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programa completo do 5º Festival da Primavera - Farmácia Marques

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ti coro”), teme o dia em que seremos julga<strong>do</strong>s (“livra-me <strong>da</strong> morte eterna nesse dia temível em que seremos<br />

julga<strong>do</strong>s pelo fogo”) e pede absolvição através <strong>do</strong> descanso e luz eterna (“concedei-lhes o repouso eterno e<br />

que a luz perpétua os ilumine”).<br />

Como em to<strong>do</strong>s os ritos católicos, a música desempenha um papel fun<strong>da</strong>mental. A oração faz-se cantan<strong>do</strong>:<br />

geralmente em cantochão e, quan<strong>do</strong> a soleni<strong>da</strong>de de ocasião o requer, em polifonia. Não é de admirar por<br />

isso que nas fontes polifónicas <strong>do</strong> século XVI e XVII encontremos frequentemente obras para os vários<br />

momentos <strong>do</strong> Ofício de Defuntos, geralmente encerran<strong>do</strong> coleções de música para diversos perío<strong>do</strong>s<br />

litúrgicos, num evidente simbolismo.<br />

É precisamente esse o caso <strong>do</strong> códice 3 <strong>do</strong> Arquivo Distrital de Viseu, proveniente <strong>da</strong> sua catedral. Compila<strong>do</strong><br />

por Estevao Lopes Morago (ca. 1575-ca. 1630), compositor de proveniência espanhola, aluno de Filipe de<br />

Magalhães no Colégio <strong>do</strong>s Moços <strong>do</strong> Coro em Évora entre 1592 e 1596 e mestre de capela <strong>da</strong> Sé de Viseu entre<br />

1599 e 1628, este manuscrito contém música <strong>da</strong> sua autoria (missas, motetos, responsórios e lições) para vários<br />

momentos <strong>do</strong> calendário litúrgico, inician<strong>do</strong> no Advento e encerran<strong>do</strong> na Sexta Feira Santa. Como apêndice, o<br />

conjunto de obras para o Ofício de Defuntos que agora apresentamos, e ain<strong>da</strong> duas la<strong>da</strong>inhasChriste redemptor<br />

que, não pertencen<strong>do</strong> ao ofício, farão eco de um costume processional português.<br />

Apesar de seguir modelos formais e estilísticos her<strong>da</strong><strong>do</strong>s de um século XVI fértil em produção polifónica na<br />

península ibérica, a música de Morago apresenta algumas características que são inequívocos sintomas de<br />

uma moderni<strong>da</strong>de que hoje apeli<strong>da</strong>mos de barroca, aproveitan<strong>do</strong> ao máximos as possibili<strong>da</strong>des expressivas<br />

e de contraste ofereci<strong>da</strong>s pela natureza <strong>do</strong>s textos <strong>do</strong> Officium Defunctorum. A homorritmia de Parce mihi<br />

<strong>do</strong>mine ou Quare de vulva podem parecer na aparência falsos bordões sobre o cantochão mas revelamse<br />

recitativos ao melhor estilo <strong>da</strong> secon<strong>da</strong> prattica montverdiana, onde a ca<strong>da</strong> frase literária corresponde<br />

uma ilustração musical e onde ca<strong>da</strong> palavra tem um recorte melódico e rítmico deriva<strong>do</strong> <strong>da</strong> sua fonética.<br />

As diferentes texturas musicais associa<strong>da</strong>s a ca<strong>da</strong> frase literária sucedem-se rapi<strong>da</strong>mente, enfatizam-se<br />

as palavras literariamente mais expressivas, frequentemente recorren<strong>do</strong> a “ilegali<strong>da</strong>des” harmónicas ou<br />

melódicas (por exemplo, em palavras como “peccatta” ou “inferni”), os encadeamentos harmónicos são<br />

frequentemente surpreendentes e pouco usuais na época.<br />

Mas ao mesmo tempo, é evidente no contraponto de Morago o respeito pela tradição polifónica de que é<br />

herdeiro, sobretu<strong>do</strong> na missa pro defunctis, onde o ouvinte mais informa<strong>do</strong> poderá encontrar uma relação<br />

de parentesco com obras semelhantes de Morales, Escobar ou Victoria. A título de exemplo, o contraponto<br />

<strong>do</strong> introitus, ilumina<strong>do</strong> pelo cantus firmus no soprano, é de uma transparência e luminosi<strong>da</strong>de tão grande<br />

como aquela pedi<strong>da</strong> pelo texto e sugeri<strong>da</strong> pelas notas brancas usa<strong>da</strong>s na notação.<br />

pág.23

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