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O ideal de universidade e de sua missão Alípio de Sousa ... - cchla

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<strong>i<strong>de</strong>al</strong> <strong>de</strong> universida<strong>de</strong>. Citarei K. Jaspers mais uma vez: “Se a universida<strong>de</strong> baixa <strong>de</strong> nível, a<br />

socieda<strong>de</strong> e o Estado naufragam com ela.”<br />

É por isso que a universida<strong>de</strong> não po<strong>de</strong> aceitar em seu interior coisas como: 1)<br />

conhecimento superficial, a imitação da ciência; 2) a religião: <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que se constituiu (mesmo já as<br />

universitas medievais), a universida<strong>de</strong> sempre discutiu as religiões sem espírito religioso; 3)<br />

interesses políticos externos: a universida<strong>de</strong> subordinada a interesses políticos (<strong>de</strong> esquerda ou <strong>de</strong><br />

direita) torna-se a universida<strong>de</strong> do po<strong>de</strong>r, permitindo a invasão do mundo prático: o pragmatismo<br />

não po<strong>de</strong> prevalecer como orientação para a ativida<strong>de</strong> dos universitários (professores e estudantes).<br />

A universida<strong>de</strong>, para permanecer como um bem social, que já o é, não precisa abandonar as<br />

tarefas que a <strong>de</strong>finem como lugar da formação <strong>de</strong> pesquisadores e educadores com espírito<br />

científico-crítico por outras tarefas. As tarefas que são <strong>sua</strong>s não po<strong>de</strong>m ser submetidas a nenhum<br />

interesse que fira o princípio inegociável da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensamento e da autonomia acadêmica.<br />

Como adverte Paul Wolff: “qualquer coisa que fortaleça a universida<strong>de</strong> é lucro e qualquer coisa que<br />

a enfraqueça só po<strong>de</strong> ter um efeito reacionário.”<br />

O conhecimento do mundo, da vida, da realida<strong>de</strong> social e histórica distingue os humanos <strong>de</strong><br />

todas as <strong>de</strong>mais espécies. Entre outras coisas, é a busca do conhecimento – <strong>sua</strong> produção e<br />

trans<strong>missão</strong> – que constitui o homem como humano. Esse dado antropológico – a procura do<br />

conhecimento e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produzí-lo e transmití-lo – é traduzido por filósofos como Karl<br />

Jaspers como a “procura livre da verda<strong>de</strong>”. Assim, a humanida<strong>de</strong> aspira à verda<strong>de</strong>, mas esta nunca é<br />

plena, nem é adquirida por um só sujeito do conhecimento. É necessário procurá-la sem cessar, e<br />

esta é tarefa <strong>de</strong> muitos, razão por que essa tarefa po<strong>de</strong> ser ensinada, transmitida, propagada.<br />

A busca da verda<strong>de</strong> como conhecimento da realida<strong>de</strong> é uma tarefa à qual os homens <strong>de</strong>vem<br />

se consagrar livremente e com todas as <strong>sua</strong>s energias, lutando contra todos os constrangimentos. A<br />

universida<strong>de</strong> se configura como um exemplo <strong>de</strong> instituição em que, como em nenhuma outra, essa<br />

tarefa se realiza e passa a ser em torno <strong>de</strong>sse objetivo que ela se organiza e orienta seus fins. É por<br />

essa razão também que ela somente consegue realizar essa <strong>sua</strong> natureza se se mantiver autônoma.<br />

Autonomia que se concretiza na liberda<strong>de</strong> acadêmica, <strong>de</strong> pensamento – na mais pura tradição<br />

<strong>i<strong>de</strong>al</strong>ista, a procura da verda<strong>de</strong> <strong>de</strong> maneira <strong>de</strong>sinteressada e livre. A verda<strong>de</strong> como conhecimento da<br />

realida<strong>de</strong> não po<strong>de</strong> estar subordinada a nenhum interesse que não seja os interesses do<br />

conhecimento, embora não possam se <strong>de</strong>svincular <strong>de</strong> objetivos públicos, e, por isso, nem sempre<br />

consen<strong>sua</strong>is.<br />

A <strong>missão</strong> da universida<strong>de</strong>, assim, <strong>de</strong>finiu-se, ao longo da história, como sendo tornar-se o<br />

lugar da formação <strong>de</strong> pesquisadores, pensadores in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, produtores <strong>de</strong> conhecimento e <strong>de</strong><br />

técnicas socialmente necessárias ao <strong>de</strong>senvolvimento do bem-estar humano. O que a torna o lugar<br />

<strong>de</strong> sujeitos intelectualmente insatisfeitos, inquietos, da pergunta constante e <strong>de</strong> respostas

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