Cuidados Pré e Pós-Operatórios em Cirurgia Cardíaca - HC - UFPR ...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ<br />
DEPARTAMENTO DE CLÍNICA MÉDICA<br />
DISCIPLINA DE CARDIOLOGIA<br />
PROTOCOLO DE CUIDADOS PRÉ E PÓS-OPERATÓRIOS EM<br />
CIRURGIA CARDÍACA - 2011<br />
PRÉ-OPERATÓRIO<br />
Introdução<br />
O principal objetivo de uma rotina pré-operatória é impl<strong>em</strong>entar medidas<br />
que possam diminuir os riscos no intra e pós-operatório. Os principais itens a<br />
ser<strong>em</strong> seguidos são:<br />
Confirmar o diagnóstico e indicação cirúrgica<br />
Avaliação do risco cirúrgico<br />
Informar o paciente sobre os riscos e obter consentimento<br />
Exames compl<strong>em</strong>entares<br />
Medicações no perioperatório<br />
Avaliação multiprofissional<br />
1.0 - Avaliação do risco<br />
Exist<strong>em</strong> diversos modelos de pontuação para se estimar o risco cirúrgico.<br />
O mais validado é o “Euro score” (<strong>em</strong> anexo). Para cirurgia valvar, o “score de<br />
Ambler” parece ser mais preciso.<br />
2.0 - Consentimento informado<br />
O paciente e familiares, idealmente na presença de test<strong>em</strong>unhas, dev<strong>em</strong><br />
ser informados sobre os potenciais riscos do procedimento. A ausência do<br />
documento devidamente assinado é contraindicação ao procedimento, salvo<br />
<strong>em</strong> situações especiais de <strong>em</strong>ergência.<br />
3.0 - Exames compl<strong>em</strong>entares<br />
Os principais exames, como rotina, estão listados a seguir:
Laboratoriais: H<strong>em</strong>ograma completo, sódio, potássio, ureia, creatinina,<br />
glic<strong>em</strong>ia de jejum, coagulograma completo, parcial de urina.<br />
Rx de tórax<br />
ECG<br />
Ecocardiograma<br />
Cateterismo cardíaco <strong>em</strong> pacientes >40 anos ou suspeita de DAC.<br />
Doppler de carótidas: >65 anos, Lesão TCE, tabagismo, Doença de Ao<br />
ou sopros carotídeos.<br />
4.0 - Medicações no perioperatório<br />
As principais medicações de importância no perioperatório e condutas estão<br />
listadas a seguir.<br />
Anticoagulantes: ACO dev<strong>em</strong> ser suspensos pelo menos 7 dias antes e<br />
RNI abaixo de 1,5 imediatamente antes da cirurgia; HBPM deve ser<br />
suspensa 12h antes e HNF 6h antes.<br />
Antiagregantes: Em RVM ou cirurgia valvar com DAC, não suspender<br />
AAS; Clopidogrel deve ser suspenso 5 a 7 dias antes.<br />
Betabloqueadores: Dev<strong>em</strong> ser mantidos ou introduzidos no peri e pósoperatório,<br />
a não ser que haja contraindicações. Titular a dose e evitar<br />
FC
Endocrinologia: para pacientes com distúrbios metabólicos de difícil<br />
controle, especialmente diabetes mellitus.<br />
Pneumologia: especialmente para pacientes portadores de DPOC grave.<br />
Em relação ao tabagismo, benefícios teóricos pod<strong>em</strong> ser obtidos com 12<br />
às 24h de suspensão (diminui níveis de nicotina e CO). Suspensão de<br />
12 a 8 s<strong>em</strong>anas comprovadamente diminui a mortalidade no<br />
perioperatório.<br />
PÓS-OPERATÓRIO<br />
Introdução<br />
Os determinantes de bons resultados na cirurgia cardíaca são<br />
decorrentes de cuidadosa avaliação Perioperatória associada à manutenção da<br />
homeostase na sala de cirurgia e à adequação dos cuidados pós-operatórios.<br />
Algumas particularidades da cirurgia cardíaca:<br />
Resposta inflamatória sistêmica;<br />
Utilização de circulação extracorpórea;<br />
Ocorrência de parada cardiocirculatória <strong>em</strong> alguns casos;<br />
MONITORIZAÇÃO DO PACIENTE E AVALIAÇÀO INICIAL<br />
A monitorização do paciente no pós-operatório de cirurgia cardíaca deve ser<br />
pormenorizada e eficaz. O diagnóstico precoce das complicações<br />
h<strong>em</strong>odinâmicas e ventilatórias resulta, na maior parte dos casos, <strong>em</strong> melhor<br />
evolução dos pacientes.<br />
Ao receber o paciente, o intensivista, deve seguir uma rotina preestabelecida a<br />
fim de evitar complicações e extrair a maior parte de dados possíveis sobre o<br />
paciente.<br />
Admissão na UTI:<br />
Sinais vitais;<br />
Monitorização;<br />
Posição dos drenos;<br />
Conexão ao ventilador;<br />
Exame físico;<br />
Prescrição;<br />
Coleta de exames;
Após a chegada do paciente na UTI, deve ser realizado eletrocardiograma<br />
(ritmo – presença de isqu<strong>em</strong>ia) e raios-X de tórax (posição do tubo<br />
endotraqueal – pneumotórax – h<strong>em</strong>otórax).<br />
O paciente deve ser examinado continuamente, devendo ser reavaliado<br />
durante as primeiras 24h do pós-operatório<br />
ROTINAS UTILIZADAS NO PÓS-OPERATÓRIO<br />
A frequência e a coleta dos exames dev<strong>em</strong> ser alteradas <strong>em</strong> função da<br />
evolução do doente.<br />
EXAMES POI 1 PO 2 PO<br />
Na/K 6/6h 12/12 1x/dia<br />
Hb/VG 6/6h 2x/dia 1x/dia<br />
Dextro 2/2h 2/2h 2/2h<br />
Cálcio 2x/dia 1x/dia 1x/dia<br />
Mg 1x/dia 1x/dia 1x/dia<br />
Ur/Cr 1/xdia 1x/dia 1x/dia<br />
Gasometria<br />
arterial<br />
6/6h 12/12h ACM<br />
Gasometria 6/6H 12/12H 1x/dia<br />
venosa central<br />
Lactato 12/12h 1x/dia ACM<br />
Plaquetas 1x/dia 1x/dia ACM<br />
Coagulograma 1x/dia ACM ACM<br />
Raio X Tórax 1x/dia 1x/dia 1x/dia<br />
MEDIDAS GERAIS<br />
Antibioticoterapia profilática:<br />
Cefazolina (2g) na indução anestésica e (1,5g) 6/6h por 24 às 48h<br />
Profilaxia de TVP:<br />
Clexane 40mg SC no terceiro dia pós-operatório<br />
Profilaxia úlcera de estresse:<br />
Omeprazol 40mg EV a cada 24h<br />
MONITORIZAÇÃO
Monitorização do segmento ST<br />
Pressão arterial sistêmica: pressão arterial invasiva monitorizada. Artéria<br />
radial é a mais utilizada. Se o paciente estiver estável, sugere-se<br />
monitorização invasiva por 24h, a qual deve ser mantida enquanto<br />
houver instabilidade h<strong>em</strong>odinâmica ou hipox<strong>em</strong>ia significativa.<br />
Recomenda-se manter pressão arterial média acima de 70mmhg para<br />
permitir adequada perfusão orgânica;<br />
Pressão venosa central: parâmetro estático bastante útil. Pressão<br />
venosa central baixa (< 8mmhg) é um bom indicativo de hipovol<strong>em</strong>ia,<br />
por outro lado, a pressão venosa central alta (> 12mmhg), como<br />
parâmetro isolado não traz informações significativas. Deve ser avaliada<br />
<strong>em</strong> medidas seriadas, observando-se sua linearidade e tendência, o que<br />
permite estimar os efeitos de uma intervenção;<br />
Oximetria de pulso: avalia a saturação de oxigênio.<br />
T<strong>em</strong>peratura: dever ser aferida na chegada do paciente e<br />
periodicamente. A hipotermia deve ser tratada com o objetivo de evitar<br />
vasoconstrição e aumento da chance de sangramento. A hipert<strong>em</strong>ia<br />
deve ser tratada agressivamente para reduzir o consumo energético.<br />
Débito urinário: busca-se uma diurese de no mínimo 1 ml/Kg/h.<br />
Saturação venosa central: parâmetro de perfusão, medido com um<br />
cateter central. Considera-se adequada acima de 65%. Devendo-se<br />
buscar e tratar causas de baixa saturação venosa: hipovol<strong>em</strong>ia,<br />
hipox<strong>em</strong>ia e an<strong>em</strong>ia.<br />
Gasometria arterial: fornece dados importantes sobre Ph, oxigenação (<br />
PO2/Fi 02 ) devendo ser maior que 300, ventilação ( PACO2 ) e<br />
perfusão tecidual ( Excesso de bases ).<br />
Gasometria venosa central: fornece a saturação venosa central.<br />
Lactato arterial: bom índice de perfusão tecidual.
Gradiente veno-arterial de CO2 (PCO2v-PCO2a): Valores maiores que<br />
5-10 indicam desvio para o metabolismo anaeróbio, fornece, portanto,<br />
um parâmetro de perfusão.<br />
ANALGESIA<br />
A analgesia deve ser suficiente para determinar maior conforto e mobilidade<br />
aos pacientes, prevenindo, dessa forma, a formação de atelectasias e o<br />
aparecimento de diferentes graus de hipox<strong>em</strong>ia. Deve ser realizada <strong>em</strong><br />
intervalos regulares.<br />
DIPIRONA 30mg/Kg de 6/6h associada TRAMADOL 100mg EV 6/6h.<br />
Nos casos de alergias ou instabilidade h<strong>em</strong>odinâmica, pode-se utilizar<br />
PARACETAMOL 750mg 6/6H VO.<br />
Em casos de dor persistente ou presença de drenos no tórax, recomenda-se a<br />
realização de bloqueio intercostal ou peridural com colocação de cateter para<br />
infusão de analgésicos.<br />
Sedação: Fentanil e Midazolam titulados de acordo com o conforto do paciente,<br />
acoplamento paciente-ventilador e estabilidade h<strong>em</strong>odinâmica.<br />
REPOSIÇÃO VOLÊMICA<br />
Manter adequada perfusão tecidual e a oferta de oxigênio.<br />
Depleção de fluidos e água perioperatória:<br />
Jejum<br />
Transferência de líquidos do intravascular para o interstício por<br />
inflamação sistêmica<br />
Vômitos<br />
Vasodilatação<br />
Os cristalóides dev<strong>em</strong> ser os fluidos de primeira escolha para reposição<br />
volêmica, podendo ser utilizados o ringer lactato e solução fisiológica 0,9%.<br />
Os colóides também pod<strong>em</strong> ser administrados no contexto de<br />
hipoalbumin<strong>em</strong>ia, anasarca, lesão pulmonar aguda e após o uso de mais de 3<br />
litros de cristalóides.<br />
Evitar o uso de planos de hidratação de forma contínua e individualizar de<br />
acordo com as necessidades clínicas e h<strong>em</strong>odinâmicas.
MONITORIZAÇÃO DA REPOSIÇÃO VOLÊMICA<br />
Clinicamente<br />
Nível de consciência<br />
PAM > 65mmhg<br />
Frequência cardíaca < 100bpm<br />
Diurese > 1,0 ml/Kg/min.<br />
Pressões Intravasculares<br />
Aumento da PVC > 3mmhg a 200ml de infusão de colóides significa que o<br />
ponto de inflexão da curva pressão-volume foi atingido e que o volume<br />
intravascular foi alcançado s<strong>em</strong> aumento das pressões venosas.<br />
Índice Cardíaco (> 2,2 L/min/m2)<br />
Índice cardíaco adequado é aquele suficiente para atender as d<strong>em</strong>andas<br />
metabólicas. Não há um número adequado de débito cardíaco que indique<br />
vol<strong>em</strong>ia adequada. Deve-se avaliar sua resposta frente à prova de volume.<br />
Perfusão Tecidual<br />
A observação clínica da perfusão periférica com a avaliação de débito urinário,<br />
lactato e saturação venosa de oxigênio traz<strong>em</strong> parâmetros importantes na<br />
avaliação da perfusão tecidual, os quais dev<strong>em</strong> ser considerados no<br />
diagnóstico e na monitorização do tratamento da hipovol<strong>em</strong>ia.<br />
COMPLICAÇÕES ORGÂNICAS PÓS-OPERATÓRIAS<br />
BAIXO DÉBITO CARDÍACO<br />
Pode ser definido com a incapacidade de coração manter fluxo sanguíneo<br />
suficiente para atender à d<strong>em</strong>anda metabólica tecidual.<br />
Clinicamente:<br />
Hipotensão arterial sistêmica sistólica: PAS < 90mmhg<br />
Alteração do nível de consciência<br />
Agitação<br />
Confusão<br />
Diminuição da t<strong>em</strong>peratura dos m<strong>em</strong>bros inferiores<br />
Oligúria: < 0,5ml/kg/h
H<strong>em</strong>odinamicamente<br />
Saturação venosa central baixa: < 65%<br />
Índice cardíaco baixo: < 2,2 L/min/m2<br />
Hipotensão arterial sistêmica: PAS < 90mmhg<br />
Em muitos casos, o diagnóstico é bastante difícil, exigindo alto grau de<br />
suspeição clínica. O tratamento deve ser instituído o mais rápido possível.<br />
A função miocárdica geralmente diminui nas primeiras horas após a cirurgia<br />
cardíaca, sobretudo <strong>em</strong> decorrência das lesões por isqu<strong>em</strong>ia e reperfusão,<br />
ocorrendo na maioria dos casos retorno às condições basais <strong>em</strong> um período de<br />
24 a 48 horas. Agentes vasoativos utilizados no intra-operatório dev<strong>em</strong> ser<br />
mantidos no período pós-operatório inicial,podendo ser retirados quando o<br />
débito cardíaco estiver adequado.<br />
ETIOLOGIA<br />
Redução da pré-carga<br />
1. Hipovol<strong>em</strong>ia: sangramento, reposição inadequada e resposta<br />
inflamatória;<br />
2. Vasodilatação: pós aquecimento, vasodilatadores, opioides,<br />
benzodiazepínicos e resposta inflamatória;<br />
3. Tamponamento cardíaco;<br />
4. Pneumotórax;<br />
5. Disfunção do ventrículo direito por infarto ou hipertensão<br />
pulmonar;<br />
Redução da contratilidade<br />
Arritmias<br />
1. Baixa fração de ejeção prévia<br />
2. Isqu<strong>em</strong>ia ou infarto miocárdico decorrentes de má proteção<br />
miocárdica no intra-operatório.<br />
3. Hipóxia<br />
4. Acidose<br />
5. Hipercarbia<br />
1. Flutter e fibrilação atrial<br />
2. Arritmias ventriculares<br />
3. Bradicardia
Aumento da resistência vascular sistêmica<br />
TRATAMENTO<br />
1. Vasoconstrição<br />
2. Hipovol<strong>em</strong>ia<br />
3. Disfunção diastólica<br />
Reposição volêmica eficaz deve ser a meta primordial utilizando-se parâmetros<br />
descritos acima.<br />
Manter um nível de h<strong>em</strong>oglobina adequado que garanta oferta de oxigênio<br />
adequada com otimização da perfusão tecidual. H<strong>em</strong>oglobina entre 7,0 e 9,0 é<br />
b<strong>em</strong> tolerada no cardiopata estável e níveis mais elevados, <strong>em</strong> torno de 10, 0,<br />
dev<strong>em</strong> ser considerados na insuficiência cardíaca descompensada e nas<br />
síndromes coronarianas agudas.<br />
Os fármacos vasoativos dev<strong>em</strong> ser utilizados com suporte h<strong>em</strong>odinâmico:<br />
1. DOBUTAMINA (Dobutrex) : inotrópico de escolha<br />
Deve ser mantida nas primeiras 18 a 24 horas <strong>em</strong> doses que variam de<br />
3 a 20 mcg/Kg/min.<br />
*** Paciente admitido na UTI/UCO <strong>em</strong> uso de dobutamina: se o paciente<br />
estiver estável s<strong>em</strong> efeitos adversos com adequados parâmetros de<br />
perfusão, manter a dose da admissão e, após 18 horas, iniciar retirada<br />
gradual, que deve ser 2,5mcg/Kg/min a cada 6 horas;<br />
*** Paciente admitido na UTI/UCO s<strong>em</strong> uso de dobutamina: decisão de<br />
se iniciar a infusão dependerá da presença de sinais e sintomas de<br />
baixo débito OU FEVE < 50%<br />
2. NITROGLICERINA (Tridil): vasodilatador de escolha no pós-operatório<br />
de cirurgia de revascularização. Deve ser iniciado apenas se PAM ><br />
80mmHg.<br />
3. NITROPRUSSIATO (Nipride) : vasodilatador de escolha no manejo dos<br />
pacientes no pós-operatório de cirurgia valvar e de aorta. Iniciado se<br />
PAM > 90mmHg.<br />
4. NORADRENALINA: vasopressor de escolha no manejo da hipotensão e<br />
do choque no pós-operatório. Deve ser iniciada se PAM < 70mmhg.
5. MILRINONE (Primacor) : possui propriedades inotrópicas e<br />
vasodilatadoras com aumento do débito cardíaco, redução da<br />
resistência vascular sistêmica, redução das pressões de enchimento e<br />
melhora da função diastólica.<br />
A MANUTENÇÀO DO ÍNDICE CARDÍACO ADEQUADO É O PRINCIPAL<br />
OBJETIVO NO MANEJO CARDIOVASCULAR PÓS-OPERATÓRIO DE<br />
PACIENTES SUBMETIDOS À CIRURGIA CARDÍACA<br />
COMPLICAÇÕES PULMONARES<br />
As complicações pulmonares pós-operatórias são causas significantes de<br />
morbimortalidade, as quais inclu<strong>em</strong> atelectasia, pneumonia, bronco constrição,<br />
hiponímia, síndrome do desconforto respiratório agudo, insufici6encia<br />
respiratória e ventilação prolongada.<br />
A etiologia das complicações pulmonares pós-operatórias é complexa e pouco<br />
compreendida. Os fatores de risco para essas complicações inclu<strong>em</strong><br />
tabagismo, doença pulmonar obstrutiva crônica, cirurgia de <strong>em</strong>ergência, t<strong>em</strong>po<br />
de anestesia superior a 180 minutos e idade avançada.<br />
A atelectasia é a principal causa de hipox<strong>em</strong>ia pós-operatória, ocorrendo <strong>em</strong><br />
90% dos pacientes que são submetidos à anestesia, e des<strong>em</strong>penha papel<br />
fundamental nas alterações das trocas gasosas e na redução da complacência<br />
estática associada à injúria pulmonar.<br />
ASSISTÊNCIA VENTILATÓRIA<br />
Rotineiramente <strong>em</strong>prega-se a modalidade volume controlado nos pacientes no<br />
pós-operatório, optando-se pela modalidade pressão controlada quando a<br />
primeira estiver associada a picos elevados de pressão ou <strong>em</strong> situações de<br />
baixa complacência pulmonar.<br />
Volume: 8 a 10 ml/kg ou pico de pressão inspiratória suficiente para manter<br />
esse volume na pressão controlada;<br />
PEEP: 5 a 10 cmH2O<br />
O recrutamento alveolar com PEEP é uma prática sugerida no pós-operatório<br />
como medida que reduz hipox<strong>em</strong>ia.
Extubação: estabilidade h<strong>em</strong>odinâmica, normotermia, ausência de<br />
sangramento, nível de consciência adequado e oxigenação e ventilação<br />
adequadas.<br />
ISQUEMIA MIOCÁRDICA<br />
Complicação que ocorre <strong>em</strong> 3 a 30% dos casos;<br />
Causas:<br />
Fatores de risco:<br />
1. Revascularização incompleta<br />
2. Probl<strong>em</strong>as técnicos<br />
3. Espasmo coronariano<br />
4. Trombose distal ou do enxerto<br />
5. Hipotensão arterial<br />
6. An<strong>em</strong>ia<br />
7. Hipertensão arterial<br />
8. Má proteção miocárdica<br />
1. <strong>Pré</strong>-operatório:<br />
a) Angina<br />
b) Infarto recente<br />
c) Lesão de tronco<br />
d) Tri arterial<br />
e) Diabetes melito<br />
f) Disfunção ventricular<br />
g) Reoperação<br />
Intra-operatórios:<br />
a) T<strong>em</strong>po de CEC<br />
b) Endarterectomia coronariana<br />
c) Revascularização incompleta<br />
d) Instabilidade h<strong>em</strong>odinâmica<br />
e) Taquiarritmia<br />
f) Fibrilação ventricular na reperfusão<br />
<strong>Pós</strong>-operatórios:<br />
a) Hipertensão<br />
b) Hipotensão<br />
c) Taquiarritmia
Diagnóstico<br />
Não se deve esperar a presença de precordialgia para o diagnóstico de<br />
isqu<strong>em</strong>ia.<br />
Aparecimento de ondas Q, presença de supra ou infradesnível do segmento<br />
ST, inversão da onda T, bloqueio de ramo esquerdo novo, deve-se suspeitar de<br />
isqu<strong>em</strong>ia periopertória.<br />
Considera-se infarto Peri operatório a elevação de CK-MB massa acima de dez<br />
vezes o valor normal ou troponina positiva.<br />
Ecocardiograma quando há dúvidas <strong>em</strong> relação aos marcadores de necrose<br />
miocárdica e/ou às alterações eletrocardiográficas.<br />
Tratamento<br />
1. Avisar ao cirurgião e obter informações da anatomia coronariana e das<br />
possíveis intervenções;<br />
2. Garantir oxigenação adequada<br />
3. H<strong>em</strong>oglobina > 9,0<br />
4. Adequar vol<strong>em</strong>ia<br />
5. Iniciar nitroglicerina de acordo com a h<strong>em</strong>odinâmica do paciente<br />
6. Manter PAM 70-90mmHg<br />
7. Betabloqueador se o paciente estiver s<strong>em</strong> droga vasoativa, hipertensão,<br />
taquiarritmia, ausência de hipovol<strong>em</strong>ia e sinais de baixo débito. Nesse<br />
casos o betabloqueador é o metoprolol – Seloken ( 5 a 10mg<br />
),lentamente, até freqüência cardíaca de 70 e PAM > 70mmHg.Após 30<br />
minutos da infusão venosa,se o paciente h<strong>em</strong>odinâmicamente<br />
estável,pode-se iniciar via oral ( Atenolol ou Metoprolol - Selozok 25mg<br />
12/12h )<br />
8. Após 15 minutos da infusão de nitroglicerina, deve-se repetir o<br />
eletrocardiograma, caso tenha ocorrido normalização, deve-se manter<br />
por 24h; se a alteração persistir deve-se:<br />
Se instável: discutir com cirurgião indicação de coronariografia de<br />
<strong>em</strong>ergência para diagnóstico e possível intervenção;<br />
Se estável: discutir com cirurgião indicação de coronariografia;<br />
9. Na presença de estabilidade h<strong>em</strong>odinâmica, 24 às 48h após, considerar<br />
enalapril 5mg 12/12h e utilização de estatinas (Sinvastatina 40mg/dia).<br />
VASOPLEGIA<br />
A síndrome vasoplégica caracteriza-se por resposta inflamatória sistêmica que<br />
ocorre no pós-operatório de cirurgia cardíaca, geralmente nas primeiras 12h.
Sua ocorrência acentua a incidência de complicação sistêmica no pósoperatório,<br />
com maiores índices de insuficiência renal e síndrome do<br />
desconforto respiratório agudo.<br />
Trinta por cento dos casos são decorrentes de infecção.<br />
Diagnóstico<br />
Hipotensão<br />
Oligúria<br />
Queda da resistência vascular sistêmica<br />
Débito cardíaco normal ou elevado<br />
Febre<br />
Leucocitose<br />
Taquipnéia<br />
Taquiarritmia<br />
Vasodilatação periférica<br />
Tratamento<br />
Tratamento imediato, sendo recomendada a utilização do cateter de artéria<br />
pulmonar.<br />
Reposição volêmica com cristalóides; se mais de 4 litros ou presença de<br />
ed<strong>em</strong>a pulmonar/periférico utilizar colóides, exceto <strong>em</strong> insuficiência renal ou<br />
sangramento.<br />
Caso após reposição volêmica adequada e PAM não alcançar 65mmhg, utilizar<br />
noradrenalina para manter perfusão adequada.<br />
Coleta de culturas se persistir<strong>em</strong> por mais de 12h após CEC ou evidência de<br />
infecção.<br />
Antibioticoterapia caso persista por mais de 12h e/ou deterioração clínica.<br />
TAMPONAMENTO CARDÍACO<br />
Acúmulo de fluidos no espaço pericárdico.<br />
Caracteriza-se por elevação das pressões intracardíacas, limitação progressiva<br />
do enchimento diastólico ventricular e redução do volume sistólico e do débito<br />
cardíaco<br />
Não se deve aguardar o surgimento de todos os sinais e sintomas para o<br />
diagnóstico de tamponamento cardíaco.<br />
Hipotensão
Baixo débito cardíaco<br />
Instabilidade h<strong>em</strong>odinâmica<br />
Cessação da drenag<strong>em</strong> pericárdio<br />
Alargamento mediastino<br />
Redução da voltag<strong>em</strong> eletrocardiográfica<br />
Acionar imediatamente a equipe cirúrgica e ecocardiografista.<br />
Pericardiotomia cirúrgica ou punção de Marfan.<br />
SANGRAMENTO PÓS-OPERATÓRIO<br />
Uma das complicações mais freqüentes da cirurgia cardíaca com incidência de<br />
reoperação de 1 a 5%.<br />
Deve-se dar atenção especial ao débito dos drenos e avaliação da coagulação<br />
O sangramento decorre de fatores inerentes ao paciente, da técnica cirúrgica,<br />
do trauma tecidual e da circulação extracorpórea.<br />
Fatores de risco:<br />
Reoperação<br />
Má – técnica cirúrgica<br />
Insuficiência renal<br />
Plaquetopenia<br />
Antiagregantes<br />
AINES<br />
Infecção<br />
Conduta<br />
Obter informações sobre h<strong>em</strong>ostasia na sala, produtos utilizados, t<strong>em</strong>po de<br />
coagulação, dose de heparina, dose de protamina e antifibrinolítico.<br />
Drenos dev<strong>em</strong> ser conectados a um sist<strong>em</strong>a de sucção e o débito avaliado a<br />
cada hora.<br />
Paciente de risco deve ser coletado coagulograma e contag<strong>em</strong> de plaquetas,<br />
uma vez que não são coletados de rotina no pós-operatório de<br />
revascularização, exceto <strong>em</strong> cirurgias da aorta e valvares.<br />
Controle da pressão arterial<br />
Equilíbrio metabólico<br />
Busca da normotermia
Em relação ao débito dos drenos, tolera-se até 150ml/h.<br />
Tratamento inicial:<br />
1. Protamina 25 a 50mg <strong>em</strong> 100ml de SF 0,9% <strong>em</strong> 20 minutos<br />
2. Se > 150ml/h:<br />
a) Coletar coagulograma e plaquetas;<br />
b) Avisar equipe cirúrgica;<br />
c) TTTPa ou TAP prolongados: plasma fresco 4 UI ;<br />
d) Se plaquetas < 100.000: transfundir plaquetas 1UI/10 Kg de peso;<br />
e) Sangramento persiste mesmo com contag<strong>em</strong> de plaquetas ><br />
100.000: transfundir plaquetas 1UI/10 Kg de peso;<br />
f) Se o sangramento persiste após infusão de plasma e plaquetas,<br />
será necessário dosag<strong>em</strong> fibrinogênio e t<strong>em</strong>po de sangramento e<br />
produtos da degradação da fibrina; Se fibrinogênio < 100mg/dl,se<br />
TTPa persistir anormal apesar do plasma ou <strong>em</strong> pacientes com<br />
estenose aórtica,criopreciptado será 10UI/10kg;<br />
g) Suspeita de fibrinólise: fibrinogênio baixo e aumento dos níveis<br />
dos produtos da degradação da fibrina, utilzar ácido alfaaminocaproico<br />
25mg/Kg EV, seguido por uma dose de 1g/h por 4<br />
a 5 horas;<br />
INDICAÇÃO DE ABORDAGEM CIRÚRGICA<br />
Sangramento de 200ml/h de 4 a 6 horas<br />
Sangramento maior que 1500ml <strong>em</strong> 12 horas<br />
Súbito aumento no débito dos drenos: 300 a 500ml<br />
ARRITMIAS<br />
Até 40% dos pacientes apresentam arritmias no pós-operatório<br />
Causas<br />
Hipocalc<strong>em</strong>ia<br />
Hipocal<strong>em</strong>ia<br />
Hipercalc<strong>em</strong>ia<br />
Hipercal<strong>em</strong>ia<br />
Acidose<br />
Ur<strong>em</strong>ia<br />
Dor<br />
Hipotermia<br />
Isqu<strong>em</strong>ia coronariana<br />
Ed<strong>em</strong>a do sist<strong>em</strong>a de condução
Pericardite<br />
Aminas vasoativas<br />
Correção adequada dos distúrbios hidroeletrolíticos e ácido-básicos.<br />
Se instáveis tratar com cardioversão ou desfibrilação.<br />
FIBRILAÇÃO ATRIAL<br />
Arritmia mais frequente, ocorrendo <strong>em</strong> até 30% das cirurgias de<br />
revascularização do miocárdio e <strong>em</strong> 60% das cirurgias valvares, com pico no<br />
segundo pós-operatório.<br />
Cardioversão elétrica: primeira opção <strong>em</strong> pacientes instáveis. Inicia-se com 200<br />
J,se necessário 300 J. Se o ritmo for revertido para sinusal,inicia-se dose de<br />
manutenção com amiodarona por 24 horas.<br />
Dose de manutenção amiodarona - Ancoron : 5 ampolas ( 150mg/3ml ) +<br />
235ml SG 5% 1mg/min <strong>em</strong> 6h e 0,5mg/min <strong>em</strong> 18h<br />
Amiodarona: primeira opção <strong>em</strong> pacientes estáveis. Aplica-se 150mg <strong>em</strong> 100ml<br />
SF 0,9% <strong>em</strong> 30 minutos, se persistir <strong>em</strong> FA, repete-se a dose <strong>em</strong> bolus. Após<br />
esta, se o ritmo for sinusal, deve-se iniciar dose de manutenção por 24 horas<br />
(1,0 mg/min nas primeiras 6h, seguido de 0,5 mg/min nas próximas 18h), então<br />
passar para via oral, 200mg 8/8 por 14 dias, 200mg 12/12h por 14 dias e,<br />
então, 200mg/dia.<br />
Se o paciente persistir <strong>em</strong> FA após segunda dose de ataque, inicia-se jejum e<br />
infusão contínua do mesmo esqu<strong>em</strong>a de amiodarona; Se o quadro for revertido<br />
libera-se a dieta e mantém-se a droga; Caso <strong>em</strong> até 12 horas não houver<br />
reversão, pode-se realizar cardioversão elétrica ou liberar a dieta e controle da<br />
frequência cardíaca e anticoagulação com enoxaparina 1mg/Kg 12/12 SC<br />
Betabloqueador: opção terapêutica para redução da frequência cardíaca<br />
(Metoprolol – Seloken 5mg a cada 5 minutos EV até 15mg).<br />
Diltiaz<strong>em</strong>: opção terapêutica para redução da frequência cardíaca (Dose de<br />
ataque 0,25mg/Kg seguida de 0,15mg/Kg/hora).
Protocolo elaborado por Ronaldo Barroso Chaves e Wilton Francisco Gomes,<br />
médicos residentes do 4 ano <strong>em</strong> Cardiologia, pelo Hospital de Clínicas, da<br />
<strong>UFPR</strong>, sob orientação de:<br />
Prof. Dr. Murilo Guérios Bittencourt, chefe da Unidade Coronariana do<br />
Hospital de Clinicas da <strong>UFPR</strong>.<br />
Dra. Luciana De Cerjat Bernardes Pereira Da Cunha, médica<br />
supervisora da Unidade Coronariana do Hospital de Clínicas da <strong>UFPR</strong>.<br />
Dr. Juliano Mendes de Souza, cirurgião cardiovascular e aluno do<br />
doutorado pelo Hospital de Clínicas da <strong>UFPR</strong>.<br />
Prof. Dr. Miguel Ibraim Abboud Hanna Sobrinho, Professor Assistente do<br />
Departamento de Clínica Médica, Mestre <strong>em</strong> Cardiologia - <strong>UFPR</strong>.