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15/3/2004 - OH4-Morfologia Fluvial.pdf - FCTH

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<strong>OH4</strong> - Portos, Rios e Canais<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

A água é essencial à vida. Por isso, a origem de todas as civilizações está intimamente<br />

ligada aos cursos d’água (egípcios, caldeus, persas, assírios, maias, etc). Além de mitigar a<br />

sede, o rio era o agente fertilizador das várzeas onde primeiro surgiu a agricultura, fator que<br />

fixou o caçador nômade e deu origem às civilizações.<br />

Era natural, portanto, que os cursos d’água tivessem importante papel como meio de<br />

transporte e via de comunicação.<br />

No início da Revolução Industrial, a navegação interior e a marítima mostraram-se como<br />

a melhor forma de atender à demanda crescente de transporte de cargas, passando a ter<br />

grande significado econômico.<br />

Data desta época a construção das grandes redes de canais artificiais, construídas como<br />

complemento às vias naturais que nem sempre atingiam as origens ou os destinos necessários.<br />

Em 1830, com o surgimento das estradas de ferro, a navegação interior perdeu sua<br />

posição de líder absoluta, mas continuou ainda a ser muito utilizada em todos os países. A<br />

principal vantagem da ferrovia sobre as hidrovias era a de atingir locais inacessíveis às<br />

embarcações.<br />

A partir do final do século passado houve um declínio ainda maior do transporte<br />

hidroviário que coincidiu com o máximo desenvolvimento das redes ferroviárias. Esse declínio<br />

se acentuou mais com o aparecimento do transporte rodoviário, cuja grande vantagem era o<br />

transporte “porta-a-porta”.<br />

Entretanto, principalmente nas regiões onde correm os grandes rios (Reno, Danúbio,<br />

Mississipi, Ohio), o declínio foi muito curto ou nem chegou a ocorrer por ter sido logo percebida<br />

a vantagem econômica do transporte por flutuação, quando é possível a utilização de grandes<br />

embarcações, percorrendo grandes distâncias.<br />

Durante a I Grande Guerra Mundial, a navegação interior voltou a firmar-se e, hoje, tem<br />

importância fundamental nos países desenvolvidos, integrado aos outros meios de transportes<br />

através de terminais intermodais.<br />

Para que a navegação interior se torne possível e vantajosa, é necessária a integração<br />

das obras hidráulicas necessárias, de forma a possibilitar o aproveitamento múltiplo dos cursos<br />

d’água (geração de energia, abastecimento, irrigação, recreação, etc.).<br />

2. HIDRÁULICA FLUVIAL<br />

<strong>Morfologia</strong> <strong>Fluvial</strong> - entende-se por morfologia fluvial o estudo da conformação do<br />

leito dos cursos d’água, sua evolução e estabilização.<br />

Os rios evoluem livremente nos depósitos sedimentares por eles mesmos transportados;<br />

agem permanentemente sobre seus leitos, erodindo, transportando e depositando sedimentos<br />

em busca de um perfil longitudinal de equilíbrio.<br />

Sua tendência natural é erodir a montante e depositar a jusante, fazendo uma perfeita<br />

seleção granulométrica dos sedimentos. Pode-se observar, em qualquer rio, que seu material<br />

apresenta dimensões decrescentes de montante para jusante.<br />

Nesse processo evolutivo, que envolve toda a bacia hidrográfica, grande quantidade de<br />

material sólido é levado para os corpos d’água receptores: outros rios, lagos e oceanos. Assim,<br />

o transporte de sedimentos deve ser considerado em todos os projetos de obras hidráulicas,<br />

tais como:<br />

1) estabilidade de leito de rios e canais não revestidos, tendo em vista sua conservação e<br />

navegação;<br />

<strong>Morfologia</strong> <strong>Fluvial</strong><br />

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<strong>OH4</strong> - Portos, Rios e Canais<br />

2) previsão de assoreamento em reservatórios;<br />

3) nas tomadas d’água para diversas finalidades;<br />

4) nos projetos portuários, principalmente em portos marítimos;<br />

5) nas obras de melhoramento das desembocaduras dos rios, visando navegação, e na<br />

proteção de costas.<br />

O rompimento do equilíbrio de um rio, que foi alcançado vagarosamente ao longo de<br />

séculos, pode ocorrer de várias formas. Por exemplo, pela modificação de alguma característica<br />

da bacia ou por uma intervenção direta no rio, tais como:<br />

1) uma alteração no recobrimento vegetal da bacia, pela substituição de cobertura de<br />

florestas por pastagens, aumenta substancialmente a quantidade de sedimentos que<br />

aportam aos rios;<br />

2) construção de barragem. A construção da Barragem de Assua, no Rio Nilo, no Egito, teve<br />

as seguintes conseqüências:<br />

- retenção dos sedimentos e do húmus, que fertilizava o delta do Nilo, no reservatório;<br />

- erosão no leito, a jusante, com conseqüente aprofundamento;<br />

- regularização das vazões;<br />

- eliminação das inundações;<br />

- surgimento de doenças endêmicas nas populações ribeirinhas à represa;<br />

- redução do volume de pesca na região do delta pela diminuição da fertilidade das<br />

águas;]<br />

- erosão na região do delta devido à diminuição do aporte de sedimentos pelo rio.<br />

3) Retirada de areia. O exemplo mais próximo é o do Rio Paraíba do Sul. A retificação do<br />

canal e a retirada constante de areia ocasionou aumento da velocidade e, em<br />

conseqüência, maior capacidade de transporte, o que resulta em aprofundamento do leito<br />

do rio.<br />

Estes fatores fazem com que o rio não consiga chegar a um novo perfil de equilíbrio,<br />

ocasionando os seguintes problemas:<br />

- rebaixamento da linha d’água, inutilizando tomadas d’água de várias cidades ao longo<br />

do rio;<br />

- comprometimento das estruturas das pontes;<br />

- rebaixamento do lençol freático, com conseqüências para a agricultura.<br />

3. FORMAÇÃO E EVOLUÇÃO DOS CURSOS D’ÁGUA NATURAIS<br />

A evolução de um rio apresenta três fases distintas:<br />

a) formação;<br />

b) modelação;<br />

c) estabilidade.<br />

A formação dos cursos d’água ocorre a partir do escoamento das águas pluviais para as<br />

linhas de maior declividade, os talvegues. Predominam, nessa fase, a erosão e a abrasão, com<br />

aprofundamento da seção, ocorrendo assoreamento nas partes baixas. É o início do curso<br />

d’água e a definição de sua bacia hidrográfica.<br />

<strong>Morfologia</strong> <strong>Fluvial</strong><br />

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<strong>OH4</strong> - Portos, Rios e Canais<br />

A modelação é a fase mais longa e mais importante da evolução de um rio. É o encontro<br />

dos efeitos e das tendências:<br />

d) a capacidade de erosão e transporte da água, e<br />

e) a resistência do solo do leito à desagregação.<br />

A modelação termina quando o rio atinge o equilíbrio. Da modelação surgem os níveis de<br />

base, que fixam as características do rio para montante.<br />

Os níveis de base são singularidades que impedem a livre evolução dos rios. Podem<br />

ser fixos como, por exemplo, afloramentos rochosos, ou móveis (mar, lagos, rios etc.). Eles<br />

podem desaparecer, se modificar ao longo do tempo ou serem substituídos por outros, dentro<br />

do processo de evolução natural.<br />

A estabilidade é alcançada quando se atinge o equilíbrio final. Deve-se frisar que este<br />

equilíbrio é dinâmico. O rio pode apresentar mudanças sazonais ou pluri-anuais mas volta<br />

sempre a suas posições iniciais.<br />

2.1. CLASSIFICAÇÃO DOS CURSOS D’ÁGUA<br />

Pode-se classificar os rios em duas categorias essenciais:<br />

f) Torrentes - aqueles onde o processo de modelação (evolução) se apresenta ainda com<br />

relativa intensidade. É o caso dos rios de montanha, com grande poder erosivo.<br />

g) Rios - aqueles onde o processo evolutivo se desenvolve muito lentamente.<br />

Em linhas gerais, um rio pode ser dividido em três trechos:<br />

1) trecho de montanha, com declividades altas, grande velocidade e poder de erosão, onde o<br />

processo evolutivo acontece com intensidade;<br />

2) trecho aluvional ou trecho intermediário, onde as velocidades de escoamento, o<br />

transporte de sedimentos e a declividade são menores, comparadas ao primeiro trecho;<br />

3) trecho de planície, onde se tem declividade e velocidade de escoamento muito baixas.<br />

Chegam nesse trecho apenas os sedimentos mais finos e o rio corta seu caminho através da<br />

planície construída por ele próprio.<br />

2.2. EVOLUÇÃO RETRÓGRADA DOS TALVEGUES<br />

<strong>Morfologia</strong> <strong>Fluvial</strong><br />

Talvegue de equilíbrio<br />

Perfil inicial<br />

Como já citado, os cursos d’água têm maior erosão no trecho de montante, onde há<br />

maior declividade. Consequentemente, o talvegue tende a vançar para montante ocorrendo o<br />

recuo do divisor de águas entre bacias, podendo mesmo chegar a acontecer o fenômeno da<br />

captura fluvial: a captura de um rio de uma bacia mais alta por outro de bacia mais baixa.<br />

Este fenômeno é comprovado geologicamente, tendo-se um exemplo aqui perto: os Rios<br />

Paraibuna e Paraitinga, formadores do Rio Paraíba do Sul, originalmente eram formadores do<br />

Rio Tietê.<br />

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<strong>OH4</strong> - Portos, Rios e Canais<br />

Na divisa do Chile e Argentina, na Cordilheira dos Andes, uma formação geológica<br />

recente, onde os processos de erosão e deposição se realizam com grande velocidade, o<br />

fenômeno da captura fluvial é bastante frequente, gerando conflitos de fronteira entre esses<br />

vizinhos.<br />

<strong>Morfologia</strong> <strong>Fluvial</strong><br />

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