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HISTÓRIA PREGRESSA A história da hipnose, na ... - Karma

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<strong>HISTÓRIA</strong> <strong>PREGRESSA</strong><br />

A <strong>história</strong> <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong>, <strong>na</strong> reali<strong>da</strong>de, iniciou-se antes <strong>da</strong> existência de qualquer relato<br />

escrito <strong>da</strong> <strong>história</strong> huma<strong>na</strong>. Nas cerimônias religiosas e de cura de todos os povos<br />

primitivos que já habitaram este planeta existem elementos essenciais para induzir<br />

seus participantes em transe hipnótico. Assume-se, portanto, pelo estudo <strong>da</strong>s<br />

cerimônias de povos primitivos ain<strong>da</strong> existentes <strong>na</strong> África, <strong>na</strong> Austrália e em outros<br />

lugares, que, mesmo antes <strong>da</strong> <strong>história</strong> começar a ser grava<strong>da</strong>, as induções eram<br />

realiza<strong>da</strong>s através de cantos rítmicos, bati<strong>da</strong>s monóto<strong>na</strong>s de tambores, juntamente<br />

com o olhar fixo dos olhos acompanhado de catalepsia do resto do corpo.<br />

Tais cerimônias primitivas tinham como ponto essencial o foco central <strong>da</strong> atenção,<br />

com áreas neurológicas vizinhas de inibição, sendo estes dois fatores responsáveis<br />

por 95% <strong>da</strong> indução do transe hipnótico. Na reali<strong>da</strong>de é sem importância que estas<br />

cerimônias sejam chama<strong>da</strong>s de religiosas, curandeirismo ou uma combi<strong>na</strong>ção de<br />

ambas. O fato é que o estado de transe existia e seu caráter era hipnótico, apesar de<br />

que a palavra "<strong>hipnose</strong>" jamais fora aplica<strong>da</strong> a ele antes de Braid cunhar o termo em<br />

1842.<br />

Todos aqueles que viajam através do mundo estão familiarizados com indús,<br />

faquires, iogues, encantadores de serpentes, e adeptos <strong>da</strong> Magia no ocidente que<br />

induzem em si e em outros, estados catalépticos através <strong>da</strong> fixação dos olhos e de<br />

outras técnicas de mesmerismo, capazes de realizar proezas físicas e de elimi<strong>na</strong>r a<br />

dor.<br />

Um incidente interessante foi relatado por James Es<strong>da</strong>ile, autor de Hypnosis in<br />

Medicine and Surgery, onde descreve um método para se produzir anestesia usado<br />

por um famoso mago oriental <strong>da</strong> época: "9 de Junho de 1845 – Hoje tive a honra de<br />

ser apresentado a um dos mais famosos magos de Bengala, que desfruta de grande<br />

reputação devido ao seu tratamento eficaz <strong>da</strong> histeria, e que havia sido chamado para<br />

prescrever para meu paciente (cujo caso será explicado depois), mas chegou muito<br />

tarde; pois com o sucesso do meu encantamento (Mesmerismo), <strong>na</strong><strong>da</strong> restou para ele<br />

fazer. Baboo Essanchunder Ghosaul, deputado magistrado de Hooghly, a meu<br />

pedido, apresentou-me a ele como um irmão mago, que havia estu<strong>da</strong>do a arte <strong>da</strong><br />

magia em diferentes lugares do mundo, mas particularmente no Egito, onde eu havia<br />

aprendido os segredos do grande Soolevmann, com os mulás e os faquires, e que eu<br />

tinha o grande desejo de comprovar se nossos encantamentos eram os mesmos, pois<br />

os maometanos <strong>da</strong> Europa estimavam muito os homens sábios do oriente, sabendo<br />

que todo conhecimento havia ali se origi<strong>na</strong>do. Eu sugeri que devíamos mostrar<br />

nossos encantamentos um ao outro, e, após convencê-lo, ele concordou em mostrarme<br />

seu processo de alívio <strong>da</strong> dor. Ele pediu um pote de metal contendo água e um<br />

pequeno galho com duas ou três folhas, e começou a resmungar seus encantamentos,<br />

à meio metro de distância do paciente. Logo depois, ele mergulhou seu dedo<br />

indicador <strong>na</strong> água, e, com a aju<strong>da</strong> de seu polegar, jogou pingos no rosto do paciente.<br />

Ele então pegou as folhas e começou a bater <strong>na</strong> pessoa do topo <strong>da</strong> cabeça até os<br />

dedos dos pés, com um vagaroso movimento no ar. As articulações de seus dedos<br />

quase tocavam o corpo do paciente, e ele disse que continuaria com este processo por<br />

uma hora ou mais se necessário. E isto me convenceu de que estes encantadores,<br />

quando quer que tenham sucesso com estes meios, este é devido à influência<br />

mesmérica, provavelmente desconheci<strong>da</strong> para eles mesmos. Eu disse que estava<br />

convencido <strong>da</strong> grande eficácia de seu encantamento, e que agora lhe mostraria o meu,<br />

mas que ele o compreenderia melhor se realizado em sua própria pessoa. Depois de<br />

alguma dificul<strong>da</strong>de, conseguimos fazer com que ele se deitasse e encarasse meus


procedimentos com a devi<strong>da</strong> soleni<strong>da</strong>de. Eu cantei, como uma invocação, o coro de<br />

"Kings of the Cannibal Islands"! Eu queria que ele fechasse seus olhos, e ele apertou<br />

suas pálpebras firmemente, para que eu não achasse a entra<strong>da</strong> para o cérebro através<br />

<strong>da</strong>quele orifício. Depois de quinze minutos ele deu um pulo, dizendo que havia<br />

sentido algo desagradável vindo por cima de si, e quis escapar. Entretanto, ele foi<br />

novamente persuadido a se deitar, e logo vi os músculos em volta de seus olhos<br />

começarem a relaxar e seu rosto tornou-se perfeitamente suave e calmo. Eu estava<br />

certo de que havia pego meu irmão mago tirando uma soneca, mas, depois de alguns<br />

minutos, ele levantou-se repenti<strong>na</strong>mente, juntou as mãos <strong>na</strong> cabeça gritando que se<br />

sentia embriagado, e <strong>na</strong><strong>da</strong> podia induzi-lo a se deitar novamente: "abiit, excessit,<br />

evasit, erupit!". No dia seguinte, eu o encontrei e disse: "Bem, <strong>na</strong> última noite você<br />

foi muito forte para meu encantamento, e não consegui fazer você dormir". "Oh!<br />

Sim, Sahib", respondeu, "Você conseguiu; eu permiti; é permitido que você me faça<br />

dormir".<br />

Tal como Moll observou, estes fenômenos hipnóticos também são constatados como<br />

tendo existido há vários milhares de anos entre os Magos <strong>da</strong> Pérsia, até a presente<br />

época entre os iogues e faquires <strong>da</strong> Índia.<br />

O mais antigo relato registrado de curas através <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> foi obtido nos Papiros de<br />

Ebers, os quais nos dá uma idéia a respeito <strong>da</strong> teoria e prática <strong>da</strong> medici<strong>na</strong> egípcia<br />

antes de 1552 A.C.. Nos Papiros de Ebers é descrito um tratamento no qual o médico<br />

colocava suas mãos sobre a cabeça do paciente e, afirmando possuir poderes sobrehumanos<br />

de cura, recitava estranhos mantras terapêuticos que eram sugeridos aos<br />

pacientes, resultando em cura. O Rei Pyrrhus do Egito, o Imperador Vespasiano,<br />

Francis I <strong>da</strong> França e outros reis franceses até Charles X, praticavam a cura dessa<br />

maneira.<br />

Acredita-se que os egípcios tenham sido os criadores dos "Templos do Sono", nos<br />

quais os sacerdotes administravam tratamento similar em seus pacientes através do<br />

uso <strong>da</strong> sugestão. Estes templos tor<strong>na</strong>ram-se muito populares no Egito, espalhando-se<br />

posteriormente para a Grécia e Ásia Menor.<br />

É sabido que Hipócrates, o médico grego mais frequentemente citado como o "pai <strong>da</strong><br />

medici<strong>na</strong>", e cujo juramento é feito por todos os médicos ao se formarem, discutiu o<br />

fenômeno afirmando que "a aflição sofri<strong>da</strong> pelo corpo, a alma enxerga muito bem<br />

com os olhos cerrados".<br />

Os romanos tomaram emprestado dos gregos a cura pelo transe, bem como diversos<br />

outros aspectos <strong>da</strong> cultura grega, durante o período do grande Império Romano.<br />

Muitos homens de grande sabedoria foram trazidos <strong>da</strong> Grécia como escravos para<br />

ensi<strong>na</strong>r os jovens romanos. Entre os romanos, Esculápio costumava induzir seus<br />

pacientes a um "sono profundo", aliviando a dor através de leves panca<strong>da</strong>s com sua<br />

mão.<br />

O advento do Cristianismo tem muito a ver com o declínio <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> e <strong>da</strong> cura<br />

através do transe, porque a <strong>hipnose</strong> passou a ser considera<strong>da</strong> uma prática de feitiçaria,<br />

e a cura através do transe, quando pratica<strong>da</strong>, era cerca<strong>da</strong> de todo segredo possível.<br />

To<strong>da</strong>via, apesar disto Jesus empregou a <strong>hipnose</strong> para realizar vários de seus milagres.<br />

Uma completa discussão desse assunto é encontra<strong>da</strong> no meu livro Religious Aspects<br />

of Hypnosis, publicado em 1962 por Charles C. Thomas and Co., Springfield,<br />

Illinois.<br />

No século X, Avicen<strong>na</strong>, um grande médico árabe, afirmou: "A imagi<strong>na</strong>ção pode<br />

fasci<strong>na</strong>r e modificar o corpo de um homem, tor<strong>na</strong>ndo-o doente ou restaurando-lhe a<br />

saúde".<br />

Por volta <strong>da</strong> metade do século dezesseis, um homem chamado Theophrastus


Paracelsus expôs uma nova teoria a respeito <strong>da</strong> produção de doenças. Esta teoria<br />

afirmava que certos corpos celestes, especialmente as estrelas, influenciavam o<br />

comportamento dos homens. Ele também postulou que os homens influenciavam uns<br />

aos outros, preceito este que ain<strong>da</strong> é um conceito básico no estudo <strong>da</strong> "psicologia do<br />

comportamento".<br />

Van Helmont, Maxwell <strong>da</strong> Escócia e Santanelli <strong>da</strong> Itália, afirmaram praticamente a<br />

mesma coisa por volta do ano de 1600, estabelecendo a fun<strong>da</strong>ção para o conceito do<br />

magnetismo animal, que mais tarde seria tor<strong>na</strong>do famoso por Mesmer. É possível<br />

provar que quase to<strong>da</strong> civilização antiga estava familiariza<strong>da</strong>, de uma forma ou de<br />

outra, com a <strong>hipnose</strong>. LeCron lembra que está descrito em alguns Mantras indianos,<br />

escritos em caracteres antigos, que os mongóis, os tibetanos e os chineses possuíam o<br />

conhecimento <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong>, e que até mesmo uma descrição detalha<strong>da</strong> do assunto é<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong> no Kalevala, o grande poema épico dos finlandeses.<br />

<strong>HISTÓRIA</strong> MODERNA<br />

Padre Gassner<br />

É irônico o fato de que a <strong>história</strong> moder<strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> inicie-se não com um médico,<br />

mas com um membro do clero, um padre católico que viveu em Klosters. O Padre<br />

Gassner defendia a tese de que, de acordo com as crenças <strong>da</strong> época, os pacientes<br />

doentes estavam possuídos por demônios, que deviam ser banidos, antes que o<br />

paciente pudesse novamente gozar de boa saúde. Gassner obteve o consentimento <strong>da</strong><br />

Igreja para suas ações através <strong>da</strong> afirmação de que Deus estava agindo através dele<br />

para expulsar os demônios que estavam possuindo seus infelizes pacientes.<br />

Diferentemente de outros homens de sua época, o Padre Gassner não fazia segredos<br />

de seus métodos, e freqüentemente permitia que médicos observassem-no<br />

administrando seu tratamento. Os médicos que se apresentavam para observá-lo em<br />

ação eram conduzidos a uma sala pareci<strong>da</strong> com um pequeno teatro onde se<br />

acomo<strong>da</strong>vam, e então o paciente era posicio<strong>na</strong>do numa espécie de palco no centro<br />

desta sala para esperar pelo Padre Gassner. Com o objetivo de melhorar ain<strong>da</strong> mais o<br />

espetáculo, no ‘timing’ de sua entra<strong>da</strong>, Gassner caminhava até a plataforma através<br />

de um longo promontório negro, segurando um grande crucifixo de "ouro" com a<br />

mão estendi<strong>da</strong> ao alto. O paciente era de antemão avisado que quando o Padre<br />

Gassner o tocasse com o crucifixo, ele prontamente cairia ao chão e permaneceria ali<br />

esperando novas instruções. Os pacientes de Gassner eram instruídos a "morrer"<br />

enquanto jaziam prostrados ao chão, e que durante este período de "morte" Gassner<br />

expulsaria os demônios de seus corpos, devolvendo-lhes a vi<strong>da</strong> normal novamente.<br />

(Esta idéia de re<strong>na</strong>scimento permeia tanto a <strong>hipnose</strong> quanto a religião, inclusive suas<br />

formas mais primitivas). Este assunto é discutido em maiores detalhes em meu livro<br />

entitulado Religious Aspects of Hypnosis.<br />

Depois que algum médico exami<strong>na</strong>va o paciente, não sentindo seu pulso, não<br />

ouvindo as bati<strong>da</strong>s do coração e <strong>da</strong>ndo-o como morto, o Padre Gassner orde<strong>na</strong>va que<br />

o demônio partisse e, logo após, o paciente ‘ressuscitava’ e se levantava<br />

completamente curado. É dito que Mesmer assistiu várias performances do Padre<br />

Gassner por volta de 1770, sendo depois responsável pela introdução do fenômeno <strong>na</strong><br />

prática médica.


Franz Anton Mesmer<br />

Franz Anton Mesmer, filho de um guar<strong>da</strong> florestal, <strong>na</strong>sceu em 23 de maio de 1734,<br />

em Iz<strong>na</strong>ng, no Lago Constance, Alemanha. Ele estudou <strong>na</strong>s Universi<strong>da</strong>des de<br />

Dillingen e Ingolstadt, <strong>na</strong> Áustria, onde recebeu seu Ph.D., estu<strong>da</strong>ndo Direito<br />

posteriormente. Recebeu seu grau de Doutor em Medici<strong>na</strong> no ano de 1766, depois de<br />

apresentar um artigo com o título de 'De Planetarum Influx' (Sobre a Influência dos<br />

Planetas). Dois anos depois de sua graduação, Mesmer casou-se com a rica viúva de<br />

um Tenente-Coronel do exército, de nome Marie An<strong>na</strong> Von Posch, em 10 de janeiro<br />

de 1768. Incapaz de aceitar a hipótese do Padre Gassner de que os pacientes eram<br />

possuídos por demônios, Mesmer acreditava que de alguma maneira o crucifixo de<br />

metal empunhado por Gassner fosse talvez o responsável pela magnetização do<br />

paciente; então desenvolveu suas idéias e explicou os resultados <strong>na</strong> teoria do<br />

magnetismo animal, testa<strong>da</strong> pela primeira vez em 1773, em uma jovem de 28 anos,<br />

Franziska Osterlin, que por acaso se casou com Fredrich Von Posch, enteado de<br />

Mesmer. Mesmer publicou seu primeiro relato <strong>da</strong> cura magnética em 1775, sob o<br />

título de Schreiben Über die Magnetiker. Apesar de sua fama continuar a se<br />

espalhar, ele foi forçado a deixar Vie<strong>na</strong> após o famoso caso Paradis, no qual o Dr.<br />

Von Stoerck e o Dr. Barth foram seus oponentes. Em 1777, Maria Theresa Paradis,<br />

uma jovem pianista cega, e favorita <strong>da</strong> Imperatriz <strong>da</strong> Áustria, que recuperou sua visão<br />

depois de ser trata<strong>da</strong> por Mesmer, apesar do fato de ter estado por dez anos sob os<br />

cui<strong>da</strong>dos do maior especialista em olhos <strong>da</strong> Europa, o Dr. Von Stoerck, sem qualquer<br />

melhora. Influencia<strong>da</strong> por médicos ciumentos, a mãe <strong>da</strong> criança afastou-a dos<br />

cui<strong>da</strong>dos de Mesmer antes <strong>da</strong> cura estar completa. Numa ce<strong>na</strong> de emocio<strong>na</strong>lismo, a<br />

mãe deu um tapa no rosto <strong>da</strong> criança por ela não querer deixar a clínica do Dr.<br />

Mesmer, fazendo com que a cegueira histérica se reafirmasse.<br />

No entanto, a influência de Mesmer ain<strong>da</strong> era grande o bastante para garantir uma<br />

recomen<strong>da</strong>ção do Ministro do Exterior austríaco à Embaixa<strong>da</strong> Imperial em Paris,<br />

para onde se mudou em fevereiro de 1778. Ele fundou uma clínica com D'Eslon, <strong>na</strong><br />

Place Vendôme, e publicou seu famoso livro em 1779, Mémoire Sur La Découverte<br />

Du Magnetisme Animal.<br />

Em 1784, o governo francês investigou Mesmer, declarando-o um farsante.<br />

Entretanto, Benjamin Franklin, que era membro do comitê de investigação, escreveu<br />

o relatório <strong>da</strong> minoria, que afirmava que o fenômeno era digno de maiores<br />

considerações. Outros membros <strong>da</strong> comissão eram Jussieu, famoso por sua ligação<br />

com os Twilleries; Guillotin, o inventor <strong>da</strong> guilhoti<strong>na</strong>, que leva seu nome; e<br />

Lavoisier, o famoso químico francês cujo nome ain<strong>da</strong> é familiar aos americanos<br />

como o nome de uma marca de antisséptico bucal! A descrição fasci<strong>na</strong>nte de Es<strong>da</strong>ile<br />

a respeito <strong>da</strong> investigação afirma que ele acreditava que o veredito era justo o<br />

bastante, considerando a <strong>na</strong>tureza <strong>da</strong>s provas apresenta<strong>da</strong>s aos membros <strong>da</strong> comissão.<br />

Ele continua afirmando: “...mas entretanto, (tal é a falibili<strong>da</strong>de huma<strong>na</strong>), neste caso,<br />

summum jus também era summa injuria; a ver<strong>da</strong>de foi sacrifica<strong>da</strong> à falsi<strong>da</strong>de, como<br />

penso que se tor<strong>na</strong>rá claro de uma rápi<strong>da</strong> análise dos procedimentos. Este<br />

provavelmente não será tempo perdido, pois tenho ouvido cavalheiros inteligentes<br />

dizerem que o relato dos filósofos franceses ain<strong>da</strong> decidiam suas opiniões. Eles<br />

tinham uma série de axiomas sobre o Mesmerismo que lhes foram apresentados, cuja<br />

ver<strong>da</strong>de eles exami<strong>na</strong>riam e a eficácia de certos processos deveria ser prova<strong>da</strong> para<br />

sua satisfação através de experimento.<br />

O objetivo dos Mesmeristas parece ter sido tentar convencer a comissão de que<br />

Mesmer possuía um segredo digno de ser aprendido, e ao mesmo tempo continuar a


guardá-lo para si ocultando sua extrema simplici<strong>da</strong>de sob o manto de um complicado<br />

mecanismo e vários tipos de teatralismos. D'Eslon, aluno de Mesmer, propôs suas<br />

leis do Magnetismo Animal desta forma:<br />

I. O magnetismo Animal é um fluído universal, constituindo um polônio absoluto <strong>na</strong><br />

<strong>na</strong>tureza, e o meio de to<strong>da</strong> influência mútua entre os corpos celestes, e entre a terra e<br />

os corpos animais. Esta é uma afirmação muito exagera<strong>da</strong>.<br />

II. É o fluído mais sutil <strong>na</strong> <strong>na</strong>tureza, capaz de fluxo e de refluxo, e de receber,<br />

propagar, e <strong>da</strong>r continui<strong>da</strong>de a to<strong>da</strong>s as formas de movimento.<br />

III. O corpo animal está sujeito às influências deste fluído através dos nervos, que são<br />

imediatamente afetados por ele. Não vemos outra maneira no presente.<br />

IV. O corpo humano possui pólos e outras proprie<strong>da</strong>des, análogas ao ímã. A primeira<br />

proposição jamais foi prova<strong>da</strong>, e admite tudo como sendo correto; e <strong>na</strong> segun<strong>da</strong><br />

existe ape<strong>na</strong>s probabili<strong>da</strong>de.<br />

V. A ação e a virtude do magnetismo animal pode ser transmiti<strong>da</strong> de um corpo a<br />

outro, quer animado ou i<strong>na</strong>nimado. Isto está correto, no que diz respeito às relações<br />

entre corpos animados; e estes podem também impreg<strong>na</strong>r substâncias i<strong>na</strong>nima<strong>da</strong>s.<br />

VI. Opera a uma grande distância, sem a intervenção de qualquer pessoa. Ver<strong>da</strong>deiro.<br />

VII. É aumentado e refletido por espelhos, transmitido, propagado e aumentado pelo<br />

som, e pode ser acumulado, concentrado, e transportado.<br />

VIII. Não obstante a universali<strong>da</strong>de deste fluído, todos os corpos animais não são<br />

afetados por ele; por outro lado existem alguns, apesar de que pequeno em número,<br />

cuja presença, destrói todos os efeitos do magnetismo animal. A primeira parte está<br />

correta, a última não é improvável.<br />

IX. Por meio deste fluído, doenças nervosas são cura<strong>da</strong>s imediatamente, e outras<br />

medialmente; e suas virtudes, de fato, estendem-se à cura universal e a preservação<br />

<strong>da</strong> Ver<strong>da</strong>de <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de, a um grau tão elevado, que ain<strong>da</strong> não sabemos o quão<br />

longe poderá ir.<br />

Surpreende o fato de que a comissão desdenhosamente recusou tamanha quanti<strong>da</strong>de<br />

de asserções absolutas e de teorias insustentáveis, com certeza tempera<strong>da</strong>s com<br />

ver<strong>da</strong>de, porém tão diluí<strong>da</strong>s e obscureci<strong>da</strong>s a ponto de se tor<strong>na</strong>rem irreconhecíveis?<br />

Como uma testemunha de Bengala, D'Eslon não se contentou em simplesmente dizer<br />

a ver<strong>da</strong>de, mas acrescentou por conta própria tantas invenções corroboradoras a<br />

ponto de ninguém saber em que acreditar, e o caso foi encerrado como indigno de<br />

posterior investigação. Ele arruinou a si e a sua causa também, (talvez por<br />

ignorância) ao carregar a ver<strong>da</strong>de com um pacote de maqui<strong>na</strong>rias espalhafatosas,<br />

através <strong>da</strong>s quais esperava que o poder <strong>da</strong> <strong>na</strong>tureza penetrasse. Mas a Natureza, como<br />

um camelo sobrecarregado, virou-se contra seu condutor, jogando a si e sua<br />

parafernália de plataformas magnéticas, bastões e cor<strong>da</strong>s condutoras, pianos, árvores<br />

e baldes magnetizados, <strong>na</strong> lama; e a ver<strong>da</strong>de retirou-se em desgosto para o fundo de<br />

seu poço, para lá permanecer até que homens mais honestos pudessem novamente<br />

extraí-la para surpreender e beneficiar o mundo.<br />

Até onde concerne minha observação, tudo o que é necessário para o sucesso, se as<br />

partes estiverem <strong>na</strong> relação do agente e do sujeito, é a obediência passiva do paciente<br />

e uma atenção e paciência sustenta<strong>da</strong> por parte do operador. O processo sendo<br />

<strong>na</strong>tural, quanto mais as partes estiverem num estado <strong>na</strong>tural, melhor: os corpos de<br />

meus pacientes estando despidos, e suas cabeças geralmente raspa<strong>da</strong>s, provavelmente<br />

não é de pouca conseqüência nos procedimentos…"<br />

Existem algumas asserções muito importantes neste excerto do livro de Es<strong>da</strong>ile. Em<br />

primeiro lugar, ele certamente salienta claramente a razão por que a comissão rejeitou<br />

o fenômeno como sendo indigno de posteriores investigações. Segundo: ele também


ilustra a questão de forma dupla através do acréscimo de um número de suas próprias<br />

concepções erra<strong>da</strong>s, concepções estas que no entanto eram aceitas como ver<strong>da</strong>deiras<br />

em sua época, no que diz respeito à prática médica. Terceiro: ele sumariza uma teoria<br />

realmente astuta e brilhante em ape<strong>na</strong>s uma sentença: ‘Até onde concerne minha<br />

observação, tudo o que é necessário para o sucesso, se as partes estiverem <strong>na</strong> relação<br />

do agente e do sujeito, é a obediência passiva do paciente e uma atenção e paciência<br />

sustenta<strong>da</strong> por parte do operador.’ Quarto: ele faz uma observação que poderia servir<br />

para outros experimentos: O processo sendo <strong>na</strong>tural, quanto mais as partes estejam<br />

num estado <strong>na</strong>tural, melhor. Isto poderia ser conseguido de uma forma melhor por<br />

outros meios que não a mera nudez, apesar de que, talvez, possivelmente o fato de<br />

estar nu, o indivíduo psicologicamente está "sem defesa", ou mais "submisso". Meu<br />

método favorito de indução é levar o paciente com todos os seus sentidos para uma<br />

viagem a uma área de floresta primitiva, cheia de paz e quieta, tranqüila e calma,<br />

onde a concentração e o relaxamento são maiores. Os espíritos <strong>da</strong> obediência passiva,<br />

bem como <strong>da</strong> viagem à vastidão <strong>da</strong> <strong>na</strong>tureza para buscar comunhão com Deus, fazem<br />

parte de to<strong>da</strong> grande religião do mundo.<br />

O acima já é o suficiente no que tange ao relatório <strong>da</strong> comissão que teve como seu<br />

principal efeito a denúncia de Mesmer, seus métodos e suas teorias, apesar de que<br />

suas teorias estavam, <strong>na</strong> reali<strong>da</strong>de, sendo mais julga<strong>da</strong>s do que seus métodos.<br />

Depois de ser denunciado em Paris, a populari<strong>da</strong>de de Mesmer rapi<strong>da</strong>mente<br />

diminuiu, e então ele viajou para a Inglaterra, Itália e Alemanha, retor<strong>na</strong>ndo para uma<br />

rápi<strong>da</strong> visita a Paris antes do início <strong>da</strong> revolução. Ele então estabeleceu-se em<br />

Frauenfeld, <strong>na</strong> Suíça, até o verão de 1814, quando mudou-se para Morsburg, onde<br />

faleceu no dia 5 de março de 1815.<br />

Não é de conhecimento geral, mas no entanto ver<strong>da</strong>deiro, que Mesmer e seu filho<br />

publicaram trabalhos sobre o magnetismo animal, e até mesmo hoje cópias destas<br />

obras completas podem ser obti<strong>da</strong>s.<br />

Quando os pacientes de Mesmer eram colocados em banheiras cheias de água e de<br />

limalhas de ferro <strong>da</strong>s quais sobressaíam-se varas maiores de ferro, Mesmer sugeria a<br />

eles que, quando os tocasse com seu bastão magnético, eles se tor<strong>na</strong>riam<br />

magnetizados e eventualmente entrariam num estado de "crise" do qual sairiam<br />

curados. Seus pacientes invariavelmente se curavam e Mesmer considerava a crise<br />

uma necessi<strong>da</strong>de absoluta para a cura. Mesmer era uma figura muito imponente com<br />

seus longos robes, segurando seu bastão magnético e passando de quarto em quarto<br />

em sua clínica. Seus métodos de magnetismo, portanto, permaneceram<br />

inqüestio<strong>na</strong>dos e seu discípulo e aluno de boa fé, o Marquês de Puysegur, colocava<br />

pacientes em um transe que chamava de so<strong>na</strong>mbulismo artificial, no qual os pacientes<br />

não entravam num estado de crise, mas num estado de calmo relaxamento. (O<br />

Marquês havia se esquecido de sugerir de antemão aos seus pacientes que eles<br />

experimentariam um ‘ataque’!)<br />

Marquês de Puysegur<br />

O Marquês de Puysegur foi responsável pela descrição <strong>da</strong>s três características<br />

fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> Hipnose: 1) concentração dos sentidos no operador, 2) aceitação <strong>da</strong>s<br />

sugestões sem questio<strong>na</strong>mento, e 3) amnésia em relação a acontecimentos em transe.<br />

Em 1814, o Padre Faria sugeriu que os fenômenos descritos por Mesmer não eram<br />

causados pelo magnetismo animal, mas, <strong>na</strong> reali<strong>da</strong>de, pela sugestão. No entanto, a<br />

populari<strong>da</strong>de de Mesmer estava tão bem estabeleci<strong>da</strong> que a hipótese de Faria foi logo<br />

esqueci<strong>da</strong>. O Dr. Wolfart, a pedido do governo <strong>da</strong> Prússia, viajou de Berlim para


Frauenfeld em 1812, para investigar Mesmer e para aprender tudo o que o que fosse<br />

capaz a respeito do magnetismo animal, trazendo posteriormente este conhecimento<br />

para a Universi<strong>da</strong>de de Berlin. No mesmo período, Koreff já estava em Paris numa<br />

missão semelhante. O Mesmerismo espalhou-se rapi<strong>da</strong>mente através <strong>da</strong> Europa,<br />

incluindo a Suíça, a Itália e até mesmo os países Escandi<strong>na</strong>vos. Isto produziu muitos<br />

especialistas, incluindo Eschenmayer, Kerner, Lallemant, Schelling, Passavant,<br />

Kluge, Pace, Ostermeyer, Pfaff, Pezold, Selle, Bartels e muitos outros.<br />

James Braid<br />

No dia 13 de novembro de 1841, um magnetizador francês chamado La Fontaine, que<br />

demonstrou o Mesmerismo, introduziu James Braid pela primeira vez ao<br />

Mesmerismo (teoria basea<strong>da</strong> no magnetismo animal) e aos experimentos mesméricos<br />

numa reunião aconteci<strong>da</strong> <strong>na</strong>quele dia. Uma descrição completa desta reunião pode<br />

ser encontra<strong>da</strong> por escrito juntamente com uma <strong>história</strong> detalha<strong>da</strong> <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de de<br />

Braid, no livro de Bramwell, Hypnotism, Its History, Practice and Theory. James<br />

Braid é mais conhecido pelo fato de ter renomeado o Mesmerismo para<br />

"Hipnotismo", em 1842, com base <strong>na</strong> palavra grega "Hypnos", que significa "sono",<br />

e por ter se oferecido a apresentar um documento a seu respeito numa reunião <strong>da</strong><br />

British Medical Association, em Manchester, que recusou. Apesar disso, ao contrário<br />

de Mesmer, ele manteve uma boa reputação profissio<strong>na</strong>l em sua comuni<strong>da</strong>de durante<br />

to<strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong>, e não ape<strong>na</strong>s ficou conhecido como um excelente hipnotista, mas<br />

também como foi amplamente aclamado por suas cirurgias de pé plano (chato) e<br />

outras deformi<strong>da</strong>des. No fi<strong>na</strong>l de sua vi<strong>da</strong>, Braid concluiu que o hipnotismo não era<br />

um ver<strong>da</strong>deiro sono, mas uma concentração <strong>da</strong> mente, e tentou mu<strong>da</strong>r o nome para<br />

monoideísmo. Mas, <strong>na</strong> época, "Hipnose" e "Hipnotismo" já eram palavras bem<br />

enraiza<strong>da</strong>s em to<strong>da</strong>s as línguas <strong>da</strong> Europa, abando<strong>na</strong>ndo por fim este esforço de<br />

mu<strong>da</strong>r o nome. Braid <strong>na</strong>sceu em Rylaw House, em Fifeshire, no ano de 1795, tendo<br />

estu<strong>da</strong>do em Edinburgo e lá se formado como cirurgião. Depois de trabalhar <strong>na</strong><br />

Escócia durante um curto período de tempo, ele mudou-se para Manchester,<br />

Inglaterra, onde viveu até sua súbita morte no dia 25 de março de 1860, vítima de<br />

ataque do coração. Ele cultivou a prática e o interesse no hipnotismo durante to<strong>da</strong> sua<br />

vi<strong>da</strong>, escrevendo vários documentos e monografias sobre o assunto. Apesar de Braid<br />

ser mais conhecido por ter renomeado a arte de Mesmer para hipnotismo, ele também<br />

foi responsável por várias idéias que ain<strong>da</strong> persistem até o presente. Estas são como<br />

descritas a seguir:<br />

1: Que a <strong>hipnose</strong> é uma ferramenta poderosa que deveria ser limita<strong>da</strong> somente aos<br />

profissio<strong>na</strong>is <strong>da</strong> medici<strong>na</strong> e <strong>da</strong> odontologia.<br />

2: Que apesar de ter o hipnotismo sido capaz de curar muitas doenças para as quais<br />

antes não havia remédio, não era, no entanto, uma pa<strong>na</strong>céia, mas era ape<strong>na</strong>s uma<br />

ferramenta médica que deveria ser usa<strong>da</strong> em combi<strong>na</strong>ção com outras informações<br />

médicas, drogas, remédios, etc., para apropria<strong>da</strong>mente tratar os pacientes.<br />

3: Que em mãos qualifica<strong>da</strong>s não há grande perigo associado ao tratamento com a<br />

<strong>hipnose</strong>, nem sequer dor ou desconforto.<br />

4: Que muitos estudos e pesquisas seriam necessários para compreendermos por<br />

completo vários conceitos teóricos a respeito <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong>.<br />

Estes enunciados filosóficos eram extremamente sólidos, especialmente para um<br />

médico que viveu no século XIX e que possuía conhecimentos limitados, disponíveis<br />

<strong>na</strong>quela época. O fato de que estes conceitos permaneceram virtualmente imutáveis<br />

até hoje demonstra, claramente, o brilhantismo deste grande médico e hipnotista de


Manchester.<br />

John Elliotson<br />

Tal como Braid, Elliotson graduou-se em medici<strong>na</strong> em Edinburgo, mas continuou<br />

seus estudos no continente e em Cambridge e no Sir Guy's Hospital, onde tive o<br />

prazer de palestrar em 1958. Ele <strong>na</strong>sceu em 1791 e morreu no dia 29 de julho de<br />

1868, após uma longa doença, <strong>na</strong> casa de seu amigo, o Dr. Symes, um aluno formal.<br />

Assim como Braid, Elliotson foi um brilhante médico, palestrante e Professor de<br />

Medici<strong>na</strong>. A fama de Elliotson, entretanto, até mesmo excedeu a de seu predecessor,<br />

o Dr. Braid, pois Elliotson chegou ao topo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> acadêmica de Professorado em<br />

Medici<strong>na</strong> <strong>na</strong> Universi<strong>da</strong>de de Londres. Ele também foi nomeado Presidente <strong>da</strong> Royal<br />

Medical and Surgical Society, e foi um dos fun<strong>da</strong>dores do University College<br />

Hospital, em Londres.<br />

Ele introduziu o estetoscópio <strong>na</strong> Inglaterra, juntamente com os métodos de se<br />

exami<strong>na</strong>r o coração e os pulmões <strong>da</strong> forma que são utilizados até hoje. Uma <strong>história</strong><br />

completa de sua vi<strong>da</strong> aparece também no livro de Bramwell.<br />

Elliotson é mais conhecido pelo fato de ter estabelecido o primeiro periódico a tratar<br />

do hipnotismo, em 1846. Esta revista tinha o título de ‘The Zoist’, e cópias completas<br />

de seus números ain<strong>da</strong> podem ser obti<strong>da</strong>s através de algumas fontes. Ele foi expulso<br />

do University College Hospital por ter escolhido a <strong>hipnose</strong> como o assunto do<br />

discurso Harveiano de 1846. Neste discurso, Elliotson citou esta passagem<br />

memorável <strong>da</strong>s obras de Harvey: "Os ver<strong>da</strong>deiros filósofos, compelidos pelo amor à<br />

ver<strong>da</strong>de e à sabedoria, nunca se imagi<strong>na</strong>m tão sábios e cheios de si a ponto de não<br />

se renderem à ver<strong>da</strong>de, de qualquer fonte e a qualquer tempo; nem possuem eles<br />

mentes tão estreitas a ponto de acreditar que qualquer arte ou ciência nos foi<br />

transmiti<strong>da</strong> por nossos predecessores em tal estado de perfeição a ponto de <strong>na</strong><strong>da</strong><br />

restar para futura dedicação".<br />

Elliotson aplicou então as palavras de Harvey à ciência do Hipnotismo e afirmou em<br />

termos <strong>na</strong><strong>da</strong> duvidosos que era o dever dos médicos <strong>da</strong>quela época a<strong>na</strong>lisar<br />

cui<strong>da</strong>dosamente e com isenção sua pesquisa sobre o assunto. Muitos artigos<br />

interessantes foram publicados em seu periódico The Zoist, que foi publicado<br />

trimestralmente de abril de 1843 até 31 de dezembro de 1855. Durante treze anos,<br />

artigo após artigo foi publicado por Elliotson, Es<strong>da</strong>ile e muitos outros médicos<br />

brilhantes <strong>da</strong> época, testemunhando os excelentes resultados do tratamento com<br />

<strong>hipnose</strong> para insani<strong>da</strong>de, epilepsia, histeria, gagueira, nevralgia, asma, torcicolo,<br />

dores de cabeça, dificul<strong>da</strong>des funcio<strong>na</strong>is do coração, reumatismo, tic doloroso,<br />

cólicas espasmódicas, ciática, lumbago, paralisia, convulsões, inflamações agu<strong>da</strong>s<br />

dos olhos e dos testículos, e relatos de cente<strong>na</strong>s de operações sem dor, desde a<br />

remoção de uma catarata até a amputação do pênis, a qual James Es<strong>da</strong>lie relatou dois<br />

casos. Parker (que originou a expressão "Parker Sem Dor") relatou cerca de 200<br />

operações sem dor <strong>na</strong> Exeter, uma instituição que Elliotson ajudou-o a fun<strong>da</strong>r.<br />

Elliotson era excelente no campo <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> infantil, e trabalhou com muitas crianças<br />

e com muitas doenças infantís, tais como Dança de São Vito, coréia, tiques e outras<br />

enfermi<strong>da</strong>des. Ao contrário de Braid, no entanto, Elliotson continuou a acreditar <strong>na</strong><br />

clarividência e outros fenômenos místicos até sua morte.


James Es<strong>da</strong>ile<br />

O Dr. James Es<strong>da</strong>ile provavelmente realizou mais operações cirúrgicas sob<br />

hipnoanestesia do que qualquer outro médico, pelo menos até a presente época. Ele<br />

era um homem de extrema perspicácia e inteligência que trabalhou a maior parte de<br />

sua vi<strong>da</strong> <strong>na</strong> Índia, e provavelmente é mais conhecido por seu trabalho com a <strong>hipnose</strong><br />

do que qualquer outro homem, com a possível exceção do próprio Mesmer. Ele<br />

<strong>na</strong>sceu no dia 6 de fevereiro de 1808, filho de um ministro, e como Elliotson e Braid,<br />

estudou em Edinburgo, onde graduou-se em 1830, obtendo um cargo <strong>na</strong> East India<br />

Company.<br />

Es<strong>da</strong>ile realizou sua primeira operação sob <strong>hipnose</strong> no dia 4 de abril de 1845, em um<br />

hindu conde<strong>na</strong>do à prisão que tinha dupla hidrocele, no hospital de Hooghly. Após<br />

realizar 75 operações sob hipnoanestesia, ele escreveu à junta médica, porém sua<br />

carta não foi nem sequer reconheci<strong>da</strong>. Mais tarde, no fi<strong>na</strong>l <strong>da</strong>quele mesmo ano, tendo<br />

mais de cem operações em seu crédito, ele contatou Sir Herbert Maddock, o então<br />

vice-gover<strong>na</strong>dor de Bengala, que nomeou um comitê de investigação composto<br />

primariamente de médicos.<br />

Ao receber o relatório favorável deste comitê, o Gover<strong>na</strong>dor então colocou Es<strong>da</strong>ile<br />

como responsável de um pequeno hospital experimental próximo a Calcutá, para que<br />

ele pudesse <strong>da</strong>r continui<strong>da</strong>de em sua pesquisa sobre a <strong>hipnose</strong>, sejam quais fossem os<br />

valores que esta pudesse ter. Es<strong>da</strong>ile iniciou sua pesquisa em novembro de 1846, com<br />

os seguintes médicos nomeados para auxiliá-lo: R. Thompson, D. Stuart, J. Jackson,<br />

F Mouatt, R. O'Shaughnessy. E, ao fi<strong>na</strong>l do primeiro ano do trabalho experimental de<br />

Es<strong>da</strong>ile, ele já tinha mais 133 operações em seu crédito, bem como um grande<br />

número de casos médicos. Os relatos <strong>da</strong>queles que visitaram a instituição<br />

continuaram a ser favoráveis, e, portanto, com o continuado apoio do vicegover<strong>na</strong>dor,<br />

Es<strong>da</strong>ile foi então indicado para trabalhar no Lane Hospital and<br />

Dispensary de Sarkea, para <strong>da</strong>r continui<strong>da</strong>de ao seu trabalho e expandi-lo para outros<br />

campos <strong>da</strong> medici<strong>na</strong>.<br />

A fama de Es<strong>da</strong>ile espalhou-se para todos os cantos, e certa vez ele afirmou com<br />

sinceri<strong>da</strong>de que havia feito mais operações em tumores escrotais em um mês do que<br />

to<strong>da</strong>s as que aconteceram em todos os hospitais de Calcutá em um ano inteiro.<br />

Alguns médicos locais que achavam seus pacientes serem histéricos, criticaram-no<br />

<strong>na</strong>s revistas médicas. O comentário de Es<strong>da</strong>ile quanto a isto foi que o seu próprio<br />

relato dos casos ain<strong>da</strong> era digno de nota, nem que se fosse como um exemplo de uma<br />

epidemia <strong>da</strong> insani<strong>da</strong>de. Seu senso de humor o acompanhou até quando deixou a<br />

Índia, em 1851. Ao deixar aquele país, ele tinha milhares de operações sem dor em<br />

seu crédito, e cerca de 300 grandes operações, to<strong>da</strong>s executa<strong>da</strong>s com a <strong>hipnose</strong>.<br />

Enquanto estava <strong>na</strong> Índia, o clorofórmio foi introduzido como um anestésico e depois<br />

de ter deixado a Índia, um prêmio de dez mil dólares foi oferecido em 1853 ao<br />

descobridor <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong>des anestésicas do éter, que foi descrito como o primeiro<br />

dos anestésicos. Es<strong>da</strong>ile enviou uma carta revolta<strong>da</strong> de protesto contra isso,<br />

chamando a atenção ao fato de que ele havia realizado cirurgias sem dor com o<br />

Mesmerismo anos antes que qualquer pessoa tivesse ouvido falar do éter. (A<br />

propósito, o clorofórmio surgiu antes do éter.)<br />

Desgostoso com a Índia, e "não <strong>da</strong>ndo a mínima" a respeito de uma grandiosa prática<br />

em Calcutá, Es<strong>da</strong>ile retornou a Perth, o lar de seu pai, onde estabeleceu-se e<br />

permaneceu até desenvolver uma doença nos pulmões (tuberculose?), mu<strong>da</strong>ndo-se<br />

então <strong>da</strong> Escócia para a ci<strong>da</strong>de de Sydenham, <strong>na</strong> Inglaterra, onde morreu com a i<strong>da</strong>de<br />

de 50 anos, no dia 10 de janeiro de 1859. Suas obras foram numerosas, mas talvez a


mais famosa seja um livro origi<strong>na</strong>lmente entitulado Mesmerism in India, e<br />

posteriormente publicado sob o título Hypnosis in Medicine and Surgery. Neste<br />

livro, ele não ape<strong>na</strong>s relatou 73 operações sem dor, mas também descreveu 18 casos<br />

médicos de paralisia, lumbago, ciática, convulsões e tic doloroso, além de informar o<br />

público sobre a <strong>hipnose</strong>. Ele atacava a estupidez de certos médicos que eram cegos<br />

para quaisquer novas idéias, citando a frase em latim "Stare super vias Antiquas",<br />

para descrever tais médicos. Ele chegou ao ponto de dizer que, como um amante <strong>da</strong><br />

ver<strong>da</strong>de por si só, ele ficava pouco satisfeito quando seus amigos lhe diziam: "Eu<br />

acredito porque você está dizendo". Ele achava que esta era uma crença estéril e<br />

constantemente procurava médicos para demonstrar-lhes sua recém descoberta<br />

ferramenta médica. O médico Jacob Conn, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Medici<strong>na</strong> Hopkins,<br />

afirmou que ninguém trabalhou mais diligentemente do que James Es<strong>da</strong>ile para trazer<br />

o valor <strong>da</strong> a<strong>na</strong>lgesia e <strong>da</strong> anestesia hipnótica à atenção dos profissio<strong>na</strong>is <strong>da</strong> medici<strong>na</strong>.<br />

A obra de Es<strong>da</strong>ile evidentemente se pagou, pois a Associação Médica Britânica<br />

relatou favoravelmente em 1891 que "Como um agente terapêutico, o hipnotismo é<br />

com freqüência eficaz no alívio <strong>da</strong> dor, proporcio<strong>na</strong>ndo sono e suavizando muitas<br />

Dr. Ambroise-Auguste Liebeault<br />

Liebeault é amplamente conhecido como o "Pai <strong>da</strong> Hipnose Moder<strong>na</strong>". A razão para<br />

isto é, antes de tudo, ter sido Liebeault o homem que concluiu e publicou a<br />

observação de que todos os fenômenos do hipnotismo são subjetivos em origem.<br />

Liebeault foi um humilde médico francês que, apesar de ser desinteressado pela<br />

pesquisa de uma maneira geral, foi, no entanto, um gênio <strong>na</strong> terapêutica. Ele manteve<br />

a prática médica de forma constante no campo, que o manteve ocupado dia e noite<br />

até receber seu diploma em medici<strong>na</strong> em 1850. Sua prática no hipnotismo era quase<br />

totalmente gratuita, e por causa disto obteve o sereno respeito de todos que o<br />

conheciam. Ele <strong>na</strong>sceu em 1823, começou seus estudos em medici<strong>na</strong> em 1844, e<br />

iniciou seus experimentos com o hipnotismo em 1848, mesmo antes de ter concluído<br />

a universi<strong>da</strong>de. Após ter completado várias sessões terapêuticas de <strong>hipnose</strong>, ele<br />

escreveu um livro que demorou dois anos para ser concluído. O ceticismo no entanto,<br />

era tão grande que ele vendeu ape<strong>na</strong>s uma cópia, e foi para Bernheim. Em 1882,<br />

Liebeault curou um caso obsti<strong>na</strong>do de ciática, que Bernheim havia tratado sem<br />

resultados por cerca de seis meses. Em parte por causa de sua curiosi<strong>da</strong>de, e em parte<br />

porque queria expor Liebeault como um charlatão, Bernheim comprou o livro e<br />

viajou para se encontrar com ele, convencido de que de fato Liebeault era um<br />

charlatão. Entretanto, Bernheim ficou tão impressio<strong>na</strong>do pelo seu trabalho a ponto de<br />

decidir ficar com ele e dele tornou-se um devotado aluno e amigo por to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong>.<br />

Bernheim e Liebeault, então, publicaram juntos outro livro, que foi amplamente<br />

aclamado. Isto assim o foi especialmente por causa do grande número de fasci<strong>na</strong>ntes<br />

históricos dos casos de Liebeault.<br />

Enquanto Parker e seus contemporâneos estavam primariamente interessados <strong>na</strong><br />

cirurgia sem dor, Liebeault invadiu todos os campos <strong>da</strong> medici<strong>na</strong>, sendo de fato o<br />

médico mais importante <strong>na</strong> ampliação do escopo <strong>da</strong> terapêutica através do uso <strong>da</strong><br />

<strong>hipnose</strong>. Uma descrição excelente <strong>da</strong> clínica de Liebeault aparece no livro de<br />

Bramwell.<br />

Liebeault tornou-se um adepto <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> rápi<strong>da</strong> e, de fato, foi um dos primeiros a<br />

perceber que para a maior parte dos casos de hipnoterapia, um transe profundo era<br />

desnecessário, fato assi<strong>na</strong>lado com freqüência pelo Dr. S. J. Van Pelt. Ao contrário,<br />

Liebeault induzia seus pacientes com não mais do que um aceno de sua mão e uma


frase rápi<strong>da</strong>, tal como "Durma, meu gatinho"; sugeria que os sintomas mórbidos se<br />

fossem e permitia que os pacientes acor<strong>da</strong>ssem quando desejassem. Ele atendia<br />

cente<strong>na</strong>s de pacientes, raramente demorando-se mais do que quinze minutos com<br />

eles. Bramwell afirma que todos os pacientes de Liebeault melhoravam ou se<br />

curavam, após seus tratamentos de sugestão rápi<strong>da</strong>. Liebeault, com a assistência de<br />

Bernheim, estabeleceu o que ficou conheci<strong>da</strong> como a "Escola de Nancy". Este foi um<br />

período de desenvolvimento <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> durante o qual uma grande quanti<strong>da</strong>de de<br />

trabalhos experimentais foram feitos com muitos tipos de indução.<br />

Ao mesmo tempo que Liebeault estava meramente usando a palavra "durma", com<br />

um gesto de sua mão, Charcot, por outro lado, estava violentamente tocando gongos<br />

e piscando ‘luzes de drummond’. Os alemães Weinhold e Heidenhain preferiam o<br />

tique-taque de um relógio, e Berger usava chapas quentes de metal. As idéias do<br />

magnetismo e dos processos magnéticos ain<strong>da</strong> não haviam desaparecido por<br />

completo. Apesar de Liebeault explicar os fenômenos como sendo subjetivos, Piteres<br />

sustentava que certas partes do corpo eram particularmente sensíveis ao estímulo <strong>da</strong><br />

pele, e estas assim chama<strong>da</strong>s zo<strong>na</strong>s hipnóticas que foram descritas por ele, existiam,<br />

algumas vezes, em ape<strong>na</strong>s um lado do corpo e, em outras, em ambas.<br />

Moll afirmou ter ele mesmo visto muitas pessoas serem hipnotiza<strong>da</strong>s ape<strong>na</strong>s quando<br />

suas testas eram toca<strong>da</strong>s. Purkinje e Spitt afirmaram que toques <strong>na</strong> testa induziam um<br />

estado sonolento em muitas pessoas. A técnica de balançar o berço para induzir<br />

crianças era bem conheci<strong>da</strong>, e Eisenhart mencionou que o toque <strong>na</strong> testa era uma<br />

excelente técnica de indução em crianças. Hirt usava com freqüência a eletrici<strong>da</strong>de<br />

para induzir a <strong>hipnose</strong>, e Sperling, um contemporâneo de Bramwell e de Moll,<br />

descreveu os transes hipnóticos dos Dervixes que havia visto em Constantinopla<br />

(atual Istambul). Drzewiecki sentiu que havia uma diferença <strong>na</strong> suscetibili<strong>da</strong>de à<br />

<strong>hipnose</strong> por causa <strong>da</strong> <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de, e chegou a afirmar que os russos eram mais<br />

facilmente hipnotizáveis do que qualquer outro povo. Entretanto, percebeu-se mais<br />

tarde que nem <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de e nem sexo contavam <strong>na</strong> habili<strong>da</strong>de de uma pessoa ser<br />

hipnotiza<strong>da</strong>. Foi somente depois de Liebeault atingir uma i<strong>da</strong>de avança<strong>da</strong> e ter-se<br />

aposentado <strong>da</strong> medici<strong>na</strong>, que ele desfrutou um pouco <strong>da</strong> aprovação que certamente<br />

lhe era devi<strong>da</strong>. Ele não buscou e nem fez fortu<strong>na</strong>. Até sua morte, permaneceu feliz e<br />

tranqüilo, cônscio de uma vi<strong>da</strong> bem vivi<strong>da</strong> no tratamento dos pobres.<br />

O Dr. Bernheim, <strong>da</strong> Escola Nancy, é talvez mais conhecido pela propagan<strong>da</strong> do uso<br />

<strong>da</strong> <strong>hipnose</strong>. Apesar de ter Liebeault sido responsável pela ampliação <strong>da</strong> terapêutica,<br />

seu livro nunca foi amplamente lido. No entanto, quando Bernheim publicou seu<br />

livro sobre <strong>hipnose</strong> (com os históricos dos casos de Liebeault), este foi<br />

imediatamente aceito em todos os lugares. De fato, não obstante a tremen<strong>da</strong><br />

reputação de Charcot e de seu pioneirismo com a Escola de Salpêtrière, mais e mais<br />

pessoas adotaram o modo de pensar <strong>da</strong> Escola Nancy. A disputa médica continuou<br />

através de todo o século XIX e até o início do século XX, com ca<strong>da</strong> lado<br />

reivindicando vitórias <strong>na</strong> explicação <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong>. Bernheim simplesmente pedia ao<br />

paciente para olhar para ele, não pensar em <strong>na</strong><strong>da</strong> além de sono, e então dizia-lhe:<br />

"Suas pálpebras começarão a ficar pesa<strong>da</strong>s, seus olhos estão cansados e começam a<br />

piscar, eles estão ficando úmidos, seus olhos não podem ver distintamente, e eles<br />

estão fechados." Se o paciente não fechasse seus olhos e caísse no sono quase<br />

imediatamente, como acontecia com muitos, ele então repetiria o processo até ser<br />

bem sucedido. Caso os pacientes não mostrassem quaisquer si<strong>na</strong>is de sono ou<br />

entorpecimento, ele então lhes asseguraria que o sono não era essencial e que a<br />

influência hipnótica poderia ser exerci<strong>da</strong> sem ele. Bernheim inspirou cente<strong>na</strong>s de<br />

médicos-hipnotistas famosos, tais como Von Schrenk, Noltzing, Babinski e muitos


outros. Charles Richet foi reconhecido como o introdutor do método de indução com<br />

o pressio<strong>na</strong>r dos polegares e <strong>da</strong>s mãos juntas.<br />

Jean Martin Charcot<br />

Jean Martin Charcot, o famoso neurologista francês, <strong>na</strong>sceu em 1825 e morreu em<br />

1893. Era muito bem conhecido pelos profissio<strong>na</strong>is de medici<strong>na</strong> por tantas e varia<strong>da</strong>s<br />

realizações, e sua biografia é tão fácil de ser obti<strong>da</strong> que nenhum estudo detalhado a<br />

seu respeito será <strong>da</strong>do aqui. Ele provavelmente foi o médico mais famoso a adotar o<br />

hipnotismo <strong>na</strong>quela época e, além de seu trabalho com o hipnotismo, era conhecido<br />

pelo banho de Charcot, pela doença de Charcot, pela junta de Charcot, pela síndrome<br />

de Charcot, etc., bem como pelo tipo de dente Charcot-Marie, e seu trabalho com a<br />

atrofia muscular neuropática progressiva, de conhecimento de todos os estu<strong>da</strong>ntes de<br />

medici<strong>na</strong>.<br />

A Síndrome de Charcot-Weiss-Barber (síndrome do seio <strong>da</strong> caróti<strong>da</strong>) e o si<strong>na</strong>l<br />

Charcot-Vigouroux também são bastante conhecidos. Vários cristais foram nomeados<br />

em home<strong>na</strong>gem a Charcot, incluindo os cristais Charcot-Leyden, os cristais Charcot-<br />

Neuman e os cristais Charcot-Robin. Apesar de sua grande fama no campo <strong>da</strong><br />

medici<strong>na</strong>, ele mergulhou no hipnotismo sem a costumeira pesquisa cui<strong>da</strong>dosa que<br />

cercava seus outros trabalhos. Conseqüentemente, sua reputação enfraqueceu quando<br />

suas teorias de que a <strong>hipnose</strong> era um estado patológico que enfraquecia a mente<br />

foram mais tarde desaprova<strong>da</strong>s pela Escola Nancy de Medici<strong>na</strong>. De fato, quando<br />

Charcot morreu, Babinski denunciou muitas <strong>da</strong>s curas de Charcot, afirmando que<br />

algumas foram <strong>na</strong> reali<strong>da</strong>de falsifica<strong>da</strong>s, e outras invenções <strong>da</strong> imagi<strong>na</strong>ção de<br />

Charcot. O amargo ataque de Babinski contra Charcot, mais do que qualquer outra<br />

coisa, foi responsável pelo declínio do uso <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> <strong>na</strong> França. Este declínio<br />

continuou até tempos modernos, com ape<strong>na</strong>s algumas exceções, tal como Pierre Janet<br />

e o Dr. Joseph Morlaas, que usaram a <strong>hipnose</strong> até que esta fosse oficialmente<br />

introduzi<strong>da</strong> <strong>na</strong>s escolas francesas de medici<strong>na</strong>, em 1958.<br />

Josef Breuer<br />

Até a época de Breuer, a <strong>hipnose</strong> havia primariamente sido usa<strong>da</strong> para o alívio <strong>da</strong> dor<br />

em cirurgias, e esta de acordo com o método de Liebeault, que simplesmente sugeria<br />

que os sintomas se fossem. Entretanto, por volta de 1880, Breuer fez uma descoberta<br />

acidental que mudou os métodos <strong>da</strong> hipnoterapia. Na ver<strong>da</strong>de esta descoberta não<br />

ape<strong>na</strong>s mudou os métodos <strong>da</strong> hipnoterapia, mas <strong>na</strong> reali<strong>da</strong>de introduziu uma arte<br />

completamente nova em si, pois foi a obra de Breuer que atraiu Freud e o direcionou<br />

aos métodos <strong>da</strong> psicanálise que são tão comuns hoje em dia aos psiquiatras.<br />

Breuer estava tratando uma paciente a qual chamou de An<strong>na</strong> O.. O caso é longo e<br />

complexo, sendo bem conhecido de todos os estu<strong>da</strong>ntes de psiquiatria. Durante uma<br />

parte <strong>da</strong> terapia, eles descobriram, para grande agonia <strong>da</strong> paciente, (e An<strong>na</strong> O. era<br />

uma paciente histérica com muitos problemas e muito diferenciados) que ela não<br />

conseguia beber água. Na ver<strong>da</strong>de, não importava a intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> sede que ela<br />

sentia, ela sentia que era uma impossibili<strong>da</strong>de física engolir água. Devido a isso, ela<br />

sobreviveu por alguns meses comendo frutas aquosas e melões, até que, durante uma<br />

sessão de <strong>hipnose</strong>, ela revelou num ataque de raiva, como, para sua grande aversão,<br />

uma ex-gover<strong>na</strong>nta havia deixado um cão beber água que estava num copo, em sua<br />

presença. Tão logo acordou do transe, ela imediatamente pediu água a Breuer,<br />

esvaziando o copo com facili<strong>da</strong>de. Isto fez com que Breuer concluísse que a simples


ecor<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s experiências traumáticas do passado (do cão bebendo água num copo)<br />

foi responsável pela remoção dos sintomas. Depois de chegar a esta conclusão,<br />

Breuer tentou então associar todos os sintomas dos pacientes com experiências<br />

traumáticas no passado. Depois de trabalhar com An<strong>na</strong> O. por quase um ano, Breuer<br />

foi capaz de remover seus sintomas de cegueira, paralisia, surdez, a contratura de seu<br />

braço direito, sua falta de sensibili<strong>da</strong>de, tosse, tremores e outros sintomas, ape<strong>na</strong>s<br />

através <strong>da</strong> repetição dos transes que revelaram mais e mais suas experiências do<br />

passado, que continham incidentes traumáticos <strong>da</strong>nosos.<br />

Tal como Wolberg afirma em seu livro Medical Hypnosis, “A importância <strong>da</strong> obra<br />

de Breuer jaz <strong>na</strong> mu<strong>da</strong>nça de ênfase <strong>na</strong> terapia com <strong>hipnose</strong>, <strong>da</strong> remoção direta dos<br />

sintomas para o enfoque <strong>na</strong> causa aparente desses sintomas".<br />

Apesar de Janet ter chegado a esta mesma conclusão simultaneamente, o crédito por<br />

esta descoberta foi <strong>da</strong>do a Breuer.<br />

Dr. Eugene Azam<br />

Azam, um professor <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Medici<strong>na</strong> em Bordeaux, e correspondente <strong>na</strong><br />

Academia de Medici<strong>na</strong> em Paris, escreveu em 1887 um livro sobre um caso de<br />

consciência dividi<strong>da</strong>. Ele descreveu em detalhes o caso de uma jovem, chama<strong>da</strong><br />

Felita X., que o procurou pela primeira vez durante o mês de junho de 1858. Ele<br />

percebeu muitos fenômenos hipnóticos nesta paciente, fazendo algumas deduções<br />

psicológicas que confirmaram muitas <strong>da</strong>s conclusões de Braid. O Professor Jean<br />

Martin Charcot (supra) escreveu o prefácio do livro, elogiando muito a obra do Dr.<br />

Azam. Traduzido do francês, dizia o texto:<br />

“Na época de hoje, em que o Hipnotismo chegou e é agora a aplicação regular deste<br />

método de descrição de doenças, que fi<strong>na</strong>lmente tomou seu lugar entre os fatos <strong>da</strong><br />

ciência positiva, seria injusto esquecer os nomes <strong>da</strong>queles que tiveram a coragem de<br />

estu<strong>da</strong>r esta questão numa época em que estava sob a desaprovação universal. O Dr.<br />

Azam foi um dos pioneiros, sendo o primeiro <strong>na</strong> França. Ele buscou controlar,<br />

através de sua experiência pessoal, os resultados anunciados por Braid. A boa sorte<br />

de uma descoberta inespera<strong>da</strong>, é ver<strong>da</strong>de, foi-lhe favorável ao dispor-lhe a<br />

experiência de uma paciente, que espontaneamente apresentou vários fenômenos que<br />

haviam sido descritos por Braid. Mas, quantos médicos que estivessem no lugar do<br />

Dr. Azam teriam passado por estes fatos interessantes sem se deterem, quer por medo<br />

de serem confundidos por uma histeria jugular, ou por medo de comprometerem suas<br />

reputações ao realizar estudos que haviam sido desacreditados, ou simplesmente por<br />

seguir a preguiça científica que nos desprovê do benefício de novas coisas no<br />

desenvolvimento moderno? Os resultados do Dr. Azam não são ape<strong>na</strong>s de interesse<br />

históricos: esta análise redescobriu a parte mais importante dos fenômenos somáticos<br />

e <strong>da</strong> anestesia psíquica, hiper-anestesia, contratura e catalepsia, que aprendemos,<br />

desde que neste ano foram apresentados, de acordo com uma determi<strong>na</strong>ção rigorosa,<br />

uma categoria especial de indivíduos (pacientes). Seria interessante observar, a bem<br />

<strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de, que pela escolha dos indivíduos e pela <strong>na</strong>tureza dos fenômenos<br />

produzidos, os casos clínicos do Dr. Azam pertencem à <strong>hipnose</strong> histérica. É dito que<br />

esta forma de <strong>hipnose</strong> primeiro tomou seu lugar <strong>na</strong> ciência e somente agora chegou<br />

até nós. Ela manifesta sintomas tão característicos a ponto <strong>da</strong> pessoa mais cética não<br />

poder duvi<strong>da</strong>r de sua existência. Portanto, devemos convi<strong>da</strong>r nossos eminentes<br />

colegas a tomar parte no sucesso <strong>da</strong> obra ao qual ele contribuiu, após termos<br />

registrado a pesquisa do Dr. Azam com aqueles <strong>da</strong> escola de Salpêtrière.”<br />

Azam enfrentou grandes dificul<strong>da</strong>des para remover a aura de mistério <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong>, e


foi elogiado por Charcot por isso. O Dr. Heinz Hammerschlag afirma em seu livro<br />

Hypnose und Verbrechen que os estudos de Azam em Bordeaux, apesar de<br />

importantes, foram importantes primariamente porque estes estudos atraíram a<br />

atenção de Liebeault, que foi o primeiro a ser bem sucedido em <strong>da</strong>r a estes<br />

pesquisadores uma novo ponto de vista. Ele esforçou-se para atribuir os fenômenos<br />

<strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> à influência psiquiátrica <strong>da</strong> sugestão, em vez <strong>da</strong> influência do<br />

magnetismo, que havia antes sido tão popular <strong>na</strong> época de Mesmer. Como Charcot<br />

pôde continuar a manter a afirmação ridícula de que todos os assuntos hipnóticos<br />

eram "histéricos", face a face com a pesquisa de Braid, e do lado oposto de sua boca<br />

elogiar o Dr. Azam por esclarecer e reiterar as conclusões de Braid, é algo<br />

completamente incompreensível.<br />

Sigmund Freud<br />

Até mesmo começar a tentar resumir a vi<strong>da</strong> e a obra de um gênio é <strong>na</strong>turalmente<br />

impossível. Da mesma maneira, escolher incidentes específicos em sua vi<strong>da</strong> e, ao<br />

descrevê-los, esperar que se compreen<strong>da</strong> o raciocínio intricado <strong>da</strong> mente de Freud,<br />

seria tão ridículo quanto descrever George Washington como "o garoto que cortou<br />

uma cerejeira". Várias cente<strong>na</strong>s de livros foram escritos sobre Sigmund Freud,<br />

possivelmente o mais completo deles sendo The Life and Work of Sigmund Freud,<br />

de Ernest Jones (1879 - 1958), em três volumes. Para uma compreensão completa de<br />

Freud, esta obra em três volumes supera to<strong>da</strong>s as outras, mas estando tal tarefa além<br />

do escopo deste texto, devemos nos satisfazer com um pequeno resumo <strong>da</strong> ligação de<br />

Freud com o desenvolvimento <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong>.<br />

Foi a obra de Breuer que atraiu Freud e que o fez publicar seu famoso livro coautorado<br />

por Breuer, Studien uber Hysterie, que foi publicado em 1895. Breuer e<br />

Freud concluíram corretamente que os sintomas histéricos são desenvolvidos como<br />

resultado de experiências repressivas <strong>da</strong>nosas, e que se estas experiências <strong>da</strong>nosas<br />

fossem novamente libera<strong>da</strong>s <strong>da</strong> mente subconsciente por uma catarse mental, os<br />

sintomas histéricos seriam elimi<strong>na</strong>dos. Breuer conseguiu isso através do uso <strong>da</strong><br />

<strong>hipnose</strong>, mas Freud, um hipnotista pobre, achou que a livre associação conjuga<strong>da</strong><br />

com a psicanálise eram veículos através dos quais poderia realizar seu trabalho de<br />

forma melhor. Parlour observou que, apesar de que Freud menosprezou a "<strong>hipnose</strong>"<br />

formal, ele no entanto usou constantemente muitas técnicas de <strong>hipnose</strong>, tais como<br />

"tocar a testa do paciente", "a concentração <strong>da</strong> mente do paciente", "o relaxamento do<br />

corpo sobre um sofá" e "o farto uso <strong>da</strong> imagi<strong>na</strong>ção". Este fato foi muito<br />

negligenciado durante o tempo em que Freud viveu, atenção sendo <strong>da</strong><strong>da</strong> às palavras<br />

de Freud que nem sempre explicavam as ações do mesmo.<br />

Foi durante este período que uma <strong>da</strong>s idéias mais errôneas a respeito <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong><br />

ganhou terreno, e que ain<strong>da</strong> hoje, infelizmente, é difícil desalojar <strong>da</strong>s mentes de<br />

muitos médicos e de milhares de leigos. Devido à conde<strong>na</strong>ção <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> feita por<br />

Freud em favor <strong>da</strong> psicanálise, as pessoas começaram a associar a <strong>hipnose</strong> com<br />

"sugestões diretas" (este sendo ape<strong>na</strong>s um dos aspectos do hipnotismo). Por<br />

conseguinte, o público em geral e os leigos também começaram a pensar em termos<br />

de psicanálise versus sugestão direta. O que não foi suficientemente explicado foi que<br />

a ciência e arte do hipnotismo contém tanto análise quanto sugestão, e quando<br />

corretamente aplica<strong>da</strong> não ape<strong>na</strong>s fracio<strong>na</strong> o problema em seus componentes para<br />

análise, mas recompõe o indivíduo novamente com uma Síntese. A psicanálise<br />

convencio<strong>na</strong>l, entretanto, com sua falta de orientação diretiva, elimi<strong>na</strong> inteiramente a<br />

última parte mencio<strong>na</strong><strong>da</strong> acima e tor<strong>na</strong> a primeira delas lenta, incômo<strong>da</strong> e muitas


vezes ineficaz. To<strong>da</strong>via, devido ao grande brilho e populari<strong>da</strong>de de Freud, as palavras<br />

“associações livres” e “psicanálise” tor<strong>na</strong>ram-se as senhas <strong>da</strong> época, e a <strong>hipnose</strong><br />

novamente mergulhou <strong>na</strong> obscuri<strong>da</strong>de.<br />

Alguns especialistas, tal como Pierre Janet <strong>da</strong> França, Bramwell e Moll <strong>da</strong> Grã-<br />

Bretanha, Morton Prince e McDougall dos Estados Unidos, e Pavlov <strong>na</strong> Rússia,<br />

continuaram a fazer uso do hipnotismo. A maioria dos neurologistas (<strong>na</strong>quela época,<br />

a maior parte <strong>da</strong>s doenças mentais era investiga<strong>da</strong> do ponto de vista <strong>da</strong> “neurologia”)<br />

foi imediatamente influencia<strong>da</strong> pela teoria e métodos de Freud.<br />

Freud era um homem fasci<strong>na</strong>nte. Ele <strong>na</strong>sceu no dia 6 de maio de 1856, <strong>na</strong> ci<strong>da</strong>de<br />

morávia de Freiberg, uma peque<strong>na</strong> e antiga ci<strong>da</strong>de industrial que então pertencia ao<br />

Império Austro-Húngaro. Sua mãe, Amália, por quem teve um forte apego edipiano,<br />

era vinte anos mais nova que seu pai Jacob. A família mudou-se para Vie<strong>na</strong>, onde<br />

viveu sua vi<strong>da</strong>. Seu pai morreu em outubro de 1896, quando Freud tinha quatro anos,<br />

afetando-o profun<strong>da</strong>mente, o que expressou numa carta que escreveu ao seu amigo, o<br />

Dr. Fliess.<br />

A família de Freud era judia, mas Freud ignorava as comemorações dos judeus, e em<br />

vez disso celebrava o Natal e o Ano Novo porque "era mais fácil". Este tipo de<br />

comportamento parece muito incomum para um não conformista, mas como<br />

afirmamos acima, Freud era <strong>na</strong> reali<strong>da</strong>de um paradoxo, dizendo algumas coisas e<br />

praticando outras. Ele constantemente afirmava, por exemplo, que era um cientista de<br />

primeira linha, que buscava sempre a ver<strong>da</strong>de e somente a ver<strong>da</strong>de. Até sua morte,<br />

ele continuou a acreditar <strong>na</strong> teoria de Lamarch de que características pessoais<br />

adquiri<strong>da</strong>s poderiam ser her<strong>da</strong><strong>da</strong>s, algo que nenhum ver<strong>da</strong>deiro cientista <strong>da</strong> época<br />

acreditava mais, <strong>da</strong> mesma forma que não acreditava que o mundo era plano. Freud<br />

também interessou-se pelo ocultismo e pela telepatia, e abertamente afirmava sua<br />

crença neles, apesar de nunca ter publicado obras deste teor. Freud acreditava<br />

sobremaneira <strong>na</strong> magia dos números, e seu amigo íntimo William Fliess, mencio<strong>na</strong>do<br />

acima, afirmou que Freud acreditava que coisas importantes aconteciam aos seres<br />

humanos em ciclos de 23 a 28 dias. Ele previu sua própria morte <strong>na</strong> i<strong>da</strong>de de 61 ou<br />

62 anos, e ficou um tanto quanto desapontado depois de ter passado por essa i<strong>da</strong>de,<br />

elevando assim sua predição para 85 anos e meio, a i<strong>da</strong>de em que seu pai e seu meio<br />

irmão morreram. O filho mais velho de Freud, Jean Martin Freud, cujo nome lhe foi<br />

<strong>da</strong>do em home<strong>na</strong>gem a Charcot, o qual Sigmund admirava tanto, publicou um livro<br />

relativamente novo sobre a vi<strong>da</strong> doméstica de Freud como pai e como homem. Freud<br />

conheceu sua esposa em abril de 1882, e apaixonou-se à primeira vista, apesar de não<br />

ter se casado antes de ter prestado um mês de serviço em manobras do Exército<br />

Austríaco em 1886, quando foi promovido de Primeiro Tenente a Capitão.<br />

Freud trabalhava como especialista em doenças nervosas, e era um professor<br />

iniciante <strong>na</strong> Universi<strong>da</strong>de de Vie<strong>na</strong> quando Jean Martin <strong>na</strong>sceu. Ele vivia em<br />

Suenhaus, frente a Ringstrasze, mas escreveu muitos de seus melhores livros em<br />

cenários <strong>na</strong>turalistas. A Interpretação dos Sonhos, provavelmente um dos livros mais<br />

famosos de Freud, foi escrito numa vila em Berchtesgaden, uma lin<strong>da</strong> estância<br />

situa<strong>da</strong> no alto <strong>da</strong>s montanhas <strong>da</strong> Bavária, que mais tarde se tor<strong>na</strong>ria famosa como o<br />

bem guar<strong>da</strong>do refúgio de Adolph Hitler.<br />

Freud estava sempre imacula<strong>da</strong> e cui<strong>da</strong>dosamente vestido, mesmo durante os últimos<br />

dezessete anos de sua vi<strong>da</strong>, nos quais dolorosamente submeteu-se a uma operação<br />

após a outra por causa dos cânceres incuráveis que tanto o incomo<strong>da</strong>ram. Ele<br />

manteve seu senso de humor mesmo após a maior parte <strong>da</strong> estrutura de sua boca,<br />

pálato e maxilar ter sido removi<strong>da</strong>, e de ter sido forçado a usar uma prótese<br />

monstruosa para poder fechar a abertura entre a cavi<strong>da</strong>de <strong>na</strong>sal e a garganta para


poder falar. Fraco e incapaz de falar, exceto em seu alemão <strong>na</strong>tivo (apesar de que<br />

antes falasse bem o francês e o inglês), disse certa vez à cantora francesa Yvette<br />

Guilbert: "Meine Prosthese Spricht Keine Franzosisch" (Minha prótese não fala<br />

francês).<br />

Freud submeteu-se a um total de 33 operações, incluindo uma operação de<br />

esterilização, a qual esperava que de alguma maneira mu<strong>da</strong>ria a configuração<br />

hormo<strong>na</strong>l de seu corpo, evitando que o câncer se espalhasse. Ele fugiu para a<br />

Inglaterra em 1938 para escapar de Hitler, e aos 82 anos de i<strong>da</strong>de, em Londres,<br />

recuperou-se o suficiente para fazer quatro tratamentos de análise por dia. Freud<br />

odiava as drogas e tomava ape<strong>na</strong>s aspiri<strong>na</strong> ocasio<strong>na</strong>lmente. Em fevereiro de 1939 seu<br />

câncer fi<strong>na</strong>lmente o encurralou, sendo considerado inoperável e completamente<br />

incurável <strong>na</strong> época, e, no dia 21 de setembro <strong>da</strong>quele ano, pediu ao seu médico, o Dr.<br />

Max Schur, que lhe desse um se<strong>da</strong>tivo. "É somente tortura agora, e não faz mais<br />

qualquer sentido", disse Freud, e dias depois, com 83 anos de i<strong>da</strong>de, ele morreu. Sua<br />

filha An<strong>na</strong> permaneceu ao seu lado durante sua longa enfermi<strong>da</strong>de, mantendo-o<br />

confortado. "O mais importante," disse o biógrafo Jones (que talvez foi o psica<strong>na</strong>lista<br />

de língua inglesa número um em sua época), "é a crescente consciência que as<br />

pessoas têm de serem movi<strong>da</strong>s por forças obscuras dentro de si mesmas, as quais não<br />

conseguem definir. Poucos pensadores hoje em dia poderiam afirmar possuir um<br />

conhecimento completo de si mesmos, ou de que o que estão conscientemente cientes<br />

engloba o total de sua mentali<strong>da</strong>de, e este reconhecimento, com to<strong>da</strong>s suas<br />

conseqüências formidáveis para o futuro <strong>da</strong>s organizações sociais, nós devemos<br />

acima de tudo a Freud. O principal inimigo e perigo do homem é sua própria <strong>na</strong>tureza<br />

incontrolável e as forças negras enclausura<strong>da</strong>s em seu interior. Se nossa raça tiver<br />

sorte de sobreviver por outros mil anos, o nome de Sigmund Freud será lembrado<br />

como aquele do homem que foi o primeiro a averiguar a origem e a <strong>na</strong>tureza destas<br />

forças e que apontou a maneira de obter algum controle sobre elas".<br />

Milne Bramwell<br />

O nome de Bramwell é mais lembrado pelo seu clássico texto Hypnotism, It's<br />

History, Practice and Theory, que até hoje permanece como um dos mais refi<strong>na</strong>dos<br />

livros escritos sobre o hipnotismo. Em seu livro, ele afirma que sua primeira<br />

introdução ao assunto foi indiretamente devi<strong>da</strong> ao Dr. James Es<strong>da</strong>ile, pois Es<strong>da</strong>ile<br />

deixou a Índia e viveu durante algum tempo em Perth, ci<strong>da</strong>de <strong>na</strong>tal de Bramwell.<br />

Muitos dos experimentos de Es<strong>da</strong>ile foram mais tarde reproduzidos pelo pai de<br />

Bramwell, que também era médico. Quando menino, Bramwell testemunhou muitos<br />

destes experimentos, os quais o impressio<strong>na</strong>ram muito. Ele era um ávido leitor e<br />

estu<strong>da</strong>nte em Edinburgo, quando o Professor John Hughes Bennett novamente<br />

chamou sua atenção para o hipnotismo.<br />

Depois de deixar Edinburgo, Bramwell ocupou-se com a prática médica em geral, e a<br />

<strong>hipnose</strong> ficou quase esqueci<strong>da</strong> até ficar sabendo que esta havia sido restaura<strong>da</strong> nos<br />

departamentos <strong>da</strong> Salpêtrière. No dia 28 de março de 1890, ele fez uma demonstração<br />

<strong>da</strong> anestesia hipnótica a uma grande audiência em Leeds. Esta foi relata<strong>da</strong> no British<br />

Medical Jour<strong>na</strong>l e no Lancet, e recomen<strong>da</strong>ções de pacientes tor<strong>na</strong>ram-se tão<br />

numerosas que ele abandonou a prática geral e limitou-se à prática do hipnotismo.<br />

Bramwell foi de certa forma capaz de evitar a maior parte <strong>da</strong> grande oposição e<br />

deturpação que haviam sido perpetra<strong>da</strong>s contra médicos que anteriormente se<br />

associaram com esta ciência. Bramwell provavelmente ficou mais famoso por sua<br />

obra sobre a <strong>hipnose</strong> clínica <strong>na</strong> medici<strong>na</strong> e <strong>na</strong> cirurgia. Entretanto, ele também


escreveu sobre teorias <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong>, <strong>hipnose</strong> em animais, o gerenciamento de<br />

experimentos com <strong>hipnose</strong>, fenômenos experimentais <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong>, e até mesmo sobre<br />

assuntos ocultos, tais como o espiritualismo, a clarividência e a telepatia.<br />

Moll, um contemporâneo inglês, é igualmente famoso por seu livro sobre a <strong>hipnose</strong>.<br />

O livro de Moll, registrado alguns anos antes do de Bramwell, tinha uma estrutura<br />

um pouco diferente e é digno de nota por sua dissertação sobre os aspectos legais <strong>da</strong><br />

<strong>hipnose</strong>, assunto em que Bramwell não tocou, mas que de forma liberal é citado por<br />

mim em um livro anterior, Legal Aspects of Hypnosis, o primeiro volume completo<br />

sobre o assunto já escrito. Moll demonstrou como as sugestões cotidia<strong>na</strong>s diferem <strong>da</strong><br />

<strong>hipnose</strong>, e também deu a primeira referência à <strong>hipnose</strong> desperta. Ele antecipou os<br />

estudos de Erickson sobre o estado pós-hipnótico, e também investigou a relação<br />

entre o hipnotista e o paciente. Seu livro foi por muito tempo considerado uma <strong>da</strong>s<br />

melhores introduções possíveis ao estudo <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong>, sendo uma <strong>da</strong>s primeiras peças<br />

<strong>da</strong> literatura que objetivamente separou a <strong>hipnose</strong> dos elementos místicos que a<br />

cercam.<br />

Outros Médicos <strong>da</strong> Época<br />

O primeiro uso documentado <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> utiliza<strong>da</strong> como anestésico ocorreu no dia 12<br />

de abril de 1829, quando Jules Cleznet, um cirurgião francês, realizou uma operação<br />

de mama. Os primeiros usos documentados <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> <strong>na</strong> América aconteceram em<br />

1843, um ano depois de Braid ter cunhado o termo, em Nova York, Ohio, Illinois e<br />

Missouri, por Doane, Dugas e outros. A contribuição de Crile para a literatura <strong>da</strong><br />

<strong>hipnose</strong> foi o fato de ter reconhecido que mesmo apesar de um paciente estar<br />

"inconsciente" durante a anestesia por i<strong>na</strong>lação, a maior parte de seu cérebro ain<strong>da</strong><br />

permanece acor<strong>da</strong><strong>da</strong>, e que os impulsos nervosos ain<strong>da</strong> podiam alcançar o cérebro,<br />

produzindo depressão cerebral e outras manifestações indesejáveis. Dupuytren, o<br />

famoso cirurgião francês que é mais conhecido por sua obra sobre as contraturas,<br />

afirmou que a "dor mata como a hemorragia", e de fato muitos pacientes <strong>da</strong>quela<br />

época preferiam a morte em vez <strong>da</strong> dor extrema. William Kroger, um obstetra<br />

hipnotista bem conhecido, relatou o declínio do uso <strong>da</strong> hipnoanestesia depois do<br />

desenvolvimento dos anestésicos químicos.<br />

<strong>HISTÓRIA</strong> RECENTE<br />

Cientistas Contemporâneos <strong>na</strong> Área<br />

Uma nova era <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> teve início com a Primeira Guerra Mundial. O<br />

re<strong>na</strong>scimento foi primariamente devido a uma multiplici<strong>da</strong>de de casos de paralisia e<br />

amnésia de origem psicogênica, e o fato de que poucos psiquiatras estavam<br />

disponíveis. Da Grã Bretanha veio Hadfield, que originou o termo Hipnoanálise,<br />

significando o uso <strong>da</strong> regressão de i<strong>da</strong>de para descobrir as experiências <strong>da</strong>nosas e<br />

então revivê-las sob <strong>hipnose</strong> para produzir catarse mental. O advento <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> em<br />

nossa época fez surgir muitos novos especialistas, incluindo muitos hipnotistas de<br />

palco. Lewis R. Wolberg, um professor clínico assistente de psiquiatria do New York<br />

Medical College, escreveu talvez o mais extenso tratado sobre a <strong>hipnose</strong> médica em<br />

dois volumes, publicado nos Estados Unidos. Em 1955, a British Medical<br />

Association oficialmente sancionou o ensino <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> em to<strong>da</strong>s as escolas de


medici<strong>na</strong>, <strong>da</strong>ndo início à organização de grupos e socie<strong>da</strong>des de ensino. William J.<br />

Bryan Jr., que tornou-se seu primeiro presidente, fundou o Instituto Americano de<br />

Hipnose no dia 4 de maio de 1955. Foi fun<strong>da</strong>do pela razão de que até aquela época<br />

não havia nenhum corpo educacio<strong>na</strong>l devotado exclusivamente a promover to<strong>da</strong>s as<br />

fases <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> <strong>na</strong> medici<strong>na</strong> e <strong>na</strong> odontologia, e o Instituto foi fun<strong>da</strong>do para<br />

preencher esta lacu<strong>na</strong>. Desde então este cresceu até se tor<strong>na</strong>r a instituição educacio<strong>na</strong>l<br />

mais respeita<strong>da</strong> do mundo devota<strong>da</strong> exclusivamente ao ensino <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> <strong>na</strong><br />

medici<strong>na</strong> e <strong>na</strong> odontologia aos médicos e dentistas de todo o mundo. Outros<br />

Presidentes <strong>da</strong> organização incluem os peritos <strong>da</strong>quela época, incluindo Butters,<br />

Moss, Sloan, Bryan, Hedge, Boswell e McCall.<br />

Indubitavelmente, o mais famoso hipnotista dental contemporâneo é o Dr. H. Joshua<br />

Sloan, ex-presidente e membro do Instituto Americano de Hipnose. Ele foi<br />

responsável pelo estabelecimento do primeiro curso universitário de <strong>hipnose</strong>,<br />

lecio<strong>na</strong>ndo nele durante muitos anos. Autor de Introductory Information for<br />

Dentists in Hypnosis, e de Goals in Dentistry, ocupou vários cargos, incluindo o de<br />

Presidente <strong>da</strong> Academy of Applied Psychology in Dentistry e de Presidente do<br />

Instituto Americano de Hipnose. Mais conhecido por sua pesquisa sobre o<br />

refi<strong>na</strong>mento de várias técnicas de indução e de aprofun<strong>da</strong>mento, e por sua extensa<br />

obra no campo <strong>da</strong> Semântica Geral, ele atende <strong>na</strong> Madison Avenue, em Nova York.<br />

Aaron A. Moss, o terceiro presidente do Instituto Americano de Hipnose, é mais<br />

conhecido por sua clássica obra Hypnosis in Dentistry, o livro mais completo sobre o<br />

assunto publicado até hoje [janeiro de 1963]. Ele foi responsável pela primeira<br />

filmagem do uso <strong>da</strong> Hipnose <strong>na</strong> Odontologia.<br />

O Dr. Garland Fross, de South Bend, India<strong>na</strong>, o Dr. Tom Wall, de Seattle,<br />

Washington, o Dr. Jack Bart, de Riverside e Beverly Hills, Califórnia, e o Dr. Martin<br />

Cousins, de Los Angeles, Califórnia, se distinguiram no campo <strong>da</strong> Hipnodontia.<br />

Todos estes homens participaram de vários cursos ministrados pelo Instituto <strong>na</strong><br />

capaci<strong>da</strong>de de membros <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de, e todos são Membros <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de.<br />

O Dr. Fross, uma len<strong>da</strong> em sua própria comuni<strong>da</strong>de e Coman<strong>da</strong>nte no Departamento<br />

de Odontologia <strong>da</strong> Marinha, muito realizou para ensi<strong>na</strong>r aos Dentistas Oficiais <strong>da</strong><br />

Marinha e a milhares de dentistas civis, a respeito <strong>da</strong> ética e do lugar correto <strong>da</strong><br />

Hipnose <strong>na</strong> Odontologia. Ele escreveu vários artigos e documentos científicos sobre<br />

o assunto e, com a aprovação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de de odontologia de sua ci<strong>da</strong>de, levou ao ar<br />

através do rádio, em certa ocasião, informações ao público sobre o assunto, num<br />

programa de rádio público <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de de odontologia. Já o Dr. Wall por várias<br />

vezes deu palestras sobre a Hipnodontia em várias Universi<strong>da</strong>des e em vários<br />

encontros de médicos e de dentistas, além de ter escrito um panfleto explicando a<br />

Hipnose <strong>na</strong> Odontologia aos pacientes.<br />

O Dr. Jack Bart realizou palestras em lugares tão distantes quanto Paris, <strong>na</strong> França, e<br />

em Honolulu, no Havaí, sobre o assunto <strong>da</strong> Hipnose <strong>na</strong> Odontologia, e a tem<br />

praticado durante to<strong>da</strong> a sua carreira de dentista. O Dr. Cousins não somente é<br />

membro <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de do Instituto Americano de Hipnose, mas regularmente ministra<br />

aulas sobre Hipnodontia <strong>na</strong> Beverly Hills Hypnodontic Society, e tem ensi<strong>na</strong>do a<br />

médicos e dentistas as técnicas apropria<strong>da</strong>s <strong>da</strong> hipnoanestesia. Ele é uma autori<strong>da</strong>de<br />

de renome mundial neste assunto, especialmente no que tange à Odontologia.


Dr. Sydney Van Pelt<br />

Uma <strong>história</strong> <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> não estaria completa sem mencio<strong>na</strong>r o primeiro especialista<br />

no campo <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> médica de nossa época. O Dr. Sydney J. Van Pelt, um médico<br />

australiano que estabeleceu sua prática em Londres, Inglaterra, há cerca de quinze<br />

anos, foi o primeiro médico hipnotista do mundo moderno a trabalhar em tempo<br />

integral. Limitando sua prática ao uso <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> <strong>na</strong> medici<strong>na</strong>, o Dr. Van Pelt<br />

construiu uma invejável reputação numa época em que o resto do mundo estava<br />

muito desconfia<strong>da</strong> <strong>da</strong> nova mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de. Ele tornou-se o primeiro presidente vitalício<br />

<strong>da</strong> British Society of Medical Hypnotism, e o Editor do British Jour<strong>na</strong>l of Medical<br />

Hypnotism, a mais antiga e mais respeita<strong>da</strong> revista no assunto ain<strong>da</strong> em publicação. O<br />

British Jour<strong>na</strong>l of Medical Hypnotism sob sua direção desde o início, viveu mais<br />

longamente do que o Zoist de Elliotson, e é hoje o líder inquestionável neste campo<br />

em todo o mundo. Através do British Jour<strong>na</strong>l e <strong>da</strong> revista <strong>da</strong> American Institute of<br />

Hypnosis, para a qual escreveu vários artigos, o melhor <strong>da</strong> literatura científica sobre o<br />

assunto do hipnotismo é dissemi<strong>na</strong>do para os médicos de língua inglesa de todo o<br />

mundo. O Dr. Van Pelt participou como palestrante do primeiro curso inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l<br />

de hipnotismo médico, que aconteceu em novembro de 1959, a bordo do <strong>na</strong>vio M. S.<br />

Kungshohm, num cruzeiro ao Caribe, e, com a minha exceção, é talvez hoje o único<br />

médico especialista em <strong>hipnose</strong> em tempo integral ain<strong>da</strong> vivo. Ele escreveu mais<br />

livros sobre a <strong>hipnose</strong> do que quaiquer outros quatro autores combi<strong>na</strong>dos (se eu não<br />

for utilizado <strong>na</strong> combi<strong>na</strong>ção), e possui tantos artigos publicados sobre o assunto que<br />

são muito numerosos para contar. Se existe um homem de nossa época que se elevará<br />

à grandeza através <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> médica, este certamente é o Dr. S. J. Van Pelt, a<br />

primeira autori<strong>da</strong>de no assunto em todo o mundo.<br />

O Hipnotismo <strong>na</strong> França<br />

A formação do Instituto Americano de Hipnose e a ação simultânea <strong>da</strong> Associação<br />

Médica Britânica em aprovar a Hipnose em 1955, fez com que o Conselho de Saúde<br />

Mental <strong>da</strong> Associação Médica America<strong>na</strong> conduzisse um estudo exaustivo de três<br />

anos, culmi<strong>na</strong>ndo num endosso oficial <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> pela Associação Médica<br />

America<strong>na</strong> em sua reunião de junho de 1958. Este fato foi relatado em detalhes no<br />

Jour<strong>na</strong>l of American Medical Association, e um texto do endosso unânime, pela Casa<br />

de Delegados <strong>da</strong> Associação Médica America<strong>na</strong> pode ser encontrado no A. M. A.<br />

Jour<strong>na</strong>l Vol. 168, No 2, September 13, 1958. A Casa de Delegados sem nenhum voto<br />

contrário aceitou o relatório do Conselho de Saúde Mental aprovando a Hipnose.<br />

Logo após este acontecimento, o governo francês interessou-se novamente pelo<br />

Hipnotismo. Devido à conde<strong>na</strong>ção feita por Babinski dos métodos e dos tratamentos<br />

de Charcot, apesar de obviamente falsa, o hipnotismo gozou de uma reputação<br />

extremamente ruim <strong>na</strong> França, e por conseqüência ninguém era sequer permitido a<br />

tocar no assunto <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> em qualquer reunião médica em Universi<strong>da</strong>des, pois a<br />

Academia Médica Francesa oficialmente proibiu a discussão do tema em 1840, e o<br />

assunto permaneceu como um tabu até 1958, época em que a Universi<strong>da</strong>de de<br />

Medici<strong>na</strong> de Sorbonne, de Paris, convidou-se para reintroduzir o assunto <strong>na</strong> França<br />

em uma palestra para cerca de 200 médicos franceses famosos, no Hospital<br />

Psiquiátrico St. Anne, em Paris. A palestra foi realiza<strong>da</strong> no auditório do Hospital<br />

Psiquiátrico, e a recepção foi tão entusiasma<strong>da</strong> que fiquei durante uma hora e meia a<br />

mais do previsto respondendo perguntas e realizando demonstrações, incluindo a<br />

demonstração de <strong>hipnose</strong> realiza<strong>da</strong> através de um intérprete, que foi a primeira


exibição médica do tipo conheci<strong>da</strong> no mundo. Por causa desse grande sucesso, o<br />

vice-prefeito de Paris recebeu-me em seu gabinete com o tradicio<strong>na</strong>l brinde de<br />

champanhe, <strong>na</strong> ausência do Prefeito que estava em Nova York numa missão. O<br />

sucesso dessa iniciativa levou ao convite de retor<strong>na</strong>r e conduzir um curso completo<br />

de uma sema<strong>na</strong> sobre <strong>hipnose</strong>, <strong>na</strong> primavera de 1960. The British Jour<strong>na</strong>l of Medical<br />

Hypnotism Vol 10, No. 4 descreveu este importante evento de ensino <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong><br />

médica assim:<br />

UMA ARTE ANTIGA RETORNA À FRANÇA<br />

Reportagem sobre uma palestra ministra<strong>da</strong> pelo Dr. William J. Bryan Jr., (USA)<br />

O fato de a Associação Médica Britânica ter <strong>da</strong>do uma aprovação não qualifica<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>hipnose</strong> três anos atrás, levou a Associação Médica America<strong>na</strong> a imediatamente<br />

instruir seu Conselho de Saúde Mental a investigar o valor <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> <strong>na</strong> medici<strong>na</strong>.<br />

Esta investigação, que durou três anos, levou ao endosso unânime <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> pelo<br />

Conselho de Saúde Mental <strong>da</strong> Associação Médica America<strong>na</strong> em junho passado.<br />

Apesar do grande interesse mundial <strong>na</strong> <strong>hipnose</strong>, relativamente pouco tem sido dito ou<br />

feito <strong>na</strong> França sobre a <strong>hipnose</strong> nos últimos anos. O Dr. Pierre Pichot, professor de<br />

psiquiatria <strong>na</strong> facul<strong>da</strong>de de medici<strong>na</strong> <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Paris, e Chefe do corpo<br />

clínico do Hospital Psiquiátrico St. Anne <strong>da</strong>quela ci<strong>da</strong>de, deu algumas possíveis<br />

razões para isto. "Houve uma época", disse, "durante os dias de Mesmer e Charcot,<br />

em que a <strong>hipnose</strong> gozava de muitos seguidores <strong>na</strong> França. De fato, a França foi<br />

realmente o berço do hipnotismo, pode-se dizer. Entretanto, depois que Babinski,<br />

aluno de Charcot, ter amargamente denunciado o trabalho de Charcot depois de sua<br />

morte, a <strong>hipnose</strong> ficou com uma má reputação <strong>na</strong> França, e dessa maneira<br />

permaneceu até hoje".<br />

Foi provavelmente por causa do desejo dos Profissio<strong>na</strong>is de Medici<strong>na</strong> <strong>da</strong> França de<br />

novamente renovar seu interesse pela <strong>hipnose</strong> que os levaram a convi<strong>da</strong>r o Dr.<br />

William J. Bryan Jr., dos Estados Unidos <strong>da</strong> América, a falar sobre o assunto. Ele<br />

provavelmente é o primeiro médico, em muitos anos, a ser permitido falar sobre o<br />

assunto <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> num encontro de nível profissio<strong>na</strong>l em uma universi<strong>da</strong>de. No<br />

entanto, a Facul<strong>da</strong>de de Medici<strong>na</strong> <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Paris o acolheu com grande<br />

cortesia e honra. Eles lhe pediram que falasse a um grupo de profissio<strong>na</strong>is no dia 11<br />

de setembro de 1958, no Hospital Psiquiátrico de Ste. Anne, Rue Cannibis, em Paris.<br />

Enquanto <strong>na</strong> França, ele certamente recebeu um tratamento real. Foi recepcio<strong>na</strong>do<br />

pelo governo francês, pelos profissio<strong>na</strong>is franceses e pelo próprio povo francês.<br />

"Naturalmente seria impossível agradecer to<strong>da</strong>s essas pessoas maravilhosas aqui",<br />

afirmou, "mas atenção especial com certeza deveria ser <strong>da</strong><strong>da</strong> ao Monsieur Pierre<br />

Taintiger, o vice-prefeito de Paris, que pessoalmente deu-me as boas vin<strong>da</strong>s a Paris<br />

com o tradicio<strong>na</strong>l brinde de champanhe parisiense em seu gabinete particular. Devo<br />

também fazer menção especial ao Dr. Pierre Deniker e ao Dr. Pierre Pichot, que<br />

foram tão gentis comigo durante minha estadia em Paris. Miss Ellen Terry, uma<br />

fabulosa senhorita francesa que foi diretora do exército feminino <strong>da</strong> França, e que<br />

agora é Chefe dos Serviços de Informação <strong>da</strong> Embaixa<strong>da</strong> America<strong>na</strong>, recebe o meu<br />

apreço especial por prover seu valioso tempo aju<strong>da</strong>ndo-me a traduzir meu discurso<br />

do inglês para o francês (francês que os franceses pudessem compreender)."<br />

O discurso aconteceu no dia 11 de setembro de 1958, no auditório do Hospital<br />

Psiquiátrico de Sainte Anne, usando o novo sistema público de conferência deles pela<br />

primeira vez, para uma audiência de cerca de 200 médicos de to<strong>da</strong>s as partes do país,


além de um <strong>da</strong> Grã Bretanha. O discurso de meia hora foi bem recebido por um<br />

público que manteve o discursante presente por mais uma hora e meia com perguntas<br />

pertinentes. De fato, o discurso foi tão bem recebido que o Dr. Bryan decidiu fazer<br />

uma peque<strong>na</strong> demonstração para ilustrar alguns dos pontos de seu discurso. Portanto,<br />

com a aju<strong>da</strong> do Dr. Pierre Pichot como intérprete, alguns indivíduos foram colocados<br />

sob <strong>hipnose</strong>. Anestesia e outros fenômenos <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> foram produzidos e o público<br />

foi generoso em sua recepção dessa antiga arte que retor<strong>na</strong> à França.<br />

* * * * *<br />

Depois dessa descrição do discurso está o texto do discurso em si. Depois disso está o<br />

texto de uma carta do Dr. Pierre Pichot agradecendo o Dr. Bryan por sua vin<strong>da</strong> ao<br />

hospital.<br />

* * * * *<br />

Texto do discurso de 11 de setembro de 1958, no Hospital Psiquiátrico de Ste. Anne,<br />

Rue Cannibis, Paris:<br />

Avanços Recentes <strong>da</strong> Hipnose nos Estados Unidos<br />

Permitam-me, por favor, dizer-lhes o quanto sinto-me honrado por ter sido convi<strong>da</strong>do<br />

a discursar para vocês, e permitam-me dizer-lhes muito humildemente que não tenho<br />

a intenção de fazer desta uma palestra de uma só via. Ao invés disso, solicito uma<br />

troca de idéias entre nossos dois países como um método para o avanço mundial do<br />

conhecimento científico sobre o assunto em pauta. Seria certamente presunçoso de<br />

minha parte falar-lhes a respeito do Hipnotismo, pois vocês tiveram líderes tais como<br />

Mesmer, Charcot, Bernstein e Janet. Para começar, foi vosso grande país que levou o<br />

mundo a reconhecer a arte, e minhas humildes contribuições nesse campo são ape<strong>na</strong>s<br />

aquelas de um redecorador compara<strong>da</strong>s àquelas do arquiteto inicial. Entretanto,<br />

devido ao fato de vocês estarem interessados <strong>na</strong>s tendências dos acontecimentos<br />

nesse campo do hipnotismo <strong>na</strong> América, devo cobrir alguns pontos dos quais vocês<br />

podem não ter conhecimento.<br />

Primeiro: nos últimos cinco anos, uma revolução tem acontecido em meu país em<br />

relação aos métodos de ensino em escolas de pós-graduação. Devido ao fato de a<br />

maioria dos médicos não poderem deixar suas ocupa<strong>da</strong>s tarefas, quer para tirar férias,<br />

quer para uma educação de pós-graduação todo ano, e porque a educação de pósgraduação<br />

é um gasto que pode ser deduzido e não taxado pelo governo, muitos<br />

médicos começaram a combi<strong>na</strong>r férias com o estudo de pós-graduação. Isto tem<br />

levado os estudos médicos de pós-graduação <strong>da</strong>s salas de aula para <strong>na</strong>vios de cruzeiro<br />

e para hotéis em estâncias. Desde a grande on<strong>da</strong> de utilização do hipnotismo <strong>na</strong><br />

prática <strong>da</strong> medici<strong>na</strong> e <strong>da</strong> odontologia, nos últimos cinco anos surgiram não menos<br />

que quatro grupos principais de ensino do hipnotismo a médicos e dentistas, e<br />

nenhum destes grupos limita seu ensino ao hospital ou à facul<strong>da</strong>de. Na reali<strong>da</strong>de,<br />

acontece o contrário. Existe o grupo de Dave Ellman, os Seminários de Hipnose,<br />

Simpósios de Hipnose e o Instituto Americano de Hipnose. Como Diretor Executivo<br />

do Instituto, posso lhes dizer que agora, como nunca antes, o praticante médio geral<br />

nos Estados Unidos, bem como sua contraparte <strong>na</strong> odontologia, está usando a <strong>hipnose</strong><br />

como uma ferramenta terapêutica e de diagnóstico em sua prática. Quando<br />

consideramos que ensi<strong>na</strong>mos de cinqüenta a cem novos doutores todo mês, vocês


podem concluir que o uso desta arte está se espalhando rapi<strong>da</strong>mente pelo país.<br />

Segundo: Somente neste mês de junho a Associação Médica America<strong>na</strong> aprovou<br />

oficialmente e endossou o ensino <strong>da</strong> Hipnose <strong>na</strong>s Universi<strong>da</strong>des de Medici<strong>na</strong> e o uso<br />

<strong>da</strong> Hipnose como um método aprovado para tratar pacientes. Este foi um grande<br />

passo no avanço do hipnotismo em meu país.<br />

Terceiro: O estabelecimentos de novas revistas clínicas e de novas pesquisas<br />

experimentais neste país, juntamente com associações como a Associação<br />

Profissio<strong>na</strong>l do Instituto Americano de Hipnose, a Socie<strong>da</strong>de America<strong>na</strong> de Hipnose<br />

Clínica e a Socie<strong>da</strong>de de Hipnose Clínica e Experimental.<br />

Quarto: As pessoas mesmo, tendo ouvido o que pode ser feito com a <strong>hipnose</strong>, estão<br />

perguntando ca<strong>da</strong> vez mais aos seus médicos a respeito de seu uso em todos os tipos<br />

de doenças.<br />

Estes quatro pontos, portanto, são responsáveis, mais do que qualquer outra coisa,<br />

pelo rápido crescimento do uso <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> <strong>na</strong> prática <strong>da</strong> medici<strong>na</strong> e <strong>da</strong> odontologia<br />

nos Estados Unidos.<br />

Agora, provavelmente vocês estão querendo saber o que nós ensi<strong>na</strong>mos em nossos<br />

cursos de <strong>hipnose</strong> para médicos e dentistas. Vocês podem achar interessante nosso<br />

curso de três dias para iniciantes. O curso é exclusivo, é claro, para médicos e<br />

dentistas. Nosso curso consiste de palestras, filmes, demonstrações, períodos em<br />

laboratório e sessões práticas bem supervisio<strong>na</strong><strong>da</strong>s. Esperamos que ca<strong>da</strong> aluno<br />

demonstre sua habili<strong>da</strong>de para usar a <strong>hipnose</strong> antes do término do curso de três dias.<br />

Estes cursos são ministrados em fins de sema<strong>na</strong>. História, sugestões, teoria, e<br />

gerenciamento do transe cobrem o primeiro dia. Perigos, concepções erra<strong>da</strong>s,<br />

material clínico, crianças, e auto-<strong>hipnose</strong> cobrem o segundo dia, e no terceiro dia os<br />

grupos são divididos entre médicos e dentistas para instrução em suas especiali<strong>da</strong>des.<br />

Este é o programa de nosso curso para principiantes.<br />

Em que campo achamos que a <strong>hipnose</strong> tem mais valor? De maneira contrária, a<br />

<strong>hipnose</strong> parece ser de maior valor onde nenhum outro tratamento funcionou muito<br />

bem. No diagnóstico: onde todos os outros métodos falharam, um histórico completo<br />

e correto pode ser obtido usando-se técnicas de regressão sob <strong>hipnose</strong>. Eu chamei a<br />

atenção à importância disto em meu artigo publicado <strong>na</strong> edição corrente do British<br />

Jour<strong>na</strong>l of Medical Hypnotism. Na medici<strong>na</strong>: as causas profun<strong>da</strong>mente enraiza<strong>da</strong>s<br />

do alcoolismo, <strong>da</strong> enurese, <strong>da</strong> asma, do eczema, do prurido constante, e de muitas<br />

neuroses e psicoses podem ser descobertas através de cui<strong>da</strong>dosa hipnoanálise. E<br />

cirurgia: provavelmente o uso menos importante <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> é para fins de anestesia<br />

geral, e provavelmente o uso importante é obter as maravilhosas recuperações pósoperatórias<br />

sem náusea, quando a <strong>hipnose</strong> é utiliza<strong>da</strong>.<br />

A <strong>hipnose</strong> tem encontrado seu uso mais popularizado <strong>na</strong> obstetrícia e <strong>na</strong> ginecologia,<br />

pois hoje em dia existem muitas jovens que desejam experimentar o parto sem dor,<br />

além de desejarem permanecer totalmente conscientes e assistir o <strong>na</strong>scimento de seus<br />

bebês. Esta é uma experiência que testemunhei ser maravilhosa e estimulante para as<br />

jovem mães, sendo uma experiência de que elas sempre se lembrarão e que guar<strong>da</strong>rão<br />

no coração. Uma experiência prazerosa não pode acontecer quando a mãe é entupi<strong>da</strong><br />

com grandes quanti<strong>da</strong>des de se<strong>da</strong>tivos e drogas aluci<strong>na</strong>tórias. Na odontologia, o<br />

controle dos engasgos, do bruxismo e a cooperação do paciente obti<strong>da</strong> com a <strong>hipnose</strong><br />

são <strong>na</strong><strong>da</strong> menos do que miraculosos.<br />

Os perigos do uso <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> são realmente poucos e consistem em sua maioria no<br />

esquecimento <strong>da</strong> remoção <strong>da</strong>s sugestões, perigos de sugestão literal, e perigos ao<br />

médico devido a interpretações erra<strong>da</strong>s por parte do paciente.<br />

Por último, gostaria de discutir alguns dos projetos de pesquisa que no momento


estão em an<strong>da</strong>mento no programa do Instituto. Estamos experimentando o uso <strong>da</strong><br />

<strong>hipnose</strong> para crescer os seios de mulheres simplesmente através <strong>da</strong> sugestão. Oito em<br />

ca<strong>da</strong> nove casos tem mostrado uma melhora definitiva. Estamos tentando também ver<br />

se o sexo de uma criança que ain<strong>da</strong> não <strong>na</strong>sceu pode se determi<strong>na</strong>do questio<strong>na</strong>ndo o<br />

subconsciente sob <strong>hipnose</strong>. Nenhum resultado foi ain<strong>da</strong> obtido. Estamos usando a<br />

<strong>hipnose</strong> em relação à melhora <strong>da</strong> habili<strong>da</strong>de no funcio<strong>na</strong>mento dos sentidos; i.e.,<br />

surdez e cegueira. A <strong>hipnose</strong> também está sendo usa<strong>da</strong> em relação ao novo processo<br />

de Mobilização do Estribo no ouvido, tanto para anestesia operatória quanto para<br />

testes de audição.<br />

O acima, portanto, abrange resumi<strong>da</strong>mente o campo <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> <strong>na</strong> América nos dias<br />

de hoje (1958), mas muitos outros projetos interessantes estão a caminho. Permitamme,<br />

novamente, agradecer-lhes pela honra de ter aqui comparecido. Eu preferiria<br />

responder quaisquer questões em inglês, pois meu francês é muito limitado. Mais<br />

uma vez obrigado.<br />

* * *<br />

Texto <strong>da</strong> carta do Dr. Pierre Pichot<br />

Docteur Pierre Pichot<br />

Professor Agrégé a la Faculté de Médicine<br />

24, Rue des Fosses Saint-Jacques, Paris V<br />

18 de outubro de 1958<br />

Dr. William J. Bryan Jr. M.D.<br />

1204 B Street, P.O. Box 738<br />

Sparks, Neva<strong>da</strong>, U.S.A.<br />

Caro Dr. Bryan:<br />

Foi um grande prazer tê-lo encontrado em Paris, e nossos colegas aqui apreciaram<br />

muito sua apresentação bem estimulante <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong>. Estou certo de que a <strong>hipnose</strong><br />

tem um futuro importante <strong>na</strong> área <strong>da</strong> terapia psiquiátrica, provavelmente em outras<br />

áreas também, e tenho certeza de que você estimulou o interesse neste país.<br />

Sinceramente,<br />

Dr. Pierre Pichot<br />

______________________________________<br />

(O artigo acima foi reimpresso do British Jour<strong>na</strong>l of Medical Hypnotism, com sua<br />

generosa permissão)<br />

Nenhuma <strong>história</strong> do hipnotismo <strong>na</strong> França estaria completa sem mencio<strong>na</strong>r o<br />

primeiro médico hipnotista francês, o Dr. Joseph Morlaas, chefe <strong>da</strong> Clínica<br />

Neurológica de Salpêtrière. O Dr. Morlaas participou <strong>na</strong> Facul<strong>da</strong>de do Instituto<br />

Americano de Hipnose ao ministrar o primeiro curso sobre Hipnose Médico-Dental<br />

<strong>na</strong> França desde 1840. Este aconteceu em 1960 no Hotel Claridge em Paris, sob os<br />

auspícios do Instituto Americano de Hipnose.


SUMÁRIO<br />

Isto traz a <strong>história</strong> <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> até nossos tempos modernos. Desde 1958, o Instituto já<br />

ofereceu mais de 15 cursos diferentes em Hipnotismo em to<strong>da</strong>s as maiores ci<strong>da</strong>des<br />

dos Estados Unidos e no exterior. Literalmente milhares de médicos e dentistas foram<br />

introduzidos a esta importante arte <strong>da</strong> medici<strong>na</strong>. Em 1958, a Life Magazine estimou<br />

em 250 o número de médicos e dentistas qualificados a utilizar a <strong>hipnose</strong> em sua<br />

prática. É até duvidável que houvesse esse número; mas assumindo que assim fosse,<br />

nos últimos quatro anos, até 1962, devido ao diligente programa de ensino do<br />

Instituto Americano de Hipnose, existem agora cerca de 7.500 médicos e dentistas<br />

nos Estados Unidos totalmente qualificados a utilizar a <strong>hipnose</strong> em suas práticas, e<br />

assim estão ativamente procedendo. Isto representa um aumento de 3.000%<br />

comparado a 1958. Cerca de 44 mil operações foram realiza<strong>da</strong>s em 1960 sob <strong>hipnose</strong>,<br />

sem uma única morte anestésica. Em 1961, 52 mil foram realiza<strong>da</strong>s e 68 mil em<br />

1962. Com o tremendo aumento <strong>da</strong> utilização <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> por médicos de to<strong>da</strong>s as<br />

especiali<strong>da</strong>des, o hipnotismo médico, tal como a radiologia, começou a ser uma<br />

especiali<strong>da</strong>de em si, e os médicos que ain<strong>da</strong> não sabem como utilizá-la são ca<strong>da</strong> vez<br />

mais rotulados como "doutores de carroça", e logo ver-se-ão confrontados por<br />

processos por negligência profissio<strong>na</strong>l devido à falta de conhecimento que deveriam<br />

possuir sobre o assunto.<br />

Talvez o maior progresso e avanço foi feito no campo <strong>da</strong> psiquiatria, onde técnicas<br />

demora<strong>da</strong>s e cansativas de psicanálise que duram cinco ou seis anos ou até mais,<br />

foram suplanta<strong>da</strong>s por métodos rápidos, específicos e muito mais eficazes no<br />

tratamento <strong>da</strong>s mesmas doenças, através <strong>da</strong> hipnoanálise. A Pesquisa Médica<br />

Moder<strong>na</strong> tem definitivamente provado que o tempo necessário para uma psicanálise<br />

completa pode agora ser reduzido de seis anos para aproxima<strong>da</strong>mente três meses ou<br />

menos, através do correto uso <strong>da</strong>s técnicas hipno-a<strong>na</strong>líticas tais quais ensi<strong>na</strong><strong>da</strong>s pelo<br />

Instituto. Este fato é extremamente importante quando consideramos o relatório <strong>da</strong><br />

Comissão Conjunta de Doença e Saúde Mental ao Congresso dos Estados Unidos em<br />

1961. Afirmou-se neste relatório que "não mais de 20% dos 277 hospitais de Saúde<br />

Mental participaram dos modernos avanços planejados para torná-las instituições de<br />

tratamento, em vez de instituições de custódia!"<br />

Tal como o tratamento <strong>da</strong> sífilis foi quase que completamente transferido <strong>da</strong> prática<br />

do dermatologista para aquela do clínico geral, devido ao desenvolvimento <strong>da</strong><br />

penicili<strong>na</strong> e de outros antibióticos, assim também o tratamento de doenças psiconeuróticas<br />

e psicossomáticas, por causa dos avanços conseguidos <strong>na</strong> <strong>hipnose</strong> médica,<br />

está progressivamente tor<strong>na</strong>ndo-se domínio do médico de família, com a indicação de<br />

casos difíceis ao médico hipnotista. Isto é assim porque agora, através do uso <strong>da</strong><br />

<strong>hipnose</strong>, este tratamento não mais é complexo ou complicado como costumava ser<br />

sob outros métodos de tratamento ultrapassados. Nos dias em que se tratava a<br />

pneumonia através de anti-soros específicos, um especialista <strong>na</strong> área era<br />

freqüentemente necessário, e no entanto, hoje em dia o clínico geral americano trata a<br />

maioria dos casos de pneumonia com algumas injeções de penicili<strong>na</strong>, somente<br />

indicando casos especializados ou complicados ao médico internista.<br />

O Instituto Americano de Hipnose também possui seus marcos de progresso.<br />

Celebrando seu oitavo aniversário, o Instituto tem sido responsável pela educação de<br />

milhares de médicos e dentistas no campo <strong>da</strong> hipnoterapia, e estabeleceu o único<br />

serviço de referência de seu tipo em todo o mundo. Hoje em dia, qualquer pessoa que<br />

queira encontrar um médico ou um dentista próximo à sua casa, que esteja<br />

qualificado a utilizar a <strong>hipnose</strong>, necessita ape<strong>na</strong>s contatar o Instituto Americano de


Hipnose; e ela receberá nome, endereço e número de telefone do médico ou do<br />

dentista qualificado em sua ci<strong>da</strong>de.<br />

No fi<strong>na</strong>l de 1961, outra novi<strong>da</strong>de <strong>na</strong> <strong>hipnose</strong> médica teve início, quando a primeira<br />

turma de advogados aprendeu a <strong>hipnose</strong> médica, não com o propósito de praticar<br />

medici<strong>na</strong>, mas para que possam possuir um conceito inteligente dos fenômenos ao<br />

li<strong>da</strong>r com eles nos tribu<strong>na</strong>is em casos de negligência médica. Eles poderia assim<br />

reconhecer quando a prática <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> médica por um médico competente pode ser<br />

de valor para eles ou para seus clientes. (Veja-se meu livro entitulado Legal Aspects<br />

of Hypnosis, 1962, Charles C. Thomas). Existe um grande campo relacio<strong>na</strong>do a<br />

Hipnose e a Lei, a superfície <strong>da</strong> qual nem sequer começou a ser arranha<strong>da</strong>.<br />

Resumindo estes grandes novos passos <strong>da</strong> Hipnose e <strong>da</strong> Hipnoterapia, Wolberg com<br />

muita aptidão afirma: "a <strong>história</strong> <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> demonstra conclusivamente que esta<br />

não é uma causadora de milagres, mas com a exceção de afirmações extravagantes<br />

feitas por alguns de seus aderentes, esta é uma ferramenta muito importante e muito<br />

útil". Esta afirmação mais ou menos consolidou a opinião moder<strong>na</strong> esclareci<strong>da</strong> a<br />

respeito <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong>. Ao revisarmos a <strong>história</strong> do hipnotismo, vimos que este<br />

experimentou muitas ascensões e que<strong>da</strong>s de populari<strong>da</strong>de. Ele ain<strong>da</strong> experimentará<br />

outros cursos tempestuosos, devido à própria <strong>na</strong>tureza do fenômeno, antes que seu<br />

lugar <strong>na</strong> medici<strong>na</strong>, <strong>na</strong> cirurgia e <strong>na</strong> odontologia seja completamente assegurado.<br />

* * *<br />

Nota do Editor:<br />

Texto extraído do Jour<strong>na</strong>l of American Institute of Hypnosis, que foi fun<strong>da</strong>do por<br />

William J. Bryan, Jr., M.D.. Este artigo é <strong>da</strong>tado de janeiro de 1963 e foi editado por<br />

Anne H. Spencer, Ph.D., em janeiro de 1998.<br />

You will never know the feelings of pride I have in being a grad of Infinity Institute and a member of the IMDHA. Without you I would<br />

still be nothing and accomplishing nothing. Thanks to you for all you have helped me to become. Hypnosis has brought about many changes<br />

for me. I am the one who has benefited the most because I truly am a better person now than I ever was before and that is largely because of<br />

you two. Much love to you for the holi<strong>da</strong>y season. Inner Dimensions Hypnotherapy Center Belleville, MI Larry Farrugia<br />

Copyright © 1986 Infinity Institute Inter<strong>na</strong>tio<strong>na</strong>l, Inc. All rights reserved.

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