A identidade do fumador de cachimbo num ambiente legal ... - Sapo
A identidade do fumador de cachimbo num ambiente legal ... - Sapo
A identidade do fumador de cachimbo num ambiente legal ... - Sapo
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
afecta<strong>do</strong>s, qual o impacto no seu estilo <strong>de</strong> vida e que papel institucional po<strong>de</strong>rá ser assumi<strong>do</strong><br />
pelos clubes <strong>de</strong> <strong>cachimbo</strong>.<br />
Meto<strong>do</strong>logia<br />
Foram convida<strong>do</strong>s para uma reunião <strong>de</strong>z fuma<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>cachimbo</strong>, sócios <strong>do</strong> Cachimbo Clube <strong>de</strong><br />
Portugal, sete homens e três senhoras, com ida<strong>de</strong>s compreendidas entre os 45 e os 62 anos, to<strong>do</strong>s<br />
fuma<strong>do</strong>res há mais <strong>de</strong> 25 anos, para se conversar sobre o impacto da restrição <strong>legal</strong> <strong>de</strong> fumar na<br />
sua <strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong> individual e colectiva e como se estão a adaptar à mudança.<br />
A primeira parte da reunião constou <strong>de</strong> quatro perguntas abertas e a segunda <strong>de</strong> uma pergunta<br />
fechada com várias escolhas, cujas respostas compiladas serão apresentadas neste artigo.<br />
1 – Pequena história <strong>do</strong> <strong>cachimbo</strong> e <strong>do</strong> fuma<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>cachimbo</strong><br />
A primeira referência ao acto <strong>de</strong> fumar é atribuída a Heró<strong>do</strong>to e aos gregos no século V a.C.,<br />
embora os arqueólogos tenham encontra<strong>do</strong> cerâmica, estatuária e hieróglifos que fazem recuar o<br />
hábito <strong>de</strong> fumar a três mil anos antes. Nas ruínas da antiga cultura Maia, na América Central,<br />
encontram-se gravações em pedra, com mais <strong>de</strong> mil anos, que mostram sacer<strong>do</strong>tes a fumar<br />
<strong>cachimbo</strong>s em rituais religiosos. Sen<strong>do</strong> a planta <strong>de</strong> tabaco originária <strong>de</strong>ssa região, é provável que<br />
se tenha propaga<strong>do</strong> ao México, on<strong>de</strong> os Aztecas fumavam <strong>cachimbo</strong>s semelhantes. Na América<br />
<strong>do</strong> Norte, os índios usavam-nos em diversas cerimónias. “Passa<strong>do</strong> <strong>de</strong> mão em mão, como sinal<br />
<strong>de</strong> entendimento […] era uma oferenda aos <strong>de</strong>uses” e “significava a comunhão entre o homem e<br />
o universo” 3 .<br />
O acto <strong>de</strong> fumar era <strong>de</strong>scrito em três situações diferentes: (1) socialização, (2) relaxamento e (3)<br />
contemplação. É fácil imaginar os membros <strong>de</strong> uma tribo, ou <strong>de</strong> um grupo, senta<strong>do</strong>s em volta <strong>de</strong><br />
uma fogueira, a fumar e a conversar sobre os acontecimentos <strong>do</strong> dia (Crole, 1999, Jeffers, 1998,<br />
Newcombe, 2006, apud LoConto, 2010: 10). Da mesma forma, para muitos nativos americanos,<br />
fumar <strong>cachimbo</strong> em grupo era um símbolo <strong>de</strong> respeito entre os seus membros. Fumar, <strong>de</strong> uma<br />
forma geral, constituía um momento <strong>de</strong> relaxamento que fazia parte <strong>de</strong> varia<strong>do</strong>s rituais<br />
(Newcombe, 2006, apud LoConto, 2010: 10) 4 .<br />
No entanto, fumar <strong>cachimbo</strong> nunca <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>u da existência ou não da planta <strong>de</strong> tabaco, pois antes<br />
<strong>de</strong> a América ter si<strong>do</strong> <strong>de</strong>scoberta pelos europeus, os pigmeus <strong>do</strong> Congo, por exemplo, fumavam<br />
uma mistura <strong>de</strong> carvão com folhas, usan<strong>do</strong> uma cana <strong>de</strong> bambu como <strong>cachimbo</strong>. 5 Fumar<br />
3 LOPES, José Manuel, Cachimbos. Marcas, Fabricantes e Artesãos. Ed. Quimera, Lisboa, 2004, p. 22<br />
4 LOCONTO, David G., The Aesthetic Experience of Making Smoking Pipes. Jacksonville State University, 2010<br />
5 WEBER, Carl, Weber’s Gui<strong>de</strong> to Pipes and Pipe Smoking. New York, Routledge Books, 1965<br />
http://www.pipesmoking.net/pipesmoking02.php<br />
4