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Marketing Bancário<br />
em questão enquanto outros gostariam de pensar que “os<br />
clientes ignoram os rumores sobre problemas financeiros<br />
do BCP”. Pessoalmente, tive conhecimento de alguns que<br />
reagiram de forma insciente. A ignorância poderá afigurar-<br />
-se um termo algo desmesurado se tivermos em conta<br />
que nós, humanos, e contrariamente ao senso comum,<br />
somos na realidade extremamente irracionais – teria você<br />
apostado em ignorar “conselhos” de outros amigos “racionais<br />
e inteligentes”? Especialmente numa altura em que<br />
estudos patenteiam que a confiança na palavra de colegas,<br />
amigos e familiares se sobrepõe a todas as outras?<br />
Malcolm Gldawell, no seu livro The Tipping Point – How<br />
Little Things Can Make a Big Difference, descreve o poder<br />
dos influenciadores, conectores e mavens. O facto surpreendente<br />
reside na lei dos poucos, evocando a escassez de<br />
agentes necessários que propagarão, ou não, algo de forma<br />
eficiente numa escala não quantificável, todavia mais<br />
preocupante porque imprevisível. Estes agentes, denominados<br />
hubs (pontos centrais) da rede, não necessitam nem<br />
procuram a utilização dos mass media (media tradicional).<br />
Juntando-se estes últimos à charada, a essência da notícia<br />
deixa de ser a mensagem, mas sim a sua consequência.<br />
Em Setembro de 2007, clientes do banco Northern<br />
Rock dirigiram-se em massa às suas sucursais, levantando<br />
tudo das suas contas bancárias até ao último cêntimo. O<br />
que nos leva a pensar que o mesmo seria impensável em<br />
Portugal? Provavelmente, a negação, o receio de ter de<br />
enfrentar a realidade cruel de que para os bancos já não<br />
resta outra alternativa que não prepararem-se para esse<br />
dia e de que social media é de facto a única oportunidade<br />
que detêm para se certificarem de que tal não sucederá<br />
num futuro próximo.<br />
Os hoaxers (responsáveis pela confusão instaurada) poderão<br />
não ter alcançado o seu derradeiro objectivo, mas<br />
acabaram por conquistar o mais difícil – assegurarem-se<br />
de que a mensagem se difundiu em proporções alarmantes,<br />
bem sob o radar, até que já fosse demasiado tarde<br />
para inverter o processo. Um futuro ataque será certamente<br />
mais eficaz, mediante a construção obtida pela sua<br />
experiência mais recente. Qual vírus que se metamorfoseia<br />
consoante a utilização de antídotos, os hoaxers inteirar-se-ão<br />
de que, de facto, a lacuna residiu no conteúdo<br />
das mensagens – o ingrediente que faltou para atingir o<br />
ponto de viragem – the tipping point.<br />
De modo algo perverso, estes hoaxers tornar-se-ão,<br />
eventualmente, numa espécie de profetas da nova era –<br />
através das suas afirmações, caso se atinja o ponto de viragem<br />
e o pânico se instaure massivamente, conduzindo a<br />
um levantamento de fundos colectivo. Será que acabarão<br />
por causar ou prever o fim da instituição financeira? Se<br />
acredita que a fragilidade advém da incapacidade da indústria<br />
em compreender e gerir os desafios do poder da<br />
Internet, bem como as ferramentas que surgem cada vez<br />
mais para simplificar e aumentar a partilha de conteúdo<br />
(não confundir com factos), então a vitima deverá, igualmente,<br />
partilhar uma quota-parte da culpa.<br />
Em Abril de 2010, o Facebook lançou uma colecção<br />
de social plug-ins que permitem a qualquer utilizador colocar<br />
comentários do Facebook bem como o botão Like<br />
em qualquer página da web fora do Facebook. Em apenas<br />
três semanas após o lançamento destas ferramentas, mais<br />
de 100 000 páginas já as utilizavam para facilitar a partilha<br />
de conteúdo.<br />
Tornou-se indubitavelmente o maior e mais importante<br />
passo conferir o dom da ubiquidade com a própria existência<br />
de redes sociais, através da criação de ferramentas<br />
quer de cariz social, quer com o intuito de serem colocadas<br />
onde o utilizador se encontra, eliminando a necessidade<br />
de deslocação até ao destino para divulgar a mensagem.<br />
Estes social plug-ins do Facebook tornarão o impulso<br />
de agir mais fácil e mais natural, inquestionavelmente, mais<br />
que qualquer outro desenvolvimento desde da invenção do<br />
Facebook, que excede agora os 500 milhões de membros.<br />
Paralelamente, o Twitter cinge o pensamento, baliza a<br />
opinião ou “facto” a 140 caracteres, forçando o utilizador a<br />
abreviar toda e qualquer frase com uma mera exclamação,<br />
prefigurando-se o resultado, quase sempre, numa partilha<br />
imediata, emotiva, egocêntrica, frequentemente desprovida<br />
de sentido – a partilha pela mera razão de partilhar.<br />
A veracidade e a consequência são relegadas para segundo<br />
plano no calor do momento, afigurando-se este<br />
como apenas outro exemplo da nossa irracionalidade,<br />
sendo que muitos de nós fazem-no diariamente: seja no<br />
reenvio de anedotas disparatadas para uma listagem de<br />
contactos, independentemente de abrangerem e-mails de<br />
empresa, seja no reenvio de e-mails de aviso que jogam<br />
com a nossa consciência; a decisão árdua de enviar ou não<br />
um aviso gratuito aos amigos colegas e/ou família torna-se<br />
demasiado imperativa para ser ignorada.<br />
Não é legítimo solicitar confiança sem a conquistar. Na<br />
verdade, poucos revelam interesse em propagar rumores,<br />
mais que não seja pelo simples facto de que os jornais na-<br />
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Out > Dez | 2010