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Os Projectos do Arquitecto Joaquim de Oliveira para - Instituto de ...

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OS PROJECTOS DO ARQUITECTO JOAQUIM DE OLIVEIRA<br />

dizagem. Cenáculo nasceu em 1724, em Lisboa, <strong>de</strong> família humil<strong>de</strong>, ten<strong>do</strong> opta<strong>do</strong><br />

muito ce<strong>do</strong>, talvez pelas mo<strong>de</strong>stas posses familiares, pela entrada na Religião. Aos 12<br />

anos frequentou na Congregação <strong>do</strong> Oratório, em Lisboa, o curso <strong>de</strong> Filosofia <strong>do</strong><br />

Padre Baptista Carbone. Aos 15 anos passou porém <strong>para</strong> os Franciscanos da Or<strong>de</strong>m Terceira<br />

da Penitência, ruman<strong>do</strong> a Coimbra, em 1740, <strong>para</strong> lições com Frei <strong>Joaquim</strong> <strong>de</strong> S.<br />

José, que sempre consi<strong>de</strong>rará o seu gran<strong>de</strong> mestre e a quem o unirá até ao fim da vida<br />

um profun<strong>do</strong> respeito e amiza<strong>de</strong>. O próprio Cenáculo consi<strong>de</strong>rou que foi o seu mestre<br />

quem em Portugal iniciou a reforma da filosofia: “<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ano <strong>de</strong> quarenta <strong>de</strong>u entrada<br />

a mil e mil faíscas, que unidas, haviam <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>pois luz radiosa”. A formação <strong>de</strong> Cenáculo<br />

e a sua intensa curiosida<strong>de</strong> pelo conhecimento beneficiaram <strong>de</strong>sse momento <strong>de</strong><br />

efervescência na educação portuguesa, anquilosada por séculos <strong>de</strong> escolástica, que<br />

teria o seu auge em 1746 com a publicação <strong>do</strong> Verda<strong>de</strong>iro Méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Estudar, <strong>de</strong> Luis<br />

António Verney. Mas o interesse <strong>de</strong> Cenáculo pela investigação histórica e pelo coleccionismo,<br />

beneficiou também <strong>de</strong> um momento priviligia<strong>do</strong> em Portugal no reina<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

D. João V, com o próprio exemplo régio, a formação da Real Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> História, o<br />

<strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 1721 que pela primeira vez <strong>de</strong>fine um conceito <strong>de</strong> património histórico e<br />

sublinha o valor <strong>do</strong>s monumentos e <strong>do</strong> património material no estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>. Um<br />

momento essencial da formação <strong>do</strong> franciscano foi a viagem que juntamente com o seu<br />

mestre fez a Roma no ano <strong>de</strong> 1750, e da qual <strong>de</strong>ixou um diário manuscrito (Biblioteca<br />

Pública <strong>de</strong> Évora, <strong>do</strong>ravante BPE, CV/1-10). Do Diário ressalta o impacto causa<strong>do</strong> pela<br />

Biblioteca Real <strong>de</strong> Madrid e pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Alcalá, em Espanha, a Universida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Turim e o <strong>Instituto</strong> Specula <strong>de</strong> Bolonha, sedia<strong>do</strong> no Palazzo Poggi, que lhe <strong>de</strong>ixa<br />

uma viva impressão, não só pelo avanço científico no estu<strong>do</strong> da astronomia e das matemáticas,<br />

como pela organização espacial das salas abertas <strong>para</strong> o claustro, divididas<br />

por áreas <strong>de</strong> saber, agrupan<strong>do</strong>, cada uma, mo<strong>de</strong>los, objectos e colecções <strong>do</strong> seu tema<br />

<strong>de</strong> estu<strong>do</strong>, <strong>para</strong> além <strong>de</strong> uma biblioteca. Cenáculo visitou ainda Barcelona, Milão, e<br />

Roma, que afirma no seu Diário não ter palavras <strong>para</strong> <strong>de</strong>screver, gaba a arquitectura<br />

<strong>de</strong> Itália, mas é esse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Bolonha, reunin<strong>do</strong> os objectos à Biblioteca que se tornará<br />

<strong>de</strong>cisivo na sua acção e lhe marcará a perspectiva <strong>de</strong> colecciona<strong>do</strong>r.<br />

A activida<strong>de</strong> da Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Bolonha já <strong>de</strong>via aliás ser conhecida anteriormente por<br />

Cenáculo, pois coube ao seu primeiro mestre João Baptista Carbone a resposta a um<br />

pedi<strong>do</strong> da Aca<strong>de</strong>mia Bolonhesa a D. João V <strong>para</strong> o envio <strong>de</strong> “curiosida<strong>de</strong>s naturais”<br />

<strong>de</strong> Portugal <strong>para</strong> o enriquecimento <strong>de</strong>ssa instituição (Brigola, 2003, p. 76) criada “per<br />

l’uso pubblico di tutta terra”, um princípio que se verá bem vinca<strong>do</strong> na futura actuação<br />

<strong>do</strong> Arcebispo e nos fins que procurará dar às suas bibliotecas e colecções.<br />

Embora não se saiba exactamente quan<strong>do</strong> Cenáculo começou a coleccionar é certo<br />

que já nos anos <strong>de</strong> Lisboa, on<strong>de</strong> regressa em 1757, quan<strong>do</strong> é nomea<strong>do</strong> Cronista da<br />

Província Franciscana, <strong>de</strong>pois <strong>do</strong>s anos passa<strong>do</strong>s em Coimbra como lente <strong>de</strong> Teologia<br />

no Colégio <strong>de</strong> S. Pedro, possuía uma razoável colecção e um gosto em reunir<br />

informações <strong>de</strong> carácter arqueológico. Fr. Francisco Sanches Sobrinho refere-se à sua<br />

colecção lisboeta, que incluía já uma série <strong>de</strong> inscrições e um importantíssimo monetário<br />

cataloga<strong>do</strong> (Hubner, 1871, p.6).<br />

50 REVISTA DE HISTÓRIA DA ARTE Nº8 - 2011

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