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FLAVIA MICHELE FERREIRA BORBA EFEITOS DA ... - CEFAC

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<strong>FLAVIA</strong> <strong>MICHELE</strong> <strong>FERREIRA</strong> <strong>BORBA</strong><br />

<strong>EFEITOS</strong> <strong>DA</strong> LARINGECTOMIA PARCIAL VERTICAL NA VOZ<br />

CURITIBA PR<br />

1999<br />

Monografia apresentada ao <strong>CEFAC</strong> –<br />

Centro de Especialização em<br />

Fonoaudiologia Clínica para a obtenção<br />

do certificado de conclusão do Curso de<br />

Especialização em Voz.


<strong>BORBA</strong>, Flavia Michele Ferreira.<br />

FICHA CATALOGRÁFICA<br />

Efeitos da Laringectomia Parcial Vertical na Voz.<br />

Curitiba – PR, 1999.<br />

Monografia (Especialização)<br />

<strong>CEFAC</strong> – Cursos de Especialização em Fonoaudiologia Clínica.<br />

Descritores: Distúrbios de Voz/Qualidade da Voz.<br />

NLMC – WV500


CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO<br />

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: VOZ<br />

COORDENADORA:<br />

ORIENTADORA DE CONTEÚDO:<br />

ORIENTADORA METODOLÓGICA:<br />

Professora Sílvia Maria Rebelo Pinho<br />

Professora Doutora Especialista em Voz do Departamento de<br />

Distúrbios da Comunicação Humana do <strong>CEFAC</strong> – Cursos de<br />

Especialização em Fonoaudiologia Clínica.<br />

Professora Zuleica A. Camargo<br />

Doutoranda em Lingüistica aplicada. Fonoaudióloga da Clínica de<br />

Otorrinolaringologia do Hospital do Servidor Público Municipal –<br />

Professora Assistente-Mestre do Departamento de Lingüistica da<br />

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e do Centro de<br />

Especialização em Fonoaudiologia Clínica (<strong>CEFAC</strong>).<br />

Professora Maria Helena Untura Caetano<br />

Professora de Metodologia Científica do Departamento de<br />

Distúrbios da Comunicação Humana do <strong>CEFAC</strong> – Cursos de<br />

Especialização em Fonoaudiologia.<br />

ii


“Nem tanto pelo encanto da palavra, mas pela beleza de se ter a fala.”<br />

iii<br />

(autor anônimo)


iv<br />

AGRADECIMENTOS<br />

À Professora Silvia M. R. Pinho, pela dedicação e carinho.<br />

Ao Professor Francisco Pletch, pela compreensão e amizade.<br />

À Professora Zuleica Camargo, pelas orientações e incentivo.


Ao meu marido, pela paciência, compreensão e incentivo.<br />

v


SUMÁRIO<br />

INTRODUÇÃO...........................................................................................................................................................1<br />

LITERATURA.............................................................................................................................................................2<br />

TIPOS DE LARINGECTOMIAS PARCIAIS PARA TRATAMENTO<br />

DO CÂNCER DE LARINGE.........................................................................................2<br />

Cordectomia..................................................................................................................................................................2<br />

Laringectomia Frontal Anterior .............................................................................................................................3<br />

Laringectomia Frontolateral....................................................................................................................................3<br />

Laringectomia Frontolateral Ampliada................................................................................................................3<br />

Hemilaringectomia......................................................................................................................................................3<br />

Hemilaringectomia Ampliada..................................................................................................................................4<br />

Laringectomia Vertical Subtotal.............................................................................................................................4<br />

Técnicas de reconstrução laríngea..........................................................................................................................4<br />

DISCUSSÃO.................................................................................................................................................................6<br />

IMPACTO <strong>DA</strong>S LARINGECTOMIAS PARCIAIS VERTICAIS NA VOZ.............................................9<br />

CONCLUSÃO............................................................................................................................................................12<br />

RESUMO.....................................................................................................................................................................13<br />

SUMMARY.................................................................................................................................................................14<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................15<br />

vi


INTRODUÇÃO<br />

As laringetomias parciais verticais são procedimentos cirúrgicos para o tratamento do câncer de laringe que<br />

potencialmente podem comprometer as funções da laringe, sendo evidentes, na maioria dos casos, o impacto na<br />

qualidade vocal do indivíduo.<br />

Não se deve considerar o procedimento cirúrgico a meta final no tratamento do<br />

paciente, e sim utilizar as possibilidades da reabilitação fonoaudiológica, não acreditando<br />

somente em uma recuperação espontânea das forças alteradas.<br />

Após a cirurgia da laringe, para ressecção do tumor, existem técnicas de reconstrução deste órgão que irão<br />

contribuir para uma melhor produção vocal, visando também a preservação das funções da deglutição e<br />

respiração.<br />

O objetivo deste trabalho é abordar os efeitos que a laringectomia parcial vertical pode causar na qualidade vocal<br />

e discutir os principais achados da função fonatória (vocal) nesta população.<br />

1


LITERATURA<br />

MO<strong>DA</strong>LI<strong>DA</strong>DES DE LARINGECTOMIAS PARCIAIS PARA O TRATAMENTO DO<br />

CÂNCER DE LARINGE E VOZ RESULTANTE<br />

As laringectomias parciais verticais são indicadas para os tumores glóticos, seja T1,<br />

T2 ou T3, sendo que o limite máximo de ressecção depende principalmente da possibilidade de<br />

se reconstruir a laringe residual mantendo as funções respiratórias e esfincterianas (BITTER<br />

& SOM, 1977). Este grupo envolve uma série de cirurgias que vão desde a remoção de uma<br />

prega vocal, outros elementos que compõem o esqueleto da laringe,tanto na região glótica,<br />

como supraglótica.<br />

BRASIL (1994), descreve com detalhes os limites cirúrgicos de cada situação<br />

operatória e voz resultante.<br />

Cordectomia<br />

A cordectomia representa a ressecção de uma prega vocal, com margem no<br />

pericôndio interno, com ou sem aritenoidectomia. Este procedimento pode ser apropriado para<br />

tumores (T1) da prega vocal.<br />

A fonte sonora para a produção da voz, pode ocorrer em nível glótico ou<br />

supraglótico. A fonação supraglótica, após cordectomia, é geralmente feita por constrição<br />

mediana das pregas vestibulares, e a “voz de banda” resultante pode apresentar qualidade<br />

2


vocal boa. No nível glótico pode ocorrer com a prega vocal remanescente ou prega vocal<br />

recorstruida.<br />

Laringectomia Frontal Anterior<br />

Segundo BRASIL, (1994) a laringectomia frontal anterior representa um procedimento cirúrgico no qual ocorre<br />

a ressecção da quilha da cartilagem tireóidea, além do terço anterior de ambas as pregas vocais com margem no<br />

pericôndrio interno.<br />

O resultado vocal é geralmente bom, com mudanças mais acentuadas na elevação da freqüência fundamental<br />

devido ao encurtamento da região ântero-posterior da laringe, o que reduz a área vibratória da prega vocal com a<br />

conseqüente diminuição da proporção glótica da laringe.<br />

Laringectomia Frontolateral<br />

BRASIL (1994), descreve que para a realização de uma laringectomia frontolateral, ocorre a ressecção da quilha<br />

da cartilagem tireóidea, mais a exérese subpericondrial de uma prega vocal, com ou sem aritenoidectomia e com<br />

margem no pericôndrio interno.<br />

Este procedimento permite ressecção e reconstrução das partes ressecadas.<br />

O resultado vocal depende da reconstrução empregada de modo geral, a voz perde em harmônicos e em<br />

intensidade com uma qualidade global áspera quando não é realizada a aritenoidectomia e a área submetida a<br />

ressecção transforma-se em um tecido enrijecido. Por outro lado quando é realizada a aritenoidectomia, ocorre<br />

um colabamento dos tecidos remanescentes, e a quantidade de massa colocada em vibração produz uma voz<br />

rouca.<br />

Laringectomia Frontolateral Ampliada<br />

A laringectomia frontolateral ampliada corresponde a uma ampliação da área ressecada, em relação à<br />

laringectomia frontolateral, incluindo a remoção da região subglótica anterior e/ou ventrículo e prega vestibular,<br />

com ou sem aritenoidectomia e com margem no pericôndrio interno.<br />

O resultado vocal é semelhante ao anterior, por vezes melhor, quando as estruturas remanescentes e o retalho de<br />

reconstrução empregado configuram uma fonte de som com grande massa de tecido para vibração, porém, sem<br />

produzir ruídos à respiração. (BRASIL, 1994).<br />

Hemilaringectomia<br />

Na hemilaringetomia ocorre ressecção de uma lâmina da cartilagem tireóidea, com a quilha da mesma,<br />

juntamente com o pericôndrio externo, incluindo ou não a borda posterior dessa cartilagem, com a inserção do<br />

músculo constritor inferior da faringe. Nas estruturas ressecadas, estão incluídas a comissura anterior da prega<br />

vocal contralateral, com margem no pericôndrio externo. Para ELIACHAR, PAPAY e TUCKER (1991), este<br />

procedimento é apropriado para muitos casos de lesões glóticas. Em máxima extensão, permite ressecção<br />

completa de uma prega vocal e cartilagem aritenóide (se necessário).<br />

3


Várias técnicas para reconstrução glótica após hemilaringectomia utilizam cartilagens, músculos e outros tecidos<br />

para corrigir o defeito cirúrgico.<br />

O resultado vocal é freqüentemente melhor nas laringectomias frontolaterias, devido ao motivo apresentado<br />

anteriormente, a tendência ao colabamento das estruturas da laringe e a vibração em bloco produzem uma voz<br />

disfônica, porém bem aceita socialmente. A voz áspera resultado da sonorização do ar por ativação dos tecidos<br />

cicatriciais rígidos, além de ser desagradável tende a ser aguda, inaceitável para os falantes do sexo masculino.<br />

Hemilaringectomia Ampliada<br />

Por sua vez, a hemilaringectomia ampliada corresponde a uma ampliação da<br />

ressecção em subglote anterior e cricoidectomia parcial e/ou pecíolo da epiglote e/ou loja pré-<br />

epiglótica e/ou prega contralateral até o processo vocal, respeitando sua cartilagem<br />

aritenóidea e com margem no pericôndrio externo.<br />

O resultado vocal é semelhante ao anterior, mas geralmente se observa intensidade reduzida, o que implica em<br />

menor potência e projeção vocais, dificultando a comunicação em locais ruidosos. Nesses casos, as tentativas de<br />

elevar a intensidade podem resultar em fadiga fonatória, cansaço físico e tontura devido a hiperventilação<br />

(BRASIL, 1994).<br />

Laringectomia Vertical Subtotal<br />

Este procedimento é o de maior porte dentre as laringectomias parciais. É feita uma<br />

ressecção equivalente a uma hemilaringectomia bilateral, com exérese dos dois terços<br />

anteriores de ambas as lâminas da cartilagem tireóidea e seu conteúdo interno, isto é, prega<br />

vocal, ventrículos e pregas vestibulares. É preservada, pelo menos, uma cartilagem<br />

aritenóidea, e pode também incluir a região subglótica anterior com cricoidectomia parcial,<br />

com margem no pericôndrio externo.<br />

Nesta extensão cirúrgica, a voz resultante tende a ser rouca severa, pela grande alteração no esqueleto da laringe,<br />

deve ser feito um trabalho para minimizar as interferências negativas de uma fonte sonora ruídosa (BRASIL,<br />

1994).<br />

Técnicas de reconstrução laríngea<br />

As laringectomias parciais, em todas as suas variações, provocam uma deficiência<br />

na coaptação glótica, o que geralmente é corrigido anatomicamente por meio de reconstrução<br />

4


da área ressecada, mas mesmo assim a fonte sonora ficará definitivamente alterada. Existem<br />

vários tipos de reconstrução, com técnicas e indicações diversas, e apesar de não ser o<br />

objetivo do presente trabalho, citaremos alguns procedimento de reconstrução laringea mais<br />

utilizados em nosso meio e algumas observações em relação à nova fisiologia da produção<br />

sonora após a cirurgia.<br />

O objetivo principal da reconstrução pós-laringectomia parcial é promover a redução do espaço criado pela<br />

ressecção, facilitando a aproximação e consequente a vibração das estruturas remanescentes, o controle da<br />

respiração e a coordenação pneumofonoarticulatória.<br />

CONLEY (1975), descreve a técnica realizada por meio de retalho de pele do próprio pescoço.<br />

BAILEY (1985) descreve a técnica que emprega um retalho bipediculado do músculo esterno-hióideo,<br />

utilizando para forro eptelial o pericôndrio externo ipsilateral da lâmina da cartilagem tireódeia. A voz resultante<br />

é descrita como adequada com deglutição satisfatória e vias áreas livres o suficiente para uma respiração normal.<br />

TUCKER e cols. (1991), descrevem a técnica de reconstrução utilizando o deslizamento da epiglote para o<br />

preenchimento do espaço glótico, o que é chamado epiglotoplastia. A voz resultante é geralmente boa, sendo<br />

produzida no nível supraglótico.<br />

BRASIL e cols. (1991), propõem a utilização do retalho miocutâneo do músculo platisma e observam, qualidade<br />

vocal com rouquidão leve ou moderada, soprosidade ausente ou leve e índices de inteligibilidade da fala pouco<br />

reduzidos.<br />

Técnicas de reconstrução com deslizamento da mucosa da prega ariepiglótica com tracionamento da mucosa do<br />

seio piriforme, são comumente menos empregadas ou ainda com o deslocamento da prega vertibular<br />

(FRIEDMAN & TORIUMI, 1978).<br />

5


DISCUSSÃO<br />

BLAUGRUND, GOULD, HASI, MELTZER, BLOCH, BAER, (1984)<br />

analisaram 20 pacientes submetidos a laringectomias verticais-hemilaringectomias com e sem<br />

aritenoidectomia e laringectomia frontolateral com reconstrução e retalho de pele. A análise<br />

espectográfica mostrou altos índices de perturbação na freqüência e amplitude. Pacientes com<br />

fonação supraglótica apresentam freqüência fundamental mais grave e vozes mais roucas,<br />

enquanto pacientes com fonação glótica apresentam freqüência fundamental mais aguda e<br />

vozes soprosas.<br />

LEEPER, HEENEMAN, REYNOLDS (1990), HIRANO, HIRADE e<br />

KAWASAKI (1985) estudaram a predominância laríngea, por métodos de<br />

microlaringoscopia indireta, fibroscopia e estroboscopia, revelando basicamente adução<br />

glótica incompleta com atividade compensatória predominante em região supraglótica, devido<br />

à hiperfunção de prega(s) vestibular(es), aritenóide(s) e prega(s) ariepiglógica(s).<br />

Os estudos das características fonatórias decorrentes das várias modalidades de<br />

atividade compensatória foram estudadas por análise vocal perceptiva, aerodinâmica e<br />

acústica, e destacaram em qualidade vocal soprosa e rouca (HIRANO e cols., 1985;<br />

LEPPER e cols., 1990), estrangulada e áspera (HIRANO, 1987).<br />

Outro aspecto importante, levantado na fisiologia vocal após laringectomias<br />

parciais, refere-se ao fato de a maioria dos pacientes não apresentar vibração de mucosa de<br />

6


prega vocal remanescente (HIRANO e cols., 1987; LEEPER e cols., 1990) e da região de<br />

retalho (HIRANO, 1987; BRASIL, 1994; HASHIMITO, 1995).<br />

HIRANO, KURITA, MATSUOKA, (1989) relatam dados sobre a função vocal<br />

de 54 pacientes submetidos a hemilaringectomia cujas principais conclusão são: 1) glote não<br />

se fecha completamente; 2) as estruturas supraglóticas tornam-se hiperfuncionais; 3) ocorrem<br />

vibrações irregulares das estruturas laríngeas; 4) Tempo Máximo de Fonação reduzidos; 5)<br />

fluxo aéreo transglótico médio elevado; 6) extensão de freqüência e intensidade limitadas; 7)<br />

voz rouca, soprosa e/ou tensa; 8) casos com resultados vocais pobres pertencem mais<br />

freqüentemente ao grupo de reconstrução com pele do que com mucosa de lábio.<br />

REMACLE & MILLET (1989) analisaram a qualidade vocal de 22 pacientes<br />

submetidos a diferentes tipos de laringectomia parcial e técnica de reconstrução. Os autores<br />

concluem que a cordectomia por via endoscópica, realizada com o uso de laser de CO2,<br />

introduz poucas alterações no traçado da freqüência fundamental. Por outro lado, os pacientes<br />

submetidos à laringectomia frontolateral demonstraram uma deterioração mais acentudada no<br />

traçado acústico com harmônicos fracos, alargados e permeados de ruídos.<br />

BEHLAU, GONÇALVEZ, PONTES, BRASIL, (1994) estudaram 69 pacientes,<br />

dos quais 50 foram submetidos à laringectomia frontolateral, 15 à hemilaringectomia e 4 à<br />

laringectomia vertical subtotal, com reconstrução feita por deslizamento de mucosa, por<br />

deslocamento de prega vestibular (de acordo com a técnica de FRIEDMAN & TORIUMI,<br />

1997). A conclusão mais evidente do estudo é de que a laringe é capaz de um grau<br />

excepcional de compensação após uma laringectomia parcial, não importando o porte<br />

cirúrgico ou a técnica empregada. Outra dado revelador é que ao comparem os resultados das<br />

frontolaterais e das hemilaringectomias, com e sem aritenoidectomia, observaram que as<br />

cirurgias alargadas geraram vozes melhores pois a fibrose do pós operatório na cirurgias<br />

menores tende a produzir voz áspera e tensa.<br />

7


HASHIMOTO (1995) avaliou a função fonatória em várias técnicas de<br />

reconstrução laríngea, a melhor qualidade vocal ocorreu na reconstrução com retalho<br />

miocutâneo de plastima. Em termos de condições ideais para produção vocal no pós<br />

operatório, salientou a preservação das condições da mucosa da região supraglótica,<br />

principalmente em pregas vestibulares, mucosa aritenóidea e epiglote.<br />

BRASIL, PONTES, BEHLAU, (1996) concluíram que a utilização do retalho<br />

miocutâneo de platisma na reconstrução das laringectomias parciais verticais não<br />

comprometeram os resultados oncológicos. A deglutição manteve-se normal sem aspiração<br />

orotraqueal. A qualidade vocal ficou alterada e proporcional à qualidade e quantidade de<br />

estruturas vibráteis, porém manteve a inteligibilidade próxima à de indivíduos normais.<br />

IMPACTO <strong>DA</strong>S LARINGECTOMIAS PARCIAIS VERTICAIS<br />

HASHIMOTO (1995) apresenta um estudo minucioso sobre a fonte sonora e<br />

qualidade vocal de 88 pacientes submetidos a laringectomias parciais por carcinoma<br />

espinocelular da região glótica. O autor constatou que a região supraglótica constitui-se na<br />

região de eleição para formação da fonte sonora na maioria absoluta dos casos em que se<br />

realizou a laringectomia parcial vertical. A fonte sonora apresentou-se formada por duas ou<br />

mais estruturas, sendo do tipo vibrante, na maioria absoluta dos pacientes. As pregas<br />

vestibulares, a mucosa da região das cartilagens aritenóideas, as pregas ariepiglóticas e a<br />

prega vocal remanescente foram as estruturas que predominaram na construção da fonte<br />

sonora e participaram na quase totalidade como elemento vibrante durante a fonação. O<br />

retalho utilizado na reconstrução da região glótica, apresentou a menor capacidade de<br />

vibração em relação às demais estruturas. O autor ainda conclui que ocorreu alteração da<br />

qualidade vocal em todos os casos. Em relação às técnicas de reconstrução empregadas,<br />

8


chegou às seguintes constatações: as técnicas de reconstrução com prega vestibular, utilizadas<br />

exclusivamente nas laringectomias frontolaterais em aritenoidectomia e nas cordectomias<br />

apresentaram os menores desvios da qualidade vocal; a técnica de reconstrução com<br />

deslizamento de mucosa, utilizada exclusivamente nas laringectomias frontolaterais, sem<br />

aritenoidectomia, apresentou o maior desvio da qualidade vocal; na reconstrução com a<br />

utilização do retalho miocutâneo de platisma, o menor desvio da qualidade vocal ocorreu na<br />

hemilaringectomia com aritenoidectomia; na reconstrução com a utilização do retalho<br />

miocutâneo de platisma, o maior desvio da qualidade vocal ocorreu na laringectocmia<br />

frontolateral com aritenoidectomia; a técnica de reconstrução com o emprego do retalho<br />

esterno-hióideo bipediculado, utilizada exclusivamente nas laringectomias, frontolaterais<br />

apresentaram desvios da qualidade vocal muito próximos; finalmente, a técnica de<br />

reconstrução empregando a epiglotoplastia na laringectomia vertical subtotal apresentou o<br />

maior desvio da qualidade vocal.<br />

Seguindo a mesma linha de análise, BRASIL & BEHLAU (1996) apresentam um<br />

estudo das forças laríngeas de 36 pacientes protadores de tumores glóticos, submetidos à<br />

laringectomia parcial vertical e reconstruídos por diversas técnicas cirúrgicas. De modo geral,<br />

os impactos decorrentes das laringectomias parciais verticais são: voz soprosa, de fraca<br />

intensidade, dificuldade de sonorização, redução dos tempos de fonação e aspiração de<br />

alimentos e/ou líquidos. A voz soprosa e de fraca intensidade ocorre porque, após a ressecção<br />

cirúrgica, o espaço gótico encontra-se muito aumentado, permitindo maior escape de ar e não<br />

oferecendo condições de resistência para se criar uma coluna de ar infraglótica e gerar níveis<br />

de intensidade mais elevada. Pelo mesmo motivo os tempos de fonação encontram-se<br />

reduzidos. O ar escapa rapidamente e as frases sonoras tornam-se mais curtas. O paciente<br />

pode referir falta de ar, queixa esta que deve ser investigada cuidadosamente. Quando a<br />

queixa restringe-se apenas às situações de comunicação, tal situação reflete um espaço<br />

9


intralaríngeo pós-cirúrgico maior que o adequado, o que faz com que o paciente realize<br />

recargas respiratórias constantes, para completar as frases de seu discurso. Quando a falta de<br />

ar não ocorre somente durante a fala, mas também na respiração silenciosa, pode significar<br />

uma estenose pós-cirúrgica ou uma recidiva do tumor, tornando-se necessária uma avaliação<br />

médica.<br />

A dificuldade de sonorização decorre também do fato do espaço criado pela<br />

ressecção cirúrgica não fornecer condições suficientes de aproximação das estruturas<br />

remanescentes e do retalho de reconstrução, o que reduz as chances de vibração dessas<br />

estruturas. Este espaço atua também como uma porta aberta para a entrada dos alimentos na<br />

laringe e, portanto, a aspiração de líquidos ou pastosos pode ser freqüente.<br />

Caso o paciente apresente aspiração persistente, a fonoterapia poderá auxiliá-lo na<br />

retirada da sonda nasográstrica e na eliminação da aspiração, por meio de técnicas específicas,<br />

fator este que também compromete a qualidade vocal .<br />

Os autores também constataram que a fonação fez-se fundamentalmente na região<br />

supraglótica, com solicitação de duas ou mais estruturas. Analisando-se melhor a composição<br />

da fonte sonora, observou-se que a constituição supraglótica mediana foi a mais freqüente,<br />

seguida pela supraglótica ântero-posterior e, finalmente, pela constituição glótica. A qualidade<br />

vocal obtida foi aceitável em dois terços dos pacientes, sendo que 2 pacientes apresentaram<br />

voz considerada absolutamente normal e 11 casos de disfonia discreta, em avaliação<br />

perceptivo-auditiva. Considerando a escala GRBAS, 28% dos pacientes mostraram ausência<br />

total de rouquidão, 36% ausência total de tensão excessiva, sendo que o pitch da voz,<br />

característica essencial para a identificação do sexo do falante pela sua emissão, foi<br />

considerado adequado em 78% dos pacientes avaliados.<br />

10


DOYLE (1994) & LEEPER (1993), compararam os resultados auditivos e<br />

acústicos das hemilaringectomias e das laringectomias “near-total”, na tentativa de diferenciá-<br />

los. Foram analisados as seguintes dimensões, numa escala de 9 pontos: pitch, velocidade de<br />

fala, da emissão, tempo de pausa, qualidade vocal, nível de esforço, ruído adjacente,<br />

agradabilidade e naturalidade da emissão. Em várias dessas medidas, os falantes<br />

hemilaringectomizados foram julgados mais favoravelmente que os falantes “near-total”,<br />

embora houvesse muita variabilidade individual. O grupo de hemilaringectomizados foi<br />

percebido como mais próximo à emissão laríngea normal, com uma voz mais natural e<br />

agradável, emitida, com menor esforço. Também na análise acústica realizada (LEEPER,<br />

1993), os indivíduos submetidos à hemilaringectomia apresentaram resultados superiores,<br />

com maior estabilidade na freqüência e amplitude do sinal de fala, assim como maiores<br />

valores de proporção sinal-ruído, o que reflete uma disfonia de menor grau.<br />

CAMARGO (1996), realiza uma análise das configurações laríngeas e parâmetros<br />

vocais acústicos em 6 pacientes submetidos a laringectomias parciais e destaca a importância<br />

de estudos dos ajustes individuais detectados na fonação, reforçando a necessidade da<br />

reabilitação fonoaudiológica tanto para estimular o controle de fechamento, como o controle<br />

do fluxo aéreo.<br />

11


CONCLUSÃO<br />

Em um tempo onde questões relacionadas à qualidade de vida têm sido foco de<br />

reflexões profundas, a reabilitação do indivíduo submetido a alguma modalidade do<br />

tratamento para o câncer da laringe é de extrema importância.<br />

A sensação de perda de controle da própria voz, talvez seja uma das marcas mais<br />

lesivas do impacto deste diagnóstico e junto com esta estarão envolvidas a respiração e a<br />

deglutição.<br />

Felizmente a ciência nos dá opções para compensar de uma forma ou de outra a<br />

ausência das porções retiradas, tentando reconstruí-las. Entretanto as técnicas de reconstrução<br />

da glote não devem ser encaradas como reconstrução da fonte sonora, mas como um meio de<br />

se manter a permeabilidade da luz laríngea.<br />

Pelo que foi visto, concluiu-se que os danos vocais conseqüentes da laringectomia<br />

parcial vertical não estarão tão prejudicados, considerando-se o valor fonatório das áreas<br />

comprometidas e/ou mutiladas.<br />

Os desvios encontrados após a cirurgia dizem respeito a redução da extensão vocal,<br />

redução dos tempos máximos de fonação, redução do fluxo aéro translaríngeo e a disfonia em<br />

maior ou menor grau, fatores estes, susceptíveis a uma boa resposta com reabilitação<br />

fonoaudiológica com resultados satisfatórios, não comprometendo por completo a vida social<br />

deste paciente, pois conseguirá se comunicar com uma qualidade vocal aceitável.<br />

12


RESUMO<br />

Ter câncer de laringe hoje, não é mais motivo para ressecção completa da laringe se<br />

for descoberto e tratado logo no início da patologia.<br />

Existem vários tipos de intervenções cirurgicas para o tratamento do câncer de<br />

laringe. Este trabalho aborda algumas técnicas de cirurgias parciais verticais da laringe e a voz<br />

resultante após alguns tipos de reconstrução laringea.<br />

Dentro destas técnicas cirurgicas, os autores expoem suas experiências quanto aos<br />

melhores resultados obtidos em algumas técnicas de reconstrução.<br />

A voz resultante dependerá da técnica de reconstrução aplicada e das possibilidades<br />

de vibração das estruturas remanescentes.<br />

13


SUMMARY<br />

Nowadays having larynx cancer isn’t a reason for a completly removal of the<br />

larynx, if it is discovered and treated in the beginning.<br />

There are many different types of surgery for the treatment of larynx cancer. This<br />

work shows some others surgery of larynx and some voices results after the reconstruction of<br />

larynx area.<br />

In these techniques of surgery some authors show their experiences and point the<br />

bests results obtained on the reconstruction by taking a skin peace of its own neck, by sliding<br />

the epigloty, by taking a place of esterno-hióideo muscle and others muscles.<br />

The voice’s results will depend on the technique of reconstruction applied and on<br />

the possibilities of vibration on the remains structures.<br />

14


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS<br />

BAYLEY, B. J. Glottic reconstruction. In: BAILEY, B & BILLER, H. F. Surgery of the<br />

larynx. Philadelphia, Saunders, 1985.<br />

BEHLAU, M & PONTES, P. Avaliação e tratamento das disfonias. São Paulo: Lovise,<br />

1995.<br />

BILLER, H. F. & LAWSON, W. Bilateral vertical laringectomy for bilateral vocal cord<br />

carcinoma. Ann. Otol. Rhinol. Laryngol., 90 : 489-91, 1981.<br />

BLAUGRUND, S. M.; GOULD, W. J.; HAJI, T.; MELTZER, J.; BLOCK, C.; BAER, T.<br />

Voice analysis of the partially ablated larying; a preliminary report. Ann. Otol. Rhino.<br />

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