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Sobre a Antropologia na Universidade Federal de Roraima ... - ABA

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<strong>Sobre</strong> a <strong>Antropologia</strong> <strong>na</strong> <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Fe<strong>de</strong>ral</strong> <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong> (UFRR)<br />

esclarecimentos à socieda<strong>de</strong> roraimense e à comunida<strong>de</strong> antropológica.<br />

Alexandro Machado Namem*<br />

Temos assistido recentemente, não sem gran<strong>de</strong>s surpresas para alguns, notícias que dão<br />

conta da suposta criação <strong>de</strong> um Curso <strong>de</strong> Graduação em <strong>Antropologia</strong> <strong>na</strong> UFRR, como<br />

se ele já não existisse <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro semestre <strong>de</strong> 1993.<br />

No Brasil, quando falamos em Ciências Sociais, tal como são aprendidas <strong>na</strong>s<br />

universida<strong>de</strong>s, estamos nos referindo à Sociologia, à Ciência Política e à <strong>Antropologia</strong>.<br />

Assim, os cursos em Ciências Sociais reúnem essas três áreas do conhecimento, às<br />

vezes em forma <strong>de</strong> habilitações distintas.<br />

Na UFRR, a partir <strong>de</strong> 1993 sempre existiu um Bacharelado em Ciências Sociais com<br />

Habilitação em <strong>Antropologia</strong>, portanto, uma Graduação em <strong>Antropologia</strong> e, em 2003,<br />

foi criada uma Habilitação em Sociologia. Até hoje não foi criada uma habilitação em<br />

Ciência Política. Assim, as duas habilitações, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, passaram a ser administradas<br />

por <strong>de</strong>partamentos distintos, um <strong>de</strong> <strong>Antropologia</strong>, no qual até muito recentemente<br />

estavam lotados somente antropólogos, o outro <strong>de</strong> Ciências Sociais, que alberga, junto<br />

com os sociólogos, cientistas políticos e filósofos, já que até agora, estranhamente, não<br />

temos um curso <strong>de</strong> Filosofia, indispensável e fundamental num campus universitário.<br />

Há também uma Coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção para tratar <strong>de</strong> aspectos didáticos e pedagógicos das duas<br />

habilitações.<br />

Mais recentemente, para criar uma Graduação em <strong>Antropologia</strong> como se isso<br />

representasse uma efetiva novida<strong>de</strong>, foi que a universida<strong>de</strong> votou a suspensão da<br />

Habilitação em <strong>Antropologia</strong> <strong>na</strong> oferta do vestibular 2010, no meu enten<strong>de</strong>r sem a<br />

<strong>de</strong>vida atenção; ressalte-se que as mudanças foram mesmo burocráticas! Além disso,<br />

não é correto dizer, como também querem fazer crer <strong>de</strong> uns tempos pra cá os<br />

professores do Departamento <strong>de</strong> <strong>Antropologia</strong> da UFRR, que existe um consenso no<br />

Brasil segundo o qual seria melhor criar graduações específicas em Sociologia, Ciência<br />

Política e <strong>Antropologia</strong>. Uma breve consulta aos cursos nestas áreas, no Brasil e outros<br />

países, revela coisas bem diferentes. Resta <strong>de</strong>scobrir a quem interessa confundir a<br />

população!!! divulgando tais conteúdos.<br />

A <strong>Antropologia</strong> em <strong>Roraima</strong> não precisa <strong>de</strong> pais e mães fundadores, como se fossem<br />

totens, até mesmo porque, quando ela teve início <strong>na</strong> universida<strong>de</strong>, em 1993, não havia<br />

no Estado sequer um profissio<strong>na</strong>l pós-graduado <strong>na</strong> área, condição para ser consi<strong>de</strong>rado<br />

antropólogo pela Associação Brasileira <strong>de</strong> <strong>Antropologia</strong> (<strong>ABA</strong>); eu mesmo, em julho <strong>de</strong><br />

1993, fui o primeiro a chegar aqui com tal formação e o curso já existia.<br />

De uns anos pra cá, como sou Bacharel em Ciências Sociais, lotei-me por convicta<br />

opção no Departamento <strong>de</strong> Ciências Sociais; há muito fui alie<strong>na</strong>do... ao tempo que fui<br />

me alie<strong>na</strong>ndo... da <strong>Antropologia</strong> e do Departamento <strong>de</strong> <strong>Antropologia</strong> <strong>na</strong> UFRR, isto<br />

para não compactuar com certas coisas que já se afiguravam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então e que agora se<br />

consolidam; não é muito difícil, com um pouco <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> e um certo bom senso,<br />

sentir que havia e que há algo errado no ar. O que efetivamente se passa dissolve<br />

qualquer argumento elogioso a este curso; nunca geramos entre os estudantes, em duas<br />

décadas <strong>de</strong> existência do Bacharelado em Ciências Sociais com Habilitações em<br />

<strong>Antropologia</strong> e Sociologia, um profissio<strong>na</strong>l sequer que tenha se <strong>de</strong>stacado <strong>na</strong><br />

<strong>Antropologia</strong>, isto ocorre porque o curso tem muitos problemas; agora há inclusive um<br />

professor lotado no Departamento <strong>de</strong> <strong>Antropologia</strong>, sem formação <strong>na</strong> área, e<br />

ministrando aulas <strong>de</strong> <strong>Antropologia</strong>, quando os concursos <strong>na</strong> universida<strong>de</strong> pública<br />

brasileira exigem formação <strong>na</strong>s respectivas áreas ou em áreas afins, espaço no qual se


<strong>de</strong>ve valorizar o mérito acadêmico e observar os critérios <strong>de</strong> legalida<strong>de</strong> e razoabilida<strong>de</strong>.<br />

Então também seria acertado <strong>de</strong>scobrir quem faz <strong>de</strong> conta que a <strong>Antropologia</strong> é menos<br />

importante que outros campos <strong>de</strong> pensamentos. Ressalte-se que a autonomia <strong>de</strong> um<br />

<strong>de</strong>partamento acadêmico <strong>na</strong>s universida<strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>rais <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar a Lei <strong>de</strong> Diretrizes<br />

e Bases da Educação Nacio<strong>na</strong>l (LDB), o Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis<br />

da União, das Autarquias e das Fundações Públicas e Fe<strong>de</strong>rais e a Constituição do país.<br />

Lembremos, sem cochilar, que as ações dos professores atingem os estudantes em<br />

primeiro lugar, portanto, confiná-los num gueto, como se aí estivesse a <strong>Antropologia</strong>, é<br />

incorrer em erro grave.<br />

Como há muito não ministro discipli<strong>na</strong>s sistematicamente aos estudantes da Habilitação<br />

em <strong>Antropologia</strong>, já que venho lecio<strong>na</strong>ndo <strong>Antropologia</strong> e Sociologia mais para outros<br />

cursos, escrevo agora para ver muito em breve este estado <strong>de</strong> coisas radicalmente<br />

modificado! Precisamos mudar este quadro consolidado <strong>na</strong> formação antropológica<br />

estudantil em nossa universida<strong>de</strong>. O que precisamos, para melhorar tal formação, não é<br />

meramente uma reforma burocrática, mas sim uma rebelião que faça com que a<br />

formação pós-graduada do corpo docente, no Brasil e no exterior, venha a se expressar<br />

em atitu<strong>de</strong>s <strong>na</strong> pesquisa, no aprendizado em sala <strong>de</strong> aula e <strong>na</strong> extensão universitária, que<br />

não aceite professores que não cumprem o seu <strong>de</strong>ver sob o pretexto <strong>de</strong> que estamos <strong>na</strong><br />

Nova Era e que não conte com professores que se <strong>de</strong>ixam lotar num <strong>de</strong>partamento<br />

acadêmico sem os <strong>de</strong>vidos concursos e qualificações, mas sim com a presença <strong>de</strong><br />

professores em tempo integral e com <strong>de</strong>dicação exclusiva, resistindo <strong>na</strong>s trincheiras <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>fesa da universida<strong>de</strong> pública e gratuita, nunca com professores que burlam o regime<br />

<strong>de</strong> trabalho <strong>na</strong> universida<strong>de</strong> pública e engrossam as fileiras do ensino particular,<br />

contribuindo inclusive, <strong>de</strong>cidida e <strong>de</strong>cisivamente, com certas perversões <strong>na</strong> área da<br />

educação perpetradas pelo governo fe<strong>de</strong>ral nos últimos tempos. Não nos calemos, não<br />

façamos <strong>de</strong> conta que não estamos vendo e que não ouvimos, a <strong>Antropologia</strong> em nosso<br />

Estado precisa <strong>de</strong> algo mais!!!<br />

(Publicado no Jor<strong>na</strong>l "Folha <strong>de</strong> Boa Vista", <strong>de</strong> <strong>Roraima</strong> (RR), <strong>na</strong> colu<strong>na</strong> "Opinião", em<br />

14/10/09; ver www.folhabv.com.br)

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