para o trabalho daquele dia e então sabia que o<br />

inconsciente po<strong>de</strong> funcionar <strong>de</strong> forma autônoma e benigna (ZEIG, 2003, p.<br />

52)<br />

Um outro ponto que o autor consi<strong>de</strong>ra essencial ao sucesso <strong>de</strong> Erickson<br />

era o seu la<strong>do</strong> humano, capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicar uma preocupação e uma generosida<strong>de</strong><br />

genuína a quem viesse em busca <strong>de</strong> auxílio, sem poupar tempo ou esforço.<br />

Embora não fosse um intelectual no senti<strong>do</strong> acadêmico, sua fala era<br />

extremamente clara e correta, com uma atenção especial à linguagem,<br />

preocupan<strong>do</strong>-se em se fazer enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong> forma cristalina a quem quer que o ouvisse<br />

(ZEIG, 2003). Não raro utilizava seus conhecimentos em literatura, agricultura e<br />

antropologia para lidar com os pacientes.<br />

33


A comunicação <strong>de</strong> múltiplos níveis i<strong>de</strong>alizada por Erickson se estabelece<br />

a partir <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong>s verbais e comportamentos não-verbais e as implicações<br />

<strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> ambos os processos (ZEIG, 2003).<br />

Erickson estu<strong>do</strong>u profundamente a hipnose e seus fenômenos durante<br />

toda sua vida, <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong>-a como um fenômeno natural da mente humana, bem<br />

como sua existência e efeitos no cotidiano. Utilizou a hipnose em praticamente to<strong>do</strong>s<br />

os problemas psicológicos, sen<strong>do</strong> autor <strong>de</strong> inúmeros artigos, livros e pesquisas<br />

científicas na área. Dentre as diversas contribuições <strong>de</strong> Erickson para o campo da<br />

Psicologia po<strong>de</strong>-se citar o conceito <strong>de</strong> utilização da realida<strong>de</strong> individual <strong>do</strong> paciente,<br />

a Terapia Naturalista, as diferentes formas <strong>de</strong> comunicação indireta, a técnica <strong>de</strong><br />

confusão e <strong>de</strong> entremear. É consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> o maior hipnoterapeuta <strong>do</strong> século XX<br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a sua abordagem breve, estratégica e voltada para a solução <strong>de</strong> problemas<br />

(ZEIG, 2003).<br />

Em 1941, White expôs sua teoria <strong>do</strong> comportamento dirigi<strong>do</strong>, on<strong>de</strong> o autor<br />

teorizou que o objetivo principal é conduzir a ação <strong>do</strong> paciente a um comportamento<br />

previamente <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> pelo hipnotiza<strong>do</strong>r, mas que também ele, paciente, entenda<br />

o objetivo <strong>do</strong> trabalho (FERREIRA, 2006).<br />

A complexida<strong>de</strong> <strong>do</strong> transe hipnótico levou Wolberg a afirmar que o transe<br />

se refere tanto a elementos psicológicos quanto fisiológicos e por esse motivo não<br />

po<strong>de</strong> ser explica<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma forma exclu<strong>de</strong>nte (FERREIRA, 2006).<br />

Australiano, mas que estabeleceu sua prática clínica na Inglaterra,<br />

Sydney J. Van Pelt foi outro médico a utilizar largamente a hipnose em seus<br />

pacientes, além <strong>de</strong> difundir o conhecimento científico adquiri<strong>do</strong> por meio <strong>do</strong> seu<br />

trabalho. Sobre o assunto, Ferreira (2006, p.16-17) tem a comentar que Van Pelt<br />

consi<strong>de</strong>rava que hipnose seria uma “[...] ‘superconcentração da mente’ [...]”, uma<br />

vez que durante o processo hipnótico, “[...] ‘as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r mental’ [...]”<br />

convergem para um foco específico, quan<strong>do</strong> então seriam afetadas pela sugestão.<br />

A teoria da exclusão psíquica relativa da mente sustenta a premissa <strong>de</strong><br />

que o indivíduo tem duas mentes: a mente objetiva, que age indutiva e<br />

<strong>de</strong>dutivamente e a subjetiva, que só raciocina <strong>de</strong>dutivamente. Quan<strong>do</strong> a pessoa<br />

entra em esta<strong>do</strong> hipnótico, dá lugar à mente subjetiva (FERREIRA, 2006).<br />

A entrada <strong>de</strong>finitiva da hipnose nos laboratórios experimentais inicia no<br />

perío<strong>do</strong> <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> Hipnose Científica, cujos fundamentos se assentam sobre os<br />

trabalhos <strong>de</strong> três gran<strong>de</strong>s laboratórios, cada um com visões particulares. O <strong>de</strong><br />

34


Hilgard, funda<strong>do</strong> em 1957, na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Stanford, estuda as relações da<br />

hipnose com variáveis como ida<strong>de</strong>, sexo, características da personalida<strong>de</strong>, etc.<br />

(I<strong>de</strong>m, 2006).<br />

Kihlstron (2004) aponta que Stanford Hipnótico Susceptibility Scales, o<br />

méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> escala <strong>de</strong> suscetibilida<strong>de</strong> hipnótica, concebi<strong>do</strong> por Hilgard e<br />

Weitzenhoffer no final <strong>do</strong>s anos 1950 e início <strong>do</strong>s anos 1960, começa com um<br />

procedimento padroniza<strong>do</strong> <strong>de</strong> indução hipnótica segui<strong>do</strong> por uma série <strong>de</strong> sugestões<br />

para experiências imaginativas. O tema da resposta a cada uma <strong>de</strong>ssas sugestões<br />

é classificada então <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com um critério objetivo-comportamental.<br />

O referencial <strong>de</strong> Barber, na Fundação Medfiels <strong>do</strong> Hospital <strong>de</strong><br />

Massachusets, tinha por objetivo estudar o papel e os efeitos da imaginação,<br />

expectativas, crenças, motivações e da emoção sobre a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

hipnotização. Segun<strong>do</strong> Chaves (2006), nos últimos anos Barber teria se empenha<strong>do</strong><br />

em encontrar um terreno comum entre as perspectivas teóricas da hipnose. Em seus<br />

estu<strong>do</strong>s, aponta três tipos diferentes <strong>de</strong> classificação hipnótica: um tipo seria<br />

constituí<strong>do</strong> por indivíduo com alta taxa <strong>de</strong> motivação, com atitu<strong>de</strong> positiva em<br />

relação à hipnose. Outro tipo seria o indivíduo mais propenso à fantasia. O terceiro<br />

tipo incluiu o virtualmente propenso à sugestão hipnótica, o qual exibe várias formas<br />

<strong>de</strong> amnésia infantil.<br />

Por último, funda<strong>do</strong> em 1960 na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Harvard, o laboratório<br />

<strong>de</strong> Orne, <strong>de</strong>dica-se a estudar os fatores motivacionais da hipnose e os diferentes<br />

fenômenos hipnóticos como regressão hipnótica, produção <strong>de</strong> amnésia e<br />

hipermnésia. De seus primeiros trabalhos sobre hipnose, a gran<strong>de</strong> maioria versa<br />

sobre técnicas <strong>de</strong> autorregulação hipnótica, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a reduzir estresse e fadiga<br />

(KIHLSTRON & FRANKEL, 2000).<br />

2.3 Hipnose no Brasil<br />

Do mesmo mo<strong>do</strong> que a hipnose foi introduzida nos círculos médicos<br />

mundiais, no Brasil não foi diferente. Na época em que Freud e a Escola <strong>de</strong> Nancy<br />

estudavam-na cientificamente, em solo brasileiro estes estu<strong>do</strong>s receberam o nome<br />

<strong>de</strong> méto<strong>do</strong> hipnótico-sugestivo, tal como preconiza<strong>do</strong> por Bernheim. Um <strong>do</strong>s<br />

35


primeiros a <strong>do</strong>cumentar e publicar um livro sobre o assunto em terras brasileiras foi<br />

Francisco Fajar<strong>do</strong> (CÂMARA, 2009), on<strong>de</strong> este afirma que quem trouxe a hipnose à<br />

corte brasileira foi o médico Érico Coelho, apresentan<strong>do</strong> à Aca<strong>de</strong>mia Imperial <strong>de</strong><br />

Medicina em 1887 estu<strong>do</strong>s sobre a cura <strong>do</strong> beribéri. Esta foi a primeira vez a se<br />

<strong>de</strong>monstrar o uso da hipnose como ato médico, obten<strong>do</strong> aprovação da Aca<strong>de</strong>mia.<br />

A procura pelas publicações estrangeiras sobre hipnose e suas<br />

aplicações práticas <strong>de</strong>spertou um crescente interesse não apenas na classe médica,<br />

mas também entre os intelectuais da época, além <strong>de</strong> provocar inúmeras polêmicas,<br />

inclusive com a igreja. O médico Érico Coelho foi injuria<strong>do</strong> pelo jornal católico “O<br />

Apóstolo”, que contestava a prática hipnótica. Em sua <strong>de</strong>fesa saiu um artigo no<br />

jornal leigo da época, “O Paiz”, ao qual Érico Coelho dirigiu uma carta <strong>de</strong><br />

agra<strong>de</strong>cimento, citada abaixo por Câmara (2009):<br />

Amigo Sr. Redator – Acabo <strong>de</strong> saber, len<strong>do</strong> O Paiz, numero [sic] <strong>de</strong> hoje,<br />

que tomastes o trabalho <strong>de</strong> referir-vos aos impropérios que O Apostolo [sic]<br />

se dignou <strong>de</strong>spejar ontem contra mim, a pretexto <strong>de</strong> vos contestar as<br />

virtu<strong>de</strong>s da medicina sugestiva. Relevai, preza<strong>do</strong> Sr. redator, que eu vos<br />

não gabe o gosto e a paciência [...] Entretanto <strong>de</strong>vo dizer que vos fico muito<br />

grato, e <strong>de</strong> mais a mais obriga<strong>do</strong> me fareis, se acaso conseguir<strong>de</strong>s indagar<br />

da Santa Madre Igreja por que regra a psicoterapia ofen<strong>de</strong> a moral <strong>de</strong> O<br />

Apostolo [sic], quan<strong>do</strong> é certo que o próprio Padre Eterno (no tempo em que<br />

foi moço) praticou o hipnotismo; haja exemplo a célebre ablação <strong>de</strong> costela<br />

que Adão sofreu durante o sono, tu<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> reza o versículo, [...] que,<br />

apoia<strong>do</strong> em autor <strong>de</strong> tão boa nota, acalmeis as iracundas susceptibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> O Apostolo. [sic] Caso, porém, não possais ainda assim chama-lo [sic] à<br />

razão, o melhor será <strong>de</strong>ixa-lo [sic] em liberda<strong>de</strong>. (CÂMARA, 2009)<br />

Na atualida<strong>de</strong>, a produção científica elaborada por estudiosos <strong>do</strong> tema<br />

aqui no Brasil vem crescen<strong>do</strong>, os quais, embora ampara<strong>do</strong>s em estu<strong>do</strong>s por<br />

especialistas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> inteiro, estão aplican<strong>do</strong> a hipnose em pacientes e crian<strong>do</strong><br />

um referencial teórico para servir <strong>de</strong> guia a quem <strong>de</strong>seja se aprofundar no tema e<br />

buscar subsídios para novos trabalhos. Nomes como Antonio Carlos <strong>de</strong> Moraes<br />

Passos, Marlus Vinicius Costa Ferreira, Maurício Neubern, Célia Martins Cortez,<br />

Carlos Roberto Oliveira são alguns <strong>do</strong>s pesquisa<strong>do</strong>res sobre a hipnose em diversas<br />

áreas <strong>do</strong> conhecimento.<br />

A pesquisa<strong>do</strong>ra, professora, <strong>do</strong>utora e psicóloga Yedda Costa <strong>do</strong>s Reis<br />

lançou em 2008 o livro Construin<strong>do</strong> Caminhos com a Hipnose Terapêutica:<br />

Hipnobiodramaturgia. Segun<strong>do</strong> nota da autora no site da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong><br />

36


Rio <strong>de</strong> Janeiro, Hipnobiodramaturgia refere-se a uma nova abordagem<br />

psicoterápica, cujo campo <strong>de</strong> conhecimento foi aprova<strong>do</strong> e consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> um<br />

pre<strong>curso</strong>r, não apenas no Brasil como também no exterior:<br />

A Hipnobiodramaturgia nasceu da integração ou fusão das técnicas <strong>de</strong><br />

psicodramaturgia, técnicas da hipnose e <strong>do</strong> programa Stressless. Os<br />

benefícios imediatos trazi<strong>do</strong>s pela nova técnica são uma psicoterapia ao<br />

alcance <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s que necessitam <strong>de</strong> tratamento em curto prazo (REIS, 2009<br />

apud NOGUCHI, 2009).<br />

Em artigo publica<strong>do</strong> no site da Associação <strong>de</strong> Hipnose <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São<br />

Paulo, o Dr. Joel Priori Maia (2009) consi<strong>de</strong>ra como melhor <strong>de</strong>nominação para a<br />

hipnose hoje praticada é a que chama <strong>de</strong> Hipnose Contemporânea. Segun<strong>do</strong> ele, a<br />

extensa varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> teorias e procedimentos que tiveram como foco esclarecer<br />

mais pontualmente questões relativas à prática hipnótica fez com que a hipnose<br />

aplicada hoje ao campo da ciência apresentasse diferenças em relação ao que ele<br />

chama <strong>de</strong> Hipnose Clássica.<br />

Apresentada no IV Seminário São Paulo - Rio <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> Hipnose e<br />

Medicina Psicossomática, que se realizou em novembro <strong>de</strong> 1990 na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />

Paulo, o tema Hipnose Contemporânea foi <strong>de</strong>bati<strong>do</strong> em mesa re<strong>do</strong>nda pelos Drs.<br />

Álvaro Badra, Antonio Rezen<strong>de</strong> <strong>de</strong> Castro Monteiro, David Akstein, Joel Priori Maia e<br />

José Monteiro. A mesa foi coor<strong>de</strong>nada pelo Prof. Dr. Antonio Carlos <strong>de</strong> Moraes<br />

Passos.<br />

Uma outra abordagem em hipnose é praticada sob a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong><br />

Hipnose Condicionativa, cujo autor, Luiz Carlos Crozera, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que esta não se<br />

trata <strong>de</strong> uma junção <strong>de</strong> outras técnicas, mas sim uma nova elaboração, em que o<br />

paciente é passivamente trata<strong>do</strong> através da hipnose clínica, para tanto se utilizan<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> um mecanismo <strong>de</strong> or<strong>de</strong>ns e coman<strong>do</strong>s diretos à mente humana. Nesta nova<br />

proposta, não existe a escuta terapêutica, mas apenas a voz <strong>do</strong> hipnólogo<br />

(CROZERA, 2009).<br />

37


2.3.1 Cronologia <strong>do</strong> Hipnotismo no Brasil<br />

Conforme estu<strong>do</strong>s aponta<strong>do</strong>s por Fernan<strong>do</strong> Portela Câmara (2009), a<br />

hipnose encontrou em solo brasileiro um terreno fértil on<strong>de</strong> aplicar tais estu<strong>do</strong>s.<br />

Abaixo, um resumo cronológico:<br />

1823 – O médico pernambucano João Lopes Car<strong>do</strong>so Macha<strong>do</strong> publica Dicionário<br />

Médico-Prático – Para Uso <strong>do</strong>s que Tratam da Saú<strong>de</strong> pública, On<strong>de</strong> Não Há<br />

Professores <strong>de</strong> Medicina.<br />

1853 – Tradução portuguesa <strong>do</strong> livro <strong>de</strong> Du Potet, Prática Elementar <strong>do</strong><br />

Magnetismo.<br />

1857 – O Dr. José Maurício Nunes Garcia, professor da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>do</strong><br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, edita Estu<strong>do</strong>s Sobre a Fotografia Fisiológica.<br />

1861 – Fundada a Socieda<strong>de</strong> Propaganda <strong>do</strong> Magnetismo e o Júri Magnético <strong>do</strong> Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro por D. Pedro II, com pesquisa e tratamento pelo magnetismo animal.<br />

1876 – Publicação <strong>do</strong> trabalho "Memória Sobre o Flui<strong>do</strong> Universal ou Éter", on<strong>de</strong>,<br />

entre outras coisas, prefigura a idéia <strong>de</strong> bioeletrogênese, <strong>de</strong> autoria <strong>de</strong> Melo Moraes.<br />

Dias da Cruz. Ferreira <strong>de</strong> Abreu, Gama Lobo e Gonzaga Filho pesquisavam o<br />

magnetismo animal e o seu potencial terapêutico, ainda <strong>de</strong>sconhecen<strong>do</strong> os<br />

trabalhos <strong>de</strong> Braid sobre hipnotismo.<br />

1887 – O Dr. Érico Coelho apresenta um caso <strong>de</strong> cura <strong>de</strong> beribéri pela hipnoterapia<br />

sugestiva à Aca<strong>de</strong>mia Imperial <strong>de</strong> Medicina. Ainda segun<strong>do</strong> o autor, é a primeira<br />

apresentação da psicoterapia à medicina brasileira.<br />

1888 – Francisco <strong>de</strong> Paula Fajar<strong>do</strong> Júnior é <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> em medicina com a<br />

dissertação "Hipnotismo" (Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro), Cunha Cruz<br />

com a tese "Hipnotismo e Sugestão – Sua Aplicação à Tocologia", e Peixoto <strong>de</strong><br />

Moura, com a dissertação “Fisiologia Patológica <strong>do</strong>s Fenômenos Hipnóticos". Na<br />

Bahia, Affonso Alves é <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> com a dissertação "Das Sugestões no Tratamento<br />

das Moléstias Psíquicas".<br />

1889 – Publicação <strong>do</strong> livro <strong>de</strong> Fajar<strong>do</strong> basea<strong>do</strong> na sua tese <strong>de</strong> <strong>do</strong>utoramento. Neste<br />

mesmo ano é apresenta<strong>do</strong>, juntamente com Alfre<strong>do</strong> Barcellos, Aureliano Portugal e<br />

Érico Coelho, trabalhos sobre hipnose psicoterápica no II Congresso Brasileiro <strong>de</strong><br />

38


Medicina e Cirurgia, além <strong>de</strong> também representarem o Brasil os <strong>do</strong>utores Joaquim<br />

Correia <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong> e Siqueira Ramos no I Congresso Internacional <strong>de</strong> Hipnose<br />

Clínica e Terapêutica (8-12 <strong>de</strong> outubro) em Paris, presidi<strong>do</strong> por Charcot.<br />

1891 – Doutora<strong>do</strong> Alfre<strong>do</strong> F. <strong>de</strong> Magalhães pela Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Bahia<br />

com a dissertação "O Hipnotismo e a Sugestão – Aplicações Clínicas".<br />

1892 – José Alves Pereira é <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> em Medicina pela Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da<br />

Bahia com a dissertação "Das Sugestões no Tratamento das Moléstias Psíquicas".<br />

1895 – Apresentação da dissertação <strong>do</strong> Dr. José Alcântara Macha<strong>do</strong> sobre<br />

hipnotismo ("Ensino Médico-Legal") para a vaga <strong>de</strong> lente substituto na ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong><br />

Medicina Legal e Higiene Pública da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito <strong>de</strong> São Paulo.<br />

1896 – Publicação em segunda edição <strong>do</strong> livro <strong>de</strong> Fajar<strong>do</strong>, amplia<strong>do</strong> e atualiza<strong>do</strong><br />

com o título Trata<strong>do</strong> <strong>de</strong> Hipnotismo. A excelência da obra é digna <strong>de</strong> nota <strong>de</strong><br />

especialistas na Europa como Charles Richet, Hack Tuke, Azam, Delbouef,<br />

Brouar<strong>de</strong>l, Féré, Dujardin-Beaumetz, Babinski, entre outros.<br />

1916 – A Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro premia Carlos <strong>de</strong> Negreiros<br />

Guimarães com a dissertação "Do Conceito Mo<strong>de</strong>rno <strong>do</strong> Hipnotismo em Medicina".<br />

1919 – Me<strong>de</strong>iros e Albuquerque publica no Brasil o livro O Hipnotismo, prefacia<strong>do</strong><br />

pelos eminentes médicos Miguel Couto e Juliano Moreira.<br />

1957 - Fundada, no Rio <strong>de</strong> Janeiro, a Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Hipnose Médica.<br />

Das informações relacionadas a seguir, algumas foram obtidas <strong>de</strong> artigos<br />

científicos e estão relacionadas nas referências. As <strong>de</strong>mais foram obtidas a partir <strong>do</strong><br />

site da Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Hipnose e Hipniatria (2009), o qual também se<br />

encontra <strong>de</strong>vidamente referencia<strong>do</strong> ao final <strong>de</strong>ste trabalho.<br />

1961 – I Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Hipnologia, I Congresso PAN AMERICANO DE<br />

HIPNOLOGIA e a II Reunião da Socieda<strong>de</strong> Internacional <strong>de</strong> Hipnose Clínica<br />

Experimental, no Rio <strong>de</strong> Janeiro, na Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Medicina (ALAKIJA,<br />

1992). Regulamentação da hipnose através <strong>do</strong> <strong>de</strong>creto presi<strong>de</strong>ncial nº 51.009 <strong>de</strong><br />

22/07/1961, proibin<strong>do</strong> seu uso em espetáculos, clubes, auditórios, palcos, ou<br />

estúdios <strong>de</strong> rádio ou tevê.<br />

1964 – Regulamentação da profissão <strong>de</strong> Psicólogo e permissão para uso da hipnose<br />

através <strong>do</strong> <strong>de</strong>creto 53.464, <strong>de</strong> 21/10/1964.<br />

39


1966 – Regulamentação da hipnose em O<strong>do</strong>ntologia pela lei nº 5.081 <strong>de</strong> 24/08/1966.<br />

Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Medicina inclui o emprego da Hipnose no "Código <strong>de</strong> Ética<br />

Médica" no capítulo VI, art. 62, 63 e 64.<br />

1971 – II Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Hipnologia em João Pessoa, PB.<br />

1991 - Fernan<strong>do</strong> Collor revoga o uso terapêutico da hipnose através <strong>do</strong> <strong>de</strong>creto º 11<br />

<strong>de</strong> 19/01/1991.<br />

1999 - Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Hipnose Médica <strong>de</strong> São Paulo obtém parecer <strong>de</strong> aprovação <strong>do</strong><br />

Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Medicina quanto ao uso <strong>do</strong> termo Hipniatria.<br />

2000 – CFP (Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Psicologia) aprova e regulamenta o uso da<br />

Hipnose como re<strong>curso</strong> auxiliar <strong>de</strong> trabalho <strong>do</strong> Psicólogo através da resolução nº<br />

013/00 em 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro.<br />

2004 – 1º Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Psicoterapia Breve e Hipnoterapia é realiza<strong>do</strong> em<br />

São Paulo.<br />

2008 – XI Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Hipnologia no Rio <strong>de</strong> Janeiro. 27º Congresso<br />

Internacional <strong>de</strong> O<strong>do</strong>ntologia <strong>de</strong> São Paulo discute práticas complementares e<br />

integrativas; entre elas a hipnose.*<br />

Através <strong>de</strong>stes esclarecimentos, em que não se teve a pretensão <strong>de</strong><br />

nomear to<strong>do</strong>s os eventos relaciona<strong>do</strong>s à hipnose, buscou-se <strong>de</strong>linear como esta<br />

chegou até o Brasil e os caminhos que seguiu até a atualida<strong>de</strong>.<br />

* Esta última informação retirada da página da internet <strong>do</strong> CIOSP – Congresso Internacional <strong>de</strong><br />

O<strong>do</strong>ntologia <strong>de</strong> São Paulo.<br />

40


3 HIPNOSE E CIÊNCIA<br />

Muito embora o termo hipnose já venha sen<strong>do</strong> gran<strong>de</strong>mente utiliza<strong>do</strong> na<br />

época atual, ainda há quem não consiga traduzir em palavras o que ela realmente<br />

significa, seu significa<strong>do</strong> varian<strong>do</strong> conforme seus i<strong>de</strong>aliza<strong>do</strong>res.<br />

Para Sofia Bauer (2002), a hipnose é um esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> consciência diferente<br />

<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> vigília e po<strong>de</strong> ocorrer no dia-a-dia, quan<strong>do</strong> se está acorda<strong>do</strong>, diferin<strong>do</strong>,<br />

no entanto, <strong>de</strong> estar simplesmente em vigília, haja vista que nesse processo o foco<br />

<strong>de</strong> atenção se volta para a realida<strong>de</strong> interna criada pela pessoa.<br />

Sydney J.Van Pelt (1949 apud FERREIRA, 2006) consi<strong>de</strong>ra que a<br />

hipnose nada mais é <strong>do</strong> que uma superconcentração da mente.<br />

Já para Sarbin (1950 apud PINCHERLE & COL., 1985), o hipnotiza<strong>do</strong><br />

representa um papel, em que este tão-somente obe<strong>de</strong>ce às or<strong>de</strong>ns <strong>do</strong><br />

hipnoterapeuta.<br />

Embora se apresentem diferentes posições quanto à hipnose, Ferreira<br />

(2006) pontua que este esta<strong>do</strong> que alguns autores reportam como altera<strong>do</strong> é <strong>de</strong><br />

difícil precisão, uma vez que a percepção humana varia <strong>de</strong> pessoa para pessoa.<br />

Então, a <strong>de</strong>finição preferida pelo autor para o que seja esta<strong>do</strong> altera<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

consciência é aquele on<strong>de</strong> há “[...] uma modificação temporária no padrão total da<br />

experiência subjetiva, tal que o indivíduo acredita que o seu funcionamento mental é<br />

distintamente diferente <strong>de</strong> certas normas gerais <strong>do</strong> seu normal esta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

consciência <strong>de</strong> vigília” (TART, 1972; NEWMAN, 1997; LUDWIG, 1966 apud por<br />

FERREIRA, 2006, p.55).<br />

Sobre este esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> atenção concentrada, Vale (2006) argumenta que é<br />

precisamente este fato que permite à pessoa a reação ao trabalho <strong>do</strong><br />

hipnoterapeuta ou à auto-hipnose, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>n<strong>do</strong>, entretanto, a idéia <strong>de</strong> que<br />

O <strong>de</strong>sconhecimento pleno da mente humana dificulta a conceituação e<br />

explicação <strong>do</strong>s mecanismos através <strong>do</strong>s quais a hipnose produz seus<br />

efeitos. Ao contrário <strong>do</strong> que parece, durante a sessão hipnótica o encéfalo<br />

está em plena ativida<strong>de</strong>. (VALE, 2006, p. 539)<br />

41


O esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> vigília, por sua vez, é o oposto <strong>do</strong> sono, em que a ativida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar correspon<strong>de</strong> à propagação cortical da excitação. Para Pavlov, é pela<br />

palavra que os estímulos <strong>do</strong>s reflexos condiciona<strong>do</strong>s são cria<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> que estas<br />

apresentam <strong>do</strong>is conjuntos <strong>de</strong> estímulos diferentes: um sonoro, que é o primeiro<br />

sistema <strong>de</strong> sinalização, e um outro conjunto <strong>de</strong> idéias e imagens, que é o segun<strong>do</strong><br />

sistema <strong>de</strong> sinalização, conforme refere Ferreira (2006).<br />

Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> a evolução da hipnose até os dias atuais, Tortosa, Miguel-<br />

Tobal & González-Ordi (1999) referem a existência <strong>de</strong> uma dicotomia entre os<br />

teóricos, embora apontem que os caminhos seguem em direção a um consenso. De<br />

um la<strong>do</strong> os teóricos <strong>de</strong>l esta<strong>do</strong> e os teóricos <strong>de</strong>l no esta<strong>do</strong>, e <strong>de</strong> outro, a hipnose<br />

clínica e a hipnose experimental. Na visão <strong>do</strong>s autores, a divergência entre as<br />

escolas provoca a incongruência e a não-uniformida<strong>de</strong> entre os da<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s<br />

pelos diferentes aportes, não obstante a produção científica recente venha aparan<strong>do</strong><br />

arestas rumo a uma convergência entre estas teorias, referin<strong>do</strong> que a sugestão<br />

direta ou indireta se encontra circunscrita aos fenômenos hipnóticos.<br />

Parece existir una ten<strong>de</strong>ncia hacia la superación <strong>de</strong> la clásica controversia<br />

entre teóricos <strong>de</strong>l esta<strong>do</strong> y teóricos <strong>de</strong>l no esta<strong>do</strong>, aproximan<strong>do</strong> estas<br />

posturas bajo la concepción <strong>de</strong> La hipnosis como un conjunto <strong>de</strong><br />

procedimientos que potencian certas capacida<strong>de</strong>s preexistentes em los<br />

indivíduos (TORTOSA, MIGUEL-TOBAL & GONZÁLEZ-ORDI,1999, p. 20).<br />

De expressão pouco comum e bastante controversa, a hipnose forense<br />

tem si<strong>do</strong> utilizada para resgatar memórias a<strong>do</strong>rmecidas, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a intervir na<br />

solução <strong>de</strong> casos legais. Com esta prática, o hipnoterapeuta acessa a mente<br />

inconsciente <strong>do</strong> indivíduo com vistas a recuperar informações importantes acerca <strong>de</strong><br />

crimes ou criminosos (TIBÉRIO, <strong>de</strong> MARCO & PETEAN, 2004).<br />

Seguin<strong>do</strong> por esse viés, cumpre <strong>de</strong>stacar o trabalho elabora<strong>do</strong> por Sousa<br />

(2000) em sua dissertação <strong>de</strong> mestra<strong>do</strong> sobre a persuasão, em que o autor não<br />

menciona a factibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> processo hipnótico. Nele, Sousa dispõe sobre os<br />

caminhos que a mente humana elabora para tomar <strong>de</strong>cisões, a certo ponto<br />

relacionan<strong>do</strong> a arte da persuasão com a hipnose. Toma ele por base a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong><br />

hipnose aceita pela Comissão da British Medical Association, que em 1959<br />

estabeleceu hipnose como sen<strong>do</strong><br />

42


[...] um esta<strong>do</strong> passageiro <strong>de</strong> atenção modificada no sujeito, esta<strong>do</strong> que<br />

po<strong>de</strong> ser produzi<strong>do</strong> por uma outra pessoa e no qual diversos fenômenos<br />

po<strong>de</strong>m aparecer espontaneamente ou em resposta a estímulos verbais ou<br />

outros. Estes fenómenos [sic] compreen<strong>de</strong>m uma modificação da<br />

consciência e da memória, uma susceptibilida<strong>de</strong> acrescida à sugestão e o<br />

aparecimento no sujeito <strong>de</strong> respostas e i<strong>de</strong>ias que não lhe são familiares no<br />

seu esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> espírito habitual (CHERTOK, 1989, apud SOUSA, 2000, p.<br />

140).<br />

Partin<strong>do</strong> <strong>de</strong>sta premissa, Sousa (2000) pontua a gran<strong>de</strong> semelhança que<br />

existe entre os <strong>do</strong>is processos, pois à exemplo da hipnose, a persuasão também<br />

trata <strong>de</strong> modificar pensamentos e atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> outra pessoa a partir <strong>de</strong> um conteú<strong>do</strong><br />

verbaliza<strong>do</strong>, varian<strong>do</strong> em intensida<strong>de</strong> quanto aos contextos, tipos <strong>de</strong> relação<br />

estabelecida e os efeitos que se <strong>de</strong>seja produzir. Frisa o autor:<br />

A relação ora<strong>do</strong>r/auditório não po<strong>de</strong> pois [sic] <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser igualmente<br />

compreendida à luz da modificação <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> consciência que nela e por<br />

ela se opera, ainda que sem a profundida<strong>de</strong> que caracteriza a relação<br />

hipnotiza<strong>do</strong>r/hipnotiza<strong>do</strong> (SOUSA: 2000, p. 141).<br />

No tópico que se segue, contu<strong>do</strong>, o que se preten<strong>de</strong> discutir é a hipnose<br />

sob o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> seus mecanismos fisiológicos, cuja eficácia po<strong>de</strong> ser<br />

explicada a partir <strong>de</strong> algumas reações físicas observáveis no corpo, quan<strong>do</strong><br />

metabolismos complexos são ativa<strong>do</strong>s através <strong>do</strong> Sistema Nervoso Simpático e<br />

Parassimpático (FERREIRA, 2009).<br />

3.1 Neurofisiologia da Hipnose<br />

O corpo humano é um complexo sistema interliga<strong>do</strong> que <strong>de</strong>tém o perfeito<br />

controle <strong>de</strong> suas funções, manten<strong>do</strong> o <strong>de</strong>lica<strong>do</strong> equilíbrio entre todas as suas partes<br />

e o meio ambiente. A esse equilíbrio, <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> homeostasia, o fisiologista Walter<br />

Cannon chamou <strong>de</strong> a “sabe<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> corpo” (LENT, 2005), o qual assim permanece<br />

por meio <strong>do</strong> funcionamento <strong>do</strong> sistema nervoso autônomo (SNA), um conjunto <strong>de</strong><br />

neurônios localiza<strong>do</strong>s na medula e no tronco encefálico, cuja comunicação com o<br />

restante <strong>do</strong>s órgãos e teci<strong>do</strong>s acontece por meio <strong>do</strong>s axônios. Segun<strong>do</strong> o autor, o<br />

43


SNA não é um órgão totalmente autônomo, pois suas ações são orientadas através<br />

<strong>de</strong> regiões superiores <strong>do</strong> SNC - Sistema Nervoso Central.<br />

Ferreira (2006) sustenta que o SNA é o órgão responsável em regular o<br />

metabolismo, a temperatura <strong>do</strong> corpo, os sistemas circulatório, respiratório,<br />

endócrino, urinário, genital, cujas funções “[...] não são necessariamente<br />

conscientes” (p. 264).<br />

(2007) propõem:<br />

Numa explicação mais resumida e simplificada, Esperidião-Antônio et al<br />

Diferentes estímulos (aferências) – térmicos, táteis, visuais, auditivos,<br />

olfatórios e <strong>de</strong> natureza visceral (como alterações da pressão arterial) –<br />

chegam a diferentes partes <strong>do</strong> SNC por vias neuronais envolven<strong>do</strong><br />

receptores e nervos periféricos. Respostas (eferências) a<strong>de</strong>quadas a esses<br />

mesmos estímulos são programadas em <strong>de</strong>terminadas áreas corticais, as<br />

quais incluem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> circuitos simples – envolven<strong>do</strong> poucos segmentos –<br />

até complexos, exigin<strong>do</strong> refinamento funcional por parte <strong>de</strong> cada uma.<br />

(ESPERIDIÃO-ANTÔNIO et al, 2007, p.64)<br />

Bastante pertinente, portanto, a analogia <strong>de</strong> Lent (2006) ao comparar o<br />

SNA ao maestro <strong>do</strong>s órgãos, em que estes, embora saibam tocar sozinhos,<br />

precisam <strong>de</strong> um regente que lhes dêem “[...] o ritmo certo, a afinação a<strong>de</strong>quada, a<br />

sincronia <strong>de</strong> pausas e entradas, a emoção” (p. 475).<br />

se divi<strong>de</strong>:<br />

Na figura abaixo está representa<strong>do</strong> o mo<strong>do</strong> pelo qual o sistema nervoso<br />

Fig. 1<br />

Fonte: http://www.afh.bio.br/nervoso/nervoso3.asp<br />

44


Classicamente, o Sistema Nervoso Autônomo divi<strong>de</strong>-se em Sistema<br />

Nervoso Simpático (SNAS) e Sistema Nervoso Parassimpático (SNAP), os quais<br />

agem <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> antagônico. Em situações <strong>de</strong> luta ou fuga, o SNS é ativa<strong>do</strong> e gera<br />

um aumento <strong>do</strong> hormônio adrenalina no organismo. Esta substância é um<br />

neurotransmissor excitatório que aumenta a frequência cardíaca pelo aumento <strong>do</strong><br />

fluxo sanguíneo muscular. Assim, estimulan<strong>do</strong>-se a cauda <strong>do</strong> hipotálamo, aumenta-<br />

se a ativida<strong>de</strong> simpática, que por sua vez produz aumento <strong>do</strong> neurotransmissor<br />

adrenalina, que atua sobre órgãos como coração, pulmões, vasos sanguíneos,<br />

órgãos genitais, etc. A adrenalina é liberada como fator responsivo ao stress físico<br />

ou mental, ligan<strong>do</strong>-se um grupo especial <strong>de</strong> proteínas - os receptores adrenérgicos<br />

(QMCWEB, 2009).<br />

A estimulação <strong>do</strong> Sistema Parassimpático, por sua vez, que se dá através<br />

da estimulação da parte anterior <strong>do</strong> hipotálamo, tem como consequência<br />

[...] a diminuição da pressão arterial, da freqüência [sic] cardíaca, <strong>do</strong><br />

metabolismo basal, da secreção <strong>de</strong> adrenalina, <strong>do</strong> volume respiratório,<br />

dilatação <strong>do</strong>s vasos sangüíneos [sic], su<strong>do</strong>rese, salivação, contração da<br />

bexiga, contração das pupilas (miose) (FERREIRA, 2006, p. 265).<br />

Tanto Macha<strong>do</strong> (1993) quanto Serratrice et al (1995 apud ARAÚJO, 1997)<br />

consi<strong>de</strong>ram que os <strong>do</strong>is centros suprassegmentares mais importantes para o<br />

controle <strong>do</strong> SNA são o hipotálamo e o sistema límbico, ambos com extensas<br />

projeções para a formação reticular.<br />

Ferreira (2006) aponta estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Szechtman et al (1998), em que<br />

pessoas altamente suscetíveis à hipnose e à alucinação ativam durante estes<br />

processos uma região na área chamada Broadman (parte anterior <strong>do</strong> giro <strong>do</strong><br />

cíngulo), a qual foi <strong>de</strong>tectada por exame <strong>de</strong> PET (tomografia por emissão <strong>de</strong><br />

pósitrons). Este exame permite mapear a ativida<strong>de</strong> cerebral <strong>de</strong>terminan<strong>do</strong> o fluxo<br />

sanguíneo. Os pacientes submeti<strong>do</strong>s a este exame recebem uma injeção com<br />

substância radioativa que vão ajudar a produzir as imagens cerebrais, marcan<strong>do</strong> as<br />

áreas ativadas em vermelho.<br />

Situan<strong>do</strong> especialmente as vias <strong>de</strong> estimulação visual, Ferreira (2006)<br />

sustenta que primeiramente o indivíduo percebe o objeto, sua forma, movimento e<br />

cor através <strong>do</strong> córtex primário visual (área <strong>de</strong> Broadman), informação que segue até<br />

o córtex parietal posterior. A integração entre a representação <strong>do</strong> objeto com as<br />

45


informações gravadas na memória faz o autor afirmar, sobre a conexão existente<br />

entre estes <strong>do</strong>is processos, que “[...] envolve uma complexa re<strong>de</strong> relacionan<strong>do</strong> o<br />

córtex peririnal, entorinal e o hipocampo” (p. 190). Segun<strong>do</strong> ele, os componentes<br />

emocionais <strong>de</strong>correntes <strong>do</strong> estímulo são avalia<strong>do</strong>s pela amígdala.<br />

Em outro estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> por Macha<strong>do</strong> (1993), o autor sustenta que a<br />

estimulação elétrica em <strong>de</strong>terminadas áreas <strong>do</strong> hipotálamo é responsável por<br />

respostas típicas <strong>do</strong>s sistemas simpático e/ou parassimpático, sen<strong>do</strong> que o<br />

hipotálamo anterior é o responsável pelo controle principalmente <strong>do</strong> sistema<br />

parassimpático, e o hipotálamo posterior coor<strong>de</strong>na principalmente o sistema<br />

simpático.<br />

A neurobiologia da motivação, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os mais incipientes estu<strong>do</strong>s,<br />

apontou o hipotálamo como um centro integra<strong>do</strong>r fundamental, sen<strong>do</strong> este também<br />

o receptor das informações vindas <strong>do</strong> sistema límbico, <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> por Lent (2006) como<br />

“[...] o conjunto <strong>de</strong> regiões neurais <strong>de</strong>dicadas a interpretar e respon<strong>de</strong>r aos estímulos<br />

externos e internos <strong>de</strong> caráter emocional” (p. 491).<br />

Sabe-se que o corpo humano tem diferentes necessida<strong>de</strong>s e age por<br />

diferentes motivações ou esta<strong>do</strong>s motivacionais, e seus comportamentos motiva<strong>do</strong>s<br />

(LENT, 2005) estão dispostos em três classes. Na primeira, estão aqueles exigi<strong>do</strong>s<br />

por forças fisiológicas <strong>de</strong>finidas, como a fome, a regulação corporal, entre outros.<br />

Uma segunda classe é aquela que tem como guia um fisiologismo não tão bem<br />

<strong>de</strong>fini<strong>do</strong> como o primeiro, e cujo melhor exemplo o autor aponta o sexo, pois a<br />

procura pela satisfação sexual não se dá unicamente pelo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> perpetuação da<br />

espécie, mas também pelo puro prazer. No terceiro grupo e mais complexo, e que<br />

interessa especificamente ao presente trabalho, estão aqueles realiza<strong>do</strong>s sem uma<br />

<strong>de</strong>cisão biológica clara, motiva<strong>do</strong>s pela subjetivida<strong>de</strong> inerente ao ser humano.<br />

Para a consecução <strong>do</strong>s comportamentos motiva<strong>do</strong>s, Lent (I<strong>de</strong>m) sustenta<br />

que duas forças fundamentais agem, que são a homeostasia e a busca <strong>do</strong> prazer,<br />

sen<strong>do</strong> o hipotálamo o centro que integra fundamentalmente estes estu<strong>do</strong>s, uma vez<br />

que se comunica com inúmeras regiões <strong>do</strong> SNC e com diversos órgãos periféricos<br />

por meio <strong>do</strong> SNA e sistema endócrino, além <strong>de</strong> receber informações <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os<br />

<strong>de</strong>mais órgãos por ele controla<strong>do</strong>s, inclusive o sistema imunológico, embora<br />

indiretamente.<br />

Segun<strong>do</strong> o autor, estas informações provêm também <strong>do</strong> sistema límbico,<br />

conjunto <strong>de</strong> regiões neurais localizadas nas regiões corticais e subcorticais <strong>do</strong><br />

46


cérebro (Ibi<strong>de</strong>m). Este sistema é em gran<strong>de</strong> parte o responsável pelas emoções,<br />

que embora sejam muitas e <strong>de</strong> difícil classificação, Lent (Ibi<strong>de</strong>m) consi<strong>de</strong>ra que três<br />

aspectos são constantes: um sentimento (positivo ou negativo), um comportamento<br />

(atos motores específicos das emoções) e ajustes fisiológicos <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o<br />

sentimento e o comportamento.<br />

Para o autor, uma das estruturas que apresenta extrema importância no<br />

tocante às experiências emocionais é a amígdala, a que ele refere como “[...] botão<br />

<strong>de</strong> disparo [...]” (LENT, 2006, p.659) das situações que envolvem a emoção,<br />

receben<strong>do</strong> estímulos através <strong>do</strong> tálamo, e outras mais complexas por meio <strong>do</strong><br />

córtex.<br />

O córtex é a parte mais <strong>de</strong>senvolvida <strong>do</strong> cérebro humano, além <strong>de</strong> ser<br />

também o órgão responsável pelos pensamentos, percepção, produção e<br />

compreensão da linguagem, entre outras, cada uma <strong>de</strong> suas partes respon<strong>de</strong>n<strong>do</strong><br />

por funções específicas. O córtex se subdivi<strong>de</strong> em lobo frontal, parietal, temporal e<br />

occipital (VILELA, 2009).<br />

Fig. 2<br />

Fonte: http://www.afh.bio.br/nervoso/nervoso3.asp<br />

Sobre a complexida<strong>de</strong> que permeia as emoções <strong>do</strong> ser humano, observe-<br />

se que no início <strong>do</strong> século XX, William James e Karl Lange (BARRA et al, 2008;<br />

LENT, 2005, LEDOUX, 1999), já propunham que “Ficamos tristes porque choramos,<br />

zanga<strong>do</strong>s porque agredimos, e com me<strong>do</strong> porque trememos, e não choramos,<br />

47


agredimos ou trememos porque estamos tristes, agressivos ou com me<strong>do</strong>, conforme<br />

o caso (LEDOUX, 1999, p.40)."<br />

Na atualida<strong>de</strong>, o termo sistema límbico <strong>de</strong>signa o “[...] circuito neuronal<br />

que controla o comportamento emocional e os impulsos motivacionais” (LENT, 2005,<br />

p. 657). Em suas experiências, o autor foi leva<strong>do</strong> a crer que só após o córtex ser<br />

informa<strong>do</strong> <strong>de</strong> que o organismo produziu alterações fisiológicas é que se dá a<br />

experiência consciente da emoção.<br />

Contu<strong>do</strong>, foi com o anatomista americano James Papez que a<br />

neurociência mu<strong>do</strong>u novamente os mo<strong>de</strong>los aceitos até então. Foi ele a apresentar<br />

a teoria <strong>de</strong> que havia na verda<strong>de</strong> um “circuito” ou sistema <strong>de</strong> regiões que juntas<br />

disparavam o sentimento, as reações e por consequência o retorno à situação <strong>de</strong><br />

equilíbrio. Esta re<strong>de</strong> neural ficou conhecida <strong>de</strong>pois como Circuito <strong>de</strong> Papez e só<br />

mais tar<strong>de</strong> é que o conceito Sistema límbico, cria<strong>do</strong> pelo fisiologista francês Paul<br />

Broca, passou a ser utiliza<strong>do</strong> (i<strong>de</strong>m, 2005).<br />

Sobre Broca, este <strong>de</strong>scobriu que a incapacida<strong>de</strong> para a fala não exclui a<br />

compreensão da linguagem, fato que o fez anunciar em 1864 que o ser humano fala<br />

através <strong>do</strong> hemisfério esquer<strong>do</strong> e razão pela qual há no cérebro humano uma<br />

porção <strong>de</strong>nominada área <strong>de</strong> Broca (KANDEL, 1985, trad. MARIA CAROLINA<br />

DORETTO).<br />

Na figura abaixo, é possível visualizar as áreas <strong>do</strong> cérebro e as<br />

respectivas funções referentes à linguagem.<br />

Fig.3<br />

Fonte: Postner and Raichle, Scientific American 1994<br />

48


Embora haja um claro entendimento por parte da comunida<strong>de</strong> científica<br />

acerca <strong>do</strong> que seja a hipnose, a trajetória realizada por este fenômeno no cérebro<br />

ainda é pouco conhecida. Estu<strong>do</strong>s feitos por Câmara (apud RODRIGUES, 1998)<br />

apontam para a formação <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> chamada formação reticular, a qual<br />

funcionaria como elemento aglutina<strong>do</strong>r entre a voz <strong>do</strong> hipnoterapeuta e o cérebro.<br />

Segun<strong>do</strong> o autor, “[...] A formação reticular controla a vigília e o sono e ainda<br />

seleciona em que informações <strong>de</strong>vemos nos concentrar” (p.43).<br />

Especialmente quanto à estimulação sonora, Ferreira (2006) coloca que<br />

existe um sistema que ativa e <strong>de</strong>sativa o córtex, permitin<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssa forma o sono ou a<br />

vigília. Assim, quan<strong>do</strong> as palavras, via or<strong>de</strong>namento verbal, “[...] são enviadas <strong>do</strong><br />

córtex cerebral, via sistema <strong>de</strong>sativa<strong>do</strong>r <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte, até a formação reticular com<br />

função <strong>de</strong> <strong>de</strong>sativá-la [...]” (p. 189), há em consequência uma redução <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

alerta <strong>do</strong> córtex, o qual libera no sistema límbico os coman<strong>do</strong>s pertinentes à<br />

expressão emocional respectiva.<br />

Ferreira (2006) consi<strong>de</strong>ra que a formação reticular é condição sine qua<br />

non para a vida, além <strong>de</strong> que é constantemente suprida por estímulos, regulan<strong>do</strong> as<br />

informações que recebe conforme seu interesse. Segun<strong>do</strong> o autor, a formação<br />

reticular “[...] recebe as informações <strong>do</strong> meio ambiente, as filtra e permite que o<br />

indivíduo focalize a atenção num objeto que seja <strong>do</strong> seu interesse” (p.287).<br />

Com base nisso, Ferreira (I<strong>de</strong>m) aponta para estu<strong>do</strong>s feitos por Terman et<br />

al (1984), Teixeira (1995) e Pimenta et al (1997), em que os autores referem, por<br />

exemplo, que existem componentes emocionais, culturais e religiosos que po<strong>de</strong>m<br />

produzir diferentes sensações quanto à modulação da <strong>do</strong>r nos indivíduos, capazes<br />

<strong>de</strong> sensibilizar ou diminuir a <strong>do</strong>r.<br />

Experimentos conduzi<strong>do</strong>s na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Harvard por Kosslyn &<br />

Colabora<strong>do</strong>res (2000), analisaram oito indivíduos seleciona<strong>do</strong>s como altamente<br />

hipnotizáveis, que se submeteram a um exame <strong>de</strong> PET. Cada indivíduo submeteu-<br />

se a quatro tarefas sem indução hipnótica e <strong>de</strong>pois a mais quatro com indução.<br />

Primeiramente, os sujeitos <strong>de</strong>veriam indicar a cor que verda<strong>de</strong>iramente estavam<br />

enxergan<strong>do</strong>; num segun<strong>do</strong> momento, foi pedi<strong>do</strong> aos indivíduos que vissem o objeto,<br />

mas em escalas <strong>de</strong> cinza. Por último, à vista <strong>do</strong> objeto em escala <strong>de</strong> cinza, os<br />

sujeitos <strong>de</strong>veriam adicionar cor ao objeto. Os estu<strong>do</strong>s concluíram que quan<strong>do</strong><br />

induzi<strong>do</strong>s a perceber a cor, os sujeitos tinham maior alteração no fluxo sanguíneo <strong>do</strong><br />

49


hemisfério direito <strong>do</strong> cérebro. A figura abaixo mostra o mo<strong>de</strong>lo usa<strong>do</strong> no trabalho em<br />

questão.<br />

Fig. 4<br />

Fonte: Kossly & Colabora<strong>do</strong>res, 2000<br />

Pouco tempo <strong>de</strong>pois, em estu<strong>do</strong>s conduzi<strong>do</strong>s com um grupo <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<br />

indivíduos, proposto por Rainville et al (2002), estes sustentam, com base em exame<br />

<strong>de</strong> PET (tomografia por emissão <strong>de</strong> pósitrons), que a indução hipnótica provoca<br />

alterações significativas na experiência subjetiva, cujos re<strong>sul</strong>ta<strong>do</strong>s indicaram que a<br />

hipnose gera modificações nas estruturas essenciais à regulação <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

consciência, autorregulação e autocontrole, como também foi relatada uma<br />

diminuição quanto à capacida<strong>de</strong> avaliativa, acompanhamento e censura, além <strong>de</strong><br />

interromper a orientação temporal, <strong>de</strong> localização e da consciência <strong>de</strong> si mesmo no<br />

grupo estuda<strong>do</strong>.<br />

Sobre o PET, julga-se pertinente alguns esclarecimentos adicionais a<br />

respeito <strong>de</strong> como se processa este exame. A imagem cerebral por meio <strong>do</strong> PET tem<br />

início a partir <strong>de</strong> uma injeção conten<strong>do</strong> alguns átomos radioativos com a tendência a<br />

fixarem-se no cérebro. Com a emissão <strong>de</strong> pósitrons, estes átomos <strong>de</strong>compõem-se<br />

em mais ou menos vinte minutos, e ao estimularem o cérebro durante o exame, as<br />

zonas cerebrais mais estimuladas produzem mais raios gama, ten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a<br />

concentrarem-se em áreas específicas, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a estimulação dada. Estes<br />

da<strong>do</strong>s, por sua vez, recebem um sofistica<strong>do</strong> tratamento matemático e estatístico,<br />

permitin<strong>do</strong> assim a produção <strong>de</strong> imagens semelhantes a “fatias planas” <strong>do</strong> cérebro<br />

<strong>do</strong> paciente (MAT.URFGS, 2009).<br />

50


A figura abaixo mostra a ativida<strong>de</strong> cerebral <strong>de</strong> um recém-nasci<strong>do</strong> em seus<br />

primeiros meses <strong>de</strong> vida, cujas partes em vermelho apontam as áreas mais<br />

estimuladas.<br />

Fig. 5 –<br />

Fonte: http://www.mat.ufrgs.br<br />

Exames mais acura<strong>do</strong>s como o PET possibilitam estudar mais<br />

<strong>de</strong>talhadamente as alterações produzidas no cérebro sob efeitos controla<strong>do</strong>s em<br />

laboratório ou mesmo para diagnósticos mais precisos. A figura abaixo mostra a<br />

ação <strong>do</strong> receptor serotonina através das áreas coloridas.<br />

Fig.6 -<br />

Fonte: http://images.google.com.br<br />

51


Os da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s nestes experimentos são consistentes com a<br />

verificação <strong>de</strong> que as ativida<strong>de</strong>s relacionadas com o tronco cerebral, o giro <strong>do</strong><br />

cíngulo anterior, com o giro frontal inferior direito e o lóbulo parietal inferior direito<br />

<strong>de</strong>sempenham um papel <strong>de</strong>cisivo na produção <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s hipnóticos.<br />

Ressalte-se também o aspecto <strong>de</strong>staca<strong>do</strong> por Ferreira (2006) <strong>de</strong> que<br />

durante o processo hipnótico se observa uma redução <strong>do</strong> fluxo sanguíneo cerebral<br />

regional (FSCr) no córtex parietal, assim como há também um acréscimo <strong>do</strong> FSCr<br />

“[...] na parte caudal anterior <strong>do</strong> giro <strong>do</strong> cíngulo direito e no córtex frontal <strong>de</strong> ambos<br />

os la<strong>do</strong>s” (p. 216). Este exame se obtém com a ressonância magnética funcional<br />

(IRMf), a qual <strong>de</strong>tecta minúsculas variações <strong>do</strong> fluxo sanguíneo. O exame é feito<br />

medin<strong>do</strong>-se o nível <strong>de</strong> oxigenação no sangue nas áreas mais ativas, geran<strong>do</strong><br />

imagens <strong>de</strong> alta resolução, muito mais nítidas e precisas <strong>do</strong> que o PET.<br />

A figura abaixo mostra, nas áreas em vermelho, as áreas <strong>do</strong> cérebro<br />

estimuladas durante o exame <strong>de</strong> ressonância magnética funcional.<br />

Fig. 7 –<br />

Fonte: http://www.mat.ufrgs.br<br />

Estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s com eletroencefalograma (EEG) dão indicativo <strong>de</strong> que<br />

estan<strong>do</strong> com a atenção focalizada no processo hipnótico, ao ouvir sugestões <strong>de</strong><br />

“pálpebras pesadas, cansadas”, por exemplo, há nos indivíduos suscetíveis uma<br />

baixa <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> em alguns circuitos cerebrais nos lobos frontais responsáveis pelo<br />

planejamento e comportamento (i<strong>de</strong>m).<br />

Pincherle & Colabora<strong>do</strong>res (1985) referem estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Kupper em<br />

veteranos <strong>de</strong> guerra, os quais apresentaram alterações verificáveis nos padrões <strong>de</strong><br />

EEG quan<strong>do</strong> em regressão hipnótica. Em estu<strong>do</strong>s conduzi<strong>do</strong>s pelos próprios<br />

autores, estes sustentam uma redução no número <strong>de</strong> crises e ausências em<br />

paciente com histórico <strong>de</strong> epilepsia quan<strong>do</strong> submeti<strong>do</strong> a tratamento pela hipnose.<br />

52


Não é infundada, portanto, a comparação que Caprio & Berger (1999)<br />

fazem entre o inconsciente e um computa<strong>do</strong>r. No livro Curan<strong>do</strong>-se com a auto-<br />

hipnose, os autores fazem uma analogia entre a mente humana e um<br />

servomecanismo, salientan<strong>do</strong> que tal como este, que po<strong>de</strong> ser programa<strong>do</strong> e<br />

reprograma<strong>do</strong>, o subconsciente também po<strong>de</strong> ser altera<strong>do</strong> a partir <strong>de</strong> novas<br />

sugestões.<br />

Um servomecanismo é uma máquina construída <strong>de</strong> maneira a ‘se orientar’<br />

automaticamente para uma meta, um alvo ou uma solução. A mente<br />

subconsciente não tem emoção nem opinião. Ela só respon<strong>de</strong> a partir das<br />

informações que tem armazenadas em sua memória, retiran<strong>do</strong>-as dali <strong>de</strong><br />

maneira semelhante a que se retira uma carta <strong>de</strong> um arquivo (CAPRIO &<br />

BERGER, 1999, p.60).<br />

Com estes esclarecimentos, preten<strong>de</strong>u-se dar suporte à explicação <strong>de</strong><br />

como a hipnose está vinculada ao sistema límbico e ao hipotálamo (centros<br />

cerebrais que regulam as emoções básicas e a memória), interagin<strong>do</strong> com todas as<br />

funções <strong>do</strong> organismo através <strong>do</strong> sistema simpático e parassimpático.<br />

Conclui-se assim que a crescente e mais recente produção científica<br />

sobre a hipnose vem <strong>de</strong>spertan<strong>do</strong> na comunida<strong>de</strong> científica um vivo interesse nas<br />

questões que dizem respeito ao funcionamento cerebral e ao mo<strong>do</strong> pelo qual a<br />

hipnose atua no cérebro humano.<br />

No tópico a seguir, serão apresenta<strong>do</strong>s os conceitos <strong>de</strong> consciência,<br />

transe e hipnose, suas aproximações e diferenças.<br />

3.2 Consciência, Transe e Hipnose<br />

As questões referentes à consciência apresentam diferentes opiniões,<br />

uma vez que a representação <strong>de</strong> mun<strong>do</strong> varia <strong>de</strong> pessoa para pessoa,<br />

diversifican<strong>do</strong>-se também a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r da abordagem psicológica a ser trabalhada.<br />

Assim, ela po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada a partir <strong>de</strong> várias esferas <strong>do</strong> conhecimento.<br />

53


Davitz e Cook (1976 apud FERREIRA, 2006) argumentam que “[...]<br />

consciência é a conseqüência [sic] da interação entre o acontecimento em si e a<br />

forma pela qual ele é vivencia<strong>do</strong> pelo ser humano” (p.55).<br />

A nível neurológico há a dicotomia entre consciência <strong>de</strong> si (relaciona<strong>do</strong><br />

aos hemisférios cerebrais) e <strong>do</strong> ambiente (relativo à vigília e às estruturas <strong>do</strong> tronco<br />

cerebral (PLUM e POSNER, 1977, apud FERREIRA, 2006).<br />

Grin<strong>de</strong>r e Bandler (1984, apud FERREIRA, 2006, p. 54) consi<strong>de</strong>ram que<br />

“[...] transe é apenas pegar uma experiência consciente e alterá-la em alguma outra<br />

coisa”, enquanto muitos psicólogos reportam transe como “[...] um esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> limitada<br />

consciência (awareness), e uma pessoa estaria em transe quan<strong>do</strong> sua atenção está<br />

limitada e há uma certa repetição <strong>de</strong> pensamentos” (FERREIRA, 2006, p. 54).<br />

Na concepção <strong>do</strong> autor (I<strong>de</strong>m), são exemplos <strong>de</strong> transe no dia-a-dia a<br />

capacida<strong>de</strong> da pessoa em se abstrair totalmente <strong>do</strong> que a cerca, focalizan<strong>do</strong> a<br />

atenção apenas em <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> objetivo ou tarefa. Cita ainda como exemplos o <strong>de</strong><br />

um tenista em concentração para uma jogada numa partida ou um internauta<br />

aficciona<strong>do</strong> em internet.<br />

Já o esta<strong>do</strong> altera<strong>do</strong> <strong>de</strong> consciência, em que o autor concorda com a<br />

visão <strong>de</strong> Ludwig (1996) e Farthing (2000), transe po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> “[...] como uma<br />

modificação temporária no padrão total da experiência subjetiva, tal que o indivíduo<br />

acredita que o seu funcionamento mental é distintamente diferente <strong>de</strong> certas normas<br />

gerais <strong>do</strong> seu normal esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> consciência <strong>de</strong> vigília” (FERREIRA, 2006, p.55).<br />

Chertok (1989, apud SOUSA, 2000) coloca hipnose como sen<strong>do</strong> o “[...]<br />

quarto esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> organismo, actualmente [sic] não objectivável [sic] (ao inverso <strong>de</strong><br />

três outros: a vigília, o sono, o sonho): uma espécie <strong>de</strong> potencialida<strong>de</strong> natural, <strong>de</strong><br />

dispositivo inato [...]” (p. 140).<br />

Já Zeig (apud ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003) aponta<br />

hipnose como um tipo <strong>de</strong> focalização da consciência através <strong>do</strong> uso da palavra, na<br />

qual a hipnose “[...] busca pren<strong>de</strong>r a atenção <strong>do</strong> paciente para maximizar sua<br />

colaboração construtiva com o paciente” (p. 12).<br />

Spiegel (apud FERREIRA, 2008, p. 5) consi<strong>de</strong>ra “[...] o transe hipnótico<br />

como um <strong>de</strong>svio da atenção”.<br />

Com Jorge Abia encontra-se uma <strong>de</strong>finição um pouco mais extensa:<br />

54


Definimos transe como um esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> consciência em que permanecemos<br />

em contato mais intensamente conosco que com o meio externo. Ou seja, a<br />

atenção se volta para o que imaginamos e sentimos mais <strong>do</strong> que ao que<br />

objetivamente pensamos, sem que se perca o controle da relação com o<br />

exterior (ABIA, 2001, apud FERREIRA, 2008, P. 5).<br />

Percebe-se assim, pelo aporte <strong>de</strong> diferentes correntes científicas e<br />

autores, que os termos consciência, transe e hipnose encontram-se por vezes muito<br />

próximos um <strong>do</strong> outro, sen<strong>do</strong> difícil distingui-los. Isso não invalida, no entanto, a<br />

eficácia <strong>do</strong> trabalho terapêutico, ainda que sob diferentes nomenclaturas. Neste<br />

tópico, o que se propôs foi mais uma vez <strong>de</strong>monstrar a falta <strong>de</strong> um consenso entre<br />

os termos usa<strong>do</strong>s para <strong>de</strong>finir a hipnose.<br />

3.3 Sugestão<br />

O termo sugestão remete necessariamente a uma interpretação quanto<br />

ao seu senti<strong>do</strong> etimológico e psicológico. A levar-se em conta apenas o significa<strong>do</strong><br />

comum, sugestão po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida como estímulo, inspiração (PRIBERAM, 2009).<br />

Para Ferreira (2006), sugestão é um processo comunicativo e <strong>de</strong><br />

aceitação geral quanto a uma idéia apresentada e que ocasiona uma modificação na<br />

concentração total da mente <strong>do</strong> sujeito. Em termos psiquiátricos, pontua ele,<br />

sugestão “[...] se usa para indicar una i<strong>de</strong>a que se ofrece al enfermo y que éste há<br />

<strong>de</strong> aceptar sin crítica” (LERNER, 1964 apud FERREIRA, 2006, p. 65).<br />

É interessante observar que alguns aspectos estabeleci<strong>do</strong>s por Coué<br />

(1915) no início <strong>do</strong> século passa<strong>do</strong> ainda permanecem, tanto em Shrout (1985),<br />

quanto em estu<strong>do</strong>s mais recentes, como este <strong>de</strong> Ferreira (2006). Nele, o autor<br />

i<strong>de</strong>ntifica cinco aspectos referi<strong>do</strong>s por Coué quanto à sugestão (estes também se<br />

encontram <strong>de</strong>scritos no livro <strong>de</strong> Shrout - Hipnose Mo<strong>de</strong>rna Científica, pela editora<br />

Pensamento, em 1995, embora não em cinco tópicos como o <strong>de</strong> Ferreira):<br />

55


ASPECTOS DA SUGESTÃO<br />

1. A realização <strong>de</strong> uma idéia a partir da atenção concentrada;<br />

2. Vonta<strong>de</strong> e imaginação antagônicas fazem vencer sempre a imaginação;<br />

3. Aliança entre sugestão e emoção supera qualquer outra;<br />

4. A <strong>de</strong>terminação <strong>do</strong> não-fazer produz efeito contrário;<br />

5. A imaginação po<strong>de</strong> ser dirigida.<br />

Tabela 1<br />

Fonte: Ferreira, 2006<br />

Uma importante distinção entre sugestionabilida<strong>de</strong> e hipnotizabilida<strong>de</strong><br />

referida por Ferreira (2006) dá a dimensão exata entre estes <strong>do</strong>is termos. Enquanto<br />

sugestionabilida<strong>de</strong> se revela como o grau <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> indivíduo em direção a<br />

uma idéia, momento em que não faz uso <strong>do</strong> senso crítico, a suscetibilida<strong>de</strong> hipnótica<br />

(o autor cita ainda hipnotizabilida<strong>de</strong>, habilida<strong>de</strong> hipnótica ou receptivida<strong>de</strong> quanto à<br />

hipnose como termos correlatos) por sua vez está ligada à extensão da capacida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> sujeito em experimentar a hipnose.<br />

Tanto um como a outro apresentam diferenças <strong>de</strong> pessoa para pessoa.<br />

No primeiro caso, as diferenças também po<strong>de</strong>m surgir conforme as sugestões sejam<br />

apresentadas <strong>de</strong> forma direta ou indireta, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as expectativas <strong>do</strong><br />

paciente naquele momento, com o rapport entre hipnoterapeuta e paciente, para<br />

citar algumas situações específicas.<br />

Relativamente à capacida<strong>de</strong> hipnótica, os estu<strong>do</strong>s não são conclusivos,<br />

sem um consenso quanto ao prazo em que esta habilida<strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolve ou quanto<br />

tempo dura. Ferreira (2006) aponta os estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Aldrich (1987), Shore & Orne<br />

(1962), os quais sustentam que existem horários <strong>do</strong> dia que produzem maior<br />

suscetibilida<strong>de</strong> à hipnose, sen<strong>do</strong> o maior por volta <strong>do</strong> meio-dia e o menor entre 17 e<br />

18 horas.<br />

Estu<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s no 5º Congresso Mundial <strong>de</strong> Ciências Médicas no<br />

Canadá em 1998 dão conta <strong>de</strong> que durante a ativida<strong>de</strong> hipnótica se comprovou<br />

maior ativida<strong>de</strong> teta em exames <strong>de</strong> eletroencefalograma (EEG) <strong>de</strong> sujeitos<br />

extremamente suscetíveis (FERREIRA, 2006).<br />

56


Embora alguns autores consi<strong>de</strong>rem diferenças entre os indivíduos quanto<br />

à suscetibilida<strong>de</strong> hipnótica, Ferreira argumenta que existe na atualida<strong>de</strong> uma<br />

corrente a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a teoria <strong>de</strong> que todas as pessoas po<strong>de</strong>m ser hipnotizadas,<br />

bastan<strong>do</strong> para isso a habilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> especialista, inclusive, frisa o autor, nos<br />

pacientes psicóticos.<br />

Sobre este assunto, Izquier<strong>do</strong> <strong>de</strong> Santiago coloca que “La esquizofrenia<br />

es una enfermedad compleja que pue<strong>de</strong> ser tratada mediante la utilización <strong>de</strong><br />

medicación y/o terapias psicológicas” (2008, p. 10). Frisa, contu<strong>do</strong> que esta técnica<br />

<strong>de</strong>ve ser utilizada junto com outros tratamentos.<br />

Em pessoas com Alzheimer, Ferreira (2006) faz uma ressalva quanto a se<br />

utilizar a hipnose em pacientes cujos estágios da <strong>do</strong>ença estejam mais avança<strong>do</strong>s,<br />

consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que os neurônios nessa situação já não funcionam a<strong>de</strong>quadamente.<br />

Como fatores capazes <strong>de</strong> influenciar os pacientes, Ferreira (2006)<br />

enumera algumas condições:<br />

Comunicação<br />

a<strong>de</strong>quada<br />

paciente<br />

com o<br />

Aparência a<strong>de</strong>quada <strong>do</strong><br />

profissional<br />

FATORES DA RELAÇÃO ESPECIALISTA-PACIENTE<br />

Observar cuida<strong>do</strong>samente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros contatos com o<br />

paciente a apresentação, o aperto <strong>de</strong> mãos, a anamnese, a<br />

linguagem, as frases, utilizan<strong>do</strong> frases afirmativas, claras<br />

A aparência pessoal começa ao vestir-se e continua nos cuida<strong>do</strong>s com<br />

unhas, cabelos, barba, maquiagem, etc.<br />

Relação afetiva Desenvolver confiança mútua<br />

Expectativa Passar a idéia <strong>de</strong> sucesso no <strong>de</strong>sfecho <strong>do</strong> tratamento, pois essa<br />

expectativa representa um <strong>de</strong>terminante quanto à capacida<strong>de</strong><br />

hipnótica<br />

Prestígio Na maioria <strong>do</strong>s casos, o reconhecimento quanto ao prestígio <strong>do</strong><br />

profissional em seu meio facilita o trabalho<br />

Repetição <strong>de</strong> sugestões Durante o processo hipnótico se obtém melhores re<strong>sul</strong>ta<strong>do</strong>s pela<br />

repetição das sugestões<br />

Tabela 2 –<br />

Fonte: Ferreira, 2006<br />

Entre as qualida<strong>de</strong>s necessárias ao especialista e que são citadas acima,<br />

Ferreira (2008) argumenta ainda que a convicção, a confiança, o conhecimento, a<br />

competência, o comprometimento, o comportamento, a criativida<strong>de</strong>, a disposição <strong>do</strong><br />

paciente, a concentração e a comunicação são também condições imprescindíveis<br />

ao bom andamento da terapia.<br />

57


Do mesmo mo<strong>do</strong> que os itens quanto à relação entre especialista e<br />

paciente, Ferreira (2006) cita a influência <strong>do</strong> ambiente externo em que se<br />

<strong>de</strong>senvolve a ação terapêutica para melhor conduzir a terapia:<br />

Luminosida<strong>de</strong><br />

INFLUÊNCIA DO MEIO AMBIENTE E A RELAÇÃO SUGESTÃO – PACIENTE<br />

Temperatura<br />

Sons, vozes, música e<br />

ruí<strong>do</strong>s<br />

Manter <strong>de</strong>sliga<strong>do</strong> campainhas, telefones, etc. Quanto aos ruí<strong>do</strong>s<br />

advin<strong>do</strong>s <strong>do</strong> próprio lugar on<strong>de</strong> se localiza o con<strong>sul</strong>tório, é interessante<br />

incorporá-los à indução hipnótica, caso não seja possível reduzi-los. O<br />

ambiente tanto po<strong>de</strong> estar em completo silêncio quanto se po<strong>de</strong>m usar<br />

CDs com gravações.<br />

Perfumes agradáveis É preciso cuida<strong>do</strong> com perfumes, uma vez que os pacientes em<br />

expectativa <strong>de</strong> trabalho mental tornam-se mais sensíveis aos cheiros.<br />

Posição confortável Po<strong>de</strong>-se usar uma ca<strong>de</strong>ira, divã ou maca, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que seja confortável.<br />

Evitar chaves, moedas, carteiras no bolso que possam produzir ruí<strong>do</strong>s,<br />

assim como <strong>de</strong>scartar chicle, balas, óculos, lentes, a<strong>do</strong>rnos, etc.<br />

Decoração <strong>do</strong> ambiente Agradável, com poucos objetos.<br />

Tabela 3 –<br />

Fonte: Ferreira, 2006<br />

Como complemento às condições acima <strong>de</strong>scritas, Ferreira (2008) inclui<br />

também as condições climáticas e a hora, a conduta <strong>do</strong> recepcionista, prestígio <strong>do</strong><br />

profissional, acontecimentos que se <strong>de</strong>ram antes <strong>do</strong> horário <strong>do</strong> paciente, assim<br />

como a expectativa <strong>de</strong> algum evento posterior à con<strong>sul</strong>ta são fatores que po<strong>de</strong>m<br />

influenciar as respostas hipnóticas.<br />

Segun<strong>do</strong> o autor, à disposição no merca<strong>do</strong> se encontram CDs grava<strong>do</strong>s<br />

especialmente com o fim <strong>de</strong> produzir uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ondas para facilitar a<br />

indução hipnótica, como as ondas teta, que facilitam a imaginação, as ondas <strong>de</strong>lta<br />

que possibilitam o a<strong>do</strong>rmecimento, e outras ainda que reduzem a ativida<strong>de</strong> das<br />

ondas beta e que aumentam o percentual <strong>do</strong> ritmo alfa. Ferreira (2006) aponta<br />

inclusive estu<strong>do</strong>s feitos por Keyon (1998), em que se obtém relaxamento muscular a<br />

partir <strong>de</strong> estimulação <strong>de</strong> ritmo alfa próximo <strong>de</strong> 8Hz.<br />

Sobre a classificação das sugestões, Ferreira (2006) sustenta que<br />

dificilmente o paciente se encontra sob o efeito <strong>de</strong> uma única sugestão.<br />

No quadro abaixo estão relacionadas, conforme o autor, alguns tipos <strong>de</strong><br />

sugestão e suas principais características, exceção feita no caso da sugestão<br />

58


sensorial cinestésica, cujos autores estão indica<strong>do</strong>s especificamente (enten<strong>de</strong>u-se<br />

necessário ampliar a explicação para melhor compreensão <strong>do</strong> termo):<br />

CLASSIFICAÇÃO DAS SUGESTÕES<br />

Sensorial Direta: o paciente age respon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a afirmações objetivas: “Seus olhos estão se<br />

fechan<strong>do</strong>”;<br />

Indireta: introduzidas sutilmente, procura não relacionar experiência <strong>do</strong> paciente<br />

com a sugestão: “As pessoas obtém melhor concentração com os olhos fecha<strong>do</strong>s”<br />

Sensorial<br />

sonora<br />

(FERREIRA, 2006, p. 73-75);<br />

Extraverbal: habilida<strong>de</strong> em transmitir pelas palavras conteú<strong>do</strong>s não verbaliza<strong>do</strong>s,<br />

apenas inferi<strong>do</strong>s a partir <strong>de</strong> frases, palavras, gestos;<br />

Fonação extraverbal: utiliza mais os sons <strong>do</strong> que as palavras: ritmo da respiração,<br />

sorriso, bocejo;<br />

Não-verbal: apito, tique-taque, instrumento musical, som <strong>de</strong> árvores, chuva;<br />

Visual: imagem ou vibração através da visão – luz <strong>de</strong> velas, disco giratório, brilho<br />

<strong>de</strong> anel, alfinete, olhar, etc.;<br />

Olfativa: o<strong>do</strong>res <strong>de</strong> perfumes, álcool, etc.<br />

Gustativa: influência com sabores <strong>do</strong>ce, amargo, salga<strong>do</strong>, etc.<br />

Tátil Toque <strong>do</strong>s <strong>de</strong><strong>do</strong>s no paciente.<br />

Térmica Calor e frio.<br />

Dolorosa Pressão sobre uma vértebra <strong>do</strong> paciente.<br />

Palestésica Sensibilida<strong>de</strong> aos estímulos vibratórios (diapasão aplica<strong>do</strong> sobre a superfície<br />

óssea).<br />

Batiestésica Consciência exata da posição das partes <strong>do</strong> corpo e suas relações – sentimentos<br />

<strong>de</strong> pressão sobre o corpo (movimentos passivos <strong>de</strong> uma articulação em diferentes<br />

direções).<br />

Cinestésica Propriocepção corporal - discrimina a posição e o movimento articular, incluin<strong>do</strong><br />

direção, amplitu<strong>de</strong> e velocida<strong>de</strong>, bem como a tensão relativa <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s tendões<br />

Sugestões<br />

combinadas<br />

Sugestão pela<br />

atitu<strong>de</strong><br />

Sugestão<br />

psíquica<br />

Sugestão<br />

ambiental<br />

Sugestão<br />

i<strong>de</strong>omotora<br />

Sugestão<br />

Desafio<br />

Tabela 4 –<br />

Fonte: Ferreira, 2006<br />

(Smith et al ,1997).<br />

Associação simultânea <strong>de</strong> mais um tipo <strong>de</strong> sugestão.<br />

Consiste no conjunto <strong>de</strong> crenças pessoais <strong>do</strong> especialista, capazes <strong>de</strong> transmitir<br />

ao paciente sua habilida<strong>de</strong> em tratá-lo a<strong>de</strong>quadamente.<br />

Pouco consi<strong>de</strong>rada entre os teóricos, é mais reconhecida na parapsicologia.<br />

Consiste em provocar ação em pessoas ou objetos pelo po<strong>de</strong>r mental.<br />

Influência <strong>do</strong> ambiente <strong>do</strong> con<strong>sul</strong>tório, fases da lua, calor, frio, chuva, sol, campo<br />

magnético, enfim fatores que induzem ao relaxamento hipnótico, sintonizan<strong>do</strong> o<br />

paciente com as metas <strong>do</strong> tratamento, específicas ou não.<br />

Relacionadas a movimentos <strong>do</strong>s membros: mexer o <strong>de</strong><strong>do</strong>, levantar o braço, etc.;<br />

Consiste em apresentar ao pacientes situações para mudar sua percepção. Com<br />

o braço estendi<strong>do</strong>, sugerir a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> flexioná-lo, ou vice-versa.<br />

Na tentativa <strong>de</strong> esclarecer mais pontualmente a diferença entre alguns<br />

vocábulos presentes na literatura inglesa, Ferreira (2006) distingue o que seja<br />

awareness (alerta) e consciousness (consciência). Para o autor, awareness é a<br />

59


percepção das coisas e <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s na sua forma mais simples, enquanto que<br />

consciousness é a i<strong>de</strong>ntificação precisa <strong>de</strong>ssas coisas e sentimentos, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> mais<br />

exato.<br />

Essa explicação se justifica para respon<strong>de</strong>r por que muitas vezes o<br />

processo hipnótico é conduzi<strong>do</strong> com mais sucesso ou as sugestões são mais<br />

prontamente recebidas <strong>do</strong> que em outras, o que faz Ferreira (2006) respon<strong>de</strong>r,<br />

utilizan<strong>do</strong> os conceitos <strong>de</strong> Hartland (1973), que enquanto ocorre o transe hipnótico,<br />

há uma supressão parcial ou total <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r crítico <strong>do</strong> indivíduo. Isso acontece<br />

porque existe uma mente inconsciente em permanente processo <strong>de</strong> ingerência<br />

sobre os pensamentos, sentimentos e comportamentos humanos, o qual se dá<br />

geralmente sem que o indivíduo perceba (FERREIRA, 2006). Isso é que faz Hartland<br />

(1973 apud FERREIRA, 2006) dar tanta importância ao po<strong>de</strong>r crítico <strong>do</strong> indivíduo,<br />

pois com este restrito à mente consciente, as sugestões tanto po<strong>de</strong>m ser aceitas<br />

quanto rejeitadas. Frisa também que as respostas durante o processo hipnótico<br />

po<strong>de</strong>m ser nulas caso não sejam da vonta<strong>de</strong> consciente <strong>do</strong> paciente. Isso significa<br />

dizer que um paciente hipnotiza<strong>do</strong> não executa ações que representem uma<br />

contraposição ao seu conjunto <strong>de</strong> crenças pessoais conscientes.<br />

Ferreira (2006, p.55-56; 2008) consi<strong>de</strong>ra então que quan<strong>do</strong> algumas<br />

condições são preenchidas, as sugestões agem mais rapidamente e com mais forte<br />

po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> sugestionabilida<strong>de</strong>:<br />

Suscetibilida<strong>de</strong> hipnótica da pessoa aos testes;<br />

Propensão à fantasia;<br />

Propensão à amnésia e à dissociação – redução <strong>de</strong> tônus muscular, escrita<br />

automática, sugestões pós-hipnóticas, <strong>de</strong> amnésias pós-hipnóticas,<br />

dificulda<strong>de</strong> para falar;<br />

Imaginação absorvente – po<strong>de</strong> ser dirigida para uma fantasia interna ou para<br />

uma sensação corpórea, ou <strong>de</strong>talhar o meio ambiente;<br />

Capacida<strong>de</strong> imaginativa <strong>do</strong> hipnotiza<strong>do</strong> caminha junto com as sugestões <strong>do</strong><br />

hipnotiza<strong>do</strong>r. Nestas pessoas, o potencial hipnótico varia com as motivações,<br />

atitu<strong>de</strong>s e expectativas pessoais; grau <strong>de</strong> rapport que o hipnotiza<strong>do</strong>r possui;<br />

características das sugestões e ainda <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com cada situação.<br />

60


As dificulda<strong>de</strong>s em estabelecer as ações <strong>de</strong> uma pessoa sob o efeito da<br />

hipnose e fora <strong>de</strong>la fazem com que as posições <strong>do</strong>s autores se mostrem<br />

controversas. Outro ponto a ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> é que as pessoas, mesmo expostas a<br />

estímulos iguais, têm respostas diferentes.<br />

A posição <strong>de</strong> Stark (1999 apud FERREIRA, 2006, p. 48) é a <strong>de</strong> que “[...]<br />

hipnose é realmente uma convenção cultural, uma situação on<strong>de</strong> nós fazemos<br />

particularmente efetivo uso da imaginação pela manipulação <strong>de</strong> expectativas” (trad.<br />

<strong>do</strong> autor). Segun<strong>do</strong> ele, conforme as expectativas <strong>do</strong> indivíduo, a imaginação<br />

provoca alterações naquilo que se percebe, se sente e nos próprios atos <strong>do</strong> sujeito.<br />

Nos quadros abaixo, serão cita<strong>do</strong>s os esta<strong>do</strong>s especiais representativos<br />

da hipnose, das pessoas sob o esta<strong>do</strong> hipnótico, bem como as características<br />

psicológicas <strong>do</strong> indivíduo sob efeito hipnótico.<br />

No entanto, cumpre notar, seguin<strong>do</strong> especificações <strong>de</strong> Shrout (1995), que<br />

Bernheim foi o primeiro a apontar as variantes existentes <strong>de</strong> sujeito para sujeito, não<br />

apenas quanto ao estágio <strong>de</strong> transe, mas também quanto a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

sugestionabilida<strong>de</strong> diante da hipnose, fato continuamente observa<strong>do</strong> por Ferreira<br />

(2008; 2006).<br />

A classificação <strong>de</strong> Pavlov (apud SHROUT, 1995) para os temperamentos<br />

eram <strong>de</strong> <strong>do</strong>is tipos: reações <strong>de</strong> excitação e reações <strong>de</strong> inibição, apresentan<strong>do</strong> cada<br />

uma <strong>de</strong>las uma nova subdivisão:<br />

TIPOS DE TEMPERAMENTO<br />

Reações <strong>de</strong> excitação Fortemente excitável<br />

Vivamente excitável<br />

Reações <strong>de</strong> inibição Calmo, imperturbável<br />

Ligeiramente inibível<br />

Tabela 5 –<br />

Fonte: Shrout, 1995<br />

Hilgard (1968 apud FERREIRA, 2006), aponta as características da<br />

pessoa sob os efeitos da hipnose, como se <strong>de</strong>screve no quadro abaixo:<br />

61


1. Abrandamento da<br />

função <strong>de</strong> planificação<br />

2. Redistribuição<br />

atenção<br />

da<br />

3. Redução nos testes<br />

<strong>de</strong> realida<strong>de</strong> e<br />

tolerância<br />

4. Disponibilida<strong>de</strong> para<br />

memórias visuais <strong>do</strong><br />

passa<strong>do</strong> e aumentada<br />

habilida<strong>de</strong><br />

fantasia<br />

para a<br />

5. Aumento da<br />

sugestionabilida<strong>de</strong><br />

6. Comportamento <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sempenhar papel<br />

7. Amnésia para o que<br />

se divulgou durante o<br />

esta<strong>do</strong> hipnótico<br />

8. Respostas às<br />

sugestões <strong>de</strong> mo<strong>do</strong><br />

literal, primitivo,<br />

usualmente <strong>de</strong>moran<strong>do</strong><br />

um pouco<br />

Tabela 6 –<br />

Fonte: Ferreira, 2006<br />

CARACTERÍSTICAS DO PACIENTE HIPNOTIZADO<br />

Perda da iniciativa e <strong>do</strong> <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />

fazer planos. Habilida<strong>de</strong> para a<br />

ação e para a fala, mas pouca<br />

vonta<strong>de</strong> para tal.<br />

Atenção e <strong>de</strong>satenção seletiva<br />

além <strong>do</strong> normal.<br />

Alteração na percepção da<br />

própria personalida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> tempo,<br />

lugar, sobre o outro, distorções da<br />

realida<strong>de</strong>, nomina objetos e<br />

pessoas inapropriadamente.<br />

Facilitação da recuperação <strong>de</strong><br />

memórias, que po<strong>de</strong> ser tanto<br />

produtiva quanto reprodutiva,<br />

embora questionáveis quanto à<br />

veracida<strong>de</strong>.<br />

Em consequência <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> da<br />

pessoa, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> ser estudada<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> como esta<br />

se processa. Isso acontece pela<br />

vonta<strong>de</strong> <strong>do</strong> paciente em seguir as<br />

sugestões recebidas.<br />

Personificação <strong>do</strong> papel sugeri<strong>do</strong><br />

e execução <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

complexas correspon<strong>de</strong>ntes.<br />

Embora não seja essencial, a<br />

amnésia ou a recordação po<strong>de</strong><br />

ser sugerida durante o trabalho.<br />

Cuida<strong>do</strong> ao elaborar as<br />

proposições ao paciente, que<br />

po<strong>de</strong> tomá-las ao pé da letra,<br />

além <strong>de</strong> certa <strong>de</strong>mora em<br />

respon<strong>de</strong>r. Nessa situação é<br />

importante dar tempo ao paciente<br />

para a resposta.<br />

62<br />

A explicação em termos<br />

neurofisiológicos <strong>de</strong>stas três<br />

características está em que, durante<br />

o processo hipnótico, a ação <strong>de</strong><br />

focalizar a atenção ocupa as<br />

funções <strong>do</strong> lobo frontal, <strong>de</strong> tal mo<strong>do</strong><br />

que se torna inibi<strong>do</strong>, o que provoca<br />

as características apontadas nos<br />

itens 1, 2 e 3.<br />

É pertinente ressaltar que estas<br />

posições não constituem<br />

unanimida<strong>de</strong>. Lynn et al (apud<br />

FERREIRA 2006) consi<strong>de</strong>ram que a<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar respostas literais<br />

se pren<strong>de</strong> ao fato <strong>de</strong> ser um<br />

comportamento espera<strong>do</strong> e por estar<br />

numa situação passiva.<br />

Relativamente às características físicas da pessoa hipnotizada, Ferreira<br />

(2006) atenta para a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>de</strong>tectar exatamente o ponto on<strong>de</strong> o<br />

indivíduo ultrapassa as fronteiras da consciência, diferencian<strong>do</strong>-se especificamente<br />

pela intensida<strong>de</strong> com que se apresenta.<br />

Para tanto, recomenda-se um comparativo entre as alterações físicas e<br />

fisiológicas possivelmente observáveis entre os sujeitos antes e durante o processo<br />

hipnótico. No quadro a seguir, apresenta-se uma <strong>de</strong>scrição resumida <strong>do</strong>s fenômenos<br />

a observar:


ALTERAÇÕES OBSERVÁVEIS DURANTE A HIPNOSE<br />

Relaxamento muscular: face, mandíbula, pescoço, musculatura em geral<br />

Mudanças na cor da pele (pali<strong>de</strong>z), cor <strong>do</strong>s olhos (avermelha<strong>do</strong>s – possível relaxamento da<br />

musculatura da órbita, que facilita maior fluxo sanguíneo)<br />

Parte branca <strong>do</strong> olho se sobressai, pupila sobe. Com os olhos fecha<strong>do</strong>s, ruga na pálpebra<br />

superior<br />

Alteração <strong>de</strong> movimentos da respiração, frequência <strong>do</strong> pulso (geralmente mais lento)<br />

Fechamento <strong>do</strong>s olhos e tremor das pálpebras<br />

Motricida<strong>de</strong> voluntária diminuída<br />

Expressões da face e <strong>do</strong> corpo <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as sugestões dadas<br />

Movimentos inespera<strong>do</strong>s e involuntários <strong>de</strong> um ou mais <strong>de</strong><strong>do</strong>s<br />

Acenos com a cabeça, sacudidas nas mãos<br />

Lacrimejamento (possível relaxamento <strong>do</strong>s músculos)<br />

Alterações no diâmetro da pupila<br />

Alterações na quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suor<br />

Alterações na temperatura corporal in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> sugestão<br />

Possível secura na boca, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> da técnica utilizada<br />

Sensação <strong>de</strong> formigamento e coceira nas extremida<strong>de</strong>s, mesmo sem sugestão<br />

Respostas lentas às solicitações <strong>do</strong> hipnotiza<strong>do</strong>r e em movimentos espaça<strong>do</strong>s<br />

Lentidão no movimento <strong>do</strong>s olhos não é conclusivo <strong>de</strong> esta<strong>do</strong> hipnótico, ten<strong>do</strong> em vista que<br />

estes também foram registra<strong>do</strong>s em esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> sono, conforme apontam estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

Dunwoody e Edmonston em 1974 e cita<strong>do</strong>s pelo autor.<br />

Autores como Clasilnec, Hall e Handbook (apud FERREIRA, 2006) sustentam que a hipnose<br />

é consi<strong>de</strong>rada <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rada a boa conforme os pacientes relatem tremor das pálpebras e<br />

fechamento espontâneo, relaxamento <strong>do</strong>s músculos da face, profun<strong>do</strong> relaxamento muscular,<br />

respiração lenta e profunda, alteração na <strong>de</strong>glutição.<br />

Tabela 7 –<br />

Fonte: Ferreira, 2006<br />

63


Quanto às características psicológicas <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> hipnótico, estas po<strong>de</strong>m<br />

ser assim comentadas:<br />

CARACTERÍSTICAS PSICOLÓGICAS DO ESTADO HIPNÓTICO<br />

Atenção seletiva Foco da atenção apenas numa parte da experiência<br />

Dissociação Mente consciente ocupa-se com o processo hipnótico e a mente<br />

subconsciente <strong>de</strong> associações, significações simbólicas, respostas<br />

Resposta aumentada às<br />

sugestões<br />

Receptivida<strong>de</strong> aumentada em <strong>de</strong>corrência das sugestões em<br />

pessoas mais suscetíveis (é possível esta ocorrência também em<br />

pessoas sem hipnose, apenas pela expectativa, atitu<strong>de</strong>s e<br />

motivações<br />

Interpretação subjetiva Resposta às sugestões conforme suas referências pessoais<br />

Transe lógico Inexistência <strong>de</strong> avaliação crítica, on<strong>de</strong> a experiência po<strong>de</strong> ser ou<br />

não racional/real<br />

Relaxamento Embora consi<strong>de</strong>re esta possibilida<strong>de</strong>, o autor refere também a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inexistir relaxamento físico, apenas mental, ou o<br />

contrário. Segun<strong>do</strong> ele, o relaxamento po<strong>de</strong> ser somático (corpo),<br />

cognitivo (mental) ou <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is. Em estu<strong>do</strong>s feitos por Edmonston Jr<br />

(1981 apud FERREIRA, 2006), o relaxamento é o alicerce das<br />

<strong>de</strong>mais características que aparecem após o processo hipnótico,<br />

embora a maior parte das pessoas associe hipnose com<br />

relaxamento.<br />

Contu<strong>do</strong>, alterações na percepção <strong>do</strong> corpo, tais como alteração <strong>de</strong><br />

tamanho, <strong>de</strong>saparecimento <strong>de</strong> partes <strong>do</strong> corpo, alterações <strong>de</strong><br />

equilíbrio, <strong>de</strong> temperatura, <strong>de</strong> percepção <strong>do</strong> real, <strong>de</strong> voz, são<br />

índices convergentes <strong>de</strong> diferentes variáveis relacionadas entre si:<br />

Manter longo tempo os olhos fecha<strong>do</strong>s, ficar esperan<strong>do</strong> algo<br />

ocorrer, esperar alterações nas sensações corpóreas, sugestões<br />

<strong>de</strong> relaxamento, relaxamento profun<strong>do</strong>, sono e hipnose<br />

Tabela 8 –<br />

Fonte: Ferreira, 2006<br />

À parte todas as características <strong>de</strong>scritas nos quadros acima, é preciso<br />

esclarecer que algumas alterações são verificáveis tanto em pacientes sob hipnose<br />

quanto em pacientes não hipnotiza<strong>do</strong>s (FERREIRA, 2008; 2006). Para o autor<br />

(2006), a própria vivência diária, através <strong>de</strong> imagens ou palavras, po<strong>de</strong> provocar<br />

modificações na percepção sensorial e motora <strong>do</strong> indivíduo, sen<strong>do</strong>, entretanto, muito<br />

difícil <strong>de</strong>finir características específicas que se possam aplicar a todas as pessoas<br />

durante o processo hipnótico. O autor acredita que por ser um processo individual,<br />

as manifestações <strong>do</strong> comportamento também são únicas, e as situações cotidianas<br />

64


que se apresentam como fatores hipnóticos acontecem verda<strong>de</strong>iramente,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> uma orientação prévia. Além disso, Ferreira (apud Rossi, 1989)<br />

comenta que existem pessoas que aceitam as idéias sugeridas, mas não ativam<br />

modificações na fisiologia; em outras, apesar <strong>de</strong> aceitarem as sugestões muito<br />

lentamente, resistem a elas.<br />

ALTERAÇÕES PRODUZIDAS EM PACIENTES COM OU SEM SUGESTÃO HIPNÓTICA<br />

Modificações da<br />

motricida<strong>de</strong> voluntária<br />

Modificações <strong>do</strong> controle<br />

normalmente nãovoluntário<br />

• Relaxamento, hipotonia, paralisia, rigi<strong>de</strong>z<br />

• Movimentos involuntários<br />

• Facilitação <strong>de</strong> performance<br />

• Coração<br />

• Vasos sanguíneos<br />

• Aparelho respiratório<br />

• Sistema digestório<br />

• Bradicardia, taquicardia, alterações da pressão arterial<br />

• Vasoconstrição e vasodilatação<br />

• Apnéia, hipopnéia, hiperpnéia<br />

• Modificação nas secreções, <strong>do</strong> peritaltismo<br />

Modificações metabólicas • Glicemia, número <strong>de</strong> leucócitos,...<br />

Modificações endócrinas • Secreção salivar, transpiração, hormônios,...<br />

Modificações na resposta<br />

da pele<br />

Percepção alterada pelos<br />

senti<strong>do</strong>s<br />

Alterações imunológicas<br />

Alterações nas funções<br />

mentais<br />

• Visão, audição, tato, olfato, gustação<br />

• Alteração e ou distorção da sensibilida<strong>de</strong> térmica, <strong>do</strong>lorosa,<br />

tátil, epicrítica, barestésica, palestésica<br />

• Sensoriais, percepção (ilusão, alucinação), atenção,<br />

memória<br />

Alterações <strong>de</strong> respostas • Quanto à ansieda<strong>de</strong>, assimilação, retenção, recordação,<br />

alteração, memória da <strong>do</strong>r crônica<br />

• Mudança <strong>de</strong> hábitos: eliminar cigarro, bebida alcoólica,<br />

emagrecer<br />

• Po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>ssensibilizar fobias, <strong>de</strong>senvolver capacida<strong>de</strong><br />

criativa<br />

Tabela 9 –<br />

Fonte: Ferreira, 2006<br />

65


3.4 Méto<strong>do</strong>s/técnicas <strong>de</strong> Hipnoterapia com Hipnose<br />

Na literatura sobre hipnose, cujas publicações científicas são mais<br />

restritas, encontra-se na atualida<strong>de</strong> um referencial teórico elabora<strong>do</strong> por Ferreira<br />

(2006), cujos estu<strong>do</strong>s recentes têm procura<strong>do</strong> não só revisitar o per<strong>curso</strong> da hipnose<br />

na história humana, mas também <strong>de</strong>stacar seu relevante papel na cura <strong>de</strong> várias<br />

enfermida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m psíquica e física. Por esse motivo, neste trabalho optou-se<br />

por fazer uma breve <strong>de</strong>scrição das técnicas <strong>de</strong> Psicoterapia pela hipnose que o<br />

autor aborda, entremean<strong>do</strong> com algumas técnicas <strong>de</strong>senvolvidas por Milton<br />

Erickson, cujas publicações em extensos trabalhos também em muito contribuíram<br />

para elevar a hipnose ao patamar em que hoje se encontra.<br />

Entretanto, cabe salientar que existem divergências quanto ao uso da<br />

palavra méto<strong>do</strong> e técnica, sen<strong>do</strong> às vezes utilizada como sinônimos. Outro ponto a<br />

<strong>de</strong>stacar está em que, das técnicas/méto<strong>do</strong>s aqui explana<strong>do</strong>s, existem variações<br />

conforme seus autores, muitas vezes com uma nomenclatura diferente, porém<br />

bastante próximas quanto ao mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> condução <strong>do</strong>s trabalhos.<br />

Nos estu<strong>do</strong>s reporta<strong>do</strong>s por Erickson, Hershman e Secter (2003),<br />

encontram-se registra<strong>do</strong>s entre os fenômenos hipnóticos alguns que também foram<br />

observa<strong>do</strong>s por Ferreira (2006) como técnicas <strong>de</strong> Hipnoterapia. Entretanto, apenas<br />

alguns <strong>do</strong>s fenômenos aponta<strong>do</strong>s pelos autores serão registra<strong>do</strong>s no <strong>de</strong>correr <strong>do</strong><br />

trabalho com os indicativos da respectiva autoria.<br />

Por último, enten<strong>de</strong>u-se relevante observar a existência <strong>de</strong> outras<br />

técnicas/méto<strong>do</strong>s não mencionadas aqui e que po<strong>de</strong>m variar conforme a formação<br />

daquele que a utiliza. Abaixo, são <strong>de</strong>scritas as práticas técnicas <strong>de</strong> hipnoterapia<br />

elaboradas por Ferreira, interpon<strong>do</strong>-se a visão <strong>de</strong> outros autores ao tema trata<strong>do</strong>.<br />

Dissociação<br />

Através <strong>de</strong>sta técnica, o paciente é induzi<strong>do</strong> à dissociação, que consiste<br />

em separar o funcionamento da mente consciente <strong>do</strong> funcionamento da mente<br />

inconsciente, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser aplicada durante as técnicas <strong>de</strong> Psicoterapia.<br />

Normalmente, o primeiro passo está em<br />

66


Hipnografia<br />

[...] dissociar o “Eu” observa<strong>do</strong>r, <strong>do</strong> “Eu” que está experiencian<strong>do</strong> alguma<br />

coisa, (b) separar o “Eu”, das partes <strong>do</strong> corpo para expressar os conteú<strong>do</strong>s<br />

subconscientes, como ocorre na hipnografia, hipnoplastia e na escrita<br />

automática e (c) dissociar vários esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> “Eu”, processos e funções, para<br />

auxiliar o paciente e reintegrá-los <strong>de</strong> um mo<strong>do</strong> mais saudável. (FERREIRA,<br />

2006, p. 703)<br />

Pela pintura, o individuo revela as dificulda<strong>de</strong>s que possui, pois<br />

normalmente estas pessoas possuem limitações quanto ao uso da linguagem como<br />

forma <strong>de</strong> comunicação. O segun<strong>do</strong> passo nesta técnica é tornar mais fácil ao<br />

paciente a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressar pela voz o que expressou primeiro pela pintura<br />

(FERREIRA, 2006).<br />

Quan<strong>do</strong> Meares (apud GONSALVES, 1989) <strong>de</strong>senvolveu esta técnica,<br />

percebeu que a atenção <strong>do</strong>s pacientes se obtinha com um simples lápis preto. No<br />

entanto, o avanço <strong>do</strong> trabalho permitiu ver que a pintura preta provou ser mais eficaz<br />

<strong>do</strong> que o lápis.<br />

Hipnoplastia<br />

Técnica revelada por Raginsky em que o paciente usa a arte plástica para<br />

expressar suas dificulda<strong>de</strong>s. Por este procedimento, em esta<strong>do</strong> hipnótico, o paciente<br />

é leva<strong>do</strong> a mo<strong>de</strong>lar aquilo que seja <strong>de</strong> sua preferência, usan<strong>do</strong> massa, argila,<br />

plasticina ou material similar (FERREIRA, 2006). Watkhins e Barabasz (2007)<br />

relatam que Raginsky estimulava uma regressão circunscrita à área <strong>de</strong> conflito. Para<br />

isso, utilizava massas coloridas com a intenção <strong>de</strong> promover uma regressão<br />

específica à área <strong>do</strong> conflito ou ao nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Indução <strong>de</strong> Sonhos<br />

Através <strong>do</strong> sonho sugeri<strong>do</strong> ao paciente após o conhecimento <strong>de</strong>talha<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> seu histórico clínico. Uma possibilida<strong>de</strong> é a sugestão pós-hipnótica, em que o<br />

paciente é induzi<strong>do</strong> indiretamente a sonhar na noite seguinte e <strong>de</strong>pois relatar o<br />

sonho na sessão terapêutica. Por este méto<strong>do</strong>, Ferreira (2006) acredita que haja<br />

uma redução na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong>. Uma outra possibilida<strong>de</strong> é a utilização<br />

67


<strong>de</strong> auto-hipnose, em que se induz o paciente a sonhar, lembrar os sonhos e<br />

compreendê-los, utilizan<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> uma fraseologia a<strong>de</strong>quada. Também se po<strong>de</strong> optar<br />

por sugerir um assunto para o sonho no próprio processo hipnótico. O autor<br />

esclarece, entretanto, sobre a habilida<strong>de</strong> necessária ao hipnoterapeuta quanto à<br />

manipulação <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s sonhos, pois nestes existe a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

mecanismos diversos, como <strong>de</strong>slocamento (fatos que mudam <strong>de</strong> lugar),<br />

dramatização (encenação), con<strong>de</strong>nsação (mistura <strong>de</strong> fatos), simbolismo (simbolismo<br />

conforme o <strong>de</strong>sejo <strong>do</strong> paciente).<br />

Escrita automática<br />

Usada em indivíduos com dificulda<strong>de</strong> para falar, esta técnica usa a escrita<br />

para ir à busca <strong>de</strong> “[...] conflitos ocultos, <strong>de</strong>scobrir talentos latentes, evocar<br />

pensamentos primitivos forma<strong>do</strong>s na infância e auxiliar o indivíduo a organizar sua<br />

personalida<strong>de</strong> mais eficientemente” (MUHL, 1958, apud FERREIRA, 2006, p. 707).<br />

Ainda citan<strong>do</strong> Muhl, Ferreira refere também a utilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta técnica para <strong>de</strong>scobrir<br />

nomes <strong>de</strong> pessoas, en<strong>de</strong>reços, acontecimentos, cida<strong>de</strong>s, placas <strong>de</strong> carro.<br />

se coloca como<br />

Na visão <strong>de</strong> Pincherle & Colabora<strong>do</strong>res (1985, p.71-72) escrita automática<br />

[...] uma dissociação da personalida<strong>de</strong> que po<strong>de</strong> também ser observada em<br />

vigília, por exemplos nos rabiscos, <strong>de</strong>senhos e letras que muitas pessoas<br />

escrevem, <strong>de</strong> forma às vezes inconsciente, em papéis ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> um<br />

telefone, enquanto conversam e recebem reca<strong>do</strong>s.<br />

Entre as características apontadas no estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> Muhl (1958 apud<br />

PINCHERLE & Col, 1985) está a <strong>de</strong> que na regressão <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> se verificam<br />

mudanças também na caligrafia, on<strong>de</strong> esta apresenta traços conforme a ida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

indivíduo no momento da regressão.<br />

Já a visão <strong>de</strong> Erickson, Hershman & Secter (2003) sobre a escrita<br />

automática aponta para a facilitação <strong>de</strong> o paciente vir a externar conflitos, me<strong>do</strong>s,<br />

ansieda<strong>de</strong>s, que o ajudarão na terapia.<br />

68


Associação <strong>de</strong> Idéias<br />

Inicia-se o processo hipnótico pedin<strong>do</strong> ao paciente que vá falan<strong>do</strong> à<br />

medida que as palavras lhe venham, sem critério. O passo seguinte está em o<br />

hipnoterapeuta escolher uma série <strong>de</strong> palavras, cuidan<strong>do</strong> quanto à velocida<strong>de</strong>,<br />

entonação, intensida<strong>de</strong> e altura da voz, palavras estas que <strong>de</strong>vem ter significação<br />

para o paciente. À medida que vai falan<strong>do</strong> cada palavra, dá um tempo para que ele<br />

diga logo a seguir o que lhe parece sobre a palavra. Outra variação <strong>de</strong>sta técnica<br />

está em associar livremente as palavras-teste com o paciente em vigília e <strong>de</strong>pois<br />

fazê-lo repetir sob o efeito da hipnose (FERREIRA, 2006).<br />

Hipnoterapia analítica<br />

Na hipnoterapia analítica, também chamada <strong>de</strong> psicoanalítica ou<br />

dinâmica, o pensamento retorna à fase pré-verbal, caracteriza<strong>do</strong> como aquele<br />

encontra<strong>do</strong> nas crianças pequenas, tais como pensamento não-lógico, não<br />

sequencial, uma volta ao faz-<strong>de</strong>-conta. Nash (1987 apud FERREIRA, 2006, p. 708)<br />

refere uma regressão que se caracteriza por:<br />

a) aumento da disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> material <strong>do</strong> processo primitivo <strong>do</strong><br />

pensamento; b) sensações não usuais <strong>do</strong> corpo; c) emoções mais<br />

espontâneas e intensas; d) tendência a <strong>de</strong>slocar atributos centrais<br />

importantes <strong>de</strong> outras pessoas para o hipnólogo; e) estar receptivo para as<br />

experiências internas e externas.<br />

Segun<strong>do</strong> o autor, o que acontece então é a concentração num aspecto<br />

<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>, em que a consciência <strong>do</strong> se passa ao re<strong>do</strong>r fica diminuída,<br />

consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>-se <strong>do</strong>is níveis <strong>de</strong> funcionamento <strong>do</strong> "Eu”: o participante, que <strong>de</strong>ixa<br />

para o hipnoterapeuta as questões referentes à análise e crítica, ou ainda, sob efeito<br />

<strong>de</strong> auto-hipnose libera o controle para o “Eu”. O outro é o “Eu” observa<strong>do</strong>r, que<br />

apenas observa criticamente o envolvimento <strong>do</strong> “Eu” participante.<br />

Ferreira (2006) reporta também neste caso a existência da transferência<br />

entre paciente e especialista. Esta se refere a um esta<strong>do</strong> já vivi<strong>do</strong> numa fase anterior<br />

pelo paciente. Presentemente, ele os revive na relação com o hipnoterapeuta.<br />

69


Existem relatos <strong>de</strong> sentimentos como me<strong>do</strong> ou vergonha <strong>do</strong> paciente, relativos ao<br />

sentimento <strong>de</strong> querer ignorar impulsos inconscientes ou situações que se encontram<br />

reprimidas ou então resistências provocadas pela transferência, que tanto po<strong>de</strong> ser<br />

positiva quanto negativa no que concerne ao especialista.<br />

Conflito experimental<br />

Utilizan<strong>do</strong> frases a<strong>de</strong>quadamente construídas com o propósito <strong>de</strong> induzir<br />

angústia no paciente, Ferreira (2006) alerta para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o profissional<br />

usar <strong>de</strong> extrema habilida<strong>de</strong>, tanto com a hipnose quanto com a psicoterapia. Este<br />

alerta se impõe pelo fato <strong>de</strong> o hipnoterapeuta trabalhar com material reprimi<strong>do</strong>,<br />

exigin<strong>do</strong> <strong>de</strong>sse mo<strong>do</strong> um perfeito conhecimento <strong>do</strong> problema relata<strong>do</strong> pelo paciente.<br />

Relembrança e Revivificação<br />

Denominada também <strong>de</strong> terapia <strong>de</strong> vidas passadas ou vivências<br />

passadas, este re<strong>curso</strong> se origina a partir <strong>do</strong> <strong>de</strong>sejo <strong>do</strong> paciente, ten<strong>do</strong> em vista a<br />

inexistência <strong>de</strong> provas científicas sobre este méto<strong>do</strong> (FERREIRA, 2003, 2006).<br />

Entretanto, o autor refere esta técnica como um <strong>do</strong>s mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> se acessar<br />

experiências, pensamentos ou sentimentos reprimi<strong>do</strong>s inconscientemente.<br />

Aqui, a regressão tem como objetivo liberar emoções (catarse), recuperar<br />

memórias, realçar lembranças conscientes, tornar conscientes outros eventos,<br />

agradáveis ou não.<br />

Ferreira (2006) coloca <strong>do</strong>is mo<strong>do</strong>s pelos quais as lembranças po<strong>de</strong>m ser<br />

acessadas: relembrança ou revivificação, pontuan<strong>do</strong> que aquilo que se faz sob efeito<br />

hipnótico também é possível sem hipnose. Para o autor, estes acessos po<strong>de</strong>m<br />

ocorrer naturalmente, como passar por algum lugar que já conhecia, por exemplo.<br />

Assim, ele explica como relembrança quan<strong>do</strong> os acontecimentos dão ao<br />

paciente a impressão <strong>de</strong> se passarem com outra pessoa, frisan<strong>do</strong> que embora não<br />

se possa modificar o passa<strong>do</strong>, po<strong>de</strong>-se, contu<strong>do</strong> modificar as recordações e as<br />

reações <strong>do</strong> paciente frente a estas lembranças. Morris (apud FERREIRA, 2006, p.<br />

315) diz que “[...] a lembrança <strong>de</strong> um acontecimento passa<strong>do</strong> é [sic] na verda<strong>de</strong>, um<br />

ato criativo”.<br />

70


Nesse procedimento, Ferreira coloca que ao terminar lentamente o<br />

processo hipnótico, o especialista não dá ao paciente nenhum tipo <strong>de</strong> sugestão para<br />

que ele volte à ida<strong>de</strong> atual.<br />

A revivificação, por outro la<strong>do</strong>, consiste em o paciente experimentar e<br />

reviver outra vez acontecimentos em um tempo passa<strong>do</strong>, observan<strong>do</strong> inclusive o<br />

mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> falar, <strong>de</strong> escrever, característico da época revivida. É uma volta ao<br />

passa<strong>do</strong>. Na condução <strong>de</strong>ste processo, a sensibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> especialista está em usar<br />

habilmente as palavras.<br />

O autor coloca que nesta forma <strong>de</strong> regressão po<strong>de</strong> haver uma volta às<br />

condutas anteriores, sem que o paciente consiga recordar os fatos aconteci<strong>do</strong>s<br />

naquela ida<strong>de</strong>. Outras situações relatadas dão conta <strong>de</strong> que o paciente: (a) <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong><br />

consi<strong>de</strong>rar o hipnólogo na situação regredida; (b) manifesta revivescência <strong>de</strong> uma<br />

ida<strong>de</strong> na qual não enten<strong>de</strong> a linguagem falada; (c) manifesta revivescência <strong>de</strong> uma<br />

ida<strong>de</strong> na qual ele só entendia uma língua estrangeira. Nesta situação, Ferreira<br />

(2006) aconselha o estabelecimento <strong>de</strong> um sinal para a volta <strong>do</strong> paciente.<br />

Os estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Erickson, Hershman & Secter (2003) sobre revivificação<br />

indicam que por este caminho o paciente revive experiências <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, em que<br />

ele se habilita ao processo <strong>de</strong> ver, enten<strong>de</strong>r e sentir estas emoções. Entretanto,<br />

passa a reconhecê-las enquanto acontecimentos <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>.<br />

Terapia Cognitivo-comportamental<br />

A hipnose se apresenta como forma <strong>de</strong> reforço nesta modalida<strong>de</strong><br />

terapêutica, cujos segui<strong>do</strong>res enten<strong>de</strong>m que as <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> origem psicológica<br />

são re<strong>sul</strong>ta<strong>do</strong> “[...] <strong>de</strong> respostas aprendidas e mal adaptadas, sustentadas por<br />

cognições disfuncionais” (FERREIRA, 2006, p. 710), pois enten<strong>de</strong>m que não existe<br />

comprovação a respeito <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> transe hipnótico. Para eles, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

imaginação da mente <strong>do</strong>s pacientes po<strong>de</strong> ser alcançada sem hipnose. A teoria<br />

<strong>de</strong>senvolvida por Amigó (apud FERREIRA, 2006), a terapia <strong>de</strong> autorregulação, tem<br />

por objetivo expandir a responsivida<strong>de</strong> <strong>do</strong> paciente ao tratamento. Na hipnoterapia<br />

cognitiva <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, estudiosos como Beck e Ellis (I<strong>de</strong>m) acreditam na<br />

alteração <strong>de</strong> pensamentos distorci<strong>do</strong>s, crenças <strong>de</strong>sarrazoadas e negativas, partin<strong>do</strong>-<br />

se da busca <strong>de</strong>ssa estrutura <strong>de</strong> pensamentos para substituí-las por sentimentos<br />

positivos durante a sessão hipnótica (FERREIRA, 2006).<br />

71


A interpretação <strong>do</strong> autor neste tipo <strong>de</strong> terapia é que a intervenção <strong>do</strong><br />

especialista <strong>de</strong>ve buscar o problema que se encontra no inconsciente <strong>do</strong> paciente e<br />

assim utilizar a hipnose para dar solução ao caso. Sua indicação <strong>de</strong> uso está em<br />

casos como a vergonha <strong>de</strong> falar novas línguas, me<strong>do</strong> <strong>de</strong> chegar a uma nova escola,<br />

<strong>de</strong>sempenho num novo trabalho, incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gestão empresarial, dificulda<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> relacionamento, para tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões, <strong>de</strong>scui<strong>do</strong> com aparência pessoal,<br />

vergonha <strong>de</strong> exigir direitos.<br />

Técnica Fracionada, "Dentro e Fora” (“In and out”)<br />

Esta técnica começa com a indução hipnótica, colocan<strong>do</strong>-se duas<br />

sugestões pós-hipnóticas para acessar rapidamente o esta<strong>do</strong> hipnótico nas<br />

con<strong>sul</strong>tas subsequentes: uma ao entrar e outra para sair. Isso acontece várias vezes<br />

ao longo da mesma con<strong>sul</strong>ta, cujo foco central está em avaliar as discussões no<br />

esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> vigília (I<strong>de</strong>m).<br />

Hipnossíntese<br />

Técnica criada por Cohn (apud FERREIRA, 2006), em que o paciente<br />

<strong>de</strong>ve crer na própria capacida<strong>de</strong> para resolver seus conflitos, mesmo sem orientação<br />

<strong>do</strong> especialista. O procedimento se faz induzin<strong>do</strong> hipnoticamente o paciente,<br />

dizen<strong>do</strong> que a ele é permiti<strong>do</strong> <strong>de</strong>sfrutar <strong>do</strong> processo como melhor lhe aprouver, em<br />

silêncio ou falan<strong>do</strong>, momento em que o hipnoterapeuta fala ao indivíduo que este é<br />

capaz <strong>de</strong> encontrar em seu próprio inconsciente a solução para os seus problemas<br />

(I<strong>de</strong>m). Alakija (1992) também nomeia esta técnica como modalida<strong>de</strong> que faz uso da<br />

palavra.<br />

Hipnoterapias com outras <strong>de</strong>signações<br />

A hipnoterapia curativa <strong>de</strong>senvolvida por Cheek e Lecron (apud<br />

FERREIRA, 2006) consiste em usar a hipnose em diversas situações com o uso <strong>de</strong><br />

metáforas, regressão parcial, sugestões diretas e indiretas, etc. Sua importância<br />

aponta para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se localizar a fonte das <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns acumuladas no<br />

72


inconsciente humano, uma vez que acreditam serem estas que criam os sintomas<br />

(FERREIRA, 2006).<br />

Muito embora o autor mencione este tipo <strong>de</strong> prática hipnótica, afirma<br />

<strong>de</strong>sconhecer estu<strong>do</strong>s que confirmem sua eficácia, colocan<strong>do</strong> ainda que a<br />

sistematização a<strong>do</strong>tada neste processo é bastante semelhante à sequência utilizada<br />

nos processos hipnóticos.<br />

A seguir, serão <strong>de</strong>scritas algumas técnicas mencionadas por Erickson,<br />

Hershman e Secter (2003) nos trabalhos com hipnose, adaptadas a partir <strong>do</strong>s<br />

seminários ministra<strong>do</strong>s por Milton Erickson nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s a médicos,<br />

o<strong>do</strong>ntólogos e psicólogos. No prefácio, Zeig menciona como uma das características<br />

principais da obra a eficiência da comunicação na prática hipnótica.<br />

Transe Hipnótico Profun<strong>do</strong><br />

Com esta técnica, mantém-se o paciente em transe profun<strong>do</strong> durante<br />

horas ou dias, sen<strong>do</strong> utilizada em alguns tipos <strong>de</strong> neurose, azias e gastrites <strong>de</strong> fun<strong>do</strong><br />

nervoso, e em alguns casos <strong>de</strong> tiques <strong>de</strong> fun<strong>do</strong> emocional (ERICKSON,<br />

HERSHMAN & SECTER, 2003).<br />

Sugestão Indireta Permitida<br />

Por este méto<strong>do</strong>, os autores consi<strong>de</strong>ram mais efetiva a prática <strong>de</strong><br />

hipnose, uma vez que motivam o paciente a participar <strong>do</strong> processo, <strong>de</strong>spertan<strong>do</strong><br />

uma condição interna no individuo, ao invés <strong>de</strong> dar or<strong>de</strong>ns diretas. A sugestão<br />

indireta diminui a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> organismo, em que o hipnoterapeuta<br />

vai modulan<strong>do</strong> a voz, operan<strong>do</strong> sugestões <strong>de</strong> forma a “convidar” o paciente a<br />

participar <strong>do</strong> processo (I<strong>de</strong>m).<br />

Sugestão Hipnótica Direta<br />

Também chamada <strong>de</strong> Hipnoterapia Diretiva por Kline, não é consi<strong>de</strong>rada<br />

tão eficaz na condução da melhora <strong>do</strong> paciente, além <strong>de</strong> provocar resistência<br />

principalmente em pacientes com problemas mais acentua<strong>do</strong>s. Os estu<strong>do</strong>s indicam<br />

que há a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se aprofundar o transe hipnótico nesse tipo <strong>de</strong> trabalho e<br />

73


tornar claro ao paciente a relação existente entre a finalida<strong>de</strong> para a qual se está<br />

fazen<strong>do</strong> a hipnose e os seus problemas (Ibi<strong>de</strong>m).<br />

Esta<strong>do</strong> Hipnótico Catártico<br />

Terapia com orientação psiquiátrica que consiste em diminuir as inibições<br />

e repressões <strong>do</strong> paciente <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a <strong>de</strong>sbloquear conteú<strong>do</strong> emocional (Ibi<strong>de</strong>m).<br />

Hipnoanálise<br />

Neste tipo <strong>de</strong> intervenção, juntamente com a hipnose são utilizadas<br />

técnicas analíticas e são geralmente empregadas em casos psiquiátricos (Ibi<strong>de</strong>m). A<br />

contribuição da Psicanálise baseia-se na utilização <strong>do</strong>s fundamentos teóricos da<br />

terapia analítica, em que caberia à hipnose o alívio mais rápi<strong>do</strong> da patologia<br />

apresentada (GONSALVES, 1989). Esta modalida<strong>de</strong> se encontra também<br />

referenciada em trabalhos <strong>de</strong> George Alakija (1992).<br />

3.5 Fenômenos Hipnóticos<br />

Ativida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>omotora e i<strong>de</strong>ossensora<br />

A ativida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ossensora relaciona-se à capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contemplação<br />

intensa a uma cena ou objeto que produz uma sensação e esta é reproduzida a<br />

cada vez que a imagem é evocada.<br />

Em contrapartida, a ativida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>omotora liga-se à capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

organismo humano reagir com ações concretas frente a uma situação que ou está<br />

presencian<strong>do</strong> vivamente ou a sentimentos que o impelem, sem sua consciência<br />

plena. Os autores colocam como exemplo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>omotora a escrita<br />

automática (Ibi<strong>de</strong>m).<br />

74


Alterações sensoriais<br />

Há uma extensa varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> alterações <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s que po<strong>de</strong>m<br />

produzir alucinações visuais, olfativas, gustativas, auditivas ou anestésicas, tanto<br />

positiva quanto negativamente (Ibi<strong>de</strong>m).<br />

Catalepsia<br />

Enten<strong>de</strong>-se por catalepsia a permanência em uma posição fixa por tempo<br />

in<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> o indivíduo está sob transe hipnótico profun<strong>do</strong>, mas po<strong>de</strong>n<strong>do</strong><br />

se manifestar também em transes leves, médios ou <strong>de</strong> estupor (Ibi<strong>de</strong>m).<br />

Rapport<br />

Rapport é a interação que se estabelece entre opera<strong>do</strong>r e paciente. Este,<br />

uma vez estabeleci<strong>do</strong>, faz com que o paciente busque a se isolar <strong>do</strong>s<br />

acontecimentos e <strong>do</strong>s estímulos externos, pren<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se somente ao hipnoterapeuta<br />

(Ibi<strong>de</strong>m).<br />

Amnésia, amnésia seletiva, hipermnésia<br />

A amnésia consiste na orientação hipnoticamente induzida para que o<br />

paciente esqueça alguma coisa, fato ou situação. Já a amnésia seletiva refere-se ao<br />

esquecimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas experiências, atitu<strong>de</strong>s ou aprendiza<strong>do</strong>s.<br />

Na hipermnésia, que é o aumento da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lembrar-se das<br />

coisas, po<strong>de</strong>-se conseguir que o paciente recupere memórias em <strong>de</strong>talhes (Ibi<strong>de</strong>m).<br />

Ferreira (2006) pontua que a amnésia po<strong>de</strong> ser visual, auditiva, olfativa,<br />

gustativa, tátil ou verbal. Segun<strong>do</strong> o autor, ela po<strong>de</strong> se referir também à perda da<br />

memória <strong>de</strong> fixação (paciente não fixa os estímulos no reservatório da memória) ou<br />

da memória <strong>de</strong> conservação (perda das informações já fixadas). Este último caso<br />

geralmente liga-se a “[...] traumatismos cranianos, mal <strong>de</strong> Alzheimer ou múltiplos<br />

infartos, em intoxicações graves” (p. 271).<br />

Também quanto a esse ponto existem controvérsias entre os autores,<br />

referin<strong>do</strong> que tanto a amnésia quanto a hipermnésia po<strong>de</strong>m facilitar o acesso a fatos<br />

75


esqueci<strong>do</strong>s. Ferreira (2006) cita a revisão <strong>de</strong> McConkey e Sheehan (1995), os quais<br />

referem a falta <strong>de</strong> evidência <strong>de</strong> que estas técnicas realcem a memória efetivamente.<br />

Supressão e repressão<br />

A supressão consiste no ato <strong>de</strong> manter afasta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> pensamento<br />

sentimentos ruins, negativos (<strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> possível). Entretanto, estes conteú<strong>do</strong>s, uma<br />

vez reprimi<strong>do</strong>s no inconsciente, po<strong>de</strong>m ser resgata<strong>do</strong>s com o uso <strong>de</strong> re<strong>curso</strong>s como<br />

“[...] visualizações, alucinações auditivas, alucinações táteis, bem como outros<br />

re<strong>curso</strong>s a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s para esse fim e <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s pelo próprio paciente”<br />

(ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003, p.68).<br />

Dissociação<br />

Durante o transe hipnótico, sugere-se ao paciente que veja a si mesmo<br />

como se estivesse em outro lugar (ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003).<br />

Despersonalização<br />

Os autores referem <strong>de</strong>spersonalização como a perda momentânea da<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar a si próprio durante o transe hipnótico (I<strong>de</strong>m).<br />

Sonambulismo<br />

Estágio bastante profun<strong>do</strong> <strong>de</strong> hipnose em que o paciente dá a impressão<br />

<strong>de</strong> estar plenamente acorda<strong>do</strong> (Ibi<strong>de</strong>m). O dicionário <strong>de</strong> Psicologia (1977) trata<br />

sonambulismo como uma ação e reação na consciência primitiva, apontan<strong>do</strong> esta<br />

característica mais em crianças e problemas liga<strong>do</strong>s à neurose. Janet (1889 apud<br />

CHERTOK & STENGERS, 1990) <strong>de</strong>screveu sonambulismo como “[...] aparecimento<br />

<strong>de</strong> um campo <strong>de</strong> consciência comparável ao que caracteriza o esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> vigília, mas<br />

acompanha<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma modificação da personalida<strong>de</strong>” (p. 259).<br />

76


Subjetivida<strong>de</strong> e Objetivida<strong>de</strong><br />

Depois <strong>de</strong> hipnotiza<strong>do</strong>, o paciente é solicita<strong>do</strong> a sentir as mesmas<br />

angústias <strong>de</strong> uma outra pessoa, <strong>de</strong> quem ele nada sabe. Isto possibilitaria ao<br />

paciente avaliar o sofrimento <strong>do</strong> outro <strong>de</strong> forma subjetiva.<br />

No segun<strong>do</strong> caso, po<strong>de</strong>-se hipnotizar o paciente induzin<strong>do</strong>-o a <strong>de</strong>slocar<br />

os seus problemas para uma terceira pessoa, que o hipnoterapeuta diz ter o mesmo<br />

nome e os mesmos problemas. Desta forma, o paciente discute <strong>de</strong> forma inequívoca<br />

as suas angústias como se fossem a <strong>do</strong> outro (Ibi<strong>de</strong>m).<br />

Distorção <strong>do</strong> tempo<br />

Existem duas situações: uma em que o tempo real é bem maior <strong>do</strong> que<br />

aquele sonha<strong>do</strong> ou imagina<strong>do</strong>, e a outra, em que o tempo real, apesar <strong>de</strong> muito<br />

curto, dá a sensação <strong>de</strong> ter dura<strong>do</strong> muito mais <strong>do</strong> que na verda<strong>de</strong> durou (i<strong>de</strong>m).<br />

Comparan<strong>do</strong>-se os <strong>do</strong>is aportes teóricos, é possível tecer algumas<br />

consi<strong>de</strong>rações sobre um e outro, sen<strong>do</strong> em alguns casos bastante próximos nas<br />

explicações. Em outros, diferenciam-se bastante.<br />

Nos <strong>do</strong>is casos aponta<strong>do</strong>s abaixo, muito embora a nomenclatura utilizada<br />

por um e outro seja diferente, pô<strong>de</strong>-se observar que elas na verda<strong>de</strong> são práticas<br />

muito similares.<br />

Por exemplo, Ferreira (2006) coloca dissociação (técnica hipnoterápica)<br />

como o ato <strong>de</strong> separar três “Eus”: um observa<strong>do</strong>r, um experiencia<strong>do</strong>r e um terceiro<br />

fragmenta<strong>do</strong> em vários processos e funções. Numa outra explicação, o autor coloca<br />

dissociação como a separação entre diferentes processos mentais, ou seja,<br />

enquanto uma parte da mente se ocupa <strong>de</strong> algum sentimento (por exemplo, <strong>do</strong>r), a<br />

outra parte, consciente, recebe sugestão para a supressão ou eliminação <strong>do</strong> foco<br />

<strong>do</strong>loroso.<br />

Para Erickson, Hershman & Secter (2003), dissociar significa permitir ao<br />

paciente, sob efeito hipnótico, que esteja em <strong>do</strong>is lugares ao mesmo tempo: um<br />

seria o observa<strong>do</strong>r e outro o experiencia<strong>do</strong>r, como aponta<strong>do</strong> por Ferreira (sen<strong>do</strong> que<br />

a dissociação para estes teóricos refere-se a um fenômeno e não técnica).<br />

Outro item coinci<strong>de</strong>nte entre os teóricos está no Esta<strong>do</strong> Hipnótico<br />

Catártico referi<strong>do</strong> por Erickson, Hershman & Secter e no Conflito Experimental <strong>de</strong><br />

77


Ferreira. Nos <strong>do</strong>is aportes, há uma catarse <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> emocional reprimi<strong>do</strong> que<br />

<strong>de</strong>ve ser trabalha<strong>do</strong> sob hipnose para liberar o paciente <strong>de</strong> suas angústias. To<strong>do</strong>s os<br />

autores referem-se a este item como técnica <strong>de</strong> hipnose.<br />

As conclusões <strong>de</strong>stas duas comparações não tiveram outro intuito senão<br />

o <strong>de</strong> enfatizar o que já havia si<strong>do</strong> explana<strong>do</strong> anteriormente pelas referências teóricas<br />

apontadas, ou seja, as evi<strong>de</strong>ntes contradições existentes no que se refere a uma<br />

unicida<strong>de</strong> científica em torno da hipnose, condição é claro que não é prerrogativa<br />

das teorias hipnóticas.<br />

3.6 Técnicas Hipnóticas<br />

• Técnica com relaxamento muscular<br />

Consiste em convidar o paciente, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> assegurar-se que ele esteja<br />

confortável e reclina<strong>do</strong> numa poltrona, a fechar os olhos, manten<strong>do</strong> os pés juntos e<br />

os braços ao longo <strong>do</strong> corpo. Nesse momento é importante explicar as distinções<br />

entre sonolência, sono, sono profun<strong>do</strong> e relaxamento (FERREIRA, 2006).<br />

• Técnica Méto<strong>do</strong> da Estrela<br />

Com o paciente instala<strong>do</strong> confortavelmente, pedir que este feche os olhos e<br />

relaxe, evitan<strong>do</strong> associação com as palavras estrela e respiração profunda. Durante<br />

a sessão, perguntar se ele gosta <strong>de</strong> respirar profundamente e <strong>de</strong> estrelas, e ir<br />

aprofundan<strong>do</strong> a indução hipnótica com uma fraseologia específica, como ‘visualizar<br />

uma estrela solitária’, dan<strong>do</strong> prosseguimento com sugestões <strong>de</strong> relaxamento.<br />

Durante o procedimento, ir paulatinamente aproximan<strong>do</strong> e <strong>de</strong>pois afastan<strong>do</strong> a<br />

estrela conforme o <strong>de</strong>senrolar <strong>do</strong> trabalho (FERREIRA, 2006).<br />

Esta técnica se encontra também <strong>de</strong>scrita no trabalho <strong>de</strong> Pincherle e<br />

colabora<strong>do</strong>res (1985).<br />

78


• Técnica <strong>de</strong> Indução com visualização<br />

Indicada para quem tem capacida<strong>de</strong> imaginativa, pe<strong>de</strong>-se ao paciente<br />

que recrie um lugar <strong>de</strong> sua preferência, <strong>de</strong>screven<strong>do</strong>-o em <strong>de</strong>talhes. Observar se o<br />

paciente consegue reproduzir, atentan<strong>do</strong> para quesitos como rapi<strong>de</strong>z, habilida<strong>de</strong> em<br />

imaginar e intensida<strong>de</strong>. Aprofundar a indução hipnótica dan<strong>do</strong> sugestões <strong>de</strong> bem-<br />

estar, sentimentos positivos e <strong>de</strong>pois continuar com as sugestões específicas <strong>do</strong><br />

tratamento (FERREIRA, 2006).<br />

Pincherle e Colabora<strong>do</strong>res (1985) colocam esta técnica como<br />

visualização cênica, aplicada em esta<strong>do</strong> sonambúlico, em que o paciente é induzi<strong>do</strong><br />

a criar alterações <strong>de</strong> senti<strong>do</strong>: “Imagine agora que você está na praia, olhan<strong>do</strong> para o<br />

mar. Está passan<strong>do</strong> um barco com a vela ao vento... Você está ven<strong>do</strong> o barco? Olhe<br />

fixamente para ele” (1985, p. 49).<br />

• Técnica da Fixação <strong>do</strong> olhar<br />

Bernheim foi quem <strong>de</strong>senvolveu esta técnica, sen<strong>do</strong> mais tar<strong>de</strong><br />

aperfeiçoada por Moss (FERREIRA, 2006). Comodamente senta<strong>do</strong> e relaxa<strong>do</strong>, o<br />

paciente fixa o olhar num objeto brilhante ou no <strong>de</strong><strong>do</strong> <strong>do</strong> especialista a uma distância<br />

aproximada <strong>de</strong> 35 a 45 centímetros. A partir daí, vão sen<strong>do</strong> dadas sugestões verbais<br />

<strong>de</strong> relaxamento, aprofundamento da respiração, sensação <strong>de</strong> peso nas pernas, no<br />

corpo inteiro, até induzi-lo a um sono agradável e profun<strong>do</strong>, momento em que se<br />

inicia a terapêutica especificamente. Pincherle e colabora<strong>do</strong>res (1985) mencionam<br />

que Berheim costumava gesticular quan<strong>do</strong> o paciente resistia à sugestão.<br />

• Técnica da contagem associada aos movimentos oculares<br />

Paciente reclina<strong>do</strong> <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> confortável, braços sobre as coxas. Como<br />

nas anteriores, explicar o significa<strong>do</strong> das palavras e o exercício a ser feito. O<br />

especialista vai contan<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> 1, dan<strong>do</strong> tempo ao paciente para abrir e fechar<br />

os olhos até o número 30. Instruí-lo <strong>de</strong> que com o número 1 ele <strong>de</strong>ve fechar os olhos<br />

e ao dizer o número 2, ele <strong>de</strong>ve abrir, suavemente. Durante o processo, aplicar<br />

sugestões <strong>de</strong> peso nas pálpebras <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> crescente, assim como sensação <strong>de</strong><br />

formigamento, calor, até seu fechamento completo. Esten<strong>de</strong>r as sugestões ao corpo<br />

79


inteiro, parte por parte. A volta ao esta<strong>do</strong> normal <strong>de</strong> vigília se dá com a contagem ao<br />

inverso, até o completo <strong>de</strong>spertar.<br />

Uma variação <strong>de</strong>sta técnica é apontada em Psicoterapias e esta<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

transe, <strong>de</strong> Pincherle e Colabora<strong>do</strong>res (1985). Nela, os autores <strong>de</strong>screvem a<br />

sequência inicial, a começar pela contagem <strong>do</strong> 1 em diante, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> o paciente<br />

fechar e abrir os olhos a cada número dito, sem esperar pelo número seguinte.<br />

Simultaneamente, o hipnoterapeuta vai aplican<strong>do</strong> as sugestões diretivas.<br />

• Abordagem Ericksoniana<br />

A varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> Erickson dá ao paciente liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

“escolher” qual <strong>de</strong>las melhor se coloca para o sucesso <strong>de</strong> seus problemas,<br />

favorecen<strong>do</strong> que ele mesmo <strong>de</strong>senvolva novas atitu<strong>de</strong>s e crenças. Por esse<br />

procedimento, Erickson obteve consi<strong>de</strong>rável sucesso, da<strong>do</strong> que o paciente age <strong>de</strong><br />

mo<strong>do</strong> a suspen<strong>de</strong>r em parte as limitações que atuam sobre o consciente e permite<br />

que um novo conjunto <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s promova a mudança.<br />

Esta técnica consiste em reduzir o foco atencional <strong>do</strong> paciente, facilitan<strong>do</strong><br />

alterações nas condutas normais <strong>de</strong> direção e controle. Desse mo<strong>do</strong>, ele recebe<br />

melhor as sugestões e coloca em <strong>curso</strong> o conjunto <strong>de</strong> respostas a<strong>de</strong>quadas ao seu<br />

caso.<br />

Ferreira (2006) indica o uso <strong>de</strong> uma fraseologia indireta, vaga, <strong>de</strong><br />

analogias e metáforas (características distintivas <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> Erickson),<br />

permitin<strong>do</strong> ao paciente sentir ou não, dar a ele po<strong>de</strong>r para realizar ou não uma ação.<br />

Esta aparente liberda<strong>de</strong> é que direciona o trabalho terapêutico. Outro re<strong>curso</strong> é<br />

apresentar idéias antagônicas quan<strong>do</strong> o paciente respon<strong>de</strong> com ação invertida. No<br />

entanto, o autor sugere que a observação é sempre importante, pois permite que se<br />

incorpore à indução movimentos feitos pelo paciente.<br />

Sobre esta especial habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Erickson, Pincherle e colabora<strong>do</strong>res<br />

(1985) sustentam que o renoma<strong>do</strong> hipnoterapeuta se permitia dizer que seus<br />

pacientes praticamente não ofereciam resistência ao trabalho hipnótico, haja vista o<br />

bem elabora<strong>do</strong> rapport que Erickson estabelecia com o paciente.<br />

80


• Técnica <strong>do</strong> Levantamento <strong>de</strong> mão<br />

Outra técnica criada por Erickson e que requer habilida<strong>de</strong> específica <strong>do</strong><br />

hipnólogo, esta vai mudan<strong>do</strong> <strong>de</strong> momento a momento a fraseologia, baseada na<br />

observação imediata das reações <strong>do</strong> paciente, em especial as não-verbais. Mais<br />

<strong>de</strong>morada, esta técnica proporciona a participação ativa <strong>do</strong> paciente e é indicada a<br />

quem sofre com processos ansiosos com reflexo muscular (FERREIRA, 2006).<br />

Erickson, Hershman & Secter (2003) reportam esta procedimento como técnica<br />

indireta permissiva.<br />

Com as mãos sobre as coxas, induzir o relaxamento, concentran<strong>do</strong> a<br />

atenção nas mãos, nas sensações e nos movimentos. A cada movimento feito, ir<br />

modifican<strong>do</strong> as frases <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a ressaltar para o paciente o que ele fez. Ferreira<br />

(2006) menciona a sugestão <strong>de</strong> Kirsch (1990) nas situações em que o paciente não<br />

executa as sugestões conforme as especificações <strong>do</strong> hipnoterapeuta. Diante <strong>de</strong><br />

situações como essa, <strong>de</strong>ve-se sugerir peso nos braços, ou indicar se braço<br />

esquer<strong>do</strong> ou direito. Po<strong>de</strong>-se também sugerir que o paciente está carregan<strong>do</strong> algo<br />

pesa<strong>do</strong> e por isso não consegue mover o braço. Depois <strong>de</strong> executa<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s os<br />

passos, dar início à sequência terapêutica normalmente.<br />

• Técnica dinâmica<br />

Inicia com a sessão <strong>de</strong> relaxamento, pedin<strong>do</strong> ao paciente que se ajuste<br />

confortavelmente à poltrona e feche os olhos. Po<strong>de</strong> ser feita também com a<br />

sugestão <strong>de</strong> preferência <strong>do</strong> especialista para <strong>de</strong>pois entrar com a técnica dinâmica.<br />

Esta consiste em expor uma sequência <strong>de</strong> fatos como se ocorri<strong>do</strong>s<br />

verda<strong>de</strong>iramente, toman<strong>do</strong> por base as respostas <strong>do</strong> paciente, sempre atento às<br />

<strong>de</strong>fesas que ele po<strong>de</strong> apresentar, até sua cessação <strong>de</strong>finitiva. Ferreira (2006)<br />

antecipa que se trata <strong>de</strong> uma técnica bastante complexa, uma vez que não se<br />

po<strong>de</strong>m prever antecipadamente as reações <strong>do</strong> paciente, exigin<strong>do</strong>, portanto gran<strong>de</strong><br />

habilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> hipnólogo.<br />

81


• Indução por movimentos alterna<strong>do</strong>s repeti<strong>do</strong>s<br />

Indica<strong>do</strong> para uso com pacientes ansiosos e inquietos (geralmente<br />

pessoas negativistas), nesta técnica Ferreira (2006) aconselha a utilização <strong>de</strong><br />

movimentos <strong>de</strong> extensão e flexão nos braços, embora possam ser usa<strong>do</strong>s tanto nos<br />

membros inferiores quanto superiores (observar anteriormente se há limitações por<br />

parte <strong>do</strong> paciente quanto à mobilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s órgãos). A técnica começa por explicar<br />

<strong>de</strong>talhadamente as partes <strong>do</strong> corpo, ao mesmo tempo em que fala exatamente o<br />

nome <strong>de</strong> cada uma, uma vez que é objetivo da técnica dirigir o foco <strong>de</strong> atenção. As<br />

sugestões são dadas com o consequente movimento <strong>do</strong> especialista em direção ao<br />

órgão aponta<strong>do</strong>, situação que Ferreira <strong>de</strong>talha: “Agora eu seguro o seu braço direito<br />

[...] tocan<strong>do</strong> aqui com o martelinho <strong>de</strong> pesquisar reflexos <strong>do</strong> neurologista”<br />

(FERREIRA, 2006, p.237). A certo tempo, dar indicação <strong>de</strong> contagem para que ele<br />

realize algum tipo <strong>de</strong> movimento até percebê-lo totalmente relaxa<strong>do</strong> e pronto a<br />

seguir com as sugestões terapêuticas.<br />

Esta técnica é também apresentada sob o nome <strong>de</strong> Fenômenos<br />

Corporais por Pincherle e Colabora<strong>do</strong>res (1985).<br />

• Técnica <strong>de</strong> confusão mental<br />

Técnicas especiais para superar o crivo crítico, em que a consciência <strong>do</strong><br />

paciente é orientada para a confusão, Ferreira (2006) aponta que elas são pouco<br />

utilizadas. Ela começa com a orientação ao paciente para que abra e feche os olhos<br />

a partir <strong>de</strong> sugestões numéricas: números pares abrem os olhos e números impares<br />

fecham. Na sequência <strong>do</strong> trabalho, começa em or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>crescente <strong>de</strong> numeração,<br />

com indicação <strong>de</strong> abrir e fechar os olhos. Quan<strong>do</strong> percebe que o paciente está<br />

respon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> positivamente, dar sugestões quanto ao aprofundamento <strong>do</strong> esta<strong>do</strong><br />

hipnótico, ao mesmo tempo em que o induz ao esquecimento <strong>de</strong> números pares e<br />

impares. Estas informações visam confundir o inconsciente enquanto a mente se<br />

ocupa da contagem, provocan<strong>do</strong> o que Ferreira (i<strong>de</strong>m) chama <strong>de</strong> sobrecarga<br />

sensorial.<br />

Já para Erickson, Hershman e Secter (2003), esta técnica é bem indicada<br />

nos casos em que há “[...] uma resistência inconsciente confusa da parte <strong>do</strong><br />

indivíduo que conscientemente quer ser hipnotiza<strong>do</strong>” (p. 145). Tal como Ferreira, os<br />

82


autores referem o alto grau <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong> e experiência por parte <strong>do</strong> hipnoterapeuta<br />

como condição chave para o sucesso <strong>de</strong>sta técnica.<br />

• Procedimento <strong>de</strong> Indução Hipnótica ativa-alerta<br />

Com o uso <strong>de</strong> uma bicicleta ergométrica fixa, o paciente é orienta<strong>do</strong> a<br />

permanecer <strong>de</strong> olhos abertos, pedalan<strong>do</strong>, ao mesmo tempo em que recebe<br />

instruções <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar o esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> alerta, cuja velocida<strong>de</strong> das pedaladas vai<br />

aumentan<strong>do</strong> e diminuin<strong>do</strong> respectivamente. Nesta técnica, sugestões que provocam<br />

o relaxamento ou sonolência não são utilizadas. No entanto, Ferreira (i<strong>de</strong>m) refere<br />

que estu<strong>do</strong>s conduzi<strong>do</strong>s por Bányai em esta<strong>do</strong>s hipnóticos <strong>de</strong> ativa-alerta em<br />

Psicoterapia apontam que há um incremento responsivo das sugestões, “[...]<br />

sensação <strong>de</strong> aban<strong>do</strong>no da planificação <strong>do</strong> ego, sensação <strong>de</strong> que a atenção está<br />

altamente focalizada, <strong>de</strong>svio lateral que facilita o processamento pelo hemisfério<br />

cerebral direito” (FERREIRA, 2006, p. 239). O autor argumenta que em pacientes<br />

com histórico <strong>de</strong> dispnéia, problemas cardíacos, muito i<strong>do</strong>sos ou com dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

articulação nos joelhos esta técnica não <strong>de</strong>ve ser utilizada.<br />

• Técnicas Rápidas<br />

Com o uso <strong>de</strong> frases curtas e simples, o paciente é leva<strong>do</strong> ao<br />

relaxamento, técnica que Furst (1994) <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> Técnicas <strong>de</strong> pouca conversa. O<br />

autor consi<strong>de</strong>ra que longas conversas e <strong>de</strong>scrições minuciosas <strong>do</strong> que é e como se<br />

percebe o esta<strong>do</strong> hipnótico é contraproducente. Para ele, é mais váli<strong>do</strong> que o<br />

hipnoterapeuta procure estabelecer <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início um bom entrosamento com o<br />

paciente. Em seu livro Hipnotismo e auto-hipnotismo <strong>de</strong> indução rápida, Furst revela<br />

mais <strong>de</strong> vinte técnicas <strong>de</strong> indução rápida, utilizan<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> vários mecanismos e<br />

para as mais variadas ida<strong>de</strong>s. Contu<strong>do</strong>, reforça que enquanto algumas são mais<br />

indicadas numa faixa etária, outras são mais precisas quan<strong>do</strong> utilizadas em outra<br />

faixa <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. A técnica Mancha <strong>de</strong> Tinta apresentada aqui é indicada para<br />

crianças com ida<strong>de</strong> entre três a seis anos, utilizada anteriormente por Kashiwa<br />

(FURST, 1994) em casos <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes com crianças que exigiram pontos.<br />

Com a criança sentada, a mão direita no colo, palmas viradas para baixo,<br />

coloca-se um pingo <strong>de</strong> tinta nas costas da mão direita, ao mesmo tempo em que o<br />

83


especialista diz para a criança olhar atentamente, pois a mancha <strong>de</strong> tinta vai subir<br />

<strong>de</strong>vagarinho, até ficar cada vez mais próxima da testa. A sugestão continua com o<br />

hipnoterapeuta dizen<strong>do</strong> à criança que por mais força que ela faça para <strong>de</strong>ixar a mão<br />

suja <strong>de</strong> tinta longe da testa, mais rápi<strong>do</strong> ela se aproxima, e à medida que vai se<br />

aproximan<strong>do</strong>, a cabeça vai fican<strong>do</strong> pesada e os olhos vão se fechan<strong>do</strong>. O autor<br />

comenta que em raras situações a sessão terapêutica não se reproduziu <strong>de</strong>ste<br />

mo<strong>do</strong>, e cujo ponto <strong>de</strong> checagem ele <strong>de</strong>screve como “[...] esperar até ver a mão da<br />

criança começar a subir” (FURST, 1994, p. 24).<br />

• Procedimentos a partir <strong>de</strong> respostas naturais<br />

Consi<strong>de</strong>rada como um fenômeno comum nas tarefas diárias, a hipnose é<br />

facilmente verificável quan<strong>do</strong> a pessoa treinada se <strong>de</strong>para com a situação na clínica.<br />

Ferreira (2006) assinala como respostas espontâneas mais comuns a modificação<br />

da respiração, <strong>do</strong> relaxamento muscular (em especial da face), <strong>do</strong>s músculos das<br />

mãos e braços, o olhar <strong>de</strong>sfoca<strong>do</strong>, movimentos automáticos na cabeça, face,<br />

pálpebras, narinas, extremida<strong>de</strong>s (<strong>de</strong><strong>do</strong>s), tremor nas pálpebras, alterações na<br />

pupila e na cor da pele.<br />

• Procedimento a partir da conversa <strong>de</strong> um cenário<br />

Consiste em oferecer ao paciente uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> cenários em que ele<br />

gostaria <strong>de</strong> estar e que lhe causa bem-estar, <strong>de</strong>screven<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma visual estes<br />

cenários. Numa segunda etapa, <strong>de</strong>screve-se o cenário usan<strong>do</strong>-se representações<br />

visuais e cinestésicas, sempre observan<strong>do</strong> as reações <strong>do</strong> paciente, adaptan<strong>do</strong> a<br />

narrativa sob to<strong>do</strong>s os aspectos ao conjunto <strong>de</strong> respostas observadas. É importante<br />

que o especialista ajuste seu padrão <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> ao <strong>do</strong> paciente e quan<strong>do</strong> o<br />

especialista muda, observar se o paciente também muda, um sinal <strong>de</strong> que o rapport<br />

está estabeleci<strong>do</strong> (I<strong>de</strong>m).<br />

• Técnica Subliminar sonora<br />

Mensagem subliminar é uma informação enviada sub-repticiamente ao<br />

inconsciente humano. A técnica subliminar sonora se obtém com o uso <strong>de</strong> música,<br />

84


palavras, frases, sons ambientais, que articula<strong>do</strong>s, são usa<strong>do</strong>s para reprogramar o<br />

subconsciente. Ferreira (2006) salienta que numa gravação criada com a própria<br />

voz, somada a um fun<strong>do</strong> musical ou ambiental, na qual se associa uma<br />

programação subliminar, esta alcança o inconsciente diversas vezes no <strong>de</strong>correr da<br />

audição.<br />

O autor frisa, contu<strong>do</strong>, a falta <strong>de</strong> evidências <strong>de</strong> que as fitas <strong>de</strong> áudio e<br />

ví<strong>de</strong>o comercializadas com sugestões subliminares produzam re<strong>sul</strong>ta<strong>do</strong>s<br />

unicamente pelo teor das palavras ali contidas. Refere ainda que há indícios <strong>de</strong> que<br />

a expectativa pessoal quanto aos re<strong>sul</strong>ta<strong>do</strong>s seja responsável por re<strong>sul</strong>ta<strong>do</strong>s<br />

positivos com seu uso.<br />

3.7 Estágios da hipnose<br />

Os estu<strong>do</strong>s feitos por Ferreira (2006) apontam para uma tendência a não<br />

se <strong>de</strong>terminar o grau <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong> <strong>do</strong> estágio hipnótico <strong>do</strong> paciente por escalas,<br />

ten<strong>do</strong> em vista a gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> respostas postas em relação a um gran<strong>de</strong><br />

número <strong>de</strong> sujeitos. Para ele, tem mais valor chegar à anamnese <strong>do</strong> paciente e<br />

começar a indução hipnótica a partir disso, treinan<strong>do</strong>-o <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a primeira sessão<br />

para as respostas <strong>de</strong>sejadas no futuro. Ilustra esta questão com um paciente que<br />

queira, por exemplo, <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> fumar: “[...] iremos sugerir que quan<strong>do</strong> um cigarro<br />

tocar em seus <strong>de</strong><strong>do</strong>s, seus <strong>de</strong><strong>do</strong>s se abrem [sic] e se esten<strong>de</strong>m [sic] e o cigarro cai<br />

[sic] no chão, então já iniciamos com sugestões <strong>de</strong> rigi<strong>de</strong>z nos <strong>de</strong><strong>do</strong>s <strong>de</strong> uma ou <strong>de</strong><br />

ambas as mãos” (FERREIRA, 2006, p.164).<br />

Como justificativas para este procedimento, o autor coloca, além das<br />

diferenças personalíssimas entre os pacientes, variações também conforme a<br />

natureza da con<strong>sul</strong>ta, o tipo <strong>de</strong> sugestões oferecidas e como estas são<br />

disponibilizadas ao paciente, o mo<strong>do</strong> pelo qual este percebe as sugestões e as<br />

associações que faz a partir <strong>de</strong>las.<br />

Precisamente por estas diferenças é que Ferreira (2006) prefere avaliar a<br />

profundida<strong>de</strong> hipnótica a partir da subjetivida<strong>de</strong> <strong>do</strong> paciente. Assim, é possível<br />

acrescentar informações extras específicas e relacionadas com as experiências da<br />

85


pessoa, bem como apresentar situações contrastantes, orientan<strong>do</strong> o paciente a<br />

perceber que emoções ele associa a cada situação em especial.<br />

Abaixo está representa<strong>do</strong> o quadro <strong>de</strong> aprofundamento <strong>do</strong> transe<br />

hipnótico segun<strong>do</strong> a escala <strong>de</strong> Torres Norry, modificada por Moraes Passos e<br />

Pincherle & Colabora<strong>do</strong>res (PINCHERLE & COL., 1985, p. 44).<br />

Fase<br />

Hipnoidal<br />

Hipnose<br />

Leve<br />

Hipnose<br />

Média<br />

Hipnose<br />

Profunda<br />

Fase<br />

Sonambúlica<br />

Tabela 10 –<br />

Fonte: Pincherle & Col., 1985<br />

ESCALA DE TORRES NORRY (mod. Por Moraes Passos)<br />

Manifestar fenômenos oculares e corporais<br />

• Manifestar catalepsia palpebral<br />

(os fenômenos catalepsia braquial, catalepsia geral e<br />

relaxamento geral estão presentes apenas na escala <strong>de</strong><br />

Torres Norry (NATALY, 1999, p.90)<br />

• Analgesia<br />

• Sur<strong>de</strong>z eletiva<br />

• Signo-sinal<br />

• Aceitar sugestão hipnótica simples<br />

(Movimento automático, sono e amnésia superficial estão<br />

presentes apenas na escala <strong>de</strong> Torres Norry (NATALY,<br />

1999, p.90)<br />

• Manter uma conversação estan<strong>do</strong> em esta<strong>do</strong> hipnótico<br />

• Abrir os olhos manten<strong>do</strong> o esta<strong>do</strong> hipnótico<br />

• Amnésia superficial<br />

(Aceitar sugestões <strong>de</strong> representações alucinatórias está<br />

presente apenas na escala <strong>de</strong> Torres Norry (NATALY, 1999,<br />

p.90)<br />

• Visualização cênica<br />

• Alucinação<br />

• Anestesia profunda<br />

• Regressão <strong>de</strong> ida<strong>de</strong><br />

• Amnésia profunda<br />

• Sugestões pós-hipnóticas<br />

86<br />

Relativamente aos<br />

fenômenos <strong>de</strong><br />

catalepsia ocular e<br />

analgesia, po<strong>de</strong>m ser<br />

propostos <strong>de</strong>safio e<br />

apagamento<br />

1º sugestão póshipnótica<br />

Natural ou induzida<br />

Os autores atentam para a existência <strong>de</strong> diferentes escalas, não sen<strong>do</strong><br />

condição essencial, portanto, a reprodução exata <strong>de</strong>sta sequência, ten<strong>do</strong> em vista<br />

que as situações variam <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o sujeito/paciente.<br />

O fato <strong>de</strong> Ferreira (2006) preferir a não-utilização <strong>de</strong> escalas para medir a<br />

intensida<strong>de</strong> da indução hipnótica não invalida sua prática por outros profissionais.<br />

É nesse senti<strong>do</strong> que comenta sobre as escalas <strong>de</strong>senvolvidas por Morgan<br />

e Hilgard em 1978 – 1979, uma para ser usada em adultos e outra em crianças. Pela


Stanford Hypnotic Clinical Scale (SHCL), é possível avaliar, segun<strong>do</strong> seus cria<strong>do</strong>res,<br />

as habilida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> paciente em mover as mãos juntas, alucinações a partir <strong>de</strong><br />

sugestão, regressão <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, execução <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s pós-hipnóticas simples e<br />

amnésia parcial ou completa (FERREIRA, 2006).<br />

O autor comenta também sobre as SSTA (sugestões para sintonização,<br />

treinamento e aproveitamento), on<strong>de</strong> o aspecto subjetivo das experiências é<br />

realça<strong>do</strong> <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a se atingir um re<strong>sul</strong>ta<strong>do</strong> positivo (I<strong>de</strong>m).<br />

Os estu<strong>do</strong>s feitos por Erickson, Hershman e Secter (2003) apontam para<br />

as características a serem observadas durante o esta<strong>do</strong> hipnótico, porém<br />

distribuin<strong>do</strong>-as por estágio <strong>de</strong> transe: leve, médio, profun<strong>do</strong> ou pleno (estupor), as<br />

quais se encontram relacionadas no quadro abaixo:<br />

CARACTERÍSTICAS A OBSERVAR NO ESTADO HIPNÓTICO<br />

Transe leve • Relaxamento<br />

• Catalepsia das pálpebras<br />

• Fechamento <strong>do</strong>s olhos<br />

• Início catalepsia em algum membro<br />

• Respiração lenta e profunda<br />

• Imobilização <strong>do</strong>s músculos faciais<br />

• Começan<strong>do</strong> catalepsia <strong>do</strong>s membros<br />

• Sensação <strong>de</strong> peso em várias partes <strong>do</strong> corpo<br />

• Hipnoanestesia glove anesthesia<br />

• Aptidão ao <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> sugestões pós-hipnóticas simples<br />

Transe médio • Amnésia parcial (alguns indivíduos)<br />

• Ativida<strong>de</strong> muscular lenta <strong>de</strong>finida<br />

• Aptidão para ilusões e alucinações simples<br />

• Aumento da sensação <strong>de</strong> ‘<strong>de</strong>sprendimento’<br />

• Marcante catalepsia <strong>do</strong>s membros<br />

• Aptidão ao <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> sugestões pós-hipnóticas simples<br />

Transe profun<strong>do</strong> • Aptidão para manter o transe com olhos abertos<br />

• Amnésia total (maioria <strong>do</strong>s indivíduos)<br />

• Aptidão no controle <strong>de</strong> algumas funções orgânicas (pulso, pressão)<br />

• Anestesia cirúrgica<br />

• Regressão <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e revivificação<br />

• Alucinações auditivas e visuais positivas e negativas<br />

• Aptidão para ‘sonhar’ material significativo<br />

• Aptidão para <strong>de</strong>sempenhar tu<strong>do</strong> ou quase tu<strong>do</strong> <strong>do</strong> que está acima <strong>do</strong><br />

Transe pleno ou<br />

estupor<br />

esta<strong>do</strong> pró-hipnótico<br />

Tabela 11 –<br />

Fonte: Erickson, Hersman & Secter, 2003<br />

• Acentuada lentidão das respostas orgânicas e quase completa inibição<br />

<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> espontânea (os autores colocam que diferenças po<strong>de</strong>m ser<br />

apresentadas <strong>de</strong> indivíduo para indivíduo em quaisquer <strong>do</strong>s estágios <strong>de</strong><br />

transe)<br />

87


4 O USO DA HIPNOSE NA PRÁTICA CLÍNICA<br />

A hipnose ganhou respeito na medicina principalmente pelos efeitos na<br />

analgesia, cuja abordagem tem si<strong>do</strong> usada por milênios para tratar problemas<br />

médicos e <strong>de</strong>rmatológicos. Desor<strong>de</strong>ns <strong>de</strong>rmatológicas po<strong>de</strong>m ser melhoradas ou<br />

curadas com o uso da hipnose como uma terapia complementar ou alternativa<br />

(SHENEFELT, 2003).<br />

Além disso, recentemente muitos experimentos clínicos controla<strong>do</strong>s<br />

usan<strong>do</strong> a hipnose para regular a <strong>do</strong>r vêm sen<strong>do</strong> referi<strong>do</strong>s por Stam (1984), assim<br />

como os <strong>de</strong> Beng-Yegong e Tih-Shih Lee (2008) sobre a enurese, como também<br />

estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Raz, Fan e Posner (2005) e a utilização <strong>de</strong> imagens para captar<br />

ativida<strong>de</strong>s cerebrais durante o processo hipnótico.<br />

4.1 Hipnose na Clínica Médica<br />

Após a referendação pelo Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Medicina, o uso da<br />

hipnose vem ganhan<strong>do</strong> espaço em todas as áreas da clínica médica, em que<br />

inúmeros estu<strong>do</strong>s têm si<strong>do</strong> produzi<strong>do</strong>s tanto no exterior como aqui no Brasil dan<strong>do</strong><br />

conta <strong>do</strong>s efeitos positivos que a hipnose tem alcança<strong>do</strong> no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> dar alívio a<br />

diversas enfermida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cunho somático e orgânico.<br />

Estu<strong>do</strong>s conduzi<strong>do</strong>s por Shenefelt (2003) na clínica <strong>de</strong>rmatológica têm<br />

<strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> que sob efeito <strong>de</strong> indução hipnótica, a maioria <strong>do</strong>s pacientes<br />

submeti<strong>do</strong>s a procedimentos <strong>do</strong>lorosos, como tratamento a laser <strong>de</strong> lesões<br />

vasculares, excisão <strong>de</strong> pele, micro<strong>de</strong>rmoabrasão forte, incisão e drenagem <strong>de</strong><br />

abscessos, biópias, lipoaspiração, entre outros, respon<strong>de</strong>m positivamente ao alívio<br />

<strong>do</strong>loroso, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>do</strong> tipo <strong>de</strong> <strong>do</strong>r referi<strong>do</strong>.<br />

O autor comenta sobre um outro estu<strong>do</strong> ran<strong>do</strong>miza<strong>do</strong> feito por<br />

Montgomery, Weltz, Seltz e Bovbjerg (2002 apud SHENEFELT, 2003) em um grupo<br />

<strong>de</strong> 20 mulheres assistidas em cuida<strong>do</strong>s pré-operatórios com indução hipnótica para<br />

biópsia <strong>de</strong> mama. Neste trabalho, os autores <strong>de</strong>clararam que foram necessários 10<br />

88


minutos <strong>de</strong> hipnose breve para atingir a redução da <strong>do</strong>r e angústia relatadas pelas<br />

pacientes, não só antes da cirurgia como também <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>la.<br />

A prática <strong>de</strong> Shenefelt (2003) evi<strong>de</strong>ncia que a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolha <strong>do</strong><br />

paciente ao autodirigir as imagens parece alcançar um maior esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> relaxamento<br />

nos pacientes durante os procedimentos.<br />

Estu<strong>do</strong>s recentes referi<strong>do</strong>s por Vale (2006) apontam para diversos<br />

fenômenos que po<strong>de</strong>m ser removi<strong>do</strong>s ou produzi<strong>do</strong>s com o paciente sob efeito<br />

hipnótico. Segun<strong>do</strong> o autor, anestesia, analgesia, paralisia, rigi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> músculos e<br />

alterações vasomotoras estão entre as alterações que se po<strong>de</strong>m induzir. A sugestão<br />

produz alterações na consciência e na memória, aumentan<strong>do</strong> o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

sugestionabilida<strong>de</strong>, cujas reações provocam a produção <strong>de</strong> neurotransmissores<br />

neurais na base <strong>de</strong> tais fenômenos.<br />

A curto prazo, o autor indica o tratamento da lombalgia associa<strong>do</strong> à<br />

hipnose e a um relaxamento muscular, sen<strong>do</strong> que após passada a fase da <strong>do</strong>r, é<br />

aconselhável um tratamento paralelo com outras técnicas, como quiropraxia,<br />

alertan<strong>do</strong> para o fato <strong>de</strong> que se <strong>de</strong>ve, contu<strong>do</strong>, preservar a individualida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

paciente.<br />

Em pacientes esquizofrênicos, a terapêutica recomenda como o melhor<br />

tratamento aquele prescrito com antipsicóticos. Entretanto, mais estu<strong>do</strong>s vêm sen<strong>do</strong><br />

conduzi<strong>do</strong>s no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> melhora nos quadros <strong>de</strong>stes pacientes com o uso da<br />

prática hipnótica, pois mesmo com o uso <strong>de</strong> medicamentos, como bem aponta<br />

Johnstone (1998 apud Izquier<strong>do</strong> <strong>de</strong> Santiago, 2008), “[...] entre el 5% y el 15% <strong>de</strong> las<br />

personas siguen presentan<strong>do</strong> síntomas a pesar <strong>de</strong>l tratamiento con medicación”<br />

(1998, p.2).<br />

Nesta revisão, Izquier<strong>do</strong> (2008) observa que existe por parte <strong>do</strong> governo<br />

um crescente reconhecimento que beneficia as terapias alternativas na Medicina,<br />

pois enten<strong>de</strong> que os tratamentos à base <strong>de</strong> medicação nem sempre têm sucesso<br />

com a esquizofrenia, indican<strong>do</strong> que a hipnose merece um estu<strong>do</strong> mais profun<strong>do</strong>. Por<br />

esse motivo, segun<strong>do</strong> ele, é que “Los usuarios, cuida<strong>do</strong>res y médicos consi<strong>de</strong>ran<br />

cada vez más las terapias alternativas para aliviar los sintomas y mejorar la calidad<br />

<strong>de</strong> vida en la esquizofrenia” (I<strong>de</strong>m, p. 10).<br />

Estu<strong>do</strong>s feitos com neuroimagens e a utilização concomitante <strong>de</strong><br />

sugestões pós-hipnóticas <strong>de</strong>ram conta <strong>de</strong> maior efetivida<strong>de</strong> em comportamentos<br />

durante a vigília.<br />

89


Nestes estu<strong>do</strong>s, Raz, Fan e Posner (2005) i<strong>de</strong>ntificaram o <strong>do</strong>rso <strong>do</strong> córtex<br />

cingula<strong>do</strong> anterior como um elemento-chave para acompanhar conflitos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

uma re<strong>de</strong> neural. Os autores sustentam que sob efeito da sugestão hipnótica é<br />

possível mo<strong>de</strong>rar conflitos, ten<strong>do</strong> em vista que esta os diminui sensivelmente, tanto<br />

pela modulação precoce <strong>do</strong> córtex occipital, quanto pela posterior ativação <strong>do</strong> córtex<br />

anterior cingula<strong>do</strong> (AAC).<br />

Seus experimentos em um grupo <strong>de</strong> <strong>de</strong>zesseis sujeitos fizeram-nos<br />

concluir, mediante exames com neuroimagens aplica<strong>do</strong>s tanto a pacientes<br />

hipnotiza<strong>do</strong>s quanto em não-hipnotiza<strong>do</strong>s, que a sugestão pós-hipnótica afetou o<br />

processamento visual, embora estas alterações não se reportassem às palavras<br />

visuais mostradas (I<strong>de</strong>m, p. 9981).<br />

O mérito maior <strong>de</strong>ste trabalho, conclui-se, está na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

analisar o cérebro humano sob a influência da hipnose, <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> assim o<br />

sensível interesse e as pertinentes contribuições que esta prática vem resgatan<strong>do</strong><br />

na atualida<strong>de</strong>.<br />

A figura abaixo <strong>de</strong>monstra os acha<strong>do</strong>s relata<strong>do</strong>s pelos autores:<br />

Fig. 8- Visão das imagens após estimulação <strong>do</strong> cérebro<br />

Fonte: Raz, Fan e Posner, 2005<br />

4.2 Hipnose na Clínica O<strong>do</strong>ntológica<br />

Prática referendada pelo Conselho <strong>de</strong> O<strong>do</strong>ntologia no Brasil, a hipnose<br />

tem como mérito maior o <strong>de</strong> proporcionar um aumento na eficácia terapêutica em<br />

diversas enfermida<strong>de</strong>s físicas e ou somáticas.<br />

90


Fazen<strong>do</strong> uso da linguagem, a palavra se torna uma po<strong>de</strong>rosa ferramenta<br />

nas mãos <strong>do</strong> profissional habilita<strong>do</strong>, capaz <strong>de</strong> conduzir o paciente a um esta<strong>do</strong><br />

especial <strong>de</strong> consciência que o permite utilizar seus re<strong>curso</strong>s internos em seu próprio<br />

benefício.<br />

Condição fundamental para a eficácia <strong>de</strong> tal procedimento, a relação <strong>de</strong><br />

confiança entre paciente e profissional <strong>de</strong>fine <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros contatos a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sucesso <strong>do</strong> trabalho, uma vez que é com o sistema<br />

representacional <strong>do</strong> indivíduo que o profissional se <strong>de</strong>para.<br />

Amparada pela Lei 5081, publicada a 24 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1966, em seu<br />

artigo 6, inciso VI, diz que entre as competências <strong>do</strong> cirurgião-<strong>de</strong>ntista está a <strong>de</strong><br />

empregar a analgesia e a hipnose, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que habilita<strong>do</strong> e quan<strong>do</strong> constituir<br />

reconhecida eficácia ao tratamento (vi<strong>de</strong> anexo III).<br />

Diversos são os benefícios que a hipnose traz ao paciente em<br />

O<strong>do</strong>ntologia. A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tratar o paciente no próprio con<strong>sul</strong>tório,<br />

paralelamente ao tratamento e nas diversas especialida<strong>de</strong>s o<strong>do</strong>ntológicas, faz com<br />

que o profissional habilita<strong>do</strong> possa muitas vezes dispensar o uso <strong>de</strong> medicamentos.<br />

Sua prática proporciona também a capacitação em ouvir o paciente e suas queixas,<br />

o que faz com que o paciente colabore melhor com o tratamento, reduzin<strong>do</strong> o nível<br />

<strong>de</strong> estresse <strong>de</strong> ambos. Entre as competências exigidas para um bom <strong>de</strong>sempenho<br />

em hipnose, po<strong>de</strong>-se colocar também o discernimento para empregar a técnica<br />

quan<strong>do</strong> realmente ela for indicada.<br />

Neste trabalho, a visão <strong>do</strong> processo saú<strong>de</strong>-<strong>do</strong>ença permite interpretar os<br />

aspectos físicos e emocionais <strong>do</strong> paciente, os quais estão diretamente liga<strong>do</strong>s à<br />

cura (CFO, 2009, Práticas Integrativas).<br />

Em O<strong>do</strong>ntologia, diversos estu<strong>do</strong>s têm si<strong>do</strong> relata<strong>do</strong>s utilizan<strong>do</strong> a<br />

hipnose. Stam, McGrath e Brooke (1984), em estu<strong>do</strong>s publica<strong>do</strong>s no Journal of<br />

BioBehavioral Medicine, sugerem os efeitos da hipnose como inibi<strong>do</strong>res no<br />

tratamento da <strong>do</strong>r temporo-mandibular, nos quais os pacientes relataram expressiva<br />

significação no <strong>de</strong>créscimo na <strong>do</strong>r e limitações da mobilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> maxilar.<br />

No quadro abaixo, as atribuições <strong>do</strong> profissional o<strong>do</strong>ntólogo em hipnose:<br />

91


ATRIBUIÇÕES DO ODONTÓLOGO<br />

Tratamento ou controle da ansieda<strong>de</strong>, me<strong>do</strong> ou fobia relaciona<strong>do</strong>s aos procedimentos<br />

o<strong>do</strong>ntológicos e/ou condições psicossomáticas<br />

• Condicionamento <strong>do</strong> paciente para mudar hábitos <strong>de</strong> higiene, adaptação ao tratamento, ao uso <strong>de</strong><br />

medicamentos, à reeducação alimentar...<br />

• Tratamento e controle <strong>de</strong> distúrbios neuromusculares e intervenção sobre reflexos autonômicos;<br />

• Preparação <strong>de</strong> pacientes para cirurgias<br />

• Preparação <strong>de</strong> pacientes para serem atendi<strong>do</strong>s por outros profissionais.<br />

• Atuação na adaptação e motivação direcionada ao tratamento o<strong>do</strong>ntológico.<br />

• Utilização <strong>de</strong> anestesia hipnótica em casos pertinentes;<br />

Utilização <strong>de</strong> hipnose em outros processos / situações relaciona<strong>do</strong>s ao campo <strong>de</strong> atuação <strong>do</strong><br />

cirurgião-<strong>de</strong>ntista.<br />

Tabela 12 –<br />

Fonte: Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> O<strong>do</strong>ntologia<br />

A O<strong>do</strong>ntologia consi<strong>de</strong>ra como termos correlatos à hipnose o <strong>de</strong><br />

hipnólogo, hipnólogo terapeuta o<strong>do</strong>ntológico, hipnólogo clínico, hipno<strong>do</strong>ntista e<br />

hipniatra.<br />

4.3 Hipnose na Clínica Psicológica<br />

Mais antiga <strong>do</strong> que a neuroanatomia, a fisiologia e a farmacologia<br />

bioquímica, a Psicologia se coloca como a quarta disciplina mais importante para dar<br />

conta da profunda imbricação entre cérebro e comportamento. Contu<strong>do</strong>, apenas a<br />

partir <strong>do</strong> século XIX é que os estu<strong>do</strong>s <strong>do</strong> comportamento foram aborda<strong>do</strong>s sob a<br />

forma experimental com os estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Charles Darwin, distancian<strong>do</strong>-se então da<br />

Filosofia (KANDEL, trad. MARIA CAROLINA DORETTO, 2009).<br />

Regulamentada no Brasil como profissão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1974, a<br />

Psicologia tem como premissa básica estudar o comportamento humano enquanto<br />

participante <strong>de</strong> um grupo social, tanto <strong>de</strong> forma individual quanto coletiva.<br />

Em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2000, o Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Psicologia, por meio da<br />

Resolução 013/00, reconheceu e recomen<strong>do</strong>u o uso da hipnose pelos seus<br />

profissionais (vi<strong>de</strong> anexo II).<br />

92


Uma das condições consi<strong>de</strong>rada indispensável ao profissional em<br />

psicologia ao trabalhar com hipnose diz respeito à postura que este <strong>de</strong>ve ter quanto<br />

ao papel que <strong>de</strong>sempenha e às possibilida<strong>de</strong>s reais que a hipnose po<strong>de</strong><br />

proporcionar, haja vista que para o sucesso <strong>de</strong>sta prática é fundamental a confiança<br />

e a colaboração <strong>do</strong> paciente.<br />

Entre as indicações da hipnose estão os casos <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>pressão,<br />

tabagismo, alcoolismo, drogadição, traumas, fobias, me<strong>do</strong>s, compulsão alimentar,<br />

obesida<strong>de</strong>, distúrbios <strong>do</strong> sono, estresse, insônia, enxaqueca, etc., os quais po<strong>de</strong>m<br />

ser bastante atenua<strong>do</strong>s ou até mesmo vir à remissão completa <strong>do</strong>s sintomas, pois é<br />

preciso ter em mente que cada indivíduo possui características específicas e nem<br />

to<strong>do</strong>s respon<strong>de</strong>m ao tratamento por igual.<br />

Problemas relativos a distúrbios <strong>do</strong> sono com indicação <strong>de</strong> uso da<br />

hipnose têm si<strong>do</strong> reporta<strong>do</strong>s por Hurwitz et al (1991 apud BENG-YEONG NG e TIH-<br />

SHIH LEE, 2008). Segun<strong>do</strong> eles, após indução <strong>do</strong> transe hipnótico, com posterior<br />

relaxamento e sugestões pós-hipnóticas com o fim <strong>de</strong> incluir sensação <strong>de</strong> segurança<br />

e redução da ansieda<strong>de</strong> para obter um sono repara<strong>do</strong>r, 74 % <strong>do</strong>s indivíduos<br />

relataram sensível melhora no quadro.<br />

Beng-Yegong e Tih-Shih Lee (2008) referenciam a enurese noturna como<br />

um distúrbio <strong>de</strong> graves consequências para as crianças, incluin<strong>do</strong> uma baixa na<br />

autoestima e estresse familiar, sen<strong>do</strong> que a hipnoterapia tem si<strong>do</strong> empregada<br />

eficazmente para tratar crianças e a<strong>do</strong>lescentes vítimas <strong>de</strong> enurese noturna<br />

primária, associada à medicação. Contu<strong>do</strong>, os autores ressaltam que algumas<br />

estratégias <strong>de</strong> sugestão hipnótica respon<strong>de</strong>m melhor ao tratamento <strong>do</strong> que a<br />

imipramina em crianças entre cinco e sete anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> (i<strong>de</strong>m).<br />

Hammond (1990 apud CABAN, 2004) <strong>de</strong>monstrou o uso da hipnose com<br />

reconhecida eficácia para tratamento da <strong>de</strong>pressão, <strong>do</strong> sofrimento, <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns<br />

relacionadas ao apetite, <strong>do</strong> abuso <strong>de</strong> substâncias, baixa da autoestima, fobias.<br />

Estu<strong>do</strong>s conduzi<strong>do</strong>s por Caban (2004) em sua tese <strong>de</strong> mestra<strong>do</strong><br />

procuraram <strong>de</strong>monstrar a eficiência da hipnose para melhorar o <strong>de</strong>sempenho<br />

acadêmico <strong>do</strong>s alunos <strong>do</strong> primeiro ano <strong>de</strong> graduação. Muito embora suas<br />

conclusões tenham aponta<strong>do</strong> a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novos estu<strong>do</strong>s em razão <strong>de</strong><br />

variáveis distintas que não pu<strong>de</strong>ram ser a<strong>de</strong>quadamente mensuradas, a autora<br />

consi<strong>de</strong>ra, diante <strong>do</strong> relato <strong>de</strong> vários participantes <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>, que a hipnose produziu<br />

efeitos positivos numa parcela expressiva da população amostrada.<br />

93


Muito embora as referências aqui tenham si<strong>do</strong> feitas a estu<strong>do</strong>s recentes<br />

sobre a hipnose, é pertinente ressaltar que estu<strong>do</strong>s cita<strong>do</strong>s por Pincherle e<br />

Colabora<strong>do</strong>res (1985) com datas varian<strong>do</strong> entre 1973 e 1976, foram publica<strong>do</strong>s no<br />

Brasil reportan<strong>do</strong> os vários usos da hipnose, tanto na clínica médica quanto<br />

psicológica.<br />

Assim, o que estas breves <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s por<br />

diferentes pesquisa<strong>do</strong>s em áreas distintas preten<strong>de</strong>m <strong>de</strong>monstrar é que a hipnose<br />

po<strong>de</strong> e vem sen<strong>do</strong> empregada em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> como uma importante ferramenta<br />

<strong>de</strong> apoio terapêutico nas mais diversas especialida<strong>de</strong>s e <strong>do</strong>enças, não apenas <strong>de</strong><br />

or<strong>de</strong>m física, mas também e com bastante sucesso na área psíquica.<br />

94


5 METODOLOGIA<br />

Enten<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se pesquisa exploratória como a <strong>de</strong>finida por Gil (2007), em<br />

que sua principal finalida<strong>de</strong> está em “[...] <strong>de</strong>senvolver, esclarecer e modificar<br />

conceitos e idéias, ten<strong>do</strong> em vista a formulação <strong>de</strong> problemas mais precisos ou<br />

hipóteses pesquisáveis para estu<strong>do</strong>s posteriores” (p.43), enten<strong>de</strong>-se por extensão<br />

que estas envolvem pesquisa bibliográfica e <strong>do</strong>cumental. Entre os objetivos que o<br />

autor pontua está o <strong>de</strong> proporcionar visão geral sobre um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> fato, “[...]<br />

especialmente quan<strong>do</strong> o tema escolhi<strong>do</strong> é pouco explora<strong>do</strong> e torna-se difícil sobre<br />

ele formular hipóteses precisas e operacionalizáveis “(I<strong>de</strong>m).<br />

Assim, o presente trabalho pautou-se por uma pesquisa bibliográfica<br />

exploratória, revisitan<strong>do</strong> o histórico da Hipnose <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Antiguida<strong>de</strong> até os tempos<br />

atuais, procuran<strong>do</strong> <strong>de</strong>stacar a crescente importância que a Hipnose apresenta como<br />

coadjuvante na terapêutica, bem como o expressivo volume <strong>de</strong> trabalhos científicos<br />

produzi<strong>do</strong>s nos últimos tempos.<br />

A revisão <strong>de</strong> literatura abor<strong>do</strong>u primeiramente o histórico da Hipnose até<br />

os dias atuais, mostran<strong>do</strong> sua evolução no tempo. Num segun<strong>do</strong> momento, buscou<br />

esclarecer mais pontualmente o funcionamento <strong>do</strong> cérebro e como este respon<strong>de</strong> às<br />

sugestões hipnóticas, bem como apontar os méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> trabalho pertinentes ao<br />

tema, em quais situações ela po<strong>de</strong> ser usada e sua aplicação nas práticas<br />

medicinais, o<strong>do</strong>ntológicas e na psicologia clínica. O presente estu<strong>do</strong> apresentou<br />

ainda as bases legais que fundamentam esta prática aqui no Brasil e sua evolução<br />

até o momento atual. A presente revisão <strong>de</strong> literatura visou fornecer elementos<br />

teóricos necessários à compreensão <strong>do</strong>s objetivos <strong>de</strong>ste trabalho.<br />

95


6 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS<br />

À luz <strong>de</strong> todas as leituras selecionadas, amparadas em evidências<br />

consistentes quanto aos benefícios da prática hipnótica na redução e ou eliminação<br />

<strong>de</strong> diversas patologias <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m física e ou somática, percebe-se o quanto a<br />

hipnose avançou nas últimas décadas<br />

Em que pese revisões recentes da literatura <strong>de</strong> que o que aconteceu na<br />

verda<strong>de</strong> com os estu<strong>do</strong>s freudianos foi uma interpretação errônea quanto aos ditos<br />

<strong>do</strong> pai da psicanálise, isto não invalida o fato <strong>de</strong> que por muitos anos a hipnose foi<br />

largada ao ostracismo em favor <strong>de</strong> práticas mais aceitas pela classe médica.<br />

Ao relacionar os da<strong>do</strong>s empíricos com aqueles re<strong>sul</strong>tantes da prática<br />

diária na clínica, percebem-se mais claramente as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> se chegar a um<br />

consenso entre os teóricos, visto que a pesquisa em laboratório está circunscrita a<br />

um espaço, a variáveis previamente <strong>de</strong>finidas, em que a tendência <strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>r é<br />

a <strong>de</strong> generalizar da<strong>do</strong>s. Na clínica acontece o oposto, pois o cliente já chega<br />

individualiza<strong>do</strong>, com motivações intrínsecas que lhe são próprias.<br />

Também cumpre notar que ao contrário <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s iniciais da hipnose,<br />

em que se buscavam mais as explicações sobre o esta<strong>do</strong> hipnótico <strong>do</strong> que as<br />

alterações produzidas no cérebro humano, percebe-se hoje um aumento no nível <strong>de</strong><br />

exigência das pesquisas relativas à hipnose, em que estas têm procura<strong>do</strong> explicar<br />

mais pontualmente os aspectos que envolvem a ativação <strong>do</strong> cérebro humano pela<br />

indução hipnótica, os receptores, os circuitos neurais, os neurotransmissores. Isto é<br />

uma grata surpresa para to<strong>do</strong> aquele que já a conhece pelos referenciais <strong>de</strong><br />

Mesmer, Freud, Charcot e Erickson, isso citan<strong>do</strong> apenas os mais notáveis quanto à<br />

prática hipnótica.<br />

No entanto, não obstante os inúmeros estu<strong>do</strong>s experimentais feitos em<br />

laboratório, alia<strong>do</strong> aos incontáveis estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> caso produzi<strong>do</strong>s por cientistas<br />

interessa<strong>do</strong>s em <strong>de</strong>svelar a mente humana e assim explicar o funcionamento <strong>do</strong><br />

cérebro sob o efeito da hipnose, há ainda um longo caminho a percorrer.<br />

É preciso, ainda, consi<strong>de</strong>rar que mais <strong>do</strong> que a sintomatologia específica<br />

que o paciente apresenta quan<strong>do</strong> vem ao especialista, a atenção <strong>de</strong>ve<br />

obrigatoriamente se voltar para os conceitos que envolvem sofrimento e <strong>do</strong>r. Isso se<br />

96


evela especialmente pela escuta atenta <strong>do</strong> terapeuta quan<strong>do</strong> o paciente chega,<br />

uma vez que nem sempre o que ele relata é essencialmente real. Entretanto, esta<br />

realida<strong>de</strong> é inegável <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista que ele sofre (grifo meu).<br />

Especialmente nos casos <strong>de</strong> <strong>do</strong>r há sempre um aspecto subjetivo que<br />

envolve este conceito e por essa razão Costa (1992 apud BRANT & MYNAIO, 2004)<br />

reputa sofrimento como uma consequência da prática linguística, pois<br />

Somos aquilo que a linguagem nos permite ser, acreditamos naquilo que ela<br />

permite acreditar, só ela po<strong>de</strong> fazer-nos acreditar em algo <strong>do</strong> outro como<br />

familiar, natural ou, pelo contrário, repudiá-lo como estranho, antinatural e<br />

ameaça<strong>do</strong>r (COSTA, 1992, apud BRANT & MINAYO, 2004, p. 215).<br />

Por esta linha <strong>de</strong> raciocínio, é possível supor então que o intelecto seja<br />

capaz <strong>de</strong> produzir sintomas, e in<strong>do</strong> um pouco mais além, estes tanto po<strong>de</strong>m se<br />

verificar <strong>de</strong> forma positiva quanto negativa, fican<strong>do</strong> a cargo <strong>do</strong> crivo crítico <strong>do</strong><br />

indivíduo <strong>de</strong>cidir para que la<strong>do</strong> pen<strong>de</strong>rá. Se bem equilibra<strong>do</strong> sob os aspectos que o<br />

compõem na sua natureza humana, é possível predizer que positivamente.<br />

Entretanto, quan<strong>do</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> qualquer espécie estiverem se processan<strong>do</strong> na<br />

mente <strong>do</strong> indivíduo, sejam estas <strong>de</strong> natureza física ou somática, a mente humana<br />

certamente operará negativamente.<br />

Assim, ao analisar esta capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acreditar naquilo que <strong>de</strong>seja, é<br />

possível aproximá-la <strong>do</strong> que a hipnose se propõe enquanto prática terapêutica: ou<br />

seja, pela palavra, pelo som ou pelo gesto, produzir alterações na percepção <strong>do</strong><br />

sujeito, levan<strong>do</strong>-o a modificar comportamentos que se traduzem em sofrimento e<br />

assim <strong>de</strong>volver-lhe uma qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida plena, objetivo maior <strong>do</strong> humano<br />

enquanto ser.<br />

97


7 CONCLUSÃO<br />

Tão antiga quanto a própria humanida<strong>de</strong>, a hipnose está presente na vida<br />

<strong>do</strong> homem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>do</strong>s tempos, como atestam diversos estu<strong>do</strong>s aqui<br />

apresenta<strong>do</strong>s. No começo, mesmo com uma técnica sem base científica, conquistou<br />

a a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> leigos e cientistas em cada época, dada a eficácia que <strong>de</strong>monstrou na<br />

cura e ou melhora <strong>de</strong> diversos casos <strong>de</strong> enfermida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> corpo e da mente.<br />

Estu<strong>do</strong>s esses que percorreram o mun<strong>do</strong>, pois em cada canto <strong>de</strong>le se<br />

acham vestígios <strong>de</strong> sua aplicação, longos trata<strong>do</strong>s sobre a prática hipnótica que<br />

serviram <strong>de</strong> inspiração às gerações que os suce<strong>de</strong>ram.<br />

Não obstante as inúmeras contribuições <strong>de</strong> Charcot ao campo médico, é<br />

indiscutível a estreita relação que marcou a hipnose com as histéricas <strong>de</strong><br />

Salpêtrière, em que estes casos transformaram a prática hipnótica num espetáculo<br />

<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong>s. Junte-se a isso a marcada influência que a igreja exercia nos<br />

regimes governamentais da época, nada restou à hipnose senão o esquecimento.<br />

Com o passar <strong>do</strong>s anos, entretanto, o véu da invisibilida<strong>de</strong> que se havia<br />

joga<strong>do</strong> sobre a hipnose foi sen<strong>do</strong> levanta<strong>do</strong> e novos nomes surgiram no cenário<br />

mundial, produzin<strong>do</strong> evidências concretas acerca <strong>de</strong> seus benefícios em favor <strong>de</strong><br />

múltiplas enfermida<strong>de</strong>s.<br />

Neste resgate, chega-se ao século XXI com estu<strong>do</strong>s cada vez mais<br />

conclusivos a respeito <strong>de</strong> sua eficácia, ao mesmo tempo em que o homem também<br />

percebe quanto ainda há por <strong>de</strong>svendar sobre os mistérios <strong>do</strong> inconsciente humano.<br />

Cumpre ressaltar, portanto, que em se tratan<strong>do</strong> <strong>de</strong> ciência, a verda<strong>de</strong> não<br />

po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada nem absoluta e muito menos acabada, ten<strong>do</strong> em vista a<br />

dinamicida<strong>de</strong> das situações e fenômenos a que a humanida<strong>de</strong> está sujeita, num<br />

permanente <strong>de</strong>vir.<br />

98


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104


ANEXO I<br />

Parecer CFM nº 42/99<br />

ANEXOS<br />

PROCESSO-CONSULTA CFM Nº 2.172/97 PC/CFM/Nº42/1999<br />

ASSUNTO: Hipnose médica<br />

INTERESSADO: Plenário <strong>do</strong> Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Medicina<br />

RELATOR: Cons. Paulo Eduar<strong>do</strong> Behrens Cons. Nei Moreira da Silva<br />

EMENTA: A hipnose é reconhecida como valiosa prática médica, subsidiária <strong>de</strong><br />

diagnóstico ou <strong>de</strong> tratamento, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> ser exercida por profissionais <strong>de</strong>vidamente<br />

qualifica<strong>do</strong>s e sob rigorosos critérios éticos. O termo genérico a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> por este<br />

Conselho é o <strong>de</strong> hipniatria.<br />

PARTE EXPOSITIVA<br />

Ao analisarmos con<strong>sul</strong>ta feita a este Plenário sobre a utilização <strong>de</strong> termos<br />

como hipniatria ou hipnoanálise, impressos em receituários médicos, fizemos<br />

consi<strong>de</strong>rações acerca da prática da hipnose como valioso elemento auxiliar em<br />

diversos tratamentos. A <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong>ste Plenário foi a <strong>de</strong> apresentar um novo parecer<br />

que pu<strong>de</strong>sse subsidiar os conselheiros na análise da pertinência <strong>de</strong>sta prática, no rol<br />

das ativida<strong>de</strong>s médicas. Desta forma, foi constituída uma comissão para estudar o<br />

assunto, composta pelos conselheiros Nei Moreira da Silva e Paulo Eduar<strong>do</strong><br />

Behrens, que, após diversas reuniões com médicos praticantes e interessa<strong>do</strong>s na<br />

hipnose e juntada <strong>de</strong> farto material, passam a apresentar, à apreciação <strong>do</strong> Plenário,<br />

o presente parecer.<br />

PARECER<br />

A hipnose<br />

- Histórico (extraí<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho <strong>do</strong> dr. Mozart Smyth Junior) Com uma gran<strong>de</strong><br />

varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> nomes, a hipnose é utilizada por milênios como uma forma <strong>de</strong> atuar no<br />

comportamento humano. Os antigos egípcios (2.000 a.C.) já utilizavam<br />

105


empiricamente encantamentos, amuletos, imposição das mãos, sem se darem conta<br />

da imaginação e sugestão envolvidas nesses procedimentos.<br />

Anton Mesmer (1734-1815) <strong>de</strong>senvolveu a tese <strong>do</strong> "magnetismo animal" e <strong>de</strong> que o<br />

realinhamento das forças gravitacionais po<strong>de</strong>ria restaurar a saú<strong>de</strong>. Seus discípulos<br />

enten<strong>de</strong>ram que o processo essencial envolvi<strong>do</strong> era a "sugestão", algo <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong><br />

pelo próprio indivíduo.<br />

James Braid (1784-1860) criou o termo hipnose, <strong>de</strong>riva<strong>do</strong> <strong>do</strong> grego (hypnos = sono)<br />

James Esdaile (1808-1899) realizou várias intervenções cirúrgicas usan<strong>do</strong> somente<br />

a hipnose para produzir efeito anestésico.<br />

Jean Martin Charcot (1825-1893) notabilizou-se pelas curas hipnóticas da histeria, o<br />

que levou ao início <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> científico da hipnose.<br />

Em 1885, Josef Breuer publicou, juntamente com Freud, o famoso caso Anna O.<br />

como "Estu<strong>do</strong> sobre a histeria". A partir daí, Freud iniciou a prática da hipnose,<br />

sen<strong>do</strong>, à época, largamente utilizada na Europa.<br />

O interesse pela hipnose teve seu recru<strong>de</strong>scimento durante a Primeira e Segunda<br />

Guerras Mundiais como forma <strong>de</strong> tratamento das neuroses traumáticas <strong>de</strong> guerra.<br />

A Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Hipnose Médica <strong>de</strong> São Paulo, na expectativa <strong>de</strong> homogeneizar a<br />

terminologia a<strong>do</strong>tada pelas diversas correntes, <strong>de</strong>finiu a seguinte nomenclatura:<br />

HIPNOSE - Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> estreitamento <strong>de</strong> consciência provoca<strong>do</strong> artificialmente,<br />

pareci<strong>do</strong> com o sono, mas que <strong>de</strong>le se distingue fisiologicamente pelo aparecimento<br />

<strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> fenômenos espontâneos ou <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> estímulos verbais ou <strong>de</strong><br />

outra natureza.<br />

HIPNOLOGIA - Estu<strong>do</strong> da natureza da hipnose e investigação científica <strong>de</strong> seus<br />

fenômenos e repercussões<br />

HIPNOTERAPIA - Terapia feita através da hipnose<br />

HIPNOTISTA - Profissional que pratica a hipnose<br />

HIPNIATRIA - Procedimento ou ato médico que utiliza a hipnose como parte<br />

pre<strong>do</strong>minante <strong>do</strong> conjunto terapêutico<br />

DEHIPNOTIZAR - Ato <strong>de</strong> retirar o paciente <strong>do</strong> transe hipnótico.<br />

A referida Socieda<strong>de</strong> observa que o termo mais a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> para o tratamento<br />

médico feito através da hipnose pura ou combinada com fármacos é a hipniatria,<br />

solicitan<strong>do</strong>, <strong>de</strong>ste Conselho, a sua oficialização.<br />

106


Este termo foi cria<strong>do</strong> em 1968 pelos professores Miguel Calille Junior e Antônio<br />

Carlos <strong>de</strong> Moraes Passos, sen<strong>do</strong> unanimemente consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> por todas as escolas<br />

<strong>de</strong> hipnose no Brasil.<br />

Esta nomenclatura <strong>de</strong>veu-se à <strong>de</strong>manda <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> Hipnologia, numa<br />

analogia com algumas especialida<strong>de</strong>s médicas (Pediatria, Psiquiatria, Foniatria,<br />

Fisiatria, etc.), on<strong>de</strong> o sufixo latino "iatria", significa cura.<br />

- A Hipnose no mun<strong>do</strong><br />

Atualmente, existem várias socieda<strong>de</strong>s, em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, que atuam na prática da<br />

hipnose:<br />

Society for Clinical and Experimental Hypnosis<br />

The American Society of Clinical Hypnosis<br />

International Society of Hypnosis<br />

The Australian Society of Hypnosis<br />

Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Hipnose<br />

Associazione Medica Italiana per lo Studio <strong>de</strong>ll'a Ipnosi<br />

The British Society of Medical and Dental Hypnosis e várias outras.<br />

Há profissionais médicos trabalhan<strong>do</strong> com hipnose em várias <strong>universida<strong>de</strong></strong>s:<br />

Cambridge Hospital - Harvard University of Chicago<br />

University of Kansas Regional Burn Center - Dallas Benemerita<br />

Universidad Autonoma <strong>de</strong> Puebla - México<br />

Alguns Conselhos diplomam e titulam profissionais em hipnose:<br />

American Board of Medical Hypnosis<br />

American Board of Psychological Hypnosis<br />

American Board of Hypnosis in Dentistry<br />

American Hypnosis Board for Clinical Social Work<br />

Algumas instituições internacionais já se posicionaram sobre a Hipnose Médica,<br />

reconhecen<strong>do</strong>-a como auxiliar terapêutico útil na Medicina:<br />

Associação Médica Americana - 18 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1958<br />

107


"A Hipnose é um auxiliar terapêutico valioso e os que a empregam,<br />

<strong>de</strong>vem conhecer os seus fenômenos complexos, seus ensinamentos são privativos<br />

<strong>de</strong> médicos e <strong>do</strong> o<strong>do</strong>ntólogo. Quem a emprega <strong>de</strong>ve conhecer suas indicações e<br />

limitações. Não se <strong>de</strong>ve apren<strong>de</strong>r apenas a técnica."<br />

Associação Médica Britânica - 23 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1955<br />

"A Hipnose é útil e po<strong>de</strong>, em certos casos, ser o tratamento <strong>de</strong> escolha<br />

<strong>do</strong>s distúrbios psicossomáticos e das neuroses."<br />

Associação Psiquiátrica Americana - 15 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1961<br />

"Reconhece-se o valor da Hipnose como auxílio na pesquisa, diagnóstico<br />

e terapêuticas tanto em Psiquiatria, como em outras áreas da prática médica."<br />

Organização Mundial da Saú<strong>de</strong> - outubro <strong>de</strong> 1974<br />

"A Hipnose mo<strong>de</strong>rna é hoje o maior avanço da Psiquiatria. Atua no campo<br />

terapêutico, enquanto os estu<strong>do</strong>s da bioquímica o são no estu<strong>do</strong> das etiologias."<br />

Revista Brasileira <strong>de</strong> Medicina - julho <strong>de</strong> 1998<br />

"Menosprezar a importância <strong>de</strong> Hipnose, hoje em dia, representa, além <strong>de</strong><br />

opor-se aos diversos relatórios elabora<strong>do</strong>s por comissões especializadas no mun<strong>do</strong><br />

inteiro, fechar os olhos aos re<strong>curso</strong>s por ela ofereci<strong>do</strong>s. Se existem (ou existiram)<br />

hipnólogos ou hipniatras mal prepara<strong>do</strong>s, também existem profissionais <strong>de</strong> baixa<br />

qualida<strong>de</strong> em quaisquer outras especialida<strong>de</strong>s. É a partir da gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong>s bens<br />

qualifica<strong>do</strong>s, porém, que as técnicas ganham cada vez mais a<strong>de</strong>ptos."<br />

- A hipnose no Brasil<br />

No Brasil, além da Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Hipnose (socieda<strong>de</strong> científica<br />

vinculada à AMB) existe o Departamento <strong>de</strong> Hipniatria da Associação Médica <strong>de</strong><br />

Minas Gerais e a Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Hipnose Médica <strong>de</strong> São Paulo.<br />

108


Em 1961, o então presi<strong>de</strong>nte da República, Jânio Quadros, assinou o<br />

Decreto n.º 51.009, ainda em vigor:<br />

"Proíbe espetáculos ou números isola<strong>do</strong>s <strong>de</strong> hipnotismo e letargia, <strong>de</strong><br />

qualquer tipo ou forma, em clubes, auditórios, palcos ou estúdios <strong>de</strong> rádio ou <strong>de</strong><br />

televisão, e dá outras providências.<br />

comerciais...<br />

Art. 1º - Ficam proibidas, em to<strong>do</strong> o território nacional, as exibições<br />

Art. 2º - Ficam excluídas da proibição <strong>de</strong> que trata o presente Decreto, as<br />

<strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> caráter puramente científico, sem fito <strong>de</strong> lucro, direto ou indireto,<br />

executadas por médicos com <strong>curso</strong> especializa<strong>do</strong> na matéria.<br />

Parágrafo único - As <strong>de</strong>monstrações a que alu<strong>de</strong> este artigo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rão<br />

sempre, <strong>de</strong> aprovação prévia da autorida<strong>de</strong> competente <strong>de</strong> cada Esta<strong>do</strong> da<br />

Fe<strong>de</strong>ração, Distrito Fe<strong>de</strong>ral e Território on<strong>de</strong> forem promovidas, salvo quan<strong>do</strong><br />

realizadas em estabelecimento <strong>de</strong> ensino e para fins didáticos".<br />

• Aspectos científicos<br />

Um breve sumário da utilização da Hipnose Médica, po<strong>de</strong> ser apresenta<strong>do</strong><br />

nos seguintes grupos:<br />

a. Como uma técnica que promove saú<strong>de</strong> e exercícios profiláticos em indivíduos<br />

sujeitos a estresse;<br />

b. Como um méto<strong>do</strong> através <strong>do</strong> qual o indivíduo po<strong>de</strong> controlar funções autonômicas<br />

e, <strong>de</strong>ste mo<strong>do</strong>, superar sintomas <strong>de</strong>sagradáveis ou perturbações autônomas;<br />

c. Como um tratamento para uma ampla varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> condições psicossomáticas;<br />

d. Como um subsidiário na psicoterapia, liberan<strong>do</strong> memória reprimida e sensações,<br />

especialmente produzin<strong>do</strong> catarse em pacientes que sofrem <strong>de</strong> sintomas histéricos;<br />

e. Como um méto<strong>do</strong> que alivia <strong>do</strong>r e induz anestesia.<br />

Um outro agrupamento das aplicações da hipnose foi sugeri<strong>do</strong> pelo Dr.<br />

Antônio Carlos <strong>de</strong> Moraes Passos, da Escola Paulista <strong>de</strong> Medicina e funda<strong>do</strong>r da<br />

Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Hipnose Médica <strong>de</strong> São Paulo:<br />

A hipnose tem si<strong>do</strong> usada:<br />

a. Para o alívio da <strong>do</strong>r, produzin<strong>do</strong> anestesia ou analgesia;<br />

109


. Nos diferentes setores da clínica e cirurgia, notadamente em obstetrícia;<br />

c. Como tranqüilização [sic] para o alívio <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> a apreensão,<br />

qualquer que seja a sua causa;<br />

d. Em qualquer condição na qual a psicoterapia possa ser útil;<br />

e. No controle <strong>de</strong> alguns hábitos (ex.: tabagismo);<br />

f. Experimentalmente em qualquer pesquisa, no campo psicológico e/ou<br />

neurofisiológico, e outros.<br />

Paralelamente, o mesmo autor indica on<strong>de</strong> a hipnose não <strong>de</strong>ve ser usada:<br />

a. Na remoção <strong>de</strong> sintomas, sem primeiro se saber a que finalida<strong>de</strong> servem [sic];<br />

b. Em qualquer condição on<strong>de</strong> o esta<strong>do</strong> emocional <strong>do</strong> paciente não foi <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>;<br />

c. Sem objetivo <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>, apenas para satisfazer insistentes pedi<strong>do</strong>s <strong>do</strong> paciente;<br />

d. Para abolir <strong>de</strong>terminadas sensações, a fadiga [sic] por exemplo, o que po<strong>de</strong> levar<br />

o paciente a ir além <strong>do</strong>s limites <strong>de</strong> sua capacida<strong>de</strong> física;<br />

e. Em psicóticos, a hipnose só po<strong>de</strong> ser usada por um psiquiatra experiente, ten<strong>do</strong><br />

em conta que não constitui uma boa indicação e po<strong>de</strong> até ser contra-indicada como<br />

na esquizofrenia, em que pesem opiniões contrárias, como Wolberg, Gor<strong>do</strong>n,<br />

Worpell, entre outros.<br />

Praticada essencialmente por médicos, o<strong>do</strong>ntólogos e psicólogos a hipnose<br />

tem suas principais indicações em:<br />

Distúrbios<br />

- Da ansieda<strong>de</strong><br />

- - ansieda<strong>de</strong> em suas diversas formas<br />

- - estresse<br />

- - fobias<br />

- - síndromes pós-traumáticas<br />

- Depressão<br />

- Alimentares<br />

- <strong>do</strong> sono<br />

- Sexuais<br />

- Do relacionamento conjugal e familiar<br />

- Da personalida<strong>de</strong><br />

Drogadição<br />

Doenças psicossomáticas<br />

110


Síndromes <strong>do</strong>lorosas agudas e crônicas<br />

- Analgesia<br />

- Anestesia<br />

Preparo para exames invasivos e durante sua realização<br />

Preparo pré-operatório, no per e pós-operatório<br />

Na abordagem <strong>de</strong> patologias diversas, em conjunto com as diversas especialida<strong>de</strong>s<br />

médicas<br />

Diversas publicações científicas, nas mais diversas áreas, corroboram tais<br />

indicações e a eficácia da hipnose como méto<strong>do</strong> auxiliar <strong>de</strong> tratamento:<br />

Disfunções sexuais<br />

1 . A impotência sexual e seu tratamento/ The sexual impotence and its treatment, in<br />

Inf. Psiquiátrico; 14 (3), julho-set. 1995.<br />

2. Influência social. As estratégias Ericksonianas e o fenômeno hipnótico no<br />

tratamento das disfunções sexuais. Stricherz-ME in American Journal of Clinical<br />

Hypnosis. Jan. 1982<br />

Câncer<br />

1 . Impressões sobre o tratamento <strong>do</strong> câncer pela hipnose. Strosberg-IM in J. Am.<br />

Soc. Psychosom-Dent-Med. 1982.<br />

2 . Controlan<strong>do</strong> os efeitos colaterais da quimioterapia. Redd-WH; Rosenberger-PH;<br />

Hendler-CS in Am. J. Clin Hypn .1982.<br />

3. Dessensibilização hipnótica no tratamento preventivo <strong>do</strong>s vômitos por<br />

quimioterapia. Hoffman-ML in Am J Hypn. 1982.<br />

Cardiologia<br />

1. A hipnose nos distúrbios cardiovasculares com ênfase na correção da<br />

hiperventilação crônica. Thomas-HM in Act Nerv Super Praha. 1982.<br />

2 . O efeito da hipnose no intervalo RR e na variação da pressão sangüínea. Emdin-<br />

M; Santarcangelo-EL; Picano-E; Raciti-M; Pola-S; Macerata-A; Michelassi-C;<br />

L'Abbate-A from CNR Institute of Clinical Physiology, Pisa, Italy in Clin Sci Colch.<br />

1996.<br />

111


Gastrenterologia [sic]<br />

1. Tratamento hipnoterápico para disfagia. Kopel-KF; Quinn-M from Baylor College<br />

of Medicine, Houston, Texas, USA in Int J Clin Exp Hypn. 1996.<br />

2. O uso da hipnoterapia nos distúrbios gastrointestinais. Francis-CY; Houghton-LA<br />

from Department of Medicine, University Hospital of South Manchester, UK in Eur J<br />

Gastroenterol Hepatol. 1996.<br />

Dependência <strong>de</strong> drogas<br />

1. O uso <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> sugestão com a<strong>do</strong>lescentes no tratamento da inalação <strong>de</strong><br />

cola <strong>de</strong> sapateiros e abuso <strong>de</strong> solventes. O'Connor-D in Hum Toxicolo. 1982.<br />

2. Determinantes da sugestão para o tratamento <strong>do</strong> alcoolismo. Room-R; Bondy-S;<br />

Ferris-J from Research and Development Division, Addiction Research Foundation,<br />

Toronto, Ontario, Canada in Addiction. 1996.<br />

Outras aplicações<br />

1. Auto-relaxamento hipnótico durante procedimentos radiológicos invasivos. Lang-<br />

EV; Joyce-JS; Spigel-D; Hamilton-D; Lee-KK from Department of Veterans Affairs<br />

Medical Center (DVAMC), Palo Alto, Califórnia, USA in Int J Clin Exp Hypn. 1996.<br />

2. Hipnoterapia e verrugas plantares. Relato <strong>de</strong> casos. Rowe-WS in Aut N Z J<br />

Psychiatry. 1982.<br />

3. Hipnose no tratamento <strong>de</strong> pacientes com queimaduras severas. Patterson-DR;<br />

Goldberg-ML; Eh<strong>de</strong>-DM from Department of Rehabilitation Medicine, University of<br />

Washington School of Medicine, USA in Am J Clin Hypn. 1996<br />

4. Hipnoterapia no controle da <strong>do</strong>r aguda. Hutt-G in Br J Theatre Nurs. 1996.<br />

5. Redução da reação cutânea à histamina após procedimento hipnótico. Laidlaw-<br />

TM; Booth_RJ; Large-RG from Department of Psychiatry and Behavioral Science,<br />

School of Medicine, University of Auckland, New Zeland in Psychosom Med. 1996.<br />

6. Emprego da hipnoterapia em crianças e a<strong>do</strong>lescentes. Chipkevitch, Eugênio in J.<br />

pediatr. Rio <strong>de</strong> Janeiro. 1992.<br />

7. Hipnoterapia em um caso severo <strong>de</strong> bruxismo e <strong>do</strong>r facial. Relato <strong>de</strong> caso. Vossz,<br />

Ricar<strong>do</strong> in O<strong>do</strong>ntol. chil. 1986.<br />

8. Consi<strong>de</strong>rações sobre técnica <strong>de</strong> hipnose utilizada em <strong>do</strong>is casos <strong>de</strong> amnésia<br />

retrógrada in RBM psiquiatr. 1984.<br />

112


9. Hipnoanalgesia em gineco-obstetrícia. Acosta Ben<strong>de</strong>k, Eduar<strong>do</strong> in Unimetro.<br />

1985.<br />

10. Hipnoanestesia em cirurgias ambulatoriais. McCoy-LR in Aana-J. 1982.<br />

CONCLUSÃO<br />

A hipnose é, então, uma forma <strong>de</strong> diagnose e terapia que <strong>de</strong>ve ser<br />

executada tão somente por profissionais <strong>de</strong>vidamente qualifica<strong>do</strong>s. Como terapia,<br />

po<strong>de</strong> ser executada por médicos, o<strong>do</strong>ntólogos e psicólogos, em suas estritas áreas<br />

<strong>de</strong> atuação. A hipnose praticada pelo médico, com fins clínicos, <strong>de</strong>ve cercar-se <strong>de</strong><br />

to<strong>do</strong>s os aspectos legais e éticos da profissão. É, por isso, essencial que haja a<br />

especificação <strong>do</strong>s objetivos a serem persegui<strong>do</strong>s, através da informação aos<br />

pacientes, familiares ou responsável legal [sic]. Portanto, sen<strong>do</strong> reservada a estes<br />

profissionais, e até por encerrar complicações e conter contra-indicações, sua<br />

utilização por pessoas leigas configura-se como curan<strong>de</strong>irismo, ilícito jurídico<br />

<strong>de</strong>fini<strong>do</strong> no Código Penal, em seu artigo 282, in verbis.<br />

"Exercer curan<strong>de</strong>irismo:<br />

I - Prescreven<strong>do</strong>, ministran<strong>do</strong> ou aplican<strong>do</strong> habitualmente qualquer substância;<br />

II - Usan<strong>do</strong> gestos, palavras ou qualquer outro meio;<br />

III - Fazen<strong>do</strong> diagnósticos.<br />

Pena: <strong>de</strong>tenção <strong>de</strong> seis meses a <strong>do</strong>is anos"<br />

Ainda segun<strong>do</strong> Moraes Passos: "A divulgação da hipnose, principalmente<br />

a chamada hipnose <strong>de</strong> palco, <strong>de</strong>stituída <strong>de</strong> uma meto<strong>do</strong>logia científica e executada<br />

por pessoas sem as qualificações técnicas e sem a necessária responsabilida<strong>de</strong><br />

profissional, torna mais perigosa ainda sua aplicação, como tem si<strong>do</strong> feito<br />

ultimamente nos nossos teatros e estações <strong>de</strong> televisão.<br />

Nas <strong>de</strong>monstrações hipnóticas pela TV, foram constata<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> maneira<br />

inequívoca, fenômenos <strong>de</strong> <strong>de</strong>spersonalização, isto é, sugestão <strong>de</strong> que o paciente<br />

tinha outra i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, Hitler, por exemplo, fenômenos este totalmente contra-<br />

indica<strong>do</strong> <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista psiquiátrico, e além <strong>do</strong> mais, sem o <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> apagamento<br />

113


ou volta <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> normal. Correu assim, o paciente, o perigo <strong>de</strong> continuar cren<strong>do</strong><br />

em uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> falsa, ou angustia<strong>do</strong> com uma idéia obsessiva nesse senti<strong>do</strong>.<br />

Foram comprova<strong>do</strong>s por psiquiatras, hipnose <strong>de</strong> especta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> TV em<br />

suas próprias residências, à simples assistência <strong>do</strong>s referi<strong>do</strong>s espetáculos."<br />

Concluin<strong>do</strong> este parecer, enten<strong>de</strong>mos que a Hipnose Médica <strong>de</strong>ve ser<br />

consi<strong>de</strong>rada prática médica auxiliar ao diagnóstico e à terapêutica, rigorosamente<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> critérios éticos.<br />

Enten<strong>de</strong>mos, também, que este Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong>ve recomendar a<br />

to<strong>do</strong>s os Regionais especial atenção ao exercício <strong>de</strong>sta prática por profissionais<br />

não-médicos, principalmente em exibições públicas, toman<strong>do</strong> as medidas policiais e<br />

judiciais cabíveis.<br />

É nosso entendimento, ainda, que, em suas respectivas áreas <strong>de</strong><br />

atuação, a hipnose é uma prática que po<strong>de</strong> ser utilizada por o<strong>do</strong>ntólogos e<br />

psicólogos.<br />

Sugiro que este Conselho atenda à <strong>de</strong>manda da Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Hipnose<br />

Médica <strong>de</strong> São Paulo, a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong>, como oficial, o termo hipniatria para <strong>de</strong>finir o<br />

procedimento ou ato médico que utiliza a hipnose no conjunto terapêutico.<br />

É o parecer,<br />

S. M. J. Brasília, 18 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1999.<br />

Paulo Eduar<strong>do</strong> Behrens<br />

Nei Moreira da Silva<br />

Aprova<strong>do</strong> em Sessão Plenária<br />

114


ANEXO II<br />

<strong>do</strong> Psicólogo.<br />

RESOLUÇÃO CFP N° 013/00 DE 20 DE DEZEMBRO DE 2000<br />

Aprova e regulamenta o uso da Hipnose como re<strong>curso</strong> auxiliar <strong>de</strong> trabalho<br />

O CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, no uso <strong>de</strong> suas atribuições<br />

legais e regimentais, que lhe são conferidas pela Lei n° 5.766, <strong>de</strong> 20/12/1971 e;<br />

CONSIDERANDO o valor histórico da utilização da Hipnose como técnica <strong>de</strong> re<strong>curso</strong><br />

auxiliar no trabalho <strong>do</strong> psicólogo e;<br />

CONSIDERANDO as possibilida<strong>de</strong>s técnicas <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista terapêutico como<br />

re<strong>curso</strong> coadjuvante e;<br />

CONSIDERANDO o avanço da Hipnose, a exemplo da Escola Ericksoniana no<br />

campo psicológico, <strong>de</strong> aplicação prática e <strong>de</strong> valor científico e;<br />

CONSIDERANDO que a Hipnose é reconhecida na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, como um<br />

re<strong>curso</strong> técnico capaz <strong>de</strong> contribuir nas resoluções <strong>de</strong> problemas físicos e<br />

psicológicos e;<br />

CONSIDERANDO ser a Hipnose reconhecida pela Comunida<strong>de</strong> Científica<br />

Internacional e Nacional como campo <strong>de</strong> formação e prática <strong>de</strong> psicólogos,<br />

RESOLVE:<br />

Art. 1º — O uso da Hipnose inclui-se como re<strong>curso</strong> auxiliar <strong>de</strong> trabalho <strong>do</strong> psicólogo,<br />

quan<strong>do</strong> se fizer necessário, <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s padrões éticos, garanti<strong>do</strong>s a segurança e o<br />

bem estar da pessoa atendida;<br />

Art. 2º — O psicólogo po<strong>de</strong>rá recorrer a Hipnose, <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> seu campo <strong>de</strong> atuação,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que possa comprovar capacitação a<strong>de</strong>quada, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o disposto na<br />

alínea "a" <strong>do</strong> artigo 1 o <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Ética Profissional <strong>do</strong> Psicólogo.<br />

Art. 3º — É veda<strong>do</strong> ao psicólogo a utilização da Hipnose como instrumento <strong>de</strong> mera<br />

<strong>de</strong>monstração fútil ou <strong>de</strong> caráter sensacionalista ou que crie situações<br />

constrange<strong>do</strong>ras às pessoas que estão se submeten<strong>do</strong> ao processo hipnótico.<br />

Art. 6º — Esta Resolução entra em vigor na data <strong>de</strong> sua publicação.<br />

Art. 7º — Revogam-se as disposições em contrário.<br />

Brasília (DF), 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2000.<br />

ANA MERCÊS BAHIA BOCK<br />

Conselheira-Presi<strong>de</strong>nte<br />

115


ANEXO III<br />

LEI 5.081 DE 24/08/1966<br />

Regula o Exercício da O<strong>do</strong>ntologia.<br />

ART.1 - O exercício da O<strong>do</strong>ntologia no território nacional é regi<strong>do</strong> pelo disposto na<br />

presente Lei.<br />

ART.2 - O exercício da O<strong>do</strong>ntologia no território nacional só é permiti<strong>do</strong> ao cirurgião-<br />

<strong>de</strong>ntista habilita<strong>do</strong> por escola ou faculda<strong>de</strong> oficial ou reconhecida, após o registro <strong>do</strong><br />

diploma na Diretoria <strong>do</strong> Ensino Superior, no Serviço Nacional <strong>de</strong> Fiscalização da<br />

O<strong>do</strong>ntologia, sob cuja jurisdição se achar o local <strong>de</strong> sua ativida<strong>de</strong>.<br />

Parágrafo único. (Veta<strong>do</strong>).<br />

ART.3 - Po<strong>de</strong>rão exercer a O<strong>do</strong>ntologia no território nacional os habilita<strong>do</strong>s por<br />

escolas estrangeiras, após a revalidação <strong>do</strong> diploma e satisfeitas as <strong>de</strong>mais<br />

exigências <strong>do</strong> artigo anterior.<br />

ART.4 - É assegura<strong>do</strong> o direito ao exercício da O<strong>do</strong>ntologia, com as restrições<br />

legais, ao diploma<strong>do</strong> nas condições mencionadas no Decreto-Lei n.º 7.718 <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong><br />

julho <strong>de</strong> 1945, que regularmente se tenha habilita<strong>do</strong> para o exercício profissional,<br />

somente nos limites territoriais <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> on<strong>de</strong> funcionou a escola ou faculda<strong>de</strong> que<br />

o diplomou.<br />

ART.5 - É nula qualquer autorização administrativa a quem não for legalmente<br />

habilita<strong>do</strong> para o exercício da O<strong>do</strong>ntologia.<br />

ART.6 - Compete ao cirurgião-<strong>de</strong>ntista:<br />

I - praticar to<strong>do</strong>s os atos pertinentes à O<strong>do</strong>ntologia, <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> conhecimentos<br />

adquiri<strong>do</strong>s em <strong>curso</strong> regular ou em <strong>curso</strong>s <strong>de</strong> pós-graduação;<br />

II - prescrever e aplicar especialida<strong>de</strong>s farmacêuticas <strong>de</strong> uso interno e externo,<br />

indicadas em O<strong>do</strong>ntologia;<br />

III - atestar, no setor <strong>de</strong> sua ativida<strong>de</strong> profissional, esta<strong>do</strong>s mórbi<strong>do</strong>s e outros,<br />

inclusive, para justificação <strong>de</strong> faltas ao emprego;<br />

* Inciso III com redação dada pela Lei n.º 6.215 <strong>de</strong> 30/06/1975.<br />

IV - proce<strong>de</strong>r à perícia o<strong>do</strong>ntolegal em foro civil, criminal, trabalhista e em se<strong>de</strong><br />

administrativa;<br />

V - aplicar anestesia local e truncular;<br />

116


VI - empregar a analgesia e hipnose, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que comprovadamente habilita<strong>do</strong>,<br />

quan<strong>do</strong> constituírem meios eficazes para o tratamento.<br />

VII - manter, anexo ao con<strong>sul</strong>tório, laboratório <strong>de</strong> prótese, aparelhagem e instalação<br />

a<strong>de</strong>quadas para pesquisas e análises clínicas, relacionadas com os casos<br />

específicos <strong>de</strong> sua especialida<strong>de</strong>, bem como aparelhos <strong>de</strong> Raios X, para<br />

diagnóstico, e aparelhagem <strong>de</strong> fisioterapia;<br />

VIII - prescrever e aplicar medicação <strong>de</strong> urgência no caso <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes graves que<br />

comprometam a vida e a saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> paciente;<br />

IX - utilizar, no exercício da função <strong>de</strong> perito-o<strong>do</strong>ntólogo, em casos <strong>de</strong> necropsia, as<br />

vias <strong>de</strong> acesso <strong>do</strong> pescoço e da cabeça.<br />

ART.7 - É veda<strong>do</strong> ao cirurgião-<strong>de</strong>ntista:<br />

a) expor em público trabalhos o<strong>do</strong>ntológicos e usar <strong>de</strong> artifícios <strong>de</strong> propaganda para<br />

granjear clientela;<br />

b) anunciar cura <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas <strong>do</strong>enças, para as quais não haja tratamento<br />

eficaz;<br />

c) exercício <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> duas especialida<strong>de</strong>s;<br />

d) con<strong>sul</strong>tas mediante correspondência, rádio, televisão, ou meios semelhantes;<br />

e) prestação <strong>de</strong> serviço gratuito em con<strong>sul</strong>tórios particulares;<br />

f) divulgar benefícios recebi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> clientes;<br />

g) anunciar preços <strong>de</strong> serviços, modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pagamento e outras formas <strong>de</strong><br />

comercialização da clínica que signifiquem competição <strong>de</strong>sleal.<br />

ART.8 - (Veta<strong>do</strong>).<br />

I - (Veta<strong>do</strong>).<br />

II - (Veta<strong>do</strong>).<br />

ART.9 - (Veta<strong>do</strong>).<br />

a) (Veta<strong>do</strong>);<br />

b) (Veta<strong>do</strong>);<br />

c) (Veta<strong>do</strong>);<br />

d) (Veta<strong>do</strong>);<br />

e) (Veta<strong>do</strong>).<br />

ART.10 - (Veta<strong>do</strong>).<br />

Parágrafo único. (Veta<strong>do</strong>).<br />

ART.11 - (Veta<strong>do</strong>).<br />

117


ART.12 - O Po<strong>de</strong>r Executivo baixará Decreto, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> 90 (noventa) dias,<br />

regulamentan<strong>do</strong> a presente Lei.<br />

ART.13 - Esta Lei entrará em vigor na data <strong>de</strong> sua publicação, revoga<strong>do</strong>s o Decreto-<br />

Lei n.º 7.718, <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1945, a Lei n.º 1.314 <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1951, e<br />

<strong>de</strong>mais disposições em contrário.<br />

(*) Publica<strong>do</strong> no D.O.U. (Diário Oficial da União) em 26/08/1966.<br />

118

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