trigonometria e desigualdades em problemas de olimpíadas - OBM
trigonometria e desigualdades em problemas de olimpíadas - OBM
trigonometria e desigualdades em problemas de olimpíadas - OBM
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
♦ Nível Intermediário.<br />
TRIGONOMETRIA E DESIGUALDADES<br />
EM PROBLEMAS DE OLIMPÍADAS<br />
Rafael Tajra Fonteles<br />
O que <strong>de</strong>sejamos mostrar com esse texto é o potencial significativo da <strong>trigonometria</strong> para<br />
resolver probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> <strong>olimpíadas</strong> <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática, principalmente quando combinada com<br />
algumas <strong><strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s</strong>.<br />
Esse texto, após a resolução <strong>de</strong> cada ex<strong>em</strong>plo, apresenta um esqu<strong>em</strong>a da mesma, um Guia <strong>de</strong><br />
Resolução, o qual busca facilitar o entendimento geral do que foi feito. Caso o leitor queira tentar<br />
resolver tais ex<strong>em</strong>plos antes <strong>de</strong> conhecer a resolução <strong>de</strong>scrita aqui, po<strong>de</strong>rá recorrer a este guia,<br />
como instrumento auxiliar.<br />
Vamos aos ex<strong>em</strong>plos.<br />
EXEMPLO 1: (Seleção para IMO 99 – Brasil ) Para reais positivos satisfazendo<br />
a + b + c = abc, mostre que<br />
ocorre.<br />
1<br />
2<br />
1+<br />
a<br />
+<br />
1<br />
2<br />
1+<br />
b<br />
+<br />
1<br />
2<br />
1+<br />
c<br />
3<br />
≤ , e <strong>de</strong>termine quando a igualda<strong>de</strong><br />
2<br />
RESOLUÇÃO:<br />
A idéia básica para resolver esse probl<strong>em</strong>a é fazer uso da transformação <strong>de</strong> um número real <strong>em</strong><br />
tangente <strong>de</strong> outro. Isso v<strong>em</strong> do simples fato <strong>de</strong> que qualquer número real a po<strong>de</strong> ser representado<br />
pela tangente <strong>de</strong> outro número real α pertencente ao intervalo (–π/2, π/2), sendo tal α único –<br />
isso é explicado pelo fato da função tangente, nesse intervalo, ser bijetora e ter como imag<strong>em</strong><br />
todo o conjunto dos números reais. E sendo ainda a um real positivo, pod<strong>em</strong>os fazer<br />
a = tg α, α ∈ (0, π/2).<br />
Agora, pod<strong>em</strong>os perguntar: por que essa transformação nos seria útil? Isso é respondido se<br />
percebermos que a partir da conhecida i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> trigonométrica 1+ tg²α = sec²α, obt<strong>em</strong>os o<br />
2<br />
π<br />
seguinte resultado: 1/<br />
1 + tg α = cosα,<br />
∀α<br />
∈<br />
, α + kπ<br />
, com o qual pod<strong>em</strong>os simplificar<br />
a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> a ser provada. É claro que se o estudante não t<strong>em</strong> o <strong>de</strong>vido costume com essas<br />
fórmulas, ele, provavelmente, não as reconheceria e n<strong>em</strong> pensaria <strong>em</strong> utilizar a transformação<br />
para tangente. Mas é aí que entra a relevância da <strong>trigonometria</strong> . Agora pod<strong>em</strong>os prosseguir com<br />
a resolução.<br />
Façamos a = tg α, b = tg β e c = tg γ, on<strong>de</strong> α, β, γ ∈ (0, π/2). T<strong>em</strong>os então que tg α + tg β + tg γ<br />
2<br />
π<br />
= tg α.tg β.tg γ (1) . Como 1/<br />
1 + tg α = cosα,<br />
∀α<br />
∈<br />
, α + kπ<br />
, então o que <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os<br />
mostrar agora é que cos α + cos β + cos γ ≤ 3/2 para quaisquer α, β, γ ∈ (0, π/2) que satisfaçam<br />
a condição (1). Mas <strong>de</strong> (1) v<strong>em</strong> que tg (α + β + γ ) = 0 (verifique! Dica: use a fórmula da<br />
tangente da soma <strong>de</strong> três termos). Logo, como α , β, γ ∈ (0, π/2), t<strong>em</strong>os que α + β + γ = π.<br />
Para finalizarmos a d<strong>em</strong>onstração, usar<strong>em</strong>os a seguinte forma especial da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jensen<br />
(ver [4]): se uma função f é estritamente côncava (ver observação abaixo) num dado intervalo<br />
(a,b), então<br />
≠ 2<br />
≠ 2
⎛ a1<br />
+ + a<br />
f ⎜<br />
⎝ n<br />
f ( a ) + ... + f ( an<br />
)<br />
⎟ ≥<br />
,<br />
⎠ n<br />
... n ⎞ 1<br />
para quaisquer a i ∈ (a, b), ocorrendo a igualda<strong>de</strong> se e somente se os s ai ' for<strong>em</strong> todos iguais. E<br />
caso a função seja estritamente convexa (ver observação abaixo) <strong>em</strong> um <strong>de</strong>terminado intervalo a<br />
<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> muda <strong>de</strong> sinal.<br />
Continuando, como a função cosseno é estritamente côncava no intervalo (0,π/2), t<strong>em</strong>os que:<br />
cosα<br />
+ cos β + cosγ<br />
⎛ α + β + γ ⎞ ⎛ π ⎞ 1<br />
3<br />
≤ cos⎜<br />
⎟ = cos⎜<br />
⎟ = ⇔ cosα<br />
+ cos β + cosγ<br />
≤ ,<br />
3<br />
⎝ 3 ⎠ ⎝ 3 ⎠ 2<br />
2<br />
para quaisquer α, β, γ ∈ (0,π/2), ocorrendo a igualda<strong>de</strong> se e somente se α = β = γ = π/3 ⇔ a = b<br />
= c = tg π/3 = 3 , concluindo a d<strong>em</strong>onstração.<br />
GUIA DE RESOLUÇÃO:<br />
• A transformação <strong>de</strong> um número real <strong>em</strong> tangente <strong>de</strong> outro e o uso da fórmula 1+<br />
tg²α =sec²α .<br />
• Uso da proprieda<strong>de</strong> dada no enunciado, para encontrar outra <strong>de</strong> melhor proveito.<br />
• Uso <strong>de</strong> uma forma especial da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jensen.<br />
Obs.: Formalmente, uma função f : I → , on<strong>de</strong> I ⊂ é um intervalo, é estritamente côncava se<br />
⎛ x + y ⎞ f ( x)<br />
+ f ( y)<br />
f ⎜ ⎟ ><br />
, para quaisquer x, y distintos <strong>em</strong> I. E é estritamente convexa se<br />
⎝ 2 ⎠ 2<br />
⎛ x + y ⎞ f ( x)<br />
+ f ( y)<br />
f ⎜ ⎟ <<br />
, para quaisquer x, y distintos <strong>em</strong> I. Uma maneira geométrica <strong>de</strong><br />
⎝ 2 ⎠ 2<br />
i<strong>de</strong>ntificar funções estritamente côncavas ou convexas é observar a forma do gráfico das mesmas:<br />
se o gráfico for uma curva com concavida<strong>de</strong> voltada para baixo, a função é estritamente côncava,<br />
e se a concavida<strong>de</strong> for voltada para cima, é estritamente convexa. Como ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> funções<br />
estritamente côncavas, t<strong>em</strong>os a função f(x) = cos x no domínio (0,π/2) e as funções logarítmicas<br />
cujas bases são maiores do que 1. E <strong>de</strong> funções estritamente convexas t<strong>em</strong>os a função f(x) = tg x<br />
no domínio (0,π/2) e a função f(x)=1/sen x, com x <strong>em</strong> (0,π). (Como exercício, classifique outras<br />
funções conhecidas <strong>em</strong> estritamente convexas ou côncavas).<br />
É importante o leitor ver as referências [2] e [4], on<strong>de</strong> encontram-se <strong>de</strong>finições e resultados mais<br />
precisos e genéricos, além das d<strong>em</strong>onstrações.<br />
O próximo ex<strong>em</strong>plo, da IMO <strong>de</strong> 1996, é tido por alguns mat<strong>em</strong>áticos interessados <strong>em</strong> <strong>olimpíadas</strong><br />
(ver [1]), como o probl<strong>em</strong>a mais difícil já proposto <strong>em</strong> IMO’s. É um probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> geometria<br />
associado a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> (algo bastante explorado <strong>em</strong> <strong>olimpíadas</strong>).<br />
EXEMPLO 2: (IMO 96) Seja ABCDEF um hexágono convexo tal que AB é paralelo a DE, BC é<br />
paralelo a EF e CD é paralelo a FA. Sejam RA, RC, RE os raios das circunferências circunscritas<br />
aos triângulos FAB, BCD, DEF respectivamente, e seja p o perímetro do hexágono. Prove que<br />
p<br />
RA + RC<br />
+ RE<br />
≥ .<br />
2<br />
RESOLUÇÃO:
Algo nesse probl<strong>em</strong>a já nos insinua a usar a <strong>trigonometria</strong>, você percebe? O fato <strong>de</strong>le relacionar<br />
raio <strong>de</strong> circunferência circunscrita com lado (que t<strong>em</strong> a ver com o perímetro) faz-nos l<strong>em</strong>brar da<br />
conhecida lei dos senos, que afirma: dado um triângulo ABC, t<strong>em</strong>os que<br />
BC<br />
=<br />
AC<br />
=<br />
AB<br />
= 2R<br />
, on<strong>de</strong> R é o raio da circunferência circunscrita ao triângulo dado<br />
senA<br />
senB<br />
senC<br />
(como exercício, prove-a). Daí, portanto, pod<strong>em</strong>os agora não mais trabalhar com os raios dos<br />
triângulos citados, mas sim com algumas diagonais do hexágono. Isso porque, pela lei dos senos,<br />
obt<strong>em</strong>os que BF = 2RA.sen A B , BD = 2RC.sen C D , FD = 2RE.sen E F (ou seja,<br />
encontramos uma relação entre os raios citados no probl<strong>em</strong>a e algumas diagonais do hexágono, o<br />
que facilitará o nosso trabalho).<br />
A próxima parte da resolução do probl<strong>em</strong>a é a que exige uma maior dose <strong>de</strong> criativida<strong>de</strong> por parte<br />
do estudante. Vejamos. Prolongu<strong>em</strong>os os lados paralelos BC e EF do hexágono (vi<strong>de</strong> figura 1).<br />
Por A e D trac<strong>em</strong>os perpendiculares aos lados prolongados, obtendo o retângulo <strong>de</strong> vértices M, N,<br />
P e Q, ilustrados na figura 1. Como MN e PQ são as menores distâncias entre pontos das retas<br />
paralelas BC e EF (pois esses segmentos são perpendiculares às mesmas), t<strong>em</strong>os que BF ≥ MN e<br />
BF ≥ PQ ⇒ 2BF ≥ MN + PQ ⇒ 2BF ≥ AM + NA + DP + DQ ⇒<br />
F ∧<br />
B ∧<br />
2BF ≥ AB.senB + AF.senF + CD.senC + DE.senE (1),<br />
on<strong>de</strong> sen X <strong>de</strong>nota o seno do ângulo interno <strong>de</strong> vértice X do hexágono, o qual é igual ao seno do<br />
respectivo ângulo externo, pois os mesmos são supl<strong>em</strong>entares.<br />
B C<br />
M<br />
P<br />
A<br />
N F<br />
E Q<br />
figura 1<br />
Pela lei dos senos, nós já sab<strong>em</strong>os que BF/senA = 2RA . Então dividindo ambos os lados da<br />
<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> (1) por senA, obt<strong>em</strong>os:<br />
senB senF senC senE<br />
4 RA ≥ AB.<br />
+ AF.<br />
+ CD.<br />
+ DE.<br />
(I)<br />
senA senA senA senA<br />
E <strong>de</strong> forma análoga, seguindo os mesmos passos com as diagonais BD e DF do hexágono,<br />
obt<strong>em</strong>os:<br />
senB senD senA senE<br />
4 RC ≥ BC.<br />
+ CD.<br />
+ AF.<br />
+ EF.<br />
(ii)<br />
senC senC senC senC<br />
D<br />
D ∧
senA senC senD senF<br />
4 RE ≥ AB.<br />
+ BC.<br />
+ DE.<br />
+ EF.<br />
(iii)<br />
senE senE senE senE<br />
E agora, somando (I), (ii) e (iii), obt<strong>em</strong>os<br />
⎛ senA senB ⎞ ⎛ senC senB ⎞ ⎛ senC senD ⎞<br />
4(<br />
R A + RC<br />
+ RE<br />
) ≥ AB.<br />
⎜ + ⎟ + BC.<br />
⎜ + ⎟ + CD.<br />
⎜ + ⎟ +<br />
⎝ senE senA ⎠ ⎝ senE senC ⎠ ⎝ senA senC ⎠<br />
⎛ senE senD ⎞ ⎛ senE senF ⎞ ⎛ senA senF ⎞<br />
+ DE.<br />
⎜ + ⎟ + EF.<br />
⎜ + ⎟ + FA.<br />
⎜ + ⎟.<br />
⎝ senA senE ⎠ ⎝ senC senE ⎠ ⎝ senC senA ⎠<br />
Agora observe que como os lados opostos do hexágono convexo são paralelos, nós t<strong>em</strong>os que os<br />
ângulos opostos do mesmo são congruentes. Assim, nós obt<strong>em</strong>os: senA = senD; senB = senE;<br />
senC = senF.<br />
Por conseguinte, nós t<strong>em</strong>os que os fatores que estão multiplicando os lados do hexágono na<br />
última <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> acima são da forma (z + 1/z), sendo z positivo (pois o seno <strong>de</strong> um ângulo<br />
maior que 0º e menor que 180º é s<strong>em</strong>pre positivo). E é fácil verificar que z + 1/z ≥ 2, para todo z<br />
positivo. Assim nós obt<strong>em</strong>os:<br />
4(<br />
RA<br />
+ RC<br />
+ RE<br />
) ≥ 2(<br />
AB + BC + CD + DE + EF + FA)<br />
⇒ 4(<br />
RA<br />
+ RC<br />
+ RE<br />
) ≥ 2p<br />
⇒<br />
p<br />
⇒ RA<br />
+ RC<br />
+ RE<br />
≥ , concluindo a d<strong>em</strong>onstração.<br />
2<br />
GUIA DE RESOLUÇÃO:<br />
• Uso da Lei dos Senos.<br />
• Uso das construções: prolongamento <strong>de</strong> dois lados opostos e traçado <strong>de</strong> perpendiculares<br />
pelos dois vértices restantes.<br />
• Congruência dos ângulos opostos do hexágono convexo.<br />
• Uso da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>: z + 1/z ≥ 2, z > 0.<br />
EXEMPLO 3: (IMO 91) Seja ABC um triângulo e X um ponto interior do mesmo. Prove que pelo<br />
menos um dos ângulos ∠XAB, ∠XBC, ∠XCA é menor ou igual a 30º.<br />
RESOLUÇÃO:<br />
Geralmente, <strong>em</strong> questões que envolv<strong>em</strong> um ponto num interior <strong>de</strong> um triângulo, é útil traçarmos<br />
perpendiculares a partir <strong>de</strong>sse ponto aos lados do triângulo. Vamos utilizar isso.<br />
Sejam P, Q, R os pés das perpendiculares traçadas por X aos lados BC, CA e AB, respectivamente.<br />
Para facilitar, <strong>de</strong>notar<strong>em</strong>os por α , β , γ os ângulos do triângulo (∠BAC, ∠CBA, ∠ACB) e por α’<br />
, β’ , γ’ os ângulos ∠XAB, ∠XBC, ∠XCA.
A<br />
R Q<br />
X<br />
B<br />
P<br />
C<br />
figura 2<br />
Nós t<strong>em</strong>os que PX = BX.senβ’ = CX.sen(γ – γ’); QX = CX.senγ’ = AX.sen(α – α’); RX = AX.senα’<br />
= BX.sen(β – β’). Multiplicando essas três igualda<strong>de</strong>s, nós obt<strong>em</strong>os:<br />
sen(<br />
α −α ').<br />
sen(<br />
β − β ').<br />
sen(<br />
γ − γ ')<br />
= senα'.<br />
senβ<br />
'. senγ<br />
'⇔<br />
sen(<br />
α −α<br />
')<br />
sen(<br />
β − β ')<br />
sen(<br />
γ − γ ')<br />
= 1 .<br />
senα'<br />
senβ<br />
senγ<br />
'<br />
sen(<br />
A − x)<br />
Agora observe que a função f ( x)<br />
= = senA.<br />
cot x − cos A é estritamente <strong>de</strong>crescente<br />
senx<br />
no intervalo (0, π), visto que a função cotangente é estritamente <strong>de</strong>crescente nesse intervalo.<br />
Assim, se α’ , β’ , γ’ for<strong>em</strong> todos maiores que 30º, ter<strong>em</strong>os que:<br />
sen( α −α'<br />
) sen(<br />
β − β'<br />
) sen(<br />
γ −γ<br />
')<br />
sen(<br />
α −30º<br />
) sen(<br />
β −30º<br />
) sen(<br />
γ −30º<br />
)<br />
1=<br />
<<br />
⇔<br />
senα'<br />
senβ<br />
senγ<br />
' sen30º<br />
sen30º<br />
sen30º<br />
1<br />
sen( α − 30º<br />
) sen(<br />
β − 30º<br />
) sen(<br />
γ − 30º<br />
) > sen30º<br />
sen30º<br />
sen30º<br />
= (1)<br />
8<br />
Mas, nós t<strong>em</strong>os que:<br />
1<br />
1<br />
sen(<br />
α −30º<br />
). sen(<br />
β −30º<br />
) = ( cos( α − β)<br />
−cos(<br />
α + β −60º<br />
) ) ≤ ( 1−cos(<br />
α + β −60º<br />
) ) =<br />
2<br />
2<br />
1<br />
= ( 1−<br />
sen(<br />
γ −30º<br />
) )<br />
2<br />
Observe que essa última igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong>corre do fato <strong>de</strong> (γ – 30º) ser compl<strong>em</strong>entar<br />
a (α + β – 60º). Continuando, nós t<strong>em</strong>os que:<br />
1<br />
sen(<br />
α − 30º<br />
) sen(<br />
β − 30º<br />
) sen(<br />
γ − 30º<br />
) ≤<br />
2<br />
2<br />
1 ⎛ 1<br />
1 ⎞<br />
⎜ ⎛<br />
⎞ 1<br />
= − ⎜ sen(<br />
γ − 30º<br />
) − ⎟ ⎟ ≤ .<br />
2 ⎜ 4<br />
2 ⎟<br />
⎝ ⎝<br />
⎠ ⎠<br />
8<br />
( 1−<br />
sen(<br />
γ − 30º<br />
) ) .<br />
sen(<br />
γ − 30º<br />
) =<br />
Mas esta última <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> obtida contradiz (1), logo α’ , β’ , γ’ não pod<strong>em</strong> ser todos maiores<br />
do que 30º, o que encerra a nossa d<strong>em</strong>onstração.
GUIA DE RESOLUÇÃO:<br />
• Construção das perpendiculares a partir <strong>de</strong> X aos lados do triângulo e obtenção da igualda<strong>de</strong>:<br />
sen ( α − α'<br />
). sen(<br />
β − β ').<br />
sen(<br />
γ − γ ')<br />
= senα'.<br />
senβ<br />
'. senγ<br />
' . Esses ângulos são i<strong>de</strong>ntificados no<br />
início da resolução.<br />
sen(<br />
A − x)<br />
• Observar que a função f ( x)<br />
= é estritamente <strong>de</strong>crescente.<br />
senx<br />
• Supor, por absurdo, que todos os três ângulos são maiores do que 30º, e chegar a uma<br />
contradição.<br />
EXEMPLO 4: Prove que, <strong>de</strong>ntre quaisquer cinco reais y1 , y2 , y3 , y4 , y5 , exist<strong>em</strong> dois, que<br />
satisfaz<strong>em</strong>:<br />
yi<br />
− y j<br />
0 ≤ ≤ 1.<br />
1+<br />
y y<br />
RESOLUÇÃO:<br />
Olhando para o termo do meio da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> acima, o que ele nos faz l<strong>em</strong>brar? S<strong>em</strong> muita<br />
dificulda<strong>de</strong>, associamo-lo logo à formula da tangente da diferença. Então mais uma vez façamos<br />
uso da transformação para tangente. Isto é, façamos yi = tg xi, i = 1, 2, 3, 4, 5 , xi ∈ (–π/2, π/2).<br />
Como tg 0 = 0 e tg π/4 = 1, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os ter agora:<br />
i<br />
tgxi<br />
− tgx j π<br />
π<br />
0 ≤ ≤ tg ⇔ tg0<br />
≤ tg(<br />
xi<br />
− x ) ≤ tg .<br />
1+<br />
tgx . tgx 4<br />
4<br />
tg j<br />
i j<br />
E ainda, como no intervalo (–π/2, π/2) a função tangente é s<strong>em</strong>pre crescente, obt<strong>em</strong>os<br />
π<br />
0 ≤ x i − x j ≤ . Agora o que t<strong>em</strong>os que provar é que exist<strong>em</strong> dois <strong>de</strong>ntre os cinco xi’s que<br />
4<br />
satisfaz<strong>em</strong> esta última <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>. Para isso, usamos o conhecido Princípio da Casa dos<br />
Pombos. Dividamos o intervalo (–π/2, π/2) <strong>de</strong> tamanho π <strong>em</strong> outros quatro intervalos <strong>de</strong> tamanho<br />
π/4. Assim, pelo princípio citado, dois <strong>de</strong>ntro os cinco xi’s estarão no mesmo intervalo, os quais<br />
vão satisfazer a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> pedida.<br />
GUIA DE RESOLUÇÃO:<br />
• Uso da transformação para tangente.<br />
• Aplicação da tangente da diferença.<br />
• Uso do Princípio da Casa dos Pombos.<br />
Finalizamos esse texto com alguns probl<strong>em</strong>as para o leitor exercitar o que foi mostrado. É lógico<br />
que existe mais <strong>de</strong> uma solução para cada probl<strong>em</strong>a, mas pe<strong>de</strong>-se que o leitor tente resolvê-los<br />
utilizando a <strong>trigonometria</strong> e as <strong><strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s</strong> mostradas ou outras conhecidas.<br />
EXERCÍCIOS:<br />
j
01. (IMO 61) Prove que, para qualquer triângulo <strong>de</strong> lados a, b, c e área A, t<strong>em</strong>os que:<br />
2 2 2<br />
a + b + c ≥ 4 3A<br />
.<br />
02. Prove que, <strong>de</strong>ntre 13 números reais, exist<strong>em</strong> dois, x e y, tais que:<br />
( − 3)<br />
. xy<br />
x − y ≤ 2 1+<br />
.<br />
03. (<strong>OBM</strong> – 85) Um quadrilátero convexo está inscrito <strong>em</strong> uma circunferência <strong>de</strong> raio unitário.<br />
D<strong>em</strong>onstre que a diferença entre seu perímetro e a soma <strong>de</strong> suas diagonais é maior do que zero e<br />
menor do que 2.<br />
04. (Ibero-Americana 88) As medidas dos ângulos <strong>de</strong> um triângulo estão <strong>em</strong> progressão aritmética<br />
e as medidas das alturas do mesmo também. Prove que o triângulo é equilátero.<br />
05. (Putnam 78) Encontre a área <strong>de</strong> um octógono convexo que está inscrito <strong>em</strong> uma circunferência<br />
e que t<strong>em</strong> que quatro lados consecutivos medindo 3 unida<strong>de</strong>s e os lados restantes medindo 2<br />
unida<strong>de</strong>s. Dê a resposta na forma r + s t , com r, s e t inteiros positivos.<br />
06. (Grã-Bretanha 84) O quadrilátero ABCD t<strong>em</strong> uma circunferência inscrita. Para o lado AB nós<br />
associamos a expressão f(AB) = p1.(sen D A B<br />
∧<br />
) + p2.<br />
(sen B C ), on<strong>de</strong> p1 e p2 são as medidas das perpendiculares traçadas <strong>de</strong> A e B, respectivamente,<br />
até o lado oposto CD. Definimos f(BC), f(CD) e f(DA) similarmente, usando para cada um as<br />
perpendiculares ao lado oposto. Mostre que f(AB) = f(BC) = f(CD) = f(DA).<br />
A ∧<br />
07. (IMO 91) Em um triângulo ABC, as bissetrizes AD, BE, CF encontram-se no ponto I. Mostre<br />
que:<br />
1 IA IB IC 8<br />
≤ . . ≤ .<br />
4 AD BE CF 27<br />
08. Mostre que se um quadrilátero <strong>de</strong> lados a, b, c, e d é inscritível e circunscritível então sua área<br />
é abcd .<br />
09. Uma função d(x, y) <strong>de</strong> dois reais x, y é chamada distância se d(x, y) = d(y, x); d(x, x) = 0 ; e<br />
d(x, y) + d(y, z) ≥ d(x, z), para quaisquer reais x, y, z. Prove que a seguinte função é uma<br />
distância:<br />
d(<br />
x,<br />
y)<br />
=<br />
1+<br />
x<br />
x − y<br />
2<br />
1+<br />
y<br />
2<br />
.
*10. Sejam x, y, z reais positivos tais que xy + yz + zx = 1. Prove que:<br />
2<br />
2<br />
2<br />
( 1−<br />
x ) 2y(<br />
1−<br />
y ) 2z(<br />
1−<br />
z )<br />
2x<br />
( 1+<br />
x<br />
2<br />
)<br />
2<br />
+ 2<br />
( 1+<br />
y )<br />
2<br />
+ 2<br />
( 1+<br />
z )<br />
2<br />
x<br />
≤<br />
1+<br />
x<br />
2<br />
y<br />
+<br />
1+<br />
y<br />
2<br />
z<br />
+<br />
1+<br />
z<br />
Rafael Tajra Fonteles cursa a 2ª. Série do Ensino Médio no Instituto Dom Barreto <strong>de</strong> Teresina –<br />
PI.<br />
O Prof. José Nazareno Car<strong>de</strong>al Fonteles da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Piauí e coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong><br />
mat<strong>em</strong>ática do Instituto Dom Barreto colaborou com o artigo, fazendo a revisão do mesmo.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
[1] – ENGEL, Arthur. Probl<strong>em</strong>-Solving Strategies. Springer-Verlag, New York, 1998.<br />
[2] – LARSON, Loren C. Probl<strong>em</strong>-Solving Through Probl<strong>em</strong>s. Springer-Verlag, New York, 1983.<br />
[3] – MEGA, Élio & WATANABE, Renate. Olimpíadas Brasileiras <strong>de</strong> Mat<strong>em</strong>ática – 1ª a 8ª. Comissão <strong>de</strong><br />
Olimpíadas da SBM. Núcleo, São Paulo, 1988.<br />
[4] – MUNIZ NETO, Antônio Caminha. Desigualda<strong>de</strong> El<strong>em</strong>entares. Eureka! Nº 5. <strong>OBM</strong>, 1999.<br />
[5] – Página da Web mantida por Jonh Scholes: www.kalva.d<strong>em</strong>on.co.uk/<br />
2