1 Planta do segundo nível.
PROJECTO DE RESTAURO DA FORTALEZA DE SÃO SEBASTIÃO: Estratégia de restauração, obras realiza<strong>da</strong>s e resultados obtidos Sr. JOSÉ FORJAZ José Forjaz Arquitectos - Consultores em Arquitectura e supervisores <strong>da</strong>s obras O concurso internacional para o <strong>projecto</strong> de restauração e reabilitação <strong>da</strong> Fortaleza de São Sebastião, na Ilha de Moçambique, representou um momento extremamente importante e significativo para a carreira profissional dos consultores em arquitectura, tendo-lhes proporcionado a oportuni<strong>da</strong>de de competir com um grande número de especialistas internacionais altamente qualificados e devido ao valor emocional e simbólico que exerce a fortaleza em todos os arquitectos moçambicanos, os quais têm sido há tantos anos fascinados pela ilha e mobilizados pelos seus problemas. O trabalho de levantamento representou uma oportuni<strong>da</strong>de única para um mais amplo estudo <strong>da</strong> história e <strong>da</strong>s técnicas secretas <strong>da</strong> fortaleza e, ao mesmo tempo, para a apreciação <strong>da</strong>s obras e do génio artístico de trabalhadores africanos e europeus que juntos tornaram possível esta extraordinária realização humana. A maior parte <strong>da</strong>s intervenções propostas para a primeira etapa <strong>da</strong>s obras de restauro relacionavam-se com a manutenção, a fim de suprimir o processo de degra<strong>da</strong>ção progressiva <strong>da</strong> estrutura, mas foi senti<strong>da</strong> a necessi<strong>da</strong>de de acrescentar novas dimensões ao carácter utilitário <strong>da</strong> fortaleza, <strong>da</strong>do que a sua finali<strong>da</strong>de defensiva já não era justifica<strong>da</strong>, e impedir que este rico património histórico se tornasse numa mera monumental peça de museu. Neste sentido, era imprescindível que a função mais imediata e mais útil <strong>da</strong> fortaleza como fonte de abastecimento de água à comuni<strong>da</strong>de dos ilhéus não devia ser afecta<strong>da</strong> pelas obras e por qualquer uso futuro. Para o efeito, foi proposta a construção de uma nova cisterna de água limpa, fora <strong>da</strong>s muralhas de defesa, alimenta<strong>da</strong> a partir de um sistema de colecta de águas pluviais completamente restaurado e melhorado, instalado na fortaleza. Desta maneira, o melhor uso possível <strong>da</strong>s características históricas do monumento pode ser feito, aju<strong>da</strong>ndo, ao mesmo tempo, a melhorar as condições de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de. As limitações financeiras do <strong>projecto</strong> não permitiram que fossem recuperados completamente todos os elementos estruturais <strong>da</strong> fortaleza, embora o estudo contenha todos os elementos necessários para uma intervenção completa orienta<strong>da</strong> para a sua a<strong>da</strong>ptação às distintas funções a serem identifica<strong>da</strong>s como apropria<strong>da</strong>s para uso futuro. Em apenas um caso foram propostas alterações aos aspectos originais espaciais e estruturais dos prédios. Um interior com dois pisos foi planeado, para tirar proveito de uma estrutura de piso suspenso que desabou, no qual a memória <strong>da</strong>s obras de restauração será preserva<strong>da</strong> e um espaço de múltiplos usos muito especial será criado. Estragégia de intervenção Os estudos e as análises pormenoriza<strong>da</strong>s realizados para a definição e a quantificação <strong>da</strong>s intervenções exigi<strong>da</strong>s para o restauro <strong>da</strong> fortaleza forneceram a informação necessária à definição <strong>da</strong> estratégia de intervenção: •A fortaleza foi submeti<strong>da</strong> a um número incontável de transformações durante a sua história, em particular entre o início e meados do século XX, como confirma a documentação encontra<strong>da</strong> nos Arquivos Nacionais e em outras fontes. •Estas transformações relacionavam-se, na maioria dos casos, com a construção de paredes de subdivisão e com a a<strong>da</strong>ptação de prédios para usos diferentes <strong>da</strong>queles originalmente designados. •A maior parte <strong>da</strong> laje dos tectos, originalmente construí<strong>da</strong> com vigas de madeira sobre as quais um concreto feito de pedras de coral era aplicado em telhas de cerâmica ou lajes de pedras de coral, foi substituí<strong>da</strong> por lajes de concreto reforçado, seguindo a geometria e os declives originais, presumivelmente utilizando a estrutura de madeira original como cofragem. Em muitos casos, esses elementos estruturais foram deixados no local, sem nenhuma função estrutural. •A maior parte dessas lajes de concreto reforçado, que à primeira vista pareciam estar seriamente <strong>da</strong>nifica<strong>da</strong>s pela água e pelas intempéries, encontravam-se, na ver<strong>da</strong>de, em condições relativamente boas e puderam ser repara<strong>da</strong>s sem grande demolição. •As vigas de madeira deixa<strong>da</strong>s no local não podiam ser utiliza<strong>da</strong>s, em termos estruturais, e inicialmente foram interpreta<strong>da</strong>s como uma tentativa feita pelos engenheiros militares de reterem o efeito de métodos de construção originais. Os arquitectos reviram, desde então, esta opinião e as vigas foram retira<strong>da</strong>s. O madeiramentoestruturalexcedenterecuperadodesta operação foi quase suficiente para a reconstrução de partes dos prédios em que era necessário seguir a tecnologia de construção original. 1