Reclamação 3914 - BA - Telefonia fixa - pulsos além da franquia
Reclamação 3914 - BA - Telefonia fixa - pulsos além da franquia
Reclamação 3914 - BA - Telefonia fixa - pulsos além da franquia
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Superior Tribunal de Justiça<br />
RECLAMAÇÃO Nº 3.914 - <strong>BA</strong> (2010/0021332-6)<br />
RELATOR : MINISTRO CASTRO MEIRA<br />
RECLAMANTE : TELEMAR NORTE LESTE S/A<br />
ADVOGADO : LEONARDO CAPISTRANO E OUTRO(S)<br />
RECLAMADO : TERCEIRA TURMA RECURSAL DOS JUÍZADOS CIVEIS E<br />
CRIMINAIS DE SALVADOR - <strong>BA</strong><br />
INTERES. : BRAZ SOUZA DOS SANTOS<br />
ADVOGADO : DILMÃ SANTOS DE CERQUEIRA E OUTRO(S)<br />
DECISÃO<br />
Cui<strong>da</strong>-se de reclamação, com pedido de liminar, contra acórdão proferido pela<br />
Terceira Turma Recursal dos Juizados Cíveis e Criminais de Salvador, em que a reclamante noticia<br />
o descumprimento de acórdão prolatado pelo Superior Tribunal de Justiça nos autos do REsp<br />
1.074.799/MG, julgado sob o rito do art. 543-C, do CPC, que considerou váli<strong>da</strong> a cobrança de<br />
<strong>pulsos</strong> excedentes <strong>além</strong> <strong>da</strong> <strong>franquia</strong>.<br />
Afirma o reclamante que, como não há incidente de uniformização no âmbito <strong>da</strong>s<br />
turmas recursais dos juizados especiais estaduais, o instituto <strong>da</strong> reclamação seria o único capaz de<br />
propiciar a observância <strong>da</strong> jurisprudência do STJ na menciona<strong>da</strong> matéria.<br />
Aduz que a legali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> cobrança do serviço de telefonia <strong>fixa</strong>, por meio de <strong>pulsos</strong><br />
excedentes, foi submeti<strong>da</strong> ao Supremo Tribunal Federal, nos autos do RE 571.572/<strong>BA</strong>, ocasião na<br />
qual se decidiu que a solução <strong>da</strong> questão circunscreve-se à interpretação de dispositivos<br />
infraconstitucionais.<br />
Segundo a reclamante, "enquanto no Superior Tribunal de Justiça decidiu-se pela<br />
legali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> cobrança de <strong>pulsos</strong> <strong>além</strong> <strong>da</strong> <strong>franquia</strong>, na decisão proferi<strong>da</strong> pelos reclamados<br />
resolveu-se o litígio afirmando que referi<strong>da</strong> cobrança seria ilegal". (e-STJ fl. 03).<br />
Requer, liminarmente, a suspensão dos efeitos do ato impugnado e o sobrestamento<br />
de to<strong>da</strong>s as demais ações que tenha sido estabeleci<strong>da</strong> controvérsia envolvendo a legali<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />
cobrança de <strong>pulsos</strong> <strong>além</strong> <strong>da</strong> <strong>franquia</strong>.<br />
É o relatório. Passo a apreciar o pedido de liminar.<br />
A reclamação constitucional é ação destina<strong>da</strong> a preservar a competência do Superior<br />
Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal ou a autori<strong>da</strong>de de suas decisões com força<br />
vinculante, traduzindo-se como importante remédio à observância do princípio do juiz natural, <strong>da</strong><br />
tutela jurisdicional adequa<strong>da</strong> e, mais precisamente, à manutenção do estado democrático de direito.<br />
Quanto aos julgados proferidos no âmbito <strong>da</strong>s turmas recursais dos juizados<br />
especiais estaduais, o Superior Tribunal de Justiça editou a Resolução nº 12/STJ, de 14.12.2009,<br />
oriun<strong>da</strong> <strong>da</strong> Questão de Ordem na RCL 3.752/GO, decidi<strong>da</strong> pela Corte Especial e <strong>da</strong> decisão do<br />
Pleno do STF, no âmbito dos EDcl no RE 571.572-8/<strong>BA</strong>, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ de<br />
14.09.2009, determinando que, até a criação de órgão que possa estender e fazer prevalecer a<br />
aplicação <strong>da</strong> jurisprudência do STJ para os Juizados Especiais Estaduais, “a lógica do sistema<br />
judiciário nacional recomen<strong>da</strong> se dê à reclamação prevista no art. 105, I, f, <strong>da</strong> CF, amplitude<br />
suficiente à solução deste impasse”.<br />
Dessarte, revela-se cabível a presente reclamação.<br />
Segundo o reclamante, o acórdão proferido pela turma recursal do Juizado Especial<br />
do Estado <strong>da</strong> Bahia contraria entendimento sedimentado por esta Corte Superior, ao apreciar o<br />
REsp 1.074.799/MG, julgado sob o rito dos recursos repetitivos, pois "enquanto no Superior<br />
Tribunal de Justiça decidiu-se pela legali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> cobrança de <strong>pulsos</strong> <strong>além</strong> <strong>da</strong> <strong>franquia</strong>, na decisão<br />
Documento: 8853401 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJ: 19/03/2010 Página 1 de 3
Superior Tribunal de Justiça<br />
proferi<strong>da</strong> pelos reclamados resolveu-se o litígio afirmando que referi<strong>da</strong> cobrança seria ilegal".<br />
(e-STJ fl. 03).<br />
Confira-se a ementa do julgamento proferido no REsp 1.074.799/MG:<br />
TELEFONIA FIXA. DETALHAMENTO DAS CHAMADAS.<br />
OBRIGATORIEDADE. TERMO INICIAL. SOLICITAÇÃO DO USUÁRIO.<br />
GRATUIDADE. EM<strong>BA</strong>RGOS DE DECLARAÇÃO TIDOS COMO PROTELATÓRIOS.<br />
MULTA. AFASTAMENTO. SÚMULA 98/STJ.<br />
I - O Estado, com a edição do Decreto nº 4.733/2003, entre outras medi<strong>da</strong>s<br />
necessárias para a alteração do sistema de tarifação de <strong>pulsos</strong> para tempo de utilização,<br />
determinou o detalhamento de to<strong>da</strong>s as ligações locais e de longa distância.<br />
II - O prazo para a conversão do sistema, inicialmente previsto para 31 de julho de<br />
2006 pela Resolução 423/2005, foi ampliado em doze meses pela Resolução 432/2006, para<br />
não prejudicar os usuários <strong>da</strong> internet disca<strong>da</strong>, os quais, neste prazo, foram atendidos com<br />
plano alternativo apresentado na Resolução 450/2006.<br />
III - Assim, a partir de 01 de Agosto de 2007, <strong>da</strong>ta <strong>da</strong> implementação total do<br />
sistema, passou a ser exigido <strong>da</strong>s concessionárias o detalhamento de to<strong>da</strong>s as ligações na<br />
mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de local, independentemente de ser dentro ou fora <strong>da</strong> <strong>franquia</strong> contrata<strong>da</strong>, por<br />
inexistir qualquer restrição a respeito, conforme se observa do constante do artigo 83 do<br />
anexo à Resolução 426/2005, que regulamentou o sistema de telefonia <strong>fixa</strong>.<br />
IV - Também no artigo 83 do anexo à Resolução 426/2005, restou reafirma<strong>da</strong> a<br />
determinação para que a concessionária forneça, mediante solicitação do assinante,<br />
documento de cobrança contendo o detalhamento <strong>da</strong>s chama<strong>da</strong>s locais, entretanto ficou<br />
consignado que o fornecimento do detalhamento seria gratuito para o assinante,<br />
modificando, neste ponto, o constante do artigo 7º, X, do Decreto nº 4.733/2003.<br />
V - A solicitação do fornecimento <strong>da</strong>s faturas discrimina<strong>da</strong>s, sem ônus para o<br />
assinante, basta ser feita uma única vez, marcando para a concessionária o momento a partir<br />
do qual o consumidor pretende obter suas faturas com detalhamento.<br />
VI - Revogação <strong>da</strong> súmula 357/STJ que se impõe.<br />
VII - Recurso especial parcialmente provido (Acórdão sujeito ao regime do art.<br />
543-C do CPC e <strong>da</strong> Resolução STJ 08/08). (REsp 1074799/MG, Rel. Ministro<br />
FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 27/05/2009, DJe 08/06/2009).<br />
Por outro lado, assim está posto na ementa do julgado ora reclamado:<br />
RECURSO INOMINADO. CONTRATO DE TELEFONIA FIXA. COBRANÇAS<br />
DE PULSOS ALÉM DA FRANQUIA. AUSÊNCIA DE INTERESSE JURÍDICO DA<br />
ANATEL NA DISCUSSÃO A JUSTIFICAR SUA INTERVENÇÃO. COMPETÊNCIA DA<br />
JUSTIÇA ESTADUAL PARA CONHECER E JULGAR A CAUSA, COM ATRIBUIÇÃO<br />
PERMITIDA AOS JUIZADOS ESPECIAIS. NÃO CONFIGURAÇÃO DE CAUSA<br />
COMPLEXA. PRELIMINARES REJEITADAS. RECONHECIMENTO DA<br />
ILEGALIDADE DA COBRANÇA DE PULSOS ALÉM FRANQUIA POR AUSÊNCIA DE<br />
CONTROLE E FISCALIZAÇÃO DO CONSUMIDOR, NÃO PERMITINDO A<br />
COMPROVAÇÃO DA EFETIVA UTILIZAÇÃO DO SERVIÇO. CONFIRMA-SE A<br />
SENTENÇA A QUO, QUE COMPÔS A LIDE COM JUDICIOSIDADE, PELOS SEUS<br />
PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. RECURSO IMPROVIDO, PARA MANTER A<br />
SENTENÇA POR SUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS, CONDENANDO-SE A<br />
RECORRENTE NAS CUSTAS JUDICIAIS E HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS QUE<br />
ARBITRO EM 20% (VINTE POR CENTO) DO VALOR DA CONDENAÇÃO<br />
PECUNIÁRIA IMPOSTA A TEOR DO QUE DISPÕE O ART. 55, CAPUT , DA LEI<br />
9.099/95, ATENTANDO, RESPECTIVAMENTE, PARA A NATUREZA, A<br />
IMPORTÂNCIA RELATIVA DA AÇÃO, O ZELO E O BOM TRA<strong>BA</strong>LHO DO<br />
Documento: 8853401 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJ: 19/03/2010 Página 2 de 3
Superior Tribunal de Justiça<br />
PROFISSIONAL QUE DEFENDEU OS INTERESSES DA PARTE RECORRIDA. (e-STJ<br />
fl. 45).<br />
Como se verifica, analisando-se a questão no âmbito de um juízo perfunctório,<br />
verifico a plausibili<strong>da</strong>de do direito aduzido na inicial, pois há uma aparente discrepância entre o<br />
aresto <strong>da</strong> turma recursal e o entendimento pacificado pelo Superior Tribunal de Justiça no<br />
julgamento do recurso especial acima indicado, submetido ao rito do art. 543-C do CPC.<br />
Por outro lado, o perigo na demora também está presente, ante a iminência de<br />
execução do julgado reclamado, bem como a possibili<strong>da</strong>de de serem prolata<strong>da</strong>s inúmeras decisões<br />
destoantes do entendimento consagrado por este Tribunal Superior.<br />
Reporto-me, ain<strong>da</strong>, a recente decisão proferi<strong>da</strong> pela Ministra Eliana Calmon, nos<br />
autos <strong>da</strong> <strong>Reclamação</strong> nº 3.924/<strong>BA</strong>,DJ. 03.03.2010, que deferiu o pleito de liminar para suspender a<br />
tramitação de feitos que envolvam controvérsia semelhante.<br />
Ante o exposto, defiro o pedido de liminar para, com fun<strong>da</strong>mento no art. 2º, I,<br />
<strong>da</strong> Resolução 12/09 do STJ, determinar a suspensão dos processos em trâmite nas turmas<br />
recursais dos juizados especiais cíveis estaduais, nos quais tenha sido estabeleci<strong>da</strong><br />
controvérsia semelhante à dos presentes autos - legali<strong>da</strong>de na cobrança de <strong>pulsos</strong> <strong>além</strong> <strong>da</strong><br />
<strong>franquia</strong> pelo uso dos serviços de telefonia <strong>fixa</strong> - até o julgamento final desta reclamação,<br />
devendo prevalecer o entendimento deste Tribunal consignado no julgamento do recurso<br />
especial nº 1.074.799/MG, submetido ao rito do art. 534-C, do CPC.<br />
Oficie-se aos Presidentes dos Tribunais de Justiça e os Corregedores Gerais de<br />
Justiça de ca<strong>da</strong> Estado membro e do Distrito Federal e Territórios, a fim de que comuniquem às<br />
Turmas Recursais acerca <strong>da</strong> suspensão; e ao Presidente do TJ/<strong>BA</strong>, ao Corregedor Geral de Justiça<br />
<strong>da</strong> Bahia e à Presidente <strong>da</strong> Turma Recursal, prolatora do acórdão reclamado, comunicando o<br />
processamento desta reclamação e solicitando informações.<br />
Dê-se ciência ao autor <strong>da</strong> ação principal para que se manifeste, querendo, no prazo<br />
de 05 (cinco) dias.<br />
Decorrido o prazo para informações, remetam-se os autos ao Ministério Público<br />
Federal, para oferecimento de parecer, no prazo de 05 (cinco) dias.<br />
Sem prejuízo <strong>da</strong>s providências supra, publique-se edital no Diário <strong>da</strong> Justiça, com<br />
destaque no noticiário do STJ na internet , <strong>da</strong>ndo ciência aos interessados sobre a instauração desta<br />
reclamação, a fim de que se manifestem, querendo, no prazo de 30 (trinta) dias.<br />
Publique-se. Intimem-se.<br />
Brasília, 17 de março de 2010.<br />
Ministro Castro Meira<br />
Relator<br />
Documento: 8853401 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJ: 19/03/2010 Página 3 de 3