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musculação. Atividades, cabeleireiro. E participava de várias comunidades da Gisele Bündchen, Ana<br />
Hickmann, e todas essas modelos famosas na TV.<br />
Marcaram de se encontrar num elegante café à beira‐mar, um bem famoso na cidade, e a<br />
primeira coisa que Ítalo reparou é que não podia comprar nada lá com menos de um real. E se sentia<br />
muito desconfortável ao se sentar sozinho numa mesa daquelas enquanto esperava os outros três.<br />
Por anos de experiência, sabia que o risco de algum deles (ou mesmo todos) não aparecer era muito<br />
grande. Mas, descontando os atrasos facilmente justificáveis, os três chegaram lá no que Ítalo<br />
considerou uma boa pontualidade. Sentia algo agradavelmente diferente em si e no mundo por todos<br />
terem comparecido. Encheu seus pulmões de boas expectativas, como se estivesse se afogando em<br />
um mar desconhecido de possibilidades.<br />
Os três novos amigos eram já adultos, cheios de assuntos de gente adulta, e pareciam não se<br />
importar nem um pouco de pagar por um café o preço de um saco de arroz. Estavam muito além do<br />
mundinho adolescente suburbano que Ítalo conhecia. E isso o fez imaginar o quanto do mundo ele<br />
ainda teria por descobrir em sua vida. Ele queria. Olhou pela janela o infinito azulado do horizonte e<br />
sentiu um arrepio. Era maior, era maior!<br />
Lusa puxou para si os holofotes do encontro. A professora era espontânea e pra cima.<br />
Preenchia os silêncios deixados à mesa com extrema naturalidade e assuntos ecológicos. Usava os<br />
cabelos ruivos soltos e sem pentear. Usava uns brincos de pena e uns colares que Ítalo via os hippies<br />
vendendo na praia. A imagem que fazia de um professor universitário era bem mais séria e severa.<br />
Franco era mais reservado. Falava apenas quando podia se exibir com o que dizia. E a foto<br />
que Ítalo vira não era de nenhum ator de Hollywood, era de Franco mesmo. Ele era bem alto, de pele<br />
bem negra, dentes bem brancos, de corpo bem definido e de cabeça raspada, daquelas que até<br />
brilham. E usava umas roupas descoladas e óculos que lhe davam um ar de celebridade. Era do Rio<br />
de Janeiro e só ficaria na cidade por alguns meses, para uma campanha publicitária.<br />
E Germano era o que falava as coisas engraçadas. Tinha sempre uma tirada cômica para cada<br />
assunto. E quase todas de cunho sexual. Quando o garçom trouxe uma banana split à mesa... bem,<br />
Germano era mesmo o tipo de cara que não precisa fazer força pra ser engraçado. Bastava olhar pra<br />
ele. A voz arrastada, os vocativos íntimos, meu bem. Meu amor, escuta. Vem cá, minha flor. Tentava<br />
ser fashion, mas ao contrário de Franco, apenas conseguia parecer espalhafatoso, com roupas<br />
chamativas e o cabelo como se tivesse levado um choque, cheio de mechas, gel, pomada e todas essas<br />
coisas.<br />
Beberam, comeram, falaram o quanto tinham pra falar em um encontro de quatro pessoas<br />
desconhecidas e então, um por um, eles foram dando suas desculpas pra retornarem logo às suas<br />
vidinhas e deixaram Ítalo sozinho novamente. E assim se fez. Só que aquela solidão era mais branda,<br />
machucava menos, Ítalo não sabia explicar, mas voltou pra casa com uma sensação boa. Diferente.<br />
Quase não cabia em si de tanta empolgação pueril, e seu pai achou que ele já estava pegando os<br />
trejeitos típicos dos viados.<br />
VII. Vendo O Mundo<br />
Ítalo nem se lembrou de evitar o pai naquele resto de dia. Estava tomado por um sentimento<br />
promissor, uma visão entorpecente de uma grandeza da qual nunca provara antes. Precisava narrar<br />
sua aventura pra alguém. Sentia que precisava. Não seria a mesma coisa se não contasse pra alguém.<br />
Mas nenhum colega atenderia tão prontamente a um chamado seu. Certamente, seria preterido por<br />
todas as outras coisas que os outros tinham pra fazer.<br />
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