atividade pesqueira em barra dos coqueiros/se - Anais Geoplan
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ISSN 2176-6983<br />
ATIVIDADE PESQUEIRA EM BARRA DOS COQUEIROS/SE:<br />
UMA VISÃO GERAL DA PESCA EXTRATIVISTA ARTESANAL,<br />
SEGUNDO RELATOS DE PESCADORES EM DOIS<br />
ENTREPOSTOS DE PESCA SITUADOS NA ÁREA URBANA DO<br />
MUNICÍPIO<br />
Juze Vânia <strong>dos</strong> Santos<br />
Secretária de Meio Ambiente, Agricultura, Abastecimento e Pesca, Graduada <strong>em</strong> Ciências Biológicas<br />
Licenciatura, Universidade Federal de Sergipe<br />
juzevs@hotmail.com<br />
Marina Franca Lélis Bezerra<br />
Estagiária da Secretaria de Meio Ambiente, Agricultura, Abastecimento e Pesca, Graduanda <strong>em</strong><br />
Engenharia Agronômica-Universidade Federal de Sergipe<br />
marinanabezerra@yahoo.com.br<br />
Eixo T<strong>em</strong>ático 2: Atores, territórios e territorialidade da pesca no Brasil<br />
Resumo<br />
O pre<strong>se</strong>nte artigo t<strong>em</strong> como objetivo fazer uma breve análi<strong>se</strong> do cenário atual da<br />
<strong>atividade</strong> <strong>pesqueira</strong> extrativista artesanal, <strong>se</strong>gundo a percepção <strong>dos</strong> pescadores no município de<br />
Barra <strong>dos</strong> Coqueiros, dando um enfoque na <strong>atividade</strong> petrolífera <strong>em</strong> alto mar e suas possíveis<br />
interferências nas pescas estuarina e marítima.. A metodologia adotada consistiu na aplicação de<br />
um questionário contendo perguntas fechadas e abertas e na realização de entrevistas<br />
s<strong>em</strong>iestruturadas com 15 pescadores do município <strong>em</strong> dois entrepostos de pesca . Como<br />
resultado, ob<strong>se</strong>rvou-<strong>se</strong> que os pescadores não só t<strong>em</strong> consciência de que a <strong>atividade</strong> <strong>pesqueira</strong><br />
está <strong>em</strong> declínio, mas também reconhec<strong>em</strong> que as <strong>atividade</strong>s petrolíferas afetam a pesca,<br />
tornando-<strong>se</strong> necessária a prática de ações ou mesmo políticas públicas que valoriz<strong>em</strong> a cultura<br />
e o modo de viver do pescador artesanal no município de Barra <strong>dos</strong> Coqueiros.<br />
Palavras-Chaves: Pesca extrativista artesanal, pescadores e Barra <strong>dos</strong> Coqueiros<br />
Introdução<br />
Os recursos pesqueiros são considera<strong>dos</strong> bens de uso comum. Desta forma, o <strong>se</strong>u<br />
acesso torna-<strong>se</strong> direito de to<strong>dos</strong>, “excetuando-<strong>se</strong> as unidades de con<strong>se</strong>rvação de proteção<br />
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integral e outras definidas <strong>em</strong> lei” (este texto foi bastante discutido e exposto durante a<br />
realização da 3ª Conferência Nacional de Aquicultura e Pesca ocorrida <strong>em</strong> Brasília no ano de<br />
2009). Desta forma, o pescador artesanal, sobretudo, t<strong>em</strong> um papel importante no<br />
cenário da pesca no país. Estima-<strong>se</strong> que os pescadores artesanais são responsáveis por<br />
65% da pesca extrativista no Brasil, o que corresponde a 550 mil toneladas por ano. A<br />
pesca artesanal produz mais de 50% do pescado atualmente produzido quando <strong>se</strong><br />
compara com a aqüicultura. Contudo, esta última v<strong>em</strong> tomando cada vez mais espaço<br />
no mercado do pescado brasileiro, especialmente na região nordeste, desde a década de<br />
1990 até os dias atuais, o que contribuiu para o surgimento de um novo sujeito social,<br />
<strong>se</strong>gundo Ramalho(2009): os fazendeiros de camarão.<br />
Tal luta pela busca da heg<strong>em</strong>onia da carcinocultura deu-<strong>se</strong> também<br />
apoiando-<strong>se</strong> <strong>em</strong> discursos que buscam desafirmar a pesca e os<br />
pescadores e pescadoras artesanais, como: a aqüicultura é uma<br />
evolução natural da própria pesca, que é uma <strong>atividade</strong> extrativista;<br />
a aqüicultura é uma aliada da <strong>se</strong>gurança alimentar; a pesca é uma<br />
<strong>atividade</strong> que esgota e esgotou os pesca<strong>dos</strong>( RAMALHO, 2009,<br />
p.8).<br />
Mesmo tendo um aumento pouco significativo com relação ao <strong>se</strong>tor aquícola, a<br />
pesca extrativista tanto marítima quanto continental cresceu 5,4% nos anos de 2008 e<br />
2009, <strong>se</strong>gundo da<strong>dos</strong> do Ministério de Aquicultura e Pesca. Segundo Ramalho (2009,<br />
p.9), existe na <strong>atividade</strong> <strong>pesqueira</strong> e na aqüicultura interes<strong>se</strong>s econômicos <strong>em</strong>presariais<br />
que sobrepõ<strong>em</strong> a sustentabilidade ambiental e social. Espera-<strong>se</strong> que a pesca artesanal<br />
não <strong>se</strong>ja totalmente substituída pela aqüicultura já que esta última está diretamente<br />
vinculada aos interes<strong>se</strong>s do capitalismo. Assim, pod<strong>em</strong>os enfatizar a importância da<br />
pesca artesanal, <strong>se</strong>ja marítima (inclui a estuarina) ou continental (<strong>em</strong> lagos, lagoas, rios,<br />
etc.), quando nos focamos na intensidade das relações entre o hom<strong>em</strong> e o ambiente<br />
natural no <strong>se</strong>guinte discurso de Rieper( 2001, p.43) sobre a relação <strong>dos</strong> ribeirinhos do<br />
baixo São Francisco com o rio:<br />
A pesca, <strong>se</strong>ndo uma <strong>atividade</strong> que influencia as relações entre o<br />
hom<strong>em</strong> e a natureza , t<strong>em</strong> grande repre<strong>se</strong>nt<strong>atividade</strong>, não só como<br />
fonte de alimento mas também como <strong>atividade</strong> profundamente<br />
envolvida nas formas da população criar <strong>se</strong>u sist<strong>em</strong>a de valores(...).<br />
O início do século 21 foi marcado por 2 grandes acontecimentos no que tange à<br />
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gestão estrutural e administrativa da pesca e da aqüicultura no país. Primeiro, <strong>em</strong> 2003,<br />
foi criada a Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca(SEAP) que teve um papel<br />
fundamental no incentivo à políticas voltadas para a pesca e aqüicultura,<br />
principalmente. Através desta <strong>se</strong>cretaria juntamente com o Instituto Brasileiro do Meio<br />
Ambiente e <strong>dos</strong> Recursos Naturais Renováveis -IBAMA e a Fundação de Amparo à<br />
Pesquisa de Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva- Fundação PROZEE, foi<br />
realizado um levantamento cadastral das <strong>em</strong>barcações <strong>pesqueira</strong>s no litoral da região<br />
Norte (dois esta<strong>dos</strong> Amapá e Pará) e no Nordeste(to<strong>dos</strong> os esta<strong>dos</strong>). Essas informações<br />
são relevantes na medida <strong>em</strong> que oferec<strong>em</strong> um apropriado ordenamento da <strong>atividade</strong><br />
<strong>pesqueira</strong> e pod<strong>em</strong> subsidiar políticas públicas para o <strong>se</strong>tor. Depois, <strong>em</strong> junho de 2009,<br />
criou-<strong>se</strong> o Ministério de Aquicultura e Pesca. E nes<strong>se</strong> mesmo ano foi realizada a 3ª<br />
Conferência Nacional de Aquicultura e Pesca com a finalidade de criar uma política de<br />
estado para o de<strong>se</strong>nvolvimento sustentável da pesca e da aqüicultura. Levando-<strong>se</strong> <strong>em</strong><br />
consideração o estado de Sergipe, <strong>se</strong>gundo o relatório de pesca de 2005, o controle estatístico<br />
das <strong>atividade</strong>s <strong>pesqueira</strong>s marítima e estuarina teve início no ano de 1997. A pesca extrativista<br />
<strong>em</strong> nosso estado, assim como na maioria <strong>dos</strong> d<strong>em</strong>ais esta<strong>dos</strong> da região nordeste, caracteriza-<strong>se</strong><br />
como exclusivamente artesanal, <strong>se</strong>gundo informações fornecidas pelo Ministério de Aquicultura<br />
e Pesca. No que <strong>se</strong> refere à clas<strong>se</strong> <strong>pesqueira</strong>, o grupo peixes apre<strong>se</strong>nta o maior percentual de<br />
pescado obtido pela pesca artesanal no estado (63%), <strong>se</strong>guido de crustáceos com 35%(Tabela<br />
1). Em 2005, a produção de pescado anual do município de Barra <strong>dos</strong> Coqueiros foi de 81,6<br />
toneladas, o que corresponde a uma participação de 1,3% do total pescado neste mesmo período<br />
<strong>em</strong> todo o estado.<br />
Clas<strong>se</strong> Produção (ton) (%)<br />
Peixes 3.758,82 61,0<br />
Crustáceos 2.173,88 35,3<br />
Moluscos 228,65 3,7<br />
Total 6.161,4 100<br />
Tabela 1: Produção <strong>pesqueira</strong> do estado de Sergipe no ano de 2005. Fonte: Relatório de<br />
Monitoramento da Atividade Pesqueira no Litoral do Brasil SEAP/IBAMA.<br />
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Mesmo não estando entre os maiores produtores de pescado do estado, o município de<br />
Barra <strong>dos</strong> Coqueiros apre<strong>se</strong>nta uma participação significativa com relação à <strong>atividade</strong> <strong>pesqueira</strong>.<br />
A sua localização geográfica favorece a existência de tal <strong>atividade</strong>, já que é cercado por rios e<br />
apre<strong>se</strong>nta uma região estuarina bastante extensa, a ex<strong>em</strong>plo do Rio Sergipe. Na região estuarina<br />
deste, exist<strong>em</strong> dois entrepostos de pesca nos quais grande quantidade de barcos descarrega o<br />
pescado e o comercializa. Neste <strong>se</strong>ntido, devido à participação do município de Barra <strong>dos</strong><br />
Coqueiros na <strong>atividade</strong> <strong>pesqueira</strong> no estado e ao <strong>se</strong>u grande potencial geográfico para<br />
de<strong>se</strong>nvolver tanto a pesca estuarina quanto a pesca marítima o município de Barra <strong>dos</strong><br />
Coqueiros é, neste trabalho, o local escolhido para a abordag<strong>em</strong> deste tipo de <strong>atividade</strong>.<br />
Metodologia<br />
A metodologia adotada, a princípio, teve como ba<strong>se</strong> a aplicação de um questionário<br />
contendo perguntas abertas e fechadas direcionadas a 15 pescadores do município de Barra <strong>dos</strong><br />
Coqueiros, <strong>se</strong>ndo que 8 foram entrevista<strong>dos</strong> no entreposto de pesca Fábrica de Gelo/ Gaúcha<br />
de Pesca (Figura 1A) e 7 no entreposto de pesca Raio de Sol(Figura 1B), to<strong>dos</strong> dois localiza<strong>dos</strong><br />
na área urbana da região estuarina do rio Sergipe. Durante a aplicação deste questionário foi<br />
perceptível a necessidade de <strong>se</strong> registrar, através de gravações, as falas de pescadores para o<br />
enriquecimento das informações relatadas neste artigo referente ao modo de vida do pescador<br />
no município de Barra <strong>dos</strong> Coqueiros. Neste <strong>se</strong>ntido, realizou-<strong>se</strong> também uma entrevista<br />
s<strong>em</strong>iestruturada com estes profissionais.<br />
a b<br />
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Figura 1: a- Entreposto de pesca Fábrica de Gelo também conhecido como Gaúcha de Pesca. b-<br />
Entreposto de Pesca Raio de Sol. (Foto: Danilo Silva- nov. 2011)<br />
Resulta<strong>dos</strong> e Discussões<br />
To<strong>dos</strong> os pescadores entrevista<strong>dos</strong> são do <strong>se</strong>xo masculino e ob<strong>se</strong>rvou-<strong>se</strong> que a pesca<br />
realizada <strong>em</strong> barcos no estuário do rio Sergipe, assim como <strong>em</strong> alto mar, é feita exclusivamente<br />
por homens. Entre os entrevista<strong>dos</strong>, 50% são casa<strong>dos</strong> e a sua faixa etária variou bastante (figura<br />
2a), até porque foram entrevista<strong>dos</strong> jovens, adultos e i<strong>dos</strong>os. Este último grupo está na pesca por<br />
amor à <strong>atividade</strong> e como eles já estão apo<strong>se</strong>nta<strong>dos</strong>, por conta da idade, a pesca não <strong>se</strong> configura<br />
mais como rotina. Com relação à naturalidade, somente 20% <strong>dos</strong> entrevista<strong>dos</strong> eram do próprio<br />
município de Barra <strong>dos</strong> Coqueiros, os d<strong>em</strong>ais vieram de outras localidades, principalmente de<br />
Alagoas e Pernambuco, a maioria reside na Barra <strong>dos</strong> Coqueiros há mais de 20 anos.<br />
Quanto ao nível de escolaridade, a maioria <strong>dos</strong> entrevista<strong>dos</strong> apre<strong>se</strong>nta o ensino<br />
fundamental incompleto (Figura 2b), o que pode configurar o analfabetismo funcional<br />
dessa faixa da amostra. A quantidade de analfabetos também ocupou uma significativa<br />
parcela nos da<strong>dos</strong>, <strong>se</strong>ndo repre<strong>se</strong>nta<strong>dos</strong> por 27% <strong>dos</strong> entrevista<strong>dos</strong>.<br />
b<br />
<strong>atividade</strong> <strong>pesqueira</strong>. A partir <strong>dos</strong> <strong>se</strong>us próprios relatos, constatamos ainda que 73% <strong>dos</strong><br />
5<br />
a<br />
Figura 02: a- Faixa etária <strong>dos</strong> pescadores entrevista<strong>dos</strong>. b- Naturalidade <strong>dos</strong> pescadores.<br />
Grande parte <strong>dos</strong> pescadores não moram sozinhos, geralmente resid<strong>em</strong> com mais<br />
de duas pessoas <strong>em</strong> suas residências. E <strong>dos</strong> quinze pescadores entrevista<strong>dos</strong>, cerca de<br />
93%, estão na profissão há mais de 6 anos, d<strong>em</strong>onstrando que as informações aqui<br />
relatadas são ba<strong>se</strong>adas <strong>em</strong> pessoas que possu<strong>em</strong> uma vasta experiência na área da
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entrevista<strong>dos</strong> possu<strong>em</strong> uma renda mensal de 1 salário mínimo, mas também há os que<br />
não con<strong>se</strong>gu<strong>em</strong> ganhar es<strong>se</strong> valor, como foi ob<strong>se</strong>rvado nestas declarações: “ É difícil<br />
dizer qual o valor mensal que a gente ganha pois varia muito... t<strong>em</strong> me<strong>se</strong>s que<br />
chegamos a receber menos de 1 salário mínimo”, 47anos, “ A renda não é fixa, ela<br />
varia muito”69 anos. Além disso, menos da metade <strong>dos</strong> quinze pescadores<br />
entrevista<strong>dos</strong> afirmou que realiza uma outra <strong>atividade</strong>, além da pesca, para<br />
compl<strong>em</strong>entar a renda mensal. Contudo, a outra <strong>atividade</strong> está relacionada também à<br />
pesca, como por ex<strong>em</strong>plo a manutenção de barcos e confecção de redes de pesca. A<br />
finalidade da pesca para os pescadores entrevista<strong>dos</strong> pode <strong>se</strong>r claramente descrita<br />
Diegues (2001, p.96) “ Os recursos pesqueiros(...)são fonte de renda e de alimentos para<br />
inúmeros pescadores artesanais”. Portanto, a pesca para es<strong>se</strong> grupo de entrevista<strong>dos</strong> é<br />
realizada tanto para a renda quanto para o consumo. Quanto ao instrumento de trabalho<br />
utilizado na pesca <strong>em</strong> barcos, a maioria <strong>dos</strong> entrevista<strong>dos</strong> utiliza o anzol (Figura 03).<br />
Mas outros instrumentos foram cita<strong>dos</strong> pelos pescadores, a ex<strong>em</strong>plo de tarrafas e<br />
pequenas redes.<br />
Figura 3: Instrumentos utiliza<strong>dos</strong> pelos pescadores para realizar a pesca <strong>em</strong> barcos.<br />
Já com relação à quantidade de pescado disponível no oceano e no estuário, a maioria<br />
<strong>dos</strong> pescadores afirmou que realmente ao longo <strong>dos</strong> anos ela v<strong>em</strong> <strong>se</strong>ndo reduzida<br />
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significativamente, dificultando ainda mais a pesca extrativista artesanal, pois muitas das vezes<br />
leva-<strong>se</strong> bastante t<strong>em</strong>po para con<strong>se</strong>guir uma quantidade satisfatória de pescado. Segundo Paiva<br />
(2004, p.2), essa limitação na produção natural <strong>dos</strong> recursos pesqueiros é característica própria<br />
da <strong>atividade</strong> <strong>pesqueira</strong> e impede a expansão das pescarias. É importante ressaltar que uma<br />
quantidade significativa de pescadores entrevista<strong>dos</strong>, 32% de um total de 15, respondeu que a<br />
redução na quantidade de pescado <strong>se</strong> deve ao fato de haver um aumento no número de barcos de<br />
pesca. Outro fator responsável por essa diminuição é a poluição ( Figura 4).<br />
Além disso, existe ainda um probl<strong>em</strong>a enfrentado por eles no <strong>se</strong>u dia-a-dia e que foi<br />
citado na entrevista:o sacrifício e desgaste físicos exigi<strong>dos</strong> pelo trabalho pesqueiro. No entanto,<br />
mesmo apre<strong>se</strong>ntando dificuldades para a <strong>atividade</strong> <strong>pesqueira</strong> extrativista artesanal, a maioria <strong>dos</strong><br />
entrevista<strong>dos</strong> não pretende abandonar a pesca e cita como principal motivo para a sua<br />
permanência nesta <strong>atividade</strong> o fato de não saber<strong>em</strong> realizar uma outra <strong>atividade</strong> além do<br />
trabalho na pesca.<br />
To<strong>dos</strong> afirmaram que <strong>se</strong>us filhos, por sua vez, não pretend<strong>em</strong> trabalhar neste tipo de<br />
<strong>atividade</strong> <strong>em</strong> virtude tanto do desgaste físico que ele causa quanto do <strong>se</strong>u declínio ultimamente.<br />
Quanto ao tipo de pescado explorado pelos 15 pescadores entrevista<strong>dos</strong>, a maioria afirmou que<br />
<strong>se</strong> dedicava mais à pesca de peixes, mas havia também pescadores de camarão.<br />
Figura 4: Fatores que contribu<strong>em</strong> para a redução do número de pescado.<br />
No que <strong>se</strong> refere aos impactos provoca<strong>dos</strong> pela <strong>atividade</strong> petrolífera <strong>em</strong> alto mar, a<br />
maioria <strong>dos</strong> entrevista<strong>dos</strong> t<strong>em</strong> a percepção de que ela afeta o trabalho pesqueiro e, por isso,<br />
to<strong>dos</strong> os pescadores que trabalham <strong>em</strong> alto mar são orienta<strong>dos</strong> pela marinha para pescar<strong>em</strong><br />
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distantes das plataformas marítimas. Existe um projeto de ampliação do sist<strong>em</strong>a de produção e<br />
escoamento de petróleo e gás natural nos campos de Camorim, Dourado e Guaric<strong>em</strong>a que ainda<br />
é desconhecido por boa parte <strong>dos</strong> pescadores entrevista<strong>dos</strong>( 73%), apesar de muitos deles<br />
navegar<strong>em</strong> e utilizar<strong>em</strong> áreas próximas ao campo de Guaric<strong>em</strong>a para a pesca <strong>em</strong> alto mar por<br />
sua localização <strong>se</strong>r <strong>em</strong> área marítima do município de Barra <strong>dos</strong> Coqueiros. Mesmo afirmando<br />
não ter<strong>em</strong> ainda conhecimento deste projeto, já preve<strong>em</strong> através de <strong>se</strong>us relatos, os danos<br />
causa<strong>dos</strong> por essa ampliação: poluição, afastamento <strong>dos</strong> peixes e proibição de acesso às áreas de<br />
pesca.<br />
Considerações Finais<br />
No âmbito geral, ob<strong>se</strong>rvou-<strong>se</strong> que a pesca artesanal é realizada por pescadores que <strong>se</strong><br />
configuram como comunidades tradicionais e que estão submeti<strong>dos</strong> a uma situação social<br />
marginalizada, visto que são excluí<strong>dos</strong> das políticas púbicas educacionais e não possu<strong>em</strong> renda<br />
fixa capaz de suprir suas necessidades básicas. Foi constatada também a compreensão deles<br />
quanto ao cenário atual de declínio da pesca extrativista artesanal no município, situação esta<br />
decorrente está <strong>em</strong> declínio principalmente: a poluição e o aumento do número de barcos s<strong>em</strong><br />
que haja aprimoramento tecnológico e organizativo da <strong>atividade</strong> <strong>pesqueira</strong>. Além disso, os<br />
pescadores têm consciência de que as <strong>atividade</strong>s petrolíferas nas plataformas marítimas afetam<br />
diretamente a pesca. Diante des<strong>se</strong> contexto, estu<strong>dos</strong> sobre a pesca no município dev<strong>em</strong> <strong>se</strong>r<br />
aprofunda<strong>dos</strong> com o intuito de <strong>se</strong> obter informações que possam <strong>se</strong>rvir como ba<strong>se</strong> para a<br />
impl<strong>em</strong>entação de políticas públicas voltadas para o fortalecimento da <strong>atividade</strong> <strong>pesqueira</strong><br />
artesanal e para a valorização des<strong>se</strong> grupo <strong>em</strong> <strong>se</strong>us saberes, mo<strong>dos</strong> de vida e valores.<br />
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