Prova de Língua Portuguesa - CCV - UFC
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Solução Comentada da <strong>Prova</strong> <strong>de</strong> <strong>Língua</strong> <strong>Portuguesa</strong><br />
Cordéis e Outros Poemas, <strong>de</strong> Patativa do Assaré, e seu cor<strong>de</strong>l <strong>de</strong> abertura, A Triste<br />
Partida, servirão <strong>de</strong> base às questões <strong>de</strong>sta prova. Convidamos você a mergulhar no universo<br />
daquele que, conhecedor das temerosas tormentas do mar da vida, canta o sertão que é seu.<br />
A Triste Partida<br />
01 Passou-se setembro 41 Assim diz o velho 81 Chegaram em São Paulo<br />
02 outubro e novembro 42 sigo noutra trilha 82 sem cobre e quebrado<br />
03 estamos em <strong>de</strong>zembro 43 convida a família 83 o pobre acanhado<br />
04 meu Deus que é <strong>de</strong> nós? 44 e começa a dizer: 84 procura um patrão<br />
05 assim diz o pobre 45 Eu vendo o burro 85 só vê cara feia<br />
06 do seco Nor<strong>de</strong>ste 46 o jumento e o cavalo 86 <strong>de</strong> uma estranha gente<br />
07 com medo da peste 47 nós vamos a São Paulo 87 tudo é diferente<br />
08 e da fome feroz 48 viver ou morrer 88 do caro torrão<br />
09 A treze do mês 4<br />
9<br />
Nós vamos a São Paulo 89 Trabalha um ano<br />
10 fez a experiência 5<br />
0<br />
que a coisa está feia 90 dois anos mais anos<br />
11 per<strong>de</strong>u sua crença 5<br />
1<br />
por terra alheia 91 e sempre no plano<br />
12 nas pedras <strong>de</strong> sal 5<br />
2<br />
nós vamos vagar 92 <strong>de</strong> um dia inda vim<br />
13 com outra experiência 53 se o nosso <strong>de</strong>stino 93 o pai <strong>de</strong> família<br />
14 <strong>de</strong> novo se agarra 5<br />
4<br />
não for tão mesquinho 94 triste maldizendo<br />
15 esperando a barra 55 pro mesmo cantinho 95 assim vão sofrendo<br />
16 do alegre Natal 56 nós torna a voltar 96 tormento sem fim<br />
17 Passou-se o Natal 57 Ven<strong>de</strong>ram o burro 97 O pai <strong>de</strong> família<br />
18 e a barra não veio 58 jumento e cavalo 98 ali vive preso<br />
19 o sol tão vermeio 59 até mesmo o galo 99 sofrendo <strong>de</strong>sprezo<br />
20 nasceu muito além 60 ven<strong>de</strong>ram também 100 e <strong>de</strong>vendo ao patrão<br />
21 na copa da mata 61 e logo aparece 101 o tempo passando<br />
22 buzina a cigarra 62 um feliz fazen<strong>de</strong>iro 102 vai dia e vem dia<br />
23 ninguém vê a barra 63 por pouco dinheiro 103 aquela família<br />
24 pois barra não tem 64 lhe compra o que tem 104 não volta mais não<br />
25 Sem chuva na terra 65 Em cima do carro 105 Se por acaso um dia<br />
26 <strong>de</strong>scamba janeiro 66 se junta a família 106 ele tem por sorte<br />
27 até fevereiro 67 chega o triste dia 107 notícia do Norte<br />
28 no mesmo verão 68 já vão viajar 108 o gosto <strong>de</strong> ouvir<br />
29 reclama o roceiro 69 a seca é terrível 109 sauda<strong>de</strong> no peito<br />
30 dizendo consigo: 70 que tudo <strong>de</strong>vora 110 lhe bate <strong>de</strong> molhos<br />
31 meu Deus é castigo 71 lhe bota pra fora 111 as águas dos olhos<br />
32 não chove mais não 72 do torrão natá 112 começam a cair<br />
(...)<br />
33 Apela pra março 73 O carro embalado 113 Distante da terra<br />
34 o mês preferido 74 no topo da serra 114 tão seca mas boa<br />
35 do santo querido 75 olhando pra terra 115 sujeito à garoa<br />
36 senhor São José 76 seu berço seu lar 116 à lama e ao paul<br />
37 sem chuva na terra 77 aquele nortista 117 é triste se ver<br />
38 está tudo sem jeito 78 partido <strong>de</strong> pena 118 um nortista tão bravo<br />
39 lhe foge do peito 79 <strong>de</strong> longe acena 119 viver sendo escravo<br />
Vestibular 2008.- 1ª Etapa <strong>Língua</strong> <strong>Portuguesa</strong> Pág. 1 <strong>de</strong> 8
40 o resto da fé 80 a<strong>de</strong>us, Ceará 120 na terra do Sul<br />
ASSARÉ, Patativa. A Triste Partida. In: Cordéis e Outros Poemas, Fortaleza: Edições <strong>UFC</strong>, 2006, p. 9-13.<br />
01. A Triste Partida é uma narrativa composta <strong>de</strong> cinco partes: i) a espera pela chuva; ii) a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> sair da<br />
terra natal; iii) os preparativos para a viagem; iv) a triste partida; v) a vida no Sul.<br />
Assinale a alternativa em que estão transcritos os versos que <strong>de</strong>screvem os preparativos para a viagem.<br />
A) Apela pra março / o mês preferido / do santo querido / senhor São José (versos 33-36).<br />
B) O carro embalado / no topo da serra / olhando pra terra / seu berço seu lar (versos 73-76).<br />
C) Ven<strong>de</strong>ram o burro / jumento e cavalo / até mesmo o galo / ven<strong>de</strong>ram também (versos 57-60).<br />
D) Trabalha um ano / dois anos mais anos / e sempre no plano / <strong>de</strong> um dia inda vim (versos 89-92).<br />
E) Nós vamos a São Paulo / que a coisa está feia / por terra alheia / nós vamos vagar (versos 49-52).<br />
Questão 01 – Alternativa C<br />
A questão 01 explora compreensão leitora do poema A Triste Partida, <strong>de</strong> Patativa do Assaré, e espera que o<br />
candidato assinale a alternativa que apresenta os versos nos quais se <strong>de</strong>screvem os preparativos do<br />
nor<strong>de</strong>stino para a viagem em busca <strong>de</strong> um lugar no qual possa sobreviver. É correta a alternativa C, visto<br />
que nela se transcrevem os versos nos quais o narrador anuncia que o sertanejo, antes <strong>de</strong> exilar-se com a<br />
família em São Paulo, teve que ven<strong>de</strong>r o burro, o jumento, o cavalo e até o galo. A alternativa A está errada,<br />
porque, nos versos aí transcritos, <strong>de</strong>screve-se a espera do sertanejo pela chuva. A alternativa B está errada,<br />
porque, nestes versos, <strong>de</strong>screve-se a própria viagem do sertanejo e sua família, em cima do caminhão,<br />
distanciando-se <strong>de</strong> seu torrão natal. A alternativa D está errada, porque, nestes versos, <strong>de</strong>screvem-se<br />
aspectos da vida do sertanejo enquanto vive em São Paulo. Por fim, a alternativa E está errada, pois, nos<br />
versos nela presentes, <strong>de</strong>screve-se a <strong>de</strong>cisão do sertanejo <strong>de</strong> sair da terra natal, momento que antece<strong>de</strong> os<br />
preparativos para a partida.<br />
02. Assinale a única alternativa que contém versos <strong>de</strong> A Triste Partida nos quais se expressa o tipo <strong>de</strong> relação<br />
existente entre o sertanejo e a terra para on<strong>de</strong> ele se viu obrigado a migrar.<br />
A) se o nosso <strong>de</strong>stino / não for tão mesquinho / pro mesmo cantinho / nós torna a voltar (versos 53-56)<br />
B) Em cima do carro / se junta a família / chega o triste dia / já vão viajar (versos 65-68)<br />
C) aquele nortista / partido <strong>de</strong> pena / <strong>de</strong> longe acena / a<strong>de</strong>us, Ceará (versos 77-80)<br />
D) O pai <strong>de</strong> família / ali vive preso / sofrendo <strong>de</strong>sprezo / e <strong>de</strong>vendo ao patrão (versos 97-100)<br />
E) sauda<strong>de</strong> no peito / lhe bate <strong>de</strong> molhos / as águas dos olhos / começam a cair (versos 109-112)<br />
Questão 02 – Alternativa D<br />
A questão 02 explora compreensão leitora do poema A Triste Partida, <strong>de</strong> Patativa do Assaré, requerendo que<br />
o candidato assinale a única alternativa, entre as cinco constantes na questão, na qual estão registrados<br />
versos que expressam o tipo <strong>de</strong> relação existente entre o sertanejo e a terra para on<strong>de</strong> ele se viu obrigado a<br />
migrar. Respon<strong>de</strong>u corretamente à questão o candidato que assinalou a alternativa D. O advérbio <strong>de</strong> lugar<br />
‘ali’, presente no verso 98 ‘ali vive preso’, remete, anaforicamente, a São Paulo (verso 81). Em São Paulo,<br />
portanto, o pai <strong>de</strong> família vive preso, sofrendo <strong>de</strong>sprezo e <strong>de</strong>vendo ao patrão. Estes versos transcritos <strong>de</strong> A<br />
Triste Partida revelam o tipo <strong>de</strong> relação entre o sertanejo e a terra para on<strong>de</strong> foi obrigado a migrar; trata-se<br />
<strong>de</strong> uma relação <strong>de</strong> aviltamento da condição humana, pois o sertanejo encontra-se preso a São Paulo, não<br />
porque à nova cida<strong>de</strong> apegou-se, mas porque a <strong>de</strong>gradante condição <strong>de</strong> permanente endividamento o fizera<br />
cativo, e assim ele subsiste, expropriado do direito cidadão <strong>de</strong> retornar à terra natal. As <strong>de</strong>mais alternativas<br />
são falsas, porque os versos nelas transcritos expressam a relação entre o sertanejo e a sua terra natal. Em A,<br />
o leitor <strong>de</strong>para-se com ‘cantinho’, uma terna alusão à terra natal; apesar <strong>de</strong> todo o sofrimento advindo das<br />
intempéries climáticas, o Nor<strong>de</strong>ste é o ‘cantinho’ para on<strong>de</strong> o sertanejo <strong>de</strong>seja regressar mesmo antes <strong>de</strong><br />
partir. Em B, o leitor atento <strong>de</strong>para-se com a chegada do ‘triste dia’ da partida. Em C, o leitor <strong>de</strong>fronta-se<br />
com o último ‘a<strong>de</strong>us’ do sertanejo, que, <strong>de</strong> longe, ainda acena a <strong>de</strong>clarar seu amor à terra natal, <strong>de</strong>spe<strong>de</strong>-se<br />
como quem diz a<strong>de</strong>us a um ente querido. Por fim, em E, confronta-se o leitor com a nostalgia do sertanejo<br />
que, mesmo distante, consi<strong>de</strong>ra ‘sorte’ receber alguma notícia <strong>de</strong> sua terra natal, sente sauda<strong>de</strong>s e chora.<br />
03. Em A Triste Partida, o eu lírico:<br />
A) apresenta o sul como oásis para o nor<strong>de</strong>stino.<br />
B) <strong>de</strong>nuncia o <strong>de</strong>scaso divino com o homem do sertão.<br />
C) critica a relação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência entre o sertanejo e a natureza.<br />
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D) discute a relação <strong>de</strong> animosida<strong>de</strong> entre o sertanejo e sua terra natal.<br />
E) <strong>de</strong>staca a exploração a que os mais afortunados submetem o sertanejo humil<strong>de</strong>.<br />
Questão 03 – Alternativa E<br />
A questão 03 explora compreensão leitora do poema A Triste Partida, <strong>de</strong> Patativa do Assaré, e espera que o<br />
candidato assinale a alternativa que apresenta uma afirmação verda<strong>de</strong>ira em relação ao poema. É correta a<br />
alternativa E, pois, <strong>de</strong> acordo com o texto, um feliz fazen<strong>de</strong>iro, tirando partido da situação em que se<br />
encontra o sertanejo, compra por pouco dinheiro os bens do sertanejo: burro, jumento, cavalo e até mesmo o<br />
galo (cf. versos 57-64). As <strong>de</strong>mais alternativas estão erradas. A alternativa A está errada, porque, no texto, o<br />
Sul do país não representa um oásis para o nor<strong>de</strong>stino, ao contrário, lá é o lugar em que ele sofre tormento<br />
sem fim (cf. versos 93-96), <strong>de</strong>sprezo do patrão (cf. versos 99-100), sente muita sauda<strong>de</strong> (cf. versos 109-112)<br />
e vive como escravo (cf. versos 119-120). A alternativa B, porque em nenhuma passagem do poema se<br />
registra uma <strong>de</strong>núncia do <strong>de</strong>scaso <strong>de</strong> Deus com o homem do sertão. Em alguns versos, o sertanejo dirige-se<br />
a Deus, perguntando o que será do nor<strong>de</strong>stino e do seco Nor<strong>de</strong>ste, se não houver chuva, mas em nenhum<br />
momento se cogita que haja <strong>de</strong>scaso divino com o sertanejo. A alternativa C está errada, porque o poeta não<br />
faz qualquer crítica à <strong>de</strong>pendência entre o sertanejo e a natureza. Apenas <strong>de</strong>screve o sofrimento do sertanejo<br />
pela falta da chuva, responsável por sua saída da terra natal. A alternativa D está errada, porque entre o<br />
sertanejo e seu torrão natal não há relação <strong>de</strong> animosida<strong>de</strong>. Na verda<strong>de</strong>, o sertanejo ama seu torrão natal e,<br />
mesmo precisando ausentar-se <strong>de</strong> lá, sonha um dia po<strong>de</strong>r voltar (cf. versos 53-56).<br />
04. Leia como se <strong>de</strong>fine prosopopéia:<br />
Prosopopéia – consiste em dar características <strong>de</strong> seres animados a seres<br />
inanimados, ou ainda, em dar características humanas a animais ou objetos.<br />
DE NICOLA, José; INFANTE, Ulisses. Gramática contemporânea da língua<br />
portuguesa. São Paulo: Scipione, 1997, p. 436.<br />
Assinale a alternativa em que ocorre prosopopéia.<br />
A) per<strong>de</strong>u sua crença / nas pedras <strong>de</strong> sal (versos 11-12).<br />
B) ninguém vê a barra / pois barra não tem (versos 23-24).<br />
C) sem chuva na terra / está tudo sem jeito (versos 37-38).<br />
D) nós vamos a São Paulo / viver ou morrer (versos 47-48).<br />
E) a seca é terrível / que tudo <strong>de</strong>vora (versos 69-70).<br />
Questão 04 – Alternativa E<br />
A questão 04 explora conhecimentos sobre figuras <strong>de</strong> linguagem, mais especificamente sobre prosopopéia,<br />
figura que consiste em atribuir características <strong>de</strong> seres animados a seres inanimados, ou ainda, em atribuir<br />
características humanas a animais ou objetos. É correta a alternativa E – ‘a seca é terrível / que tudo<br />
<strong>de</strong>vora’, afirmativa que apresenta a seca - fenômeno da natureza - como ser animado, agente da ação <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>vorar. Nas <strong>de</strong>mais alternativas, não ocorre a prosopopéia. Na A, o sujeito é o pobre nor<strong>de</strong>stino – ser<br />
animado - que ‘per<strong>de</strong>u suas crenças / nas pedras <strong>de</strong> sal’. Na B e na D – ‘ninguém vê a barra / pois barra não<br />
tem’ e ‘nós vamos a São Paulo / viver ou morrer’, os sujeitos animados (ninguém e nós) aparecem<br />
claramente. Na C – ‘Sem chuva na terra / está tudo sem jeito’, ao sujeito (tudo) nenhuma característica <strong>de</strong><br />
ser animado está sendo atribuída.<br />
05. Releia a quarta estrofe do poema:<br />
Sem chuva na terra<br />
<strong>de</strong>scamba janeiro<br />
até fevereiro<br />
no mesmo verão<br />
reclama o roceiro<br />
dizendo consigo:<br />
meu Deus é castigo<br />
não chove mais não<br />
Assinale a alternativa que apresenta todas as informações corretas acerca da construção da estrofe, no tocante ao:<br />
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NÚMERO DE<br />
VERSOS<br />
NÚMERO DE SÍLABAS DE<br />
CADA VERSO<br />
ESQUEMA DE RIMAS<br />
A) oitava – cinco – ABBCBDDC<br />
B) oitava – sete – ABBCBDDC<br />
C) oitava – cinco – ABBCADDC<br />
D) décima – seis – ABBCADDC<br />
E) décima – sete – ABBCBDDC<br />
Questão 05 – Alternativa A<br />
A questão 05 explora estudos <strong>de</strong> versificação, estrofação e esquema <strong>de</strong> rimas. A alternativa A é verda<strong>de</strong>ira,<br />
uma vez que essa estrofe do poema <strong>de</strong> Patativa do Assaré é constituída <strong>de</strong> oito versos (oitavas), cada linha<br />
poética (verso) contém cinco sílabas (redondilha menor ou verso pentassílabo), com o seguinte esquema <strong>de</strong><br />
rimas: A (terra), B (janeiro, fevereiro, roceiro), C (verão, não), D (consigo, castigo). A quarta estrofe <strong>de</strong> A<br />
Triste Partida apresenta, pois, oitavas com cinco sílabas e o seguinte esquema <strong>de</strong> rimas: ABBCBDDC. A<br />
alternativa B erra o número <strong>de</strong> sílabas dos versos (sete); a C erra o esquema <strong>de</strong> sílabas (ABBCADDC); a D<br />
erra o número <strong>de</strong> versos na estrofe (décima), o número <strong>de</strong> sílabas nos versos (seis) e o esquema <strong>de</strong> rimas<br />
(ABBCADDC) e a E erra o número <strong>de</strong> versos na estrofe (décimas) e o número <strong>de</strong> sílabas nos versos (sete).<br />
06. Analise o que se diz das expressões o roceiro (verso 29); aquele nortista (verso 77); e o pai <strong>de</strong> família<br />
(verso 93) e, a seguir, assinale a alternativa correta.<br />
I. As três expressões em análise remetem para distintos referentes textuais.<br />
II. Cada uma das expressões ressalta um aspecto específico do referente textual a que remete.<br />
III. O emprego <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>ssas expressões vincula-se ao momento da narrativa no qual se insere.<br />
A) Apenas I e III são verda<strong>de</strong>iras.<br />
B) Apenas II e III são verda<strong>de</strong>iras.<br />
C) Apenas I e II são verda<strong>de</strong>iras.<br />
D) Apenas III é verda<strong>de</strong>ira.<br />
E) Apenas II é verda<strong>de</strong>ira.<br />
Questão 06 – Alternativa B<br />
A questão 06 explora referenciação e seqüência narrativa, requerendo que o candidato, após leitura atenta do<br />
que se afirma acerca das formas lexicais o roceiro (verso 29); aquele nortista (verso 77); e o pai <strong>de</strong> família<br />
(verso 93), presentes no cor<strong>de</strong>l A Triste Partida, possa assinalar a única alternativa correta. Obteve êxito o<br />
candidato que assinalou a alternativa B – Apenas II e III são verda<strong>de</strong>iras. O que se afirma em I é falso, pois<br />
as três expressões em análise remetem para o mesmo referente textual. As formas lexicais o roceiro; aquele<br />
nortista e o pai <strong>de</strong> família remetem ao ‘pobre / do seco Nor<strong>de</strong>ste’ (versos 05, 06), sobre o qual o poema<br />
versa. O que se afirma em II é verda<strong>de</strong>iro, pois as três formas lexicais ressaltam distintos aspectos do ‘pobre<br />
do seco Nor<strong>de</strong>ste’. Este é um trabalhador da roça, portanto ‘roceiro’; será cognominado ‘aquele nortista’ em<br />
terras do Sul e tem filhos a criar, portanto ‘pai <strong>de</strong> família’. O que se afirma em III também é verda<strong>de</strong>iro,<br />
pois existe uma inter-relação entre o uso <strong>de</strong> cada uma das expressões e o momento da narrativa no qual se<br />
insere, ou seja, no verso 29, focaliza-se o <strong>de</strong>sespero do nor<strong>de</strong>stino em função da longa estiagem, que<br />
prejudica os que sobrevivem da roça, daí a referência a “roceiro”; no verso 77, o nor<strong>de</strong>stino já está referido<br />
sob a perspectiva do habitante da terra para a qual migrou, daí a referência a “aquele nortista”; no verso 93,<br />
a situação <strong>de</strong> penúria na qual se encontra o sertanejo é agravada pelo fato <strong>de</strong> ter uma família que <strong>de</strong>le<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, daí a referência a “o pai <strong>de</strong> família”.<br />
07. A forma verbal protesta po<strong>de</strong> substituir, sem alterar o significado do texto, a grifada em:<br />
A) <strong>de</strong>scamba janeiro (verso 26).<br />
B) reclama o roceiro (verso 29).<br />
C) Apela pra março (verso 33).<br />
D) convida a família (verso 43).<br />
E) chega o triste dia (verso 67).<br />
Questão 07 – Alternativa B<br />
A questão 07 explora vocabulário e requer que o candidato conheça o significado da forma verbal protesta e,<br />
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em seguida, escolha a alternativa na qual a forma verbal presente no verso ali transcrito po<strong>de</strong> ser substituída,<br />
sem alterar o significado do texto, por protesta. É correta a alternativa B, pois reclama equivale<br />
semanticamente a protesta. Segundo Ferreira (s/d), protestar significa rebelar-se, queixar-se, clamar, bradar.<br />
08. Assinale a alternativa na qual se transcreve um elemento do texto que tem a mesma função sintática <strong>de</strong> a<br />
cigarra (verso 22).<br />
A) meu Deus (verso 04)<br />
B) a experiência (verso 10).<br />
C) sua crença (verso 11).<br />
D) o resto da fé (verso 40).<br />
E) a família (verso 43).<br />
Questão 08 – Alternativa D<br />
A questão 08 explora sintaxe e exige que o candidato reconheça que elemento transcrito do texto tem a<br />
mesma função sintática <strong>de</strong> a cigarra (verso 22). Nos versos o sol tão vermeio / nasceu muito além / na copa<br />
da mata / buzina a cigarra (versos 19-22), a cigarra é sujeito do verbo buzinar. É correta a alternativa D,<br />
visto que o resto da fé (verso 40) é sujeito <strong>de</strong> foge (verso 39). As <strong>de</strong>mais alternativas estão erradas. A<br />
alternativa A, porque meu Deus (verso 04) tem função <strong>de</strong> vocativo; B, C e E, porque a experiência (verso<br />
10), sua crença (verso 11) e a família (verso 43) são objeto direto, respectivamente, <strong>de</strong> fez, per<strong>de</strong>u e convida.<br />
As questões <strong>de</strong> 09 a 12 focalizam a obra Cordéis e Outros Poemas.<br />
09. No cor<strong>de</strong>l Antônio Conselheiro, lemos:<br />
Este cearense nasceu / lá em Quixeramobim, / se eu sei como ele viveu, / sei como foi o seu fim. / Quando<br />
em Canudos chegou, / com amor organizou / um ambiente comum / sem enredos nem engodos, / ali era um<br />
por todos / e eram todos por um<br />
A história <strong>de</strong> Antônio Conselheiro, lí<strong>de</strong>r da Revolta <strong>de</strong> Canudos, evocada por Patativa, é tema também <strong>de</strong>:<br />
A) O Quinze, <strong>de</strong> Raquel <strong>de</strong> Queiroz.<br />
B) Os Sertões, <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s da Cunha.<br />
C) Macunaíma, <strong>de</strong> Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>.<br />
D) Vidas Secas, <strong>de</strong> Graciliano Ramos.<br />
E) Gran<strong>de</strong> Sertão: Veredas, <strong>de</strong> Guimarães Rosa.<br />
Questão 09 – Alternativa B<br />
A questão 09 explora conhecimentos <strong>de</strong> Literatura Brasileira e solicita que o candidato indique a alternativa<br />
que apresenta a obra que, assim como o cor<strong>de</strong>l Antônio Conselheiro, <strong>de</strong> Patativa do Assaré, tematiza a<br />
história <strong>de</strong> Antônio Conselheiro e da Revolta <strong>de</strong> Canudos. É correta a alternativa B, pois em Os Sertões,<br />
publicado em 1902, Eucli<strong>de</strong>s da Cunha <strong>de</strong>nuncia o extermínio <strong>de</strong> aproximadamente 25.000 pessoas no<br />
interior baiano, trazendo à luz, pela primeira vez na Literatura, as verda<strong>de</strong>iras condições <strong>de</strong> vida no<br />
Nor<strong>de</strong>ste brasileiro. Na obra, Eucli<strong>de</strong>s da Cunha aborda a Campanha <strong>de</strong> Canudos, que representa os erros<br />
cometidos pela República, ao avaliar, <strong>de</strong> forma equivocada, os problemas nacionais. A Revolta <strong>de</strong> Canudos,<br />
no sertão baiano, foi consi<strong>de</strong>rada um foco monarquista que colocava em risco a vida republicana. As <strong>de</strong>mais<br />
alternativas estão erradas: A porque O Quinze, <strong>de</strong> Rachel <strong>de</strong> Queiroz, focaliza o Ceará, sua gente, sua terra,<br />
as secas e é, portanto, marcado pelo caráter fortemente regionalista; C porque Macunaíma, <strong>de</strong> Mário <strong>de</strong><br />
Andra<strong>de</strong>, enfoca o choque do índio amazônico (nasceu preto e virou branco) com a tradição e a cultura<br />
européias, valendo-se para tanto <strong>de</strong> profundos estudos <strong>de</strong> folclore; D porque, em Vidas Secas, Graciliano<br />
Ramos narra as peripécias <strong>de</strong> uma família <strong>de</strong> sertanejos nor<strong>de</strong>stinos na luta pela sobrevivência. O autor<br />
focaliza os modos <strong>de</strong> ser e as condições <strong>de</strong> existência das personagens. A paisagem do Nor<strong>de</strong>ste, o<br />
sofrimento do sertanejo, a seca e o drama dos retirantes fazem parte do enredo <strong>de</strong> Vidas Secas. Fabiano,<br />
personagem principal, é um ser oprimido, moldado pelo sertão; E, porque, em Gran<strong>de</strong> Sertão: Veredas,<br />
Guimarães Rosa, embora abor<strong>de</strong> aspectos do sertão, não explora a temática da migração nor<strong>de</strong>stina em<br />
<strong>de</strong>corrência da seca. Na verda<strong>de</strong>, na obra, a personagem principal, Riobaldo, <strong>de</strong> aparência simples, vivendo<br />
no sertão, em meio aos jagunços, faz inúmeras perguntas sobre si mesmo e sobre as coisas que o ro<strong>de</strong>iam,<br />
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ansioso por <strong>de</strong>finir o mundo em que vive. Nesta obra, o sertão é focalizado ora particular, pequeno,<br />
próximo, ora universal e infinito.<br />
10. No cor<strong>de</strong>l O Padre Henrique e o Dragão da Malda<strong>de</strong>, lemos:<br />
Vendo a medonha opressão / que vem do instinto profano, / me vem à mente o que disse / o gran<strong>de</strong> bardo<br />
baiano / O Poeta dos Escravos / apelando ao Soberano / “Senhor Deus dos <strong>de</strong>sgraçados! / Dizei-me vós,<br />
Senhor Deus! / Se é loucura... se é verda<strong>de</strong> / Tanto horror perante os céus.”<br />
Assinale a alternativa que apresenta o poema ao qual, nessa estrofe, Patativa do Assaré faz alusão.<br />
A) Essa Negra Fulô.<br />
B) Canção do Exílio.<br />
C) O Navio Negreiro.<br />
D) Cântico do Calvário.<br />
E) Morte e Vida Severina.<br />
Questão 10 – Alternativa C<br />
A questão 10 explora conhecimentos <strong>de</strong> Literatura Brasileira e habilida<strong>de</strong> leitora <strong>de</strong> <strong>de</strong>preensão <strong>de</strong><br />
intertextualida<strong>de</strong>, exigindo que o candidato i<strong>de</strong>ntifique, nas estrofes do poema O Padre Henrique e o<br />
Dragão da Malda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> Patativa do Assaré, transcritas na questão, a alusão ao poeta romântico Castro Alves,<br />
O Poeta dos Escravos, e ao seu poema <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncia à escravidão O Navio Negreiro. Castro Alves pertenceu à<br />
3ª fase da geração romântica, também chamada <strong>de</strong> condoreira, por ter o condor (pássaro que voa muito alto)<br />
como símbolo <strong>de</strong> sua poesia. Poeta altissonante, grandiloqüente e apelativo, Castro Alves é cognominado<br />
“Poeta dos Escravos”, por tematizar o drama social gerado com a importação <strong>de</strong> escravos africanos, durante<br />
o período do Império, no Brasil do século XIX. Eloqüente orador, <strong>de</strong>fensor ferrenho das causas dos<br />
excluídos da socieda<strong>de</strong>, é o poeta mais representativo da poesia <strong>de</strong> caráter social, uma das tendências<br />
poéticas do Romantismo brasileiro. Em seus poemas, Castro Alves cantou a República, o abolicionismo, a<br />
igualda<strong>de</strong> social, fazendo <strong>de</strong> sua arte uma ban<strong>de</strong>ira a favor dos oprimidos. Além da poesia <strong>de</strong> caráter social,<br />
o poeta romântico também cantou o amor, a mulher, a morte, o sonho. Em gesto <strong>de</strong> intertextualida<strong>de</strong><br />
explícita, Patativa evoca a lembrança ao gran<strong>de</strong> bardo baiano e faz seu o apelo ao Soberano <strong>de</strong>clamado pelo<br />
Poeta dos Escravos, agora em nome do estudante perseguido pelo po<strong>de</strong>r da ditadura, do operário, do<br />
agricultor, do índio e do próprio negro, o qual, segundo Patativa, é o mais <strong>de</strong>sprotegido (44 a estrofe do<br />
poema, p. 23). As <strong>de</strong>mais alternativas estão erradas, pois nenhum dos títulos nelas constantes remete a<br />
poemas da autoria <strong>de</strong> Castro Alves. Essa Negra Fulô é poema <strong>de</strong> Jorge <strong>de</strong> Lima, que versa sobre uma<br />
senhora e sua mucama, uma escrava. Canção do Exílio é poema <strong>de</strong> Gonçalves Dias, do Romantismo<br />
brasileiro, no qual o poeta expressa a solidão <strong>de</strong> seu exílio geográfico e sentimental, quando estudava<br />
Direito, na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra, com apenas 20 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Gonçalves Dias inaugura a temática do<br />
exílio e da evasão na Literatura Brasileira, popularizada, no Mo<strong>de</strong>rnismo, pelo poema Vou-me Embora pra<br />
Pasárgada,<strong>de</strong> Manuel Ban<strong>de</strong>ira. Cântico do Calvário é poema <strong>de</strong> Fagun<strong>de</strong>s Varela, também do Romantismo<br />
brasileiro, que tematiza a dor e o sofrimento <strong>de</strong> um pai ante a morte do filho querido, não se enquadrando,<br />
portanto, nos versos citados por Patativa do Assaré. Por fim, Morte e Vida Severina é poema <strong>de</strong> João Cabral<br />
<strong>de</strong> Melo Neto, da terceira fase do Mo<strong>de</strong>rnismo brasileiro, e <strong>de</strong>nuncia a miséria <strong>de</strong> pobres nor<strong>de</strong>stinos diante<br />
do flagelo da seca, não aludindo, portanto, ao tema da escravidão.<br />
11. Assinale a alternativa correta quanto à correlação entre o título do cor<strong>de</strong>l que integra Cordéis e Outros<br />
Poemas e a temática por ele abordada.<br />
TÍTULO DO CORDEL TEMÁTICA<br />
A) Vicença e Sofia ou o Castigo <strong>de</strong> Mamãe – preconceito racial<br />
B) O Meu Livro – crítica ao regime ditatorial<br />
C) Brosogó, Militão e o Diabo – <strong>de</strong>núncia da ação dos latifundiários<br />
D) As Façanhas <strong>de</strong> João Mole – saga do nor<strong>de</strong>stino em terras do Sul<br />
E) O Doutor Raiz – <strong>de</strong>voção do nor<strong>de</strong>stino ao Padre Cícero<br />
Questão 11 – Alternativa A<br />
A questão 11 explora compreensão leitora da obra Cordéis e Outros Poemas, requerendo que o candidato<br />
proceda à escolha da única alternativa na qual consta a a<strong>de</strong>quada correlação: título do cor<strong>de</strong>l que integra<br />
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Cordéis e Outros Poemas – temática abordada. Obteve êxito o candidato que i<strong>de</strong>ntificou a correlação entre<br />
Vicença e Sofia ou o Castigo <strong>de</strong> Mamãe e a temática “preconceito racial” como correta, assinalando,<br />
portanto, a alternativa A. Em Vicença e Sofia ou o Castigo <strong>de</strong> Mamãe, a temática “preconceito racial” vem à<br />
tona no comportamento da mãe do protagonista da comovente história narrada em verso por Patativa. A mãe<br />
<strong>de</strong> Romeu (belíssima intertextualida<strong>de</strong> com o ‘Romeu’ <strong>de</strong> William Shakespeare) opõe-se ferrenhamente ao<br />
casamento do filho em função da cor da pele da preten<strong>de</strong>nte; Vicença é negra. ‘O castigo <strong>de</strong> mamãe’,<br />
presente no título do cor<strong>de</strong>l, <strong>de</strong>corre da <strong>de</strong>cepção que sua outra nora, Sofia, a branca Sofia, reservou à mãe<br />
<strong>de</strong> Romeu. O irmão <strong>de</strong> Romeu, José, casou-se com a branca e loira Sofia, que, nas palavras do poeta, botoulhe<br />
‘chifre’ (verso 270), para <strong>de</strong>sgosto da preconceituosa mãe <strong>de</strong> Romeu. Desencantada com o<br />
comportamento da ‘<strong>de</strong>scarada’ (verso 268) nora branca, a mãe <strong>de</strong> Romeu volta-se para Vivença com outros<br />
olhos, agora capazes <strong>de</strong> enxergar a bela alma <strong>de</strong> Vivença. Interessante notar que, a fim <strong>de</strong> provar a<br />
inveracida<strong>de</strong> da afirmação segundo a qual ‘preto tem toda faia’ (verso 08), Patativa recorre ao expediente <strong>de</strong><br />
construção textual que consiste na disposição <strong>de</strong> atributos antitéticos constitutivos das personagens Vicença<br />
e Sofia ao longo das estrofes do poema: se aquela era ‘preta da cô <strong>de</strong> carvão’ (verso 20), esta era ‘branca do<br />
cabelo lôro’ (verso 232); enquanto aquela ‘sabia trabaiá’ (verso 24), esta ‘Dos trabaio <strong>de</strong> cozinha/ ela não<br />
sabia nada’ (versos 237, 238). E assim vai o poeta traçando o perfil das duas personagens <strong>de</strong> modo a nos<br />
conduzir à reflexão acerca dos ‘rabo <strong>de</strong> paia / que muitos branco carrega’ (versos 09,10), não sendo a cor da<br />
pele parâmetro válido a guiar o olhar sobre o outro. A alternativa B está falsa, porque o cor<strong>de</strong>l O Meu Livro<br />
tematiza o saber do homem do sertão, saber em nada inferior ao do homem letrado, pois advindo o primeiro<br />
da inter-relação homem–natureza, como diz o poeta ‘ABC nem beabá / no meu livro não se encerra./ O meu<br />
livro é naturá / é o má, o céu e a terra / cum a sua imensida<strong>de</strong>. / Livro cheio <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> / da beleza e <strong>de</strong><br />
primô, / tudo inca<strong>de</strong>rnado, inscrito / pelo pudê infinito / do nosso Pai Criadô.’ (versos 11-20). O cor<strong>de</strong>l que<br />
tematiza a “crítica ao regime ditatorial” é o Padre Henrique e o Dragão da Malda<strong>de</strong>. Neste, Patativa<br />
<strong>de</strong>nuncia a violência do regime militar, metaforizado no poema como ‘o Dragão da Malda<strong>de</strong>’ (verso 60),<br />
que, no dia 27 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1969, barbaramente matou, na cida<strong>de</strong> do Recife, o jovem Padre Antonio<br />
Henrique, <strong>de</strong> apenas 29 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. As alternativas C e D estão falsas, porque os cordéis Brosogó,<br />
Militão e o Diabo e As Façanhas <strong>de</strong> João Mole são contos populares que encerram ensinamentos morais. O<br />
cor<strong>de</strong>l Brosogó, Militão e o Diabo, apresentado pelo poeta Patativa como ‘folheto’ (verso 262) objetiva<br />
mostrar que ‘Quem faz um gran<strong>de</strong> favor / mesmo <strong>de</strong>sinteressado / por on<strong>de</strong> quer que ele an<strong>de</strong> / leva um<br />
tesouro guardado / e um dia sem esperar / será bem recompensado (versos 07-12). Com o intuito <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>monstrar a verda<strong>de</strong> contida na assertiva acima transcrita, Patativa passa a narrar, em versos, a inusitada<br />
história <strong>de</strong> Chico Brosogó, que, por sua bonda<strong>de</strong> <strong>de</strong> até ao Diabo ter acendido uma vela, fora por este<br />
ajudado a se livrar das trapaças do rico e oportunista Militão. Assim, o cor<strong>de</strong>l tematiza o valor da bonda<strong>de</strong><br />
sincera nos momentos <strong>de</strong> apuros. Já As Façanhas <strong>de</strong> João Mole, apresentado pelo poeta como ‘pequenino<br />
drama’ (verso 01), objetiva mostrar ‘que <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> cada homem / um pouco <strong>de</strong> ação está / e um só homem<br />
sem coragem / no nosso mundo não há’ (versos 03-06). A fim <strong>de</strong> que ninguém <strong>de</strong>sminta o poeta, esse passa<br />
a narrar, em versos, a história <strong>de</strong> João Mole, o qual vivia a apanhar da mulher e da sogra, até o dia em que<br />
<strong>de</strong>ci<strong>de</strong> parar <strong>de</strong> viver uma vida tão lastimável. De homem que apanhava da mulher e da sogra a cangaceiro<br />
<strong>de</strong>stemido do grupo <strong>de</strong> Lampião, essa é a saga <strong>de</strong> João Mole. Assim, o cor<strong>de</strong>l tematiza a coragem como<br />
característica intrínseca ao ser humano; nas palavras do poeta lemos: ‘Agora, caro leitor, / Não <strong>de</strong>saprove o<br />
que digo / Todo homem tem coragem / O rico, o pobre e o mendigo / No ponto da hora H / Insulte um e verá<br />
/ O mais feroz inimigo’. (estrofe conclu<strong>de</strong>nte do poema). As temáticas “<strong>de</strong>núncia da ação dos latifundiários”<br />
e “saga do nor<strong>de</strong>stino em terras do Sul” fazem-se presentes em alguns dos cordéis da coletânea, entre eles, A<br />
Triste Partida e Emigração. Por fim, a alternativa E está falsa, porque o cor<strong>de</strong>l O Doutor Raiz apresenta<br />
como temática a <strong>de</strong>núncia à exploração da fé do sertanejo por parte dos que ven<strong>de</strong>m beberagens prometendo<br />
curas. Acerca do raizeiro, <strong>de</strong>nuncia o poeta: ‘On<strong>de</strong> o raizeiro passa / <strong>de</strong>ixa o camponês a rasto, / faz o pobre<br />
sem dinheiro / fazer um enorme gasto, / pois esta classe sem alma / <strong>de</strong> gente só tem o rastro (versos 304-<br />
309). A “<strong>de</strong>voção do nor<strong>de</strong>stino ao Padre Cícero” é temática do cor<strong>de</strong>l Saudação ao Juazeiro do Norte.<br />
12. Em Cordéis e Outros Poemas, várias são as palavras que estão grafadas na tentativa <strong>de</strong> reproduzir o falar<br />
popular nor<strong>de</strong>stino. Assinale a alternativa cujo par apresenta, em relação à norma culta, variação <strong>de</strong><br />
pronúncia em função do mesmo fenômeno fonético.<br />
A) diciprina – foia<br />
B) conseio – tecrado<br />
C) vermeio – trabaio<br />
D) orguio – compreto<br />
E) subrime – trapaiada<br />
Questão 12 – Alternativa C<br />
A questão 12 explora conhecimentos <strong>de</strong> aspectos fonéticos do português não-padrão, requerendo que o<br />
candidato assinale a alternativa cujo par <strong>de</strong> palavras nela constante apresente, em relação ao português<br />
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padrão (norma culta), variação <strong>de</strong> pronúncia em função do mesmo fenômeno fonético. Nessa questão,<br />
exploram-se, especificamente, dois fenômenos fonéticos presentes na fala dos brasileiros falantes das<br />
varieda<strong>de</strong>s não-padrão do português; a saber: rotacismo – passagem do /l/ para o /r/ em encontros<br />
consonantais (diciprina; compreto; tecrado; subrime) e assimilação do / λ / pelo /y/ (foia; orguio; vermeio;<br />
trabaio; conseio; trapaiada). Obteve êxito o candidato que assinalou a alternativa C, pois é a única em que<br />
há apenas palavras com variação <strong>de</strong> pronúncia em função do mesmo fenômeno fonético; assimilação do / λ /<br />
pelo /y/ - vermeio; trabaio. Nas <strong>de</strong>mais alternativas, mesclam-se palavras <strong>de</strong> ambos os fenômenos fonéticos.<br />
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