O ideal de universidade e de sua missão Alípio de Sousa ... - cchla
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atrelar o ensino e a produção do conhecimento a interesses estranhos aos fins da educação e da<br />
ciência.<br />
Como uma instituição formada por pesquisadores e também formadora <strong>de</strong> pesquisadores, a<br />
universida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve agir como o pesquisador age em seu trabalho: <strong>de</strong>ve começar por formular<br />
problemas. Uma universida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser capaz <strong>de</strong> formular problemas socialmente relevantes.<br />
Inseridas em regiões, com <strong>sua</strong>s especificida<strong>de</strong>s, seus problemas, as universida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>vem se indagar<br />
sobre as carências, as dificulda<strong>de</strong>s, os dilemas <strong>de</strong>ssa regiões. Uma universida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve se perguntar<br />
sobre os problemas importantes das localida<strong>de</strong>s em que se encontra instalada: nas diversas áreas<br />
(educação, saú<strong>de</strong>, violência, direitos humanos, meio ambiente, etc.), quais são os principais<br />
problemas? Que contribuições a universida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> oferecer à socieda<strong>de</strong> para o enfrentamento<br />
<strong>de</strong>sses problemas? Que sugestões po<strong>de</strong> apresentar à socieda<strong>de</strong>, aos po<strong>de</strong>res públicos? Que diálogo<br />
po<strong>de</strong> sustentar com os diversos segmentos sociais, discutindo questões relevantes para a população<br />
local?<br />
Essas são questões que uma universida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve formular e materializar na forma <strong>de</strong> projetos<br />
<strong>de</strong> pesquisa e intervenção social, e que, por isso mesmo, somente po<strong>de</strong>m nascer nos <strong>de</strong>partamentos<br />
acadêmicos, por iniciativas <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> professores ou por professores isoladamente.<br />
A universida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve também discutir e resolver os problemas da qualida<strong>de</strong> e da orientação<br />
da formação profissional que está oferecendo. Aquilo que a universida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>volver à<br />
socieda<strong>de</strong>, em diferentes formas, <strong>de</strong>ve ser resultado da orientação que a própria universida<strong>de</strong> <strong>de</strong>cida<br />
imprimir ao ensino e à ciência, sempre consi<strong>de</strong>rando a questão da qualida<strong>de</strong> do que se faz, sobre<br />
cujos parâmetros <strong>de</strong> avaliação já há relativos consensos acadêmicos.<br />
A socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve saber que a universida<strong>de</strong> não po<strong>de</strong> ser populista em seus princípios. O<br />
populismo e a <strong>de</strong>magogia po<strong>de</strong>m levar a universida<strong>de</strong> à <strong>sua</strong> falência total. Dirigentes, professores,<br />
funcionários e estudantes universitários não po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>magógicos em <strong>sua</strong>s visões da<br />
universida<strong>de</strong>. Assim, certos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> avaliação e propostas <strong>de</strong> reforma <strong>de</strong> currículos, métodos <strong>de</strong><br />
ensino, duração dos cursos, níveis <strong>de</strong> exigência, etc., sob o pretexto <strong>de</strong> tornar a formação<br />
universitária mais flexível, adaptada aos tempos, produtiva, útil, colocam em risco a universida<strong>de</strong>, a<br />
educação superior, a produção do conhecimento teórico, a ciência.<br />
A tarefa <strong>de</strong> preparar os indivíduos para tomarem parte no <strong>de</strong>senvolvimento técnico,<br />
científico e cultural da socieda<strong>de</strong> é algo que <strong>de</strong>ve se dar no equilíbrio entre duas dimensões: a<br />
formação profissional e a educação no modo científico <strong>de</strong> pensar propriamente dito (configurado<br />
numa visão crítica da realida<strong>de</strong>, na problematização filosófica, numa perspectiva ética das relações<br />
humanas). O que toda uma tradição chamou <strong>de</strong> “busca <strong>de</strong>sinteressada da verda<strong>de</strong>” reflete o sentido<br />
<strong>de</strong>ssa segunda dimensão, sem que se tenha pretendido que <strong>sua</strong> realização ocorresse <strong>de</strong>svinculada da<br />
primeira, com o inevitável risco <strong>de</strong> vir a se tornar <strong>de</strong>masiadamente valorizada em <strong>de</strong>trimento da