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OLHARES DE OUTONO 2006

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<strong>OLHARES</strong> <strong>DE</strong> <strong>OUTONO</strong> <strong>2006</strong><br />

MECENATO CULTURAL DA ARTE CONTEMPORÂNEA: QUE<br />

<strong>DE</strong>SAFIOS?<br />

João Fernandes | (Museu Serralves)<br />

Ilídio Pinho | (Fundação Ilídio Pinho)<br />

Moderador: | Paulo Ferreira Lopes | (UCP)<br />

Sessão-debate “Salvaguardar o passado, dotar o futuro, doar no presente – Mecenato Cultural é<br />

agir com responsabilidade na defesa do Património”<br />

Isabel Cruz Almeida Directora do Mosteiro dos Jerónimos e da Torre de Belém e Vice-Presidente<br />

da World Monuments Fund - Portugal<br />

A arte é seguramente um dos elementos chave da construção de uma cultura. Mais de dois séculos<br />

após as primeiras revoluções culturais provenientes da invenção de uma nova organização social e de<br />

um desenvolvimento exponencial das ciências e das técnicas, as relações entre o artista, o cidadão e o<br />

mediador/promotor têm vindo a alterar-se dando origem a novos modelos de economia política da arte.<br />

Queremos pensar as questões do financiamento da arte, mais especificamente do Mecenato artístico,<br />

que de um modo global terão de ser perspectivadas face ao panorama cultural nacional, mas precisam<br />

também de ser reflectidas e debatidas para cada área em concreto. Pela sua parte, as Artes Digitais fazem<br />

a sua entrada oficial no mundo da Arte nos finais da década 90, quando os museus e galerias começam<br />

gradualmente a incorporar esta nova forma de Arte nas suas colecções e a lhe dedicarem exposições<br />

exclusivas. Pelas suas características próprias, a constituição e a consolidação deste novo domínio de<br />

criação artística, colocam um conjunto de desafios distintos. Sem querer identificá-los de forma exaustiva,<br />

vale a pena deixar já presentes algumas das questões que vemos sem resposta definida ainda.<br />

- Trata-se de um domínio artístico particularmente experimental que acompanha ou provoca a<br />

emergência da inovação nas tecnologias da informação e da comunicação. Daqui resulta a necessidade<br />

de aceder a equipamento sofisticado a par com uma grande flexibilidade dos espaços de criação e<br />

exibição, normalmente preparados para outros formatos como as artes plásticas ou as artes performativas.<br />

- Assume-se também como um domínio transdisciplinar pois cada vez mais as obras são projectos<br />

investigativos e experimentais que combinam os contributos de artistas mas também de engenheiros e<br />

técnicos, cientistas e investigadores das áreas sociais, biológicas, físicas, etc, Deste modo, é-lhe<br />

acrescentada uma dimensão organizativa fundamental para a boa execução de cada projecto. A constituição<br />

e a manutenção de equipas multidisciplinares desafiam os modelos tradicionais de organização dos<br />

projectos assim como do apoio que necessitam.<br />

- Sendo um domínio ainda emergente e exigente em termos de recursos, tem vindo a desenvolverse<br />

entre o contexto académico e a indústria do entretenimento. Torna-se difícil, para o criador independente<br />

neste contexto, exercer actividade artística continuada na área, pois não usufrui de estabilidade e vê<br />

dificultado o acesso aos meios de criação. Como podem então subsistir os independentes é uma das<br />

questões de resposta difícil neste domínio.<br />

- A relação dos criadores tanto com as instituições culturais como com o seu público está a flexibilizarse,<br />

seja por força da utilização da Internet, seja pela multiplicação e pela informalização de espaços,<br />

eventos e formas de apresentação pública o que vem também questionar os modos da presença institucional<br />

no apoio à criação e à exibição.


Hoje, pelo mundo fora, um número crescente de instituições e eventos assumem e promovem as<br />

artes digitais como uma das artes contemporâneas com maior força expressiva dos tempos que correm.<br />

Em Portugal, a comunidade correspondente parece constituir-se por impulsos e de forma dispersa,<br />

tanto ao nível institucional como dos próprios criadores. O público reage de acordo com a sua familiarização<br />

com os meios. Por um lado, parece aderir com entusiasmo às obras que lhe são apresentadas nos circuitos<br />

mais comerciais (como os filmes de animação, os efeitos especiais visuais e sonoros, etc.) e por outro<br />

existe a percepção que estranha tanto os novos formatos tecnológicos como as novas lógicas de interacção<br />

que lhe são propostas nos circuitos ditos mais artísticos. Esta estranheza será apenas uma questão de<br />

tempo? Como promover a literacia digital?<br />

Pensar o papel e a dimensão do mecenato artístico neste quadro é então, procurar resposta para<br />

um conjunto de desafios sempre evolutivos. Levantam-se as questões que terão sido levantadas em todos<br />

os tempos, agora no campo das artes cujas obras estão sempre em rápida desactualização tecnológica,<br />

permitem múltiplas cópias de qualidade igual à original e, em consequência, sem uma lógica de valorização<br />

crescente de um património adquirido.<br />

Segundo Chus Martínez, “um curador é um agente cultural que trabalha para que as artes criem<br />

um espaço público de reflexão sobre questões contemporâneas”. Que tipo de instituições pode assumirse<br />

como um espaço para essa prática? E de que forma podem as instituições apoiar este processo? E<br />

quais os critérios para a selecção de obras ou artistas para uma exposição?<br />

Observando o panorama nacional, pode-se verificar que os investimentos nos meios dedicados à<br />

arte, têm sido feitos não tanto no apoio à criação, como aconteceu nas anteriores épocas de mutações,<br />

mas sobretudo na difusão e na conservação da obra já existente.<br />

Ainda assim, interessa perguntar: De que forma se podem caracterizar as práticas mecenáticas<br />

das empresas e dos mecenas em Portugal? Qual o perfil dos que procuram obter apoio mecenático para<br />

as suas iniciativas culturais? E qual o perfil dos que dispensam esse apoio? Quais as motivações que<br />

levam as empresas-mecenas a apoiar projectos culturais? De forma o mecenato cultural se insere no<br />

fenómeno da passagem de bens culturais para produtos culturais. E, sobretudo, como pode o mecenato<br />

reforçar as condições de criação artística contemporânea e assim deixar às gerações vindouras também<br />

o papel de conservarem a herança recebida do início do séc.XXI?

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