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Um Mundinho Maior - B612

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decreto do rei! Resolveu ir até lá pessoalmente, mas a mãe dele contou aos prantos que ele tinha se<br />

mudado, pra morar com o namorado, e que ninguém sabia o que fazer pra colocar juízo na cabeça<br />

daquele menino.<br />

Ítalo voltou pra casa e estava mais sozinho do que nunca. <strong>Um</strong>a ilha de carência rodeada por<br />

ausências de todos lados. E sabia que só ia piorar. Todo mundo viajaria nas férias, só ele que não.<br />

Ficaria em casa, sendo a empregada doméstica do pai, e sem mais o que fazer. Sem ter com quem<br />

sair, com quem conversar. Aquela maldita lata velha do computador tinha de dar pau justo agora!<br />

Quando perdia as estribeiras e reclamava publicamente que ninguém gostava dele, sempre<br />

lhe repreendiam e listavam todas as pessoas que achavam‐no super legal. Legal o caralho! Só<br />

simpatia secundária! Ninguém entendia! Não era sobre isso que ele estava falando! Do que sempre<br />

falou. Foi sempre um pedido tácito de afeto. Afeto exclusivo, e não desses por atacado. De algum<br />

sentimento especial. De alguém que desmarcasse os outros compromissos pra passar algum tempo<br />

com ele. De alguém que desse o bolo em outra pessoa pra não dar o bolo nele. De alguém que entre<br />

todas as pessoas do mundo tivesse por ele um afeto particular. Que o chamasse de melhor amigo, ou<br />

namorado, ou filho, ou qualquer coisa que não se deixa em segundo plano por padrão. Queria ser<br />

prioridade pra alguém em algum sentido.<br />

Continuou seu exercício de discagem, até que alguém atendeu. Lusa! Já era sexta‐feira, e Ítalo<br />

podia usar como pretexto por ter ligado a trilha que eles tinham marcado para o dia seguinte.<br />

Carente como estava, ouviria de bom grado as lamentações amorosas da rejeitada professora. Mas<br />

ela atendeu o telefone e Ítalo ouviu o barulho de uma cachoeira. Lusa estava lá com o namorado.<br />

Haviam reatado. Ainda bem que Ítalo ligou, pois ela não sabia se teria tempo de ligar pra avisar que<br />

a trilha fora cancelada, por motivos óbvios, oras!<br />

Ainda não era noite, o que tornou tudo menos difícil. Ítalo quebrou o cofrinho de Titanic que<br />

se dera de presente em algum aniversário que já não se lembrava mais. Contou as moedas. Colocou<br />

tudo no bolso, e na inseparável mochila surrada colocou esperanças e mais algumas poucas coisas<br />

que ainda lhe interessavam, e foi para uma lan‐house reencontrar o seu velho amigo Google. Aliás,<br />

desde que se lembrava, este era seu único amigo que sempre esteve lá.<br />

XIII. Ítalo<br />

Caio ficou puto da vida quando soube que não ganhou o concurso de poesia do colégio.<br />

Como não? Era impossível! Explicou que não era arrogante, mas sabia que não havia ninguém no<br />

colégio que escrevesse melhor do que ele. Que grande injustiça! Não se conformava por perder essa<br />

oportunidade. O poema vencedor seria publicado na edição de fim de ano do jornal da escola.<br />

Caio quis saber então quem é que tinha ganhado, quem tinha escrito um poema melhor do<br />

que o dele, e quando o nome Ítalo foi pronunciado, aí invocou de vez! Sentiu como se fosse uma<br />

facada pelas costas. Aquele traidor nunca tinha comentado nada sobre também escrever poesia. Nem<br />

que concorreria ao concurso. Ele não podia ter feito isso comigo! Será que ele não roubou um poema<br />

meu, um dos que mandei pra ele?, pensou Caio. Não, não, o Ítalo não faria isso. O que ele ganharia<br />

com isso? Não. O Ítalo era um cara legal. Certamente teria uma boa explicação pra tudo isso. Caio se<br />

conformou um pouco quando pensou no sorriso do amigo.<br />

Era sábado. O resultado oficial só seria divulgado na segunda, mas Caio tinha contatos<br />

influentes. E já quase sem ressentimentos quis dividir a notícia quentinha com o vencedor. Foi até a<br />

casa dele, mas não tinha ninguém. Lembrou‐se de que Ítalo tinha comentado algo sobre uma trilha<br />

de bicicleta naquele sábado.<br />

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