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Desafio para a educação: a criança e o consumo - Colégio ...

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INFÂNCIA- CONSUMO-LIMITES-VALORES DISTORCIDOS-FAMÍLIA-ESCOLA<br />

OS DESAFIOS DE EDUCAR NOS DIAS DE HOJE 1<br />

Rita de Cássia Fonseca 2<br />

Estamos vivendo em um mundo em que é dado valor desmedido ao “belo” e ao “ter”, no sentido<br />

material. Em contrapartida, tudo que é natural, espontâneo e que, portanto não foi feito pela mão do<br />

homem, é desvalorizado. É de graça, não tem valor de compra... Então <strong>para</strong> que cuidar? Para que<br />

respeitar? Como incentivar as <strong>criança</strong>s a preservarem a natureza se elas vivem num mundo gasto e<br />

deteriorado pelos adultos? Acredito ser este o grande desafio da família e da escola nos dias de hoje.<br />

Que valores podemos passar às <strong>criança</strong>s, se nós também estamos confusos e inseguros em relação a<br />

como agir e ao que fazer diante do quadro atual do planeta? Será que ainda dá tempo de revertermos o<br />

caos que nós mesmos provocamos?<br />

“Criança, A Alma do Negócio”, é um documentário de Estela Renner e Marcos Nisti que aborda<br />

a polêmica do consumismo infantil causado pelo apelo publicitário e mostra histórias de famílias de<br />

diversas classes sociais que não sabem como lidar com os apelos de seus filhos. O vídeo nos remete a<br />

uma reflexão ainda maior sobre o papel dos adultos no desenvolvimento e futuro da infância.<br />

Não comandamos o destino das pessoas amadas, nem ao menos podemos sofrer em lugar delas, mas ter filhos é<br />

ser gravemente responsável. Não apenas por comida, escola, saúde, mas pela personalidade desses filhos: mais<br />

complicado do que garantir uma sobrevivência física saudável. Não significa que nós os formamos ou<br />

deformamos como deuses onipotentes. Ao contrário, parte do drama de paternidade e maternidade é não<br />

podermos viver por eles nem os preservar de seus destinos. Fazer suas opções. Mas seguramente nossa maneira<br />

de ser, de viver e de pensar quando ainda eram pequenos, quando ainda pareciam "nossos", vai influir em tudo<br />

isso. (LUFT – 2003 – 29)<br />

Como família e escola podem se unir <strong>para</strong> proporcionar às nossas <strong>criança</strong>s uma infância saudável<br />

baseada em valores mais justos? Proporcionamos às <strong>criança</strong>s de hoje contato com a natureza? Onde elas<br />

brincam? Em plays cimentados, passeiam em shoppings e passam horas e horas do dia vendo televisão<br />

ou jogando no computador. E ainda no computador, elas se comunicam, de forma virtual, com os amigos<br />

e, muitas vezes, com os familiares que moram na mesma casa. Nós nos acostumamos a viver<br />

emparedados, preocupados com nossos próprios interesses e ensinamos nossas <strong>criança</strong>s a viverem<br />

assim também.<br />

Acredito que o primeiro passo a ser dado é que nós, adultos, tomemos decisões sobre nosso<br />

comportamento de compra e <strong>consumo</strong>. Para que ter coisas desnecessárias? Se percebermos que<br />

consumir não nos dará mais ou menos bem estar, começaremos uma atitude de mudança que será<br />

transmitida às <strong>criança</strong>s. Elas se espelham nos exemplos que primeiro recebem em casa. Não podemos<br />

pedir a um filho que não fique cinco horas na Internet se nós ficamos.<br />

Os educadores devem estar conscientes desta problemática também e agir em benefício das<br />

<strong>criança</strong>s e, consequentemente, das famílias e da sociedade em geral. O diálogo sobre o meio ambiente<br />

no processo de ensino e aprendizagem é fundamental. O professor, como responsável pela <strong>educação</strong> na<br />

escola, poderá fazer com que o aluno tenha uma visão crítica dos fatos e não apenas reproduza a<br />

sociedade como ela é.<br />

1 Texto desenvolvido a partir dos debates gerados no curso: “ARTE E ECOLOGIA NA ESCOLA – UM DESAFIO PARA O<br />

SÉCULO XXI”, realizado na PUC – Rio de Janeiro, de março a junho de 2009.<br />

2 Rita de Cássia Martinho da Fonseca é pedagoga e professora do 1º ano do Ensino Fundamental do <strong>Colégio</strong><br />

Teresiano, Gávea, Rio de Janeiro.<br />

Contato: ritamartinho.web@oi.com.br


Trabalho na Educação Infantil com <strong>criança</strong>s na faixa dos 6 anos há muito tempo e percebo que<br />

hoje o educador tem um grande desafio nas mãos. Leciono <strong>para</strong> um público de classe média alta, com<br />

grande poder aquisitivo e, mais do que ensinar o “BE- a- BÁ”, quero contribuir o suficiente <strong>para</strong> a<br />

formação saudável de meus alunos a fim de ajudá-los a se tornarem adultos conscientes e<br />

transformadores.<br />

Durante as atividades de sala, procuro chamar a atenção deles <strong>para</strong> o cuidado com os materiais<br />

utilizados, deixando-os a par da procedência dos mesmos. Criança adora saber como e de que são feitas<br />

as coisas que usam. Aproveito este interesse natural <strong>para</strong> elucidá-los quanto à importância da economia<br />

de tudo que usamos. Temos no colégio um parquinho privilegiado, repleto de árvores, um rio,<br />

brinquedos de madeira, areia, insetos variados e até um morrinho. Desço com eles muitas vezes <strong>para</strong><br />

banhos de mangueira, <strong>para</strong> observarem as plantas, as filas de formigas, <strong>para</strong> catarem pedrinhas, <strong>para</strong><br />

fazerem piqueniques, pinturas ao ar livre e <strong>para</strong> brincarem com água. Esta experimentação é muito<br />

importante <strong>para</strong> estimular o processo investigativo e o gosto pelas brincadeiras nos espaços naturais.<br />

Os projetos trabalhados também ajudam a dis<strong>para</strong>r debates interessantes sobre a natureza.<br />

Contei a eles a história de “Chapeuzinho Vermelho” e aproveitei o ambiente em que se passa este conto<br />

<strong>para</strong> trabalhar a diversidade da floresta Amazônica e a importância de sua preservação <strong>para</strong> a<br />

humanidade. As <strong>criança</strong>s trouxeram de casa muitas informações e ilustrações sobre o tema. Além disso,<br />

proporcionei um espaço <strong>para</strong> que o grupo pudesse contar todas as novidades que haviam pesquisado<br />

sobre vegetação, animais e poluição do nosso planeta.<br />

Em outro momento, aproveitando a semana do meio ambiente, confeccionamos com sucata e<br />

jornal animais em risco de extinção, pesquisados por eles anteriormente: lobo-guará, panda, mico-leãodourado<br />

e onça-pintada. Fizemos também um mural de floresta com sobras de papeis coloridos. Os<br />

trabalhos ficaram em exposição no corredor da sala. As <strong>criança</strong>s e os adultos do colégio visitaram a<br />

exposição. As famílias também foram convidadas a apreciar os trabalhos. As <strong>criança</strong>s ficaram muito<br />

orgulhosas de compartilhar com os pais e convidados suas produções e descobertas sobre estes bichos.<br />

Depois fiz um sorteio dos animais na turma e, é claro, todos queriam ser sorteados. Para eles é uma<br />

honra levar <strong>para</strong> casa a produção feita na escola.<br />

Poderia citar aqui inúmeras atividades interessantes que aproximam a <strong>criança</strong> do meio em que<br />

vivem, mas precisaria de muitas páginas <strong>para</strong> explicá-las em detalhes.<br />

Seguem abaixo algumas dicas que considero importantes <strong>para</strong> o trabalho com <strong>criança</strong>s no espaço<br />

escolar:<br />

• Oportunizar ao máximo o contato da <strong>criança</strong> com espaços naturais na própria escola e,<br />

durante os passeios pedagógicos, dar prioridade às visitas a espaços ecológicos;<br />

• trabalhar projetos ou unidades que sirvam de dis<strong>para</strong>dores <strong>para</strong> discussões ambientais;<br />

• usar os espaços livres do colégio <strong>para</strong> atividades de Matemática que, a princípio, só poderiam<br />

ser realizadas na sala de aula como por exemplo, recolher e contar as pedrinhas do pátio,<br />

pular amarelinha, fazer o movimento dos números com o dedo na areia;<br />

• colocar as sobras de papel em recipientes se<strong>para</strong>dos, considerando a cor e a textura destes<br />

papéis <strong>para</strong>, em outro momento, serem utilizados em trabalhos de artes ou reciclados pelas<br />

<strong>criança</strong>s;<br />

• incentivar as <strong>criança</strong>s a trazerem frutas, pão com queijo, iogurtes e sucos <strong>para</strong> o lanche, ao<br />

invés de biscoitos recheados, salgadinhos e refrigerantes;<br />

• explicar às <strong>criança</strong>s que o papel é extraído de árvores e uma boa forma de poupá-lo é<br />

utilizando a frente e o verso das folhas de bloquinhos de papel (confeccionados pelas<br />

professoras) <strong>para</strong> os desenhos nos momentos livres;<br />

• estimular a partilha dos materiais de sala e das novidades que elas trazem de casa;<br />

• promover, nos dias quentes, banhos de mangueira e brincadeiras com água e areia;


• deixar a <strong>criança</strong> descalça de vez em quando <strong>para</strong> sentir o chão da sala, fazer o contorno do pé<br />

e contar os dedos;<br />

• disponibilizar jogos, fantasias, almofadas <strong>para</strong> leitura de livros e materiais de artes, <strong>para</strong> que,<br />

apesar das paredes que as “aprisionam”, as <strong>criança</strong>s possam usufruir de agradáveis<br />

momentos de convivência e aprendizado nos espaços da sala de aula.<br />

Espero ter podido contribuir um pouco com você, educador que, como eu, pretende motivar os<br />

alunos a aprender, a buscar e transformar informações em conhecimento e <strong>para</strong> viverem e construírem<br />

valores universais como solidariedade, liberdade, autonomia, espírito crítico, ética, cidadania e<br />

consciência do meio ambiente. Além disso, proporcionar o desenvolvimento de habilidades necessárias à<br />

formação integral deles, ajudando-os a crescerem e a se tornarem cidadãos comprometidos em<br />

transformar o mundo e, principalmente serem felizes!<br />

Referência bibliográfica<br />

LUFT, Lya. Perdas & Ganhos. Rio de Janeiro: Record, 2003.<br />

Criança, A Alma do Negócio, documentário dirigido pela cineasta Estela Renner e produzido por Marcos<br />

Nisti, que abriu o segundo Fórum da Criança e Consumo em setembro de 2008 no Instituto Itaú Cultural,<br />

em São Paulo.

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