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1 HISTÓRIA DE PESCADOR: O DIREITO DO PONTO DE ... - ABA

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“É esse sentido que vem atestado pelo nome de agente auctor. Qualifica-se<br />

de auctor, em todos os domínios, aquele que ‘promove’, que toma uma<br />

iniciativa, que é o primeiro a produzir alguma atividade, aquele que funda,<br />

que garante, e finalmente o ‘autor’” 16 .<br />

Este erudito estudo de uma categoria da cultura romana fornece, assim, um<br />

importante instrumento para esta análise. A etimologia de “autor” indica, com nitidez, o<br />

sentido primordial da palavra, que parece bastante adequado ao entendimento do objeto em<br />

questão: a lógica do direito costumeiro em Ponta Grossa dos Fidalgos.<br />

Se autor é aquele que funda, que produz ou que inaugura o novo, este fato parece<br />

estar intrinsecamente relacionado com certas propriedades características do agente para<br />

poder fazer – qualidades que o distinguem de todos aqueles que não as possuem.<br />

Como observamos anteriormente, o autor de um bom pesqueiro deve ter um alto<br />

grau de domínio de seu ofício. Não lhe basta conhecer, de forma mais ou menos exaustiva,<br />

as técnicas específicas da pesca artesanal. Mais do que conhece-las afundo, este pescador<br />

deve saber operá-las na prática, manejando-as todas ao mesmo tempo, articuladas entre si<br />

de modo a proporcionar-lhe o melhor resultado. E esta não é apenas uma questão técnica,<br />

pois não é todo pescador que se revela capaz disto.<br />

O fato de ser o autor de um ou mais pesqueiros confere ao pescador direitos sobre<br />

sua obra. Da autoridade dele faz parte, por exemplo, o direito de reivindicar exclusividade<br />

em matéria de usufruto do pesqueiro. O reconhecimento desse direito, por sua vez, remete<br />

tacitamente ao fato de ser o autor do ponto de pesca um pescador de notória competência,<br />

assim considerado pelo grupo.<br />

4. “Histórias de Pescador”, ou, as implicações sociológicas do segredo e da mentira.<br />

Não existe nenhum mecanismo jurídico formal que regule a prerrogativa da<br />

exclusividade sobre um determinado “ponto” da Lagoa Feia. Não há estatuto em que esteja<br />

consignada. Não há nenhum documento normativo que a estabeleça e sancione. A única<br />

coisa capaz de assegurá-la, de algum modo, é política do sigilo. É ela que permite aos<br />

pescadores de Ponta Grossa usufruir exclusivamente dos pesqueiros por eles criados.<br />

16 Idem; Ibidem: 151. Grifo nosso.<br />

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