Brasília 50 anos de Ceará também destacará ... - Casa do Ceará
Brasília 50 anos de Ceará também destacará ... - Casa do Ceará
Brasília 50 anos de Ceará também destacará ... - Casa do Ceará
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Leituras I<br />
José Jézer <strong>de</strong> Oliveira (*)<br />
Há em Fortaleza, no bairro Al<strong>de</strong>ota, uma extensa rua<br />
batizada com o nome <strong>de</strong> Carolina Sucupira. Das principais<br />
artérias <strong>do</strong> bairro, a rua é bastante conhecida, o que não<br />
ocorre com quem lhe emprestou o nome. Para os fortalezenses,<br />
é <strong>de</strong> supor tratar-se <strong>de</strong> ilustre cearense, <strong>de</strong> quem<br />
pouco se ouviu falar. Até mesmo no Crato, on<strong>de</strong> nasceu e<br />
viveu. Ali, existe uma rua com nome quase idêntico: Carolino<br />
Sucupira. Na verda<strong>de</strong>, mãe e filho. Saber o que <strong>de</strong><br />
especial fizeram para virarem nome <strong>de</strong> rua, urge remontar a<br />
mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIX, mais precisamente ao ano <strong>de</strong> 1865.<br />
Lá encontraremos essas duas ignotas figuras, inseridas no<br />
contexto histórico da Guerra <strong>do</strong> Paraguai. Veremos.<br />
Em princípios daquele ano, o presi<strong>de</strong>nte da Província<br />
<strong>do</strong> <strong>Ceará</strong>, Lafayette Rodrigues Pereira, dirigiu um apelo<br />
aos cearenses para que ajudassem os compatriotas <strong>do</strong> sul<br />
a combater as tropas <strong>do</strong> dita<strong>do</strong>r paraguaio Solano Lopez.<br />
No Crato, o apelo <strong>de</strong> Lafayette foi acolhi<strong>do</strong> <strong>de</strong> mo<strong>do</strong><br />
estrepitoso pela população, que, acometida <strong>de</strong> inconti<strong>do</strong><br />
ar<strong>do</strong>r patriótico, percorria as ruas da cida<strong>de</strong> conclaman<strong>do</strong><br />
o povo a aten<strong>de</strong>r o apelo <strong>do</strong> presi<strong>de</strong>nte cearense, embora<br />
não houvesse ali, a princípio, a quem se <strong>de</strong>vesse apresentar<br />
para o alistamento. Mora<strong>do</strong>r da cida<strong>de</strong>, o jornalista João<br />
Brígi<strong>do</strong> chamou a si a incumbência <strong>de</strong> fazê-lo, alistan<strong>do</strong> os<br />
primeiros voluntários, “quase to<strong>do</strong>s artistas, alguns casa<strong>do</strong>s<br />
e com filhos”, segun<strong>do</strong> o historia<strong>do</strong>r cratense Irineu Pinheiro,<br />
no seu livro “Cariri”. As <strong>de</strong>spesas para o envio <strong>de</strong>sse<br />
primeiro grupo <strong>de</strong> 20 voluntários cratenses correram por<br />
conta <strong>do</strong> coronel Antônio Luís Alves Pequeno, abasta<strong>do</strong><br />
comerciante e chefe político local. Assim é que no dia 6<br />
<strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1865 os moços seguiram para Fortaleza, dispostos<br />
à luta em <strong>de</strong>fesa da Pátria, não sem antes receberem<br />
Crato e a guerra <strong>do</strong> Paraguai<br />
calorosa e comovente manifestação <strong>de</strong> <strong>de</strong>spedida por parte<br />
da população, rui<strong>do</strong>samente concentrada em frente à Matriz.<br />
Inflama<strong>do</strong>s ora<strong>do</strong>res se sucediam, cada qual mais veemente<br />
na exprobração à ameaça <strong>do</strong> dita<strong>do</strong>r paraguaio <strong>de</strong> apo<strong>de</strong>rar-se<br />
<strong>de</strong> parte <strong>do</strong> nosso território. Por final, o vigário da Sé abençoou<br />
uma ban<strong>de</strong>ira entregue a um <strong>do</strong>s voluntários, enquanto<br />
a agitada multidão se preparava para acompanhar os bravos<br />
patriotas até a saída da cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>riam a longa<br />
e penosa viagem à Capital. Dali, rumo ao campo <strong>de</strong> batalha.<br />
Em sua edição <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> março, o semanário ”O Araripe”,<br />
edita<strong>do</strong> por João Brígi<strong>do</strong>, registrou: “Honra a esses filhos <strong>do</strong><br />
Cariri que não ficaram sur<strong>do</strong>s ao reclamo da Pátria, que <strong>de</strong>ixam<br />
seu berço e suas famílias para exalarem no campo <strong>de</strong> batalha o<br />
último suspiro pela causa <strong>do</strong> Império. Sirva esse belo exemplo<br />
para mostrar que o Crato, quan<strong>do</strong> se trata <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s e nobres<br />
sacrifícios, não fica aquém das <strong>de</strong>mais cida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Império”.<br />
Após a partida <strong>de</strong>sse primeiro grupo, uma comissão presidida<br />
pelo juiz <strong>de</strong> Direito <strong>do</strong> Crato se encarregou <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r<br />
ao alistamento <strong>de</strong> novos voluntários. Em uma proclamação<br />
dirigida aos cratenses, a comissão incentivava-os participarem<br />
“das fileiras <strong>de</strong> bravos que com o maior heroísmo pugnam<br />
pelos direitos da Nação”. Calcula-se que mais <strong>de</strong> 200 voluntários<br />
cratenses fizeram parte <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> grupo que no dia 6 <strong>de</strong><br />
agosto <strong>de</strong> 1865 seguiu para a guerra. Entre eles um jovem <strong>de</strong><br />
apenas 14 <strong>anos</strong>. Sua mãe, cidadã cratense, Carolina Clarence<br />
<strong>de</strong> Araripe Sucupira, em carta ao presi<strong>de</strong>nte Lafayette, datada d<br />
e 2 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1865, oferecia como voluntário seu único<br />
filho varão, Carolino Bolívar <strong>de</strong> Araripe Sucupira, “para sacrifício<br />
<strong>do</strong>s interesses da Pátria, a jóia mais preciosa <strong>de</strong> que<br />
dispunha”, escreveu ela. “O Araripe” publicou várias quadras<br />
<strong>de</strong> autoria <strong>do</strong> jovem, <strong>de</strong>spedin<strong>do</strong>-se da cida<strong>de</strong>. Uma <strong>de</strong>las dizia:<br />
“A Pátria me chama,<br />
Vou prestes partir,<br />
<strong>Ceará</strong> em <strong>Brasília</strong> veja o site da <strong>Casa</strong> <strong>do</strong> <strong>Ceará</strong> em <strong>Brasília</strong>: www.casa<strong>do</strong>ceara.org.br<br />
Do sul aos irmãos<br />
Contente me unir”.<br />
O garoto correspon<strong>de</strong>u aos anseios patrióticos da mãe.<br />
Lutou bravamente, como um adulto, durante to<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong><br />
da guerra, ao término da qual já havia atingi<strong>do</strong> o posto <strong>de</strong><br />
major <strong>do</strong> Exército. Ao retornar ao País, como herói, fixou<br />
residência na cida<strong>de</strong> paulista <strong>de</strong> Jundiaí. Em seu livro “Roteiro<br />
Biográfico das ruas <strong>do</strong> Crato”, conta o escritor cratense<br />
J. Lin<strong>de</strong>mberg <strong>de</strong> Aquino que Carolino se tornou ali uma<br />
das mais ilustres e respeitáveis figuras da comunida<strong>de</strong>, que,<br />
após sua morte, erigiu um monumento em sua memória.<br />
Com relação à Guerra <strong>do</strong> Paraguai, merece <strong>de</strong>staque a<br />
façanha <strong>de</strong> outro jovem cratense, que, aos 14 <strong>anos</strong>, se ofereceu<br />
como voluntário para participar da batalha. A Comissão<br />
<strong>de</strong> Recrutamento enviada ao Crato, para o alistamento<br />
obrigatório, barrou sua pretensão <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a pouca ida<strong>de</strong>.<br />
Não se dan<strong>do</strong> por venci<strong>do</strong>, o imberbe Antônio Bernar<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong> aguar<strong>do</strong>u a volta da Comissão a Fortaleza,<br />
fugiu <strong>de</strong> casa e a alcançou a meio caminho da Capital,<br />
conforme ao que pesquisou e escreveu José <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong><br />
Brito, atento estudioso da história caririense. Premi<strong>do</strong>s por<br />
tais circunstâncias, não coube aos recruta<strong>do</strong>res outra coisa<br />
senão incorporar o jovem ao grupo <strong>de</strong> recrutas e enviá-lo<br />
para o campo <strong>de</strong> batalha. Finda a guerra, fixou-se na cida<strong>de</strong><br />
gaucha <strong>de</strong> Pelotas. Ali se casou com uma jovem <strong>de</strong> nome<br />
América, constituiu família e <strong>de</strong>u seguimento à carreira<br />
militar. Ao morrer, havia atingi<strong>do</strong> o posto <strong>de</strong> general <strong>de</strong><br />
brigada. Segun<strong>do</strong> ainda José Figueire<strong>do</strong> <strong>de</strong> Brito, Antônio<br />
Bernar<strong>do</strong> veio a ser pai <strong>do</strong> general Eucli<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Oliveira Figueire<strong>do</strong>,<br />
avô, portanto, <strong>do</strong> general João Batista <strong>de</strong> Oliveira<br />
Figueire<strong>do</strong>, o último presi<strong>de</strong>nte da República <strong>do</strong> regime<br />
militar <strong>de</strong>flagra<strong>do</strong> em 1964.<br />
(*) José Jezer <strong>de</strong> Oliveira (Crato), jornalista<br />
O MERCADO VAI VER<br />
VOCÊ DIFERENTE.<br />
7 Julho/10