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Texto integral da conferência (pdf) - Apresentação

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pré-socrático, do termo morte: Parménides, Empédocles, Anaxágoras, Demócrito, todos defenderam<br />

que aquilo que os homens chamam “nascer” não é senão a agregação dos elementos eternos num<br />

composto individual; e aquilo a que chamam “morte” não é senão a desagregação desse composto e o<br />

permanecer desses elementos na sua eterni<strong>da</strong>de. Por outro lado, há o sentido comum <strong>da</strong> morte como<br />

aniquilação, destruição, corrupção: e este é o sentido que causa mais medo na maioria <strong>da</strong>s pessoas, e<br />

contra este medo, como veremos, não há raciocínio que ganhe; só o mito pode tentar “encantá-lo”,<br />

exorcizá-lo. Sob estes sentidos e atrás deles, há a alusão explícita a um terceiro sentido, metafórico, <strong>da</strong><br />

morte, que se liga intimamente à mensagem ética: morte como um morrer para a vi<strong>da</strong> que a maioria<br />

<strong>da</strong>s pessoas leva e, por conseguinte, como a necessi<strong>da</strong>de de abandonar riquezas, poder, prazer<br />

desenfreado, para se dedicar “à alma”, que significa precisamente «viver com virtude e sabedoria».<br />

Portanto, se a morte é qualquer coisa, ela é separação de elementos que podem subsistir separa<strong>da</strong>mente<br />

uns dos outros, ou podem compor-se <strong>da</strong>ndo lugar àquilo que nós chamamos simplesmente vi<strong>da</strong>. De<br />

facto, «estar morto» não é outra coisa senão esta condição de separação, quer do corpo quer <strong>da</strong> alma,<br />

que “vivem” ca<strong>da</strong> um por conta própria. Portanto, morte é, rigorosamente falando, a vi<strong>da</strong> separa<strong>da</strong><br />

dos elementos que compõem o homem. Neste horizonte, é claro, não há espaço para uma imortali<strong>da</strong>de<br />

que não a dos elementos que formam o composto “homem”. O homem é mortal, imortais são a sua<br />

alma e o seu corpo.<br />

A este sentido <strong>da</strong> morte sobrepõe-se imediatamente outro, metafórico, que é introduzido<br />

com uma série de “alterações de sentido” <strong>da</strong>s expressões comuns, que são típicas <strong>da</strong> filosofia<br />

platónica. Sócrates convi<strong>da</strong> Eveno a segui-lo, isto é, a morrer. Que raio de exortação, comenta<br />

Símias! Sim, porque os filósofos não se ocupam senão de morrer e de estar mortos. E Símias ri, ao<br />

pensar no sentido que a maioria dá à afirmação, isto é, que os filósofos são como os moribundos<br />

que vagueiam tristemente entre os homens. Mas o sentido <strong>da</strong>s expressões é: que os homens sejam<br />

filósofos e que cuidem <strong>da</strong> alma durante a sua vi<strong>da</strong>. Este sentido aparece claramente <strong>da</strong>s páginas 64<br />

A-69 E, nas quais o discurso é feito com a ligação de mito e de logos, ligação que pretende delinear<br />

uma contraposição entre vi<strong>da</strong> e morte, que não é outra coisa senão uma contraposição entre dois<br />

tipos de vi<strong>da</strong>. A morte aqui torna-se o sentido <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, isto é, a activi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> alma que, só se se<br />

esquecer do corpo, “separando-se” dele, pode adquirir a sabedoria, pode entrar em contacto com a<br />

ver<strong>da</strong>de, pode raciocinar, pode “ver” as ideias, que não se vêem com os olhos do corpo, mas com os<br />

<strong>da</strong> alma. É a nossa alma, portanto, que quanto menos estiver mistura<strong>da</strong> às necessi<strong>da</strong>des, aos medos<br />

e aos obstáculos que o nosso corpo lhe apresenta, mais consegue alcançar o ver<strong>da</strong>deiro objectivo <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong> do filósofo, que é sempre o de conhecer to<strong>da</strong>s as coisas, de adquirir ver<strong>da</strong>de e inteligência: em<br />

suma, de adquirir o saber. E então a morte, isto é, o morrer para os medos, para as ninharias, a

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